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Huberto Rohden O Homem PDF
Huberto Rohden O Homem PDF
O HOMEM
SUA NATUREZA, SUA ORIGEM E SUA EVOLUÇÃO
UNIVERSALISMO
ADVERTÊNCIA
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se
aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa
mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
A ciência integral dos nossos dias exige uma base metafísica para todas as
coisas físicas, porque, segundo Einstein, “do mundo dos fatos não conduz
nenhum caminho para o mundo dos valores; porque estes vêm de outra
região”.
Os valores da metafísica não podem ser derivados dos fatos da física, mas têm
a sua origem “em outra região”, no mundo metafísico. Os fatos são analisáveis
pela inteligência, ao passo que os valores são intuídos pela razão espiritual, a
que Einstein se refere muitas vezes: “As leis fundamentais do cosmos não
podem ser descobertas pela lógica, mas somente pela intuição”.
A intuição não é uma hipótese, vaga e incerta, mas é uma evidência imediata e
certa. Exemplifiquemos: um cano de meia polegada e poucos metros de
comprimento emite milhares de toneladas de água, que não se esgotam
jamais; ninguém dirá que esta enorme quantidade de água tenha estado
contida no encanamento, ou mesmo na caixa de água ligada a esse; todo o
homem sensato admite que essas toneladas inesgotáveis de água vêm de uma
fonte perene, não situada nas ruas da cidade, mas em alguma serra longínqua,
donde a água é canalizada; a água vem da fonte e flue através dos
encanamentos. E embora os habitantes da cidade não tenham visto jamais
essa fonte longínqua, todos supõem, consciente ou inconscientemente, sua
existência, como um postulado certo, e não como uma hipótese mais ou menos
provável.
Neste livro admitimos todos os fatos históricos que a ciência provou como
etapas evolutivas do homem, mesmo os fatos anteriores à própria
hominalidade; mas além desses tatos históricos afirmamos a inelutável
necessidade de uma Potência que justifique essas potencialidades. E
admitimos esse postulado intuitivo não em virtude de uma tal ou qual crença
religiosa, mas como o imperativo categórico da ciência integral, que não admite
efeitos, menores ou maiores, sem admitir uma causa máxima, como fonte ou
Potência. É pelo bom senso da lógica e matematicidade que somos obrigados
a aceitar esse postulado intuitivo como base indispensável para a ciência
analítica.
Este livro, portanto, não se baseia em nenhuma teoria mitológica, nem numa
teoria zoológica, mas sim na tese cosmológica da própria realidade integral. O
homem não pode ser compreendido a não ser à luz da ciência integral.
Há quem tente invalidar este argumento alegando que duma causa menor
pode vir um efeito maior, como provam os fatos da natureza. Pois, não é a
planta maior que a semente? E não é a ave mais perfeita que o ovo de que
nasceu?
Não estranhe o leitor se, nas páginas deste livro encontrar repetidas certas
verdades fundamentais. Estas reiterações, em formas várias, são propositais,
porque sendo o homem o fenômeno menos compreendido, somos obrigados a
iluminar esse mistério de todos os lados, a fim de induzir o leitor a uma auto-
compreensão.
Repetimos que não nos guiamos por nenhuma das teorias tradicionais sobre a
origem do homem, nem mitológica, nem zoológica, mas remontamos a uma
tese cosmológica, talvez de difícil compreensão, mas de absoluta verdade.
O HOMEM COMO PARTE
INTEGRANTE DO UNIVERSO
O homem não marca um novo início absoluto, mas apenas um início relativo,
uma continuação da creatividade universal.
Como é que um pecado pode ser necessário? E como é que uma culpa pode
ser feliz?
A humanidade de hoje ainda se acha em plena luta contra duas frentes, contra
a natureza do bios e contra o lógos do espírito. Quando o homem passar do
nóos do intelecto para o lógos da razão cessará a luta do intelecto contra a
razão, e com isto cessará também o pecado; cessará também a luta do
intelecto contra a natureza, e com isto cessarão os males e as doenças.
Jesus de Nazaré não tinha pecado e não teve doença; nem maldades nem
males, porque estava perfeitamente harmonizado, tanto com o mundo espiritual
(lógos) como com o mundo natural (bios); ele era o próprio Lógos (Verbo),
como diz o quarto Evangelho; nele “habitava corporalmente toda a plenitude de
Deus”, no dizer de Paulo de Tarso. Em Jesus a natureza humana havia
atingido a sua evolução integral, sob os auspícios da razão espiritual do Lógos.
Deus e o diabo nada têm que ver com isto; é simples questão de livre-arbítrio.
O livre-arbítrio é o poder que pode provocar tanto a evolução como a involução
do homem; tanto a sua realização como a sua frustração.
O ego-pensante é intelectual.
O cosmo-pensado é racional.
A análise é unilateral.
A intuição é onilateral.
O homem racional, intuitivo, sabe o que é o homem, mas não de modo que o
possa definir analiticamente. O que se pode pensar e dizer não é a verdade
sobre o homem integral; a verdade não é pensável, nem dizível. Podemos
saber (saborear) a verdade, mas não podemos pensá-la nem verbalizá-la,
menos ainda escrevê-la definitivamente.
Quanto mais alguém é Eu, e quanto menos é ego, tanto mais enigmático se
torna. Todo o ego age e reage como qualquer fator físico, mas o Eu ultrapassa
toda a física e sobe às alturas da metafísica, desconhecida do ego analítico e
conhecida pelo Eu intuitivo. Quem pode opor não violência, ou até
benevolência, à violência, amor ao ódio, esse é necessariamente o enigma
para outros capazes somente de responder com violência à violência, com ódio
ao ódio.
Há quem pense que esta encarnação seja uma queda trágica, uma punição
imposta pela Divindade.
Sabe que deve evolver, e por isto inicia o seu roteiro evolutivo.
O espírito não demanda a matéria como uma prisão, mas por colaboração. Não
forma com a matéria uma justa-posição mecânica, mas sim uma
interpenetração orgânica.
O homem é uma entidade inédita e original, que nunca deixa de ser homem. A
sua jornada evolutiva rumo à auto-realização é seu fim supremo e único. Ele
pode aproximar-se cada vez mais da sua meta, mas não pode jamais coincidir
ou identificar-se com o Infinito, porque entre qualquer finito e o Infinito medeia
sempre uma distância infinita. Pode a creatura integrar-se no Creador, mas não
pode dissolver-se nele.
O Cristo Cósmico, quando encarnou na pessoa humana de Jesus de Nazaré,
continuou a ser o Cristo; e, depois de regressar às regiões cósmicas, não
deixou de ser homem, O Cristo Cósmico era um encarnando, e Jesus, depois
da encarnação e ascensão, é um Jesus cristificado e cosmificado.
Quanto mais nítida se tornar num espírito a consciência da sua essência divina,
tanto mais se alarga a sua presença corpórea. Nos seres altamente evolvidos
há uma espécie de pluri-presença simultânea, e não apenas sucessiva, porque
para eles o tempo e o espaço, o quando e o onde, não representam
obstáculos, como para a presença material, que é necessariamente limitada,
uni-local e uni-temporal.
De modo análogo, pode o espírito lucificar um corpo a tal ponto que este se
transforma num maravilhoso prisma, fazendo aparecer o espírito incolor na
dispersão multicolor da creatura espiritualizada.
No primeiro século, escreveu Paulo de Tarso que o corpo podia assumir muitos
aspectos, o aspecto material e também o aspecto espiritual, e muitos outros.
O homem, uma vez corporeificado, nunca deixará de ter corpo, nunca voltará a
ser puro espírito; mas pode e deve potencializar indefinidamente a
materialidade do seu corpo, tornando-o altamente energético “astral”, e mesmo
luminoso e lucificado.
Mas, como o ego faz parte integrante da natureza humana, essa nudez não
consiste em que o homem se separe do ego, que seria um atrofiamento ou
mutilação da natureza humana; consiste em tornar o seu ego opaco cada vez
mais transparente pela penetração e permeação da luz do Eu. As roupagens
do ego ilusório e escravizante devem ser cada vez mais diafanizadas pela luz
do Eu, – isto é libertação, nudez, kaivalya.
Essa total diafanização do ego opaco pela luz do Eu supõe que este Eu
intensifique cada vez mais a sua luz; do contrário, não poderia diafanizar
totalmente a opacidade do ego. O Eu deve não somente iluminar o ego, como
uma tábua batida unilateralmente por uma luz; mas deve lucificar totalmente o
ego, assim como um cristal é diafanizado por uma luz extremamente intensa.
O espírito é livre; mas, como ser consciente e livre, percebe ele que é também
creador, e pode pôr em atuação a sua creatividade. E, como toda a creatura é
finita, e, portanto ulteriormente evolvível, o espírito emanado da Divindade vê
que deve continuar a sua evolução herdada por uma evolução adquirida.
Uma vez revestido desta matéria mental, chamada ego, o espírito inicia a sua
luta contra a resistência, o seu sofrimento, a sua evolução rumo à libertação.
Esta luta do homem consigo mesmo não é uma tragédia nem fracasso da
creação; é da íntima natureza do homem. O homem é a única creatura
terrestre inacabável, jamais plenamente realizada. Disse alguém que Deus fez
o homem o menos possível para que ele se possa fazer o mais possível. Entre
esse menos e esse mais se alarga o campo de batalha da vida humana.
O homem não é só uma creatura creada, mas também uma creatura creadora;
e entre a sua creaturidade e sua creatividade está o Kurukshetra onde Arjuna
enfrenta os Devas e os Kurus da sua própria natureza. O homem realizável e
realizando deve tornar-se um homem realizado – e isto é luta, luta evolutiva.
Faz parte dos mais antigos equívocos da teologia afirmar que Deus creou o
homem perfeito, e que o diabo reduziu o homem a um ser imperfeito; nem
mesmo o prometido redentor conseguiu fazer o homem perfeito.
O próprio Jesus sentiu estas duas leis da sua natureza quando, nas sombras
do Getsêmane, pedia para ser preservado do sofrimento, e, nos ardores do
Gólgota clamava “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” Mas
tanto aqui como acolá o Nazareno, sob os auspícios do seu Cristo, proclama a
vitória do seu Eu divino, sob o seu ego humano, sentiu a luta, mas cantou
vitória.
Esse tratado de paz não é o fim da luta, mas uma luta em perfeita harmonia
com a sua natureza integral, a integração do pólo negativo no pólo positivo, e
não a extinção daquele por este, que seria o atrofiamento da natureza humana.
O que dificulta grandemente a noção exata sobre a origem do homem são duas
teorias, uma antiquíssima, outra recente: a teoria mitológica da teologia e a
hipótese zoológica da ciência.
Sabia Moisés que no corpo humano não existe nada que não tenha vindo da
natureza; por isto disse ele que o corpo do homem foi feito da substância da
terra, como diz o texto grego da Septuaginta, tradução feita do original hebraico
por 70 Judeus de Alexandria, três séculos antes da Era Cristã. Deduzir daí que
Deus tenha feito um boneco de barro, é infantilismo ridículo. '
O espírito do homem não podia vir de outra fonte senão do Espírito Universal
da Divindade, donde emanam todas as existências finitas, com a diferença de
que nos outros seres essa emanação era inconsciente, e no homem apareceu
pela primeira vez como consciente.
Um homem 100% perfeito que tivesse caído dessa perfeição para o grau 1 de
imperfeição suporia um poder anti-divino maior que o próprio Deus.
O homem, imperfeito, mas perfectível, foi creado “o menos possível”, como diz
um pensador moderno, para que ele se pudesse crear “o mais possível”,
iniciando assim uma nova fase creadora, uma creatura creadora no meio de
creaturas apenas creadas. O Creador conferiu ao homem, por assim dizer,
uma parcela da sua creatividade divina, tornando-o evolvível e responsável por
sua evolução ulterior; do marco 1 devia o homem evolver para o marco 100, e
além.
O maior não vem do menor, mas pode vir através do menor; mas ambos, o
maior e o menor, vieram do máximo.
Todas as potencialidades, pequenas e grandes, vêm da Potência, e é por isto
que pode aparecer em atualidade.
Crear não quer dizer fazer “Algo” do “Nada”, mas sim fazer “Algo” do “Todo”,
manifestar um finito vindo do Infinito.
Diz o Gênesis que isto se deu no fim do sexto e último yom, ou período
creador, isto é, depois que o substrato material do organismo havia atingido o
máximo da evolução para servir de veículo manifestativo do espírito.
O mais perfeito veículo corporal era o corpo dos mamíferos superiores, dos
chamados primates, que recebeu o “sopro de Deus”.
A nossa ciência de hoje sabe que a vida dos seres vivos da terra resulta da
união de água e luz, como até hoje acontece, quando a luz solar se une à
água, na clorofila das plantas, transformando os minerais da terra em
substância viva.
O homem é, até hoje, o canal mais perfeito que fluiu da Fonte do Infinito.
A perfeição típica do homem consiste no fato de ser ele o único ser da terra
que possui em si o poder de determinar o próprio roteiro da sua evolução, de
se tornar maior ou menor pelo poder do seu livre-arbítrio.
O SOPRO DE DEUS E O
SIBILO DA SERPENTE
A sabedoria milenar da Bhagavad Gita diz que o ego é o pior inimigo do Eu, ao
passo que este é o melhor amigo daquele. Diz ainda que o ego é um péssimo
senhor da nossa vida, mas que é um ótimo servidor.
Sendo que o homem não apareceu como homem perfeito, mas sim perfectível,
em pleno processo evolutivo, era necessário que nele atuassem duas forças
antitéticas destinadas a se conciliarem na síntese da sua plenitude.
Um relojoeiro que fabrica um relógio de alta precisão é um talento; mas, se ele
fosse capaz de jogar sobre a mesa apenas as peças e desse ordem para elas
se comporem num relógio, seria um gênio.
Faz parte do plano cósmico que haja luta na natureza humana, porque sem
resistência não há evolução. O homem é o único ser auto-realizável da terra,
quando os outros seres são alo-realizados. O homem é a única creatura
creadora, quando as outras são apenas creaturas creadas.
Cerca de seis séculos antes da Era Cristã, vivia na Índia um príncipe real
chamado Gautama Siddhartha. Pouco depois do seu casamento abandonou
ele, clandestinamente, o Palácio Real e foi peregrinar pelas florestas da Índia,
durante 16 anos, meditando, meditando e jejuando. Queria descobrir uma
resposta definitiva ao tenebroso mistério do sofrimento universal da
humanidade. Os animais selvagens não sofriam, e por que devia o homem,
coroa da creação, viver em sofrimento permanente? Certo dia, estava o
príncipe sentado à sombra de uma árvore, mergulhado em profunda
meditação. Quando despertou do seu prolongado samadhi, proferiu quatro
palavras – e os discípulos dele, sentados em derredor, exclamaram: Buda!
Buda! isto é: acordou, acordou.
Cerca de mil anos antes de Buda dissera Moisés, com outras palavras, estas
mesmas verdades: “Maldita seja a terra por tua causa”, disseram os Elohim ao
primeiro homem, porque este se identificava com o seu ego ilusório, aberrando
da verdade libertadora sobre a sua verdadeira natureza. E esta ilusão funesta
provocou sua auto-expulsão do paraíso e o início do sofrimento Universal.
Até hoje, quase toda a humanidade é culpada perante as leis cósmicas, porque
todos os homens são realizáveis, e poucos são realizados. A humanidade sofre
porque é culpada e devedora em face das eternas leis do Universo, e sofrerá
sempre, enquanto não estiver quite com as leis da justiça cósmica.
O homem que apenas desenvolve o seu ego mental, e não o seu Eu racional
(espiritual), vive numa frustração existencial, e não pode deixar de ser sofredor,
por ser devedor e culpado da sua não-realização existencial.
Nesse caso estava Jesus, que não sofreu por débito próprio, nem alheio, como
ele mesmo diz, mas “para entrar em sua glória”. O seu sofrimento voluntário foi
um sofrimento crédito, a serviço da sua evolução superior, e não um sofrimento
débito.
“Haverá um novo céu e uma nova terra, e o Reino de Deus será proclamado
sobre a face da terra”.
AS MALDIÇÕES DOS ELOHIM
Resposta: Essas maldições não se referem à natureza humana como tal, que é
obra dos Elohim, mesmo na sua forma antitética. As maldições se referem à
rebeldia contra as leis cósmicas, de que os Elohim são locutores; referem-se à
possibilidade de o homem agir contra as leis da natureza; de ele não realizar a
grande síntese do homem perfeito, mas preferir uma das antíteses do homem
imperfeito; de o homem não evolver, mas involver, e assim frustrar em si as leis
cósmicas.
Quer dizer que essas maldições são auto-maldições do homem involutivo; elas
só têm valor no caso de que o homem perfectível não se torne homem perfeito,
frustrando assim a finalidade da sua existência.
Sendo que o homem é, aqui na terra, a única creatura creadora, se ele não
realizar essa sua creatividade, o homem se maldiz a si mesmo. O que é
realizável e não se realiza, se desrealiza.
Quem pode, deve; e quem pode e deve, e não faz, cria débito – e todo o débito
gera sofrimento, gera auto-maldição, gera auto-destruição.
Isto nada tem que ver com um Deus pessoal, com um Deus emocional, que se
possa irritar.
O homem é o autor do seu céu ou do seu inferno, da sua vida eterna ou da sua
morte eterna.
***
Desta horizontal “0” começa ele a sua evolução hominal rumo à vertical
marcada com “90”, representando um ângulo reto.
Mas esta jornada, de “0” para “90”, tem numerosas linhas ascensionais, que
representam a ética pré-mística. O princípio desta ética ascensional é difícil,
porque a lei da gravidade atua fortemente para baixo.
Esta fase é chamada pelo Cristo “caminho estreito e porta apertada, que
conduzem ao Reino dos Céus”.
Mas, na medida que o homem avança através desta ética rumo à mística, a
tendência gravitacional diminui paulatinamente; no ponto “45”, meio ângulo
reto, já é mais fácil subir e há menos tendência de recair.
Quando o homem se aproxima da linha vertical do ângulo reto, verifica ele que
a subida é, na linguagem do Cristo, “julgo suave e peso leve”. E, quando atinge
a vertical, a sua ética coincide com a mística, e então cessa qualquer
dificuldade e perigo de recair. O querer do ego coincide com o dever do Eu; o
homem assim realizado quer o que deve, e deve o que quer, conciliando o ego
do querer com o Eu do dever.
Este estado de auto-realização é chamado nos Evangelhos “entrada no Reino
dos Céus”, e na filosofia oriental “nirvana”, onde não há mais luta, mas paz e
felicidade.
Daqui por diante, não há mais sofrimento necessário, mas pode haver
sofrimento voluntário, se o homem quiser. Os grandes avatares fazem então a
sua antidromia, descendo voluntariamente à regiões de evolução inferior, onde
encontram resistência, luta, sofrimento. Eles sabem que sem resistência não
há evolução; mas, como querem acelerar a sua evolução superior, vão em
busca de resistência, para a sua auto-realização em evolução indefinida.
“Da sua plenitude todos nós recebemos, graça e mais graça”, diz João no
Evangelho, referindo-se à plenitude do Cristo.
A filosofia oriental enumera cinco éticas (ou yamas) principais, pelas quais o
homem; deve passar para entrar no Nirvana; mas há numerosas outras
disciplinas menores, que abrem o caminho para o Reino dos Céus.
2 – satya (verdade)
Nasceu assim a primeira rebeldia duma creatura contra a Lei da natureza, que
é a porta-voz das Leis Cósmicas. Nasceu a luxúria, a libido pervertida,
falsificada.
Até hoje, continua essa guerra entre o intelecto e o instinto, essa falsificação do
bios pelo nóos, ainda que, por vezes, essa guerra apareça como armistício.
Armistício é uma trégua entre duas guerras, mas não é um tratado de paz.
Dizem os Elohim, as Potências Creadoras, de que Moisés era fiel locutor, que
porão inimizade entre a serpente e sua geração e entre a mulher e sua
geração; o descendente da mulher esmagará a cabeça da serpente, e a
serpente armará ciladas ao calcanhar do vencedor.
Se Moisés tivesse escrito em grego, poderia ter falado na vitória da razão sobre
a inteligência; se tivesse escrito em sânscrito, poderia ter falado do aham (ego)
que sempre hostiliza o atman (Eu).
Os planos cósmicos dos Elohim não podem falhar; se eles, fizeram do homem
a obra-prima da creação telúrica, esses planos se cumprirão infalivelmente.
Mas o quando e o como desse cumprimento depende da creatividade do
próprio homem.
Quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, cria débito – e todo o débito
gera sofrimento. Esta frase concretiza em sua precisão lapidar, toda a lógica e
matematicidade da Constituição Cósmica do Universo.
A nossa humanidade pôde realizar-se, mas não o fez. Por isto, é devedora
perante a justiça do Universo – e todo o débito gera sofrimento.
Estas últimas palavras revelam uma cosmo-visão de grande alcance, fazem ver
que haverá sempre hostilidade entre o sibilo da serpente e o sopro de Deus,
entre o ego e o Eu, entre o anticristo e o Cristo, como já fez ver Orígenes de
Alexandria no seu livro Apokatástasis, porque a evolução continuará
indefinidamente, uma vez que sem resistência não ha evolução.
A evolução ascensional vai rumo ao Infinito, sem jamais coincidir com o Infinito
– a involução descensional vai rumo ao nada existencial. A existência creatural
pode deixar de ser esta existência, mas sua essência não pode deixar de ser
essência, que é una e eterna.
A nova humanidade orientada pelo lógos da razão não será mais quantificante
pela pro-creação sexual, mas será qualitativa pela auto-creação individual; a
erótica horizontal será superada pela mística vertical.
Esta existência mística será como uma vertical sem fim, uma sinfonia
inacabada.
Quem não se liberta não é plenamente livre; uma liberdade apenas herdada é
uma semi-liberdade, para não dizer uma pseudo-liberdade; somente uma
liberdade adquirida por esforço próprio, uma libertação, é liberdade em toda a
sua plenitude.
A única tarefa do homem, aqui na terra e em todas as existências cósmicas do
futuro, é a sua auto-libertação.
O homem com os olhos fitos na sua evolução cósmica está na linha reta da
verdade, seja qual for a sua distância do Infinito. A vida eterna não é uma
chegada final – é uma jornada certa sem fim.
A ILUSÃO SEPARATISTA E A
VERDADE UNITIVA
Com a origem do homem iniciou o Uno do Universo uma nova forma das suas
manifestações: Verso – apareceu uma creatura dotada da consciência da sua
alteridade. Todas as outras creaturas só têm consciência da sua identidade
com o Todo, mesmo inconscientemente.
O ego se contemplou, e viu que não era idêntico ao Uno ou Todo do Infinito.
Contemplou-se na sua ego-alteridade. Despontou nessa creatura a
personalidade, a ilusão do separatismo.
Tudo que o ego faz por amor a esse ego separatista é ilusão. O ego só
conhece um falso agir, um agir por amor dos objetos externos, e nada sabe de
um reto agir, por amor ao sujeito interno.
O longo diálogo que, na Bhagavad Gita, Krishna mantém com Arjuna, gira em
torno desse assunto fundamental: a luta pela auto-libertação, ou auto-
realização.
3 – O homem cósmico descobriu o seu sujeito real e, mais do que isto, verificou
que pode intensificar cada vez mais a consciência desta verdade se se servir
dos objetos sem ser por eles dominado, se agir intensamente, em qualquer
setor da vida, sem se apegar a nenhum objeto, mas realizar todas as suas
atividades unicamente por amor ao seu verdadeiro sujeito Eu; esse homem é
um auto-realizado.
É este o roteiro evolutivo, onde o Alfa inicial pode atingir o Ômega final.
A POTÊNCIA ÚNICA E AS
POTENCIALIDADES
MÚLTIPLAS
Em face disto, todo e qualquer finito (Verso) veio do Infinito (Uno), que, todavia,
não exclue a possibilidade de terem os finitos fluído através de outros finitos.
O homem, tanto à luz da lógica como também dos fatos históricos, foi veiculado
através de outros organismos vivos; mas todos esses canais, menores e
maiores, fluiram duma fonte única.
Ninguém dirá, com boa lógica, que a água vem da torneira, nem do
encanamento, nem mesmo da caixa d’água, porque nenhum desses fatores
produz água, mas todos podem receber e veicular a água que veio de uma
fonte.
Na natureza física, nem mesmo a fonte é fator último da água, nem o mar e os
rios donde subiram os vapores que originam a chuva e as fontes. No mundo
físico, nada é último, absoluto; tudo é derivado, relativo.
Os valores são o absoluto da metafísica, que não vêm dos fatos relativos da
física. Os fatos relativos vêm do valor absoluto, mas podem fluir
incessantemente através de outros fatos relativos.
Em outra ocasião, afirma Einstein que, pela ciência descobre o homem os fatos
já existentes, como as leis da natureza; mas pela consciência crea o homem
valores que ele faz existir; o descobrimento de fatos tornam o homem erudito; a
creação de valores tornam o homem bom e feliz.
O “postulado” não é uma hipótese, mas sim uma evidência imediata, que não
pode nem deve ser provada; é a própria consciência intuitiva da certeza –
suposto que o homem não obstrua a atuação dessa consciência.
Todos os fatos relativos vêm da lei absoluta, e Einstein identifica esta lei com o
Infinito, dizendo: “Deus é a Lei”.
Nenhum cientista de nosso século fala tanto em Deus como Einstein; mas ele
não entende por Deus alguma pessoa individual, e sim a “alma do Universo”,
como já escrevia Spinoza.
O homem é, aqui na terra, a única creatura que tem nas mãos as rédeas do
seu destino evolutivo. Nas outras creaturas, a evolução depende da
“Inteligência Cósmica”; elas são alo-evolvíveis, ao passo que o homem é auto-
evolvível.
Quando então esse ego se torna algo virtuoso, permite egos alheios a seu
lado, repartindo o seu egoísmo em alter-egoísmo, ou altruísmo.
A linha vertical não é afetada nem pelas ascensionais nem pela horizontal;
adquiriu plena imunidade e invulnerabilidade.
É esta a experiência que todo o homem tem da sua jornada evolutiva, cujo
início é difícil e cujo fim se torna fácil.
A sabedoria milenar da Bhagavad Gita diz que o ego é o pior inimigo do Eu,
mas logo acrescenta que o Eu é o melhor amigo do ego.
Mas o germe do Eu, presente no ego, está envolto num invólucro rígido, quase
sem vida; esta casca é uma proteção necessária para o germe nela contido.
A seu tempo, porém, a casca protetora deixa de ser uma proteção para o
germe e se torna um obstáculo.
Esta porta, porém, é mantida fechada pelo narcizismo do ego ilusório, que
identifica a sua periferia com o centro, o seu contenedor com o seu conteúdo.
Nesta obra mostrava Orígenes que a evolução de toda a creatura humana está
condicionada a dois fatores, positivo e negativo. O fator positivo é representado
historicamente pelo Cristo, e o negativo pelo Anticristo.
Ensinar tão grande verdade num ambiente primitivo como o do terceiro século
– e mesmo do século 20 – é uma temeridade. As grandes verdades são
alimento para os espiritualmente adultos, mas podem ser veneno para os
espiritualmente imaturos e infantis.
Orígenes quis dar a comer comida sólida às crianças do seu tempo, aos
catecúmenos e neófitos de Alexandria, ao que parece. Por isto, a hierarquia
eclesiástica tomou a defesa do jardim de infância espiritual, queimando a obra
monumental de Orígenes; às crianças de catecismo e de escola dominical se
deve dizer que o Cristo deve existir e o anticristo deve morrer.
Por quê?
Sendo que, como diz a filosofia oriental, o ego é o pior inimigo do Eu, este ego
faz o possível para impedir o despertamento do Eu, da razão, do lógos, do
espírito.
É ilusão tradicional dos teólogos que o batismo possa anular o tal pecado
original. O único fator capaz de superar o ego pecador é o Eu redentor, se este
conseguir prevalecer contra aquele. Sabiamente, dizia João Batista: “Eu só vos
mergulho na água, mas após mim virá alguém que vos mergulhará no fogo do
Espírito Santo”, aludindo a esse despertamento do Eu Crístico no homem.
O livro de Orígenes é mais crístico do que cristão, se por esta última palavra
entendemos a nossa teologia dominante.
EVOLUÇÃO PELO
SOFRIMENTO
Acima de tudo, se não houvesse sofrimento no mundo dos vivos, não haveria
garantia para a conservação da vida e sua integridade. O sofrimento, a dor, é o
grande protetor da vida e da integridade dos vivos. Toda a vez que um
organismo é lesado de qualquer forma, surge o alerta da dor, para que o ser
vivo tome as providências necessárias para evitar lesões ulteriores.
Mas, quanto mais o homem sobe tanto mais ele sente a feliz insatisfação com
o seu nível atual, e tanto mais cresce o seu anseio rumo à um nível superior. A
sua evolvibilidade cresce na razão direta da sua evolução.
Num surto evolutivo de grande altura entra o homem, não propriamente numa
feliz satisfação, como seria de esperar, mas num gozo sofrido, numa felicidade
ao mesmo tempo feliz e insatisfeita; feliz, por estar na linha reta do seu destino;
insatisfeito, porque a consciência da sua distância do Infinito se torna cada vez
mais nítida e intensa.
Se a vida eterna fosse um céu gozado, não seria aconselhável uma evolução
superior. Mas o céu do homem superior é ao mesmo tempo um céu gozado e
um céu sofrido, uma felicidade insatisfeita.
Quanto mais alguém possui a Deus, tanto mais vai em busca dele – e esse
mais-de-possuir e esse mais-de-buscar é a sua vida eterna, a sua eterna
felicidade; não uma vida estática, mas uma vida dinâmica.
Essa infinitude e essa retitude são os dois pólos sobre os quais gira toda a
evolução do homem superior: um céu deliciosamente sofrido e dolorosamente
gozado.
Esse querer-subir-mais nada tem que ver com egoísmo, como pensam os
inexperientes, mas é o destino de toda a creatura creadora, é a razão-de-ser
da sua própria existência.
Nem é exato atribuir essa antidromia dos avatares ao desejo de ajudar outras
creaturas existentes em planos inferiores. O avatar não desce para fins de alo-
redenção, mas sim para sua auto-redenção ulterior, ou seja, sua maior auto-
realização. É que todo o alo-amor se baseia necessariamente num auto-amor:
amar seu semelhante como a si mesmo, é esta a sabedoria de todos os
mestres da humanidade, quem não tem auto-amor não pode ter alo-amor.
Acontece, porém, que muitos desses seres inferiores, no meio dos quais
aparece o avatar, não têm essa abertura receptiva – e esses seres sentem
então a presença do avatar como uma ofensa, um desaforo, um desafio, e o
hostilizam de todos os modos. Dificilmente, um pigmeu tolera ser eclipsado
pela sombra de um gigante, como aconteceu ao maior dos avatares, que foi
crucificado, morto e sepultado pelos pigmeus da incompreensão.
Quanto mais liberto se acha um avatar, tanto mais se escraviza ele livremente
– a fim de se libertar cada vez mais. Somente os pouco libertos evitam a
escravização voluntária, porque ainda não conseguiram soletrar o abc da
evolução e auto-libertação.
O homem de elevada evolução não é vicioso, nem virtuoso, mas sábio. Já não
se vinga de ofensas, como o analfabeto, nem as perdoa, como o recém-
alfabetizado ou virtuoso – mas simplesmente ignora qualquer ofensa. A
ofendibilidade é dos egos, viciosos ou virtuosos; a inofendibilidade é do Eu da
sabedoria.
Quem está nas baixadas do ego é como a água, que pode tornar-se impura;
mas quem está nas alturas do Eu é como a luz, que é absolutamente
incontaminável por qualquer impureza, nem é acessível à ofendibilidade.
Se houvesse apenas entropia física sem ectropia metafísica, seria possível tal
paralização universal.
Com estas palavras, lamenta Paulo que o homem não tenha ainda
intensificado devidamente a sua consciência ao ponto de redimir a natureza
inconsciente, que ainda geme e sofre dores de parto, porque não nasceu ainda
o homem integral, o homem cósmico, o homem crístico. E acrescenta que a
natureza, ainda corruptível tem esperança de ser liberta da sua corruptibilidade
(entropia) e participar da gloriosa liberdade dos Filhos de Deus (ectropia).
Não falta quem estranhe esse paralelo entre causa e efeito no mundo hominal
e no mundo material; acham que uma causa espiritual não pode ter efeito
material, porque ignoram que o maior pode exercer impacto sobre o menor,
que o espiritual pode afetar o material.
Freud declara que é o prazer, cuja expressão máxima está na libido. Outros,
porém, já compreenderam que o sentido da vida está no valor realizado pela
obediência ao dever.
A Bhagavad Gita diz que o ego é o pior inimigo do Eu, mas que este é o melhor
amigo do ego.
Como pode o Eu sapiente fazer com que o ego insipiente enxergue a verdade
de que a Essência do ego é essencialmente idêntica à Essência do Eu?
Quer dizer, a solução definitiva está na mística do Eu. Esta mística vertical Eu
produzirá paulatinamente a ética do ego, a plenitude do Eu transbordará em
benefício do ego.
Para que este transbordamento seja recebido pelo ego, deve este tornar-se
receptivo. Esta receptividade é a ética pré-mística do ego, que é sempre
dolorosa, “caminho estreito e porta apertada que conduzem ao Reino de Deus”
enfrentar a dolorosidade desta ética pré-mística é que cria abertura para
receber o transbordamento da plenitude do Eu.
No princípio, este feito sacro é doloroso, mas no fim se torna “jugo suave e
peso leve” – e então o homem achará repouso para a sua alma.
Mas é certo que a qualidade atua sobre a quantidade, que a elite atua sobre a
massa.
Esta osmose, esta indução vital do Eu para o ego alheio é infalível, suposto
que o Eu já tenha permeado totalmente o seu próprio ser.
Se não existir essa plenitude do ser, é inútil todo o dizer e todo o fazer.
Para quem não esteja a par dessas duas séries de maldições, passaremos a
citá-las brevemente.
“Porque fizeste isso, rastejarás sobre o teu ventre e teu peito e comerás do pó
da terra, todos os dias da tua vida”.
Sobre o homem os Elohim lançaram esta maldição: “Seja maldita a terra por
tua causa; se a cultivares, ela te produzirá espinhos e abrolhos, e no suor do
teu rosto comerás o teu pão”.
Quanto à ganância, o homem moderno trabalha 24 horas durante 365 dias por
ano, por muitos decênios, unicamente para amontoar grandes quantidades do
“excremento de satanás” como Papini chama o dinheiro. As grandes indústrias
exploram milhões de escravos humanos para dar um super-conforto à
pequenos grupos de ricaços exploradores.
Hoje em dia, podemos admitir como altamente provável, para não dizer certa, a
existência de outras humanidades, ou seres conscientes, em outras regiões do
Universo.
Hoje em dia, estamos em vésperas de sofrer um golpe ainda maior: não somos
a única humanidade, e, provavelmente, nem a mais evolvida das humanidades
do cosmos. Tudo faz crer que somos uma espécie de jardim de infância do
Universo, corporalmente, mentalmente, espiritualmente.
A nossa pergunta referente aos tais “discos voadores” é esta: Por que é que
eles não entram em contato direto com os habitantes do nosso planeta terra?
Tudo faz crer que os nossos visitantes planetários ou espaciais esperam por
uma oportunidade da nossa parte. Não nos podem revelar os segredos da
superioridade da sua ciência e técnica, enquanto a nossa ética não igualar a
nossa ciência e técnica. E a nossa ética é deploravelmente primitiva.
Bem sabem eles que não se devem entregar navalhas afiadas a crianças
inexperientes.
Quando a nossa ética igualar a nossa técnica, quando a nossa consciência
emparelhar coma nossa ciência, então os nossos vizinhos cósmicos entrarão
em contato direto conosco e nos revelarão o mistério do seu estupendo
progresso.
Que é o nosso homem telúrico até hoje? Nada mais que um animal
intelectualizado do pescoço para cima; mas o resto da nossa natureza em nada
progrediu. Do pescoço para baixo, e sobretudo da cintura para baixo, somos
feras selvagens. E, para cúmulo dos males, feras intelectualizadas, que
perverteram o seu instinto animal pela inteligência luciférica.
O homem não superou ainda a sua inteligência negativa pela razão positiva.
Estamos ainda, como diz Teilhard de Chardin, na noosfera, e procuramos
atingir a logosfera. O homem é um animal intelligens, mas não um animal
rationale. O homo sapiens é um fenômeno esporádico em nosso planeta.
Por isto os nossos vizinhos cósmicos não podem ainda entrar em contato direto
com os telúricos.
Que fazer?
Nada podemos esperar dos nossos governos nem das nossas igrejas, que só
tratam de instrução ou de moralização, que se movem no plano horizontal do
ego e não se interessam pela dimensão vertical do Eu. Dos governos, para cá
e para lá do Atlântico, nunca nenhum deles se interessou pela educação da
consciência, mas tão-somente pela instrução na ciência – mas a ciência não
torna o homem melhor; nenhum dos grandes malfeitores da humanidade foi
analfabeto.
Esse homem não é bom para merecer um céu, nem para temer o inferno, mas
porque realizou em si a sua própria natureza, o Reino dos Céus, que está em
todo o ser humano como um “tesouro oculto”, como uma “luz debaixo do
velador”, como uma “pérola preciosa no fundo do mar”.
O homem integral não é politeísta nem monoteísta, mas puro monista, porque
sabe que Deus é aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos a nossa
existência”; a sua catedral está em cada creatura, e o seu altar está no seu
próprio coração.
O homem integral sabe que Deus e diabo, céu e inferno, são fatores da sua
própria consciência, positiva ou negativa, que ele pode perpetuar ou terminar
pelo poder creador do seu livre-arbítrio.
O homem integral não espera uma salvação após morte, mas realiza o céu em
plena vida. Sua religiosidade não consiste em dogmas, sacramentos,
ritualismos, igrejas, mas na consciência mística da paternidade única de Deus
transbordando na vivência ética da fraternidade Universal dos homens.
O homem integral sabe que sem resistência não há evolução, e por isto rejubila
com todas as quedas e todos os surtos do seu itinerário, cantando o felix culpa
e o necessarium peccatum do seu hino pascal, no prelúdio da sua ressurreição
e auto-realização.
O homem integral sabe que, na sua vida terrestre, ele deve forjar as armas que
o conduzam vitorioso através dos campos de batalha de outros mundos, em
perpétua evolução ascensional; sabe que a existência humana é uma vida
após vida, um dia após dia, cujo interstício noturno é chamado “morte” pelos
viajores incipientes e insipientes.
O homem integral sabe que a vida terrestre não vale pelos fatos que ele
descobre fora de si, mas pelos valores que realiza dentro do seu próprio ser, e
que esta auto-valorização é o destino supremo e a vida eterna de todo o
homem.
ÍNDICE
PREFÁCIO
O NARCIZISMO DA EGOÍDADE
QUERER O DEVER
DISCIPLINAS EVOLUTIVAS DO HOMEM
FATORES ANTI-EVOLUTIVOS
OUTRAS HUMANIDADES
O HOMEM INTEGRAL
HUBERTO ROHDEN
VIDA E OBRA
Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).
Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.
Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.
Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.
À zero hora do dia 8 de outubro de 1981, após longa internação em uma clínica
naturista de São Paulo, aos 87 anos, o professor Huberto Rohden partiu deste
mundo e do convívio de seus amigos e discípulos. Suas últimas palavras em
estado consciente foram: “Eu vim para servir à Humanidade”.
A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
O SERMÃO DA MONTANHA
O NOSSO MESTRE
ÍDOLOS OU IDEAL?
ESCALANDO O HIMALAIA
O CAMINHO DA FELICIDADE
DEUS
EM ESPÍRITO E VERDADE
PORQUE SOFREMOS
LÚCIFER E LÓGOS
A GRANDE LIBERTAÇÃO
FILOSOFIA DA ARTE
ORIENTANDO
ROTEIRO CÓSMICO
A METAFÍSICA DO CRISTIANISMO
A VOZ DO SILÊNCIO
A NOVA HUMANIDADE
O HOMEM
ESTRATÉGIAS DE LÚCIFER
O HOMEM E O UNIVERSO
IMPERATIVOS DA VIDA
PROFANOS E INICIADOS
NOVO TESTAMENTO
LAMPEJOS EVANGÉLICOS
A EXPERIÊNCIA CÓSMICA
MARAVILHAS DO UNIVERSO
ALEGORIAS
ÍSIS
COLEÇÃO BIOGRAFIAS:
PAULO DE TARSO
AGOSTINHO
MAHATMA GANDHI
JESUS NAZARENO
PASCAL
MYRIAM
COLEÇÃO OPÚSCULOS:
CENTROS DE AUTO-REALIZAÇÃO