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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

THAYSE AMÁBILY DEHLANO

A IMIGRAÇÃO COMO UM DIREITO HUMANO E A ATUAÇÃO DO BRASIL NA


ATUALIDADE: UM OLHAR PARA A REALIDADE DO IMIGRANTE HAITIANO NO
BRASIL

Florianópolis
2017
THAYSE AMÁBILY DEHLANO

A IMIGRAÇÃO COMO UM DIREITO HUMANO E A ATUAÇÃO DO BRASIL NA


ATUALIDADE: UM OLHAR PARA A REALIDADE DO IMIGRANTE HAITIANO NO
BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Relações
Internacionais da Universidade do Sul de
Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em
Relações Internacionais.

Orientador: Prof. João Batista da Silva, Msc.

Florianópolis
2017
Dedico este trabalho aos meus pais, pelo
amor, apoio, carinho, compreensão e
capacidade dе acreditar еm mіm. Sem
vocês nada disso seria possível.
AGRADECIMENTOS

Ao longo deste ano contei com o apoio e a solidariedade de muitas


pessoas. Todo sonho precisa ser regado por palavras de amor e amizade para
almejá-lo. Ao realizar este sonho, concluindo mais uma etapa de minha vida, dedico
meus sinceros agradecimentos:
Primeiramente a Deus, por ter me dado o dom da vida e por ter me
guiado e dado força para realizar esta caminhada.
Aos meus pais, Luceir e Robervaldo, ao meu irmão Vitor Augusto e a
minha avó Avelina, por toda a atenção dedicada durante esta jornada, dando-me
forças para a concretização desse sonho. A vocês o meu amor e gratidão.
Aos meus colegas de trabalho acadêmico: Bruno, Julia, Matheus, Marina,
Mayra, Vitória e Pedro, pela amizade, apoio, carinho e companheirismo
demonstrados durante a trajetória do curso.
As minhas amigas, em especial a Amanda, Bruna, Daniela, Isabela e
Mariana, e as minhas primas, pela constante demonstração de carinho e
preocupação comigo.
Aos mestres e coordenação do curso, e, com carinho, ao meu orientador,
João Batista da Silva, pelos seus ensinamentos e contribuições valiosas neste
processo.
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para esta
pesquisa, meu muito obrigada!
“A capacidade de se colocar no lugar do outro é uma das funções mais
importantes da inteligência. Demonstra o grau de maturidade do ser humano”
(Augusto Cury).
RESUMO

A presente monografia tem como objetivo analisar o papel do Brasil frente aos
processos migratórios e quais suas políticas desenvolvidas, considerando a
realidade do imigrante haitiano no Brasil. Uma vez que a migração vem sendo
destaque em nosso país nos últimos anos, existe uma necessidade de dar atenção
especialmente aos refugiados e seus Direitos Humanos. Assim, buscou-se identificar
o instituto da imigração no seu processo histórico, destacando a atuação do Brasil
nesse contexto. Também procura-se descrever o processo histórico da imigração,
destacando a atuação do Brasil nesse cenário, apontando como o Estado se
estrutura do ponto de vista político e jurídico e por fim, demonstrar a atual realidade
do imigrante haitiano no Brasil. Para a estruturação da pesquisa utiliza-se o método
descritivo e explicativo, sendo de natureza qualitativa e o delineamento do estudo
tem caráter de pesquisa bibliográfica. Por fim, conclui-se que a migração passou a
ter uma importância relevante no cenário internacional assim como no Brasil, onde
mesmo possuindo algumas dificuldades para receber os refugiados o país procurou
adequar sua legislação, com o visto humanitário, para receber os mesmos e garantir
seus direitos fundamentais.

Palavras-chave: Migração; Refugiados Haitianos; Direitos Humanos.


ABSTRACT

The present monograph aims to analyze the role of Brazil in the migratory processes
and what are it’s developed policies, considering the reality of the Haitian immigrant
in Brazil. Since migration has been prominent in our country in the past years, there
is a necessity to give attention especially to the refugees and their human rights. We
sought to identify the immigration institute in its historical process, highlighting the
Brazilian performance in this context. It also seeks to describe the historical process
of immigration, highlighting the Brazilian performance in this scenario, pointing out
how the State structures itself from a political and legal point of view and, finally, to
demonstrate the current reality of the Haitian immigrant in Brazil. The research is
structured by the descriptive and explanatory method, being of qualitative nature and
the delimitation of the study has a bibliographic research mold. Finally, it’s concluded
that migration has become very important in the international scenario as well as in
Brazil, where, despite having some difficulties to receive refugees, the country sought
to adapt its legislation, with the humanitarian view, to receive them and guarantee
their fundamental rights.

Keywords: Migration; Haitians Refugees; Human Rights.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2 - Mapa da República do Haiti........................................................................41


Figura 3 - Fotos mostram difícil reconstrução do Haiti 5 anos depois do terremoto..44
Figura 4 – Haitianos que se registraram na Polícia Federal.....................................48
Figura 5 - Mostra com fotografias de haitianos busca dar visibilidade a
estrangeiros............................................................................................................... 51
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estatísticas do povoamento – imigração por nacionalidade


(1884/1933)................................................................................................................22
Tabela 2 - Estatísticas do povoamento – imigração por nacionalidade
(1945/1959)................................................................................................................22
Tabela 3 – Quantidade estimada de migrantes haitianos e proporção relativa por
país na América do Sul..............................................................................................49
LISTA DE SIGLAS

ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados


CNIg - Conselho Nacional de Imigração
CONARE - Comitê Nacional para Refugiados
DH - Direitos Humanos
DIP - Direito Internacional Público
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
OEA - Organização dos Estados Americanos
OI - Organização Internacional
OIM - Organização Internacional para as Migrações
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
OUA - Organização da Unidade Africana
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................12
2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DAS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS...16
2.1 PROCESSOS HISTÓRICO E BRASILEIRO......................................................17
3 DIREITOS FUNDAMENTAIS, DIREITOS HUMANOS E DIREITOS
HUMANITÁRIOS........................................................................................................25
3.1 SISTEMA GLOBAL E REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS..........................26
4 DIREITO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E
PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS..............................................................................32
4.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS..........................................................34
4.1.1 Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.....................37
5 A PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL...........................39
5.1 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO HAITI.................................................40
5.2 A POLÍTICA BRASILEIRA PARA OS REFUGIADOS........................................44
5.2.1 Os haitianos como refugiados ambientais..................................................46
5.3 A ATUAL REALIDADE DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL.............47
6 CONCLUSÃO........................................................................................................52
REFERÊNCIAS...........................................................................................................54
12

1 INTRODUÇÃO

A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, devido aos violentos ataques


nazistas, os Estados tiveram a necessidade de proteger seus cidadãos, focando em
privilegiar os Direitos Humanos e suas liberdades fundamentais, assim tornando-os
objetivo principal da Organização das Nações Unidas (ONU) (HENKIN, 1993).
O Direito Internacional dos Direitos Humanos só começou a ter sua
devida importância, após a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
Com ela, importantes tratados, de alcance global e regional, foram feitos visando à
proteção dos direitos humanos, cabendo assim ao indivíduo que sofreu essa ruptura
do direito, escolher um dos diversos sistemas de proteção (GOMES; PIOVESAN,
2000).
Atualmente, existem três sistemas regionais de proteção dos Direitos
Humanos: Sistema Interamericano, Europeu e Africano. Eles possuem práticas
diversas, porém os mesmos objetivos, o predomínio dos Direitos Humanos, de
acordo com regras internacionalmente admitidas. Também houve a criação de um
sistema global de proteção: Organizações das Nações Unidas, dos quais seus
principais mecanismos são: o Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Revisão
Periódica Universal, os Relatores Especiais e os Órgãos de Monitoramento
(BRASIL, 2017a).
Nesse contexto, chegamos ao assunto dos Direitos Humanos dos
Migrantes. Migrante é toda a pessoa que se locomove de seu lugar habitual, sua
residência, ou de seu local de nascimento, para outro lugar, região ou país. Existem
vários termos que se referem a palavra migração. A imigração refere-se à entrada
de migrantes e emigração, a sua saída. Podemos ter também migrações internas,
que seriam a locomoção dentro do próprio país, e as migrações internacionais, que
seriam o movimento de migrantes para além de sua fronteira (INSTITUTO DE
MIGRAÇÕES E DIREITOS HUMANOS, 2014).
Com relação aos Direitos Humanos no Brasil, no quesito dos Sistemas
Internacionais de proteção, ele faz parte de dois deles: Sistema ONU e o Sistema da
Organização dos Estados Americanos (OEA - Interamericano) (BRASIL, 2017a). Já
em relação à migração como um Direito Humano, ao longo dos anos, ele vem
adotando novas políticas, visando atender melhor o brasileiro no exterior, como
também aos estrangeiros no Brasil, tornando mais importante sua participação em
13

relação às migrações no âmbito internacional (REIS, 2011). Com essa grande


migração que o país vem sofrendo, torna-se necessário o conhecimento de suas leis
perante este assunto, seus acordos e tratados internacionais dos quais o Brasil é
signatário.
Em meio a esse contexto, procura-se responder nesta pesquisa à
seguinte questão: Qual o papel do Brasil frente aos processos migratórios e quais as
políticas por ele desenvolvidas para atuar nesse cenário, considerando a realidade
do imigrante haitiano no Brasil?
O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é identificar o
instituto da imigração no seu processo histórico, destacando a atuação do Brasil
nesse contexto, tendo como objetivos específicos: descrever o processo histórico da
imigração; destacar a atuação do Brasil no contexto da imigração, apontando como
o Estado se estrutura do ponto de vista político e jurídico e demonstrar a atual
realidade do imigrante haitiano no Brasil.
Movida pela paixão e interesse na proteção dos Direitos Humanos e do
bem estar dos indivíduos e entendendo ser necessária a compreensão de que
qualquer pessoa tem o direito de residir em locais por ela escolhidos é que optei por
este tema de pesquisa. Torna-se relevante estudar a migração internacional e no
seu contexto apresentar a realidade brasileira perante os imigrantes haitianos,
devido a sua presença nesse cenário tão atual no mundo.
Migrar é um Direito Humano. As pessoas migram devido a inúmeros
fatores, dentre eles podemos citar: questões econômicas, políticas, perseguições,
fugas de conflitos armados ou pelo simples fato de querer conhecer uma nova
cultura, e assim decidem buscar uma vida melhor em outro país. Porém, a migração
muitas vezes não é vista como um fator positivo entre a maioria dos Estados e
assim, os países acabam dificultando esse processo, favorecendo as redes de
tráficos de pessoas (VENTURA, 2014).
O processo de migração possui duas vertentes: a migração legal e a
ilegal. Entretanto, dependendo do Estado, as exigências para uma migração legal
chegam a ser tão rígidas que as pessoas optam por arriscar sua vida, passar por
situações desumanas para realizar a travessia de uma fronteira e tentar alcançar um
sonho de ter uma vida melhor em outro lugar.
No que se refere à relevância acadêmica do estudo, a migração com o
decorrer dos anos, veio criando uma grande importância no cenário internacional,
14

pois todo ser humano tem o direito de escolher o melhor rumo para sua vida e
atualmente o processo para a realização desse objetivo não é fácil de ser realizada
e compreendida. De acordo com Deisy Ventura (2014) “Migrar, com todos os riscos
que isto implica, explica-se simplesmente porque a busca de felicidade é inerente ao
ser humano”.
Com relação à migração no cenário brasileiro nos últimos anos, mesmo
com um saldo favorável a emigrações, o país tem se tornado atraente para
estrangeiros, devido ao seu crescimento e estabilização econômica, fazendo com
que a política de imigração se tornasse parte significante no Brasil (REIS, 2011).
Quanto à relevância social do estudo, ressalta-se a devida importância
em conhecer e compreender as leis e acordos que respeitam o direito dos migrantes
como o de qualquer indivíduo, para que possa servir de auxílio a outros Estados,
como também a todas as pessoas que procuram migrar. Segundo Cunha (2005, p.
3) “É inegável que o conhecimento adequado dos tipos e etapas da migração, suas
características, significados e condicionantes são requisitos fundamentais para
entender não apenas a dinâmica demográfica atual, mas também para prever suas
tendências futuras.”
Trata-se a presente pesquisa de um estudo do tipo descritivo, pois tem
como objetivo descrever as características de determinados fenômenos, população
e suas relações e conexões com os outros (CERVO; BERVIAN, 1996). Pode
também ser caracterizada como explicativa, onde tem por finalidade identificar os
fatores que determinam ou contribuem para o acontecimento dos fenômenos (GIL,
2008).
A natureza da pesquisa é qualitativa, pois está relacionada ao
levantamento de dados (GIL, 2008). O delineamento do estudo tem caráter de
pesquisa bibliográfica, pois é constituída a partir de livros e artigos científicos (GIL,
2008). A realização dessa pesquisa se constitui no levantamento dos temas e tipos
de abordagens, assim explorando conceitos e aspectos já publicados (BARROS;
LEHFELD, 2000).
O procedimento pode ser caracterizado como do tipo histórico,
consistindo em investigar acontecimentos, processos e instituições ocorridos no
passado, através de documentos, pesquisas, dados, para assim poder compreender
sua influência atualmente. Também é de cunho monográfico, a qual é elaborada
através do estudo de determinados indivíduos, profissões, instituições, condições,
15

comunidades ou grupos para assim obter sua propagação, observando todos os


fatores e relações que o influenciaram (LAKATOS; MARCONI, 2000).
O presente trabalho está estruturado em cinco seções, sendo esta
introdução a primeira, onde aponta-se a exposição do tema e problema, objetivos
gerais e específicos, justificativa, metodologia utilizada e os capítulos de
desenvolvimento.
No primeiro capítulo de desenvolvimento, verificar-se-á o impacto dos
fluxos migratórios e seus processos históricos, tanto no âmbito mundial como
brasileiro.
No segundo capítulo, será abordada a necessidade de proteger os
direitos dos cidadãos. Assim, surgindo os Direitos Fundamentais, Direitos Humanos
e Humanitários, e seus sistemas globais e regionais.
No terceiro capítulo, abordar-se-á sobre o Direito Internacional, as
Organizações Internacionais, como a Organização das Nações Unidas, que busca
proteger os direitos humanos e a proteção dos refugiados, onde o Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está presente.
Com relação ao quarto capítulo, visualizar-se-á que o Brasil vem se
tornando um país muito procurado pelos refugiados. Assim, procura-se explicar
melhor a situação histórica e política dos refugiados haitianos no território brasileiro
e sua atual realidade.
Por fim, a última seção está reservada para a conclusão, com o objetivo
de mostrar o desfecho do assunto discutido ao longo do desenvolvimento.
16

2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DAS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS

O termo Migrações Internacionais, na visão de Castro (2008, p.10):


Tem relação com o empobrecimento de determinadas classes sociais e a
ampliação das desigualdades entre nações, como também se realiza por
aspirações a mudanças e a circulação. Ser migrante confere, portanto, uma
identidade, quer para o sujeito que está migrante, quer para aqueles não
migrantes com quem ele/ela se relaciona, mas é também um processo de
des-identificação [sic].

A saída de um cidadão de seu país de origem, para outra sociedade,


acaba causando preocupação em seus nacionais, pelo fato de estar perdendo uma
fonte de renda e de conhecimento, ou seja, “fuga de cérebros” (brain drain). Mas por
outro lado, ocorre o pensamento de que esse cidadão possa transmitir esse
conhecimento para outros países, impulsionando o desenvolvimento humano e
econômico. Para o país receptor, a chegada de imigrantes pode mudar, em longo
prazo, seu tecido social, cultural, econômico e político (CASTLES; HAAS; MILLER,
2014).
Já na visão de Patarra (2006, p.19), a Migração Internacional:
Deve tornar-se parte integrante de estratégias nacionais, regionais e globais
de crescimento econômico, tanto nos países desenvolvidos como nos
países em desenvolvimento. Embora afirmando respeito ao direito soberano
de cada país sobre quem entra e quem sai de seu território, estimula
medidas de cooperação e proteção de migrantes irregulares, facilitando o
retorno de seus cidadãos.

Assim, percebemos que ao longo da história, a movimentação de pessoas


se deu devido a fatores como, crescimento demográfico, conflitos e evoluções
tecnológicas (CASTLES; HAAS; MILLER, 2014).
De acordo com critérios jurídicos, os migrantes internacionais se
distinguem em quatro categorias: o imigrante, que é a pessoa que deseja mudar de
país e nacionalidade. O trabalhador estrangeiro, que seria um migrante temporário,
pois é introduzido ao mercado de trabalho por contrato, “preenchendo” um vazio
econômico dos seus países de destino. As pessoas deslocadas, ou seja, expulsos,
repatriados e transferidos, saem do seu país de origem, devido a fatores políticos e
arbitragens internacionais. E, por fim, os refugiados, que seriam as pessoas que
escolheram sair do seu país em virtude de acontecimentos como perseguições,
desastres naturais, e pediram asilo a outro país. Nesse caso, os imigrantes ilícitos,
17

por não cumprirem suas obrigações de integração, não se incluem a nenhuma


dessas categorias (GEORGE, 1977).

2.1 PROCESSOS HISTÓRICO E BRASILEIRO

As migrações internacionais fazem parte da história da humanidade, e


seu processo é constante. Ao longo dela, as migrações sofreram não só
transformações políticas, mas também econômicas e sociais (BARALDI, 2014).
Para Brito (1995, p.24):
Tanto a crise econômica quanto a instabilidade política foram apenas
aceleradores do movimento das migrações internacionais, que tiveram suas
raízes, fundamentalmente, na reestruturação produtiva do capitalismo, que
potencializou o excedente demográfico europeu, e na inédita integração
econômica do mundo, fortalecida pelo fantástico progresso técnico nos
transportes de curta e longa distâncias.

Não poderíamos compreender nossa história mais recente, se não


considerarmos a interação entre os países por meio de sua população. A
constituição dos imigrantes como nação, o resgate da sua identidade, foi o resultado
de um grande trabalho do movimento internacional, com a junção de diferentes
povos (BRITO, 1995).
Na segunda metade do século XIX, ocorreu a ascensão da era industrial,
onde a influência das rodovias, fábricas e da economia, alterou as oportunidades
dos cidadãos, assim mudando os padrões de vida e de trabalho de milhões de
pessoas, tanto na América do Norte, como na Europa. Esse acontecimento, levou
milhares de pessoas a serem expulsas de suas casas em busca de uma vida melhor
(CORBETT, 2017). Assim, entende-se que Schmitz (2015, p.90, destaque do autor)
estava certo quando citou que “[...] a premissa de que pessoas partem de regiões de
baixa renda em direção a outras mais ricas sustenta o pensamento teórico insuflado
pela teoria do “empurra-puxa” (push-pull).”
Com a crise de 1929 e a Grande Depressão dos anos 30, houve um
enrijecimento de fronteiras. As crises políticas e econômicas acabaram abatendo os
fluxos migratórios. Pois, segundo Brito (1995, p. 25) “[...] A perspectiva de guerra
tornava o cenário internacional ameaçador e pouco propício a grandes movimentos
internacionais de populações. Portanto, a tendência era que as migrações se
restringissem às do tipo étnicas e de refugiados”.
18

Depois da Segunda Guerra Mundial, os países periféricos, que antes


recebiam os migrantes, passaram a ter altas taxas de crescimento demográfico. O
crescimento econômico, o mercado de trabalho e a redução dos custos dos meios
de transporte “[...] fizeram com que a dimensão assumida pelas migrações internas
tornasse as internacionais praticamente irrelevantes” Brito (1995, p.26).
Nas palavras de Silva, D. (2005, p.112):
Após a Segunda Guerra ocorreu um forte fluxo migratório mundial. Por
exemplo: entre 1960 e 1989, ao redor de 25 milhões de pessoas, a maior
parte oriunda de países pobres, estabeleceram-se nas duas regiões mais
industrializadas do globo: os Estados Unidos, que receberam uma imigração
latino-americana significativa, utilizada como mão-de-obra barata e
desqualificada, e a Europa Ocidental, que recebeu, nas décadas de 1960 e
1970, milhões de imigrantes.

O pós-guerra acabou gerando uma dependência do trabalhador


estrangeiro, devido a sua grande expansão econômica. A necessidade de ter um
imigrante era necessária pois a “[...] população economicamente ativa não crescia o
suficiente para atender todas as necessidades do mercado de trabalho, dado que o
crescimento vegetativo era bastante baixo” Brito (1995, p. 26). O período final do
século XX passou a ser formado por pessoas que estavam em busca de melhores
condições de vida, através do trabalho, e de refugiados (SILVA, D., 2005). Porém,
os imigrantes possuíam um “espaço secundário” no mercado de trabalho, ocupando
posições menos valorizadas (BRITO,1995).
Além da migração relacionada ao trabalho, existiam outros fluxos de
migrantes como os étnicos e de refugiados, que saíram principalmente do Leste
Europeu em direção a Europa Ocidental, Oriente Médio e Estados Unidos. Como
também os fluxos de longa distância, entre as colônias e os seus antigos países
colonizadores, como por exemplo, do Norte da África para a França (BRITO, 1995).
O pensamento neoclássico visava que o fenômeno da migração se devia
ao fato da oferta e demanda por trabalho, onde trabalhadores migrariam se a mão
de obra oferecida lhes fossem favoráveis. Esse pensamento, dominou o debate
sobre migração até o início de 1970. Nesse tempo, a busca do imigrante por
melhores condições de vida, ainda era visto de forma otimista (SCHMITZ, 2015).
A partir da década de 70, os países começaram a ter uma visão
pessimista em relação as imigrações e a teoria neoclássica, argumentando que ela
restringia da “[...] capacidade de livre escolha dos indivíduos, por estes estarem
constrangidos por forças estruturais da ordem econômica global” (SCHMITZ, 2015,
19

p.91). Após a década de 70, o fluxo de imigrantes vindo de países em


desenvolvimento para os desenvolvidos teve um grande aumento (BRITO, 1995).
Nas palavras de Silva, D. (2005, p.112) “[...] mas, dada a crise econômica em
meados dos anos 70, houve forte retração do fluxo, retomado na década de 1980,
com intensificação das correntes oriundas da Europa Oriental na década de 1990”.
Porém, se até a década de 70, os migrantes eram vistos como
necessários para a economia, na década de 80 eles passaram a competir com os
nacionais no mercado de trabalho, tornando-se discriminados por eles (BRITO,
1995).
A partir da década de 1990, o número de migrantes internacionais no
Norte e no Sul, aumentou significativamente. De acordo com dados da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) (2013), o Norte Global
teve um aumento de aproximadamente 53 milhões e o Sul Global de 24 milhões de
migrantes. Em 1991, foi confirmado que nos países desenvolvidos, os imigrantes
tiveram uma importante presença na força de trabalho.
Se, na época da Segunda Revolução Industrial, foram os meios de
transportes que facilitaram a intensificação das migrações, com a globalização, os
processos sociais que antes eram limitados entre fronteiras, hoje já são mais
internacionalizados. A telecomunicação faz com que notícias/informações cheguem
a milhares de pessoas em um curto período de tempo (BRITO, 1995). Assim, Brito
(1995, p. 31, destaque do autor) está correto quando diz que:
As informações que circulam pela mídia são reforçadas pelas “redes sociais
de imigrantes”. Esta é uma característica fundamental das migrações a
longa distância e, sem dúvida, das internacionais. Ninguém migra
isoladamente. O processo migratório tende a ser coletivo, funcionando como
uma bola de neve. Os que migram estabelecem entre si uma “rede” de
informações e apoio visando não só informar sobre as condições do país de
destino, como facilitar a adaptação do imigrante.

Nesse cenário de globalização, seria necessária uma reavaliação dos


paradigmas sobre a migração, pois, de acordo com Patarra (2005, p. 24):
Acontecimentos recentes, como o referido ao 11 de setembro de 2001 nos
Estados Unidos e sua estratégia militar preventiva iniciada com a Guerra do
Iraque, os conflitos do Oriente Médio, as tensões entre comunidades de
imigrantes muçulmanos na Europa, entre outras manifestações das
contradições e conflitos que permeiam a vida coletiva neste início de século,
reforçam as dimensões de racismo e xenofobia.

Esse certo “preconceito” com os migrantes, além de se tornar muito


comum, acaba fazendo com que eles se fechem cada vez mais, ao invés de tentar
20

se adaptar ao país receptor. Devido à grande força das redes sociais atualmente, os
imigrantes, mesmo estando “[...] em outro país, têm dificuldades enormes de se
integrar socialmente e, vivem em guetos onde recriam os padrões de vida dos
países de origem. Muitas vezes não aprendem a língua nem regularizam
juridicamente sua situação no país” (Brito, 1995, p.31). Essa integração entre eles,
acaba tornando a saudade do seu país e até mesmo seus problemas sociais e
psicológicos melhor.
Ainda conforme Brito (1995), se no século passado e no início deste, as
migrações eram vistas de forma permanente e os migrantes se integravam
economicamente e socialmente nos seus países de destino, atualmente já vemos
outro cenário, elas acabaram virando temporárias. A realidade do migrante acabou
se tornando distinta devido a internacionalização do mercado de trabalho e também
a grande desigualdade entre as nações.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (2017a), em 2015, o
número de migrantes internacionais chegou a 244 milhões, sendo 20 milhões
refugiados, aumentando cerca de 41% em relação ao ano 2000. O número de
migrantes internacionais aumentou mais rápido do que o crescimento da população,
em 2000, a quantidade de migrantes totalizava 2,8% da população global, já em
2015 esse número aumentou para 3,3%. Até o final de 2015, a Agência das Nações
Unidas para Refugiados (ACNUR) (2017a), apontou que cerca de 65,3 milhões de
pessoas foram deslocadas devido à guerra e conflitos, registrando um aumento de
quase 10% comparado ao ano de 2014.
Os países das Américas possuem uma formação marcada pelas
migrações internacionais com influências de europeus, asiáticos e africanos. O
Brasil no período colonial teve suas bases criadas principalmente por indígenas, que
aqui já habitavam; portugueses, devido sua colonização e africanos, por causa do
grande fluxo de escravos (BRITO, 1995), ou seja, a própria formação do Brasil foi
feita através das migrações e dos deslocamentos de pessoas.
A partir dos anos 80, os movimentos de entrada e saída do país
avolumaram-se a ponto de não mais se poder considerar a população
brasileira como uma população fechada. A partir dos anos 50, término do
período de fluxo intenso de estrangeiros ao Brasil, o crescimento
populacional passou a ser considerado o resultado da diferença entre
nascimentos e mortes, passando a ser desprezível, do ponto de vista
quantitativo, o reduzido contingente que entrava ou saía do território
nacional (PATARRA, 1996, p. 112).
21

Quando encerrada essa etapa, as migrações internacionais começaram a


fazer parte de um novo padrão demográfico, nos anos 90 (PATARRA, 1996). O
Brasil foi o destino de milhares de migrantes, como japoneses e europeus, no final
do século XIX e início do século XX, e mais tarde, entre os anos de 1920 e 1930
(REIS, 2011).
Entre 1808 e 1955, o Brasil ficou na quarta posição de país com o maior
número de imigrantes recebidos, chegando a mais de quatro milhões. Esses
imigrantes estiveram inseridos nos fluxos migratórios do século XIX até a primeira
metade do século XX (SILVA, D. 2005).
As migrações internacionais foram decisivas para a construção do
trabalho no Brasil, pois:
Os governos do Império e da Primeira República implementaram políticas
no sentido de estimular e atrair estes fluxos internacionais. A incapacidade
social de se formar um mercado de trabalho capitalista para a economia
cafeeira e para as indústrias emergentes só foi superada com a entrada
maciça de imigrantes internacionais (BRITO, 1995, p. 24).

O fato de atrair os imigrantes estrangeiros estava ligado com a


regularização do mercado de trabalho no Brasil, que ainda estava marcada pela
escravidão. Porém, as migrações internacionais ainda se encontravam com
problemas devido ao escasso meio de transporte para longas distâncias (BRITO,
1995). Nas palavras de Câmara (2014) “[...] quando já se anunciava o fim da
escravidão, a cafeicultura e o governo imperial já tratavam de atrair imigrantes
europeus para as regiões Sul e Sudeste do país, com aportes financeiros custeados
pelo governo”.
O período no qual se deu a maior entrada de imigrantes no Brasil, foi entre
1890 e 1929, com destaque para o decênio 1890-99, quando aqui chegaram
quase 1,2 milhões de imigrantes. Nestes 40 anos, os fluxos foram
praticamente comandados pelas políticas de subsídio à imigração e pelas
necessidades da economia cafeeira em expansão para o Oeste Paulista. Os
italianos eram nitidamente predominantes, mas os portugueses e espanhóis
também se destacavam (BRITO,1995, p. 24).

Do início desse século até 1929, a população portuguesa foi a que mais
teve destaque nas imigrações, assim como os alemães, os poloneses e os russos,
dentre outros. Porém, a única diferença é a grande intensificação do fluxo de
japoneses no período entre as Grandes Guerras (BRITO, 1995).
Na década de 1930, após a revolução, o Brasil começou a ampliar sua
indústria, assim, substituindo suas importações de bens de consumo duráveis e
22

intermediários. Porém, as necessidades de força de trabalho foram substituídas


pelas próprias migrações internas, que começaram a se acentuar na década de 40.
Já na década de 50, houve uma expansão na economia brasileira, resultando num
fluxo maior de imigrantes vindo da Europa, principalmente de portugueses (BRITO,
1995).

Tabela 1 – Estatísticas do povoamento – imigração por nacionalidade (1884/1933)


Nacionalidade 1884-1893 1894-1903 1904-1913 1914-1923 1924-1933
Alemães 22.778 6.698 33.859 29.339 61.723
Espanhóis 113.116 102.142 224.672 94.779 52.405
Italianos 510.533 537.784 196.521 86.320 70.177
Japoneses - - 11.868 20.398 110.191
Outros 66.524 42.820 109.222 51.493 164.586
Portugueses 170.621 155.542 384.672 201.252 233.650
Sírios e Turcos 96 7.124 45.803 20.400 20.400
Total 883.668 852.110 1.006.617 503.981 717.223
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2000).

Até a primeira metade do século XX, o Brasil não era um país que recebia
fluxo de imigrantes vindo de lugares que não tinham estreita relação com nós.
Porém, ao longo dos últimos anos, isso começou a acontecer (CÂMARA, 2014).

Tabela 2 - Estatísticas do povoamento – imigração por nacionalidade (1945/1959)


Nacionalidade 1945-1949 1950-1954 1955-1959
Alemães 5.188 12.204 4.633
Espanhóis 4.092 53.357 38.819
Italianos 15.312 59.785 31.263
Japoneses 12 5.447 28.819
Outros 29.552 84.851 47.599
Portugueses 26.268 123.082 96.811
Sírios e Turcos - - -
Total 80.424 338.726 247.944
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2000).

De acordo com as tabelas acima, percebe-se que ao longo dos anos as


migrações começaram a aumentar significativamente e que o país foi ficando cada
vez mais heterogêneo. Nas palavras de Baeninger (2014, p.13):
As evidências empíricas das migrações internacionais para e do país
demonstram a complexidade e a heterogeneidade da imigração
internacional neste século. Denotam os desafios teórico-metodológicos para
explicações e análises das migrações de haitianos, chineses, coreanos,
bolivianos, peruanos, paraguaios, imigrantes internacionais qualificados,
imigrantes internacionais indocumentados, imigrantes refugiados, presentes
nos espaços migratórios construídos a partir de nexos transnacionais no
Brasil imigrante do século 21.
23

Quando se refere a migração da periferia para os países mais avançados,


o Brasil pode ser considerado um exemplo:
Inserido no Mercosul e fazendo fronteiras com outros países latino-
americanos, ele também tem se integrado com estes países mediante fluxos
de população. Bolivianos, chilenos, peruanos e paraguaios têm imigrado
para o Brasil em grandes quantidades. Interessante é que tende a se
reproduzir aqui o que ocorre com os brasileiros que emigram para os países
mais avançados: geralmente eles se inserem no “espaço secundário do
mercado de trabalho”, em atividades periféricas não regulamentadas pela
legislação trabalhista (BRITO, 1995, p. 32).

Os fluxos migratórios para o Brasil têm se acentuado e se diversificado


bastante, mostrando que o “[...] país teve forte período de crescimento, atraindo mão
de obra e, por conseguinte, atraindo migrantes, porque esteve nesse período
comparativamente melhor que outras economias” (CÂMARA, 2014, p.69).
Segundo dados do IBGE, em 2010, o Brasil recebeu 268,5 mil imigrantes
internacionais, 86,7% a mais do que no ano de 2000, que foi de 143,6 mil
imigrantes. Vieram dos Estados Unidos 51,9 mil e do Japão 41,4 mil, sendo esses
os principais países de origem dos imigrantes. Do total de imigrantes internacionais,
174,6 mil eram brasileiros que estavam retornando, sendo que em 2000 esse
número foi de 87,9 mil imigrantes internacionais (BRASIL, 2017b).
De acordo com o relatório de 2016 do Comitê Nacional para Refugiados
(CONARE), as solicitações de refúgio cresceram 2.868% nos últimos cinco anos. Os
sírios foram a maior comunidade de reconhecidos no Brasil, seguidos pelos
angolanos, colombianos, congoleses e palestinos. 
O Estatuto do Estrangeiro foi criado em 1980, durante o regime militar, e
visava a segurança nacional, fazendo com que os imigrantes fossem vistos como
possíveis ameaças aos interesses do país (BRASIL, 2017c). Atualizado, em 2017
pela Lei 13.445 de 24 de maio (RIBEIRO, 2017), o Estatuto agora vê os imigrantes
numa boa perspectiva, focando nos direitos humanos. Ele possui novos princípios
sobre a não discriminação, combate à homofobia e igualdade de direitos, ou seja,
tanto os nacionais como os estrangeiros agora possuem tratamentos iguais
(BRASIL, 2017c).
De acordo com a diretora do Departamento de Migrações do Ministério de
Justiça e Segurança Pública:
Os haitianos são um bom exemplo: migraram para o Brasil porque foram
vítimas de desastres naturais ou então fazem a chamada migração
econômica, buscam vida melhor em outros países. Não tínhamos na
24

legislação anterior um visto específico para facilitar a migração dessas


pessoas. Foi feito à época para atender o povo haitiano, o visto
humanitário. E hoje ele está na nova lei. Então não é mais a exceção à
regra: está na lei e vai ser disciplinada (BRASIL, 2017c).

Nos últimos anos, os números de estrangeiros que procuram o Brasil vêm


aumentado gradativamente, tanto para vistos provisórios como para permanentes
(BRASIL, 2017c).
Figura 1 – Registro de estrangeiros que deram entrada no país.
2016 126,258

2015 117,341

2014 118,286

2013 107,621

2012 98,830

2011 74,805

2010 54,582

Fonte: Elaboração do autor com base em Portal Brasil, com informações do Ministério da Justiça e
Segurança Pública, Ministério das Relações Exteriores e Agência Brasil. (BRASIL, 2017c).

As migrações internacionais fizeram e ainda fazem parte do cenário


internacional, mesmo sendo de curta ou longa distância. Antigamente, elas tinham a
tendência de ser permanentes, porém com o passar dos anos, elas estão
começando a ser cada vez mais temporária (BRITO, 1995).
25

3 DIREITOS FUNDAMENTAIS, DIREITOS HUMANOS E DIREITOS


HUMANITÁRIOS.

Ao fim da Primeira Guerra Mundial, as potências ganhadoras tiveram a


ideia de criar uma organização com o intuído de manter a paz mundial através de
acordos, surgindo assim, a Liga das Nações. Porém, com o passar dos anos, a Liga
acabou enfraquecendo, suspendendo suas atividades no início da Segunda Guerra
Mundial (RAHAL, 2015).
Ao término da Segunda Guerra Mundial, após tantas violências e
atrocidades, a população sentiu a necessidade de justiça, visando a criação de
órgãos que tivessem o objetivo de evitar que tais acontecimentos ocorressem
novamente (RAHAL, 2015).
Os Direitos Fundamentais surgiram com a intuição de proteger o homem
do poder estatal. Ele pode ser a junção de várias fontes, e o termo Direitos
Fundamentais, faz com que ele se conecte com todas as demais espécies de direito.
Assim, ele pode ser conhecido também como direitos humanos, direitos subjetivos
públicos, direitos do homem, direitos individuais, liberdades fundamentais ou
liberdades públicas (IURCONVITE, 2007).
Já os Direitos Humanos, são normalmente entendidos como os direitos
inerentes ao ser humano. Sendo assim, cada ser humano pode desfrutar de seus
direitos, não importando seu sexo, cor, língua, raça, religião, política, entre outros.
Os Direitos Humanos são garantidos por lei e visam proteger as ações que
interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017b).
De acordo com Silva e Gonçalves (2010, p.63) “[...] essa ideia de
privilegiar o respeito aos direitos humanos nas Relações Internacionais foi logo
inscrita na Carta das Nações Unidas como principal objetivo da ONU”. De acordo
com a Organização das Nações Unidas (2017b) isso ocorreu principalmente após os
crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial, com o intuito de “promover e
encorajar o respeito aos direitos humanos”. Assim, chamando a atenção com a
proteção dos direitos humanos, sendo elaboradas novas constituições (SILVA E
GONÇALVES, 2010).
A guerra suscitou, portanto, o duplo movimento de universalização e
internacionalização da questão dos direitos humanos. Universalização, já
que todos os povos e todos os governos passaram a aceitar a defesa dos
26

direitos humanos como questão política central, refletida em todas as


constituições nacionais. Internacionalização, porque passou-se a aceitar
também que a defesa dos direitos humanos tem importante dimensão
internacional, na condição de objeto de negociações diplomáticas, de
instituições internacionais e do direito internacional. A declaração Universal
dos Direitos do Homem, que foi dada a público em 10 de dezembro de 1948
pela ONU, constitui a síntese desse duplo movimento (SILVA E
GONÇALVES, 2010, p.63).

Os Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais visam proteger a


pessoa humana, possuindo características importantes, como a universalidade,
fundamentabilidade, inalienabilidade, indivisibilidade, interdependência e inter-
relação. (OLIVEIRA; GOMES; SANTOS, 2015). Porém, mesmo possuindo
basicamente o mesmo conceito:
O principal ponto diferencial entre os direitos fundamentais e os direitos
humanos é a sua fonte: os direitos fundamentais são encontrados nos
textos constitucionais, enquanto os direitos humanos referem-se às
garantias fundamentais integrantes do Direito internacional. Em termos
gerais, os direitos humanos são os direitos da pessoa humana reconhecidos
pelas normas de Direito internacional em vigor (que podem assumir a forma
de normas convencionais, costumes ou princípios do Direito internacional)
(OLIVEIRA; GOMES; SANTOS, 2015, p.31).

Assim como os Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais visam


proteger a pessoa humana, o Direito Internacional Humanitário também possui esse
papel, porém sob óticas diferentes. Os Direitos Humanos e o Direito Internacional
Humanitário são complementares. Porém, o DIH, nas palavras de Barbosa (2011, p.
41):
É um conjunto de normas internacionais e convencionais, que visa a limitar
as consequências do conflito armado. De origem consuetudinária, foi
codificado em tratados desde 1864. Ele protege as pessoas que não (ou
não mais) participam das hostilidades e limita os meios de fazer a guerra e
os métodos utilizados.

Visando proteger a sociedade, através de suas leis, os Direitos Humanos


possuem vários métodos para conseguir oferecer sua proteção, tanto no âmbito
global, como no regional, ou seja, se no âmbito doméstico não houver a proteção do
direito, o internacional vem a intervir (HEYNS; PADILLA; ZWAAK, 2006).

3.1 SISTEMA GLOBAL E REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS

Com a universalização dos Direitos Humanos, os Estados passaram a se


conscientizar e se sujeitar mais ao controle da comunidade internacional, fazendo
27

com que houvesse uma maior preocupação sobre os Direitos Humanos e sua
implementação (PIOVESAN, 2013).
Existem várias características que são conectadas aos Direitos Humanos,
a universalidade é uma delas. Ou seja, os Direitos Humanos possuem uma
ampliação universal:
[...] uma vez que a condição de pessoa é o único requisito para a
titularidade de direitos. Todo ser humano é seu titular, independentemente
de fronteiras, onde quer que se encontrem. Já de acordo com a
Indivisibilidade, a garantia dos direitos civis e políticos é condição para se
observar os direitos sociais, econômicos e culturais, e vice versa. Significa
que, se um dos direitos humanos é violado, os demais também o serão,
pela existência de uma interdependência entre esses direitos (RAHAL,
2015).

Na Carta da ONU de 1945, está estabelecido que “[...] os Estados-partes


devem promover a proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Em
1948, a Declaração Universal vem a definir e fixar o elenco dos direitos e liberdades
fundamentais a serem garantidos” (PIOVESAN, 2013, p.239). Porém, a Declaração
Universal não possui força jurídica obrigatória, e foi nesse contexto que se viu
necessário um modo de fazê-la mais eficaz e de assegurar a todos os direitos nela
previstos, passando-a por um processo de “juridicização” sob a forma de um tratado
internacional (PIOVESAN, 2013).
Esse processo de “juridicização” da Declaração começou em 1949 e foi
concluído apenas em 1966, com a elaboração de dois tratados
internacionais distintos — o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais — que
passaram a incorporar os direitos constantes da Declaração Universal
(PIOVESAN, 2013, p.240).

Com a elaboração dos Pactos, foi formada a Carta Internacional dos


Direitos Humanos, onde foi adaptada pela Declaração Universal de 1948 e pelos
pactos internacionais de 1966. E foi na Carta onde se estabeleceu o Sistema Global
de proteção aos Direitos Humanos, onde:
[...] viria a ser ampliado com o advento de diversos tratados multilaterais de
direitos humanos, pertinentes a determinadas e específicas violações de
direitos, como o genocídio, a tortura, a discriminação racial, a discriminação
contra as mulheres, a violação dos direitos das crianças, entre outras
formas específicas de violação. Daí a adoção da Convenção para a
Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, da Convenção contra a
Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
formas de Discriminação Racial, da Convenção sobre a Eliminação de todas
as formas de Discriminação contra a Mulher, da Convenção sobre os
Direitos da Criança, entre outras (PIOVESAN, 2013, p. 240-241).
28

Assim, os tratados passaram a garantir o exercício dos direitos e


liberdades fundamentais aos seres humanos, onde o Estado é o ator principal nessa
responsabilidade seguido pela comunidade internacional (PIOVESAN, 2013). Nas
palavras de Bicudo (2003, p.225)
Os sistemas de promoção e proteção dos Direitos Humanos foram
instituídos à medida que os Estados dos continentes europeu, americano e
africano assumiam a relevância dos direitos humanos, como fundamento
para a construção e a sobrevivência de um Estado Democrático.

Não foi apenas o Sistema Global que surgiu da Carta Internacional, os


Sistemas Regionais de proteção aos Direitos Humanos vieram logo em seguida,
mostrando que “[...] no âmbito regional são múltiplos os atos internacionais que
buscam sedimentar o respeito aos direitos humanos” (GARCIA, 2005, p.31).
Assim, existem três Sistemas de Proteção Regional: Sistema Regional
Europeu, Interamericano e Africano. Mesmo possuindo suas diferenças, eles têm o
mesmo objetivo: o predomínio dos Direitos Humanos perante as regras
internacionais (BICUDO, 2003).
O Sistema Europeu surgiu relacionado à Segunda Guerra Mundial tendo
em vista as devastações causadas e os direitos violados. Assim, o Conselho da
Europa e a Convenção Europeia “[...] expressam a vontade de promover e defender
a liberdade e a democracia, vontade essa que permeia o Estatuto do Conselho da
Europa” (BICUDO, 2003, p. 227).
A compreensão do sistema europeu demanda que se enfatize o contexto no
qual ele emerge: um contexto de ruptura e de reconstrução dos direitos
humanos, caracterizado pela busca de integração e cooperação dos países
da Europa ocidental, bem como de consolidação, fortalecimento e expansão
de seus valores, dentre eles a proteção dos direitos humanos (PIOVESAN,
2006, p.63).

O Sistema Regional Europeu, entre os três sistemas, é o “[...] mais


consolidado e amadurecido, exercendo forte influência sobre os demais”
(PIOVESAN, 2006, p.63). Ele também se destaca dos demais sistemas por possuir
uma região semelhante e por ser o sistema que “[...] traduz a mais extraordinária
experiência de justicialização de Direitos Humanos, por meio da Corte Europeia”
(PIOVESAN, 2006, p.64).
A Convenção Europeia de Direitos Humanos foi adotada em 1951,
entrando em vigor em 1953 (PIOVESAN, 2006), com o objetivo de unificar a Europa.
Composta de três partes, a primeira trata sobre os Direitos e liberdades
29

fundamentais, principalmente civis e políticos; a segunda trata da Corte Europeia de


Direitos Humanos, sua regulamentação e funcionamento; já a terceira fala sobre
disposições diversas, como por exemplo Comitê de Ministros, requisições do
Secretário Geral do Conselho, entre outros (RAHAL, 2015).
Já a Corte Europeia de Direitos Humanos entrou em vigor em novembro
de 1998 e possui competência consultiva e contenciosa. Nas palavras de Piovesan
(2006, p.72), a Corte tinha o objetivo de “[...] substituir a Comissão e a Corte
Europeia – que atuavam e tempo parcial – por uma Corte Europeia de Direitos
Humanos permanente”.
O Sistema Regional Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos
surgiu no âmbito da OEA e teve como base o Sistema Europeu (BICUDO, 2003).
Nas palavras de Piovesan (2006, p.85), esse Sistema:
[...] trata-se de uma região marcada por elevado grau de exclusão e
desigualdade social, ao qual se somam democracias em fase de
consolidação. A região ainda convive com as reminiscências do legado dos
regimes autoritários ditatoriais, com uma cultura de violência e de
impunidade, com a baixa densidade de Estados de Direito e com a precária
tradição de respeito aos direitos humanos no âmbito doméstico.

Esse Sistema foi marcado por dois períodos, sendo o primeiro dos
regimes ditatoriais e o segundo da transição política dos regimes democráticos.
Esses regimes acabaram violando vários direitos e liberdades do ser humano
(PIOVESAN, 2006).
A Convenção Americana de Direitos Humanos foi adotada em 1969,
entrando em vigor no ano de 1978, aconteceu na cidade de São José, na Costa
Rica, possuindo a maior importância no Sistema Interamericano (PIOVESAN, 2006).
Essa Convenção “[...] dispôs sobre a existência de dois órgãos com competência
para conhecer assuntos relacionados ao seu cumprimento pelos Estados partes”
(GARCIA, 2005, p.82), esses órgãos, seriam a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos engloba todos os
Estados que fazem parte da Convenção Americana, sendo um “[...] órgão autônomo
da OEA, que tem como função principal promover a observância, a defesa e a
promoção dos Direitos Humanos e servir como órgão consultivo da OEA sobre a
matéria” (BICUDO, 2003, p.231).
30

Já a Corte Interamericana de Direitos Humanos, como a Corte Europeia,


possui a mesma competência, ou seja, as duas são consultivas e contenciosas. A
Corte é um “[...] órgão jurisdicional do sistema regional, é composta por sete juízes
nacionais de Estados membros da OEA, eleitos a título pelos Estados partes da
Convenção” (PIOVESAN, 2006, p.98).
Por último, sendo o mais recente dos sistemas, o Sistema Regional
Africano surgiu na década de 80. Nas palavras de Piovesan (2006, p.119),
A recente história do sistema regional africano revela, sobretudo, a
singularidade e a complexidade do continente africano, a luta pelo processo
de descolonização, pelo direito de autodeterminação dos povos e pelo
respeito às diversidades culturais. Revela, ainda, o desafio de enfrentar
graves e sistemáticas violações aos direitos humanos.

A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos foi criada em 1981,
porém só entrou em vigor no ano de 1986. Foi adotada pela Organização da
Unidade Africana (OUA), possuindo aprovação dos 53 Estados africanos
(PIOVESAN, 2006). A Carta “[...] constitui um aporte importante ao desenvolvimento
do direito regional africano e cobre uma lacuna essencial em matéria de direitos
humanos” (BICUDO, 2003, p. 232).
Além de garantir os direitos e deveres, a Carta Africana também possui
medidas salvaguardas para esses direitos e deveres. Sendo assim, no seu artigo 30,
foi criada a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (PIOVESAN,
2006). Nas palavras de Bicudo (2003, p. 232), a Comissão:
Trata-se de um órgão técnico independente, composto por catorze membros
escolhidos por suas qualidades pessoais, encarregado da promoção e da
proteção dos direitos do homem. Para esse efeito, a Comissão pode ser
solicitada pelas faltas de um Estado às disposições convencionais,
provocada por outro Estado ou por particulares.

Diferente dos outros Sistemas Regionais, a Carta Africana não


estabeleceu inicialmente uma Corte, “[...] mas tão-somente a Comissão Africana,
sem o poder de adotar decisões juridicamente vinculantes” (PIOVESAN, 2006, p.
128). Assim, a Comissão Africana passou a ser incentivada por ONG’s para apoiar a
criação de uma Corte que pudesse melhorar as suas funções. Seu protocolo foi
criado em 1998, entrando em vigor em 2004 (PIOVESAN, 2006). De acordo com
Bicudo (2003, p. 233):
O protocolo adotado em Ovagadongou, em 9 de junho de 1998, já em vigor,
trata da criação de uma Corte Africana dos Direitos do Homem e dos Povos,
cuja intervenção pode ser solicitada pelos indivíduos e pelas organizações
não-governamentais, sob a reserva da aceitação prévia de sua competência
31

pelo Estado-parte. A decisão da corte é revestida da autoridade de coisa


julgada definitiva (art. 30 do Protocolo sobre a criação de um Tribunal
Africano dos Direitos do Homem e dos Povos); o acompanhamento de sua
execução é confiado ao Comitê de Ministros da Organização da União
Africana (art. 29, n. 2, do mesmo Protocolo).

Assim, nota-se a eficiência e os objetivos que os três sistemas possuem


em comum, mesmo sendo criados em datas diferentes, não se trata em observar
qual deles é o mais eficiente, e sim, na intenção que cada um possui com os Direitos
Humanos e sua proteção (BICUDO, 2003).
32

4 DIREITO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E


PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS

O significado da expressão Direito Internacional, nas palavras de Silva e


Gonçalves (2010, p. 57) “[...] reflete um conjunto de regras consideradas obrigatórias
não apenas para os Estados mas também para os demais atores internacionais”.
O Direito Internacional possui duas vertentes, a pública e a privada. No
Direito Internacional Público (DIP), ocorre a regularização das relações entre os
Estados (SILVA E GONÇALVES, 2010). Ou seja,
Em todas as definições do DIP, está presente o Estado, como o principal
membro da sociedade internacional e o primeiro sujeito do direito
internacional público. Dispondo, durante um longo período, da quase
exclusividade deste direito, uma das principais características dos Estados é
sua existência como poder supremo. Não se trata, porém, de um poder
incondicional, pois vê-se limitado pelos compromissos internacionais e pelas
regras do direito internacional (SEITENFUS; VENTURA, 2006, p.29).

Porém, no DIP, não só apenas os Estados que são os únicos atores, mas
também os organismos intergovernamentais e os indivíduos e atores não estatais,
como Organizações Não Governamentais (ONG’s) e corporações multinacionais. Já
o Direito Internacional Privado, lida com resoluções de conflitos entre legislações
domésticas, onde cada Estado possui sua norma (SILVA E GONÇALVES, 2010).
De acordo com a Organização das Nações Unidas (2017c):
O direito internacional define as responsabilidades legais dos Estados em
sua conduta uns com os outros, e o tratamento dos indivíduos dentro das
fronteiras do Estado. Seu domínio abrange uma ampla gama de questões
de interesse internacional como os direitos humanos, o desarmamento, a
criminalidade internacional, os refugiados, a migração, problemas de
nacionalidade, o tratamento dos prisioneiros, o uso da força e a conduta de
guerra, entre outros. Ele também regula os bens comuns globais, como o
meio ambiente, o desenvolvimento sustentável, as águas internacionais, o
espaço sideral, as comunicações e o comércio mundial.

Ou seja, o Direito Internacional possui regras e princípios para a boa


conduta e convivência dos Estados, criando bases de organização da sociedade
internacional (SEITENFUS; VENTURA, 2006). Sendo assim, podemos definir, nas
palavras de Silva e Gonçalves (2010, p.178) que uma Organização Internacional
(OI) é um “[...] arranjo institucional formal do qual fazem parte membros ou atores
internacionais, com vistas à coordenação ou cooperação em uma ou mais áreas de
interesse comum”. Ou, nas palavras de Seitenfus e Ventura (2006, p. 91), podem ser
“associações voluntárias de Estados, constituídas através de um tratado, com a
33

finalidade de buscar interesses comuns por intermédio de uma permanente


cooperação entre seus membros”.
Uma OI pode ter caráter privado e público. No privado temos a
transnacionais ou Organização não governamentais, como por exemplo: Anistia
Internacional e Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Já no caráter público,
possuímos as intergovernamentais, Organização do Tratado do Atlântico Norte
(regional) ou ONU (global) ou transgovernamentais, como por exemplo, Organização
Mundial da Saúde (SILVA E GONÇALVES, 2010).
As três principais características das Organizações Internacionais são:
multilateralidade (regionalismo ou universalismo), permanência (objetivo de durar
indefinidamente) e institucionalização (previsibilidade, soberania e órgão
supranacional) (SEITENFUS; VENTURA, 2006).
E assim, graças as Organizações Internacionais, são criadas agências
com o intuito de proteger a população. Podemos dar como exemplo, a proteção dos
refugiados.
Os refugiados encontram proteção à luz do direito internacional.  Da
condição de refugiado decorrem violações de direitos humanos básicos que
se encontram consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem
de 1948. A todos é assegurado, com base na Declaração de 1948, o direito
fundamental de não sofrer perseguição por motivos de raça, religião,
nacionalidade, participação em determinado grupo social ou opiniões
políticas (SOARES, 2011).

A Agência das Nações Unidas para Refugiados (2017b), como um órgão


da ONU focado para a proteção dos refugiados, mesmo não sendo uma organização
supranacional, ou seja, não podendo substituir o poder e proteção dos países,
afirma que:
A maioria das pessoas pode confiar nos seus governos para garantir e
proteger os seus direitos humanos básicos e a sua segurança física. Mas,
no caso dos refugiados, o país de origem demonstrou ser incapaz de
garantir tais direitos. Ao ACNUR é atribuído o mandato de assegurar que
qualquer pessoa, em caso de necessidade, possa exercer o direito de
buscar e obter refúgio em outro país e, caso deseje, regressar ao seu país
de origem. 

Assim, os refugiados se veem na necessidade de procurar asilo em


outros países, onde assim, possuíram maior proteção. Nos “direitos garantidos à
pessoa do refugiado faz-se necessário destacar o direito fundamental de não ser
devolvido ao país em que sua vida ou liberdade esteja sendo ameaçada” (SOARES,
2011).
34

4.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

A ONU é um Organismo Internacional que surgiu após a grande


devastação criada pela Segunda Guerra Mundial, onde os países se reuniram
voluntariamente com a necessidade de criar um órgão que promovesse a paz e a
cooperação mundial (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017d). Visto que
sua sucessora, a Liga das Nações, criada na Primeira Guerra Mundial, funcionou de
1920 até 1946, porém parou seus trabalhos oficialmente em 1939 com o início da
Segunda Guerra Mundial, onde acabou falindo e seus bens foram passados para a
ONU (PEREIRA, 2007).
Buscando soluções para esse problema, os Estados se reuniram várias
vezes para negociações: o primeiro encontro aconteceu em outubro de 1943 na
cidade de Moscou. Neste encontro elaboraram as bases de sua constituição. A
segunda rodada de negociações, aconteceu em dezembro de 1943 no Teerã (Irã).
Já a terceira rodada aconteceu em outubro de 1944 na cidade de Washington onde
houve um grande avanço nas negociações. A quarta e última rodada aconteceu
entre o período de 25 de abril a 26 de junho de 1945 na cidade de San Francisco,
Califórnia. Com a assinatura de 51 Estados-membros, passou a entrar em vigor a
ONU (PEREIRA, 2007).
Assim, dia 24 de outubro de 1945 foi fundada oficialmente a ONU, onde
possui sua estrutura central em Nova York, possuindo sedes também em Genebra,
Viena, Nairóbi, Addis Abeba, Bangcoc, Beirute e Santiago. Por ser uma grande
organização e possuir países membros de todo o canto do planeta, ficou definido na
carta da ONU, que para o melhor funcionamento da organização, as línguas oficiais
seriam: inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2017d).
A Organização das Nações Unidas possui como propósito:
Manter a paz e a segurança internacional; fomentar as relações amistosas
entre as nações baseadas no respeito e na igualdade de direitos e
autodeterminação dos povos; cooperar na resolução dos problemas
internacionais de caráter econômico, cultural ou humanitário e estimular o
respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais (ARAÚJO,
2002, p. 28-29).
35

Para poder atender todas as necessidades e mandatos, de acordo com a


carta da ONU, foram criados seis órgãos principais: Assembleia Geral, Conselho de
Segurança, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela, Corte Internacional
de Justiça e o Secretariado (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017d).
Atualmente a ONU possui 193 países membros, sendo 51 o total de
países membros fundadores, dentre eles o Brasil, que possui representação fixa
desde 1947, e os que ingressaram depois são os membros admitidos (PEREIRA,
2007). Nas palavras de Araújo (2002, p.29):
Os membros admitidos serão todos os Estados amantes da Paz que
aceitarem as obrigações contidas na Carta e que, a juízo da organização,
estiverem aptos e dispostos a cumprir deveres e obrigações estatuárias, se
sua admissão for aprovada pelo voto favorável de dois terços dos membros
presentes e votantes da Assembleia Geral.

Sendo o principal órgão deliberativo, a Assembleia Geral da ONU é


composta de 193 Estados-membros onde cada membro tem o direito a um voto. O
presidente possui um mandato de dois anos e é escolhido pelos países signatários,
sendo que seu cargo pode ser comparado ao de Chefe de Governo dos Estados-
membros (PEREIRA, 2007).
A Assembleia Geral possui alguns assuntos em pauta como promover a
“[...] paz e segurança, aprovação de novos membros, questões de orçamento,
desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, direitos humanos,
entre outros” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017e).
O Conselho de Segurança é o “[...] órgão fundamental para o
desempenho da principal atividade da ONU, por ser o repositório da crença da
sociedade internacional na consolidação do processo de paz” (PEREIRA, 2007,
p.132). Ele é composto de 15 membros, sendo 5 permanentes (Estados Unidos da
América, Rússia, França, Grã-Bretanha e China), já os demais membros são
escolhidos por voto através da Assembleia Geral (ARAÚJO, 2002).
O Conselho de Segurança possui funções como: “manter a paz e a
segurança internacionais; Recomendar métodos de diálogo entre os países;
Elaborar planos de regulamentação de armamentos; Determinar se existe uma
ameaça para a paz, entre outros” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017e).
É o único órgão que possui poder decisório, ou seja, todos os outros Estados-
membros devem aceitar e cumprir suas decisões (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2017e).
36

O Conselho Econômico e Social é composto de 54 membros, mediante


votação da Assembleia Geral. Ele tem como objetivo:
Criar as condições de estabilidade e bem-estar que se fazem necessárias
para as relações pacíficas entre as nações, baseadas no respeito ao dogma
da igualdade de direitos e a livre determinação dos povos. Suas funções
englobam, pois, os assuntos de caráter econômico, social, cultural,
sanitário, bem como os que digam respeito a observância dos direitos do
homem, tendo em vista assegurar o bem-estar dos indivíduos e o respeito
às liberdades fundamentais para todos (ARAÚJO, 2002, p.41).

De acordo com a Organização das Nações Unidas (2017e) o Conselho de


tutela tem como principais metas “[...]promover o progresso dos habitantes dos
territórios e desenvolver condições para a progressiva independência e
estabelecimento de um governo próprio”.
O Secretariado é o órgão administrativo da ONU. Ele possui um
Secretário Geral, nomeado pela Assembleia, porém recomendado pelo Conselho de
Segurança. Sua principal função é servir de intermediário entre a ONU e os diversos
Estados-membros quando houver acontecimentos que possam romper a paz no
sistema internacional, sendo imparcial no resolver desses problemas (ARAÚJO,
2002).
A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judiciário da ONU.
“[...] todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte – que é parte da Carta
das Nações Unidas – podem recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos,
podem pedir pareceres à Corte Internacional de Justiça” (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2017e). Se ao invés dos países solucionarem seus conflitos
através de guerras, eles recorressem ao Tribunal Internacional, possuiríamos um
pouco mais de paz no mundo (ARAÚJO, 2002).
Com relação aos Estados não membros, a ONU também ajuda e acolhe
os que a procuram, ou seja, os Estados não membros
Têm também seus direitos e obrigações previstas no estatuto e, assim,
podem apresentar ao exame da Assembleia Geral quaisquer questões
relativas à manutenção da paz e da segurança internacional ou ser
convidado a participar, sem direito de voto, das reuniões do Conselho de
Segurança quando seja parte interessada numa divergência, desde que
previamente aceite, no que diz respeito a essas divergências, as obrigações
de solução pacífica estabelecidas na Carta (ARAÚJO, 2002, p.53).

Devido as grandes atividades que a ONU exerce e abrange, é necessário


a criação e cooperação de vários organismos através de acordos
intergovernamentais e a ela vinculados, que tenham o intuito de melhorar as
37

condições tanto sociais, como culturais, econômicas, sanitárias e educacionais dos


Estados. Para isso, a ONU possui seus Organismos especializados (ARAÚJO,
2002).
Atualmente a ONU têm 26 programas, fundos e agências associados de
várias formas, possuindo seus próprios orçamentos e regras, onde cada organismo
possui sua área de atuação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017f).

4.1.1 Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

Criada no dia 14 de dezembro de 1950 pela Assembleia Geral da ONU, o


Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, também conhecido como
Agência das Nações Unidas para Refugiados, visa proteger e dar assistência a
vítimas de perseguição, violência e discriminação. Sua importância veio se tornando
gradativamente notável ao ponto de atualmente ser uma das principais agências
humanitárias no mundo, ganhando duas vezes o prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981)
(AGÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS, 2017c).
O ACNUR deu início a suas atividades em 1951, possuindo um mandato
de determinado tempo para ajudar os refugiados após a Segunda Guerra Mundial,
porém:
[...] após sucessivas crises humanitárias nas décadas seguintes, percebeu-
se a necessidade de ampliar o mandato da organização e expandir seu
escopo de atuação, para não mais se limitar à Europa e às pessoas
afetadas pela Segunda Guerra Mundial. Hoje, cerca de 63,9 milhões de
pessoas estão sob seu mandato, entre elas solicitantes de asilo, refugiados,
apátridas, deslocados internos e retornados (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2017g).

Assim, nas palavras da Agência das Nações Unidas para Refugiados


(2017c), essa agência passou a ser considerada “[...] como organização
humanitária, apolítica e social, [...] tem dois objetivos básicos: proteger homens,
mulheres e crianças refugiadas e buscar soluções duradouras para que possam
reconstruir suas vidas em um ambiente normal”.
No Estatuto do ACNUR (1951) está enfatizado seu caráter humanitário,
definindo como aptidão da agência auxiliar e dar assistência a qualquer ser humano
que esteja fora de seu país de origem e não pode ou não consegue voltar ao mesmo
devido motivos de perseguição a sua religião, raça, nacionalidade, opinião política,
entre outros fatores. Mais tarde, “[...] definições mais amplas do termo refugiado
38

passaram a considerar quem teve que deixar seu país devido a conflitos armados,
violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos” (AGÊNCIA DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS, 2017c).
O ACNUR conta com o suporte de várias outras Organizações
Internacionais. No Brasil existe um órgão multiministerial o qual se chama Comitê
Nacional para os Refugiados, onde “[...] a Agência da ONU para Refugiados se
relaciona com diferentes instâncias do Governo Federal, contribuindo para a
formulação das políticas sobre refúgio e das normas” (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2017g).
39

5 A PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL

O Brasil faz parte da Convenção Internacional sobre o Estatuto dos


Refugiados de 1951, do Protocolo de 1967 e também é integrante do Comitê
Executivo da ACNUR desde 1958. Sua política em relação ao acolhimento de
refugiados evoluiu com o passar dos anos, principalmente após a promulgação do
Estatuto do Refugiado (BRASIL, 2017d).
Essa lei instituiu as normas aplicáveis aos refugiados e aos solicitantes de
refúgio no Brasil e criou o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) –
órgão responsável por analisar os pedidos e declarar o reconhecimento, em
primeira instância, da condição de refugiado, bem como por orientar e
coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção, assistência e apoio
jurídico aos refugiados. A lei brasileira é reconhecida como uma das mais
avançadas sobre o assunto, tendo servido de modelo para países da região
(BRASIL, 2017d).

Em 2010 alguns países latino-americanos se reuniram em Brasília para o


Encontro Internacional sobre Proteção de Refugiados, Apátridas e Movimentos
Migratórios Mistos nas Américas, onde nele ocorreu a criação da Declaração de
Brasília sobre a Proteção de Pessoas Refugiadas e Apátridas nas Américas. Essa
declaração tinha como objetivo representar os compromissos dos países com a
proteção dos refugiados e apátridas e suas legislações perante esse assunto
(AGÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS, 2014). A Declaração
ainda teve como objetivo destacar:
A importância de novas alternativas para a migração regular e de
mecanismos de proteção humanitária complementar para que os países
possam lidar com as novas necessidades de proteção dos migrantes e
vítimas de tráfico, além de assegurar a proteção de refugiados no contexto
dos fluxos migratórios mistos (AGÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
REFUGIADOS, 2014).

O Brasil é um país que concede abrigo e proteção para pessoas


perseguidas tanto por motivos raciais, sociais, políticos e por desastres naturais.
Sendo assim “o instituto jurídico do refúgio no Brasil é regulado pela Lei 9.474/1997
que define os mecanismos para implementação do Estatuto dos Refugiados no
Brasil” (SOARES, 2011).
Catástrofes humanas decorrentes de terremotos, tsunamis, secas,
inundações e outros fenômenos alheios à atividade humana, não são
consideradas formalmente violações graves de direitos humanos embora
causem crise social e econômica generalizadas.  Tais situações nem
sempre resultam em migração em massa, mas há potencialmente
condições para que tal fato ocorra (WAISBERG, 2015).
40

Analisando a citação acima, podemos confirmar que esse foi o caso dos
refugiados haitianos. Devido ao seu terremoto em 2010, o Haiti ficou totalmente
devastado, fazendo com que sua população saísse do país em busca de uma
melhor condição de vida. Assim, os haitianos começaram a chegar em grande fluxo,
iniciando pelo Acre (WAISBERG, 2015).
O Governo brasileiro não possuía poderes para conceder o refúgio aos
haitianos, adotando assim “[...] uma política pontual, sem recorrer ao Estatuto dos
Refugiados, recorreu ao Estatuto dos Estrangeiros, promovendo uma série de
resoluções normativas que regulamentam a situação dos haitianos de maneira
provisória” (WAISBERG, 2015).

5.1 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO HAITI

Para compreendermos melhor os motivos que levaram os haitianos a


migrarem para o Brasil, precisamos voltar um pouco e conhecer seu país e sua
história.
O Haiti é um país caribenho localizado na porção oeste da ilha de
Hispaniola (São Domingos), na América Central. Sua capital é Porto Príncipe e faz
fronteira com a República Dominicana (FRANCISCO, 2017). Devido ao abandono da
parte oeste pelos espanhóis, os franceses acabaram tomando conta, assim, a ilha
de São Domingos passou a ser dividida entre espanhóis e franceses (GRONDIN,
1985). Por possuir colonização francesa, os idiomas oficiais são o francês e o crioulo
(FRANCISCO, 2017).
Figura 2 – Mapa da República do Haiti.
41

Fonte: Nations Online Project (2017).

Descoberta por Cristóvão Colombo em 1492, a Ilha Hispaniola “[...] em


menos de 200 anos, converteu-se de terra de piratas a uma das mais lucrativas
colônias do Novo Mundo, chamada de Saint Domingue, com sua produção de cana-
de-açúcar cultivada por mão-de-obra escrava e administrada pela França”
(KAMINSKI, 2011, p.64).
Por volta do século XVIII os escravos aproveitaram a Revolução Francesa
e decidiram ir a Paris confrontar os Franceses, pedindo que seus direitos fossem
iguais aos dos brancos, conforme a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789 (LASSANCE, 2010). No entanto a França recusou o pedido,
gerando uma grande rebelião por parte dos escravos e se transformando numa
guerra civil. Durante esse período, liderando a revolta, estava um ex escravo
chamado Toussaint L’Ouverture, que conseguiu a abolição da escravatura desde
que continuassem ligados a federação francesa (KAMINSKI, 2011).
Ao ver que São Domingos se encontrava numa área livre de escravos,
Napoleão Bonaparte se viu na necessidade de conquistar o país e voltar com a
escravidão. Assim, enviou cerca de 25 mil soldados, no comando de seu cunhado
(LASSANCE, 2010).
Mas, ao contrário de suas expectativas, defrontou-se com uma guerra sem
tréguas. Toussaint reuniu as forças disponíveis e foi à luta. Nesta se
destacou principalmente Dessalines. Ex-escravo, analfabeto, revelou
42

maestria de grande chefe militar. Não só maestria, como ferocidade. Diante


da decisão do comandante francês Rochambeau de executar quinhentos
negros, mandando enterrá-los num grande buraco, enquanto esperavam a
execução, Dessalines não vacilou e enforcou quinhentos brancos
(GORENDER, 2004, p.299).

Leclerc, cunhado de Napoleão, inicialmente obteve grande êxito,


aprisionando inclusive, Toussaint. Porém, mesmo com o afastamento de seu
Toussaint, Leclerc não conseguiu sua tão esperada vitória. “Além das perdas em
combate, seu exército sofria baixas numerosas em consequência de doenças
tropicais e, principalmente, da febre amarela. A metrópole francesa se viu obrigada a
enviar um total de 34 mil soldados e, apesar disso, perdeu a colônia” (GORENDER,
2004, p.300).
Napoleão passou a se importar mais com a guerra com a Inglaterra,
deixando a colônia de lado. Em 1804, o líder da revolução, Jean Jacques
Dessalines, proclamou a independência mudando o nome do país para Haiti, sendo
considerado a primeira república negra do mundo. Mesmo com o país abalado, sua
população jurou lutar até o fim ao invés de cair nos braços da França novamente.
“Dessalines promulgou-se imperador, e após seu assassinato seguiu-se uma
sucessão de presidentes e imperadores atrapalhados, déspotas e corruptos, com
mandatos frequentemente entrecortados por guerras civis e atentados políticos”
(KAMINSKI, 2011, p.65). Nas palavras de Grondin (1985, p.40) “desde as lutas pela
independência, sucederam-se no Haiti mais de 30 chefes de Estado, alternando-se,
com uma quase completa regularidade, os representantes de cada setor”.
Após tantos problemas que o Haiti passou, em 1915 ele foi ocupado pelos
norte-americanos, controlando o país até o ano de 1941. Essa ocupação ocorreu
devido a corrupção que estava acontecendo no governo haitiano e que causaria
uma ameaça ao interesse dos Estados Unidos com o Caribe, principalmente com o
canal do Panamá (KAMINSKI, 2011).
Depois de alguns anos vivendo um caos político, em 1957 um médico
chamado de François Duvalier, mais conhecido como “Papa Doc”, se tornou mais
um dos ditadores que já haviam passado pelo Haiti. No momento em que alcançou o
poder desejado, o médico virou um monstro.
Papa Doc reduziu os efetivos do Exército e criou uma força paramilitar, os
Tonton Macoutes (bicho papão no idioma creole), bandidos que matavam
arbitrariamente e tinham autorização presidencial para saquear as vítimas.
Duvalier também proscreveu os partidos políticos, menos o seu. Em 1964
declarou-se "presidente vitalício", um título ao qual somou os de "renovador
43

da pátria" e "apóstolo da paz" (Papa Doc inicia reinado de terror no Haiti, em


1957, e o filho Baby aprofunda o horror, 2017, destaque do autor).

Duvalier permaneceu no poder até o ano de 1971, quando veio a falecer,


passando o poder para seu filho, Jean-Claude Duvalier, chamado de “Baby Doc”,
que continuou a propagar a onda de horrores que o pai havia fazendo. Porém, a
ditadura de Jean-Claude passou a não ser mais aturada e assim ele foi forçado a
deixar seu poder em 1986 e foi se refugiar na França, sendo mais tarde julgado
pelos seus crimes. Apenas no ano de 1991 que aconteceu o primeiro voto direto em
que foi proclamado como presidente um haitiano (KAMINSKI, 2011).
Entre vários problemas que vieram com o passar dos anos no Haiti, a
política não é apenas um deles. No ano de 2010 aconteceu uma catástrofe natural
no Haiti. Um terremoto de magnitude 7.0 na escala Richter atingiu o país devastando
grande parte dele, provocando mortes, feridos e desabamentos. O país ainda sofreu
mais dois terremotos de magnitude 5.9 e 5.5 e no ano de 2016 foi atingido pelo
furacão Matthew (FRANCISCO, 2017).
De acordo com o site do Itamaraty (BRASIL, 2017e):
A convite das Nações Unidas, desde 2004 o Brasil exerce o comando militar
da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH).
Trata-se da missão mais latino-americana da história da ONU, contando
com a participação de 13 países dessa região. [...] Desde a chegada da
MINUSTAH ao Haiti, o país realizou três eleições presidenciais
democráticas e contou com o apoio da Missão para superar a fase crítica de
emergência humanitária pós-terremoto de 2010 e pós-furacão de 2016.

Figura 3 – Fotos mostram difícil reconstrução do Haiti 5 anos depois do terremoto.


44

Fonte: Fotos mostram difícil reconstrução do Haiti 5 anos depois do terremoto (2015).

O Haiti vem tentando se reerguer desde o terremoto de 2010, inclusive


com a ajuda das tropas da ONU, porém mesmo assim, há uma grande dificuldade
nisso. Devido a esse fator, entre muitos outros, milhares de haitianos estão
buscando uma vida nova em outros países, muitos deles buscam trabalhos aqui com
o intuito de ajudar seus parentes que permaneceram lá. O Brasil é um dos seus
principais destinos (GOMBATA, 2014).

5.2 A POLÍTICA BRASILEIRA PARA OS REFUGIADOS

Um Estado pode aderir ao refúgio em sua estrutura de duas maneiras. A


primeira viria da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e a segunda
viria através da adoção da sua própria lei (REZENDE; AOKI, 2014). Sendo
signatário dos principais tratados sobre Direitos Humanos, o Brasil faz parte
da Convenção Internacional sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e do
Protocolo de 1967 (BRASIL, 2017d).
No que diz respeito sobre a Lei brasileira para refugiados, no ano de
1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso colaborou com a parte de Direitos
Humanos no país. Ele enviou ao Congresso um projeto de Lei sobre refugiados.
45

Após aceito pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, esse projeto virou
a Lei 9.474 de 22 de julho de 1997. Essa Lei foi a primeira na América Latina
dedicada a refugiados (ANDRADE; MARCOLINI, 2002).
A política brasileira para o acolhimento de refugiados avançou
significativamente nas últimas duas décadas, especialmente após a
promulgação do Estatuto do Refugiado (Lei nº 9.474, de 22 de julho de
1997). Essa lei instituiu as normas aplicáveis aos refugiados e aos
solicitantes de refúgio no Brasil e criou o Comitê Nacional para os
Refugiados (CONARE) (BRASIL, 2017d).

De acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (2017d),


“em maio de 2002, o país ratificou a Convenção das Nações Unidas de 1954 sobre o
Estatuto dos Apátridas e, em outubro de 2007, iniciou seu processo de adesão à
Convenção da ONU de 1961 para Redução dos Casos de Apatridia”.
No caso do Brasil, a Constituição Federal de 1988 declara em seu artigo 4º
que o país rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da
“prevalência dos direitos humanos e da concessão do asilo político”. Isto faz
com que a proteção de refugiados seja parte inegável das políticas de
Estado do Brasil, garantindo a proteção de quem tem fundado temor de
perseguição com o mais alto nível de sua normativa interna: a Constituição
da República (GONZÁLEZ, 2010, p.51).

O ACNUR foi um dos responsáveis pela implementação do Estatuto do


Refugiado no Brasil. Ele fazia as entrevistas dos refugiados, solicitando ao governo
o reconhecimento deles, assim o governo possuía o papel de liberar a
documentação. Porém, após toda a legalização, cada refugiado deveria se virar
sozinho. Assim, um tempo depois foi criado o Comitê Nacional para os refugiados,
mais conhecido como CONARE (REZENDE; AOKI, 2014).
O CONARE tem como intuito “analisar os pedidos e declarar o
reconhecimento, em primeira instância, da condição de refugiado, bem como por
orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção, assistência e
apoio jurídico aos refugiados” (BRASIL, 2017d). Ainda em relação ao CONARE, este
órgão é
[...] presidido pelo Ministério da Justiça e integrado pelo Itamaraty (que
exerce a Vice-Presidência), pelos Ministérios da Saúde, Educação e
Trabalho e Emprego, pela Polícia Federal e por organizações não-
governamentais dedicadas a atividades de assistência: o Instituto Migrações
e Direitos Humanos (IMDH) e as Cáritas Arquidiocesanas de Rio de Janeiro
e São Paulo. O ACNUR também participa das reuniões do órgão, porém
sem direito a voto (BRASIL, 2017d).

Mesmo possuindo dificuldades econômicas, o Brasil tenta oferecer


oportunidades e ajuda aos que precisam e desejam aqui permanecer. As etapas que
46

um refugiado passa após ser reconhecido são explicadas nas palavras de Andrade e
Marcolini:
Uma vez reconhecida a condição jurídica de refugiado no Brasil, a pessoa
recebe uma carteira de identidade, emitida pela Polícia Federal, tem direito
à assistência médica pública, e está autorizado a estudar e a trabalhar.
Graças às estratégias desenvolvidas para integrar os refugiados na
sociedade local, a maioria deles beneficia-se de programas sociais públicos
e privados. Com base numa análise caso-a-caso, o refugiado pode receber
ajuda financeira, concedida pelo Acnur, por um período de tempo
determinado. Esta ajuda, equivalente a um salário mínimo, é distribuída
pelas Cáritas Arquidiocesanas do Rio de Janeiro e de São Paulo (2002, p.
172).

O Estatuto do estrangeiro de 1980 não estava atendendo completamente


as necessidades de refugiados no país, pois ele focava mais na segurança nacional
(BRASIL, 2017c). Assim, atualizado pela Lei 13.445 de 24 de maio de 2017
(RIBEIRO, 2017), ele prevê melhorias no que diz respeito aos direitos humanos e a
xenofobia. “A acolhida humanitária é um visto temporário específico para aqueles
que precisam sair dos países de origem, mas não são considerados refugiados [...]
Além disso, a nova lei disciplina o reconhecimento da apatridia e tipifica o crime de
contrabando de pessoas” (BRASIL, 2017c).
Nota-se que a legislação brasileira preocupou-se em assegurar os direitos
humanos dos refugiados, aprimorando com o passar dos anos suas leis e possuindo
uma forte ajuda de organizações como o ACNUR e o CONARE, garantindo um
melhor estabelecimento desses refugiados.

5.2.1 Os haitianos como refugiados ambientais

Dentre os diferentes tipos de refugiados que existem, os haitianos se


encaixam no quesito ambiental. “Os desastres ambientais estão afetando de forma
assustadora milhares de indivíduos em todo globo, dando origem aos refugiados
ambientais, que estão sendo muitas vezes obrigados a deixar seus lares de forma
permanente ou temporária” (SILVA, O. 2013).
Não são poucas pessoas no mundo que sofrem com esse tipo de
desastre ambiental. De acordo com dados da ONU, no ano de 2009 cerca de 50
milhões de pessoas deixaram seu habitat devido a catástrofes naturais. A própria
ONU ainda estima que no ano de 2050 esse número passará a ser entre 250
milhões e 1 bilhão (NUNES, 2011).
47

Essas catástrofes ambientais, como é o caso do terremoto em 2010 no


Haiti, não chegam a ser uma violação dos direitos humanos, porém causam crises
no Estado e muitas vezes podem resultar em migrações em massa. Mesmo não
possuindo fronteira com o Brasil, esse foi o país em que os haitianos decidiram
migrar. (WAISBERG, 2015).
De acordo com os Direitos Humanos, o Brasil não pode negar ajuda aos
refugiados ambientais haitianos mesmo que tenham entrado no país ilegalmente. O
governo “[...] deve proporcionar a eles direitos essenciais a qualquer cidadão como:
saúde, moradia, trabalho, educação que são direitos humanos universais” (SILVA,
O. 2013).
O caso dos refugiados ambientais, neste sentido, demanda a aplicação do
Estatuto dos Refugiados, não se enquadrando a hipótese de asilo, e
tampouco da sistemática do Estatuto dos Estrangeiros que promove a
proteção do trabalhador nacional como princípio informador. Todavia, o
governo brasileiro, objetivando evitar a imigração em massa de haitianos,
optou por uma interpretação extensiva do Estatuto dos Estrangeiros,
utilizando-se da autorização legal para adoção de resoluções normativas
para regulamentar os casos em que é admitida a imigração dirigida, em
combinação com as regras aplicáveis à concessão de visto permanente
(WAISBERG, 2015).

Assim, torna-se necessário que o governo englobe proteção também aos


refugiados por causas ambientais, como também a todos os outros tipos, pois seria
uma violação dos Direitos Humanos recusar ajuda a qualquer ser humano que
esteja passando por dificuldades em seu país.

5.3 A ATUAL REALIDADE DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL

Dados atuais mostram que uma grande massa de refugiados se


registraram na Polícia Federal durante os anos de 2012-2016, possuindo um total de
73.077 de haitianos. De acordo com dados da Polícia Federal ao Conselho Nacional
de Imigração (CNIg) “[...] a base para registro foi: 55,08% com Visto Humanitário
emitido pelo Ministério das Relações Exteriores (Embaixadas e Consulados);
40.51% com base na decisão conjunta do CNIg e CONARE, [...], e 4.41% com base
em outras diversas situações”. Sendo que a grande maioria foi registrada nos
estados de São Paulo (28,85%), Santa Catarina (21,07%) e Paraná (16,36%)
(INSTITUTO MIGRAÇÕES E DIREITOS HUMANOS, 2016).
48

Figura 4 - Haitianos que se registraram na Polícia Federal.

2016 42,026

2015 14,492

2014 10,677

2013 5,604

2012 4,278

0 5,000 10,000 15,000 20,000 25,000 30,000 35,000 40,000 45,000


Fonte: Elaboração do autor com base em Instituto Migrações e Direitos Humanos: dados
fornecidos pela Polícia Federal ao CNIg (2016).

O Ministério do Trabalho junto com o Departamento de Migrações do


Ministério da Justiça anunciou que o prazo para vistos permanentes de haitianos no
Brasil foi prorrogado até maio de 2017, devido às dificuldades que alguns servidores
públicos estão passando para conseguir informações de imigrantes que moram em
municípios de difícil entrada de serviços públicos. Pois “dos 43.871 imigrantes
haitianos em processo de regularização no Brasil, 31.223 concluíram seus registros
permanentes no país, o que representa 71,17%. Pouco mais de 28% ainda precisam
concluir seus processos” (BRASIL, 2017f).
Além disso, em outubro de 2016, a Resolução Normativa do CNIg - que
autoriza a concessão de vistos humanitários para haitianos - foi prorrogada
mais uma vez até outubro de 2017. Com a decisão, o país prorroga pelo
quarto ano consecutivo a emissão de visto humanitário para os haitianos,
em vigor desde janeiro de 2012. Existem no Brasil pouco mais de 77 mil
imigrantes haitianos que foram formalizados com a concessão de visto
humanitário, ou estão em processo de residência permanente (BRASIL,
2017f).

De acordo com dados estimativos, o destino permanente da população


haitiana, diante dos anos 2014-2016, com certeza foi a América do Sul. Nesses
anos, foram consolidados que o fluxo maior de haitianos se destacou no Brasil, Chile
e Argentina (INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EN DERECHOS HUMANOS
DEL MERCOSUR; ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL PARA LAS MIGRACIONES,
2017).
49

Tabela 3 – Quantidade estimada de migrantes haitianos e proporção relativa por


país na América do Sul
País Quantidade Período Porcentagem
Argentina 1.165 2011-2015 <1%
Bolívia 905 2011-2015 <1%
Brasil 67.226 2010-2016 5,5%
Chile 17.849 2011-2015 2,8%
Colômbia 1.375 2010-2016 <1%
Equador 776 2011-2014 <1%
Paraguai 16 2016 <1%
Peru 56 2016 <1%
Uruguai 2 2012-2016 <1%
Venezuela 6.509 2016 <1%
Fonte: INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EN DERECHOS HUMANOS DEL MERCOSUR;
ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL PARA LAS MIGRACIONES (2017).

Ao analisar a tabela acima, notamos que o Brasil no ano de 2016 contava


com aproximadamente 67 mil haitianos em situação regular. Esse valor de
imigrantes é bastante relevante e possui uma grande aceitação do visto humanitário.
Essa aceitação se deu ao fato da colaboração entre a Organização Internacional de
Migração (OIM) com o Centro de Aplicação de Visto para o Brasil em Porto Príncipe
(INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EN DERECHOS HUMANOS DEL
MERCOSUR; ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL PARA LAS MIGRACIONES,
2017).
Mesmo com todos os prazos e ajudas que o país vem dando aos
imigrantes, no ano de 2016 houve uma queda na concessão de vistos de 28% em
relação ao ano de 2015. De acordo com o CONARE, foram aceitas 886 solicitações
em 2016, sendo que em 2015 esse número foi de 1.231, o fator se deu ao “[...]
aumento de solicitações de refúgio fora dos critérios, o que explicaria a alta nas
negativas. No ano passado, muitos dos pedidos, aponta o Comitê, tinham motivação
econômica”. (MELO, 2017).
Além da diminuição da concessão de vistos, o fluxo de haitianos veio
diminuindo com o passar dos anos. No ano de 2015, o fluxo de imigrantes haitianos
estava no segundo ano consecutivo no ranking de imigrantes no Brasil. Porém, a
crise econômica e o aumento do desemprego acabaram tornando o país não tão
atraente para imigrar (VELASCO; MANTOVANI, 2016).
Se em 2011 existiam 815 haitianos com empregos no Brasil, esse número
chegou a 30,4 mil em 2014. A grande maioria deles estava em São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entre janeiro de 2012 e maio
50

de 2016, foram emitidos 51 mil autorizações de residência para haitianos no


Brasil. O número total, porém, pode superar a marca de 85 mil, somando
aqueles que aguardam uma regularização de sua situação e centenas deles
que entraram de forma irregular no País (CHADE, 2016).

Alguns deles não conseguiram se integrar e encontrar emprego,


passando por vários obstáculos, como, por exemplo, a validação de seus títulos
escolares ou reconhecimento do diploma. A realidade é que vários deles estão
deixando o Brasil em direção aos Estados Unidos, decorrente da crise econômica
brasileira (CHADE, 2016).
Não é apenas os Estados Unidos o destino desses haitianos. A crise fez
com que eles também escolhessem o Chile, país onde o salário mínimo supera o
brasileiro em cerca de 100 dólares. O problema é que para ingressar no Chile, o
haitiano precisa de passagens de ida e volta já compradas, o Registro Nacional de
Estrangeiro e uma carta convite de algum residente chileno. Porém, os haitianos
passaram a tirar xerox da carta convite, fazendo com que a Aduana percebesse,
negando sua entrada no país, sem contar que muitos deles tentam migrar sem
documentação (SANT’ANNA; PRADO, 2016).
Alguns estados brasileiros, preocupados com a integração dos haitianos
no país, fazem programas e eventos para ajuda-los a melhor se adaptar no Brasil.
Como por exemplo, na capital do Mato Grosso, Cuiabá, foram coladas fotografias de
haitianos que lá habitam, para mostrar a presença de imigrantes na cidade e
melhorar a sua integração. Essa exposição foi criada após o surgimento do Coletivo
“O Haiti é aqui”, esse grupo que contém 405 integrantes, tem como objetivo “[...]
estabelecer um intercâmbio entre os artistas haitianos e cuiabanos e incluir os novos
artistas na cena cultural de Cuiabá”. (SOUZA, 2017).

Figura 5 - Mostra com fotografias de haitianos busca dar visibilidade a estrangeiros.


51

Fonte: SOUZA, André (2017).

E assim os haitianos vão se adaptando do jeito que podem e se


integrando na comunidade brasileira com o passar dos anos, mesmo com as
dificuldades que encontraram no caminho. Como também o Brasil veio se adaptando
para poder receber essa remessa de imigrantes que com o passar dos anos só veio
a acrescentar em nosso país.
52

6 CONCLUSÃO

Percebe-se que o movimento migratório, deslocamento de pessoas entre


seu local de origem para outro lugar, causa certa preocupação para alguns Estados,
porém há a necessidade de enxergar o lado positivo da migração, que pode gerar
um crescimento econômico, político, cultural e social para o país.
As migrações internacionais fazem parte da história da humanidade e seu
processo é constante. Não poderíamos explicar o processo migratório sem perceber
que nossa história foi feita pela integração de povos diferentes. Com relação ao
contexto imigratório no Brasil, o país surgiu do processo de migração e ao longo de
sua história foi atraindo mais e mais imigrantes, e atualmente é considerado um dos
países que mais recebem imigrantes.
A importância dos Direitos Fundamentais, Direitos Humanos e Direitos
Humanitários, esse último sendo mais focado para o conflito armado, no cenário
mundial é muito clara. Não é à toa que a Organização das Nações Unidas considera
os Direitos Humanos e suas liberdades fundamentais como seu principal objetivo.
Suas normas, leis e tratados, tanto de âmbito global como regional, possuem o
objetivo de proteger e amparar qualquer pessoa que tenha sofrido certa ruptura do
direito.
Nota-se que o Direito Internacional possui regras que são aplicadas não
apenas aos Estados, mas também aos demais atores internacionais, como os
organismos intergovernamentais, ONG’s e corporações multinacionais. A presença
de Organismos Internacionais resultou na criação de órgãos com o intuito de
proteger a população.
A Organização das Nações Unidas tem como seu objetivo manter a paz e
a cooperação internacional. Devido a sua grande abrangência, a ONU possui vários
organismos a ela vinculados, como também possui seus organismos especializados,
como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, onde possui como
principal objetivo a proteção aos refugiados e a solução para que eles possam
reconstruir suas vidas.
O papel do Brasil frente aos processos migratórios vem evoluindo cada
vez mais com o passar dos anos. O país faz parte da Convenção Internacional sobre
o Estatuto dos Refugiados de 1951, do Protocolo de 1967 e também é integrante do
Comitê Executivo da ACNUR desde 1958. Após a promulgação do Estatuto do
53

Refugiado, o Brasil passou a melhorar sua política de acolhimento aos refugiados. O


instituto jurídico do refúgio no Brasil era regulado pela Lei 9.474/1997, agora
atualizado pela Lei 13.445/2017 que possui direitos e deveres específicos aos
refugiados, diferente dos direitos aplicados aos estrangeiros.
Dentre os vários tipos de refugiados, os haitianos se encaixam nos
refugiados ambientais, devido ao terremoto de 2010 no Haiti. Mesmo não sendo
uma violação dos Direitos Humanos, os mesmos determinam que o Brasil não pode
negar ajuda a esses refugiados ambientais mesmo que tenham entrado no país
ilegalmente, pois o governo deve proporcioná-los os direitos essenciais como a
qualquer outro indivíduo.
Notou-se que a atual realidade do imigrante haitiano no Brasil é bastante
diversificada. Alguns anos atrás o país recebia uma enorme massa de imigrantes
com o intuito de conseguir uma vida melhor no país. Atualmente, o país veio
perdendo esses haitianos, devido à crise econômica e por muitas vezes devido à
falta de reconhecimento da população com esse imigrante. Porém, o país vem se
esforçando para garantir os direitos fundamentais que esses refugiados merecem.
54

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