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Florianópolis
2017
THAYSE AMÁBILY DEHLANO
Florianópolis
2017
Dedico este trabalho aos meus pais, pelo
amor, apoio, carinho, compreensão e
capacidade dе acreditar еm mіm. Sem
vocês nada disso seria possível.
AGRADECIMENTOS
A presente monografia tem como objetivo analisar o papel do Brasil frente aos
processos migratórios e quais suas políticas desenvolvidas, considerando a
realidade do imigrante haitiano no Brasil. Uma vez que a migração vem sendo
destaque em nosso país nos últimos anos, existe uma necessidade de dar atenção
especialmente aos refugiados e seus Direitos Humanos. Assim, buscou-se identificar
o instituto da imigração no seu processo histórico, destacando a atuação do Brasil
nesse contexto. Também procura-se descrever o processo histórico da imigração,
destacando a atuação do Brasil nesse cenário, apontando como o Estado se
estrutura do ponto de vista político e jurídico e por fim, demonstrar a atual realidade
do imigrante haitiano no Brasil. Para a estruturação da pesquisa utiliza-se o método
descritivo e explicativo, sendo de natureza qualitativa e o delineamento do estudo
tem caráter de pesquisa bibliográfica. Por fim, conclui-se que a migração passou a
ter uma importância relevante no cenário internacional assim como no Brasil, onde
mesmo possuindo algumas dificuldades para receber os refugiados o país procurou
adequar sua legislação, com o visto humanitário, para receber os mesmos e garantir
seus direitos fundamentais.
The present monograph aims to analyze the role of Brazil in the migratory processes
and what are it’s developed policies, considering the reality of the Haitian immigrant
in Brazil. Since migration has been prominent in our country in the past years, there
is a necessity to give attention especially to the refugees and their human rights. We
sought to identify the immigration institute in its historical process, highlighting the
Brazilian performance in this context. It also seeks to describe the historical process
of immigration, highlighting the Brazilian performance in this scenario, pointing out
how the State structures itself from a political and legal point of view and, finally, to
demonstrate the current reality of the Haitian immigrant in Brazil. The research is
structured by the descriptive and explanatory method, being of qualitative nature and
the delimitation of the study has a bibliographic research mold. Finally, it’s concluded
that migration has become very important in the international scenario as well as in
Brazil, where, despite having some difficulties to receive refugees, the country sought
to adapt its legislation, with the humanitarian view, to receive them and guarantee
their fundamental rights.
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................12
2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DAS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS...16
2.1 PROCESSOS HISTÓRICO E BRASILEIRO......................................................17
3 DIREITOS FUNDAMENTAIS, DIREITOS HUMANOS E DIREITOS
HUMANITÁRIOS........................................................................................................25
3.1 SISTEMA GLOBAL E REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS..........................26
4 DIREITO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E
PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS..............................................................................32
4.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS..........................................................34
4.1.1 Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.....................37
5 A PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL...........................39
5.1 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO HAITI.................................................40
5.2 A POLÍTICA BRASILEIRA PARA OS REFUGIADOS........................................44
5.2.1 Os haitianos como refugiados ambientais..................................................46
5.3 A ATUAL REALIDADE DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL.............47
6 CONCLUSÃO........................................................................................................52
REFERÊNCIAS...........................................................................................................54
12
1 INTRODUÇÃO
pois todo ser humano tem o direito de escolher o melhor rumo para sua vida e
atualmente o processo para a realização desse objetivo não é fácil de ser realizada
e compreendida. De acordo com Deisy Ventura (2014) “Migrar, com todos os riscos
que isto implica, explica-se simplesmente porque a busca de felicidade é inerente ao
ser humano”.
Com relação à migração no cenário brasileiro nos últimos anos, mesmo
com um saldo favorável a emigrações, o país tem se tornado atraente para
estrangeiros, devido ao seu crescimento e estabilização econômica, fazendo com
que a política de imigração se tornasse parte significante no Brasil (REIS, 2011).
Quanto à relevância social do estudo, ressalta-se a devida importância
em conhecer e compreender as leis e acordos que respeitam o direito dos migrantes
como o de qualquer indivíduo, para que possa servir de auxílio a outros Estados,
como também a todas as pessoas que procuram migrar. Segundo Cunha (2005, p.
3) “É inegável que o conhecimento adequado dos tipos e etapas da migração, suas
características, significados e condicionantes são requisitos fundamentais para
entender não apenas a dinâmica demográfica atual, mas também para prever suas
tendências futuras.”
Trata-se a presente pesquisa de um estudo do tipo descritivo, pois tem
como objetivo descrever as características de determinados fenômenos, população
e suas relações e conexões com os outros (CERVO; BERVIAN, 1996). Pode
também ser caracterizada como explicativa, onde tem por finalidade identificar os
fatores que determinam ou contribuem para o acontecimento dos fenômenos (GIL,
2008).
A natureza da pesquisa é qualitativa, pois está relacionada ao
levantamento de dados (GIL, 2008). O delineamento do estudo tem caráter de
pesquisa bibliográfica, pois é constituída a partir de livros e artigos científicos (GIL,
2008). A realização dessa pesquisa se constitui no levantamento dos temas e tipos
de abordagens, assim explorando conceitos e aspectos já publicados (BARROS;
LEHFELD, 2000).
O procedimento pode ser caracterizado como do tipo histórico,
consistindo em investigar acontecimentos, processos e instituições ocorridos no
passado, através de documentos, pesquisas, dados, para assim poder compreender
sua influência atualmente. Também é de cunho monográfico, a qual é elaborada
através do estudo de determinados indivíduos, profissões, instituições, condições,
15
se adaptar ao país receptor. Devido à grande força das redes sociais atualmente, os
imigrantes, mesmo estando “[...] em outro país, têm dificuldades enormes de se
integrar socialmente e, vivem em guetos onde recriam os padrões de vida dos
países de origem. Muitas vezes não aprendem a língua nem regularizam
juridicamente sua situação no país” (Brito, 1995, p.31). Essa integração entre eles,
acaba tornando a saudade do seu país e até mesmo seus problemas sociais e
psicológicos melhor.
Ainda conforme Brito (1995), se no século passado e no início deste, as
migrações eram vistas de forma permanente e os migrantes se integravam
economicamente e socialmente nos seus países de destino, atualmente já vemos
outro cenário, elas acabaram virando temporárias. A realidade do migrante acabou
se tornando distinta devido a internacionalização do mercado de trabalho e também
a grande desigualdade entre as nações.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (2017a), em 2015, o
número de migrantes internacionais chegou a 244 milhões, sendo 20 milhões
refugiados, aumentando cerca de 41% em relação ao ano 2000. O número de
migrantes internacionais aumentou mais rápido do que o crescimento da população,
em 2000, a quantidade de migrantes totalizava 2,8% da população global, já em
2015 esse número aumentou para 3,3%. Até o final de 2015, a Agência das Nações
Unidas para Refugiados (ACNUR) (2017a), apontou que cerca de 65,3 milhões de
pessoas foram deslocadas devido à guerra e conflitos, registrando um aumento de
quase 10% comparado ao ano de 2014.
Os países das Américas possuem uma formação marcada pelas
migrações internacionais com influências de europeus, asiáticos e africanos. O
Brasil no período colonial teve suas bases criadas principalmente por indígenas, que
aqui já habitavam; portugueses, devido sua colonização e africanos, por causa do
grande fluxo de escravos (BRITO, 1995), ou seja, a própria formação do Brasil foi
feita através das migrações e dos deslocamentos de pessoas.
A partir dos anos 80, os movimentos de entrada e saída do país
avolumaram-se a ponto de não mais se poder considerar a população
brasileira como uma população fechada. A partir dos anos 50, término do
período de fluxo intenso de estrangeiros ao Brasil, o crescimento
populacional passou a ser considerado o resultado da diferença entre
nascimentos e mortes, passando a ser desprezível, do ponto de vista
quantitativo, o reduzido contingente que entrava ou saía do território
nacional (PATARRA, 1996, p. 112).
21
Do início desse século até 1929, a população portuguesa foi a que mais
teve destaque nas imigrações, assim como os alemães, os poloneses e os russos,
dentre outros. Porém, a única diferença é a grande intensificação do fluxo de
japoneses no período entre as Grandes Guerras (BRITO, 1995).
Na década de 1930, após a revolução, o Brasil começou a ampliar sua
indústria, assim, substituindo suas importações de bens de consumo duráveis e
22
Até a primeira metade do século XX, o Brasil não era um país que recebia
fluxo de imigrantes vindo de lugares que não tinham estreita relação com nós.
Porém, ao longo dos últimos anos, isso começou a acontecer (CÂMARA, 2014).
2015 117,341
2014 118,286
2013 107,621
2012 98,830
2011 74,805
2010 54,582
Fonte: Elaboração do autor com base em Portal Brasil, com informações do Ministério da Justiça e
Segurança Pública, Ministério das Relações Exteriores e Agência Brasil. (BRASIL, 2017c).
com que houvesse uma maior preocupação sobre os Direitos Humanos e sua
implementação (PIOVESAN, 2013).
Existem várias características que são conectadas aos Direitos Humanos,
a universalidade é uma delas. Ou seja, os Direitos Humanos possuem uma
ampliação universal:
[...] uma vez que a condição de pessoa é o único requisito para a
titularidade de direitos. Todo ser humano é seu titular, independentemente
de fronteiras, onde quer que se encontrem. Já de acordo com a
Indivisibilidade, a garantia dos direitos civis e políticos é condição para se
observar os direitos sociais, econômicos e culturais, e vice versa. Significa
que, se um dos direitos humanos é violado, os demais também o serão,
pela existência de uma interdependência entre esses direitos (RAHAL,
2015).
Esse Sistema foi marcado por dois períodos, sendo o primeiro dos
regimes ditatoriais e o segundo da transição política dos regimes democráticos.
Esses regimes acabaram violando vários direitos e liberdades do ser humano
(PIOVESAN, 2006).
A Convenção Americana de Direitos Humanos foi adotada em 1969,
entrando em vigor no ano de 1978, aconteceu na cidade de São José, na Costa
Rica, possuindo a maior importância no Sistema Interamericano (PIOVESAN, 2006).
Essa Convenção “[...] dispôs sobre a existência de dois órgãos com competência
para conhecer assuntos relacionados ao seu cumprimento pelos Estados partes”
(GARCIA, 2005, p.82), esses órgãos, seriam a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos engloba todos os
Estados que fazem parte da Convenção Americana, sendo um “[...] órgão autônomo
da OEA, que tem como função principal promover a observância, a defesa e a
promoção dos Direitos Humanos e servir como órgão consultivo da OEA sobre a
matéria” (BICUDO, 2003, p.231).
30
A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos foi criada em 1981,
porém só entrou em vigor no ano de 1986. Foi adotada pela Organização da
Unidade Africana (OUA), possuindo aprovação dos 53 Estados africanos
(PIOVESAN, 2006). A Carta “[...] constitui um aporte importante ao desenvolvimento
do direito regional africano e cobre uma lacuna essencial em matéria de direitos
humanos” (BICUDO, 2003, p. 232).
Além de garantir os direitos e deveres, a Carta Africana também possui
medidas salvaguardas para esses direitos e deveres. Sendo assim, no seu artigo 30,
foi criada a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (PIOVESAN,
2006). Nas palavras de Bicudo (2003, p. 232), a Comissão:
Trata-se de um órgão técnico independente, composto por catorze membros
escolhidos por suas qualidades pessoais, encarregado da promoção e da
proteção dos direitos do homem. Para esse efeito, a Comissão pode ser
solicitada pelas faltas de um Estado às disposições convencionais,
provocada por outro Estado ou por particulares.
Porém, no DIP, não só apenas os Estados que são os únicos atores, mas
também os organismos intergovernamentais e os indivíduos e atores não estatais,
como Organizações Não Governamentais (ONG’s) e corporações multinacionais. Já
o Direito Internacional Privado, lida com resoluções de conflitos entre legislações
domésticas, onde cada Estado possui sua norma (SILVA E GONÇALVES, 2010).
De acordo com a Organização das Nações Unidas (2017c):
O direito internacional define as responsabilidades legais dos Estados em
sua conduta uns com os outros, e o tratamento dos indivíduos dentro das
fronteiras do Estado. Seu domínio abrange uma ampla gama de questões
de interesse internacional como os direitos humanos, o desarmamento, a
criminalidade internacional, os refugiados, a migração, problemas de
nacionalidade, o tratamento dos prisioneiros, o uso da força e a conduta de
guerra, entre outros. Ele também regula os bens comuns globais, como o
meio ambiente, o desenvolvimento sustentável, as águas internacionais, o
espaço sideral, as comunicações e o comércio mundial.
passaram a considerar quem teve que deixar seu país devido a conflitos armados,
violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos” (AGÊNCIA DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS, 2017c).
O ACNUR conta com o suporte de várias outras Organizações
Internacionais. No Brasil existe um órgão multiministerial o qual se chama Comitê
Nacional para os Refugiados, onde “[...] a Agência da ONU para Refugiados se
relaciona com diferentes instâncias do Governo Federal, contribuindo para a
formulação das políticas sobre refúgio e das normas” (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2017g).
39
Analisando a citação acima, podemos confirmar que esse foi o caso dos
refugiados haitianos. Devido ao seu terremoto em 2010, o Haiti ficou totalmente
devastado, fazendo com que sua população saísse do país em busca de uma
melhor condição de vida. Assim, os haitianos começaram a chegar em grande fluxo,
iniciando pelo Acre (WAISBERG, 2015).
O Governo brasileiro não possuía poderes para conceder o refúgio aos
haitianos, adotando assim “[...] uma política pontual, sem recorrer ao Estatuto dos
Refugiados, recorreu ao Estatuto dos Estrangeiros, promovendo uma série de
resoluções normativas que regulamentam a situação dos haitianos de maneira
provisória” (WAISBERG, 2015).
Fonte: Fotos mostram difícil reconstrução do Haiti 5 anos depois do terremoto (2015).
Após aceito pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, esse projeto virou
a Lei 9.474 de 22 de julho de 1997. Essa Lei foi a primeira na América Latina
dedicada a refugiados (ANDRADE; MARCOLINI, 2002).
A política brasileira para o acolhimento de refugiados avançou
significativamente nas últimas duas décadas, especialmente após a
promulgação do Estatuto do Refugiado (Lei nº 9.474, de 22 de julho de
1997). Essa lei instituiu as normas aplicáveis aos refugiados e aos
solicitantes de refúgio no Brasil e criou o Comitê Nacional para os
Refugiados (CONARE) (BRASIL, 2017d).
um refugiado passa após ser reconhecido são explicadas nas palavras de Andrade e
Marcolini:
Uma vez reconhecida a condição jurídica de refugiado no Brasil, a pessoa
recebe uma carteira de identidade, emitida pela Polícia Federal, tem direito
à assistência médica pública, e está autorizado a estudar e a trabalhar.
Graças às estratégias desenvolvidas para integrar os refugiados na
sociedade local, a maioria deles beneficia-se de programas sociais públicos
e privados. Com base numa análise caso-a-caso, o refugiado pode receber
ajuda financeira, concedida pelo Acnur, por um período de tempo
determinado. Esta ajuda, equivalente a um salário mínimo, é distribuída
pelas Cáritas Arquidiocesanas do Rio de Janeiro e de São Paulo (2002, p.
172).
2016 42,026
2015 14,492
2014 10,677
2013 5,604
2012 4,278
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Métodos de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas S.a.,
2008. 220 p.
HENKIN, Louis et al. International law: Cases and materials. 3. ed. Minnesota:
West Publishing, 1993.
LASSANCE, Antonio. O legado dos amaldiçoados: uma breve história do Haiti. In:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 19. Jan. 2010. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=569:o-legado-dos-
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horror. O Globo, 20 set. 2017. Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-
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horror-9433110>. Acesso em: 06 set. 2017.
SANT'ANNA, Emilio; PRADO, Avener. Para fugir da crise, haitianos trocam o Brasil
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<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/05/1768958-para-fugir-da-crise-
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