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Resumo
Este trabalho tem a intenção de discutir o contexto das escolas localizadas no campo nos
municípios da Região Metropolitana de Curitiba. Os apontamentos construídos são oriundos de
discussões coletivas, em andamento, realizadas no projeto de pesquisa “Educação do Campo
na Região Metropolitana de Curitiba: diagnóstico, diretrizes curriculares e reestruturação dos
projetos político-pedagógicos”, aprovado no edital 049/2012, com financiamento do Conselho
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do qual as autoras são bolsistas.
O projeto de pesquisa iniciou em 2013 e finalizará em 2017, tem o objetivo de realizar o
diagnóstico da educação nas escolas localizadas no campo e provocar processos de intervenção
para uma construção coletiva do projeto político-pedagógico. São evidenciados neste trabalho
os encaminhamentos da pesquisa em três municípios: Cerro Azul, Campo Magro e Rio Branco
do Sul, ambos localizados na área norte da Região Metropolitana de Curitiba. Para o
desenvolvimento da pesquisa fazemos uso da abordagem qualitativa, tendo como técnicas de
coleta de dados a entrevista, observação e análise documental. Utilizamos autores tais como:
Caldart (2009) e Souza (2011), que fundamentam a pesquisa e promovem problematização da
realidade. De modo geral apresentamos os encaminhamentos dos estudos das ações
desenvolvidas em cada município até o momento; há momentos de aproximação outros de
distanciamento, entre as três experiências relatadas neste texto. O que é mais evidente é o
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Mestranda em educação pela Universidade Tuiuti do Paraná. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa
em Educação do Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista de mestrado da CAPES/UTP. E-
mail: camicps@gmail.com.
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Professora do município de Campo Magro. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação do
Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista da CAPES/UTP.
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Professora do município de Cerro Azul. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação do
Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista da CAPES/UTP.
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Professora do município de Rio Branco do Sul. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação
do Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista da CAPES/UTP.
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Doutoranda em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná, linhade pesquisa práticas pedagógicas, elementos
articuladores. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação do Campo , movimentos sociais e
práticas pedagógicas), bolsista de doutorado financiada pela CAPES/INEP. E-mail: reginabonat@yahoo.com.br.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Este texto apresenta um recorte da pesquisa que está sendo realizada pelo NUPECAMP
(Núcleo de pesquisa em educação do campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas) da
Universidade Tuiuti do Paraná, no projeto intitulado “Educação do Campo na Região
Metropolitana de Curitiba: diagnóstico, diretrizes curriculares e reestruturação dos projetos
político-pedagógicos”, aprovado no edital 049/2012 do Observatório da Educação, com
financiamento do Conselho de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do
qual as autoras são bolsistas.
O referido projeto tem como objetivo além do diagnóstico da situação das escolas
localizadas no campo, na Região Metropolitana de Curitiba, refletir sobre os Projetos Políticos
Pedagógicos destas escolas, provocando por meio da problematização a reelaboração dos
mesmos. As análises realizadas até o atual momento da pesquisa demonstram que os projetos
não são elaborados coletivamente, não fazem referência ao contexto rural, consequentemente
não retratam a realidade das comunidades atendidas pelas escolas. Desta forma, o NUPECAMP
vem realizando seminários nos municípios que aderiram ao projeto, apresentando os marcos
legais e princípios que caracterizam a Educação do Campo. Tal concepção é o resultado da luta
dos movimentos sociais por uma educação que contemple a necessidade do homem do campo,
e desta forma defende uma escola construída pelos povos do campo e não para os povos do
campo.
A pesquisa envolve professores das escolas, graduandos e pós-graduandos, tendo como
metodologia a investigação-ação desenvolvida por meio de observações, entrevistas e análise
de documentos. Durante as pesquisas de campo, os pesquisadores têm procurado confrontar os
dados oficiais do INEP, com a realidade das escolas no que se refere à situação de
funcionamento e paralisação. Também os estudos e seminários realizados nos municípios tem
possibilitado relacionar a prática pedagógica desenvolvida nestas escolas com os princípios da
Educação do Campo, que defende o reconhecimento e a valorização da identidade e cultura dos
sujeitos atendidos pelas escolas.
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Neste estudo vamos apresentar a realidade de três municípios, que participam das
pesquisas e estão desenvolvendo ações que buscam superar a ideologia da educação rural,
pautada numa visão urbanocêntrica como modelo de educação. Esta discussão está dividida em
duas partes, a primeira apresenta uma breve reflexão teórica sobre a educação do campo e a
educação rural e em seguida apresenta-se a situação encontrada nos municípios no início do
nosso projeto de pesquisa, as ações desenvolvidas e os resultados constatados até este momento.
A educação do campo é uma concepção de sociedade que vem sendo construída desde
meados da década de 1980 pelos trabalhadores do campo que realizam enfrentamentos sociais
para constituir direitos no lugar que vivem. Os percursos de lutas referem-se ao contexto
fragilizado, à falta de políticas públicas, ao atendimento enviesado e invisibilidade em relação
aos modos de vida. Essa condição fragilizada é configurada como educação rural que na sua
origem tinha como principal objetivo atender superficialmente uma demanda contra o
analfabetismo e fixar o homem no campo. Em outras palavras, educação rural e educação do
campo são projetos sociais distintos. Enquanto a educação do campo é o projeto social
construído pelos trabalhadores do campo a educação rural é construída para os trabalhadores.
Neste contexto de lutas a educação voltada aos povos do campo sempre esteve associada
a uma situação de descaso com os sujeitos, tendo como pressuposto a precariedade, a falta de
qualidade, poucos recursos pedagógicos, além da infraestrutura física inadequada ou
inexistente. Somam-se a essas fragilidades a precária formação de professores, materiais
didáticos que desvalorizam a identidade do sujeito do campo, falta de conhecimento sobre a
existência dos sujeitos do campo, adaptações da educação do contexto urbano e rural e o
crescente fechamento de escolas. Souza (2011, p. 33) quando fala da escola marcada pela
ideologia da educação rural, descreve-a centrada em três características, tais como o: “1)
distanciamento entre os conteúdos escolares e a prática social; 2) centralidade em materiais
didáticos que valorizam o espaço urbano e ignoram o rural; 3) organização do trabalho
pedagógico marcado pelo cumprimento de tarefas e de proposições oficiais”. A autora
evidencia os dois projetos de sociedade, de um lado a educação rural de outro a educação do
campo e ressalta que a defesa é pela educação do campo, entretanto “não se pode ignorar a
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A autora refere-se ao estado do Paraná, discussão realizada no livro Práticas Educativas no/do Campo, capitulo
A Educação do Campo é do Estado do Paraná?
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Nesta parte do texto daremos visibilidade ao trabalho que vem sendo desenvolvido nos
municípios aqui tratados. Primeiro discute-se sobre o município de Cerro Azul, depois trata-se
sobre o relato do município de Rio Branco do Sul e por fim evidencia-se as experiências
construídas no município de Campo Magro.
de construção coletiva. Constatamos que os projetos são organizados por pessoas que não tem
o conhecimento da Educação do Campo, ou construídos como um modelo único para todas as
escolas, o que não atende a realidade; conseguimos visualizar e interrogar, ainda que de modo
inicial, essa condição.
Também surgiu a necessidade de instituir uma gestão democrática nas escolas, a qual
rompa com a visão que o desenvolvimento do município só será possível se vinculada à
urbanização. Além disto, pretendemos firmar discussões em todas as escolas, organizar grupos
de estudos para a apropriação do conhecimento sobre as políticas da Educação do Campo e
construir um livro coletivo do município com o olhar da comunidade escolar.
A fim de provocar processos de mudanças na relação dos professores com a equipe da
secretaria, pretendemos provocar o empoderamento dos professores e comunidades por meio
de informações sobre seus direitos de modo a cobrar a visibilidade acerca da realidade que
vivenciam. Entendemos que a apropriação do conhecimento sobre a própria realidade na
perspectiva da Educação do Campo, permite que os professores continuem interrogando e se
articulando para impedir o desenvolvimento de projetos que tenham como ponto de partida, os
interesses capitalistas, pautados nas fragilidades de cada município, tais como: os usos dos
materiais didáticos, em especial o Agrinho, Projeto SEBRAE. Segundo os professores, o
projeto SEBRAE não contribui para solucionar as fragilidades em sala de aula; eles
consideraram que o empreendedorismo não traz benefícios para o município tendo em vista que
a estrutura agrária é voltada para o agronegócio e esse projeto ensina a competitividade e o
lucro. Considera-se que esse projeto é padrão no país inteiro e está vinculado a uma concepção
de educação rural.
Em 2014 foi realizado o processo seletivo da licenciatura em educação do campo
ofertado pela UFPR/Litoral, o qual não foi divulgado aos professores das escolas rurais, e
alguns professores da área urbana estão participando. Os professores do campo recebem uma
formação diferenciada dos professores do contexto urbano, não são separados por conta da
diversidade de discussões, mas por conta do preconceito.
Quanto à estrutura agrária é efetivamente voltada ao agronegócio, temos a plantação de
pinus, eucalipto e a agropecuária. Há algumas experiências de plantação de mandioca, feijão,
milho, pokan, verduras e legumes por pequenos produtores. Quem tem gado, contrata pessoas
para trabalharem na manutenção da propriedade.
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Em 2015 foi implantado um programa com recurso da prefeitura para a reforma das
escolas rurais com maior fragilidade estrutural. Também por iniciativa da coordenadora das
escolas do campo, que é bolsista do projeto, aconteceram momentos de reflexão sobre a
proposta de mudança que se volte para além da estrutura física, provocando uma transformação
do modo de enxergar o campo. Esse reconhecimento refere-se à forma de olhar das
comunidades, políticos e governantes, quanto a interrogar as condições de trabalho, provocar a
participação dos pais nas escolas do campo, promover discussões nas escolas sobre as leis,
direitos e possibilidades no campo.
Quanto à formação continuada, os professores estão participando do projeto SEBRAE
o qual não agradou os professores. A propaganda deste projeto é que é bom para fazer o
município crescer, por meio do “treinamento” dos alunos para serem sujeitos empreendedores.
O projeto SEBRAE está sendo interrogado, entretanto foi imposto no município.
A concepção de educação, presente neste município, incentiva a agricultura capitalista;
observamos plantação de pinus, soja, eucalipto. Há também grande incentivo para a venda de
terras dos pequenos agricultores para o plantio de pinus, uma vez que não há trabalho e fomento
para que os filhos dos agricultores vivam no campo. As principais indagações referem-se à
questão que: quem planta o pinus tem uma relação com a terra pautada na exploração e no lucro,
são pessoas estranhas ao contexto, indiferentes aos danos produzidos no solo e à população; as
pessoas tiram o lucro da terra e não promovem o desenvolvimento local. Em contraposição
observamos a presença de pequenos agricultores que plantam: ponkan, hortaliças, feijão, milho,
criação de búfalo, hortifrutigranjeiros.
Quanto à formação continuada é realizada separadamente entre professores do contexto
urbano e contexto rural. O planejamento das escolas do campo era feito pela secretaria, desta
forma foi destacada a importância de possibilitar momentos para que as professoras construam
seu planejamento, de forma a contemplar a realidade que a escola está inserida.
em coletivos para leituras destes documentos sobre a educação do campo. Nestes grupos de
estudos surgiram reflexões do papel e da importância de cada membro na sociedade local, assim
como as condições de letramento destes profissionais que também foram apresentando
mudanças em suas práticas pedagógicas.
Até então, estes profissionais desconheciam a legislação do campo e não havia coletivos
que propusessem discussões para que suas práticas viessem de encontro com as características
do campo. Os materiais pedagógicos direcionados a estas escolas não contemplavam a
educação do campo, eram os mesmos materiais das escolas urbanas, tendo marcas fortes da
educação rural. Havia o desconhecimento das características locais, não percebendo a
importância destes aspectos que estão presentes no cotidiano escolar.
Houve a possibilidade de envolver, os coletivos no processo de reestruturação de seu
PPP, que já teve um avanço, mas ainda necessita de estudos mais aprofundados e contínuos,
vindo da participação coletiva de toda comunidade escolar, envolvendo cada vez mais os alunos
e seus pais neste processo, assim como tendo base e respaldo nos documentos da Educação do
Campo que ainda precisam ser mais analisados e discutidos.
Através destes momentos de estudos coletivos, notou-se um fortalecimento deste grupo
de profissionais que relatavam seu sentimento de inferioridade perante o grupo de professores
da rede municipal urbana, acrescido de uma precária formação profissional.A dificuldade de
deslocamento resultava em cursos a distância, além de enxergar o campo como sinônimo de
atraso. Os próprios moradores locais preferem sair de madrugada para buscar o sustento, na
maioria das vezes nos centros urbanos, pois desconhecem ou desvalorizam suas próprias
condições locais, visto que muitos destes moradores do campo nem se quer tiram de sua terra
o tempero para comida. O desconhecimento da realidade do campo faz com que as informações
sobre as políticas públicas, dados sobre a realidade do campo e a organização escolar não
tenham tanta importância nas políticas públicas municipais.
Por conseguinte, a intenção do município é envolver cada vez mais a comunidade
escolar, tanto no processo de desenvolvimento e execução destes projetos, quanto dar
continuidade aos grupos de estudos e discussões coletivas para que juntos sejam formulados
projetos relevantes que garante a melhoria das condições de ensino das escolas localizadas no
campo.
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Considerações Finais
REFERÊNCIAS
CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso. In:
Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.7 n.1, p.35-64, mar./jun.2009.
Disponível em: <http://www.revista.epsjv.fiocruz.br>. Acesso em: 20 out. 2013.
SOUZA, Maria Antônia. A Educação é do Campo no Estado do Paraná? In: Org. SOUZA,
Maria Antônia. Práticas educativas do/no campo. Ponta Grossa: UEPG, 2011. p. 25-40.