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São Paulo, 03 de outubro de 2019.

Ao Diretor Artístico do Theatro municipal de São Paulo, Sr. Hugo Possolo.

CARTA DOS CANTORES DO OPERA STUDIO


Nós cantores do Opera Studio do TMSP manifestamos, por meio desse documento, nossa
insatisfação diante da proposta de ajuda de custo recebida para participar do
espetáculo “O que é, o que é, o que é?”, que consiste de R$200,00 por cada uma das
quatro récitas previstas para os dias 10, 11 e 12 de outubro de 2019.
Há muitos e determinantes fatores que endossam essa posição, resumidamente expostos
abaixo.
1. O valor oferecido é extremamente baixo para os serviços de um(a) cantor(a)
profissional. Como exemplo comparativo, empresas de músicos para cerimônias de
casamentos e eventos oferecem um valor nessa faixa, em circunstâncias que sequer de
longe se igualam à responsabilidade e exposição de se apresentar no palco do TMSP,
e carregando o nome do TMSP. Reconhecemos a boa-fé da direção do TMSP ao ter
dobrado a proposta inicial de R$100,00, mas é fato que o valor ainda é irrisório.
2. A participação do Opera Studio pode ser considerada pequena em termos de
duração, mas é justamente a competência técnica e artística destes profissionais
que possibilitou, dentro de tão pouco tempo, preparar os números cênico-musicais
que foram propostos. Competência que não é própria de aprendizes em formação, mas
de profissionais especializados na linguagem operística.
3. A natureza do trabalho do Opera Studio é de especialização de profissionais, e
não de formação. Os cantores do Opera Studio não são estudantes a quem se oferece
uma ajuda de custo para sua participação em um espetáculo, mas profissionais aos
quais deve ser oferecida uma proposta de remuneração à altura de sua expertise.
4. O Opera Studio apresenta-se sem remuneração em espetáculos que fazem parte da
estrutura do curso, o que não é o caso da presente produção. Sendo um espetáculo
alheio ao curso, os cantores do Opera Studio devem ser remunerados, como se
remuneraria qualquer outro profissional que viesse a assumir, por convite ou
audição, as funções designadas.
5. Para se ter uma base de comparação, no ano de 2018, os cantores do Opera Studio
participaram do espetáculo “Estação Villa-Lobos” recebendo R$500,00 por récita cada
um (um valor que já era baixo para um profissional). Uma manutenção desse valor já
significaria uma perda real em parâmetros de remuneração, devido ao processo
inflacionário. A queda desse valor em mais de 50% é um enorme retrocesso, e uma
injustiça aos cantores.
6. Por boa-fé e proatividade, os cantores do Opera Studio vem ensaiando mesmo sem
que houvesse nenhuma proposta formal de participação e remuneração, e sem acordo
firmado em contrato, como é de praxe em qualquer produção artística profissional. É
extremamente delicado que apenas em 2 de Outubro, a praticamente uma semana para a
estreia, recebamos um proposta de contratação a troca de uma “ajuda de custo” (e
não um pagamento propriamente dito) tão baixa, até mesmo para uma ajuda de custo.
7. Ainda em consideração a valores, vários cantores do Opera Studio abriram mão de
outras propostas de trabalho, ou cancelaram outros compromissos profissionais, para
poder estar nos ensaios e récitas do presente espetáculo, contando com uma
remuneração, não alta e nem média, mas minimamente coerente com a demanda artística
e profissional desse espetáculo. Diante do oferecido, esses cantores teriam
prejuízo considerável em suas finanças pessoais.
Em contra proposta ao oferecido, sugerimos alternativas:
1. O pagamento mínimo de R$500,00 por récita para cada cantor(a), tomando por base
o cachê oferecido em 2018 no espetáculo “Estação Villa-Lobos”;
Ou
2. A participação, não dos onze cantores escalados previamente, mas de apenas
quatro, mantendo mais ou menos a mesma estrutura musical e cênica que vem sendo
ensaiada. Estes quatro cantores seriam escalados pelo maestro responsável pelo
Opera Studio, e dividiriam entre si o montante que se destinaria a pagar os onze.
Assim, cada cantor receberia R$2200,00, o que consideramos um valor adequado à
responsabilidade, nível de exposição e demanda técnica e artística para este
espetáculo, dentro dos patamares do TMSP, e com o curto tempo de preparação
oferecido.
Enfatizamos ainda, por fim, que:
1. este documento expressa unicamente o posicionamento dos cantores(as) do Opera
Studio, e não contou com qualquer envolvimento do quadro de professores do grupo;
2. Colocamo-nos abertos a negociar diretamente com a direção do TMSP, na figura do
diretor artístico Sr. Hugo Possolo, em caráter urgentíssimo, buscando entendimento
boa e sequência de ensaios e récitas. Pelo imediatismo da situação, é necessária
uma reunião com o o Sr. diretor em pessoa, com os cantores, no prédio da EMMSP.
3. Caso não haja disposição do TMSP em negociar os termos de contratação, em face
do que foi relatado no presente documento, nós cantores do Opera Studio declinamos
o convite a participar do espetáculo. É, no entanto, da nossa vontade, permanecer
nessa produção, e chegar a um entendimento em termos justos.
4. Na data de hoje, 3 de outubro, participaremos ainda do ensaio agendado para Às
17h30 na Área de Convivência da Praça das Artes. Porém, a partir deste, nossa
presença está suspensa até que a reunião reivindicada aconteça.
Sem mais, assinam este documento os cantores e cantoras do Opera Studio do TMSP.

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