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Itajaí, 20 de Maio de 2020

Primeira carta de Consciência Fonológica: Uma introdução

Caro aluno e amigo,

Espero que se encontre bem, em meio a essa pandemia que assolou o


mundo, use máscara e se previna sempre que sair na rua, estamos vivendo dias
dignos de um filme de ficção científica. Mas voltando ao nosso assunto, sou
Erickson seu mediador nesse período e espero que essa carta lhe encontre bem.
Primeiramente, aproveito para lembrar que nos comunicaremos pelas cartas
semanais, mas também por outras mídias e espero saudar cada um de vocês em
nossos espaços, fiz uma tabela por que está muito difícil identificar o decorrer dos
dias, nesses nossos dias de COVID-19, então fiquem atentos:

1 SEMANA - FIQUE DE OLHO NA AGENDA DO GRUPO

QUI (21) SEX (22) SAB (23) DOM (24) SEG (25) TER (26)

CARTAS 8 HRS

YOUTUBE 14 HRS

LIVE INSTA 18 HR

LIVE FACE 18 HRS

Parte 1: O sujeito é maior que sua provação ou (re)provação

Vos digo meus amigos, que o desenvolvimento das leitura e da escrita nos
pequenos em início de alfabetização nunca foi um processo natural, como me
parece o de aquisição da linguagem. Desde quando a criança nasce, ela já está
imersa num mundo desconhecido, um mundo de coisas que lhes é apresentado
através da interação comunicativa de seus pais ou responsáveis. O ato da fala, em
si, acho fenomenal, esses dias recebi o vídeo da minha sobrinha de 2 anos que ao
pedir cenoura para a mãe, recebeu e logo em seguida ficou muito brava, pois o que
ela realmente queria era caqui, mas para ela caqui chamava ​“cenoura bonita”​, e a
mãe não entendeu isso. Voltando ao assunto esse processo é fundamental no
desenvolvimento humano, surge nesses momentos de interação espontânea no
núcleo familiar, imaginem vocês o quando será gratificante quando minha sobrinha
aprender a falar “caqui”.
A criança em seus anos de existência carrega uma gama de aprendizados,
mas ao chegar na escola se depara com um triste realidade, os resultados da
Avaliação Nacional da Alfabetização — ANA (2016), indicam que cerca de 54% dos
mais de 2 milhões de alunos concluintes do 3º ano do ensino fundamental
apresentaram desempenho insuficiente em proficiência na leitura, já o Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes — Pisa (2018), indica dois anos depois
que que esse índice era de 50%, de estudante que apresentam níveis de
proficiência abaixo do que é considera básico para participantes.
Em sua carta introdutória ao livro ​“Alfabetização e Letramento”​, talvez tenha
sido isso que Madga Soares nos alertou ao dizer dos 40 anos passados com
metade dos pequenos brasileiros sem conseguir ​“romper a barreira” da primeira
série. Me apoiando em outra amiga de viagem, me utilizo das ideias de ROJO
(2010), em seu livro ​“Falando ao Pé da Letra”​, onde ela utiliza diferentes campos de
conhecimento como psicologia, filosofia e linguística para reencontrar os
pensamentos vygostskianos, e indicar que existe uma distância entre o sujeito e sua
representação linguagem, esse sujeito perpassa o pensamento, ação, interação e
seu papel de locutor e interlocutor nesse processo, e sendo assim ser ​“aprendente”
(termo que emprestei da minha querida Alicia Fernandes), é ser não-passivo,
não-estático, não-colado na cadeira e sim alguém que precisa ser posto em
movimento e contato direto com seu conhecimento já existente e interno.
Avançando na nossa conversa, vos digo que descobri nesses anos de estudo
de consciência fonológica que aprender a ler e a escrever, significa estar
movimentando uma produção interna de pequenas vivência, com um conteúdo
significativo, um saber da língua que é construído naquela pergunta de “porque”,
que se repete mil vezes aos quatro anos, ou do descobrir que caqui, chama caqui e
não “cenoura bonita”, e a partir de seu modo oral, organizar essas unidades
linguísticas, dominá-las, para só depois de dominadas associar aos caracteres do
alfabeto que elas representam. Infelizmente meus amigos, o que acontece na
realidade escolar, é que a criança já traz muitos desses conteúdos e compreensões
(metalinguísticos) e eles raramente são valorizados e estimulados se priorizando a
produção escrita.
Falo isso, apresentando a vocês os achados dos estudos científicos que
apontam para do desenvolvimento da consciência fonológica em crianças em fase
de alfabetização, na década de 70 por exemplo, num estudo pioneiro, Morais e sua
equipe (MORAIS et al., 1979) constataram uma semelhança entre dificuldades de
subtrair fonemas no início da palavra em crianças e suas dificuldades na
alfabetização, concluindo a ​“consciência da fala como uma sequência de sons” e
que a mesma seria uma consequência da escolarização formal. Em 1983, Bradley e
Bryant publicaram um estudo intitulado ​“Categorizing Sound and Learning to Read -
A Causal Connection”, onde analisaram o desempenho de pré-escolares em tarefas
de leitura e um treinamento em consciência fonológica, esses alunos divididos em
diferentes com grupos com e sem instrução (de consciência fonológica) e
concluíram que os grupos que receberam intervenção apresentavam leitura superior
às que não recebiam.
Meus amigos, a promoção da reflexão metalinguística, essa oportunidade do
pequeno “saber o que sabe” sobre sua linguagem, possibilita momentos de treinar
da capacidade de análise, de síntese e segmentação da cadeia de fala, do contínuo
sonoro em frases, dessas últimas em palavras, das palavras em sílabas e estas nos
sons que as compõem, um trabalho com rimas, parlendas, adivinhações e
brincadeiras com a oralidade são investimento únicos e inestimáveis no
desenvolvimento dos nossos pequenos.

Vamos pensar mais um pouquinho comigo, analisando essa sequência de fala


transcrita:
(1) Acho / que / hoje / vai / chover.

(2) A / cho / que / ho / je / vai / cho / ver.

(3) A / ch / o / qu / e / ho / j / e / v / a / i / ch / o / v / e / r.

Nós podemos perceber que a separação das frases se intensifica de (1) à (3),
de forma gradual, em (1) poderíamos destacar as palavras separadas por “/”, onde
naturalmente seria separado por espaços vazios, muitas vezes motivo de confusão
infantil, as crianças comumente hipersegmentam (separa demais) como em ​“a cho
que ho je vai cho ve​” ou hiposegmentam (une demais) em ​“achoqueho jevaicho ver”​,
na etapa de Consciência de Palavra e Frases, representada em (1) um dos
objetivos estaria relacionado a identificação de da palavra enquanto elemento
sintático, favorecendo a superação dessas dificuldades. Em (3) as atividades
exigem uma percepção mais complexa, por se trabalha no nível dos fonemas ou da
Consciência fonêmica e consequentemente o grau de dificuldade das atividade
intensifica. Em (2) temos uma ideia de segmentação à nível silábico e nessa fase a
criança trabalha operações silábicas que permitem identificar essas partes em
outras palavras e transpor essas unidades para compor novas palavras como “ca /
ma” e “ma / ca”.
Vocês já conseguem perceber o desenvolvimento de atividades de
consciência fonológica como uma ponte para que os pequenos avancem na
organização da sua linguagem se aproximando das ideias de código alfabético, e
posteriormente produzir uma escrita mais adequada. Mas isso sempre irá exigir a
sensibilidade aos aspectos fonológicos da língua, a capacidade de identificar e de
manipular as unidades orais, um treino precede a introdução das unidades do
código alfabético. E essa é a sequência: 1- Consciência de Palavras e Frases; 2-
Consciência silábica; 3- Rimas e Aliteração; 4 - Consciência Fonêmica;
Despedida, mas não um adeus ou tchau, mas um “vamos começar a pensar
juntos?”, vos escrevo apresentando esse material, não no intuito de criar uma
prática de reprodução mecânica, que substitua procedimentos antigos, mas sim
como um primeiro compartilhar saberes práticos e teóricos que indiquem caminhos.
Então preciso saber lá no grupo, você quer dialogar?
Deixo algumas sugestões de atividades iniciais. Um abraço saudoso à todos.

Atenciosamente,

Erickson Jones Lima

Anexo I - Sugestões de Atividades

Atividade 1- “Fui na feira comprar…”


(Estimular a memória auditiva e memória de trabalho):

Em um círculo os participantes escolhem uma fruta ou verdura, memorizam seu


nome, pois os mesmo serão chamados pela fruta que escolheram. Um
participante inicia a brincadeira dizendo ​“Fui na feira comprar BANANA...”​, quem
tem por nome BANANA responde ​“(BANANA) não tinha o que tinha era (MAÇA)”​,
e assim sucessivamente até que todos sejam mencionados.
O objetivo é memorizar todos os nomes e sai quem disser um nome errado.

Atividade 2 - “Formando frases” - Jogo Livre


(Sondagem vocabular dos participantes)

Materiais: Figuras de animais, objetos etc.

O jogo inicia com todas as figuras distribuídas na mesa, com o desenho para
cima, para que os participantes possam vê-las e sejam convidados a perceber.
2.1: Abordagem inicial -​ ​“Como podemos chamar cada um desses desenhos?”​;
- Existem desenhos parecidos/diferentes, Porque?; - Poderíamos juntar desenhos
parecidos, será que formamos grupo?; - Poderíamos dar nomes a esses grupos?
Conforme as respostas os participantes exploram e organizam as figuras.

2.2 - “Formando frases”


Objetivo: Favorecer a compreensão de que as frases são pequenos textos;
Identificar e analisar as palavras e frases;
Materiais: - Figuras de animais, objetos etc.
- Fichas;

Com as cartas anteriores viradas com os desenhos para baixo, os participantes


deverão escolher duas cartas e terão que formar frases com elas. Em seguida,
usando fichas, os participantes deverão preencher as palavras existentes entre as
figuras. Todo o grupo ajudará a contar quantas palavras existem nas frases.

Atividade 3 - “Jogo do Absurdo”


(Compreender a importância gramatical do posicionamento e ordem das
palavras para o sentido das frases)

Materiais: - Figuras de animais, objetos etc.


- Fichas;

Os participantes deverão escolher duas cartas e terão que formar frases sem
sentido, ou seja, que fossem improváveis de acontecer, usando as fichas para
preencher as palavras existentes em sua frase. Todo o grupo ajudará a contar
quantas palavras existem nas frases, ganha quem produzir a frase mais absurda,
ou história mais absurda.

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