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DIREITO CIVIL II

Aula 02 – Conceito e Evolução do Fenômeno Contratual

Livro: Teoria Geral dos Contratos, Judith Martins Costa.


Qual é a espaço temporal que o Contrato está apto a produzir efeitos?
Existem comportamentos das partes que são conclusivos ou prorrogativos do contrato

I – Conceito e Evolução Histórica


1.1 Origem
É um fenômeno social, portanto é fluido.
Mesmo nas sociedades arcaicas os antropólogos identificam uma ideia rudimentar de contrato, tal
como o escambo (troca) e a doação.
O espírito das sociedades arcaicas é o grupo, uma lógica de grupo, o que afasta a ideia moderna de
contrato.
A noção de contrato começa a se densificar pelo direito romano, principalmente no aspecto
legislativo. Posteriormente os contornos são alterados pela modernidade a partir de uma perspectiva
filosófico-jurídica.
O Contrato é o principal meio de circulação de riquezas na sociedade. Existem outras formas
residuais de circulação de riqueza, tais como a tributação e a sucessão.
O Contrato é a principal forma de negócio jurídico, cuja ideia inseriu-se no ordenamento a partir da
promulgação do Código Civil de 2002, e tem como inspiração a cultura jurídica germânica.
O cerne do negócio jurídico é a explanação da vontade, “é o ato de vontade apto a gerar efeitos jurídicos”.
Os contratos são as principais formas geracionais de vínculo obrigacional, contudo, as obrigações
comportam outras formas geradoras, tais como a responsabilidade civil.

1.2 Conceito
Depende da inserção do contexto econômico-social.
Acordo livre de vontades, sem intervenção do controle do Estado, com a intenção de se obrigar. Essa é uma
perspectiva liberal sobre o contrato.
- O Welfare State trouxe conceitos novos para reduzir essa liberdade, trazendo balizas para as relações
contratuais, especialmente na esfera trabalhistas, mas também hoje temos efeitos sobre a relação
consumerista.
Três Perspectivas Informais do Fenômeno Contratual de Villela:
a) Atos Operacionais: contratação de serviços sem o requisito formal
b) Documento Material: termo escrito
c) Relações Jurídicas: as relações entre as partes consideradas como o contrato em si
O conceito de contrato varia conforme o discurso:
- Amplo: contrato como acordo, ou seja, uma adequação entre vontades. Ex: tratados, acórdãos,
casamento.
- Restrito: conceito jurídico-civil, nas palavras de Caio Mário Pereira da Silva:
“Acordo de vontades, na conformidade da lei, com a finalidade de adquirir, modificar
ou extinguir direitos”.
A grande baliza dessa noção é a lei, o que a afasta do conceito de contrato fundamentado no
liberalismo. Ainda estudando o contrato pela perspectiva legalista, é importante relembrar que isso
implica nos requisitos de validade do NJ (art. 104) – ato de vontade, formal prescrita ou não vedada
em lei e objeto lícito.
Existe uma perspectiva contratual que o qualifica como operação econômica, desvinculando-o da
esfera puramente jurídica, quem defende essa tese é o italiano Enzo Roppo.
Smart Contracts: muito utilizados no mercado financeiro, ele opera por outro método que não pelo
acordo de vontade. No caso do mercado financeiro ele funciona por meio de um algoritmo.
Os contratos de adesão têm trazido para contemporaneidade a discussão acerca do alcance desse
acordo de vontade que seria requisito para o fenômeno contratual.

1.3 Elementos
- Estrutural: como estruturar o negócio jurídico? Aproxima-se muito da ideia de acordo de vontades.
- Funcional: a função de um contrato é produzir efeitos jurídicos.
1.4 Direito Romano
A base do direito romano é a base do direito civil contemporâneo dos países de tradição no civil law.
- Não é um direito romano unívoco
- Tem estruturação na figura do contrahere (contrair, juntar)
Requisitos Contratuais:
i. Tipicidade: preenchimento de balizas normativas, isto é, os tipos contratuais existentes
em lei: a venda, a locação, o mandato e a sociedade
ii. Formalidade: certos ritos deviam ser observados na celebração do contrato
iii. Responsabilidade patrimonial: a responsabilidade patrimonial no direito romano dava-
se a partir da responsabilidade pessoal da pessoa, respondendo com seu próprio corpo
pelo inadimplemento de dívidas.
- Essa concepção muda a partir de 428 a. C, com a lex rotelia papiria, em que a
responsabilidade patrimonial se tornou efetivamente patrimonial, a pessoa responde
com seus bens.
Com a complexificação das relações sociais, surgiram outras figuras que não eram abrangidas pela
tipicidade contratual. À vista disso, criaram outras categorias para abranger essas situações:
- Pactum: não tem a ação primariamente
- Contractum: depois de um tempo os pretores passaram a dotar de ação os pactos celebrados
atipicamente.
Hoje é o que se convém chamar de conventio, ou convenção.
1.5 Modernidade
A modernidade traz a percepção jurídico-filosófica para o fenômeno contratual.
- Canonistas: dois conceitos ganham força nesse período - consenso e fé jurada (a palavra vincula).
- Jusracionalismo: o homem é livre, tendo como contribuição os conceitos de laicidade e autonomia
da vontade.
- Mercantilismo: diminuição do formalismo.

1.6 Liberalismo
1.6.1 Perspectivas de contrato
A concepção contratualista de contrato surge no contexto liberal sobre as balizas da doutrina
smithniana.
Ela se contrapõe a concepção solidarista de contrato que emerge posteriormente no Welfare State.
1.6.2 Balizas:

a) Oposição indivíduo-estado: as coisas devem ser resolvidas entre os privados


b) Autonomia da vontade: baliza do direito privado como um todo; contudo, esse dogma se insere
no âmbito formalista da vontade
c) Liberdade econômica: contratar ou não contratar, com quem contratar e o que contratar.
d) Concepção formalista de liberdade e igualdade: as pessoas são livres e iguais para contratar,
não sendo evidenciadas as diferenças materiais.
Villela: vê no contrato um equilíbrio momentâneo de forças antagônicas.
Não Intervenção: o Estado não deve intervir economicamente ou em qualquer âmbito que seja
relativo ao privado - Público x Privado
Lei entre as Partes: considerando-se as balizas acimas elencadas, o contrato constitui uma forma de
lei entre as partes contratantes
- Instrumento Jurídico da Vida Econômica: a Constituição Estatal pouco importa para a regulação
das relações jurídicas contratuais.
Code Napoléon – Art. 1134: principal fonte legislativa da expressão liberal de contrato
Distorções: monopólio, jornada de trabalho excessiva, não intervenção judicial nas relações
contratuais, etc.
- Essas distorções foram o escopo para a mudança do paradigma liberal para o paradigma solidarista
1.6.3 Princípios:
a) Autonomia da vontade: liberdade de escolha: o que, como e quando contratar;
b) Obrigatoriedade: uma vez firmado o contrato, ele deverá ser cumprido;
c) Consensualismo: liberdade de forma;
d) Relatividade: o contrato só gera efeito entre as partes
Esses princípios se mantêm na contemporaneidade, contudo, no solidarismo são dados outros
contornos e são agregados novos princípios.

1.7 Solidarismo
1.7.1 Welfare State
O processo de transformação de um paradigma ao outro é lento.
A perspectiva do papel do Estado sofre uma mudança total, passando-se a se admitir uma grande
intervenção na seara econômica após a crise de 1929.
As distorções do paradigma liberal são os grandes vetores da transformação.
As relações trabalhistas são as propulsoras para a evolução da noção de contrato e do paradigma
estatal.
- Efeitos Econômicos do Industrialismo
- Direitos Econômicos e Sociais
1.7.2 Igualdade Material
As partes não são mais iguais do ponto de vista formal, e sim do ponto de vista material, o que
justifica a intervenção do Estado para o contrapeso dessa igualdade, ex: relação trabalhista em que o
trabalhador é o polo mais fraco em relação ao empregador.
1.7.3 Dirigismo Contratual
Poder Judiciário: o poder judiciário passa a intervir nas relações contratuais injustas. Ex: Caso da
Prefeitura de Bourdeau.
- A intervenção do judiciário começou a ganhar força, e hoje esse controle é fortemente exercido.
Ex: relação consumerista, trabalhista etc.
Legislação: processo legislativo para prever a intervenção judicial e a previsão de balizas contratuais.
- Legislação situacional
- Legislação de apoio: Legislação Trabalhista e Previdenciária, legislação de perspectiva econômico e
social com fins de suprir a desigualdade material. A legislação consumerista também é um bom
exemplo, já a legislação civil continua a ver a igualdade entre as partes.
Ex: Lei Faillot (1918): readequação dos contratos que foram atingidos pela Primeira Guerra Mundial
– Revisionismo Contratual
1.7.4 Novos Princípios
a) Boa-fé: deveres incorporados às relações obrigacionais;
b) Equilíbrio contratual (justiça contratual): a intervenção estatal pode ser feita em caso de
força maior ou evento fortuito;
c) Função social: o contrato exerce uma função social;

II – Crise do Contrato
A intervenção acentuada do Estado, descaracteriza o contrato como lei entre as partes.
Ademais, o século XX representa o momento de massificação do consumo, em que há um avanço
exponencial dos contratos de adesão.
- As partes não tem liberdade de pactuação, simplesmente aderem à uma relação unilateralmente
definida.
A morte do contrato é uma teorização do common law (Gilmore), em que os contratos estariam
morrendo frente à absorção da responsabilidade civil, o direito dos danos.
- Relativização da importância do contrato.
Essa crise do contrato criou a necessidade de ressignificação do contrato a partir dos fenômenos
contemporâneos.
Aula 03 – Aspectos Contemporâneos
O fenômeno contratual contemporâneo é fragmentado, observa-se a existência da lógica de
microssistemas, em que inúmeros sistemas convivem em paralelo. Ex: código de defesa do
consumidor e o código civil.
- Pluralismo de fontes: CLT, CDC, CC, LRI etc.
Na contemporaneidade o privado convive com o público, de modo que há eficácia horizontal de
direitos fundamentais: há proteção dos direitos fundamentais nas normas travadas entre
particulares? Sim! Hoje se entende que é possível se aplicar a lógica dos direitos fundamentais entre
entes privados.
- O contrato, portanto deixa de ser a simples expressão da vontade, com base na eficácia horizontal
de direitos fundamentais, passando a possuir uma estrutura de conteúdo complexo (Villela).
Atualmente existe uma inventiva de retomada de certos valores contratuais liberais por meio da
Medida Provisória 881.

III – Princípios
1. Princípios Clássicos
Os princípios clássicos são os princípios liberais [Olhar ponto 1.5 da Aula Anterior]
1.1 Autonomia da Vontade
A autonomia não é mais tão ampla, encontrando balizas na intervenção do judiciário
- Etimologia: devido as mudanças na perspectiva contratual, alguns autores consideram mais
apropriado denominas de Autonomia Privada.

→ Releitura
→ Limitações: limitações sempre existiram, ex: agiotagem e usura de acordo com a fé cristã,
contudo, ganharam mais força e mais espaço.
1.2 Princípio da Obrigatoriedade
O princípio da obrigatoriedade significa que você tem que necessariamente cumprir as obrigações,
muita relação com o instituto da fé jurada do canonismo.
Força Obrigatória: lei entre as partes.
Intangibilidade: o conteúdo do acordo só pode ser alterado mediante a anuência de ambas as partes.
Pacta Sund Servanda
Sem Análise de Circunstâncias: na perspectiva clássica não há análise das circunstâncias, então se
acontecer algo extraordinário como uma guerra ou um desastre natural, o contrato não será
comprometido. Ex: caso francês onde o valor da água é reajustado em razão da desvalorização da
moeda, tendo o juiz mantido o acordo inicial entre as partes.
Nesses casos, aplica-se a Teoria da Imprevisão, sob os fundamentos do art.317 do CC/02:
“Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida
e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto
possível, o valor real da prestação”.

Assim o contrato terá seu conteúdo preservado, sendo apenas revista a forma de adimplemento.

Segurança Jurídica
Intervenção Estatal – Execução:
Art. 389 - O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade
resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de
culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

Se a obrigação não for cumprida, será executada adicionando-se perdas e danos.


Art. 394 CC: Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no
tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
Irretratabilidade: o princípio da obrigatoriedade impõe que não se pode voltar atrás, devendo haver
intervenção estatal para que o negócio seja cumprido, por meio da execução, conforme o acordo
estabelecido entre as partes.
Atenuações: em caso de abuso de direito, como em empréstimos abusivos com juros muito altos, o
contrato permanece, mas atenua-se o acordo.
1.3 Princípio do Consensualismo
Liberdade de Forma: o contrato se forma pelo simples consenso e acordo. Podendo ser realizados
em qualquer formato: pela via escrita, oral, etc. Contudo, o ordenamento impõe algumas limitações
probatórias, nos casos em que a forma for prevista em lei, ela deverá ser seguida, sob nulidade do
negócio jurídico.
Art. 107 – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma
especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
Art. 104, III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Art. 108 – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial
à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior
a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Um bom exemplo de forma prescrita são os acordos celebrados sobre imóveis, pois há a necessidade
de escritura pública no cartório de imóveis para a publicização da transferência da propriedade.
- O contrato não transfere a propriedade, apenas o registro o faz
- Constitui-se em uma obrigação de dar.

1.4 Princípio da Relatividade


O contrato gerará efeitos inter partes (plano da eficácia)
- A autonomia funciona como reflexo entre as partes
- O CC/02 não faz menção expressa a este princípio, contudo ele continuar a expressar relevância,
como tem feito desde o direito romano.
- Núcleo Subjetivo: quem está vinculado? Apenas as partes suportam os efeitos do contrato, o terceiro
não pode ser afetado.
- Núcleo Objetivo:

• Eficácia Constitutiva: constitui-se uma relação jurídico com a contraparte;


• Eficácia Normativa: o contrato vira norma entre as partes.
• Eficácia Direta: inter partes
• Eficácia Indireta: função social do contrato, tutela externa de crédito. Ex: caso do Zeca
Pagodinho
- Exceções:
a) Estipulação em favor de terceiro: Ex: seguro de vida
b) CDC - Bystanders: não fazem parte do contrato, mas podem ser afetados pela estrutura
contratual.
c) Locação (art. 11 da Lei 8.245): Morrendo o locatário, ficarão sub - rogados nos seus direitos e obrigações.
- Aplicação principiológica
- RESp 1.409.849/2016: Cláusula de pagamento em dobro no mês de dezembro do aluguel em
shopping. Alegação de cláusula abusiva que foi rejeitada pelo STJ. O Tribunal entendeu se tratar de
relação empresarial, devendo-se manter as cláusulas contratuais. Respeito pela autonomia das partes.

Aula 04 – Princípios Contemporâneos


2. Princípios Contemporâneos
- Massificação: relações contratuais que são feitas por adesão.
- Queda do paradigma liberal
- Intervenção
- Cláusulas Gerais
- Recurso abusivo dos princípios
Panprincipiologia [NÃO SEI O QUE É ISSO]
2.1 Princípio da Boa-Fé Objetiva
- Boa-fé Romana: fides
- Origem Germânica: teu und glauben
- Boa-Fé Subjetiva: estado de consciência do agente, ter consciência ou não de estar agindo em
conformidade com o direito.
Boa-Fé Objetiva:
• Nomartizada pelo CC/02
• Cláusula Geral de Imposição de Um Padrão de Conduta
• Funções:
a) Interpretativa: art. 113 - Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
b) Integrativa: art. 422 - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
c) Limitativa: art. 187 - Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.
• Deveres Laterais: cooperação, informação e colaboração
2.2 Princípio do Equilíbrio Contratual
O contrato pode sofrer ao longo do tempo os efeitos de eventos de força maior ou caso fortuito, em
todos os casos, eventos imprevisíveis que desequilibram a relação contratual, sendo necessária a sua
revisão.
- Justiça Contratual
- Estático x Dinâmico: o contrato é uma realidade que se adapta através do tempo, jamais será estático
- Concepção Negativista: alguns doutrinadores defendem que esse princípio não existe, dentre eles o
Gerson Branco. Ele acredita que as relações naturalmente sofrem alterações, sendo esses os riscos
do contrato. O equilíbrio pode surgir como regra, jamais como princípio.
Outros doutrinadores acreditam que existe uma equivalência aproximada, afastando a concepção
negativista. A equivalência da relação contratual não precisa ser exata, mas aproximada.
Ex. RESp 1.723.690
- Quebra da Obrigatoriedade
Sinalagma Genético x Funcional
Sinalagma significa equilíbrio.
A tentativa de controlar o sinalagma genético as seguintes hipóteses:
a) Lesão (art.157): visa a revisão do contrato diante dos casos de premente necessidade ou
desconhecimento.
b) Estado de Perigo (art.156)
Alteração da Circunstâncias
Teorias da Imprevisão (art.317)

2.3 Princípio da Função Social


Art. 421: Redação alterada, pela MP 881 (PL 699/2011, MP 881) aprovada em 21/08/2019
Solidariedade x Socialidade
A ideia de solidarismo, isso é, fazer bem ao próximo parece uma anomalia do legislador.
Controvérsias sobre o Alcance:
a) Negativistas
A função social traduz-se em uma polêmica do direito civil, visto que a função social não deveria ser
a razão de um contrato, vez que a função de um contrato é a circulação de riqueza, não podendo
jamais ser colocada no rol dos princípios, é uma operação econômica.
Ademais cada contrato exerce uma especificidade na medida em que há espécies diferentes para
negócios jurídicos diferentes – Função típica de cada contrato
b) Afirmativistas
b.1) Função interna – Solidaristas:
Tartuce: a função social funciona como instrumento para a mitigação da força obrigatória,
proteção dos vulneráveis, reduz a onerosidade, visa a dignidade da pessoa humana e controla
cláusulas abusivas.
Críticas: essa visão não se adequa à realidade do contrato, possibilita uma intervenção
demasiada, retórica.
b.2) Função externa:
Ela se baseia na socialidade, isto é, um dos princípios da codificação (Miguel Reale). A
socialidade diz que o contrato está inserido num contexto social.
A função externa se dá porque o contrato extravasa as partes.
A socialidade quebra a relatividade – Teoria do Terceiro Cúmplice: um terceiro que age em
conjunto a uma dar partes causando um prejuízo à estrutura contratual
A quebra se dá em virtude do contexto social/factual em que se insere o contrato.
Exemplos: Zeca Pagodinho, Ipiranga, art. 608 e Seguro Automóvel

Aula 05 – Pressupostos e Requisitos dos Contratos


I – Introdução
Os pressupostos estão ligados ao plano da existência.
Os requisitos estão ligados ao plano da validade.
Art. 104: A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

II – Requisitos Subjetivos
a) Duas ou Mais Pessoas
- Partes x Pessoas: partes são os polos do contrato e pessoas são os agentes que compõem
o contrato, podendo existir mais de um agente em um dos polos.
- Não é possível celebrar contrato consigo mesmo.
b) Personalidade Jurídica
- Capacidade de Direito: art. 1º do CC/02
- Entes Despersonalizados: apesar de não possuírem personalidade jurídica, possuem
titularidade de direitos e deveres na ordem civil.
- Animal não pode figurar como parte em um contrato
c) Capacidade de Fato
- Incapaz:
• Absoluto: celebra negócios jurídicos sob representação
• Relativo: celebra negócios jurídicos sob assistência
- Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15): Deixam de ser absolutamente
incapazes os “que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática” dos atos da vida civil e de ser relativamente incapazes “os
excepcionais, sem desenvolvimento mental completo”.
d) Legitimidade
A legitimidade concerne a titularidade do bem contido no acordo.
e) Aptidão Específica de Contratar
- Limitações
- Art. 496/ art. 497, I: Se um pai quiser vender um bem a um dos filhos, ele precisa da
autorização dos demais, mas a doação não exige esse requisito, pois é considerada
adiantamento de herança.
Nesses casos, o ordenamento entende que pode haver fraude na compra-venda.
- Outorga Uxória/Marital: arts. 1.647 ao 1.650 do CC/02

f) Consentimento
A vontade deve ser livre. Tem como fulcro a autonomia da vontade
- Os vícios abrem espaço para anulabilidade do contrato (Art.171): erro, dolo, lesão, coação
e estado de perigo.
- Prescrição da ação de anulabilidade prevista no art. 178.
III – Requisitos Objetivos
a) Licitude
A licitude é referente ao objeto, em contraste à lei.
b) Possibilidades
A análise deve ser analisada no contexto. Não é possível, por exemplo, negócio a respeito de
imóvel a ser herdado, quando ainda está vivo o proprietário.
Obs: Bens Futuros – não é impossível a negociação de bens futuros, em razão da existência
do instituto res esperata. Ex: venda de safra.
c) Determinação
Determinar a obrigação contida no contrato.
- Distinção de outros bens, principalmente em obrigação de dar coisa certa.
d) Economicidade
O contrato só é contrato se envolver valores patrimoniais.
- Patrimonialidade

IV – Formas
- Art. 107: Princípio do Consensualismo
- Segurança
- Fundamentos:

• Publicidade: tornar o ato público


• Reflexão: o agente deve refletir detidamente sobre o negócio
• Prova: instrumento probatório de realização do negócio
- Forma livre
- Art. 109 de Forma Convencional
- Forma Especial:

• Forma Pública: Ex. Art.108 – Doação


• Forma Escrita: arts. 541 e 819

Aula 06 – Classificação dos Contratos


1. O Que é e Porque Classificar os Contratos?
Obs: Ausência de Uniformidade

2. Classificações Mais Recorrentes/Relevantes

a) Quanto à Tipificação Legal


Típicos: o Legislador por questão de tradição ou por necessidade do mercado optou por
introduzir na lei alguns modelo/tipos de contrato, os quais estão dispostos no capítulo de
contratos em espécie (Título VI – Das Várias Espécies de Contrato).
- Compra e Venda
Atípicos: é a teoria geral do contrato (art.421 ao 450)
- O professor acredita que os contratos mistos são apenas uma forma de contrato atípico.
Os contratos mistos são aqueles que misturam características de vários contratos típicos.

b) Quanto à Denominação
A denominação é uma classificação dada pelo próprio mercado.
Nominados: são aqueles comumente conhecidos e aplicados
Inominados: são aqueles que decorrem da criatividade do contratante

c) Quanto à Forma?
Puramente Consensuais: a grande maioria dos contratos é celebrada sob essa forma
Exceções ao Consensualismo:
Formais/Solenes: são aqueles cuja diferenciação se encontra no plano da validade.
- Os efeitos só serão gerados se observadas as solenidades. Ex: registro do contrato em
cartório (bens reais acima de 30 salários mínimos), fiança e doação.
Reais: são aqueles cuja existência depende da tradição.
- São exemplos: doação manual, depósito, mútuo e comodato

d) Quanto à Reciprocidade das Prestações


Onerosos: quando as contraprestações são recíprocas
Gratuitos: quando não há contraprestação de uma das partes
- Regime de responsabilidade flexível
- Interpretação restrita (art.114), mais benéfica àquele que se sacrifica pelo contrato
- Art. 392: Limitação de Responsabilidade
- Súmula 145 do STJ: no transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só
será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo
ou culpa grave.
Obs: Dolo e Culpa Grave são sinônimos.

e) Quanto às Obrigações das Partes:


Unilaterais: só gera obrigações a uma das partes A - B
Ex: mútuo.
Obs: nem todo contrato unilateral é gratuito, o mútuo é oneroso.
Bilaterais: existem obrigações recíprocas A – B, B – A
Plurilaterais: todas as partes envolvidas geram obrigações recíprocas entre si.
- Esse é o modelo de contrato de sociedade

Aula 07 – Regimes Jurídicos

I – Classificação
a) Civis
b) Empresariais
c) Consumo

II – Contratos Empresariais
Indicação de Literatura: Paula Forgioni

• Atividade
• Empresa
• Vetores:
a) Lucro
b) Função Econômica
c) Custos de Transação
d) Egoísmo do Agente
• Enunciado 21 CJF (Conselho da Justiça Federal): “A função social do contrato, prevista no art. 421
do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato
em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito”.
- São posições doutrinárias
- Não são vinculantes
• Amenização da Boa-fé: depende de uma análise contextual

III – Contratos de Consumo


1. Aspectos Históricos
- Standartização: necessidade de tornar mais rápidas as negociações, reduzindos custos.
- Sociedade de Consumo
- Acidentes
- Tecnologia
- Vulnerabilidade do consumidor diante da grandes empresas

Nas relações de consumo há a inversão do ônus da prova.

2. Constituição
- Art. 5º, XXXII: o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

- Art. 170: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: V – A defesa do consumidor;

- Art. 48 do ADCT: O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da


Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.

- Lei 8.078/90 – Antes x Depois: Código de Defesa do Consumidor

3. Relação de Consumo
Toda relação de consumo é uma relação jurídica

a. Sujeitos: consumidor e fornecedor


b. Objetos: produtos ou serviços
c. Finalidade: consumo como destinatário final

4. Consumidor
a) Destinatário Final (art. 2º do CDC): Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
b) Coletividade (art. 2º, §único do CDC): Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
- Nesse caso o exemplo caso são os entes despersonalizados;
- Outro bom exemplo são as associações, tais como a associação das donas de casa
c) Vítima de Evento Danoso (art. 17 do CDC): [...] equiparam-se aos consumidores todas as
vítimas do evento.
d) Exposição à Prática Comercial (art. 29 do CDC): [...] equiparam-se aos consumidores todas
as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

Nas hipóteses c e d a doutrina os denomina de consumidores por equiparação


4.1 Teorias
i. Maximalistas – Objetiva:
ii. Finalistas – Subjetiva:
O STJ como regra adota a teoria finalista, mas em alguns casos ele aplica o CDC.
Mesmo as Pessoas Jurídicas podem ser sujeito das relações de consumo, tendo em vista que
o STJ pacificou a questão de que a análise será casuística.

4.1.1 Jurisprudência
- Vulnerabilidade Técnica
- Caminhoneiro (REsp 716.877):
CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. DESTINATÁRIO FINAL. A expressão
destinatário final, de que trata o art. 2º, caput, do Código de Defesa do
Consumidor abrange quem adquire mercadorias para fins não econômicos, e
também aqueles que, destinando-os a fins econômicos, enfrentam o
mercado de consumo em condições de vulnerabilidade; espécie em que
caminhoneiro reclama a proteção do Código de Defesa do Consumidor porque
o veículo adquirido, utilizado para prestar serviços que lhe possibilitariam sua
mantença e a da família, apresentou defeitos de fabricação. Recurso especial não
conhecido. (STJ, REsp 716.877/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER,
TERCEIRA TURMA, julgado em 22.03.2007, DJ 23.04.2007 p. 257)

- Costureira (REsp 1.010.834):


PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA E
VENDA DE MÁQUINA DE BORDAR. FABRICANTE. ADQUIRENTE.
VULNERABILIDADE. RELAÇÃO DE CONSUMO. NULIDADE DE
CLÁUSULA ELETIVA DE FORO. 1. A Segunda Seção do STJ, ao julgar o
REsp 541.867/BA, Rel. Min. Pádua Ribeiro, Rel. p/ Acórdão o Min. Barros
Monteiro, DJ de 16/05/2005, optou pela concepção subjetiva ou finalista de
consumidor. 2. Todavia, deve-se abrandar a teoria finalista, admitindo a
aplicação das normas do CDC a determinados consumidores profissionais,
desde que seja demonstrada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou
econômica. 3. Nos presentes autos, o que se verifica é o conflito entre uma
empresa fabricante de máquinas e fornecedora de softwares, suprimentos, peças
e acessórios para a atividade confeccionista e uma pessoa física que adquire uma
máquina de bordar em prol da sua sobrevivência e de sua família, ficando
evidenciada a sua vulnerabilidade econômica. 4. Nesta hipótese, está justificada a
aplicação das regras de proteção ao consumidor, notadamente a nulidade da
cláusula eletiva de foro. 5. Negado provimento ao recurso especial

- Produtor Rural (REsp 914.384):


DIREITO CIVIL - PRODUTOR RURAL DE GRANDE PORTE - COMPRA
E VENDA DE INSUMOS AGRÍCOLAS - REVISÃO DE CONTRATO -
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - NÃO APLICAÇÃO -
DESTINAÇÃO FINAL INEXISTENTE - INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA - IMPOSSIBILIDADE - PRECEDENTES - RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE PROVIDO. I - Tratando-se de grande produtor rural e o
contrato referindo-se, na sua origem, à compra de insumos agrícolas, não
se aplica o Código de Defesa do Consumidor, pois não se trata de
destinatário final, conforme bem estabelece o art. 2º do CDC, in verbis :
"Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final". II - Não havendo relação de consumo, torna-se
inaplicável a inversão do ônus da prova prevista no inciso VIII do art. 6º, do
CDC, a qual, mesmo nas relações de consumo, não é automática ou compulsória,
pois depende de criteriosa análise do julgador a fim de preservar o contraditório
e oferecer à parte contrária oportunidade de provar fatos que afastem o alegado
contra si. III - O grande produtor rural é um empresário rural e, quando adquire
sementes, insumos ou defensivos agrícolas para o implemento de sua atividade
produtiva, não o faz como destinatário final, como acontece nos casos da
agricultura de subsistência, em que a relação de consumo e a hipossuficiência
ficam bem delineadas. IV - De qualquer forma, embora não seja aplicável o CDC
no caso dos autos, nada impede o prosseguimento da ação com vista a se verificar
a existência de eventual violação legal, contratual ou injustiça a ser reparada, agora
com base na legislação comum. V - Recurso especial parcialmente provido.

5. Fornecedor
Art. 3º: Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos
e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão
pelo consumidor.

Associações/ Sociedades sem fins lucrativos: [NÃO SEI O QUE É TB]

6. Contratos no CDC
Vinculação da Oferta: a oferta tem que ser cumprida por parte do fornecedor, como regra geral.
- A exceção aqui é a regra do absurdo
Boa-fé: a boa-fé sempre será analisada casuisticamente, dentro de um juízo de razoabilidade.
Interpretação (art. 47): As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.
*Vide art. 423 do CC/021
Controle: adesão/abuso
Contrato de Adesão (art. 54): Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas
pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
- Atributos:

• Predisposição
• Unilateralidade
• Rigidez
- Não se restringe ao consumo
- Cláusulas contratuais gerais: é espécie da qual o contrato de adesão é gênero, dentre seus
elementos estão a generalidade e a abstração.
- Interpretação (REsp 1.133.338): entendeu pela aplicação do art. 47 do CDC
- Termos claros (art. 54, §3º): Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e
com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo
a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

1Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à sua interpretação,
será adotada a mais favorável ao aderente.
- Limitação (art. 54, §4º): As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão
ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
7. Cláusulas Abusivas
Art. 51: elenca as hipóteses de nulidade de cláusula contratuais
*Vide art. 424 do CC/022
Exemplos:
- Súmula 302: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação
hospitalar do segurado.
- REsp 476.649 (Multa Moratória): entendeu pela violação do art.52, II, do CDC
- REsp 1.364.775 (Stent): reafirmou o entendimento do STJ que é nula a cláusula contratual que
exclua a cobertura de órteses, próteses e materiais diretamente ligados ao procedimento cirúrgico a
que se submete o consumidor.

Aula 09 – Formação do Contrato


1. Manifestação de Vontade
O contrato é formado pelo ACORDO de vontades. Para que ocorra esse encontro de vontades, é
necessário que a manifestação seja EXPRESSA ou TÁCITA.

A vontade antes de ser um elemento do negócio jurídico, é seu pressuposto. Ela pode ser dividida
em duas esferas: a externa e a interna. A primeira refere-se àquele elemento material, palpável do
declarante, ao passo que a segunda constitui-se em elemento psíquico, que deve ser exteriorizado para
ganhar efeitos jurídicos [VENOSA, p.181].

- É um elemento estrutural do negócio jurídico.

“O Consenso é o encontro de duas ou mais vontades”.

Quando a forma for livre poderão as partes escolher a formal oral ou escrita; particular ou pública.

O art. 111 do CC/02 traz regras para a vinculação da vontade diante do SILÊNCIO da parte,
contudo, o silêncio, via de regra, não deve ser aplicado como anuência3.

- Não deve ser confundido com a manifestação tácita, vez que ela deixa perceptível o consentimento
pelos atos e fatos externos do comportamento do agente. [VENOSA, p.183].

- Em qualquer situação em que se pretenda examinar o silêncio como manifestação da vontade, o


intérprete deve examiná-la pela perspectiva da boa-fé. [VENOSA, p.185].

Teoria do Comportamento Social Típico: concebida por Haupt e Larenz, pode ser concebida como
as atitudes que poderiam ser vinculativas; mesmo que a manifestação seja contrária, a ação criou a
vinculação. [PESQUISAR MAIS SOBRE]

2 Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a
direito resultante da natureza do negócio.
3 Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária

a declaração de vontade expressa.


2. Fases
Qualificação/fatos

A) Negociação Preliminar
B) Proposta ou Policitação
C) Aceitação

2.1 Negociações Preliminares


2.1.1 Tratativas

Outro nome para negociações preliminares dado pela doutrina.

“Essa fase de tratativas será tanto mais longa e complexa quando no futuro contrato existir um
interesse econômico relevante, um conteúdo complexo, a observância de determinada forma imposta
pela lei ou pelas partes etc”. [VENOSA, p.185]

Nessa fase ocorrem os seguintes atos: estudos/sondagens/indagações a respeito dos preços, dos
requisitos, das condições, e dos documentos necessários para a celebração do negócio jurídico

- Contratos Instântaneos/De Adesão:

- Liberdade x Vinculação

• Confiança: O caso emblemático no Brasil é o Caso dos Tomates. O comportamento


reiterado da SICA gerou uma confiança de que o negócio seria renovado por mais um ano.

No geral as negociações preliminares são não vinculativas, contudo, a indenização poderá ser devida
se houver a quebra da confiança. A configuração dessa hipótese se dá pelo preenchimento de dois
requisitos: (1) quebra abrupta da relação e a (2) confiança pré-estabelecida.

2.1.1.1 Responsabilidade Pré-Contratual


“Culpa in Contrahendo” – Jhering: teorização com base no direito romano.

- O termo em latim, é sinônimo de responsabilidade pré-contratual e significa alguma culpa durante


a contratação.

- Ele parte da ideia de erro na manifestação de vontade: a pessoa que erroneamente manifestou sua
vontade deverá arcar com os prejuízos decorrentes da responsabilidade contratual. (Verificar isso na
doutrina).

Fenômeno Amplo

Ruptura de Negociações Preliminares: (1) quebra abrupta da relação e a (2) confiança pré-
estabelecida.

- A frustração da contratação gerará então frustração moral, além da material.

- A análise será casuística tendo como parâmetro a boa-fé objetiva.

- Nesse aspecto deverão ser observados os requisitos da boa-fé objetiva do art. 422. Contudo, boa
parte da doutrina hoje aplica o dever de indenização nos termos do art. 187 (abuso de direito).

Os casos de anulação do negócio jurídico previstos, cujo retorno ao status quo ante está previsto no
art. 182, são todos aqueles vícios: dolo, fraude, coação etc. Esses casos ocorrem antes da formação
do contrato.

Expectativa/Confiança
Indenização: interesse negativo

Ex:

TJRS: Carro

Comprador se interessou por veículo anunciado pelo site OLX, cuja localização encontrava-se no
Rio de Janeiro. Para comprar o carro, o comprador viajou para o RJ com a sua família, mas ao chegar
lá teve conhecimento de que o automóvel não correspondia às suas expectativas geradas pelo anúncio.
Essa viagem frustrada gerou uma série de prejuízos materiais e morais que foram reconhecidos pelo
Tribunal.

- O proponente gerou um ambiente de confiança que não foi correspondido na realidade.

STJ: Pão de Açúcar – REsp. 1.367.955

Relator: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Professor gosta dele)

Entendeu que o Pão de Açucar criou expectativa na empresa de publicidade, a qual efetuou gastos
para a execução do negócio que ainda estava em fases de tratativas. Foi reconhecido o dever do Pão
de Açúcar de reparar os gastos despendidos pela empresa publicitária.

A Indenização nesse caso observou a noção de interesse negativo4, isto é, o que a empresa gastou
para dar andamento de um negócio que ela tinha plena confiança de que ocorreria. Não se verificou
aqui o interesse positivo5, aquele que se verificaria no futuro com o aperfeiçoamento do negócio
jurídico.

- A legislação não faz referência a esse tipo de classificação. Mas a indenização será avaliada
casuisticamente. No caso SICA, por exemplo, ela se baseou no interesse positivo, decotando-se o
valor de tomates que foram vendidos.

- Sendo escolhido o positivo, paga-se o que seria pago com a celebração do negócio (o que o contrato
geraria de ganho).

- Já o negativo envolve uma análise pretérita, com exemplo: maquinário comprado, mão-de-obra
contratada, matéria-prima adquirida, tudo que estaria envolvido para a execução do negócio frustrado
por uma das partes.

- Lucros cessantes e perda de uma chance6 não serão descartados, na perspectiva do interesse
negativo.

Aula 10 – Formação do Contrato


2.2 Proposta

4 “O interesse negativo é marcado pela abstração de um acontecimento, e é destinado a reestabelecer o estado


quo ao lesado, situação em que estaria caso sequer houvesse cogitado o vínculo contratual, se nem mesmo
houvesse iniciado o contato negocial”. (XAVIER, 2019, p.216)
5 “O interesse positivo é qualificado pela adição de um acontecimento, e está voltado a estabelecer o estado ad

quem, situação hipotética em que o lesado estaria se o negócio houvesse sido integral e adequadamente
cumprido”. (XAVIER, ibidem).
6 Caso do Show do Milhão (STJ): indenização no valor da chance perdida, o cálculo feito pelo STJ é polêmico.
Declaração Receptícia de Vontade: “Serpa Lopes (1964, v. 3:86) conclui que a oferta é uma
declaração unilateral do proponente, receptícia, e que deve conter, em princípio, os elementos
essenciais do negócio jurídico” (VENOSA, p.189)

Proponente: quem propõe a proposta

Partes

Oblato: a quem a oferta se dirige

“A proposta vincula a vontade do proponente, que somente ficará liberada com a negativa do oblato
ou o decurso do prazo estipulado na oferta (ou pela caducidade, em razão da natureza da proposta”
(VENOSA, p.189)

Aceitação com Alterações: é uma nova proposta

O ordenamento brasileiro resolveu dotar a proposta de força vinculativa7 (art.427), diferentemente


das negociações preliminares cujo ordenamento só reconhece uma espécie de vinculação em quebra
da boa-fé objetiva.

Oferta ao público (art. 429), requisitos:


Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos
essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.

Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde
que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

No CDC essa vinculação da oferta está disposta nos artigos 30 e 35:

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por


qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se
utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,


apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre
escolha:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação


ou publicidade;

II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;

III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente


antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

No âmbito do direito civil existe uma divergência doutrinária a respeito da vinculação da oferta ser
causa de exigibilidade do contrato ou hipótese de responsabilidade civil. Judith Martins Costa entende
ser causa de exigibilidade, sendo possível alegar responsabilidade civil somente nos casos em que
houver relação personalíssima. Já o Rosenvald não acredita ser possível exigir o cumprimento do
contrato, e que qualquer desavença deverá ser resolvida pela noção de perdas e danos.

7Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza
do negócio, ou das circunstâncias do caso.
Subjetivo: seriedade, isto é, a proposta deve ser séria

Elementos

Objetivo: deve conter todos os elementos mínimos do contrato

2.3 Aceitação
“A proposta e a aceitação buscam a integração de duas vontades, para formar a vontade contratual.”
(VENOSA, p.191)
Proposta:

a) Aceitação: ato de aderência à proposta feita;


b) Recusa
c) Contra Proposta8: nessa hipótese invertem-se as partes, proponente passar a ser oblato e
oblato passa a ser proponente.

Requisitos:

a) Forma
b) Oportuna
c) Integral Adesão a todo o conteúdo da proposta
d) Conclusiva: realização do contrato sem nenhuma condição

“É possível a aceitação parcial quando o negócio admite fragmentação” (VENOSA, p.196)

O que acontece se o proponente falecer antes da aceitação (Problema suscitado pelo Caio Mário)? Se
a proposta não for personalíssima, ela subsiste.

“A proposta não pode ter eficácia indefinida. O tempo de sua duração deve ser determinado ou
determinável” (VENOSA, p.193).

Entre Presentes9 se a proposta não for aceita no momento em que é feita, ela decai (art.428).

Entre Ausentes10 o CC/02 aplica a teoria da expedição da aceitação como o momento de formação
do contrato11.

Obs: art.430 do CC/02

2.3.1 Momento de Conclusão


O momento de conclusão deverá ser analisado sob a perspectiva dos ausentes.
Lógica arcaica

8 Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.
9 A lei entende como presentes as partes na contratação por telefone ou meios assemelhados.
10 “A lei entende como entre ausentes o contrato em que as partes se manifestam indiretamente, por

intermediário, mensageiro ou outra forma de correspondência (Lopes, 1964, v.3:85)” (VENOSA, p.193)
11 Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este

comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.


Quatro teorias:

a) Declaração (Agnição): o contrato está formado a partir do momento em que o oblato


redige a aceitação (VENOSA, p.194)
b) Expedição: o contrato é formado a partir do momento em que a aceitação é postada
para ser enviada ao proponente.
c) Recepção: o contrato é formado no momento em que a aceitação é entregue ao
proponente.
d) Cognição: o contrato é formado no momento em que o proponente toma
conhecimento da aceitação.

As teorias da declaração e da cognição são rejeitadas pelos ordenamentos jurídicos ocidentais, devido
a dificuldade de se precisar quando ocorreram.

Segundo Caio Mário, o ordenamento brasileiro adota uma versão mitigada da teoria da expedição,
conforme o art. 434:
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é
expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
“Quando a proposta for feita sem prazo à pessoa ausente, ficará o proponente liberado da proposta
se tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta a seu conhecimento (art.428, II)”
(VENOSA, p.195)

O que acontece na aceitação tardia? “Na hipótese em que ocorrer circunstância imprevista e a
aceitação chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao
aceitante sob pena de responder por perdas e danos” (VENOSA, p.196)

2.3.2 Lugar
Importância: estabelecimento do foro

Regra geral, o domicílio do contrato será o domicílio a ser considerado para o estabelecimento do
foro, vejamos:
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.

Contudo, essa regra pode ser alterada pelo princípio da autonomia privada (VENOSA, p.203).

Para os contratos internacionais, deverá ser observado o art.9º, §2º da LINDB: nesses casos o foro
será a residência do proponente, in litteris:
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem.

§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que


residir o proponente.

Obs: Se atentar para a diferença entre Lugar em que foi proposto e residência do proponente.

3. Contrato Eletrônico

Tema Novo x Direito Arcaico

Como se dá a aplicação de costumes, analogia e leis? CC/02, CDC, PL 281


Principais Formas:

a) Email
b) Click-wrap: termo de adesão às plataformas digitais
c) Browse Wrap: basta a simples navegação
d) Smart Contract: os negócios são celebrados sem a participação humana

Ausentes ou Presentes? Análise da Interlocução Recíproca

À vista dessa análise, a maioria das situações serão classificadas como ausentes: “[...] em princípio os
contratos pelo chamado e-mail devem ser considerados entre ausentes, aplicáveis os princípios gerais
do Código” (VENOSA, p.194).

Aplicação da Teoria da Recepção

- Art. 15 da Lei Modelo da UNCITRAL

- Enunciado 173/CJF: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio
eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente.

Caso: Menores e Contratos Eletrônicos

Obs: O caso da retratação do proponente deve observar a regra do art.433, de modo que a
carta/telegrama/e-mail devem chegar antes ou concomitantemente à proposta.

Aula 11 – Contrato Preliminar


1. Conceito
Contrato Promessa/Preparatório/Compromisso: estabelecer de ante mão o compromisso de ir até o
cartório celebrar o contrato de compra e venda.

Negociações Preliminares x Contrato Preliminar: as negociações preliminares não são vinculativas, a


não ser sob o ângulo da boa-fé objetiva, já os contratos preliminares são.

“Contract to make contract”

Obrigação Principal – Celebrar contrato definitivo

- Contrato Preliminar

- Escritura de Compra e Venda

- Registro

Justificativa

É uma novidade do CC/02, já que os contratos preliminares não eram tratados no CC/16.

“O contrato preliminar estampa uma fase da contratação, porque as partes querem um contrato, mas
não querem que todos os seus efeitos operem de imediato”. (VENOSA, p.80)

2. Características
• Acessório ao contrato principal
• Bilateral ou Unilateral
• Requisitos de Validade
- Contrato Original
- Art. 462
- Ex: art. 1647: outorga uxória
• Direito de Arrependimento
- Direito Potestativo: pode ser relativizado pelo venire.
- Ocorrência de Venire: modalidade de abuso de direito, comportamento contraditório
ligado diretamente à boa-fé objetiva.
• Sem Arrependimento (art.463): as partes, em tese, podem se desvincular a qualquer
momento
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo
antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer
das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à
outra para que o efetive.

Se o Direito de Arrependimento estiver contido no contrato preliminar, isto ocorrerá na


forma de arras:

- Arras Penitenciais: se as arras (sinal) foram dadas, o arrependimento terá que ser resolvido
pelas arras. Ex: Comprei um apartamento de 200 mil, com arras de 40 mil, desisti do negócio,
as arras ficam para o vendedor. Se a desistência foi do vendedor, ele deverá restituir o valor
das arras.
Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer
das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso,
quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-
las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização
suplementar.
• Registro: Enunciado 30 CJF: A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código
Civil deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros.

3. Inexecução do Contrato Preliminar


Recusa

Juiz Supre a Vontade: o contrato é mantido e é demandada em juízo a transferência

- Caráter Definitivo

- Art. 46412/Art.501, CPC13

Exigir Perdas e Danos: o contrato é desfeito e exige-se a reparação: “Não fixada no contrato
preliminar a irretratabilidade, quando o instrumento público for exigido como prova do contrato,
qualquer das partes pode arrepender-se, antes de o assinar, ressarcindo à outra perdas e danos
resultantes do arrependimento”. (VENOSA, p.203)
Art.465: Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra
parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.

12 Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente,
conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.
13 Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente

o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.
4. Promessa Unilateral
Opção: uma das partes está vinculada a cumprir a promessa e a outra parte pode optar em cumpri-lo
ou não. Um bom exemplo é o contrato de leasing.

Obs: no Brasil o VRG foi incorporado às parcelas, e o STJ proferiu dois entendimentos ao longo do
tempo:
Súmula 263 do STJ (CANCELADA): a cobrança antecipada do valor residual
(VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando em
compra e venda de prestação.

Súmula 293 do STJ: a cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.

Hoje o leasing se aproximou muito ao financiamento comum, na prática no final a pessoa adquire a
propriedade do veículo.

A vantagem desse tipo de contrato é a propriedade do veículo pelo Banco.

Manifestação

- Termo

5. Eficácia Real
Efeitos Reais: se o contrato de aquisição estiver registrado no cartório, isto gerará direito real de
transferência de propriedade do imóvel.
Art. 1.417: Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou
arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à
aquisição do imóvel.

Direito à Adjudicação: “O compromisso registrado confere ao adquirente direito de sequela,


permitindo-lhe reivindicar a propriedade ao cumprir o compromisso e exigir a outorga da escritura
pela adjudicação compulsória” (VENOSA, p.856)

- O Registro não é necessário para exercer o direito de adjudicação.

“O julgamento não interfere no conteúdo contratual, supre tão somente a vontade do promitente
vendedor recusante da outorga do contrato definitivo” (HTJ, p.856)

- Se não houver cláusula de arrependimento e o valor já foi integralmente pago


Art. 1.418: O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do
promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a
outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no
instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do
imóvel

Súmula 239 do STJ: o direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do


compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.

Deve ser contrato irretratável!


Aula 12 – Contrato Aleatório e Vícios Redibitórios

I – Contratos Aleatórios
1. Conceito
Os contratos aleatórios são aqueles em que existe uma incerteza quanto às prestações das partes. Ex:
dívida de jogo (obrigação natural), contrato de seguro

Álea: é sinônimo de sorte, isto é, um evento/prestação que pode vir ou não a ocorrer.

O estabelecimento de condição ao contrato

Os contratos aleatórios se opõem aos contratos comutativos [Olhar Aula de Classificação de


Contratos].

Risco

a) Afasta a Onerosidade Excessiva (art.478): se o elemento do negócio está sujeito ao risco, isto
é, se for objeto de contrato aleatório, eventuais eventos extraordinários não serão causa de
revisão contratual.

b) REsp 866.414:

CIVIL. CONTRATO. COMPRA E VENDA. SOJA. PREÇO FIXO.


ENTREGA FUTURA. OSCILAÇÃO DO MERCADO. RESOLUÇÃO.
ONEROSIDADE EXCESSIVA. BOA-FÉ OBJETIVA. CEDULA DE
PRODUTO RURAL. NULIDADE. - Nos contratos agrícolas de venda para
entrega futura, o risco é inerente ao negócio. Nele não se cogita em imprevisão.
- É nula a emissão de cedula de produto rural, pois desviada de sua finalidade
típica, qual seja, a de servir como instrumento de crédito para o produtor rural.
(STJ - REsp: 866414 GO 2006/0119123-7, Relator: Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, Data de Julgamento: 06/03/2008, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: --> DJe 26/11/2008)
2. Código Civil
Alienação Aleatório: os contratos de compra e venda normalmente são comutativos, contudo, o
CC/02 regula também os contratos de compra e venda em que existe uma álea, são bons exemplos
os contratos de compra e venda de coisas futuras.

A) Coisa Futura
A sua alienação seguirá o modelo do emptio spei, no qual não há garantia quanto a existência da própria
coisa. É o risco de nada existir.
- Venda da Esperança
“Art. 458: Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um
dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte
não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir”.
- Preço Devido
- Dolo ou Culpa

B) Relativo à Quantidade
Venda de coisa esperada, mas existe o risco quanto à quantidade da prestação.
- Emptio rei speratae
- Se nada vier a existir, o preço será restituído.
“Art. 159: Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir
em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido
culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada”.

C) Relativo à Coisa Existente Exposta a Risco


Assume-se o risco do perecimento ou da deterioração
“Art. 460: Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá
igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato”.
O risco começa com a tradição do bem.
Dolo – omissivo: o alienante conhece a situação de deterioração e a omite:
“Art. 461: A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar
que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa”.

II-Vícios Redibitórios
“O alienante deve garantir ao adquirente que ele possa usufruir da coisa conforme sua natureza e
destinação” (VENOSA, p. 207)
1. Conceito
É um defeito oculto presente na coisa adquirida por meio de contrato oneroso. Este vício enseja a
possibilidade de redibir o contrato, isto é, extinguir unilateralmente o contrato, retornando-se ao
status quo.
- Torna a Coisa Imprópria ou Diminui-lhe o Valor
“Art. 441: A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”.
Princípio de Garantia: vícios ocultos na coisa ao tempo da transmissão.
“No entanto, ainda que o vício seja desconhecido do próprio titular, os efeitos da teoria aplicam-se
como consequência do princípio do equilíbrio das relações negociais (art.443)” (VENOSA, p.210)
Contratos Atingidos: em regra geral, apenas os comutativos, visto que os aleatórios são incompatíveis
do aspecto da prestação que se sujeita à álea.
- Também aplicam-se às doações por encargos, em que também existe certa onerosidade, por
expressa disposição do art. 441, §único.
Defeitos irrelevantes não ensejam ação redibitória!
2. Requisitos
a) Comutatividade/Onerosidade
b) Defeito Oculto – Padrão Médio: tv com a tela rachada não é consiste em defeito culto, mas
poderá ser mitigada dadas as circunstâncias do caso e o padrão de comportamento do
homem médio. Ademais, se o adquirente for um expert e deter conhecimento técnico isto
deverá ser considerado.
c) Desconhecido do Adquirente
d) Existente ao Tempo da Alienação
e) Prejuízo à Coisa

3. Ações Edilícias
O que o adquirente pode fazer no caso de vício redibitório da coisa? O CC/02 dá duas possibilidades:

A) Ação Redibitória: art.441


Rejeição – extinção do contrato – retorno ao status quo
Indivisível
B) Ação Estimatória (quanti minoris): art.442
Reclamar abatimento do preço
Divisível

4. Efeitos
À primeira vista, aplicam-se os mesmos efeitos aos vícios redibitórios. Contudo, dependendo do
alienante algumas consequências serão diferentes.
• Alienante de Boa-fé: desconhece a presença do defeito
• Alienante de Má-fé: conhece o defeito e o omite
“Art. 443: Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se
o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato”.
- TJRS Ap. 700.304.174.97:
APELAÇÃO. RECURSO ADESIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. VÍCIO
REDIBITÓRIO. OCORRÊNCIA. INUNDAÇÕES NO IMÓVEL.
RESPONSABILIDADE DO ALIENANTE. RESOLUÇÃO CONTRATUAL.
STATUS QUO ANTE. PERDAS E DANOS. INDEVIDAS 1. A ignorância do
alienante a respeito do vício oculto, não o exime da responsabilidade de suportar
a garantia redibitória, eis que esta não decorre da culpa ou má-fé e sim da própria
natureza da contrato comutativo. In casu, a parte demandante se desincumbiu de
provar a ocorrência dos vícios ocultos no imóvel, que ocasionaram os
alagamentos, impedindo o uso normal do bem. 2. O dever de ressarcir as perdas
e danos ao adquirente exsurge com a comprovação da ciência pelo alienante da
existência dos vícios redibitórios, ex vi do art. 443 do Código de Processo Civil.
APELAÇÃO IMPROVIDA. RECURSO DE ADESIVO
IMPROVIDO(Apelação Cível, Nº 70030417497, Vigésima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Angela Maria Silveira, Julgado em: 07-10-
2009)[0]

Perecimento em razão do vício


“Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por
vício oculto, já existente ao tempo da tradição”.

Renúncia à garantia: “É da natureza do instituto que a garantia possa ser diminuída, ampliada ou
renunciada, dentro do princípio a autonomia da vontade [...]. A cláusula de exclusão da garantia pode
limitar-se apenas a alguma das qualidades da coisa, bem como pode excluir unicamente a possibilidade
de redibição, mantendo a ação estimatória, e vice-versa”. (VENOSA, p.219)

Coisas vendidas conjuntamente


“Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas”.
REsp 991.317: O STJ em proteção ao consumidor relativizou a regra da venda conjunta. Os primeiros
seis pares de sapatos vendidos de um lote de 105 pares apresentaram defeitos e foram devolvidos
pelos consumidores. O STJ entendeu pela não aplicação desse dispositivo face aos riscos ao
consumidor e à exposição negativa do estabelecimento comercial.
DIREITO CIVIL. VÍCIO DE CONSENTIMENTO (ERRO). VÍCIO
REDIBITÓRIO. DISTINÇÃO. VENDA CONJUNTA DE COISAS.
ART. 1.138 DO CC/16 (ART. 503 DO CC/02). INTERPRETAÇÃO.
TEMPERAMENTO DA REGRA.
- O equívoco inerente ao vício redibitório não se confunde com o erro
substancial, vício de consentimento previsto na Parte Geral do Código Civil,
tido como defeito dos atos negociais. O legislador tratou o vício redibitório de
forma especial, projetando inclusive efeitos diferentes daqueles previstos para
o erro substancial. O vício redibitório, da forma como sistematizado
pelo CC/16, cujas regras foram mantidas pelo CC/02, atinge a própria coisa,
objetivamente considerada, e não a psique do agente. O erro substancial, por
sua vez, alcança a vontade do contratante, operando subjetivamente em sua
esfera mental.
- O art. 1.138 do CC/16, cuja redação foi integralmente mantida pelo
art. 503 do CC/02, deve ser interpretado com temperamento, sempre tendo em
vista a necessidade de se verificar o reflexo que o defeito verificado em uma ou
mais coisas singulares tem no negócio envolvendo a venda de coisas compostas,
coletivas ou de universalidades de fato. Recurso especial a que se nega
provimento.

5. Prazo Decadencial
Decadência x Prescrição
- Na prescrição o que se atinge é a pretensão de se exigir alguma coisa.
- Na decadência o que se atinge é o direito potestativo de constituição de situação jurídica.
- Qualquer ação de responsabilidade civil está sujeita ao prazo prescricional.
Enunciado 28 CJF: O disposto no art. 445, §§ 1º e 2º, do Código Civil reflete a consagração da
doutrina e da jurisprudência quanto à natureza decadencial das ações edilícias.
A) Vício de Fácil Constatação (art.445): prazo decadencial
Móveis – 30 dias
Imóveis – 1 ano
Obs: bem já em posse – redução à metade
B) Vício de Difícil Constatação: prazo decadencial
“Art. 445, §1º: Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á
do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens
móveis; e de um ano, para os imóveis”.
Móveis – 180 dias
Imóveis – 1 ano
Enunciado 174 do CJF: Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do
caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem
nos prazos estabelecidos no § 1º, fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito.
REsp 1.095.882:
RECURSO ESPECIAL. VÍCIO REDIBITÓRIO. BEM MÓVEL. PRAZO
DECADENCIAL. ART. 445 DO CÓDIGO CIVIL. 1. O prazo decadencial para
o exercício da pretensão redibitória ou de abatimento do preço de bem móvel é
de 30 dias (art. 445 do CC). Caso o vício, por sua natureza, somente possa ser
conhecido mais tarde, o § 1º do art. 445 estabelece, em se tratando de coisa móvel,
o prazo máximo de 180 dias para que se revele, correndo o prazo decadencial de
30 dias a partir de sua ciência. 2. Recurso especial a que se nega provimento.

C) Venda de Animais
“Art. 445, §2º: Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os
estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo
antecedente se não houver regras disciplinando a matéria”.
Não existe lei especial, por este motivo a doutrina as vezes reconhece a possibilidade de uso
do CDC. A venda de animais para abate não dispõe de legislação especial, sendo aplicado o
art. 445 do CC/02.

Prazo Convencional
- Garantia
- Impede o Curso do Prazo: “Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição”.
“Art.446: Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve
denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência”.
Perda da Garantia e Não do Direito de Redibir!
“Quando o alienante estabelece prazo de garantia, há causa impeditiva para o início do prazo
decadencial. Contudo, se durante a garantia surgir o defeito na coisa, o adquirente deve denunciar o
fato nos 30 dias seguintes a seu descobrimento, “sob pena de decadência” Com isso, se não for
resolvida a questão, abre-se a possibilidade para a ação redibitória ou quanti minoris”. (VENOSA,
p.223)

6. Vício x Erro

Vício Erro
Atinge a Coisa Atinge a Vontade
Pessoa Adquire Objeto Almejado Bem Diverso
Vício Oculto S/Vício
Ações Edilícias Ação Anulatória
REsp 991.317 Decadência em 4 anos

7. Vícios do CDC
7.1 Alcance
• Produtos e Serviços
• Qualidades e Quantidade
• Ocultos e Aparentes
• Onerosos e Gratuitos

Teoria da Qualidade
Cogentes – Arts. 24 e 25 do CDC:
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo
expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere


ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

*Obs: Lei n.13.874/2019 – Lei da Liberdade Econômica

Aula 13 – Regime dos Vícios no CDC

1. Vícios de Qualidade
Os vícios de qualidade atingem alguma característica do produto (art.18).
O conserto é a regra geral. Nesse caso, o fornecedor terá o prazo de 30 dias para realizar o conserto,
caso não seja possível, abrem-se outras opções, vejamos:
Art.18, § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

Prazo ajustado (art.18, §2º):


Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta
dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

O uso do prazo ajustado precisa ser convencionado, portanto, se não o for, abrem-se as opções acima
elencadas assim que decorrido os 30 dias.
Por força do art.23 a responsabilidade consumerista é objetiva, não havendo diferença entre a
conduta de boa-fé e a de má-fé:

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação


dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.
REsp 1.016.519:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO ZERO.
VÍCIO DE QUALIDADE. JULGAMENTO ULTRA PETITA.
INEXISTÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC. OPÇÕES ASSEGURADAS AO
CONSUMIDOR. SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO DA
MESMA ESPÉCIE EM PERFEITAS CONDIÇÕES DE USO. ESCOLHA
QUE CABE AO CONSUMIDOR. INEXISTÊNCIA DE PRODUTO
SEMELHANTE EM ESTOQUE DADA A PASSAGEM DO TEMPO.
INCIDÊNCIA DO DISPOSTO NO ART. 18, § 4º, DO CDC. DANO
MORAL. DEFICIÊNCIA DO RECURSO. SÚMULA 284/STF. MATÉRIA
CONSTITUCIONAL (CF, ART. 5º, II, V, XXXV E XXXVII).
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E, NESSA EXTENSÃO, PROVIDO.
1. A sentença, confirmada pelo eg. Tribunal de Justiça, tomou em conta somente
os fatos essenciais trazidos pelos litigantes e a prova pericial produzida nos autos,
aplicando à situação a norma de direito que entendeu apropriada para solução do
litígio, o que afasta a alegação de ter havido julgamento ultra petita. 2. Nos termos
do § 1º do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor - CDC, caso o vício de
qualidade do produto não seja sanado no prazo de 30 dias, o consumidor poderá,
sem apresentar nenhuma justificativa, optar entre as alternativas ali contidas, ou
seja: (I) a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso; (II) a restituição imediata da quantia paga; ou (III) o abatimento
proporcional do preço. 3. Assim, a faculdade assegurada no § 1º do art. 18 do
Estatuto Consumerista permite que o consumidor opte pela substituição do
produto no caso de um dos vícios de qualidade previstos no caput do mesmo
dispositivo, entre eles o que diminui o valor do bem, não exigindo que o vício
apresentado impeça o uso do produto. 4. No presente caso, a substituição do
veículo por outro em perfeitas condições de uso foi a alternativa escolhida pelo
consumidor. Então, não poderia o Juízo de piso alterar essa escolha, ainda que a
pretexto de desonerar o consumidor, sob pena de maltrato ao art. 18, § 1º, do
CDC. Precedente. 5. Não havendo outro veículo nas mesmas condições do
adquirido pelo autor nos estoques das recorridas, é de se aplicar o disposto no §
4º do art. 18 do CDC, que permite a substituição por outro produto de espécie,
marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição da
diferença de preço, permanecendo abertas as alternativas dos incisos II e
III daquele § 1º. 6. Então, na hipótese, o consumidor dispõe das seguintes
alternativas: a) receber todo o valor atualizado do preço pago na ocasião da
compra, desde que restitua o bem viciado ao fornecedor; b) caso não faça a
restituição, receber a diferença entre o valor atualizado do preço pago na ocasião
da compra e o valor equivalente ao preço médio de mercado do bem usado; ou,
ainda, c) adquirir novo produto do fornecedor, pagando ou recebendo a diferença
entre o valor do novo bem e o saldo credor que detém. 7. Cumpre assinalar que
o consumidor não tem direito a juros de mora na espécie, pois já foi indenizado
pelas perdas e danos decorrentes da mora do fornecedor com o uso e gozo do
bem durante o trâmite do processo. 8. Não apontado qual dispositivo legal teria
sido violado pelo aresto recorrido ao negar o pedido de reparação por danos
morais, não há possibilidade de conhecimento do recurso especial no ponto. 9.
Quanto às alegadas violações ao art. 5º, II, V, XXXV e XXXVII, da Constituição
da República, tem-se como incabível a apreciação de matéria constitucional em
sede de recurso especial, sob pena de usurpação da competência do eg. Supremo
Tribunal Federal, nos termos do que dispõe o art. 102, III, da Magna Carta. 10.
Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido.

Por fim, o consumidor não precisa aguardar o prazo de 30 dias se:


§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas
puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o
valor ou se tratar de produto essencial.

2. Vícios de Quantidade
Os vícios de quantidade, via de regra, são os casos em que o consumidor recebe a menor. Essa espécie
de vício é regulada pelo art.19.
O consumidor não é obrigado a localizar o fabricante, visto que responde solidariamente quem
comercializa os produtos.
Há quatro opções para a compensação do vício, são elas:
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade
do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu
conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo,
sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos.

Redução de Volume (REsp 1.364.915):

ADMINISTRATIVO. CONSUMIDOR. PROCEDIMENTO


ADMINISTRATIVO. VÍCIO DE QUANTIDADE. VENDA DE
REFRIGERANTE EM VOLUME MENOR QUE O HABITUAL.
REDUÇÃO DE CONTEÚDO INFORMADA NA PARTE INFERIOR DO
RÓTULO E EM LETRAS REDUZIDAS. INOBSERVÂNCIA DO DEVER
DE INFORMAÇÃO. DEVER POSITIVO DO FORNECEDOR DE
INFORMAR. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. PRODUTO
ANTIGO NO MERCADO. FRUSTRAÇÃO DAS EXPECTATIVAS
LEGÍTIMAS DO CONSUMIDOR. MULTA APLICADA PELO PROCON.
POSSIBILIDADE. ÓRGÃO DETENTOR DE ATIVIDADE
ADMINISTRATIVA DE ORDENAÇÃO. PROPORCIONALIDADE DA
MULTA ADMINISTRATIVA. SÚMULA 7/STJ. ANÁLISE DE LEI LOCAL,
PORTARIA E INSTRUÇÃO NORMATIVA. AUSÊNCIA DE NATUREZA
DE LEI FEDERAL. SÚMULA 280/STF. DIVERGÊNCIA NÃO
DEMONSTRADA. REDUÇÃO DO "QUANTUM" FIXADO A TÍTULO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SÚMULA 7/STJ. 1. No caso, o Procon
estadual instaurou processo administrativo contra a recorrente pela prática da
infração às relações de consumo conhecida como "maquiagem de produto" e
"aumento disfarçado de preços", por alterar quantitativamente o conteúdo dos
refrigerantes "Coca Cola", "Fanta", "Sprite" e "Kuat" de 600 ml para 500 ml, sem
informar clara e precisamente aos consumidores, porquanto a informação foi
aposta na parte inferior do rótulo e em letras reduzidas. Na ação anulatória
ajuizada pela recorrente, o Tribunal de origem, em apelação, confirmou a
improcedência do pedido de afastamento da multa administrativa,
atualizada para R$ 459.434,97, e majorou os honorários advocatícios para
R$ 25.000,00. 2. Hipótese, no cível, de responsabilidade objetiva em que o
fornecedor (lato sensu) responde solidariamente pelo vício de quantidade
do produto. 3. O direito à informação, garantia fundamental da pessoa humana
expressa no art. 5°, inciso XIV, da Constituição Federal, é gênero do qual é
espécie também previsto no Código de Defesa do Consumidor. 4. A Lei n.
8.078/1990 traz, entre os direitos básicos do consumidor, a "informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como
sobre os riscos que apresentam" (art. 6º, inciso III). 5. Consoante o Código de
Defesa do Consumidor, "a oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia,
prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que
apresentam à saúde e segurança dos consumidores" (art. 31), sendo vedada a
publicidade enganosa, "inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e
quaisquer outros dados sobre produtos e serviços" (art. 37). 6. O dever de
informação positiva do fornecedor tem importância direta no surgimento e na
manutenção da confiança por parte do consumidor. A informação deficiente
frustra as legítimas expectativas do consumidor, maculando sua confiança. 7. A
sanção administrativa aplicada pelo Procon reveste-se de legitimidade, em virtude
de seu poder de polícia (atividade administrativa de ordenação) para cominar
multas relacionadas à transgressão da Lei n. 8.078/1990, esbarrando o reexame
da proporcionalidade da pena fixada no enunciado da Súmula 7/STJ. 8. Leis
locais, portarias e instruções normativas refogem ao conceito de lei federal, não
podendo ser analisadas por esta Corte, ante o óbice, por analogia, da Súmula
280/STF. 9. Os honorários advocatícios fixados pela instância ordinária somente
podem ser revistos em recurso especial se o "quantum" se revelar exorbitante, em
respeito ao disposto na Súmula 7/STJ. Recurso especial a que se nega
provimento.

3. Vícios de Serviço
Os serviços devem ser executados não apenas no prazo dado, mas também com a perfeição
suficiente para sua finalidade. (VENOSA, p.226)
Essa espécie de vício é regulada pelo art.20. Nesse mesmo dispositivo já estão assinaladas as hipóteses
para a compensação do vício, vejamos:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os


tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
4. Prazos
A) Vícios Aparentes
Nos vícios aparentes o termo inicial se dá com a entrega.
Para os bens duráveis o prazo é de 90 dias.
Para os bens não duráveis o prazo é de 30 dias.

B) Vícios Não Aparentes


Nos vícios ocultos o termo inicial se dá a partir da constatação do defeito (art.26, §3º).
Para os bens duráveis o prazo é de 90 dias.
Para os bens não duráveis o prazo é de 30 dias.
Obs: na apuração desses prazos, deve ser ponderada a vida útil do bem para existir certa
razoabilidade para o exercício das pretensões pelo consumidor. [CHECAR NA DOUTRINA]
CC x CDC: no conflito entre essas legislações deve vigorar o princípio da especialidade e o diálogo
das fontes14.
Segundo o CDC, nos termos do art.50, a garantia contratual é complementar à legal e será
conferida mediante termo escrito.

*Nos termos do art.18, §2º, I, a fluência do prazo decadencial só começará com a resposta negativa
do fornecedor, após a reclamação do consumidor.

14Teoria alemã de Erik Jayme, a qual determina que num conflito entre normas ou em ampla incidência de
normas, deverá ser aplicada a mais favorável ao consumidor. Nesse caso, se o CC for mais favorável ao
consumidor que o CDC, ele deverá ser aplicado.
Aula 14 – Evicção e Contratos em Relação a Terceiros
I - Evicção
1. Introdução
O que é evicção? É um problema de vício jurídico. É a situação em que você adquire algo e
posteriormente uma sentença judicial diz que aquela coisa não te pertence - Perda da Coisa por
Força de Decisão Jurídica
“Na evicção, o dever de garantia refere-se a eventual perda da coisa, total ou parcial, cuja causa seja
anterior ao ato de transferência”. (VENOSA, p.231)
“Evincere” – Ser vencido
Fundamento: ausência de legitimidade para alienar
Ex: compra de veículo discutido em divórcio, em que é reconhecida a propriedade da mulher a
despeito do marido que foi quem realizou a alienação.
- A controvérsia sobre a propriedade do bem já existia, ou deve ser concomitante, à época da alienação
a terceiro [VENOSA, p.234]
- A evicção não influi na validade do contrato, a sua consequência é o dever do vendedor de indenizar
o comprador pelo prejuízo.
- A responsabilidade pela evicção independe de culpa.
- Não haverá responsabilidade por evicção se o adquirente sabia que a coisa era alheia ou litigiosa
(art.457).
2. Partes
A) Alienante: quem negocia e aliena o bem
B) Evicto ou Adquirente: quem adquire o bem do alienante e depois o perde por força de decisão
judicial
C) Evictor: quem por via judicial consegue o reconhecimento de propriedade do bem
3. Requisitos
A) Onerosidade na Aquisição: a evicção é restrita aos contratos onerosos, não sendo possível a sua
ocorrência nos contratos gratuitos.
“Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda
que a aquisição se tenha realizado em hasta pública”.
B) Perda Total ou Parcial: a perda pode ser total ou parcial, a exemplo da perda de 1/6 da gleba.
C) Sentença Judicial: o CC/02 não deixou explicita a regra do trânsito em julgado, motivo pelo qual
a jurisprudência foi responsável por definir a desnecessidade de sentença transitada em julgado
antes da propositura da ação de evicção, vejamos:
STJ REsp 1.332.112
PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. EXERCÍCIO DOS DIREITOS
ADVINDOS DA EVICÇÃO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE.
DESNECESSIDADE. TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO.
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. 1. Não ocorre
violação ao art. 535 do Código de Processo Civil quando o Juízo, embora de
forma sucinta, aprecia fundamentadamente todas as questões relevantes ao
deslinde do feito, apenas adotando fundamentos divergentes da pretensão do
recorrente. Precedentes. 2. A evicção consiste na perda parcial ou integral do bem,
via de regra, em virtude de decisão judicial que atribui o uso, a posse ou a
propriedade a outrem, em decorrência de motivo jurídico anterior ao contrato de
aquisição, podendo ocorrer, ainda, em virtude de ato administrativo do qual
também decorra a privação da coisa. Precedentes. 3. A perda do bem por vício
anterior ao negócio jurídico oneroso é fator determinante da evicção, tanto que
há situações em que, a despeito da existência de decisão judicial ou de seu trânsito
em julgado, os efeitos advindos da privação do bem se consumam, desde que, por
óbvio, haja a efetiva ou iminente perda da posse ou da propriedade, e não uma
mera cogitação da perda ou limitação desse direito. 4. O trânsito em julgado da
decisão que atribui a outrem a posse ou a propriedade da coisa confere o
respaldo ideal para o exercício do direito oriundo da evicção. Todavia, o
aplicador do direito não pode ignorar a realidade hodierna do trâmite
processual nos tribunais que, muitas vezes, faz com que o processo
permaneça ativo por longos anos, ocasionando prejuízos consideráveis
advindos da constrição imediata dos bens do evicto, que aguarda,
impotente, o trânsito em julgado da decisão que já há muito assegurava-
lhe o direito. 5. No caso dos autos, notadamente, houve decisão declaratória da
ineficácia das alienações dos imóveis litigiosos - assim como seu arresto - em
virtude do reconhecimento de fraude nos autos da execução fiscal movida pelo
Estado de Goiás contra a empresa Onogás S/A, que transferiu os referidos bens
à recorrente, sendo certo que, em consulta ao sítio do Tribunal a quo, verificou-
se a improcedência dos embargos à execução fiscal em 14/12/2012, em processo
que tramita desde 1998. 6. Dessarte, a despeito de não ter ainda ocorrido o
trânsito em julgado da decisão prolatada na execução fiscal, que tornou ineficaz a
alienação dos bens imóveis objeto do presente recurso, as circunstâncias fáticas e
jurídicas acenam para o robusto direito do adquirente, mormente ante a
determinação de arresto, medida que pode implicar no desapossamento dos bens
e que promove sua imediata afetação ao procedimento executivo futuro. 7. O
exercício do direito oriundo da evicção independe da denunciação da lide ao
alienante na ação em que terceiro reivindica a coisa, sendo certo que tal omissão
apenas acarretará para o réu a perda da pretensão regressiva, privando-lhe da
imediata obtenção do título executivo contra o obrigado regressivamente,
restando-lhe, ainda, o ajuizamento de demanda autônoma. Ademais, no caso, o
adquirente não integrou a relação jurídico-processual que culminou na decisão de
ineficácia da alienação, haja vista se tratar de executivo fiscal, razão pela qual não
houve o descumprimento da cláusula contratual que previu o chamamento da
recorrente ao processo. 8. Recurso especial não provido.

D) Anterioridade do Direito do Evictor


E) Boa-fé do Adquirente (art.457)
“Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa”.
A boa-fé do adquirente é subjetiva nesse caso.
REsp 1.293.147:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EVICÇÃO.
DESCARACTERIZAÇÃO. ART. 457 DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA
DE BOA-FÉ DO ADQUIRENTE. INDENIZAÇÃO AFASTADA.
1. Reconhecida a má-fé do arrematante no momento da aquisição do imóvel,
não pode ele, sob o argumento de ocorrência de evicção, propor a ação de
indenização com base no art. 70, I, do CPC, para reaver do alienante os valores
gastos com a aquisição do bem. Para a configuração da evicção e consequente
extensão de seus efeitos, exige-se a boa-fé do adquirente.
2. Recurso especial conhecido e provido.
4. Direitos do Evicto
O direito mais evidente é a demanda pela evicção, os outros direitos que deste decorrem são
extraídos da própria legislação:

Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição
integral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que
diretamente resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa,
na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de
evicção parcial.

Os frutos a serem indenizados são os pendentes [CONFERIR NA DOUTRINA]


Em relação à regra do §único, o valor não é o da compra, mas do que efetivamente se perdeu à época
em que ocorreu à evicção, ocorre um ajuste ao valor de mercado.
Em relação às benfeitorias úteis ou necessárias:
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a
evicção, serão pagas pelo alienante.
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas
pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.

A evicção parcial gera duas possibilidades para o evicto (art.455):


i. Rescisão: devolução do bem em sua integralidade e requerimento dos prejuízos de
acordo com o art.450.
ii. Restituição de Parte do Preço:
O art.455 aplica o princípio da conservação [conferir se esse é o nome]
“Se o adquirente fez benfeitorias úteis e necessárias e não tiver sido reembolsado, na sentença (a lei
diz abonado), seus respectivos valores devem ser incluídos na indenização devida pelo alienante (que
terá ação regressiva contra o evictor). Se houve abono delas na sentença, mas foi o alienante quem as
realizou, devem ser descontadas na ação contra este último. Se as benfeitorias, feitas pelo adquirente,
foram abonadas na sentença de perda da coisa, este não terá direito a qualquer reembolso, porque
não teve prejuízos por ela. As benfeitorias voluptuárias, pelo regime geral, podem ser levantadas pelo
benfeitor, desde que isso não prejudique a coisa” (VENOSA, p.242).

5. Reforço, Redução e Exclusão


O reforço ou a redução referem-se à valoração dada à indenização, se a maior ou menor.
É o reconhecimento da autonomia contratual, na medida em que se pode clausular expressamente a
responsabilidade por evicção (art.448).
Já na cláusula de exclusão, o evicto terá a garantia do preço, se não soube do risco da evicção, ou,
dele informado, não o assumiu (art.449).
- Preservação das situações de boa-fé
II – Contratos em Relação a Terceiros
1. Princípio da Relatividade
É assentado na lógica voluntarista.
Regra Geral: “[...] o negócio só ata os participantes, mão podendo beneficiar ou prejudicar os
terceiros, com aplicação do princípio res inter alios acta aliis neque nocet neque potest”. (VENOSA, p.153)
“Terceiro é aquele que não participa do negócio jurídico, para quem a relação é absolutamente alheia”
(VENOSA, p.155).
Há exceções ao princípio da relatividade!
2. Contrato com Pessoa a Declarar
É de inspiração italiana

Pessoa que não quer se revelar – Cada cara um preço. Ex: Neymar comprando uma casa
Cláusula “electio amici”: reserva do direito de indicar a pessoa que deverá adquirir os direitos e assumir
as obrigações (art.467)
O intuito básico dessa figura é evitar a especulação de preço.
O CC/02 determina que as partes terão um prazo para fazer essa estipulação, qual seja, 05 dias, nos
termos do art. 468.
Terceiro aceitante: toma o lugar da parte, o que ensejará o efeito retrooperante (ex tunc), nos termos
do art.469.
Se porventura o terceiro não aceitar a nomeação, ou se a nomeação não se dá, o contrato terá eficácia
entre as partes originárias. Outra hipótese também é o da insolvência do terceiro, vejamos:
Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:
I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;
II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no
momento da indicação.

Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da


nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.

Aula 15 – Estipulação em Favor de Terceiro e Promessa de Fato de Terceiro


I – Estipulação em Favor de Terceiro
São exemplos típicos os contratos de seguro.
É uma convenção patrimonial em favor de terceiro que não faz parte do contrato.
“[...] há estipulação em favor de terceiro quando uma das partes (o estipulante) contrata em seu
próprio nome com outra parte (o promitente), que se obriga a cumprir uma obrigação em favor de
terceiro (o beneficiário)”. (VENOSA, p.155)
Partes:
a) Estipulante: quem estipula a favor de terceiro
b) Promitente: quem concretiza
c) Beneficiário: em favor de quem se estipula, alheio ao negócio jurídico
“Solutio”: adimplento da obrigação.
Requisitos:
i. Terceiro:
a) Capacidade: a capacidade não é necessária para o terceiro. Eventualmente, precisará de
representação para exercer o direito;
b) Determinação: terceiro determinado ou determinável;
c) Legitimidade:
Ex: Art.550
ii. Forma: Só pode ser gratuito, o terceiro não pode ser onerado
iii. Objeto
a) Gerais
b) Gratuidade

Efeitos:
Exigência do Cumprimento (art. 436): O cumprimento do contrato poderá ser exigido pelo
estipulante ou pelo beneficiário. O cumprimento do contrato só poderá ser exigido pelo beneficiário
se com ele anuir e se não houver cláusula de substituição, nos termos do art.438.
Exemplos:
Plano de saúde coletivo: tanto a Fiat quanto o Empregado têm legitimidade ad causam para atuar no
polo ativo, conforme entente o STJ.

Fiat Unimed

Empregado

Seguro Auto:

Fábio Seguradora

Lucas

Não é possível a vítima de acidente automotor acionar diretamente a seguradora. Esse tipo de situação
cerceia a defesa do segurado.
O benefício da seguradora não é para terceiro e sim para o próprio segurado.
Substituição do Terceiro (art.438): “No silêncio do contrato o estipulante pode substituir o
beneficiário. [...] A isso não pode opor-se o beneficiário, que não é parte no contrato. Todavia, uma
vez expresso no contrato que o beneficiário não pode ser substituído, a revogação somente poderá
ocorrer com a anuência do estipulante, se não se exigir na avença que também o próprio beneficiário
concorde”. (VENOSA, p.158)
- Ex: é o caso do contrato de seguro de vida.
Exoneração do Promitente (art.437): é o ato do estipulante em retirar a responsabilidade do
promitente de cumprir com determinada obrigação. É uma espécie de renúncia unilateral de crédito.
Essa exoneração depende de dois fatores: (i) que o beneficiário ainda não tenha adquirido o direito
de exigir a pretensão material, e (ii) que o estipulante tenha se reservado o direito de substituição do
beneficiário.
- A aceitação do beneficiário, implica na sua possibilidade de pedir a execução e não havendo a
possibilidade de substituição, a exoneração do promitente pelo estipulante não acontecerá.
- Fundamenta-se pelo princípio da confiança.
- Se não for clausulada essa exoneração, ela não será possível.
- Se o contrato for omisso, não contendo cláusula específica, o estipulante não poderá exonerar o
promitente sem o consentimento do beneficiário.

II – Promessa de Fato de Terceiro


Compromisso com um fazer alheio
- Obrigação de Fazer: resultado – conseguir a manifestação de vontade do terceiro15.
O terceiro é objeto da prestação! (VENOSA, p.163)
- Relatividades: não há uma quebra do princípio da relatividade, porque a obrigação do promitente é
conseguir a manifestação de vontade do terceiro em realizar esse fazer. A manifestação de vontade
dá início a uma nova fase contratual, a fase de execução, cujas partes será entre o contratante e o
terceiro – agora contratado.
Fase de Formação:
Fábio Produtor

Roberto Carlos

Fase de Execução:

Fábio Produtor

Roberto Carlos

15Se eventualmente o resultado não se verificar quem se responsabiliza pelas perdas e danos é o produtor.
Obs: a obrigação de empregar esforços, mas não se comprometer ao resultado, precisa de cláusula neste sentido
para desobrigar o promitente.
Devedores Sucessivos e Não Simultâneos
Portanto, se o terceiro não executa a obrigação de fazer, o estipulante/promitente responderá por
perdas e danos (Art. 439).
TJSP Apl 386.268.4/3-00, 4ª Câmara de Direito Privado
STJ – CBF x TVA: a CBF prometeu a anuência dos clubes
Exceção do Art. 439, §único (cônjuge): prometer fato de cônjuge – evitar que o cônjuge que não
manifestou anuência seja prejudicado.
Se o terceiro executa a obrigação, exonera-se o devedor primário (art.440).

Aula 16 – Interpretação do Contrato


1. Introdução
Determinação de Conteúdo: “[...] fixar o sentido de uma manifestação de vontade”. (VENOSA,
p.108)
“[...] no contrato buscamos o sentido que as partes procuraram para gerar efeitos determinados e por
elas pretendido”. (VENOSA, p.108)
“A interpretação do negócio jurídico em geral, e do contrato em particular, situa-se na fixação do
conteúdo, compreensão e extensão, da elaboração de vontade”. (VENOSA, p.110)
Expresso x Implícito
Significante – significado
“In claris cessat interpretatio”
Súmula 5 do STJ: AgRg 549853 - “A simples interpretação não possibilita o Recurso Especial”
Interno: o que realmente foi pensado pelo contratante, a vontade real
Elementos
Externo: declaração contratual propriamente dita

2. Função
“A manifestação da vontade contratual é, evidentemente, bilateral. Desse modo, sua interpretação
levará em consideração a emissão da vontade propriamente dita e o reflexo dessa mesma vontade
com relação ao outro contratante”. (VENOSA, p.116)
Efeitos
Extensiva/Restritiva
Lacunas
Ambiguidades: se dá dentro das situações significantes mais de um significado
Contradições
Obscuridades
3. Teorias do Negócio
3.1 Teoria da Vontade
Vontade Real – Dogma: ela é a base de formação do próprio contrato
Voluntarismo – Posição Subjetiva: deve o intérprete investigar o sentido da efetiva vontade do
declarante.
Vícios
- Savigny
3.2 Teoria da Declaração
Externalização
Segurança Jurídica
Sentido Literal/Habitual – Posição Objetivista: atém-se à vontade externada, aos elementos externos
do contrato. “[...] o que não estiver no contrato não está no mundo jurídico”. (VENOSA, p.110)

Qual a polêmica do art.112?


Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Ela não é nem teoria da vontade simplesmente, nem teoria da declaração, e, sim uma ponderação
dessas teorias no caso concreto.

4. Meios Interpretativos
A) Sentido Literal
B) Contexto Verbal
C) Contexto Situacional

5. Objetos de Interpretação
A) Exteriorização
B) Vontade Real
C) Circunstancialismo:
- Usos
- Comportamento das partes

6. Regras Jurídicas de Interpretação


A interpretação se dá no campo da lógica e não no campo da norma, motivo pelo qual o CC/02
optou por adotar - regras mínimas.
“Sempre que persistir a dúvida acerca de duas ou mais interpretações, deve preponderar aquela que
for menos gravosa para o devedor. E acrescentemos: aquela que melhor se adaptar às necessidades
sociais; à função social do contrato e que melhor for absorvida e aceita pelos interessados”.
Art.112. [OLHAR TÓPICO ACIMA]
Art.113 – boa-fé – Lei 13.874
Art.114 – negócios gratuitos – Ex: REsp 1.327.627
Art. 422 – “Na interpretação integrativa, embora existam pontos omissos no contrato, a intenção das
partes surge da ideia geral do contrato, de seu espírito”. (VENOSA, p.120)
Art. 423 – adesão
- Interpretação mais favorável ao aderente
- CDC (art.47)
- Ex: REsp 1.378.707
Contratos Específicos:
- Fiança (Art. 819)
Adota-se uma interpretação restritiva
O contrato de fiança gera um ônus demasiado ao fiador.
- Transação (Art. 843)
Adota-se uma interpretação restritiva
“Na verdade, é o Poder Judiciário o destinatário final da norma interpretativa, mencionando-se o juiz
como figura representativa desse poder”. (VENOSA, p.116)
“Evidentemente, para as partes, essas normas interpretativas têm cunho supletivo e não obrigatório”.
(VENOSA, p.117)

Aula 17 – Inadimplemento Contratual


1. Introdução
1.1 Conceito
É o não cumprimento de uma obrigação, portanto é o oposto do cumprimento
1.2 Perdas e Danos
A) Danos Materiais: os danos economicamente apreciáveis
• Dano Emergente
• Lucro Cessante
B) Dano Material: violação de direito da personalidade
1.3 Consequências do Inadimplemento

A) Indenização
• Equivalência: usa-se do interesse positivo para equiparar a situação, isto é,
dá-se a quem deixou de ganhar aquilo que teria ganhado caso o contrato
tivesse sido adimplido.
• Irrelevância do Dolo: deve ser considerado apenas o que efetivamente se
perdeu com o inadimplemento do contrato, não sendo necessária a aferição
do dolo.
• Dano Remoto: perda de uma 1 chance
B) Direito à Resolução (art.475)
Obs: teoricamente a indenização e o direito à resolução são cumulativos, contudo, há
nova jurisprudência do STJ falando da alternatividade entre o cumprimento do contrato
e o direito à resolução (CONFERIR)
1.4 Patrimonialidade
1.5 Relatividade
1.6 Tipos
A) Relativo
Mora
- Não utiliza
- Cumprimento + Juros + P.D
B) Absoluto
- Inutiliza

2. Revisitando o Inadimplemento
2.1 Violação Positiva
- Descumprimento de Deveres Anexos
- Enunciado 24 CJF
- Crítica: Releitura ou Novo Instituto?
2.2 Adimplemento Substancial
- Paralisação do Direito à Resolução
- Boa-fé Objetiva
- (In) Aplicabilidade Em Contratos de Alienação Fiduciária de Bem Móvel (Info 0599, STJ)
2.3 Inadimplemento Antecipado
- Regra; Sem Vencimento, Não há inadimplemento
- Exceção: comportamento das partes
- Caso do Hospital (Ac. 582000378, TJRS)

Aula 18 – Extinção e Revisão do Contrato


1. Extinção
Via de regra, o contrato é extinto quando ele é adimplido, isto é, quando a obrigação é cumprida.
- É o cumprimento de seu ciclo existencial
- A forma como isso acontece é através da QUITAÇÃO (art.319)
Ex: Se o locador não quiser aceitar a devolução das chaves de um imóvel alugado, haverá a
consignação de pagamento.
“O contrato extingue-se por sua execução. É na extinção anormal, antecipada no tempo ou alterada
no objeto ou na forma, que vamos encontrar outras hipóteses de extinção um desfazimento mais
restrito”. (VENOSA, p.167)

2. Distrato
“A resilição é a cessação pela vontade das partes, ou, por vezes, de uma das partes”. (VENOSA,
p.167)
A resilição bilateral está acoplada à vontade. Usualmente quando ambas as partes acordam em
terminar a relação contratual ocorre o distrato.
- É o mútuo consenso para o desfazimento do vínculo:
Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Os efeitos do contrato são ex nunc, cessando quando ocorre o distrato.


O termo distrato refere-se à exigência da lei à observação da forma para a formalização da resilição,
de modo que “o distrato se fará necessário naqueles contratos mais complexos, que não se revelam
facilmente com atos materiais. Aí sim, será necessária a forma escrita, pois não terão as partes outros
meios de provar que houve o contrarius consensus”. (VENOSA, p.170)

3. Resilição Unilateral
“Em alguns contratos, sua natureza permite que unilateralmente a parte dê por finda a relação. [...] O
contrato bilateral pode dispor em cláusula a possibilidade de resilição unilateral. Não é dispensável o
aviso prévio de resilição, mas a autorização dessa denúncia é consequência da convenção dos
contratantes. A situação é de distrato previamente autorizado”. (VENOSA, p.171)
A vontade de uma das partes opera como direito potestativo.
Essa vontade estará prevista em lei ou no próprio acordo de vontade.
A resilição ocorrerá por meio de uma denúncia notificada.
Também podemos encontrar a nomenclatura de REVOGAÇÃO. Contudo, isto só se aplica aos
contratos de confiança, como na revogação da procuração ou revogação do mandato.
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente
o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.

STJ – Plano de Saúde Coletivo: a resilição unilateral deverá ser justificada pela seguradora.
O que acontece com os investimentos do contrato?

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver
feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só
produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto
dos investimentos.

3.1 Direito de Arrependimento

Está vinculado ao instituto das arras.

Âmbito Civil

Âmbito Consumerista

- Art. 49 do CDC. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por
telefone ou a domicílio.

4. Resolução
“O termo resolução é, geralmente, reservado para as hipóteses de inexecução do contrato por uma
das partes [...]”. (VENOSA, p.172)
- Essa inexecução pode ser culposa ou não
É vista como uma extinção do contrato em virtude de fato superveniente.
Tem como fundamento o equilíbrio da relação contratual.
Espécies:
a) Impossibilidade do Objeto: impossibilidade de fazer/dar, extingue-se o contrato
b) Onerosidade Excessiva: alteração das circunstâncias por motivo imprevisível que torna a
prestação excessivamente onerosa.
Art. 478.
c) Inadimplemento
d) Cláusula Contratual: cláusula de extinção por algum motivo inserida no próprio contrato
É o caso típico de cláusula resolutiva.
“A figura jurídica que autoriza a resolução por descumprimento imputável a um das partes é
conhecida pela denominação de pacto comissório ou cláusula resolutória, que pode ser expressa ou
tácita”. (VENOSA, p. 173)
4.1 Cláusula Resolutiva
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende
de interpelação judicial.

A) Expressa
- Cláusula
- Condição Resolutiva (art.127): evento futuro e incerto
Na possibilidade de resolução automática, decorrente da cláusula expressa, há a necessidade
de notificação? Não, mas s“[...] há situações de fato que tornam aconselhável a notificação,
mesmo na presença dessa disposição”. (VENOSA, p.174)
“[...] para que a cláusula fique isenta de dúvidas, mormente para a sua operosidade
automática, deve ter um conteúdo específico dirigido a obrigações descritas no contrato”.
(VENOSA, p.175)

B) Tácita
- Teoria – Implícita – Inadimplemento

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do


contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos
casos, indenização por perdas e danos.

Interpelação judicial: ajuizamento de ação referente ao contrato


Relação com o adimplemento substancial
“Efeito típico da resolução é a sua retroatividade, no sentido de que elimina entre as partes o vínculo,
sem prejuízo dos direitos adquiridos no entretempo por terceiros. E nos contratos de execução
continuada ou periódica, as prestações já cumpridas ficam a salvo”. (VENOSA, p.176)

5. Rescisão
O termo rescisão é usado indiscriminadamente.
“Quando existe o dever de indenizar, parece que o termo rescindir é mais forte, porque significa e
traz a noção de rasgar, dilacerar, destruir o que está feito, e não simplesmente finalizar um acordo de
vontades”. (VENOSA, p.172)
No CC/02 a única menção à rescisão é na parte de evicção.
Orlando Gomes: a rescisão está ligada às hipóteses de nulidade do negócio jurídico
Rosenvald/Chaves: tentam adequar a teoria do Orlando Gomes com a previsão do CC/02, dizendo
que a rescisão é cabível quando há vício anterior à celebração do contrato.

6. Morte do Contratante
O que acontece? Varia de acordo com o conteúdo da relação contratual.
Intuitu personae x Impessoais
Nas obrigações intuitu personae o contrato se extingue.
Nas obrigações impessoais o contrato continua a produzir efeitos junto ao espólio e depois junto aos
herdeiros.

7. Exceção do Contrato Não Cumprido


Do ponto de vista do professor não é bem uma extinção.
É uma novidade do CC/02.
Exceção significa defesa, ou seja, é uma defesa ao contrato não cumprido.
Exceptio Non Adimpleti Contractus
Diante de relações contratuais recíprocas a exigibilidade da contraprestação depende da prestação ter
sido efetuada num primeiro momento.
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida
a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

E se houver alteração das condições econômicas de uma das partes? A outra parte pode alegar a
exceção do contrato não cumprido antecipadamente.
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes
contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar
duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que
lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante
de satisfazê-la.

- A parte insegura pode pedir o adimplemento antecipado ou a prestação de uma garantia.


“[...] uma vez comprovada a alegação e resolvido o contrato, essa resolução opera-se ex tunc, isto é,
desde o momento em que eclodiu e caracterizou-se a impossibilidade do cumprimento”. (VENOSA,
p.178)
Obs: se o inadimplemento antecipado ocorreu por caso fortuito ou força maior não haverá o dever
de indenizar.

Aula 19 – Resolução por Onerosidade Excessiva


1. Premissas
A onerosidade excessiva fundamenta-se pelo princípio do equilíbrio contratual.
O desequilíbrio pode ocorrer em dois momentos:
a) Origem: é o fenômeno da Lesão (art. 157)
b) Superveniente: é o fenômeno da Onerosidade Excessiva (art. 478)
2. Rebus Sic Stantibus
Tem origem no canonismo
É um juízo moral
Cláusula implícita: “[...] os contratantes estão adstritos ao seu cumprimento rigoroso, no pressuposto
de que as circunstâncias ambientes se conservem inalteradas no momento da execução, idênticas às
que vigoravam no da celebração”. (PEREIRA, p.67)
No paradigma liberal, após as codificações, não existia a possibilidade de tutela sobre as relações
contratuais, portanto, a máxima do rebus sic stantibus foi abandonada durante esse período.
Com os eventos do século XX surgiu a necessidade de redescoberta das relações contratuais, sendo
aos poucos inseridas a possibilidade de tutela sobre essas relações.

3. Teoria da Imprevisão
Base Francesa
Também surge da necessidade de descoberta após as crises do século XX
Caso Bordeaux (1916) – Direito Público
Em 1918 foi publicada a Lei Faillot que determinou a revisão dos contratos afetados pela 1ª Guerra
Mundial.

4. Teoria da Onerosidade Excessiva


Base Italiana - Teoria da Pressuposição
- Essa teoria tinha cunho subjetivo, portanto a onerosidade excessiva traz para esse ordenamento
uma objetividade com relação à revisão contratual ao inserir as seguintes ideias:
i. Prejuízo Desmensurado
ii. Imprevisibilidade
iii. Extraordinariedade
Essa ideia de onerosidade excessiva ganhou força e foi adotado pelo Código Civil Italiano de 1942.
O CC/02 copiou essa disposição.
- Essa positivação traz uma segurança ao inserir esses elementos objetivos.

5. Teoria da Base do Negócio


Base Alemã – Base subjetiva de fundo aliada a uma base objetiva (LARENZ)
Boa-fé Objetiva
Conjunto de circunstâncias, cuja existência é objetivamente necessária. É a base do próprio
negócio.
Ausência dos Dois Requisitos da Onerosidade Excessiva:
a) Imprevisibilidade
b) Excesso
Larenz não acredita que a imprevisibilidade não é requisito essencial.
É uma teoria muito complexa, cuja consolidação da jurisprudência e da doutrina é meio pobre.
- CDC (Art. 6º, V)
- REsp 1.321.614
O professor não acredita que esse dispositivo do CDC se refira à base objetiva do negócio.

6. Código Civil Brasileiro


Onerosidade Excessiva (art.478):
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de
uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a
outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o
devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar
retroagirão à data da citação.

Requisitos:
a) Execução Futura
b) Onerosidade Excessiva
c) Acontecimento Extraordinário/Imprevisível
d) Extrema Vantagem da Contraparte
“Uma vez concedida, opera a liberação do devedor. As prestações efetuadas antes do ingresso em
juízo não podem ser revistas, mesmo comprovada a alteração do quadro econômico, porque a solutio
espontânea do devedor produziu os seus naturais efeitos”. (PEREIRA, p.69)
“Nunca haverá lugar para a aplicação da teoria da imprevisão naqueles casos em que a onerosidade
excessiva provém da álea normal e não do acontecimento imprevisto, como ainda nos contratos
aleatórios, em que o ganho e a perda não podem estar sujeito a um gabarito predeterminado”.
(PEREIRA, p.70).
Revisão x Resolução
- Enunciado 176 CJF: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do
Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à
resolução contratual.

De acordo com o princípio da preservação dos contratos, a revisão deve ser sempre preferida em
relação à resolução.
“O que a lei concede ao contratante é a resolução. A alteração das cláusulas de cumprimento será
iniciativa do credor, que voluntariamente aquiesce em oferecer oportunidade de solução menos
onerosa ao devedor, como meio de salvar a avença”. (PEREIRA, p.70) [COMPARAR ISSO]
Relação com o Art. 317
Origem: foi pensado como uma ferramenta contra os fluxos inflacionários
Desproporção x Desequilíbrio
O art.478 trata do desequilíbrio entre a prestação e a contraprestação, enquanto o art. 317 é uma
situação de desproporção em relação à obrigação, e não considera a contraprestação.

Prática
- Leasing: é caso de desproporção
- Ferrugem Asiática: de acordo com o STJ a safra afetada pela ferrugem não enseja ação revisional,
pois é risco de conhecimento prévio pelos contratantes
- Safra Futura: celebrar contrato com base no valor da safra na bolsa não é risco imprevisível e não
dá margem para ação revisional.
Aula 20 – Compra e Venda
1. Conceito
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a
transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

No direito brasileiro adota-se o sistema romano-germânico em que a compra e venda gera relação
obrigacional, não havendo a transferência de propriedade até a tradição (bens móveis) e o registro
(bens imóveis).
REsp 1.683.017: Na compra e venda de veículo a transferência de propriedade ocorre com a tradição
do bem, o registro no DETRAN é apenas ato administrativo.
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ARROLAMENTO DE BENS.
VEÍCULO ALIENADO ANTES DA INSTAURAÇÃO DA MEDIDA
CONSTRITIVA. TRANSFERÊNCIA PERANTE O DETRAN. AUSÊNCIA
DE REGULARIZAÇÃO. MERA IRREGULARIDADE. COMPRA E
VENDA COMPROVADA POR OUTROS MEIOS. LIBERAÇÃO DO
VEÍCULO. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. 1. O acórdão recorrido consignou: "Desse
modo, demonstrado que o veículo não mais pertencia ao patrimônio da
impetrante à época do arrolamento de bens (em 09.12.2010), resta evidente que
o veículo não poderia constar da lista de bens arrolados. Entender o contrário
consistiria em admitir que o arrolamento recaísse sobre bem de propriedade de
terceiro". 2. Rever o entendimento a que chegou a Corte a quo - de que o
automóvel não mais pertencia ao ativo da empresa à época do arrolamento,
sendo pertinente sua exclusão da medida constritiva -, de modo a albergar a tese
da recorrente, enseja revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, o que
se mostra inviável em Recurso Especial, por óbice da Súmula 7/STJ. 3. Recurso
Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

(STJ - REsp: 1683017 SP 2017/0148602-2, Relator: Ministro HERMAN


BENJAMIN, Data de Julgamento: 21/09/2017, T2 - SEGUNDA TURMA,
Data de Publicação: DJe 09/10/2017)

2. Elementos Constitutivos
A) Consentimento
B) Objeto
C) Preço

3. Requisitos Subjetivos
• Capacidade civil
• Ascendentes – descendentes (art.496): autorização do outro cônjuge e dos demais
herdeiros.
Necessidade de controle à fraude, visto que a compra e venda descaracteriza o
adiantamento de herança.
- Necessidade de consentimento expresso
- O consentimento, via de regra, não precisa ser solene
“Sendo negócio anulável, pode ser confirmado pelas partes, com o consentimento
outorgado posteriormente ao negócio (arts. 172 e 176)”. (VENOSA, p.307)
“Os descendentes menores e incapazes não podem anuir por lhes faltar capacidade. A
cautela recomenda que se recorre à autorização judicial e à nomeação de curador especial
nessas hipóteses”. (VENOSA, p.308)
- O consentimento do cônjuge será dispensado se o casamento ocorrer sob o regime de
separação obrigatória de bens (art.496, §único)0o
Prazo decadencial de 2 anos (art.179)
• Outorga conjugal (art. 1647, I):
• Impedimentos subjetivos (art.497):
Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta
pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados
à sua guarda ou administração;
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a
que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros
serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em
tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua
autoridade;
IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.
Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito

É caso de nulidade, portanto, não se aplica prazo decadencial [VENOSA, p.314]

REsp 1.399.916:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA.
ARREMATAÇÃO. DECADÊNCIA. NULIDADE. ARREMATANTE.
OFICIAL DE JUSTIÇA APOSENTADO. INEXISTÊNCIA DE
IMPEDIMENTO LEGAL. 1. "O prazo decadencial para o ajuizamento entre
particulares da ação anulatória de arrematação em execução judicial rege-se pelo
art. 178, § 9º, V, b, do CC/16 e pelo art. 178, II, do CC/2002, sendo de 4
(quatro) anos a contar da data da assinatura do auto de arrematação (art. 694,
CPC). Já o prazo decadencial para o ajuizamento da mesma ação contra a
Fazenda Pública rege-se pelo art. 1º do Decreto n. 20.910/32, sendo de 5 (cinco)
anos, com o mesmo termo inicial" (REsp 1.254.590/RN, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/08/2012, DJe 14/08/2012). 2. O real significado e extensão da vedação
prevista do art. 497, III, do Código Civil é impedir influências diretas, ou até
potenciais, de juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros
serventuários ou auxiliares da justiça no processo de expropriação do bem. O
que a lei visa é impedir a ocorrência de situações nas quais a atividade funcional
da pessoa possa, de qualquer modo, influir no negócio jurídico em que o agente
é beneficiado. 3. "O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no
sentido de que o impedimento de arrematar diz respeito apenas ao serventuário
da Justiça que esteja diretamente vinculado ao juízo que realizar o praceamento,
e que, por tal condição, possa tirar proveito indevido da hasta pública que esteja
sob sua autoridade ou fiscalização (REsp 774161/SC, Rel. Ministro CASTRO
MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJ 19/12/2005)" (AgRg no REsp
1.393.051/PR, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 02/12/2014, DJe 10/12/2014) 4. Não é a qualificação funcional ou
o cargo que ocupa que impede um serventuário ou auxiliar da justiça de adquirir
bens em hasta pública, mas sim a possibilidade de influência que a sua função
lhe propicia no processo de expropriação do bem, o que não ocorre na espécie,
visto que a situação de aposentado do oficial de justiça arrematante o desvincula
do serviço público e da qualidade de serventuário ou auxiliar da justiça. 5.
Decadência afastada. Recurso especial improvido no mérito.
(STJ - REsp: 1399916 RS 2013/0279782-5, Relator: Ministro HUMBERTO
MARTINS, Data de Julgamento: 28/04/2015, T2 - SEGUNDA TURMA, Data
de Publicação: DJe 06/05/2015)

• Preferência do Condômino (art.504): o condomínio nesse caso refere-se à copropriedade.


Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a
estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não
se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte
vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de
decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias
de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem
iguais, haverão a parte vendida os comproprietários, que a quiserem, depositando
previamente o preço.

• Compra e Venda entre cônjuges (art.499):


Via de regra isso não pode acontecer. Só pode ocorrer compra e venda de bens que não
pertencem à comunhão do casamento.
• Venda a non domino
– Ineficácia (Pontes de Miranda e Orlando Gomes)

4. Requisitos Objetivos
• Bem economicamente apreciável
• Bens fora do comércio:
Há uma divisão doutrinária a esse respeito:
a) Por Natureza: aqueles que bens cuja natureza impede que seja objeto de compra e
venda
b) Por Lei: a lei proíbe a venda de determinados bens
c) Por Convenção: a venda pode ser proibida pela autonomia da vontade, é a cláusula de
inalienabilidade
• Coisa atual ou futura (art.483): tanto a coisa atual quanto a futura podem ser vendidas.
Na venda de coisa futura o risco assumido pelas partes deve ser analisado se a coisa não
vier a existir, vejamos:
Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso,
ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes
era de concluir contrato aleatório.
• Coisa litigiosa: pode ser objeto de evicção.

4.1 Protótipos, amostras, modelos


O adquirente recebe algo para testagem, sendo este o padrão para o bem posteriormente adquirido.

• Regra da Prevalência (art.484):


Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos,
entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas
correspondem.
Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver
contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no
contrato.
4.2 Venda
A) Ad Mensuram
O terreno está sendo vendido em razão de suas dimensões.
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão,
ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos
casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento
da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou
abatimento proporcional ao preço.

B) Ad Corpus (Art. 500, §3º):


A venda ocorre em razão do que o adquirente entende como sendo o corpo individualizado (ex:
fazenda são bento), sendo as dimensões meramente elucidativas.
§ 3 o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel
for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a
referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a
venda ad corpus .

- Presunção ad corpus (art.500, §1º): Diferença/Um vigésimo


§ 1 o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa,
quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total
enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais
circunstâncias, não teria realizado o negócio.

- Decadência 1 ano (art.501):


Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo antecedente o
vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de um ano, a contar do
registro do título.
Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao
alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência.
5. Requisitos Formais
Regra Geral: Consensual (art.482)
Exceção: Forma Pública (art.108) – bens imóveis acima de 30 salários mínimos

6. Tradição
Marca a transferência de propriedade num contrato de compra e venda.
Despesas (art.490):
- Tradição: vendedor
- Escritura/registro: comprador
Riscos (art.492):
- O vendedor assume o risco da COISA
- O comprador assume o risco do PREÇO que pode variar até o momento da tradição se o seu
valor for mensurado por meio de índices variáveis (Ex: tabela fipe).
Via de regra, o vendedor não é obrigado a entregar o bem até receber o preço (art.491).
Lugar da coisa (art. 493): a tradição acontece no lugar/domicílio onde está situado o bem
Expedição (art.494):
Art. 494. Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador,
por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue a quem haja de transportá-la,
salvo se das instruções dele se afastar o vendedor.

Insolvência (art.495):
Art. 495. Não obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição
o comprador cair em insolvência, poderá o vendedor sobrestar na entrega da
coisa, até que o comprador lhe dê caução de pagar no tempo ajustado.
Débitos anteriores (art.502):
Enseja direito de reembolso do cobrador caso subsistam débitos da coisa anteriores à tradição
(obrigações propter rem).

7. Preço
Espécies de Fixação:

• Fixado Por Terceiro (art.485):


Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os
contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar
a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os
contratantes designar outra pessoa.

• Taxa de Mercado/Bolsa (art.486):

Art. 486. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de


bolsa, em certo e determinado dia e lugar.
• Índices (art.487):
Tem maior relevância nas compras feitas a prazo.
Exemplos: IPCA, Tabela FIPE, TR
• Preço Corrente (art.488):

Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua
determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se
sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor.

• Arbítrio de Uma Parte:


→ Nulidade
→ Crítica
→ Art.489: Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo
de uma das partes a fixação do preço.

8. Cláusulas Especiais
Pactos Adjeto ao pacto principal que geram efeitos particulares.
- Devem ser expressas
A) Retrovenda
- Recompra de Bem Vendido
- Objeto: imóveis
- Direito Potestativo
- Reembolso de Despesas
- Decadência: máximo de três anos
- Art.505
- Ação de Resgate: é a ação para reaver o bem
• Depósito
• Art.506
- Oponibilidade
- Cessão/Transmissão (art.507)
- Retrovenda de Condôminos
- Jurisprudência:
• Promessa x Escritura:
REsp 1.364.272
• Simulação/Empréstimo
REsp 1.076.571

Aula 21 – Cláusulas Especiais da Compra e Venda


B) Venda a Contento e Venda Sujeita à Prova
b.1) A Contento – Agrado
“Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”
- Ad Gustum: ao gosto do adquirente
- Art.509: A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição
suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o
adquirente não manifestar seu agrado.

b.2) Sujeita à Prova


- Espécie de venda a contento, sujeita a algumas especificidades técnicas
- Comprovação das Qualidades Asseguradas
- Art.510: Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de
que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se
destina.
Condições Suspensivas: a satisfação opera como condição suspensiva, sendo concretizada a compra
após a manifestação da satisfação.
Obrigações de Comodatário16 (art.511): Em ambos os casos, as obrigações do comprador, que
recebeu, sob condição suspensiva, a coisa comprada, são as de mero comodatário, enquanto não
manifeste aceitá-la.
Prazo: contrato
Falta: intimação (art.512)
C) Preempção ou Preferência
Direito de preferência em igualdade de condições
Qual a diferença para a retrovenda? Na retrovenda se o vendedor quiser recomprar, o comprador
terá que vende-la ao vendedor original, enquanto na preferência se o vendedor quiser vender ele
terá que dar a preferência àquele que está estipulado no contrato.

16 Quem toma alguma coisa emprestada.


Prazo decadencial máximo (art.513)

• 180 dias para os bens móveis


• 2 anos para os bens imóveis
Personalíssimo (art.520): o direito de transferência não é transmissível
Iniciativa pelo vendedor original (art.514)
Preço em iguais condições (art.515)
Prazos após a notificação:

• 3 dias – móvel
• 60 dias – imóvel
Responsabilidade (art.518)
Expropriação e Preferência:

• Retrocessão (art.519): Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública,


ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em
obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da
coisa.
• REsp 819.191:
CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO
ESPECIAL. INDENIZAÇÃO. DESAPROPRIAÇÃO. RETROCESSÃO.
DESTINAÇÃO DIVERSA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE O
DESVIO TENHA FAVORECIDO AO PARTICULAR. FINALIDADE
PÚBLICA ATINGIDA. RECURSO ESPECIAL NÃO-PROVIDO. 1. Ação
ordinária de retrocessão com pedido alternativo de condenação em perdas e
danos ajuizada por NELSON PIRES E CÔNJUGE em desfavor do
MUNICÍPIO DE CUBATÃO objetivando a retrocessão de imóvel
desapropriado para fins de implantação de parque ecológico que teve a sua
destinação alterada. Sentença julgando improcedente o pedido por considerar
que não há desvio de finalidade se a atual destinação atende, de outra forma, ao
interesse público. Interposta apelação pelos autores, o TJSP negou-lhe
provimento por entender que: a) foi dada ao bem outra finalidade de interesse
público, com a preocupação de preservação ambiental; b) houve renúncia ao
direito de preferência na aquisição do bem por ocasião da desapropriação
amigável; c) a propriedade foi devidamente indenizada, não restando
comprovados outros prejuízos a justificar a condenação em perdas e danos.
Recurso especial dos autores apontando violação dos arts. 1.150 do CC de 1916
e 35 do Decreto-Lei nº 3.365/41, além de dissídio jurisprudencial. Aponta como
fundamentos: a) a simples inserção de uma cláusula de renúncia ao direito de
recompra não pode se sobrepor aos ditames do art. 1.150 do Código Civil de
1916; b) houve desvio de finalidade do ato atacado. Contra-razões pelo não-
provimento do recurso. 2. Acerca da natureza jurídica da retrocessão, temos três
correntes principais: aquela que entende ser a retrocessão um direito real em face
do direito constitucional de propriedade (CF, artigo 5º, XXII) que só poderá ser
contestado para fins de desapropriação por utilidade pública, CF, artigo 5º, XXIV.
Uma outra entende que o referido instituto é um direito pessoal de devolver o
bem ao expropriado, em face do disposto no artigo 35 da Lei 3.365/41, que diz
que os bens incorporados ao patrimônio público não são objeto de reivindicação,
devendo qualquer suposto direito do expropriado ser resolvido por perdas e
danos.. Por derradeiro, temos os defensores da natureza mista da retrocessão (real
e pessoal) em que o expropriado poderá requerer a preempção ou, caso isso seja
inviável, a resolução em perdas e danos. 3. Esta Superior Corte de Justiça
possui jurisprudência dominante no sentido de que não cabe a retrocessão
no caso de ter sido dada ao bem destinação diversa daquela que motivou
a expropriação. 4. Os autos revelam que a desapropriação foi realizada mediante
escritura pública para o fim de implantação de um Parque Ecológico, o que traria
diversos benefícios de natureza ambiental em face dos já tão conhecidos
problemas relativos à poluição sofridos pela população daquela região. O imóvel
objeto da expropriação foi afetado para instalação de um pólo industrial metal-
mecânico, terminal intermodal de cargas rodoviário, um centro de pesquisas
ambientais, um posto de abastecimento de combustíveis, um centro comercial
com 32 módulos de 32 m cada, um estacionamento, restaurante/lanchonete. 5. A
inserção da cláusula de renúncia ao direito de recompra constante da
escritura pública de desapropriação amigável, por si só, não constitui óbice
a que se conheça a retrocessão. Ocorre que, no caso dos autos, inócuo se
afigura tal argumento, pois firmada a conclusão no sentido de que não houve o
desvio de finalidade do imóvel expropriado a justificar a retrocessão requerida,
porque não demonstrado o favorecimento de pessoas de direito privado, tendo
sido atingida a finalidade pública almejada. 6. Não demonstrado favorecimento
de pessoas de direito privado: Finalidade pública atingida. 7. Recurso não-
provido.

D) Venda com Reserva de Domínio


Reserva da propriedade até o pagamento do preço – completa quitação (Art.521)
- Restrito aos bens móveis
Condição suspensiva
Propriedade vinculada à quitação e não à tradição!
Bem móveis individualizados (art.523): Não pode ser objeto de venda com reserva de domínio a coisa
insuscetível de caracterização perfeita, para estremá-la de outras congêneres. Na dúvida, decide-se a
favor do terceiro adquirente de boa-fé.
Riscos da Coisa:
• Exceção ao “Res perit domino” (art.524): os riscos já são transferidos ao comprador no
momento da tradição, ainda que não tenha sido efetivada a transferência de propriedade.
Registro: cartório de títulos e documentos (art.522)
- Produção de efeitos em relação a terceiros
Mora: execução da cláusula (art.525): O vendedor somente poderá executar a cláusula de reserva de
domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto do título ou interpelação judicial.
- Opções (art.526):
• Cobrança do saldo remanescente
• Posse do bem – desconstituição do negócio jurídico
Abatimento de Depreciações (art.527): no caso do inadimplemento, o pedido da restituição da posse
ou a cobrança do saldo remanescente poderá ter decotado do valor a ser devolvido ao comprador as
eventuais depreciações do bem.
Instituição Financeira (art.528): Se o vendedor receber o pagamento à vista, ou, posteriormente,
mediante financiamento de instituição do mercado de capitais, a esta caberá exercer os direitos e
ações decorrentes do contrato, a benefício de qualquer outro. A operação financeira e a respectiva
ciência do comprador constarão do registro do contrato.
Aula 22 – Doação

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