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Quaderns de Psicologia | 2015, Vol.

17, No 3, 45-58 ISNN: 0211-3481

 http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1285

As Travestis na escola: entre nós e estratégias de resistência


The transvestites at school: between us and strategies of resistance

Daniela Barros Torres


Luciana Fontes Vieira
Universidade Federal de Pernambuco

Resumo
Procuramos compreender as experiências das travestis no contexto escolar, a partir de uma
pesquisa-intervenção desenvolvida, em 2014, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Para tanto,
interrogamos como se deu o acolhimento das travestis na escola, considerando os aspectos
que favoreciam e desfavoreciam sua permanência. Vale salientar que o nosso olhar foi atra-
vessado pelos estudos queer, pós-colonialistas, feministas e pós-estruturalismo, tendo como
referencias primordiais Michel Foucault e Judith Butler. As nossas interlocutoras foram tra-
vestis, maiores de idade e residentes no Cabo. Durante a pesquisa, foram realizadas quatro
oficinas e número de participantes variável. A partir desse instrumento, observamos relatos
diversos tanto de aceitação quanto de violência no espaço escolar. O nome social e o ba-
nheiro surgiram, invariavelmente, enquanto impeditivos de permanência no contexto esco-
lar.
Palavras-chave: Travesti; Escola; Políticas Públicas; Gênero

Abstract
ABSTRACT EN INGLÉS (150 PALABRAS MÁXIMO): This article claims to claims to undesrstand
the experiences of transvestites at the school context,in Cabo de Santo Agostinho, Per-
nambuco, Brazill. We will analyse how was the reception of travestites at schcool, consid-
ering the aspects that approved and disapproved their stay, presence and permanence
there. In that way this article participated on the queers studies; post-colonial studies and
feminism and post-struturalism theories,witth Michel Foucault and Judith Butler are fun-
damentals, Our interlocutors were transvestites, of legal age and residents in Cabo. During
the research, they were held four workshops with varying number of participantes. From
this instrument, we see many reports both as acceptance of violence at school. The share
name and the bathroom appeared invariably impede while staying in the school context.
Keywords: Travestites; School; Public Politics; Gender

As ditas 'minorias' sexuais adquiriram uma vi- político brasileiro. Novas leis, propostas e
sibilidade nunca dantes imaginada. A equipa- ações vêm sendo articuladas e implementadas
ração de direitos, a discriminação e o comba- por ONGs, pelo Estado e pelo Conselho Fede-
te à violência contra gays, lésbicas, travestis, ral de Psicologia (CFP).
transexuais têm conquistado, cada vez mais,
um importante espaço no cenário público e
46 Torres, Daniela Barros & Vieira, Luciana Fontes

Nesse contexto, gostaríamos de destacar que, de um questionário socioeconômico podemos


recentemente, o Conselho Nacional de Com- constatar o baixo poder aquisitivo das inte-
bate à Discriminação e Promoção dos Direitos grantes, cuja renda mensal se situava, em
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e média, abaixo de dois salários-mínimos. As
Transexuais (CNCD/LGBT), órgão colegiado, atividades laborais se concentraram nas pro-
integrante da estrutura básica da Secretaria fissões consideradas eminentemente femini-
de Direitos Humanos da Presidência da Repú- nas: quatro delas eram profissionais do sexo;
blica (SDH/PR), estabeleceu o uso do nome duas eram cabeleireiras e revendedoras de
social, do banheiro e das vestimentas à crité- cosméticos; outra era manicure e fazia pro-
rio da auto-identificação de gênero, nas insti- gramas para complementar a renda. Todas es-
tuições de ensino (Resolução n. 12 de16 de tudaram somente em escolas públicas. Quan-
janeiro de 2015, p. 3). to ao nível de escolaridade, quatro consegui-
ram concluir o ensino médio e três tinham o
Diante tamanha exposição, podemos perceber
ensino fundamental incompleto. A faixa etá-
efeitos dispares: por um lado, alguns setores
ria variava entre 24 e 37 anos.
sociais demonstram uma progressiva aceita-
ção da diversidade sexual; por outro lado, Consideramos o interesse e a disponibilidade
grupos conservadores acirram seus ataques, de participar da pesquisa, como critério na
realizando desde campanhas de exaltação dos escolha das coparticipantes. Fomos aceitando
valores tradicionais da família até manifesta- a indicação de integrantes por membros do
ções de máxima hostilidade e violência física. próprio grupo em formação.
Sendo assim, neste artigo procuramos analisar Durante a pesquisa, foram realizadas quatro
as experiências das travestis no contexto es- oficinas, com duração (entre uma hora e meia
colar, a partir de uma pesquisa-intervenção e de duas horas cada) e com número de parti-
desenvolvida, em 2014, no Cabo de Santo cipantes variável (entre quatro e sete pesso-
Agostinho-PE 1. Para tanto, interrogamos como as). As oficinas eram abertas, porém notamos
se deu o acolhimento das travestis na escola, certa continuidade através da assiduidade das
considerando os aspectos que favoreciam e participantes que se mantiveram as mesmas,
desfavoreciam sua permanência. Vale salien- durante todo o processo.
tar que o nosso olhar é atravessado pelos es-
As oficinas possuíam um caráter interventivo
tudos queer, pós-colonialistas, feministas e
e se constituíram através da problemática da
pós-estruturalistas, tendo como referenciais
escola e da diferença. Elas podem ser vistas
primordiais Michel Foucault e Judith Butler.
como um espaço de acolhimento e de refle-
Em consonância com a proposição de Marcos xão de questões que estimulam a participação
Benedetti (2005) em não definir um conceito de seus integrantes (Barbosa e Adrião, 2011;
fechado ou estabelecer um único modo de ser Jeolás e Ferrari, 2003). Essa modalidade de
travesti, adotamos a autodenominação das intervenção possui uma dimensão formativa,
travestis como critério, que pode desestabili- ao mesmo tempo pode prever um procedi-
zar as concepções estagnadas sobre a traves- mento de ação, como, por exemplo, a produ-
tilidade, o feminino e o masculino. Neste sen- ção de materiais de intervenção em conjunto
tido, as diferenças entre as ditas identidades com as integrantes, que conduz à reflexão so-
sexuais são relativizadas e enfatizada a di- bre as atividades desenvolvidas. Neste estu-
mensão inventiva de seus modos de ser. do, compreendemos a oficina em seu aspecto
eminentemente reflexivo, como espaço de
As nossas interlocutoras 2 foram travestis mai-
troca, de formação.
ores de idade e residentes, no Cabo. Através
Há de se ressaltar que a escolha em trabalhar
1
com grupo não se deu aleatoriamente, pois, o
O município do Cabo de Santo Agostinho fica localizado
na Zona da Mata de Pernambuco. Em 2012, possuía
Plano Nacional da Promoção da Cidadania e
189.222 pessoas sendo considerada uma cidade de porte Direitos Humanos de LGBT elege os trabalhos
médio em termos de habitante (Agência Estadual de Pla- em grupo como uma alternativa metodológica
nejamento e Pesquisas de Pernambuco, 2015). Tem como indicada para o levantamento de informações
principais fontes de renda a exploração turística de suas
praias, a monocultura da cana-de-açúcar e, mais recen-
a respeito dos processos de exclusão social
temente, o complexo industrial e portuário de Suape. nesse campo (BRASIL, 2009). Além do mais,
2
Os nomes, por nós utilizados, são fictícios para preser- Peres (2005) indica a realização de oficinas
var o anonimato das nossas interlocutoras.

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com travestis discutindo seus direitos, devido conveniência do grupo quanto aos horários
à peculiar vulnerabilidade dessas pessoas e à disponíveis pelas instituições e a facilidade de
fragilidade nos laços sociais a que estão usu- deslocamento geográfico das participantes. A
almente submetidas. alternância de lugares das oficinas não havia
sido planejada, mas produziu efeitos de visi-
Por conseguinte, com a preocupação em não
bilidade nesses diferentes cenários. No Centro
somente conhecer sobre as participantes, mas
de Mulheres do Cabo, representantes da ONG
de estabelecer um processo de troca no qual
perceberam quão importante era a articula-
elas também poderiam se beneficiar direta-
ção com as travestis, e que a vulnerabilidade
mente, as oficinas aconteceram em torno de
delas se relacionava à discussão de gênero.
três eixos: “Experiências na Escola”, “Deba-
Além disso, a partir de oficina realizada na
tendo a legislação” e “O que dizer? Como
Assembleia Legislativa no município – com o
queremos dizer?”.
objetivo de informar e discutir as legislações
As oficinas foram organizadas de modo que referentes às travestis –, as participantes
tinham começo, meio e fim em cada um dos agendaram reunião com vereador e presiden-
momentos. O grupo era aberto, permitindo a te da Assembleia. Na ocasião, lançaram mão
entrada e saída das participantes ao longo do de material organizado e distribuído em ofici-
trabalho. Na primeira oficina, foram escuta- na, como documento base na discussão, jun-
das histórias, narrativas da vida escolar, in- tamente com a legislação do Recife (Lei
vestigando suas dificuldades e suas estraté- 16.7080 de 28 de junho de 2002, que institui
gias de inserção na escola de cinco copartici- punições para atos de preconceito por orien-
pantes, com o objetivo de compreendermos a tação ou identidade sexual), disponibilizada
problemática da exclusão escolar das traves- pelas pesquisadoras às participantes.
tis, fortemente, encontrada na literatura
Como desdobramento dessa reunião, ocorreu
acadêmica.
uma audiência pública, na qual reivindicaram
No segundo encontro, foram abordadas ques- a necessidade de leis que instituem sanções a
tões relativas às políticas públicas, conside- ações de cunho preconceituoso quanto à ori-
rando o direito à educação, uso do nome so- entação sexual ou identidade de gênero. Nes-
cial, do banheiro, das recomendações quanto se evento, cobraram providências das autori-
às discussões de gênero e de sexualidade na dades locais quanto aos violentos homicídios
escola. Dessa maneira, essa oficina cumpria a de homossexuais no município, defenderam
função de retribuir, mais diretamente, a par- mais empenho na investigação desses crimes,
ticipação das pessoas na pesquisa com infor- além de mais reforço nas ações de segurança
mações de seus direitos, oferecendo um certo e de prevenção à violência.
panorama dos direitos adquiridos no país (dis-
Consideramos que este efeito disparador é
tribuiu-se pasta com compilado de legislações
desejável e esperado em uma pesquisa parti-
brasileiras).
cipante, pois ela “se torna formadora de pes-
No último encontro, o grupo foi convidado a soas mais aptas a uma integração mais conse-
condensar as informações consideradas rele- quente e corresponsável na vida social”
vantes, com vistas a elaborar um material de (Brandão, 2006, p. 47).
comunicação que contribua para uma melhor
As oficinas que ocorreram na Secretaria de
convivência das travestis nas escolas. A quar-
Educação possibilitaram ainda a apresentação
ta oficina foi uma oportunidade não só para
da pesquisadora e proposta da sua pesquisa
sintetizar aquilo que acharam de mais impor-
ao secretário de Educação do Cabo. Esta
tante, como também para avaliar os encon-
aproximação resultou no convite para apre-
tros.
sentação dos resultados junto aos servidores e
Os dois primeiros encontros aconteceram no população locais, criando uma excelente
Centro de Mulheres do Cabo (com quatro e oportunidade para devolução e a discussão da
cinco participantes). Posteriormente, houve pesquisa junto à comunidade, etapa que faz
uma oficina na Assembleia Legislativa do Cabo parte da produção de um saber comprometido
(com sete integrantes) e as duas últimas ocor- com transformações locais (Brandão, 2006;
reram na Secretaria de Educação do Município Cammarota & Fine, 2008; Gergen & Gergen,
(com quatro pessoas). As mudanças de locali- 2006).
zação se deram, levando em consideração a

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Travesti e o cotidiano escolar Assim, as travestis mais novas confirmam as


contribuições dos estudos de Andrade (2012),
De antemão, podemos afirmar que não encon- Amaral (2012), Quartiero & Nardi (2011), no
tramos narrativas que apresentavam a escola Brasil, e de Dairrel e Bruns (2012), no México,
como um lugar, majoritariamente, doloroso e que referiram ter havido mudanças e avanços,
negativo. no sentido de uma diminuição da violência
Enquanto Bruna, Bárbara e Xuxa remeteram a explícita e física nas escolas, permanecendo
violência explícita e mais evidentemente ex- ainda as formas mais sutis.
cludente, Jeane, Carla e Luana disseram ter Nessa direção, o estudo de Amaral (2012),
sido perfeitamente integradas e felizes na es- com jovens travestis (de 15 a 21 anos em Flo-
cola. rianópolis), destaca a mudança geracional, al-
Jeane: “Eu não tive problema nenhum...” (Jeane, terando o padrão da exclusão, na qual muitas
entrevista pessoal, 2 de abril de 2014). travestis jovens permaneciam em suas casas e
Pesquisadora: “Não?” com o apoio de suas famílias, de colegas, de
Jeane: “Nenhum, pelo contrário, eu fui bem-
diretoras/diretores conseguiam frequentar a
aceita na escola. O pessoal lá me acolheu muito escola. Tanto Andrade (2012), como Bohm
bem, todos os meninos que estudavam comigo me (2009), narraram a presença de travestis em
respeitavam, nunca foram de tirar liberdade co- cargos de docência e gestão escolar.
migo”.
Bárbara investiga: “Como travesti?” (Bárbara, en-
Todavia, ao analisarmos os aspectos socioe-
trevista pessoal, 2 de abril de 2014). conômico das nossas participantes, observa-
mos que a diferença de idade entre elas não
Jeane esclarece: “Também”.
era tão grande. Luana, Jeane e Carla tinham
Por sua vez, durante o período escolar, Carla em torno de 24 a 27 anos, quando Xuxa, Bru-
não se mostrava como homossexual ou traves- na e Bárbara estavam entre 25 e 31 anos. Lo-
ti, portanto não enfrentou barreiras. Ainda go, imaginamos que uma das diferenças da
assim, mesmo para essas últimas, o uso do experiência de inserção na escola tenha se
banheiro e do nome social na chamada eram dado por diferenças regionais, visto que mui-
motivos de constrangimento e inquietação. tas vieram de outras localidades, de zonas ru-
rais, interioranas. A narrativa de Xuxa, por
Nesses últimos casos, vimos uma tendência
exemplo, ilustra sobre a descoberta de sua
em buscar solucionar a “encrenca de gênero”
sexualidade pela sua família: “meu pai é do
gerada pela presença da travesti (Azeredo,
Sertão, minha mãe veio da zona rural, então,
2010; Butler, 2010; Leitão, 2008), com a ten-
assim, foi aquele choque para a família.” Em
tativa de domesticação do que seria travesti,
seus discursos, a origem no interior é um fa-
através da saída “vamos tratá-la como mu-
tor dificultador, pois acreditam que nesses
lher”, um modo de camuflar e de esconder di-
lugares o preconceito e o machismo são mais
ferenças incômodas.
acentuados.
Analisando essa disparidade de valoração da
Nessa perspectiva, Bárbara afirma que a sua
vida escolar, o grupo pontuou o fator geracio-
experiência na escola “foi horrível”, pois so-
nal (mudanças sociais ocorridas pela passa-
freu “muito preconceito”. Nos discursos de
gem do tempo em décadas, que sugere essa
Bárbara, Bruna e Xuxa, constatamos mais
passagem do tempo como um marcador de
acentuadamente rituais de humilhação e de
distintas experiências), como um elemento
depreciação coletiva, que reiteram norma de
importante:
gênero – xingamentos “Veado”, “doente”,
Hoje fica mais fácil, porque existem várias ONGs olhares insistentes, risadas, piadas, provoca-
que lutam por um direito de homossexual, das ções, uso constante do nome civil (mesmo
travestis, existem políticas hoje, no país, de
combate à homofobia contra travesti, então, as- após pedido do uso do nome social) e violên-
sim, hoje tem muitas leis que ajudam para as cia física. As agressões verbais eram frequen-
travestis novas estar em sala de aula, já no meu tes, como modo de correção e punição pelo
tempo não, era bem mais complicado, dez, quin- desvio sexual. Realidade semelhante foi en-
ze anos atrás era bem complicado mesmo, a sala
de aula, pra gente (Xuxa, entrevista pessoal, 2 de contrada nas dissertações de Andrade (2012),
abril de 2014). Bohm (2009), e no artigo de Peres (2009), in-
titulado Cenas de exclusões anunciadas: tra-
vestis, transexuais e transgêneros na escola

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do Brasil. De modo geral, pudemos reconhe- gular e vigiar as fronteiras culturalmente cri-
cer o isolamento social, a violência institucio- adas entre sexos/gêneros e grupos sociais”
nal com orientação descriminada de bom (Leite, 2011, p. 54).
comportamento, restrições no uso do banhei-
Em relação ao compromisso moralizador da
ro, provocações e omissões por parte de figu-
escola, Xuxa nos conta que isso chegou a in-
ras de autoridade (Andrade, 2012; Bohm,
terferir e a atrapalhar sua convivência famili-
2009; Cruz, 2011).
ar, ao denunciar uma tendência homossexual
Nesse aspecto, o Relatório Final Projeto Esco- da criança/jovem para os responsáveis,
la Sem Homofobia: estudo qualitativo sobre a aguardando providências corretivas. Ela nar-
homofobia no ambiente escolar em 11 capi- rou à situação na qual sofreu com provoca-
tais brasileiras (REPROLATINA, 2011), enxerga ções de um docente acerca de sua sexualida-
barreiras de informações de violência psicoló- de. A escola tomou o lado do professor e con-
gica e física ao conhecimento de autoridades vocou a sua família para reclamar de sua ina-
da escola, por serem costumeiramente dimi- dequação (homossexualidade). Proveniente
nuídas ou camufladas como brincadeiras. de família do interior de Pernambuco, com
Mesmo em casos em que os estudantes não valores machistas bastante arraigados, este
concordavam e se incomodavam ao testemu- foi o estopim para, aos 13 anos de idade, ser
nhar situações de violência, a reação das au- expulsa de casa e, logo em seguida, abando-
toridades era de omissão. nar a escola.
Nessa direção, destacamos a fala de Bruna: Em outra situação, a violência institucional é
“quando eu me assumi já com meus doze nitidamente expressa no pedido da diretora
anos, treze anos, já era homossexual, eu ia relatado por Xuxa: “quando você vier ao colé-
pra o colégio só pra apanhar. Por isso que ho- gio... evite mais, estar pelo corredor”. Afinal,
je em dia, minha filha, eu fiquei com um um modo cômodo de evitar problemas para a
pouco de trauma de colégio.” (Bruna, entre- gestão escolar é demandar que a pessoa que
vista pessoal, 2 de abril de 2014). Vale ressal- sofre violência se cale, não responda, não li-
tar que a violência física recorrente era exe- gue, para não gerar maiores confusões, cul-
cutada por colegas e testemunhada por de- pabilizando a vítima situacional, ao invés de
mais colegas, funcionários da escola, sem re- tratar seriamente do assunto junto à comuni-
ação nenhuma. dade escolar, para evitar a exclusão. Outro
relato que resgata o posicionamento da escola
Além de ser alheia aos maus-tratos, a escola
enquanto agente produtor de exclusão foi
pode instigar e produzir certos abusos. Devido
quando um professor fez uma brincadeira
a uma intervenção normatizadora por parte
constrangedora com Xuxa e ela, ao se defen-
da direção escolar (proibição de usar trajes
der, foi punida pelo mesmo:
tidos como femininos na escola), Bárbara
abandonou os estudos: Assim, naquela época eu não tinha a mente que
eu tenho hoje. Eu me senti, mais uma vez, como
Cheguei a levar pessoas de ONGs pra tentar con- se não valesse nada, porque o professor fez a
vencer a diretora que eu... quando fui estudar à chacota comigo. Quando eu reclamei a chacota
noite já era travesti, então eles não aceitavam, do professor, eu saí como errada ainda na sala de
não admitia eu entrar com uma roupa feminina e aula. Então, aquilo ali pra mim, todo mundo ia
sim uma masculina. Então aquilo dali não é o meu fazer chacota. Às vezes quando eu chegava no co-
foco, não é o meu fraco, como muita gente diz. légio: olha, chegou ela, chegou a frutinha, che-
Então, se eu optei por ser travesti eles tinham gou o gay... então, tudo por culpa do professor.
que me aceitar, se ali é pra educar, pra ensinar, (Xuxa, entrevista pessoal, 2 de abril de 2014).
então... não concordaram não. Por isso, que des-
de 2005 que eu desisti. (Bárbara, entrevista pes- Reforçando a importância do discurso de au-
soal, 2 de abril de 2014). toridades como norteadoras de práticas inclu-
Mesmo após o apelo de Bárbara junto a uma sivas ou não na escola, Jeane conclui sobre
ONG, a instituição educacional permaneceu sua experiência exitosa “quem tá de prova, e
irrevogável. No tocante a esse aspecto das quem tá de prova é o diretor da escola, que
roupas, Leite Júnior situa as vestes como sig- ele sempre me acolheu, ele sempre me apoi-
no de pertencimento a um sexo-gênero: “As ou... foi o antigo diretor”.
roupas sempre foram em nossa cultura um Contudo, quanto aos/as professo-
importantíssimo signo de gênero e status, cu- res/professoras, gestores/gestoras na escola,
ja função era – e ainda o é, hoje em dia – re- chamou nossa atenção a justificativa recor-

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rente por parte das entrevistadas sobre as au- No que concerne às religiões cristãs, obser-
toridades de que a escola não estaria prepa- vamos que, muitas vezes, ela funciona como
rada para atendê-las. Mas, o que seria estar forma de cercear, barrar e invalidar as pesso-
preparada? Quais atributos comporiam o esta- as fora do padrão heterossexual. Semelhante
do de preparação? constatação foi verificada nos estudos de Da-
niela Barros e Luciana Vieira (2012), durante
A esse respeito, Rogério Junqueira (2010) te-
pesquisa-intervenção com a temática da Edu-
ce algumas considerações. Em sua análise do
cação Sexual em uma escola profissionalizan-
discurso de gestoras/gestores educacionais,
te de Pernambuco.
considera enquanto uma estratégia politica-
mente correta de adiamento de responsabili- Em nosso contexto, o elemento da religiosi-
dade a posição de não se sentirem prepara- dade cristã funciona como um dificultador de
dos, ou seja, a utilização de argumentos, co- sua permanência na escola, tal como visto nas
mo a espera por cursos, por capacitação ou palavras de Xuxa, ao afirmar que os proble-
mais leis que deem conta de descrever o que mas são ampliados pelo fato de sua escola ser
deve ser feito, como deve ser feito. Sendo as- “de um padre” ou com uma diretora evangé-
sim, o autor nos lembra que a escola faz par- lica:
te da sociedade, estando submersa nos valo- Só pra vocês terem uma ideia, na escola que eu
res vigentes. Nesse sentido, Luma Andrade estudei, o diretor da escola era um padre... … e o
(2012) pactua dessa percepção e situa a pe- padre antigamente, na cidade, ele tinha uma au-
dagogia comprometida com a moralidade, na toridade muito grande. Então eu vim de uma es-
cola que já era do padre. Quando eu saí da escola
qual a violência e a dor são tão somente mé- do padre eu fui para outra escola que era do mu-
todos corretivos, parte de uma prática esco- nicípio, mas a diretora era evangélica. Então as-
lar: sim, como você perguntou aí agora, se tinha, sen-
tiu diferença do gestor? Eu sentia. (Xuxa, entre-
O que foge ao modelo hegemônico estabelecido é vista pessoal, 2 de abril de 2014).
submetido à pedagogia da violência e da dor, co-
mo tentativa de correção e retidão. Na escola, O discurso religioso cristão aparece como jus-
tais pedagogias são praticadas pelos educadores tificativa para a exclusão, sobretudo, na ver-
na melhor das intenções, pensando na preparação
e inserção social dos (as) jovens em uma cultura tente evangélica: “muitas pessoas usam a re-
heteronormativa, sendo esta também uma co- ligião para poder criticar o outro, principal-
brança da sociedade. (Andrade, 2012, p. 248). mente os evangélicos, os evangélicos estão
Essa instituição, muitas vezes, prescreve e em primeiro lugar” (Xuxa). Neste quesito,
inscreve nos corpos que a habitam com tais Carla demonstra como o olhar religioso, da
valores, sob a crença de estar guiando as pes- vertente evangélica, julga e desvaloriza: “É
soas para uma vida melhor. Contudo, mais do quando eu vejo um evangélico olhar assim:
que reproduzir, consideramos que a escola você acha que isso que você está vivendo é
deve assumir a função de repensar os valores venerável aos olhos do Senhor? Eu disse se é
sociais, favorecer as pessoas refletirem sobre ou não, eu estou fazendo a minha parte.” Do
as possíveis consequências de seus atos, as- mesmo modo, Xuxa revela que esse tipo de
sumindo uma perspectiva mais aproximada discurso atua como incitador do estabeleci-
das noções de cuidado de si e de práticas de mento de um crivo, de uma separação social
liberdade e mais distante do enquadramento e de uma hierarquia:
moralista. Quando era algumas (colegas da escola) que não
tinha religião, a família não era evangélica, não
Afinal, a cultura, os valores da família, a reli- tinha tanto preconceito. Mas quando era daquelas
gião, a desinformação, a percepção do pre- meninas que a mãe era evangélica, aí dizia logo:
conceito como um fenômeno natural produ- se afasta do gay, não fica perto desse gay... nem
senta perto desse gay.
zem efeitos: levam as pessoas fora do padrão
esperado a ter baixo rendimento e evasão es- Nesse sentido, Andrade (2012, p. 127) consta-
colar, ao isolamento social, tornando-se mais ta o uso nas escolas de uma pedagogia mora-
propensas a recorrentes sentimentos de tris- lizante que se alinha ao discurso religioso, em
teza e de sofrimento, chegando como última nome de Deus, da lei e da civilização:
consequência à prostituição compulsória e a Pedagogia do bem e do mal, do certo e do erra-
atos de suicídio (REPROLATINA, 2011). do, uma educação bipolar que envolve a cateque-
se e suas formas de proteção, de salvação e, con-
sequentemente, de destruição. A escola ensina

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ou se propõe a ensinar uma programação de con- De modo geral, Xuxa analisa a escola em sua
teúdos e de valores morais, se apresenta como
tarefa de excluir, ao optar por não usar o no-
portadora de boas intenções, fala em nome de
Deus e da família, em nome do rei ou do Estado, me social, por criar empecilhos no uso do ba-
em nome do progresso e da civilização. nheiro, no uso de roupas e acessórios conside-
rados femininos:
Essa pedagogia distingue o que é bom e ruim
e busca dar saídas para um comportamento A escola, que era fundamental pra poder educar,
coíbe a gente de ir para aquele lugar, que é ter o
adequado aos olhos de Deus, da instituição
direito de estudar... A Constituição dá o direito
familiar tradicional, do Estado, falando em que a criança e o adolescente estudem, mas a
nome dessas instituições em prol de um bem gente não tem lei nenhuma que diga assim: a tra-
maior, do desenvolvimento do progresso, de vesti vai ser chamada pelo nome social dela, ela
vai entrar no banheiro, ou pelo menos na hora da
uma civilidade.
chamada o professor vai se conscientizar e dizer,
Com isso, a ausência da laicidade 3 nas escolas não, aquela travesti vem de roupa de mulher.
Tudinho pra ela não passar constrangimento. Va-
é tida como mais um obstáculo da permanên- mos colocar o nome social dela, pra não virar
cia das travestis (Andrade, 2012; REPROLATI- chacota na sala de aula. Não, não chama, são os
NA, 2011). Afinal, dentro da religião cristã primeiros, os educadores são os primeiros, não
tradicional, Deus fez o homem e a mulher, e todos, mas alguns são os primeiros a fazer chaco-
ta com a cara da gente.
por se tratar de uma doutrina, muitas vezes
não há espaço para dissonâncias. Destacamos, Percebemos, portanto, que o nome social e o
portanto, o alerta de Débora Diniz (2011), banheiro aparecem como nós, nas máquinas
que chega a posicionar a laicidade como con- de fazer gênero, elementos que deixam à to-
dição sine qua non para a emergência da di- na preconceitos e incongruências. Nesse sen-
versidade. tido, cabe problematizar os nós do nome so-
cial e do banheiro que estabelecem zonas de
Sabemos, no entanto, do profundo atrelamen-
exclusão.
to histórico da educação brasileira com a reli-
gião cristã, inaugurada pelos jesuítas, da re- O nó do nome
lação simbiótica da religião católica e da for-
mação do Estado brasileiro que permanece Ocorre que, de antemão, a travesti não se
bastante imbricada, desde a chegada da edu- enquadra em dos primeiros atos de institucio-
cação formal pelas mãos dos jesuítas (Roma- nalização em nossas vidas, o nome civil
nelli, 2001). (Próchno & Rocha, 2011; Solís, 2009). Usam
apelidos, nome social, por vezes inventam até
Todavia, é interessante ressaltar que apesar o sobrenome, não “cabem” em nenhum dos
de considerarem frequentemente o discurso banheiros masculino/feminino, não se inscre-
evangélico como excludente, as interlocuto- vem na lógica binária de sexo, nem necessari-
ras não demonstraram rejeição a todas as re- amente desejam ser homens/mulheres (Ben-
ligiões ou mesmo à religião evangélica: nedetti, 2005; Blanca & Grossi, 2008; Juncais
O evangélico é muito... não sei nem como expli- & Silva, 2008; Próchno & Rocha, 2011).
car, porque se você pegar a bíblia... é muito
complexo porque tem coisas que eles falam o se-
Nesse contexto, muitas de suas queixas gira-
guinte, eles falam que Deus criou o homem e a vam em torno de não serem chamadas pelos
mulher, um para o outro, então, assim, Deus co- nomes escolhidos por colegas, professores,
mo deus, se você for olhar, Deus como deu seu fi- funcionários, como também pelas pessoas de
lho, ele não disse vai morrer para o homem e pa-
ra a mulher, e não para o travesti, não para o gay
fora dos muros da escola. A chamada, verifi-
(Xuxa, entrevista pessoal, 2 de abril de 2014). cação da presença das/dos estudantes em sa-
la de aula, através da listagem de nomes ci-
Tal afirmação se alinha à posição de Regina vis, era constante momento de constrangi-
Jurkewicz (2005), segundo a qual uma mesma mento e de desconforto. Vejamos:
religião pode ter variadas interpretações e
posicionamentos, haja vista as suas inúmeras Jeane: “porque que você vai estar sentada numa
cadeira, um monte de aluno do seu lado...” (Jea-
linhas e dissidências. ne, entrevista pessoal, 9 de abril de 2014).
Bárbara complementa: “Ainda chamando José Fu-
lano de Tal... Aí a bicha, tô aqui... vê que coisa
3
A laicidade reclama a autonomia do Estado em face da horrível”. (Bárbara, entrevista pessoal, 9 de abril
religião, com a exclusão das instituições religiosas do de 2014).
exercício do poder político e administrativo, particular-
mente no ensino público (Domingos, 2009).

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 45-58


52 Torres, Daniela Barros & Vieira, Luciana Fontes

Jeane: “Essa é a pior situação, porque chega toda configura, de antemão, a estrutura dos papéis
maquiada, vestida de mulher...”.
sociais que mais tarde serão assimilados por
Pesquisadora: “Aí, nesse momento, surge alguma quem fala e serão reproduzidos no uso linguís-
piada?” tico” (2009, p. 156).
Jeane: “Aí é que surge!”
Assim, dentre outras estratégias, a norma de
Nos meandros da discussão do uso do nome gênero se respalda nas regras gramaticais, na
social na escola, encontra-se o posicionamen- estruturação de nossa língua, em que o nome
to da instituição diante da solicitação das tra- próprio funciona como elemento de subjeti-
vestis. Não seria apenas uma discussão em vação ao esquadrinhar, controlar os corpos,
torno de um nome, mas nos parece que a ne- oferecendo um registro numérico e nominal,
gativa desse pedido impacta negativamente que indica proveniência e os marca.
esse modo de ser:
Ademais, como Caio Próchno e Rita Rocha
Dentro da sala de aula, o nervosismo de tanto es- (2011) e Benedetti (2005) salientaram e vimos
tar chamando a gente pelo nome, não pelo núme- ao longo do contato com as travestis, elas al-
ro, porque a gente não quer estar sendo chamado
pelo nome de registro, então eu preferi desistir. ternavam o uso do nome social e civil a de-
Até hoje. Tem até um curso, que mandaram eu pender do período de suas vidas a que se re-
me inscrever, eu digo: Deus que me livre, pra eu feriam, com efeitos de subjetividade.
entrar naquela escola? Não minha filha, vou não,
deixa eu ficar analfabeta (Bárbara, entrevista Elas costumavam falar de si com o nome civil
pessoal, 9 de abril de 2014). para relatar fatos anteriores às modificações
Ao nos debruçarmos, particularmente, sobre a corporais. Algumas ainda usavam o nome civil
questão do nome, pensamos que o incômodo em certas ocasiões consideradas mais formais
provocado pela impertinência pelo ato de se ou na relação com familiares, tornando mais
autonomear pode advir do fato de o nome fluida e complexa a questão da nominação.
próprio servir como um identificador, uma Ainda no que se refere ao nome e ao impedi-
etiqueta de origem, que diz de sua procedên- mento jurídico de mudança do nome civil,
cia sanguínea, informa status social. De fato, questionamos a necessidade de haver alinha-
trata-se do primeiro documento que inscreve mento entre uma morfologia genital e o nome
o sujeito na vida social organizado por um Es- civil, condição essa que não está prevista em
tado, simbolizando a entrada na vida civil nenhuma legislação. Essa ligação recorrente
(Prado Filho, 2012; Solís, 2009). nos procedimentos jurídicos alia-se ao discur-
Essa primeira certidão civil, sinal de um lega- so moral e médico, demandando procedimen-
do familiar, de uma herança consanguínea, tos de exames, psicoterapias e diagnósticos
baseada na instituição do casamento civil, é que tendem a patologizar as pessoas “trans”
negada pelas travestis. Elas transgridem essa que desejam realizar a mudança de nome.
convenção quando se nomeiam, criando até Atualmente, existem outras formas de mape-
seus sobrenomes, forjando novas parentalida- amento, identificação e controle dos corpos,
des (Amaral, 2012). tais como a impressão digital, digitalização da
O nome próprio pressupõe um sujeito único, íris ou os mais recorrentes usos de números
imóvel e linear, com uma identidade fixa, do Cadastro de Pessoa Física (CPF) e de Regis-
produzindo uma diferenciação de uma massa tro de Identidade (RG). De modo que a alte-
anônima, uma singularidade, o indivíduo. En- ração do nome, seja por qualquer motivo, não
quanto tecnologia de gênero, a nomeação visa seria uma ameaça aos sistemas de controle,
imprimir uma linearidade entre um sexo bio- mas é tão somente tomada a partir de uma
lógico e uma performatividade femini- convenção social e da manutenção dos bons
na/masculina. De modo que as travestis em- costumes.
baralham e desconstroem um sujeito único e Houve alguns avanços tímidos do ponto de vis-
pressuposto, tensionando tal tecnologia (Ben- ta legislativo, em nível nacional. O Sistema
nedetti, 2005; Butler, 2010; Próchno & Rocha, Único de Saúde (SUS), por meio da Portaria
2011; Solís, 2009). Nessa perspectiva, Ingrid n.1820/2009, prevê o direito ao atendimento
Solís (2009) nos lembra da inseparabilidade livre de preconceitos e o uso do nome social
entre corpo e linguagem que fundamenta a em todos os serviços de saúde (independen-
“função de correspondência sexo-gênero e temente de ser travesti). No entanto, fazer

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As Travestis na escola: entre nós e estratégias de resistência 53

cumprir essa norma tem sido penoso: uma das sua! Reflexões sobre a transnomeação fazem
participantes da pesquisa nos solicitou uma reservas quanto ao uso do nome social, colo-
cópia de tal portaria para levar ao centro de cando-o como paliativo, pois não desconstrói
atendimento de saúde, condição imposta para ou, se opõe, diametralmente, ao nome civil
que fosse chamada pelo nome social. Desta correspondente ao sexo biológico, considera-
forma, ela indagou: do, no senso comum, o nome verdadeiro.
Acho que tem que avançar muito mais, os direto- Alguns países têm realizado avanços nesse
res têm que se conscientizar de que travesti tem
sentido. A Argentina deliberou a mudança do
que estar na sala de aula, que tem que chamar
pelo nome social. Porque se você vir, existe uma nome civil a partir da escolha dos sujeitos,
contradição, hoje existe na cartilha do SUS o di- mas ainda assim atrelada ao binarismo mascu-
reito da travesti ser chamada pelo seu nome soci- lino X feminino (Schmall, 2012). Nesse senti-
al, e porque não, na educação, não ter? Por que o
do, a Austrália deu um salto ao criar uma no-
Ministério da Educação também não cria essa por-
taria? (Xuxa, entrevista pessoal, 9 de abril de va classificação de gênero denominada “neu-
2014). tro” ou “sem especificar” (Ferreira, 2013).
Xuxa faz uma pergunta pertinente sobre a le- Esse descolamento do nome ao “sexo biológi-
gislação que permite o nome social na cha- co” urge, pois em nosso país, para conquistar
mada. Na ocasião, não havia uma legislação essa mudança é preciso, necessariamente,
nacional no âmbito educacional que garantis- realizar a “adequação biológica”. Ou seja, se
se o uso do nome social. Então, destacamos quiser usar um nome considerado feminino é
algumas conquistas alcançadas em diversas preciso ter uma genitália anatomicamente
esferas, tanto estaduais quanto municipais. correspondente. Além de arbitrária, essa con-
junção jurídico-biológica produz sofrimento
Nos Estados federativos de Alagoas, Goiás,
ao se atrelar o processo jurídico ao de trans-
Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catari-
gentalização. Afinal, aos moldes que vem
na e Tocantins, que garantem o direito ao uso
sendo realizado, esse último processo reforça
do nome social no registro escolar e docu-
a patologização, produzindo um sujeito ina-
mentos oficiais da escola, através de mobili-
dequado, que precisa ser “consertado” e se
zação nos Conselhos Estaduais de Educação
submeter a uma série de procedimentos inva-
(ABGLT, s/d; Bandeira, 2009).
sivos – a exemplo da psicoterapia compulsó-
Ademais, outra via legal foi traçada no Pará, ria.
no Distrito Federal e nas cidades de Belo Ho-
rizonte-MG e Fortaleza-CE, nos quais as pró-
O nó do banheiro
prias Secretarias de Educação formularam re- Jeane assevera que “o único problema era o
gra interna que prevê o uso do nome social banheiro...”, ou seja, mesmo para as traves-
nos registros escolares (ABGLT, s/d; Bandeira, tis que afirmaram ter sido bem acolhidas na
2009). Em Pernambuco, o Governo do Estado instituição, o banheiro era um tabu, que fun-
resolveu aderir ao uso do nome social somen- cionava como um divisor de águas, de corpos.
te para servidoras/servidores (Decreto n. Neste sentido, Bruna afirma: “Tem mulher
35.051 de 2010). que não gosta.” Bárbara acrescenta: “não
Em nível municipal, várias cidades (João Pes- gosta... ôxe, se é um homem tá fazendo o
soa-PB, Botucatu-SP, São João Del Rey-MG e que aqui? ”, revelando que nesse lugar a se-
São Paulo-SP) vêm adotando o nome social, paração dos corpos obedece à lógica biologi-
tanto dos servidores públicos, como dos usuá- zante (pênis =homem→ banheiro masculino).
rios em suas repartições (ABGLT, s/d). Seguindo essa linha de pensamento, as esco-
las as orientavam, usualmente, a usar o ba-
O grupo mostrou-se surpreso diante desses nheiro masculino. Contudo, essa aparente so-
avanços no âmbito legislativo, mas um deles lução não resolve o problema, pois no banhei-
foi bastante incrédulo quanto a mudanças de ro masculino estavam ainda mais sujeitas à
comportamento, a partir do âmbito jurídico, violência: “Porque eu já fui expulsa do ba-
o que nos leva a pensar nos limites da refor- nheiro masculino. Já… de pé a pé, não quise-
mulação legislativa para as transformações ram saber não. Disseram que se eu quisesse
sociais. urinar, eu fosse no banheiro feminino, porque
lá não era meu lugar não” (Bárbara, entrevis-
Todavia, Camilia Guaranha e Eduardo Loman-
ta pessoal, 16 de abril de 2014).
do (2013), em Senhora, essa identidade não é

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 45-58


54 Torres, Daniela Barros & Vieira, Luciana Fontes

Ora, sabemos que o banheiro serve como no/feminino, de situações de violência por
marcador dos corpos generificados, que rati- constrangimentos verbais e agressões físicas,
ficam as normas de gênero. Sendo assim, a assim como nos estudos de Juncais e Silva
utilização dos banheiros pelas travestis gera (2008).
desconforto e violência, pois coloca em xeque
Em relação à proibição do acesso ao banheiro
a divisão dos espaços, a partir dos critérios
feminino por travestis e transexuais, o relató-
que alinham sexo, gênero e prática sexual.
rio REPROLATINA (2011) identificou as seguin-
As palavras de Bárbara ecoam nessa complexa tes justificativas: serem menores de idade, a
trama: família não permitir, bem como a recorrente
Tento voltar (para a escola), mas quando eu pen-
sugestão do uso de terceiro banheiro (de ser-
so a barbaridade que a gente passa, ter que estar vidores) ou do masculino.
entrando em banheiro masculino, eles botam a
gente pra fora, porque pensam que a gente vai Diante dos impasses para a permanência de
estar se enxerindo pra eles, não vai fazer nossas travestis nas escolas, em seu artigo Banhei-
necessidades (Bárbara, entrevista pessoal, 16 de ros, Travestis e Relações de Gênero e Dife-
abril de 2014).
rença no Cotidiano da Escola Elizabeth Cruz
Vale pontuar que elas não obedeciam cega- (2011) problematiza a escola em relação aos
mente à regra de usar o banheiro masculino, entraves e às violências institucionais cotidia-
exercendo suas vontades, nas brechas institu- nas geradas, quanto ao uso do banheiro por
cionais, cometendo pequenas transgressões: travestis. Assim, verifica que em geral a solu-
“Quando ele não aparecia, o diretor, eu usava ção apaziguadora que a escola adota é dispo-
o banheiro feminino. Mas quando ele apare- nibilizar o banheiro de professores e funcioná-
cia, era o masculino” (Jeane, entrevista pes- rios, algumas das interlocutoras de seu traba-
soal, 16 de abril de 2014). O relato de Carla lho chegaram a sugerir que usassem o banhei-
também nos oferece vestígios das transgres- ro em casa, sem com isso refletir sobre “O
sões, pois retrata que quando ninguém estava que ensinamos quando a travesti não tem lu-
olhando, também usufruía do banheiro femi- gar para fazer xixi? ” (Cruz, 2011, p. 77). Ora,
nino: “Não podia, mas mesmo assim a gente uma das possíveis mensagens que pensamos é
frequentava, né? Nas horas, assim, vagas, que de que não têm um lugar e que suas necessi-
a gente via que não estava circulando, aí eu dades mais básicas não nos importam.
olhava assim, tanto o masculino como o femi- Sob o viés do conceito de tecnologias do eu
nino: a hora é essa!” (Carla, entrevista pesso- em Foucault, a autora considera a escola co-
al, 16 de abril de 2014). Neste caso, o olhar mo um dos lugares onde a produção de subje-
do outro surge enquanto vigilância e ratifica- tividades costuma acontecer, tomando forma,
ção da norma de gênero. Já no uso do banhei- e provoca, afinal: “Seria a escola dona do ba-
ro feminino, a presença de conhecidas gerava nheiro, dona dos corpos e dona das identida-
maior confiança: des? O sujeito é posse da escola? Quais sujei-
Jeane: “porque as meninas que estudavam comi- tos cabem na escola?” (Cruz, 2011, p. 86). Pa-
go... eu ia mais com as meninas da minha sala. Aí rece que alguns corpos, identidades e sujeitos
as meninas como tão todas habituadas comigo,
acostumadas comigo, então não tinha nada”
ficam à margem, tornam-se invisíveis ou
anormais.
Pesquisadora: “Aí elas e você estavam de boa?”
Tal no discurso de Jeane “Aí é que tá o pro-
Jeane: “E porque era banheiro individual, né? Aí
não tinha como elas estarem falando nada porque blema, que a gente fica indecisa pra que ba-
tem porta”. (Jeane, entrevista pessoal, 16 de nheiro vai, né?” Preciado (s/d) nos convoca a
abril de 2014). enxergar nas portas dos banheiros públicos
A segurança e tranquilidade de Jéssica eram uma constante interpelação e produção de
garantidas pela divisão público/privada pre- gênero. O banheiro, sendo, portanto, uma
sente na organização arquitetônica do banhei- tecnologia de gênero:
ro. Sobre esse aspecto, na dissertação de An- Ali onde a arquitetura parece simplesmente colo-
drade (2012), o banheiro na escola aparece car-se a serviço das necessidades naturais mais
básicas (dormir, comer, cagar, mijar...), suas
tanto como um lugar de escapamento do “pa- portas e janelas, seus muros e aberturas, regu-
nóptico”, da vigilância cerrada aos corpos, lando o acesso e o olhar, operando silenciosa-
lugar de “pegação”, como também de ratifi- mente como a mais discreta e efetiva das “tecno-
cação da norma, da divisão entre masculi-

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As Travestis na escola: entre nós e estratégias de resistência 55

logias de gênero” (Preciado, s/d, p. 1, própria travesti? Não. Eu acho que se existe um banheiro
tradução). feminino, do jeito que algumas travestis se sen-
tem mulher, porque elas também não [poderiam]
A divisão dos corpos pelo critério de gênero é usar aquele ali? Não é válido o título dela na hora
inscrita arquitetonicamente pelo jogo de mos- de votar? O governo federal, o governo municipal,
trar e esconder, do público/privado que ense- o estadual, eles não acolhem bem aquela vota-
ção, que vem do título da travesti? Porque tam-
ja as atribuições sociais masculino/feminino, bém não acolher leis que incluam elas naquele
ativo/passivo, respectivamente. O pênis pode banheiro? (Xuxa, entrevista pessoal, 16 de abril
ficar à mostra, com uso de mictórios, enquan- de 2014).
to a atividade que envolve o ânus deve ser Xuxa questiona que quando é interessante pa-
resguardada às cabines individuais, assim co- ra a sociedade reconhecê-las enquanto pesso-
mo a que envolve a vulva (Preciado, s/d). as e cidadãs que votam, em outros momentos
Curioso perceber que os banheiros são comu- esse mesmo critério não é utilizado. A pesqui-
mente diferenciados em públicos e privados. sadora suscitou a crítica da separação entre
Os banheiros privados são de uso doméstico e banheiros para sexo feminino e masculino,
não têm invariavelmente símbolos de gênero com o que o grupo concordou. Sugere ainda
estampados em suas portas ou legislações es- que as/os docentes sejam capacitadas/os pa-
pecíficas para os regulamentarem. Enquanto ra lidar melhor com essa situação:
os públicos são alvo de muitas recomenda- Acho que deveria existir uma capacitação entre
ções, são regulados e normatizados pela esfe- professores, diretores, dentro da própria secreta-
ra municipal. Existem leis específicas para ria da gestão municipal, ou estadual, não sei co-
mo vocês, pra... como eu acabei de falar, como
banheiros públicos masculinos e femininos,
se fosse uma matéria de história, de matemática,
banheiros familiares, que versam sobre ba- pra conscientizar os professores que enquanto
nheiros para uso infantil e trocador de fraldas não chamar pelo nome social, não ter aquela in-
tal qual a lei de Recife 17.242 de 2006, ou se- clusão social da travesti, fica complicado, sempre
vai existir uma ou duas travestis marginalizadas
ja, leis que orientam banheiros para pessoas
(Xuxa, entrevista pessoal, 16 de abril de 2014).
com deficiência. Todas elas determinando
quem deve frequentar quais espaços, como (In)conclusões
deve ser a sua disposição arquitetônica, o
No cotidiano das escolas onde passaram nos-
número de instalações por estabelecimento,
sas interlocutoras, encontramos relatos de vi-
de cabines individuais, dentre outros meticu-
olência física, institucional, psicológica, como
losos detalhes.
também, narrativas de acolhimento e de in-
Recentemente, o incômodo no uso do banhei- serção. Apesar das participantes terem nota-
ro feminino por travestis virou alvo de produ- do uma recente melhora nas condições de
ção legislativa. O deputado estadual de São permanência em algumas escolas, o uso do
Paulo-SP, integrante da bancada evangélica, banheiro e do nome social continuam sendo
Carlos Apolinário (do Partido Democrata Cris- zonas conflituosas, denotando a importância
tão), e o vereador de Florianópolis-SC Degla- do aprofundamento das discussões de gênero
ber Goulart (PMDB) redigiram, respectivamen- relacionadas à presença das travestis.
te, os projetos de Lei n. 36 de 2012 e PL
Saltou aos nossos olhos a condição de insegu-
15.327 de 2013, porém esse último, foi rejei-
rança e de liberdade restringida experimen-
tado pelos vereadores de Florianópolis em
tadas pelas travestis: medo de andarem nas
2014.
ruas, de circularem nos espaços públicos ao
Essas iniciativas propuseram a criação de ba- longo do dia, dos atos de violência (homicí-
nheiros Unissex, voltados para homossexuais, dios) sofridos por colegas homossexuais e tra-
travestis e transgêneros. Elas tendem a redu- vestis no município, entre outros. Com isso,
zir a um único sexo todas as categorias que uma questão, que é anterior ao direito de es-
não cabem nas definições ortodoxas ho- tudar, se fez presente: o respeito à liberdade
mem/mulher, calcadas nos padrões hetero- de ir e vir e de terem suas vidas asseguradas.
normativos. Ciente dessa proposta, o nosso
Do ponto de vista macropolítico, considera-
grupo se posicionou terminantemente contra:
mos essencial um maior investimento, sobre-
Eu sou totalmente contra isso, porque se se luta, tudo nos recursos humanos e materiais didáti-
se briga por inclusão social, por qual motivo criar
um banheiro especificado só para travesti? Pra
cos. Iniciativas que promovam uma maior di-
que criar uma delegacia especializada só para vulgação de legislação pertinente; a capacita-

Quaderns de Psicología | 2015, Vol. 17, No 3, 45-58


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construção de políticas, estabelecendo redes permitem nome feminino de travestis em listas
de apoio e disparando discussões producen- de chamada escolar. Folha de S. Paulo. Recu-
tes. perado de
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/
Não obstante, ressaltamos que tanto os con- ult95u660417.shtml
teúdos quanto a forma como essas temáticas
Barbosa, Maria Eduarda & Adrião, Karla (2011).
estão sendo, de algum modo, trabalhadas na
“Menina fecha as pernas” e outras questões de
escola, precisam ser revisitados, sob pena ou gênero. Revista Polis e Psique, 1(3), 232-257.
sob o risco de se tornarem ou permanecer
apenas mais uma disciplina a ser ministrada, Barros, Daniela & Vieira, Luciana (2012). Caminhos
com assuntos a serem memorizados em provas e descaminhos de uma educação (paralela?). Re-
cuperado de http://www.unicap.br/jubra/wp-
e atividades avaliativas obrigatórias. Nesse
content/uploads/2012/10/TRABALHO-08.pdf
caso, essa ampliação criaria/cria mais regras
e manuais de conduta, a afirmação de novos e Benedetti, Marcos (2005). Toda Feita: O corpo e o
de velhos aprisionamentos, ao invés de pro- gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond.
blematizar as regras e normas existentes, sem Blanca, Rosa & Grossi, Miriam (2010). Linguagem
com isso oferecer respostas prontas e prescri- como tecnologia ou “como a escrita produz cor-
tivas. pos”. Apresentado em Fazendo Gênero. Floria-
nópolis
Em âmbito local, seria primordial para cada
instituição educacional debater com a sua Brandão, Carlos (2006). A pesquisa participante e a
comunidade escolar (docentes, funcioná- participação da pesquisa: um olhar entre tempos
e espaços a partir da América Latina. In Carlos
rios/funcionárias, gestoras/gestores, estudan-
Brandão & Danilo Streck (Orgs.), Pesquisa Partic-
tes, família) os temas de sexualidade e de gê- ipante: O saber da partilha (2a ed., pp. 21-54).
nero, incluídos no cotidiano institucional. Essa Aparecida: Ideias & Letras.
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DANIELA BARROS TORRES


Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2007), Especialização em
Saúde Coletiva pela FTI (2009) e mestrado em Psicologia na UFPE (2014). Atualmente é psicóloga do
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia - Campus Recife, Temas de pesquisa: psicologia,
políticas públicas em educação, gênero e sexualidade.

LUCIANA FONTES VIEIRA


Possui Mestrado em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise - Universite de Paris VII (1999) e Douto-
rado em Saúde Coletiva pelo IMS-UERJ (2005). Atualmente é professora adjunta do Programa de Pós-
graduação em Psicologia da UFPE e responsável pela Diretoria de Assuntos LGBT da UFPE.

DIRECCIÓN DE CONTACTO
danitorres_psi@yahoo.com.br

FORMATO DE CITACIÓN
Torres, Daniela Barros & Vieira, Luciana Fontes (2015). As Travestis na escola: entre nós e estratégias
de resistência. Quaderns de Psicologia, 17(3), 45-58. http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1285

HISTORIA EDITORIAL
Recibido: 15/05/2015
1ª Revisión: 05/09/2015
Aceptado: 23/10/2015

http://quadernsdepsicologia.cat

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