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"O pior surdo é aquele que não quer ouvir"

ditado popular

Psiu - alooô - sim, é com você mesmo; escute o que eu tenho para falar. Eu sei que escutar as
pessoas nem sempre é fácil, e que às vezes é tão chato agüentar o falatório que dá até vontade de
usar um protetor auricular só para nos proteger do massacre verbal. Com o tempo, vamos nos
cansando tanto de algumas conversas que até corremos o risco de generalizar e nos fechar para
quase todos aqueles que desejam falar conosco.
Por esse e por outros motivos, as pessoas efetivamente não sabem escutar. Pesquisas recentes
indicam que, de maneira geral, usamos apenas 25% da nossa capacidade de audição, e segundo
estudo realizado pelo pesquisador Larry Barker, depois de dois meses, se a comunicação for de
muito boa qualidade, do total ouvido só 25% serão lembrados.
Ora, direis, não me venha com aquela velha história de que Deus dotou o homem com uma boca e
dois ouvidos para que ele pudesse ouvir mais e falar menos, porque já está muito batida e todo
mundo já sabe. Eu não ia citar, mas já que você mencionou, o registro está feito.
Não vamos discutir esses detalhes, o que importa na verdade é quais as vantagens, quais os
benefícios que você terá aprendendo a ouvir melhor. Posso garantir que essa habilidade irá ajudá-
lo a desenvolver e afirmar sua carreira profissional e as suas relações sociais.

Porque temos dificuldade para escutar


Existe uma grande diferença entre ouvir e escutar. Ouvir é apenas uma atividade biológica, que
não exige maiores esforços do nosso cérebro, enquanto que escutar pressupõe um trabalho
intelectual, pois após ter ouvido, é preciso interpretar, avaliar e reagir à mensagem.
Você acha essa discussão desnecessária? Para ser sincero eu também penso que essa polêmica
do que chama o quê não leva a nada; tanto que alguns autores até afirmam o contrário - o que
para nós é ouvir, para eles é escutar, e vice-versa. O importante neste momento é saber que
estaremos analisando a atividade da audição que põe o cérebro para funcionar e agir.

As palavras perdem a corrida para o pensamento


Diferentes estudos mostram que o nosso pensamento trabalha numa velocidade 4 vezes mais
rápido do que as palavras transmitidas oralmente.
Pense na ociosidade da nossa mente quando estamos ouvindo alguém falando. Ele vai precisar de
1 minuto inteiro para expressar o que podemos compreender em 15 segundos.
Temos 45 segundos para nos envolver com divagações alheias ao que está sendo comunicado.
Como conseqüência, depois de algum tempo, podemos ficar entediados e em muitas situações
deixamos de ouvir o que estão falando.
Esse fenômeno, da diferença da velocidade do pensamento e das palavras, talvez ajude a explicar
também porque as pessoas, na sua grande maioria, sentem muito mais prazer em falar do que em
ouvir.

Nossos ouvidos são uns interesseiros


Possuímos uma audição seletiva. De maneira geral prestamos atenção nas informações que
favorecem a nossa causa e os nossos interesses, e nos afastamos das mensagens que julgamos
desfavoráveis aos nossos anseios.
E quanto mais experientes nos tornamos mais seletiva passa a ser a nossa audição. Quando
alguém começa a falar, logo nas primeiras palavras, deduzimos o que ele irá dizer e nos
recolhemos em nossos pensamentos, sem prestar atenção na mensagem.

Prejulgamos e distorcemos as palavras que ouvimos


Quando ouvimos uma mensagem, ou até mesmo uma palavra que contraria a nossa forma de
pensar, independentemente das intenções da pessoa que está falando, iniciamos um processo
defensivo onde passamos, mentalmente, a debater as idéias contrárias, criticando as informações
já transmitidas e procurando antecipar e resistir às novas mensagens.
É evidente que nem sempre as nossas suposições estão corretas e esse prejulgamento pode levar
a uma interpretação distorcida da informação.

O ambiente pode nos distrair


Todos os elementos e fatos que estão à nossa volta podem interferir na concentração. O ranger
das cadeiras, a temperatura, uma pessoa tossindo, as máquinas e equipamentos que fazem
barulho fora da sala onde nos encontramos podem desviar a nossa atenção e impedir que
acompanhemos o raciocínio de quem está falando. Às vezes a simples respiração um pouco mais
ofegante de quem está ao nosso lado pode desviar o nosso pensamento.
Por mais favorável e ideal que seja a circunstância sempre teremos inúmeros motivos para deixar
de ouvir.

Escutar dá trabalho
Já vimos que escutar exige uma atitude ativa, concentração e esforço intelectual. Ocorre,
entretanto, que a maioria de nós prefere ficar numa situação mais cômoda e ouvir de maneira
passiva, sem analisar ou interpretar o que está sendo falado.
Quase sempre, nessas circunstâncias, apenas fingimos que estamos prestando atenção, mas na
realidade os nossos pensamentos estão voltados para outros assuntos.
É muito comum conversarmos com algumas pessoas que se desligam das nossas palavras e
apresentam um brilho característico nos olhar, que demonstra que o corpo ficou mas o
pensamento está viajando para muito longe dali.

Por que é importante escutar


Só o fato de saber que muito do que conhecemos foi aprendido ouvindo as pessoas já justificaria
mais dedicação para escutar melhor.
S. Moss e S. Tubbs revelam uma pesquisa que mostra como dividimos o tempo em que passamos
acordados - 17% lendo, 16% falando, 14% escrevendo e 53% ouvindo. É muito tempo para ser
desperdiçado.
A maneira como escutamos pode interferir de forma decisiva no sucesso profissional e na
qualidade do nosso relacionamento pessoal. As pessoas que têm dificuldade para escutar
apresentam baixa produtividade no trabalho e dificuldade para se relacionar.
Se você tiver que se submeter a um processo de seleção de emprego, por exemplo, o fato de
saber escutar irá se constituir num importante diferencial para perceber, de maneira correta, quais
são as intenções da empresa e o que ela espera de você.

Como escutar melhor


Para aprimorar a habilidade de escutar dedique-se à prática de algumas regrinhas muito simples e
que dão excelente resultado:

Procure entender antes de interpretar ou criticar


O primeiro passo para escutar melhor é refrear a tendência de interpretar ou criticar uma
mensagem, antes mesmo que ela tenha sido concluída ou perfeitamente entendida.
Nas primeiras tentativas poderá parecer meio desanimador, porque ao prestar atenção em toda
mensagem e tê-la entendido bem concluirá, às vezes, que o resultado foi muito semelhante ao que
tinha suposto no primeiro momento e que o esforço talvez não tenha valido tanto a pena. Com o
tempo, entretanto, verificará que em alguns casos você estava equivocado e que esses enganos
poderiam trazer irreparáveis prejuízos a sua capacidade de julgar as situações.

Meça a sua compreensão


Pelo fato de termos, de maneira geral, uma audição passiva, quase sempre não nos preocupamos
em saber quanto do que ouvimos efetivamente conseguimos lembrar.
Um bom exercício para escutar melhor é procurar lembrar quais as informações que ouviu e
quanto da mensagem conseguiu guardar. Com o tempo a quantidade de informações retidas passa
a aumentar e naturalmente a habilidade de escutar também.
Durante alguns dias procure fazer uma revisão das pessoas que falaram com você, o que
pretendiam e de como se comportou ao ouvi-las.

Faça anotações
Um bom método para se concentrar nas informações que ouve é fazendo anotações dos tópicos
que julgar mais importantes. É evidente que esse exercício deverá ser reservado para a
participação em palestras, aulas e reuniões, pois, por incrível que possa parecer, já vi pessoas
conversando em situações informais e fazendo anotações.

Saia um pouco de si mesmo


De maneira geral, ficamos tão preocupados conosco que acabamos nos esquecendo que as outras
pessoas necessitam ser reconhecidas e consideradas. Por isso, para melhorar sua capacidade de
escutar, procure aceitar as pessoas como elas são e não como você gostaria que fossem.
Reconheça que existe a possibilidade de estar enganado em algumas opiniões e dê um voto de
confiança para a maneira de pensar dos outros. Prepare-se para se empenhar nessa empreitada
porque, com freqüência, poderá ficar tentado a desistir e se voltar novamente para si mesmo.

Reinaldo Polito
Revista Vencer nº 9

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