Você está na página 1de 3

Pelo fim dos vices

Cidadão brasileiro
Agosto, 2020

A história do republicanismo no Brasil é cheia de crises, instabilidades e golpes de


Estado, sendo que a República foi também instituída por um. Diante disto, tendo em
vistas que o desenvolvimento de uma Nação depende da força das suas instituições
políticas, bem como do modo como estas podem vir a colaborar para a pacificação
social e bem comum.
A presente proposta busca retirar um desses elementos de instabilidade, qual seja,
dar ao Povo, do qual todo poder terreno emana a função e os poderes de debelar crises
políticas. Não nos adentraremos na discussão histórica das várias crises políticas de
nossa república, haja vista que são de conhecimento geral dos interessados em política.
O nosso objetivo é olhar para esse tema à luz da CF/88, por meio da qual o País já teve
que experimentar dois processos de impeachment de Presidente da República, sendo
que o primeiro, a rigor, não se configura como impeachment uma vez que o então
presidente apresentou uma carta de renúncia, e portanto o objeto do processo deixou
de existir.
E o segundo desses processos, por conta de sua proximidade política ainda não é
tema próprio da História, mas sim, e sobretudo da política.
Fato é, que em ambos os processos a figura do Vice-Presidente da República teve
papel fundamental no aumento das movimentações políticas, bem como nas aco-
modações partidárias que se sucederam em torno dos processos. E isso não é bom
para a República, para a credibilidade das instituições políticas, tampouco para o de-
senvolvimento do país. Explico.
Não é bom para a República, porque numa República é fundamental a coisa
pública, e quando uma crise política de deslegitimação ocorre com um Presidente
é exata e precisamente porque ante a sociedade, este, o Presidente, não possui mais as
condições políticas de continuar na condução do País, e por isso mesmo, sociedade
se move no sentido de fazer com que os seus representantes aplicassem a ”pena máx-
ima” política ao mandatário do Poder Executivo, e que tem as funções de Chefia de

1
Governo e de Estado, no caso brasileiro.
Chega a ser hilariante alguém supor que um Vice-Presidente eleito conforme as
regras do sistema eleitoral possua legitimidade política integral (esta entendida como a
que se obtém do sufrágio e escrutínio universal ao qual os candidatos a titularidade do
cargo se submetem). O mesmo raciocínio se aplica aos vices tanto de prefeitos, quanto
governadores, pois em raros casos é que há uma coesão e coordenação da chapa para a
construção de uma proposta de governo consistente. O que sabemos que há, e não são
poucos os casos, é uma mera acomodação política de forças interesses patrimonialistas
das mais variadas ordens.
Pode-se tentar defender a existência da figura do vice para os casos de vacância não
decorrentes do processo político diretamente, como nos casos de morte ou renúncia,
contudo mesmo para esses casos as soluções de eleição indireta para conclusão de
mandato e este contando para a reeleição (sendo esta medida uma espécie de pre-
venção aos espertalhões políticos que construíram suas trajetórias políticas em torno
de agendas deletérias ao interesse público).
Só a título de exemplo falarei do caso da cidade em que vivo, São Bernardo do
Campo, no estado de São Paulo. Atualmente temos como chefe do poder executivo
municipal um carreirista político do tipo ”clássico” do país - de família influente, com
ligações que o tornaram vereador, depois deputado estadual e hoje prefeito. Tive que
assisti à deprimente campanha de sua senhora, cuja distinção dos demais candidatos
era simplesmente ser esposa do prefeito, mas não para por aí, o atual vice-prefeito
acha o cargo público pouca coisa e candidatou-se à deputado federal (e perdeu, ainda
bem). Mas fico a me perguntar, quantos de vocês que leem as palavras deste chato
cidadão também não possuem causos semelhantes à estes? Até quando suportaremos
a política permanecer sequestrada por agentes que fazem de tudo para não perder os
seus pedaços do Estado?
A austeridade que é tão reclamada por diversos economistas, e mesmo eu não
sendo economista, também sou a favor dela, precisa começar vindo do próprio sistema
político. Em sua obra A Política, uma das questões centrais que Aristóteles aborda é
que há certos tipos de homens que não devem estar envolvidos nos negócios públicos.
Não precisamos e nem podemos ser tão contudentes por conta da palavra gatilho
democracia e seus derivados, contudo ao reduzirmos o sistema de empreguinhos públi-
cos que tem mantido nossa sociedade na lama, começaremos o processo de consoli-
dação de uma República. E convenhamos, belo como é o Brasil, não podemos permi-
tir que interesses privados de espoliadores dos nossos bolsos continuem nos impedindo
de cumprirmos a vocação nacional que é a de formar a nova civilização do mundo.
Aristóteles, de novo ele, nos ensina que prudência é agir de acordo com a reta
razão, assim sendo, reformar um sistema político é tarefa que requer cuidados exata-

2
mente para não agravar os problemas, e é exatamente por isso que a proposta é tão
simples. Até porque já foi feita um mini reforma em tempos recentes.
Desta maneira, mais essa outra mudança sútil e começamos a tanto modernizar
o sistema político, quanto fazermos uma economia que diante do descalabro fiscal é
ínfima, mas que é pedagógica para os políticos que se encastelaram nos cargos públicos,
bem como enfrenta pouquíssima resistência na sociedade que está cansada de ver o
carreirismo político.

Você também pode gostar