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A CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA PARA AS MISSÕES

Pr. Carlos Gomes

Texto: “E como pregarão se não forem enviados?” Romanos 10.15.

Introdução: Este estudo foi ministrado no início dos anos 90, em um Congresso de Missões, na
cidade de Salta (noroeste argentino), e modificamos a introdução, haja visto não expressar a
realidade atual. No entanto, preservamos na íntegra o conteúdo. Na época, a preocupação
daquele congresso era encontrar uma solução para o envio missionário desde Argentina até os
confins da terra, considerando a desestabilização monetária nos países da América Latina, as
variações cambiais e as constantes mudanças de moeda. Consideremos aqui, o aspecto bíblico
acerca do assunto:

I – O cuidado de Deus para com o seu plano no Antigo Testamento.

Para assegurar que seu plano de salvação chegasse a todos os povos (Salmo 96.1; 3.10;
100.1; Isaías 61.11), o Senhor cobrava de seu povo Israel, que fossem luz para os gentios em
todo o mundo. Mas “o amor de Deus não está restrito a uma raça, nação ou grupo cultural. Ele
ama a todos os povos... O amor de Deus transcende as fronteiras culturais, raciais e lingüísticas.
Ele deseja que todos tenham a oportunidade de seguir a Cristo”.
Quais seriam os propósitos de Deus ao escolher a Israel como povo especial a fim de
levar o seu plano a todos os povos?
1. Jesus seria o propósito final de Deus para a salvação do homem. Poderíamos dizer
que Cristo é o descendente de todas as promessas de Deus a Abraão.
2. “Graças ao tratamento de Deus ao povo de Israel, a raça humana pode contemplar a
glória do amor divino, assim como o seu poder, sua paciência, seu juízo e sua
justiça”.
3. O tabernáculo e posteriormente o templo eram, com seus sacrifícios e rituais
religiosos, com seus sacerdotes belamente vestidos, a representação visual da glória
de Deus a (Shekinah), no meio do seu povo Israel, rodeado por gente que adorava a
deuses pagãos e terríveis como: Baal, Moloque, Astarote, Asera, etc. Por esta razão,
os filhos de Israel haveriam de ter o cuidado de ofertar ao Senhor, para a manutenção
de seus irmãos, os levitas, que tinham o cuidado pelas coisas do Tabernáculo, a fim
de que seguissem no serviço permanentemente a Jeová. As ofertas eram estimuladas
como um mandato de Deus a todo o homem que desse algo para a causa do Senhor.
Êxodo 25.2 diz: “Fala aos filhos de Israel que me tragam uma oferta alçada; de
todo homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta
alçada”.
4. Em certa ocasião, os capitães do exército de Israel se acercaram a Moisés,
entregando-lhe uma oferta que foi depositada aos pés do sacerdote Eleazar. Esta
oferta consistia em “fivelas, pendentes, anéis, braceletes, todos os objetos de ouro”
(Êx 35.22 – RA). Todas estas coisas pesaram 16.750 siclos de ouro puro
aproximadamente 191.352 quilos. Mais adiante, nos tempos do rei Davi, o povo se
alegrou por haver contribuído voluntariamente e de todo o coração para a
manutenção da causa de Jeová (1 Cr 29.9).
5. Depois do cativeiro, Esdras é motivado a reedificar o templo de Jerusalém baixo o
mandato de Ciro, o persa, que não somente decretou a ordem da reconstrução, como
também que os governadores das terras próximas a Jerusalém (e, portanto, inimigos
da reconstrução), eles mesmos sustentavam financeiramente a obra, com dinheiro
dos cofres do rei. A arrecadação tributária da Palestina feita por ordem de Ciro,
destinava-se à reconstrução do templo do Deus vivo. Por quê? Para que se cumprisse
o que estava escrito que a casa de Jeová seria casa de oração para todos os povos (Is
56.7; Mc 11.17). Deus tinha interesse em que os gentios também chegassem a
conhecer o seu nome. Meu irmão, se você não é um contribuinte da obra missionária,
Deus é suficientemente capaz de levantar incrédulos para sustentar sua obra,
contanto que o seu plano de salvação seja levado adiante!

II – O sustento de missionários no Novo Testamento.

O Senhor Jesus Cristo estabeleceu sua igreja, tendo como fundamento Ele mesmo
(Mateus 16.18; Atos 4.11), levantando primeiramente aos doze discípulos, ensinando-lhes
durante 3 anos e meio, tempo em que também se levantou um grupo de setenta, que enviaria por
cidades e vilas de Israel, de dois em dois.
Quando ressuscitou, um grupo de aproximadamente quinhentos irmãos o viram subir no
monte das Oliveiras, conforme Paulo (1 Co 15.6), destes, perseveraram em oração no Cenáculo
apenas cerca de cento e vinte até o dia do derramar do Espírito no dia de Pentecostes, quando
este número saltou a quase 3000 almas, continuando a crescer e chegar a 5000 irmãos
congregando-se nas casas e no templo.
Algumas coisas poderemos encontrar nas páginas das Sagradas Escrituras, relacionadas
a manutenção financeira. Sabe-se que os discípulos abandonaram seus respectivos trabalhos
seculares enquanto estavam na escola de treinamento de Jesus. Mas também nos esclarece que
algumas mulheres serviam a Jesus com os seus bens (Lc 8.3). O ministério do serviço das
mulheres tiveram importante papel no início da igreja primitiva. O Mestre e seus discípulos
necessitavam ser sustentados e, tal como o Pai havia enviado corvos, uma mulher viúva e pobre
e um anjo a fim de alimentarem o profeta Elias, de igual modo agora, levantava mulheres para
esta importante tarefa. É interessante observar que não foram escolhidos altos comerciantes,
mas mulheres que tinham histórias comuns. O médico Lucas dá-nos os nomes de três delas,
como para ressaltar seu diferentes “status” sociais:
a) Maria Madalena (uma mulher pecadora que era portadora de uma casta de sete
demônios, mas agora transformada);
b) Joana, mulher de Cuza, intendente de Herodes, representante da alta camada social
de seu tempo, e
c) Susana, possivelmente uma dona de casa como qualquer outra. Além destas, agrega:
“e muitas outras”.

O terceiro período

Entramos no terceiro período da igreja primitiva – o da expansão e desenvolvimento das


missões ao estrangeiro. O fim do ciclo de transição é a transferência do centro missionário
mundial de Jerusalém, para a cidade de Antioquia na Síria. Esta igreja de novos crentes, marca
cerca do ano 48 de nossa era, um avanço sem precedentes na história da igreja, enviando os
primeiros missionários comissionados e enviados pelo Espírito Santo; Paulo e Barnabé (At
13.2,3). Mais perto do ano 50, Paulo empreende sua segunda viagem missionária em companhia
de Silas, enquanto Barnabé segue outro caminho com João Marcos, seu sobrinho.

A manutenção financeira do missionário Paulo foi, ao princípio, ao que nos parece,


responsabilidade inicial da igreja enviadora. Depois, outras igrejas foram motivadas a colaborar
com o apóstolo e seus discípulos. Examinando o livro de Atos dos Apóstolos no capítulo 18,
veremos claramente dois versículos que nos traz um pouco de luz ao tema: o versículo 3, nos
mostra um missionário exercendo uma atividade manual para manter a si e aos seus discípulos
Timótio e Tito, além de Silas, Silvano e tantos outros. Para isto, manteve uma sociedade com
um casal e judeus expulsos de Roma, que por sua dinamicidade é mencionada várias vezes no
Novo Testamento – Áquila e sua esposa Priscila. O versículo 5 nos diz que Paulo abandona
temporariamente seu ofício material, e “se entregou totalmente à palavra, testemunhando aos
judeus que o Cristo é Jesus”. Isto significava obreiro a tempo completo.

Encaminhar ou acompanhar.

Paulo esperava que os irmãos em Roma o ajudassem financeiramente para que ele
pudesse chegar à Espanha, isto é, à província romana de Hispania (Península Ibérica),
considerada na época do apóstolo, como os confins da terra. Possivelmente, o pensamento de
então era de que o Estreito de Gibraltar marcava o fim do Mar Mediterrâneo, portanto, o fim do
mundo navegável. Romanos capítulo 15 possui algumas expressões que nos faz pensar acerca
da intenção final desta carta. A nota do versículo 23 na Bíblia Anotada diz-nos: “não havia
mais oportunidades de pregar Cristo onde Ele fosse desconhecido. Por isso, Paulo se propôs
ir à Espanha, parando em Roma em sua viagem (v.24)”. (Bíblia Anotada, pg. 1430).
O versículo 24 nos fornece um apoio a esta idéia inicial: “... penso em fazê-lo quando
em viagem para a Espanha, pois espero que de passagem estarei convosco e que para lá seja
por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia”.
(RA, grifo nosso). O apóstolo utilizou a palavra grega propempõ (), acompanhar, e
significa literalmente “enviar à frente” ou “ajudar alguém em viagem”, com os seguintes
sentidos:
a) equipar esta pessoa das coisas necessárias para a viagem;
b) acompanhar esta pessoa em parte do caminho (1 Co 16. 6,11);
c) ajudar aos missionários e evangelistas caminhantes (2 Co 1.16; Tt 3.13 e 3 João 5-8).

Esta solicitação é feita pelo próprio Paulo (1 Co 16.6), por Timóteo (1 Co 16.11); e por
Zenas e Apolo (Tt 3.13).
Em algumas ocasiões, a igreja em Filipos participou financeiramente nos
empreendimentos missionários de Paulo (Fp 4.15,16). Sem esta participação espontânea e
voluntária desta e de outras igrejas, bem como dos irmãos, seria impossível a penetração e
propagação do evangelho por todo o Império Romano.
III – A perspectiva do sustento missionário pela igreja moderna.

Faz alguns anos que a América Latina deixou de ser campo missionário e se tem
convertido em um centro missionário para todos os povos. Nossas igrejas, formadas em grande
parte por pessoas das classes média-baixa, dos distintos setores da população, no entanto,
provam que são capazes de conduzir um avanço missionário até os países limítrofes, e sustentar
missionários por um bom espaço de tempo, desde que sejam orientados e motivados
ordenadamente a orar e a contribuir. Existem algumas perguntas que necessitamos responder:

1. Que acontecerá conosco, como movimento evangélico mais jovem deste país (aqui estou
falando dentro do contesto argentino no início dos anos 90), se nos metermos a evangelizar
outros povos e mesmo a nível nacional, enquanto temos carência de construção de templos e
sustento a obreiros nacionais?
Dependerá da visão dos líderes e do povo. Se os líderes têm a visão do Senhor da seara e
o povo está disposto a entrar na última grande batalha evangelizadora do milênio, então, Deus
que é extraordinariamente fiel para manter a sua palavra e cumpri-la (Jr 1.12; Ml 3.10) suprirá,
sem dúvida alguma, todas as necessidades das igrejas enviadoras. A construção de grandes e
belas edificações podem ser importantes para a posição da denominação diante da sociedade.
Porém, não necessariamente para o engrandecimento do Reino de Deus. À medida que a obra
cresce nos povos não evangelizados dentro e fora desta nação, o Senhor estará honrando sua
palavra, fazendo crescer o número de obreiros nacionais e de membros aqui também.

2. Qual a nossa posição no mundo atual como nação?


O Brasil é um dos poucos países privilegiados da América do Sul, capazes de enviar
missionário a qualquer parte do mundo:

a) É um país sul americano, gozando de boas relações diplomáticas com quase todos os
países do mundo. Não tem o rótulo de “ianque”.
b) Goza de prestígio político-economico-social dentro do cenário mundial.
c) Neste momento, mantém uma estabilidade econômica que permite fazer projetos de
curto e médio prazo, bem como mantém um plantel de vocacionados e chamados para a
obra missionária no exterior. Mesmo em desvantagem em relação com países mais
desenvolvidos e que mantém um padrão de vida superior ao nosso, o brasileiro, por sua
própria natureza alegre e descontraída, além de saber improvisar as coisas e viver com
qualquer que seja a situação, é um elemento capaz de driblar dificuldades e superar
crises dando sempre um “jeitinho brasileiro” para sobreviver. É a hora de Deus para o
Brasil.

3. Que faremos?

Temos algumas propostas:

a) Levantar grupos de intercessão por todas as igrejas, par que orem, a fim de que a visão
dos campos brancos para a colheita (João 4.35), e das multidões de ovelhas sem pastor
(Mateus 9.36-38), possam mobilizar como um todo – desde o pastor e corpo ministerial,
até as crianças.
b) Orar e jejuar para que os missionários sejam separados pelo Espírito Santo como em
Antioquia (Atos 13.1,2); e que não sejam enviados para o campo pelo processo de
apadrinhamento ou por sorteios.
c) Orar para que as portas fechadas por forças satânicas, sejam abertas para que o
Evangelho de Cristo e o missionário possa penetrar em campos nunca dantes explorados;
que as portas abertas não se fechem e para que o missionário não seja alvo constante de
desânimo (2º. Timóteo 3. l e 2).
d) Orar pelos pastores e líderes, a fim de que mantenham a visão da urgência missionária
até os confins da terra, e que esta visão abranja suas vidas e suas congregações, para que
o Senhor em tudo seja glorificado.
e) Que sejam levantadas contribuições missionárias em dias determinados (1º. Co 16.2), e
que estas sejam constantes na igreja local. Que isto não ocorra exporadicamente como
fruto de cultos carregados de emocionalismo, mas de uma visão consciente e sincera
diante de Deus.

4. Como devem ser as ofertas?


As ofertas devem ser:
a) Voluntárias – como a dos macedônios (2º. Co 8.1-5).
b) Alegre – como a dos cristãos primitivos (2º. Co 9.7).
c) De acordo com a possibilidade de cada um – (1º. Co 16.2).
d) Racionalmente, como um sacrifício agradável a Deus – (Rm 12.1).

5. Que mais poderemos fazer?


Manter-se informados. Toda informação deve ser dada à congregação, não somente de
nossos missionários, mas também de outras entidades que estão atuando ao redor do mundo,
fim de que entrem nas listas de oração. No Concílio de Jerusalém (o primeiro da história da
igreja), Paulo e Barnabé tiveram sua oportunidade de relatar aos irmãos, seu testemunho do
trabalho missionário entre os gentios. Da mesma forma Paulo envia a Tíquico aos efésios, para
que eles estivessem inteirados do que acontecia com o apóstolo (Ef 6.21,22).
Informação gera compromisso e despertamento. Não somente as contribuições
missionárias aumentarão na igreja local, mas até mesmo as necessidades mais básicas do povo e
da congregação. Muitos jovens e obreiros sentir-se-ão motivados para atender o “ide” do
Senhor. De igual forma, muitos crentes deverão experimentar um despertamento para a
evangelização em sua própria terra.

IV - Sugestões

Damos a seguir, alguma sugestões para manter acesa a chama da contribuição para a oba
missionária:

1. Conferência Missionária Anual.

2. Cultos mensais de missões em cada congregação e igreja filiada.

3. Cinco minutos missionários nos cultos.


4. Encontro de senhoras com café ou chá missionário, com palestras especiais, em que se
cobre um ingresso simbólico, destinado a levantar fundos para a obra missionária.

5. Feira de Missões, promovida pelos jovens da igreja. Nesta Feira, grupos de jovens
distribuídos por salas de aula (pode ser num colégio), ou “stands”, apresentarão mapas, fotos,
peças teatrais, grupos de música com hinos ou corinhos em outros idiomas e dialetos, comidas
típicas, exposição de necessidades do evangelho em áreas carentes, etc.

6. O Cofre Missionário. Uma caixa de sapatos ou pode ser de madeira, em forma de maleta
com o nome “missões”, em que cada criança da Escola Dominical é motivada em um momento
especial da classe, a ofertar o valor de um pirulito, por exemplo, ou o de uma merenda, para a
obra missionária. Quando a maleta estiver cheia, será entregue no culto de missões ao pastor da
igreja ou ao tesoureiro de missões, para que se conte o valor depositado e seja feit a menção em
culto público, da contribuição de cada classe para as missões.

7. A Promessa de Fé. Um cartão em que se menciona que, confiando em Deus, cada membro
faz um voto de fé perante o Senhor, que mensalmente dedicará uma certa quantia para sustentar
a obra de missões. Este método foi adotado com muito êxito pelo grande estadista de missões,
Oswald Smith da Igreja dos Povos em Toronto, Canadá. Várias igrejas o adotaram com bastante
eficácia. Para mais detalhes deste plano, recomendamos a leitura do livro: “Finanzas para las
Misiones Mundiales”, (em espanhol), do Dr. Norman Lewis, e “A Igreja local e Missões”, Ed.
Vida Nova, SP, do Pr. Edison Queiroz.

Conclusão

Todas as sugestões são boas, porém não devemos ser tentados a cair na rotina. Devemos
ter em conta o que diz o apóstolo Paulo em 1º. Coríntios 13.3: “E ainda que eu distribua todos
os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se
não tiver amor, nada disso me aproveitará” (ARA). Podemos dar sem amar. Porém jamais
poderemos amar sem dar. Os missionários os temos em várias de nossas igrejas, esperando sua
oportunidade de atuarem no panorama mundial de missões. Talvez precisem de treinamento.
Porém à luz da verdade estão disponíveis para ser enviados. Como irão se não forem enviados?
O faremos?

Traduzido e adaptado de uma apostila em espanhol, em setembro/2006.

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