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MARCEL DE SOUSA FORTES (8084984)

Pós Graduação em Direito Eleitoral e Processual Eleitoral

A RELAÇÃO ENTRE A MULTA PENAL E A SUSPENSÃO DOS


DIREITOS POLÍTICOS DE UM APENADO

Tutor: Prof. Túlio Pires de Carvalho

Claretiano - Centro Universitário

SÃO PAULO/SP
2019
A RELAÇÃO ENTRE A MULTA PENAL E A SUSPENSÃO DOS DIREITOS
POLÍTICOS DE UM APENADO

Analisaremos quatro referencias bibliográficas que se debruçaram sobre o tema dos direitos
políticos e sua suspensão. Discorreremos sobre o capitulo I do livro de Direito Eleitoral de José
Jairo Gomes que aborda a importância dos direitos políticos. Em seguida, analisaremos a
consulta do colégio de corregedores eleitorais feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a
situação dos recém egressos do sistema carcerário que cumpriram sua pena corpórea, mas
detinham a pena de multa que foi cumulada com a pena corpórea, tendo como consequência
pessoas livres, mas ainda sem os seus direitos políticos restabelecidos, pois estes ainda constam
como suspensos, pois segundo a Constituição Federal, só se restabecerá os direitos políticos após
o cumprimento de todas as penas, inclusive a multa penal. O tema originou um oficio circular da
corregedoria eleitoral com recomendações aos cartórios eleitorais de alguns estados para
tratamento dessa situação. Passaremos ainda, pela obra da juíza eleitoral Maria Cristina de Brito
Lima apresentada no 1º seminário de direito eleitoral abordando o tema da indevida restrição aos
direitos políticos por multas criminais abaixo de R$ 1.000,00 (mil reais). Por fim, abordaremos
sobre os impactos, que a decisão do STF na ADI 3150 mudando a legitimidade da cobrança da
multa penal para o Ministéro Público, retirando da Fazenda Pública, implicará aos apenados.

Palavras Chave: Direito Político. Suspensão. Multa Criminal. Regularização


INTRODUÇÃO

Os direitos políticos de um cidadão é um dos preceitos fundamentais para um Estado de


Direito Democrático. Tanto que os direitos políticos se encontram no Título II da Constituição
Federal de 1988 – “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, artigos (14 a 17).
Sendo assim, é de suma importância à análise das situações em que esses direitos políticos
são suspensos, ainda que temporariamente, dos cidadãos. A privação dos direitos políticos está
em nossa constituição, em seu artigo 15, incisos de (I a V). Mas nos cabe analisar aqui neste
artigo científico, o inciso III do referido artigo que é a suspensão dos direitos políticos por
condenação criminal transitada em julgado.
Segundo a obra “Direito Eleitoral” de José Jairo Gomes, em seu capitulo I, Direitos Políticos,
há um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano de 2007, revelando que
(503.002) brasileiros estavam privados de direitos políticos na ocasião. A maior parte deles
(376.949) por força de condenação criminal.
A questão da manutenção da suspensão dos direitos políticos de um apenado quando esse
cumpre sua pena corpórea, mas não está adimplente com sua pena de multa criminal que foi
cominada cumulativamente a pena privativa de liberdade tem trazido grandes confusões aos
juízos eleitorais e até mesmo levado a situações embaraçosas entre os servidores do cartório
eleitoral com o apenado que após cumprir sua pena corpórea, corre imediatamente ao cartório
eleitoral a fim de restabelecer seus direitos políticos para poder voltar a trabalhar. É nessa seara
que se enquadra o pedido de revisão no processo administrativo PA 936-31/MS feito pelo
Colégio de Corregedores Eleitorais ao TSE sobre esse tema o qual analisaremos.
Muitas vezes o apenado nem tem conhecimento ou não se lembra da sua pena de multa. A
situação fica mais complicada, quando a multa penal é de um valor abaixo de R$ 1.000,00 mil
reais, pois a Fazenda Pública não executa dívidas abaixo desse valor. Assim, de forma
involuntária, o recém egresso do sistema carcerário não reuniria as condições para ter
restabelecidos os seus direitos políticos, pois ainda não teria cumprido integralmente sua pena. A
obra da Juíza Eleitoral Maria Cristina de Brito Lima, “Indevida Restrição de Direitos Políticos”,
apresentada no seminário de Direito Eleitoral, trata exatamente deste tema.
No final do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) em debate conjunto com a
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3150) decidiu que a legitimidade de execução de
multas criminais é do Ministério Público que por terem natureza de sanção criminal, a
competência da Fazenda Pública se limitaria à inercia do Ministério Público. A controvérsia se
dá pelo artigo 51 do Código Penal que transformava a multa criminal em dívida de valor após o
transito em julgado da sentença condenatória, passando assim, à época, a cobrança para a
Fazenda Pública. Com essa nova interpretação dada pelo STF, analisaremos como isso impactará
na cobrança de multa criminal, na extinção da punibilidade e no restabelecimento dos direitos
políticos de um apenado.
A realização desta obra está intimamente relacionada à importância que os direitos políticos
têm na construção dos direitos fundamentais de um Estado Democrático de Direito. Visto que os
direitos políticos disciplinam o exercício e o acesso ao poder estatal. Dessa forma, os motivos
que levam a sua suspensão, principalmente por condenação criminal transitada em julgado tem
um grande impacto também na sociologia, pois estamos falando de um grande número de
pessoas, geralmente de classes sociais mais desfavorecidas, que tem dificultada sua reinserção
social, pois mesmo depois de pagarem suas penas corpóreas (privativas de liberdade) elas se
deparam com uma multa criminal para pagarem, mas sem a condição de terem um trabalho
remunerado para tal, pois sem o restabelecimento dos seus direitos políticos, o recém-egresso do
sistema penitenciário não consegue sua quitação eleitoral e assim torna-se bem difícil a aquisição
de um emprego, tornando-se comprometida sua reinserção no convívio social.
Temos ainda a embaraçosa situação que os servidores da justiça eleitoral se defrontam
quando o recém-egresso do sistema penitenciário vai ao cartório eleitoral, após ter sido extinta
sua pena privativa de liberdade, mas não conseguem a regularização de sua situação, por não
terem quitado sua pena de multa criminal e se deparam com as barreiras muitas vezes
intransponíveis para conseguirem um trabalho honesto. Muitos são os ataques verbais aos
funcionários da justiça eleitoral que transmitem a informação negativa ao apenado.
Os objetivos gerais desta obra são:
Analisar as dificuldades que o recém-egresso do sistema penitenciário encontra quando se
depara com a manutenção da suspensão dos seus direitos políticos, mesmo tendo sido extinta sua
pena corpórea, mas inadimplente com sua pena de multa.
Refletir sobre a questão do ponto de vista social aos quais os empecilhos que o não
restabelecimento dos direitos políticos podem trazer na busca de um emprego regular ao recém-
egresso do sistema carcerário e assim na reinserção social do ex detento;
E os objetivos específicos são:
Compreender a relação da condenação criminal transitada em julgado e a suspensão dos direitos
políticos;
Entender alguns dos efeitos da suspensão dos direitos políticos aos condenados criminalmente;
Refletir sobre como a justiça eleitoral trata os casos de cumprimento da pena privativa de
liberdade e o não adimplemento da pena de multa por parte do sentenciado;
Compreender os esforços do Colégio de Corregedores ao tratar o assunto com o TSE;
Conjecturar sobre o recente entendimento do STF ao colocar o Ministério Público como
legitimado para a execução da multa criminal;
Refletir como essa mudança de legitimado para a execução da multa criminal pode dificultar o
restabelecimento dos direitos políticos por parte dos recém-egressos do sistema penitenciário.
.
DESENVOLVIMENTO

Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem restrições infundadas, de participar da


condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de eleições periódicas, além de terem
o direito de votar e serem eleitos para mandatos eletivos. Isso é o que diz o Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos de 1966 ratificado pelo Brasil pelo Decreto 226/91. Isso se trata
dos principais direitos humanos referentes à participação do cidadão no governo de seu país.
Tamanha é a importância dos direitos políticos que este está no Título II da Constituição
Federal de 1988, (nossa constituição vigente), título que fala dos “Direitos e Garantias
Fundamentais.” No entanto, a própria constituição elenca formas de privação de direitos
políticos (em seu artigo 15, incisos I ao V). Na obra no professor José Jairo Gomes, Livro de
Direito Eleitoral, ano 2017, ele traz um levantamento feito pelo TSE em 2007 revelando que
naquela época 503.002 brasileiros estavam privados dos seus direitos políticos. Hoje, em
levantamento mais recente, 800.000 brasileiros estão com os direitos políticos suspensos e
destes, 82%, são por motivos de condenação criminal transitada em julgado. Por isso, devemos
colocar uma lupa nestes casos, para entendermos melhor as consequências desta restrição,
principalmente para o recém-egresso do sistema penitenciário.
A suspensão dos direitos políticos, segundo definição de Cretella Júnior (1989, v.2, p.1118)
“é uma interrupção temporária daquilo que está em curso, cessando quando terminarem os
efeitos de ato ou medida anterior”. Trata-se, portanto de privação temporária de direitos
políticos.
A suspensão de direitos políticos pode acarretar várias consequências jurídicas, como o
cancelamento do alistamento e a exclusão do corpo de eleitores (CE, art. 71, II), o cancelamento
de filiação partidária, (Lei dos Partidos Políticos, art. 22, II) perda de mandato eletivo, (CF, art.
55, IV, §3º) perda de função pública (CF, art. 37, I) impedimento de votar e ser votado (CF, art.
14, §3º) impossibilidade de se ajuizar ação popular (CF, art. 5º, LXXIII).
E também há o impedimento social, que é o alcance a um trabalho com carteira assinada
quando o detento está em liberdade condicional ou cumprida a pena privativa de liberdade, ainda
restando a pena de multa causando esta, óbice ao detento conseguir um trabalho, visto que a pena
de multa é considerada uma forma de pena, ainda que pecuniária, sendo assim, como a própria
constituição diz, ainda não estariam cessados todos os seus efeitos, ou seja, a privação dos
direitos políticos do detento que acabou de cumprir toda a sua pena corpórea, ainda estaria
valendo. O que traz grandes prejuízos ao recém-egresso do sistema penitenciário, uma vez que o
trabalho é uma condição de dignidade humana e um ponto importante para a reinserção dos ex-
presidiários no convívio social.
Neste contexto, o colégio de corregedores dos Tribunais Regionais Eleitorais do Brasil
solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alteração no entendimento da corte no PA 936-
31.2014.6.00.0000/MS que, na ocasião, entendeu que a pendência de pagamento de multa, ou
sua cominação isolada, tem o condão de manter ou ensejar a suspensão dos direitos políticos
prevista no art. 15, inciso III, da Constituição Federal.
Por essa razão, argumentam os corregedores que a pena de multa em processos de condenações
criminais é considerada:
[...] pela Justiça Comum como dívida de valor, com caráter extrapenal, [e] os Cartórios Eleitorais, embora empenhando-se em
observar a decisão desse c. Tribunal Superior Eleitoral, têm enfrentado dificuldades quanto ao restabelecimento dos Direitos
Políticos do Eleitor. Há, de um lado, a exigência de adimplemento da multa criminal e, de outro, a sua extinção pelo Juízo
Criminal.

Ademais, conforme pontuam os Corregedores, quando as multas aplicadas são de baixo


valor, acabam não sendo inscritas em dívida ativa e, portanto, deixam de ser executadas pela
Procuradoria da Fazenda, criando obstáculos para a regularização da pena de multa, muitas vezes
intransponíveis para o cidadão egresso do sistema penal, dificultando a regularização dos direitos
políticos do interessado e, por consequência, a ressocialização do indivíduo, que fica impedido
de obter a certidão de quitação eleitoral.
Com base nessas argumentações, o colégio de corregedores requereu alteração no
posicionamento da corte na questão do Processo Administrativo (PA) supracitado, a fim de
permitir o restabelecimento dos direitos políticos do eleitor independentemente do pagamento da
pena pecuniária que, conforme entendimento sedimentado na justiça comum, passou a ser
considerada dívida de valor e, portanto, possui caráter extrapenal, de modo que sua execução é
de competência exclusiva da procuradoria da fazenda pública.
Em análise do pleito formulado, a Corregedoria-Geral Eleitoral, após relato do pedido e
considerando as ponderações apresentadas pelo Colégio de Corregedores, ressaltou que, em
análise preliminar, os efeitos do tratamento dado ao caso “podem caracterizar até mesmo ofensa
aos princípios da dignidade humana”, recomendando que a matéria seja revisitada pela corte.
Assim, no entendimento da corte, feita sobre o pedido em questão, entendeu-se que não é o
caso de alterar o entendimento esposado por aquela Corte Eleitoral, visto que no voto condutor
proferido pelo Ministro Dias Toffoli, ficou claro que a pena de multa, aplicada individual ou
cumulativamente, é suficiente para manter ou ensejar a suspensão dos direitos políticos. Confira-
se:
“A pendência de pagamento da pena de multa, ou sua cominação isolada nas sentenças criminais transitadas em julgado, tem o
condão de manter/ensejar a suspensão dos direitos políticos prevista pelo art. 15, III, da Constituição Federal.”

O que causa confusão no tratamento da questão é justamente a intenção de vincular o


entendimento da Justiça Eleitoral àquele prolatado pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme o
pedido emanado do Colégio de Corregedores de “permitir o restabelecimento dos direitos
políticos do eleitor independentemente do pagamento da pena pecuniária”.
Essa solicitação, se atendida, geraria a peculiar interpretação de que a Justiça Eleitoral,
quando comprovado o cumprimento da pena corpórea, poderia restabelecer os direitos políticos
do eleitor antes mesmo de a Justiça Comum se pronunciar acerca da extinção da punibilidade.
O que a decisão prolatada no PA nº 936-31/MS visa coibir é a possibilidade de regularizar
os direitos políticos do eleitor condenado criminalmente com pena de multa aplicada, solitária ou
cumulativamente, e pendente de cumprimento, sem que exista uma efetiva declaração da Justiça
Criminal acerca da extinção da punibilidade. Assim, “não compete à Justiça Eleitoral analisar o
acerto ou o desacerto da decisão condenatória” (Agravo no RESPE nº 299-69.2012.6.24.0069) e,
portanto, também não compete à Justiça Eleitoral analisar a decisão que extingue a punibilidade.
Como se observa, não é o caso de alterar o entendimento esposado por aquela Corte, mas de
orientar os Tribunais Regionais Eleitorais, por meio da Corregedoria-Geral Eleitoral, para que
exijam, tão somente, a comunicação da extinção da punibilidade (mesmo nos casos em que a
pena de multa é a única aplicada), sem juízo acerca da decisão.
Diante dessa decisão, surgiu um informativo advindo das Corregedorias dos Tribunais
Regionais Eleitorais no sentido o qual assentou entendimento de que a “comunicação de extinção
de punibilidade é suficiente para regularização dos direitos políticos, não cabendo à Justiça
Eleitoral analisar o acerto ou o desacerto do órgão de origem”. Sendo assim, havendo
comunicação do Juízo Criminal acerca da extinção de punibilidade, cumpre a Justiça Eleitoral
restabelecer os direitos políticos do sentenciado, ainda que haja pendência do cumprimento da
pena de multa.
Nesta seara, a obra apresentada pela juíza Maria Cristina de Brito Lima, da 13ª Zona
Eleitoral do Rio de Janeiro, apresentada no 1º seminiário de Direito Eleitoral para magistrados
nas eleições 2012, nos trouxe uma análise de um caso concreto, em que a pena de multa gera
indevidamente a privação de direitos políticos. Vejamos:
“se o eleitor que, condenado a pena restritiva de liberdade e multa no valor de R$ 200,00, pela
prática do crime de furto (Código Penal, art. 155), tenha extinta a punibilidade pelo cumprimento
da pena restritiva de liberdade, mas não tenha quitado a de multa, porque a Fazenda Pública
nega-se a autuar processos de cobrança de valores inferiores a R$ 1.000,00, queira exercer seu
direito político de voto?”
Nessa situação, frequentemente o condenado, que certamente quer se restabelecer como
cidadão, procura liquidar sua dívida de valor, mas é impedido de fazê-lo junto à Procuradoria da
Fazenda, em razão do montante ser inferior ao limite mínimo de cobrança e, por outro lado,
estando extinta a punibilidade, também não é possível tal quitação nos autos do processo de
execução penal. Na prática, ele está impedido, por questões alheias à sua vontade, de exercer um
direito fundamental, o de votar.
Considerando que a cidadania é direito fundamental nos termos da Constituição da República
Federativa do Brasil, não se pode admitir que qualquer tipo de restrição a esse direito perdure
além do tempo necessário, ainda que a causa de restrição esteja taxativamente descrita no texto
constitucional e, no presente caso, os órgãos públicos envolvidos estão, de fato, impedindo o
restabelecimento dos direitos políticos.
É fato que a Justiça Eleitoral deve apenas receber e cadastrar informação, suspendendo os
direitos políticos, quando for o caso. Contudo, não pode a Justiça Eleitoral ficar cega à situação
de engessamento que se apresenta ao eleitor, quando este não pode quitar a sua pena porque o
próprio estado não disponibiliza meios para que ele o faça.
Nessa linha é que se embasa um primeiro posicionamento, o qual considera que o órgão
responsável pela expedição da certidão de extinção de punibilidade, que servirá para
comprovação do término da causa de restrição, no caso do Rio de Janeiro, é o Tribunal de
Justiça, por intermédio da Vara de Execuções Penais, que expede certidão de extinção da
punibilidade aos eleitores que se encontram nessa situação. Mas se as certidões são expedidas
após o cumprimento da pena privativa de liberdade, ainda que a pena pecuniária não tenha sido
quitada ---- uma vez que, nesse momento, finda a competência daquele órgão, passando a multa
a ser cobrada pela Fazenda Pública --- e esta, a seu turno, somente pode autuar processos de
cobrança de valores superiores a R$1.000,00, há de se ter por extinta a punibilidade do
indivíduo, uma vez que independe dele a não quitação da multa.
Diante desse fato, o TSE, por força da decisão proferida nos EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA no RESP Nº 845.902, e considerando que à Justiça Eleitoral cabe somente a
anotação das informações trazidas por outros órgãos, recomenda às Zonas Eleitorais que, uma
vez recebido ofício da Vara de Execuções Penais comunicando a extinção da punibilidade,
anotem tal informação e, nos casos em que a pena pecuniária pendente de cumprimento seja de
valor inferior a R$ 1.000,00, assim procedam em razão da impossibilidade de ser cobrada.
Percebemos no decorrer das duas principais obras que embasam este artigo, que a justiça
eleitoral procurou amenizar a situação dos sentenciados que se encontram com suspensão de
direitos políticos por conta ainda do não pagamento das penas de multas. Para a justiça eleitoral,
basta a informação de extinção de punibilidade corpórea advinda da justiça comum que o
restabelecimento dos direitos políticos será feito, mesmo que a pena de multa tenha ido para a
Fazenda Pública para cobrança.
No entanto, com decisão recente do Supremo Tribunal Eleitoral na Ação Direita de
Inconstitucionalidade, ADI 3150, (dezembro de 2018), em transferir a legitimidade da cobrança
da pena de multa para o Ministério Público, essa recomendação à justiça eleitoral de restabelecer
os direitos políticos do recém-egresso do sistema carcerário, mesmo com a pena de multa
estando na Fazenda Pública, estará em risco, uma vez que não mais será a Fazenda Pública a ser
legitimada a cobrar tal multa, pois pelo entendimento do STF, a fazenda pública somente teria
legitimidade na cobrança de multas civeis e não multas penais, pois estas funcionam como uma
pena, fazendo parte das execuções penais as quais cabem ao Ministério Público, privativamente,
o acompanhamento e a cobrança.
Essa alteração poderá vir a ser um retrocesso no restabelecimento dos direitos políticos dos
sentenciados, visto que a certidão de extinção de punibilidade poderá sair apenas após o
cumprimento da pena de multa, o que, para casos como os crimes do artigo 33 do SISNAD (Lei
de Drogas) poderá ser quase impossível o seu cumprimento, uma vez que são penas de multas
altas, e o recém-egresso não terá condições de pagá-las se não estiver trabalhando, mas não
poderá trabalhar, dignamente, se não tiver sua quitação eleitoral. Parece-me um círculo nada
virtuoso que dificilmente será quebrado se não houver mudanças significaticas nas leis ou até
mesmo na constituição sobre esse fato concreto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pudemos ver como o direito político é importante para o Estado Democrático de Direito,
assim suas causas de suspensão para um indivíduo são tão caras à democracia que estas estão
incluídas em nossa constituição, pois se trata do direito à cidadania, da participação popular
através do voto e também do ponto de vista sociológico, a quitação eleitoral, representa a
possibidade de obter um trabalho, pois só se consegue um trabalho com carteira assinada quando
se tem todos os documentos em ordem, e o título eleitoral juntamente com a certidão de quitação
eleitoral fazem parte desse conjunto de documentos que deverão estar em ordem para se
conseguir um trabalho digno.
Dito isso, vimos como a situação do recém egresso do sistema penitenciário que cumpriu
sua pena corpória (restrição de liberdade), mas que ainda não adimpliu sua pena de multa (em
valores de dinheiro) esta que foi cumulada com a pena corpórea, é bastante embaraçosa e
dificultosa, pois, o recém egresso, assim que tem extinta a pena privativa de liberdade vai
“correndo” atrás dos seus documentos para poder voltar a trabalhar e quando este chega nos
cartórios eleitorais se depara com uma realidade nada fácil de encarar, pois ali, ele é informado
que não poderá ter seu título regularizado, tão pouco ter sua quitação eleitoral, pois não poderá
ser restabelecido os seus direitos políticos por causa da pena de multa. Essa situação, inúmeras
vezes foi caso de tensão e agressões verbais entre os ex detentos e os servidores do cartório que
dão a noticia ao recém egresso.
Diante dos incontáveis casos de situações como as relatadas no parágrafo anterior, o colégio
de corregedores decidiu indagar ao TSE sobre essa situação e conseguiu com um entendimento
simples, facilitar tais situações, pois como a justiça comum, após extinta a pena privativa de
liberdade encaminhava a pena de multa para a Fazenda Pública, pois entendia esta como uma
dívida de valor, que se não fosse paga, seria inscrita na Dívida Ativa do Estado e concedia a
certidão de extinção de punibilidade através das varas de execuções penais, estas então
informadas à justiça eleitoral deverão de imediato restabelecer os direitos políticos dos recém
egressos do sitema penitenciário, não cabendo à justiça eleitoral oficiar a fazenda pública para
saber se a pena de multa foi adimplida ou não. Basta receber o ofício da justiça comum dizendo
que há extinção da pena para que a justiça eleitoral possa restabeceler de imediato os direitos
políticos dos ex detentos, ainda mais quando o valor da multa for inferior a R$ 1.000,00 (mil
reais) visto que a Fazenda Pública nem aceita cobrar dívidas neste valor.
Isso com certeza representou um grande avanço no restabelecimento dos direitos polítícos dos
ex detentos e um grande avanço do ponto de vista sociológico também, pois facilita a reinserção
do recém egresso do sistema penitenciário no convívio social, pois o trabalho é considerado um
fator de dignidade humana. No entanto, com a recente (dezembro de 2018) decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) em repassar ao Ministério Público a axecução e a cobrança das penas de
multa, por entender que a multa neste caso é uma sanção penal e não dívida de valor, isto poderá
dificultar a emissão de certidão de extinção de punibilidade dada pela justiça comum, que antes
emitia sem o adimplemento da pena de multa que era repassada à Fazenda Pública, agora, poderá
somente ser emitida após o apenado ter que quitar a multa penal com o Ministério Público.
Como essa mudança ainda é recente, devemos esperar um tempo para sabermos como se
encaminhará essa situação. Por ora, devemos esperar que a situação seja resolvida, tendo-se o
olhar para esses muitos egressos do sistema carcerário sem condições de se empregar de forma
digna, não podendo se sustentar, nem pagar sua multa penal e ainda pior, poderão voltar para o
mundo do crime.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Título I: Dos Direitos e Garantias Fundamentais; Disponível em:
http:\\www.planalto.gov.br, acesso em 25/03/2019 às 22:00 horas.
GOMES, José Jairo: Direito Eleitoral, 13ª edição, editora gen, São Paulo, 2017. p. 4-16.
LIMA, Maria Cristina B., Indevida Restrição de Diretos Políticos, Revista: Série
Aperfeiçoamento de Magistrados, Rio de Janeiro, v.1, p. 226, 2012.
MARINHEIRO, Carlos Alberto; Sanches, Everton Luís; Arcanjo, Rafael Menari. Metodologia
da Pesquisa Científica, Claretiano, 2016.
MELO, Min. Marco Aurélio de. Relator da Ação Direita de Inconstitucionalidade, ADI 3150
STF, Competência para Cobrança de Multa Penal, decisão em 12/12/2018. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2204004; Acesso em 20/02/2019 às
15:00 horas.
MENDES, Min. Gilmar. Relator do Acórdão do TSE, Processo Administrativo 0604343-88 DF,
Regularização de Direitos Políticos, Extinção de Punibilidade, decisão em 19/12/2017.
Disponível em:
https://www.tre-sc.jus.br/site/jurisprudencia/clipping-juridico/2018/edicao-n-
052018/index.html;
Acesso em 20/02/2019 às 15:30 horas.

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