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VELHO - Estilo de Vida Urbano e Modernidade PDF
VELHO - Estilo de Vida Urbano e Modernidade PDF
MODERNIDADE
Gilberto Velho
m dos temas centrais e cM.ssicos na plícilO, com a questão urbana. Esta tem
literatura sobre cicbdes é a ClraCIe sido ap resentada ora como fon Ie inesgo
Iização de um estilo de vida urbano. tável de problemas, ora como ootável
Weber, Simmel, Parl<, WU1h, Redfield, en progresso na emlução social mas sempre
tre outros, desenml\'Cram reUexâes sis como um gr:mde desafio. Muitas VC2cs,
ICIIIátjcas que até hoje são referências mesmo nas ciêndas bum:103S, não fica
impor1:U\tes. Na passagem do século XIX claro, exatamente, de que cid-ule se fuja.
para O século xx. 00 entre guerras e oos Nas gen . - mais ambiciosas
anos que se seguiram à Seguoda Gr:mde podemos encontrar Atenas do século N
Guerra, foram prodl'Zidos trnbalhos em a. C. ao lado de l'aris do século XVIII, de
v.Irias áreas das ciências sociais cuja preo B:lgdá de HaJUo AI·Rachid, de Roma de
cupação principal era a caractedzação do Augusto e de Nova York coolemporlnea.
urbano, contrastado com o Clmpo, com Irei me concentrar aqui na gr:mde cidade
o meio JUral, com o muodo folk etc. O do mundo moderno contemporâneo, as
impacto e os efeitos da cidade moderna sociada ao desenmlvimento do capitllis
oa vida da sociecbde e dos indlviduos mo e da Revolução Industcial. Esta opção
mobilizava, como se sabe, não só o mun fic:uá mais justifocada no decorrer deste
do actdêmico uoiversitário, mas a Intel artigo, mas está essencialmente vincula·
l igentsia em geral. da a uma preocupação com uma teoria
Autores como Joyce, Musil e ProuSI da cultura.
retomavam lemas e problemas \'Cicula O ponto CundamenL'II da minha an:ili
dos, piooeiramente, oa literatura por Bal- se é que, paralelamente a uma reorgani
Dickens e Baudebire, impressiona
7!1C, zação do espaço, às lr:lIIsfonnaçâes na
dos com a complexidade e os mistérios economia e na vida política, a metrópole
da gr:mde cidade. Poder-se-ia eoumerar contemporânea,l na sua constituição e
centenas de escritores, oiUcos, actislaS natureza, está indissoluvelmente assoei·,
de vários tipos e orientações que oos da a modos especificos de rerort:lr e
últimos 150 anos lidaram, de modo ex- construir a =lidade. Ela é conseqüência
teiras entre mundos não só distinlOS mas fonnizador, por excdência, dos difelcn leS
até estranhos uns aos oullOS. significados culturais atribuídos a bens,
Ploust e Musil, por exemplo, capta serviços e atividades. O cálculo econômi-
ram magistralmente a coexistência, às 00, apoiado no sisIema monelário, atua
algum tipo de transe está presente, e até entre códigos e mundos diferenciados
o movimenlO cuismático CllÓlico, ilus q11an 10 aos Y.LIores, ariro tações e siste
Irnm a importância na esfera religiosa da mas dassifiCllÔriOS. Assim, quando, por
sociedade coOlemporânea do que tem exemplo, técnicos de informática, que
sido chamado de eslado alterado de trabalham de oito a dez horas no compu
oonsclêncfa (ver Bourgnignon, 1973). tador diariamente, são encontrados
Seja como transe genérico, seja como como fiéis em terreiros de umbanda, le
possessão por espiritos de antepassados , mos um interess ante caso de participa
entidades, deuses, guias, santos elC., Çio el1\ mundos difcrenciados.2 Talvez
53S crenças e cultos mobilizam dezenas não haja nada de extraordinário nisso.
de milhões de individuos. Ora penn:me Mas para os analistlS que apresenlam
cendo em um cullO espeáfico, ora tran uma visão unidimensionál da vida em
silando entre eles, fenômeno particular- sociedade soa absurdo o: contraditório.
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Não há como explicar esse fenômeno dos processos individ l'a1izantes. Estes re
como "sobrevivência" de l'etustas trad� percutiram e ti>eram conseqüências, ca
ções afriClllas pois traia-se de processo mo já foi c:li1O, em quase todas as regiões
contemporâneo agregando indivíduos do mundo. Resumindo, essas indiscu tí
dos mais v.ui:ldos estratos e procedên veis conseqüências da e"('aDsão do capi-
cias. Efetivamente estamOS nos defron· taBsmo ocidental associam-se a uma vi
tando com uma demonstraçio da com são de modernidade, assenlada em con·
plexidade da vida sociocultural. Esla se cepções específicas de racionalidade e de
dá sempre em múlúplas dimensões e indivíduo. Apesar da força do seu impac
planos. Mas é nas metrópoles e grandes to, esti3s transformaçócs inevitavelmente
cidades contemporâneas que assume interagem com tradições culturais di>er
maior explicilação e niúdez. sificad.s. Assim, dão margem a sincretis
Frise-se que mesmo as transformações mos, combinações e rein>enções cultu
te""cno16gicas ap:ucntemente mais revolu· rais, não em número infinito, mas varia
cionárias, como as da inform:íúm, não das e numerosas. Em outras palavras, as
produzem efeitos homogenei:z:Jdores crenças e valores tradicionais não desa·
•
de Janeiro, GraaJ.
de conjuntos de significado singulares.
-;- 1985. JJlslórla dasexua/ldadem. Rio
ESL'IS seri.1m as bases de um pluralismo
.
_
de Janeiro, GraaJ.
socioculruraJ conremporánco.
. 1987. V/i,>/ar e punir: nascimento da
prls<'Jo. Petrópolis, V=
J,\MllS, William. 1952. "Tbe consciousness oi
seIf', em Princlpks of psycbology. The
Greal Books, Encydopcdja Britannica,
Notas
capo 10.
1. Não estou fnendo neceSS3namemc: dis _--;:-. 1952. 'llle percepúons 01 ""dily", em
tinção entre metrópole e grande cidade ao Principies of psycbology. The Gre.l
entendê-las amb as oomo gigant.escos centros Books, Encydopedia Britmnica, cap. 21.
urbanos que se desenvolver:lrn. prinàp:ll- ___o 1952.
"Allenúon", em Principies of
fficntt; a partir do final do século XVIll, rela psycbology. TheGre:uBooks, Encydopo
cionados ao desenvolvimentO Clpit:JJisla e à dia Britmnica, cap. 11.
expansão industrial em Ql13SC todas as regiões
do mundo. Normalmeme a idéia de meLrÓpo ORl1Z, Fernando. 1991 119631. Contrapu".
Ic corrcsponde a um centrO urbano cuja in /elo cubano dellabaco y e l aníror. u
Ouência é de esfera nacional ou mesmo inter Haoon a, Editoria.! de"(;iencias Sociales.
naàonal. Gr;lOde cidade é UlTU Cltegoria mais PARI<, Robert E. 1916. 'The clL}': suggestions
ampla, englobando enúdades mais diferen for Lhe investig:llion of human beha'tior
dadas quanto 30 tamanho e complexidade. in Lbe wban enviromment", Amerlcan
2. Wormaçio obtida em entrevistaS no jouna[ of Sociology, xx. p. 577-6U. Tra
Projeto Tradições cullurals e represenla{Ves dução brasileir3; IlA cidade: sugestôcs
de poder, por mim coordenado. para a inYeSti�ção do comportamento
humano no meio urbano", em Oúvio G.
.
Velbo (org.). 1967. Ofenlimeno urbano .
Rio de Janeiro, Zahar, p. 29-72.
WEBER, Max. 1958. 1be d/y. M:utind3le e GUbcrto Velho é professor titular do Prt>
Neuwirtb (org.), Glencoe. IIlinois, lbe gf:l1lU de Pós-Cf3du.ç'io em Antropologi. 50-
Free Press. cW do MII5eU Naoon:ü UFIU.
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