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SÃO PAULO/SP
2019
A RELAÇÃO ENTRE A MULTA PENAL E A SUSPENSÃO DOS DIREITOS
POLÍTICOS DE UM APENADO
Analisaremos quatro referencias bibliográficas que se debruçaram sobre o tema dos direitos
políticos e sua suspensão. Discorreremos sobre o capitulo I do livro de Direito Eleitoral de José
Jairo Gomes que aborda a importância dos direitos políticos. Em seguida, analisaremos a
consulta do colégio de corregedores eleitorais feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a
situação dos recém egressos do sistema carcerário que cumpriram sua pena corpórea, mas
detinham a pena de multa que foi cumulada com a pena corpórea, tendo como consequência
pessoas livres, mas ainda sem os seus direitos políticos restabelecidos, pois estes ainda constam
como suspensos, pois segundo a Constituição Federal, só se restabecerá os direitos políticos após
o cumprimento de todas as penas, inclusive a multa penal. O tema originou um oficio circular da
corregedoria eleitoral com recomendações aos cartórios eleitorais de alguns estados para
tratamento dessa situação. Passaremos ainda, pela obra da juíza eleitoral Maria Cristina de Brito
Lima apresentada no 1º seminário de direito eleitoral abordando o tema da indevida restrição aos
direitos políticos por multas criminais abaixo de R$ 1.000,00 (mil reais). Por fim, abordaremos
sobre os impactos, que a decisão do STF na ADI 3150 mudando a legitimidade da cobrança da
multa penal para o Ministéro Público, retirando da Fazenda Pública, implicará aos apenados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pudemos ver como o direito político é importante para o Estado Democrático de Direito,
assim suas causas de suspensão para um indivíduo são tão caras à democracia que estas estão
incluídas em nossa constituição, pois se trata do direito à cidadania, da participação popular
através do voto e também do ponto de vista sociológico, a quitação eleitoral, representa a
possibidade de obter um trabalho, pois só se consegue um trabalho com carteira assinada quando
se tem todos os documentos em ordem, e o título eleitoral juntamente com a certidão de quitação
eleitoral fazem parte desse conjunto de documentos que deverão estar em ordem para se
conseguir um trabalho digno.
Dito isso, vimos como a situação do recém egresso do sistema penitenciário que cumpriu
sua pena corpória (restrição de liberdade), mas que ainda não adimpliu sua pena de multa (em
valores de dinheiro) esta que foi cumulada com a pena corpórea, é bastante embaraçosa e
dificultosa, pois, o recém egresso, assim que tem extinta a pena privativa de liberdade vai
“correndo” atrás dos seus documentos para poder voltar a trabalhar e quando este chega nos
cartórios eleitorais se depara com uma realidade nada fácil de encarar, pois ali, ele é informado
que não poderá ter seu título regularizado, tão pouco ter sua quitação eleitoral, pois não poderá
ser restabelecido os seus direitos políticos por causa da pena de multa. Essa situação, inúmeras
vezes foi caso de tensão e agressões verbais entre os ex detentos e os servidores do cartório que
dão a noticia ao recém egresso.
Diante dos incontáveis casos de situações como as relatadas no parágrafo anterior, o colégio
de corregedores decidiu indagar ao TSE sobre essa situação e conseguiu com um entendimento
simples, facilitar tais situações, pois como a justiça comum, após extinta a pena privativa de
liberdade encaminhava a pena de multa para a Fazenda Pública, pois entendia esta como uma
dívida de valor, que se não fosse paga, seria inscrita na Dívida Ativa do Estado e concedia a
certidão de extinção de punibilidade através das varas de execuções penais, estas então
informadas à justiça eleitoral deverão de imediato restabelecer os direitos políticos dos recém
egressos do sitema penitenciário, não cabendo à justiça eleitoral oficiar a fazenda pública para
saber se a pena de multa foi adimplida ou não. Basta receber o ofício da justiça comum dizendo
que há extinção da pena para que a justiça eleitoral possa restabeceler de imediato os direitos
políticos dos ex detentos, ainda mais quando o valor da multa for inferior a R$ 1.000,00 (mil
reais) visto que a Fazenda Pública nem aceita cobrar dívidas neste valor.
Isso com certeza representou um grande avanço no restabelecimento dos direitos polítícos dos
ex detentos e um grande avanço do ponto de vista sociológico também, pois facilita a reinserção
do recém egresso do sistema penitenciário no convívio social, pois o trabalho é considerado um
fator de dignidade humana. No entanto, com a recente (dezembro de 2018) decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) em repassar ao Ministério Público a axecução e a cobrança das penas de
multa, por entender que a multa neste caso é uma sanção penal e não dívida de valor, isto poderá
dificultar a emissão de certidão de extinção de punibilidade dada pela justiça comum, que antes
emitia sem o adimplemento da pena de multa que era repassada à Fazenda Pública, agora, poderá
somente ser emitida após o apenado ter que quitar a multa penal com o Ministério Público.
Como essa mudança ainda é recente, devemos esperar um tempo para sabermos como se
encaminhará essa situação. Por ora, devemos esperar que a situação seja resolvida, tendo-se o
olhar para esses muitos egressos do sistema carcerário sem condições de se empregar de forma
digna, não podendo se sustentar, nem pagar sua multa penal e ainda pior, poderão voltar para o
mundo do crime.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Título I: Dos Direitos e Garantias Fundamentais; Disponível em:
http:\\www.planalto.gov.br, acesso em 25/03/2019 às 22:00 horas.
GOMES, José Jairo: Direito Eleitoral, 13ª edição, editora gen, São Paulo, 2017. p. 4-16.
LIMA, Maria Cristina B., Indevida Restrição de Diretos Políticos, Revista: Série
Aperfeiçoamento de Magistrados, Rio de Janeiro, v.1, p. 226, 2012.
MARINHEIRO, Carlos Alberto; Sanches, Everton Luís; Arcanjo, Rafael Menari. Metodologia
da Pesquisa Científica, Claretiano, 2016.
MELO, Min. Marco Aurélio de. Relator da Ação Direita de Inconstitucionalidade, ADI 3150
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http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2204004; Acesso em 20/02/2019 às
15:00 horas.
MENDES, Min. Gilmar. Relator do Acórdão do TSE, Processo Administrativo 0604343-88 DF,
Regularização de Direitos Políticos, Extinção de Punibilidade, decisão em 19/12/2017.
Disponível em:
https://www.tre-sc.jus.br/site/jurisprudencia/clipping-juridico/2018/edicao-n-
052018/index.html;
Acesso em 20/02/2019 às 15:30 horas.