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AS ESCOLAS LOCALIZADAS NO CAMPO NA REGIÃO

METROPOLITANA DE CURITIBA: INDAGAÇÕES E DEMANDAS DE


TRÊS MUNICÍPIOS DA ÁREA NORTE

Camila Casteliano Pereira1 - UTP-PR


Edinéia Pietroski Hruba2 - UTP-PR
Ivete Aparecida dos Santos3 - UTP-PR
Janete Rocha Gonçalves4 - UTP-PR
Regina Bonat Pianovski5 - UTP-PR

Grupo de Trabalho - Educação do Campo


Agência Financiadora: CAPES/INEP

Resumo

Este trabalho tem a intenção de discutir o contexto das escolas localizadas no campo nos
municípios da Região Metropolitana de Curitiba. Os apontamentos construídos são oriundos de
discussões coletivas, em andamento, realizadas no projeto de pesquisa “Educação do Campo
na Região Metropolitana de Curitiba: diagnóstico, diretrizes curriculares e reestruturação dos
projetos político-pedagógicos”, aprovado no edital 049/2012, com financiamento do Conselho
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do qual as autoras são bolsistas.
O projeto de pesquisa iniciou em 2013 e finalizará em 2017, tem o objetivo de realizar o
diagnóstico da educação nas escolas localizadas no campo e provocar processos de intervenção
para uma construção coletiva do projeto político-pedagógico. São evidenciados neste trabalho
os encaminhamentos da pesquisa em três municípios: Cerro Azul, Campo Magro e Rio Branco
do Sul, ambos localizados na área norte da Região Metropolitana de Curitiba. Para o
desenvolvimento da pesquisa fazemos uso da abordagem qualitativa, tendo como técnicas de
coleta de dados a entrevista, observação e análise documental. Utilizamos autores tais como:
Caldart (2009) e Souza (2011), que fundamentam a pesquisa e promovem problematização da
realidade. De modo geral apresentamos os encaminhamentos dos estudos das ações
desenvolvidas em cada município até o momento; há momentos de aproximação outros de
distanciamento, entre as três experiências relatadas neste texto. O que é mais evidente é o

1
Mestranda em educação pela Universidade Tuiuti do Paraná. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa
em Educação do Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista de mestrado da CAPES/UTP. E-
mail: camicps@gmail.com.
2
Professora do município de Campo Magro. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação do
Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista da CAPES/UTP.
3
Professora do município de Cerro Azul. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação do
Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista da CAPES/UTP.
4
Professora do município de Rio Branco do Sul. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação
do Campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas). Bolsista da CAPES/UTP.
5
Doutoranda em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná, linhade pesquisa práticas pedagógicas, elementos
articuladores. Integrante do NUPECAMP (Núcleo de pesquisa em Educação do Campo , movimentos sociais e
práticas pedagógicas), bolsista de doutorado financiada pela CAPES/INEP. E-mail: reginabonat@yahoo.com.br.

ISSN 2176-1396
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desconhecimento por parte do poder público em compreender a realidade do campo, a falta de


políticas públicas e o fechamento de escolas. Todas essas problemáticas se vinculam aos usos
da terra, que é incentivado e mantido pelo capital.

Palavras-chave: Escolas públicas. Educação rural. Educação do campo.

Introdução

Este texto apresenta um recorte da pesquisa que está sendo realizada pelo NUPECAMP
(Núcleo de pesquisa em educação do campo, movimentos sociais e práticas pedagógicas) da
Universidade Tuiuti do Paraná, no projeto intitulado “Educação do Campo na Região
Metropolitana de Curitiba: diagnóstico, diretrizes curriculares e reestruturação dos projetos
político-pedagógicos”, aprovado no edital 049/2012 do Observatório da Educação, com
financiamento do Conselho de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do
qual as autoras são bolsistas.
O referido projeto tem como objetivo além do diagnóstico da situação das escolas
localizadas no campo, na Região Metropolitana de Curitiba, refletir sobre os Projetos Políticos
Pedagógicos destas escolas, provocando por meio da problematização a reelaboração dos
mesmos. As análises realizadas até o atual momento da pesquisa demonstram que os projetos
não são elaborados coletivamente, não fazem referência ao contexto rural, consequentemente
não retratam a realidade das comunidades atendidas pelas escolas. Desta forma, o NUPECAMP
vem realizando seminários nos municípios que aderiram ao projeto, apresentando os marcos
legais e princípios que caracterizam a Educação do Campo. Tal concepção é o resultado da luta
dos movimentos sociais por uma educação que contemple a necessidade do homem do campo,
e desta forma defende uma escola construída pelos povos do campo e não para os povos do
campo.
A pesquisa envolve professores das escolas, graduandos e pós-graduandos, tendo como
metodologia a investigação-ação desenvolvida por meio de observações, entrevistas e análise
de documentos. Durante as pesquisas de campo, os pesquisadores têm procurado confrontar os
dados oficiais do INEP, com a realidade das escolas no que se refere à situação de
funcionamento e paralisação. Também os estudos e seminários realizados nos municípios tem
possibilitado relacionar a prática pedagógica desenvolvida nestas escolas com os princípios da
Educação do Campo, que defende o reconhecimento e a valorização da identidade e cultura dos
sujeitos atendidos pelas escolas.
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Neste estudo vamos apresentar a realidade de três municípios, que participam das
pesquisas e estão desenvolvendo ações que buscam superar a ideologia da educação rural,
pautada numa visão urbanocêntrica como modelo de educação. Esta discussão está dividida em
duas partes, a primeira apresenta uma breve reflexão teórica sobre a educação do campo e a
educação rural e em seguida apresenta-se a situação encontrada nos municípios no início do
nosso projeto de pesquisa, as ações desenvolvidas e os resultados constatados até este momento.

Educação do campo e educação rural projetos de sociedade distintos

A educação do campo é uma concepção de sociedade que vem sendo construída desde
meados da década de 1980 pelos trabalhadores do campo que realizam enfrentamentos sociais
para constituir direitos no lugar que vivem. Os percursos de lutas referem-se ao contexto
fragilizado, à falta de políticas públicas, ao atendimento enviesado e invisibilidade em relação
aos modos de vida. Essa condição fragilizada é configurada como educação rural que na sua
origem tinha como principal objetivo atender superficialmente uma demanda contra o
analfabetismo e fixar o homem no campo. Em outras palavras, educação rural e educação do
campo são projetos sociais distintos. Enquanto a educação do campo é o projeto social
construído pelos trabalhadores do campo a educação rural é construída para os trabalhadores.
Neste contexto de lutas a educação voltada aos povos do campo sempre esteve associada
a uma situação de descaso com os sujeitos, tendo como pressuposto a precariedade, a falta de
qualidade, poucos recursos pedagógicos, além da infraestrutura física inadequada ou
inexistente. Somam-se a essas fragilidades a precária formação de professores, materiais
didáticos que desvalorizam a identidade do sujeito do campo, falta de conhecimento sobre a
existência dos sujeitos do campo, adaptações da educação do contexto urbano e rural e o
crescente fechamento de escolas. Souza (2011, p. 33) quando fala da escola marcada pela
ideologia da educação rural, descreve-a centrada em três características, tais como o: “1)
distanciamento entre os conteúdos escolares e a prática social; 2) centralidade em materiais
didáticos que valorizam o espaço urbano e ignoram o rural; 3) organização do trabalho
pedagógico marcado pelo cumprimento de tarefas e de proposições oficiais”. A autora
evidencia os dois projetos de sociedade, de um lado a educação rural de outro a educação do
campo e ressalta que a defesa é pela educação do campo, entretanto “não se pode ignorar a
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realidade marcante da ideologia da Educação Rural em muitas localidades do Estado6” (IDEM,


p. 32).
A educação rural refere-se, portanto, a um projeto construído sem os sujeitos do campo
e ao mesmo tempo para eles. Configura um conjunto de ações descontextualizados da realidade
e que refuta possibilidades de compreender o campo como lugar de contradições e
possibilidades de transformações. Neste sentido Munarim (2008, p.1) defende que a questão da
incorporação dos aspectos urbanos no contexto rural tem um caráter hegemônico e ideológico,
“razão pela qual a questão da educação dos povos que vivem no campo recebem pouca atenção
ou atenção enviesada da sociedade e das instituições públicas”.
A educação do campo tem marcos fundamentais que subscrevem sua história, dentre as
quais destacamos duas. Uma refere-se ao ENERA (Encontro Nacional de Educadoras e
Educadores da Reforma Agrária) realizado em julho de 1997 que reuniu a sociedade civil
organizada representada por diversas entidades e que tinha por objetivo conceber a educação
como prioridade enraizada com um projeto reforma agrária popular. O outro marco elencado
refere-se à 1ª Conferência Nacional “Por Uma Educação Básica do Campo”, realizada em
Goiânia, em 1998 que novamente organizou os movimentos sociais e diversas entidades ligadas
à educação do campo, nesta conferência foi definida o projeto de sociedade da classe
trabalhadora do campo na concepção: “educação do campo”; em contraponto à educação rural,
segundo Caldart (2009, p.38) a Educação do campo “nasce da ‘experiência de classe’ de
camponeses organizados em movimentos sociais e envolve diferentes sujeitos, às vezes com
diferentes posições de classe”. No mesmo propósito Munarim aponta que os enfrentamentos
dos trabalhadores do campo referiam-se à luta por conquistas de direitos, dentre as quais:

Valorizar os sujeitos educandos como sujeitos constituídos de identidades próprias e


senhores de direitos, tanto de direito à diferença, quanto de direito à igualdade, sujeitos
capazes de construir a própria história e, portanto, de definir a educação de que
necessitam (MUNARIM, 2008, p.4).

No contexto das pesquisas realizadas e evidenciadas neste texto, consideramos que a


concepção de educação das escolas localizadas no campo, atualmente referem-se à educação
rural, tendo em vista diversas problemáticas a serem superadas. Entretanto, conforme Souza
(2011, p.39) escreve “é preciso reconhecer essa realidade para fazer avançar uma prática
educativa dialógica”. É nessa perspectiva de trabalho que os municípios vêm trabalhando.

6
A autora refere-se ao estado do Paraná, discussão realizada no livro Práticas Educativas no/do Campo, capitulo
A Educação do Campo é do Estado do Paraná?
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Partilha-se de uma concepção fragilizada, mas há o reconhecimento de outro projeto de


sociedade para ser materializada nestes contextos.
Neste sentido, a próxima questão a ser evidenciada é a realidade da educação no
contexto dos três municípios aqui trabalhados. A intenção é destacar o que vem sendo realizado
e quais são os desafios para que os municípios incorporem os princípios da educação do campo.

A pesquisa no contexto de três municípios da Região Metropolitana de Curitiba

Nesta parte do texto daremos visibilidade ao trabalho que vem sendo desenvolvido nos
municípios aqui tratados. Primeiro discute-se sobre o município de Cerro Azul, depois trata-se
sobre o relato do município de Rio Branco do Sul e por fim evidencia-se as experiências
construídas no município de Campo Magro.

Município de Cerro Azul

O município de Cerro Azul é o que apresenta a presença o maior número de escolas


multisseriadas localizadas no campo, num total de 30 escolas. Estas escolas estão distribuídas
nas comunidades e em algumas atendem um número reduzido de crianças; face a esta situação
há uma tendência em efetivar o processo de nucleação destas escolas.
Constatamos no município que o sistema de ensino está pautado na concepção de
educação rural, que favorece o vínculo a projetos voltados para a valorização do agronegócio,
sem problematização quanto à situação da realidade local. As tomadas de decisões são
realizadas na secretaria de educação e informadas aos professores; os materiais enviados para
as escolas são selecionados pela equipe da secretaria, bem como a elaboração dos projetos
político-pedagógicos, não havendo um processo de trabalho coletivo.
Dentre as ações desenvolvidas realizamos um encontro no município para discutir a
educação do campo e a educação rural no início de 2015. Houve alguns trabalhos de campo nas
escolas com o objetivo de refletir sobre os princípios da Educação do Campo e indagar a
realidade vivida com relação à: participação da comunidade escolar nas tomadas de decisões
no que se refere à escola, o currículo e a organização do trabalho pedagógico de modo que leve
em conta a identidade dos sujeitos envolvidos no processo educativo.
Com relação aos resultados das intervenções desenvolvidas pelos pesquisadores do
projeto, observamos o início da problematização dos Projetos Político-pedagógicos e a proposta
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de construção coletiva. Constatamos que os projetos são organizados por pessoas que não tem
o conhecimento da Educação do Campo, ou construídos como um modelo único para todas as
escolas, o que não atende a realidade; conseguimos visualizar e interrogar, ainda que de modo
inicial, essa condição.
Também surgiu a necessidade de instituir uma gestão democrática nas escolas, a qual
rompa com a visão que o desenvolvimento do município só será possível se vinculada à
urbanização. Além disto, pretendemos firmar discussões em todas as escolas, organizar grupos
de estudos para a apropriação do conhecimento sobre as políticas da Educação do Campo e
construir um livro coletivo do município com o olhar da comunidade escolar.
A fim de provocar processos de mudanças na relação dos professores com a equipe da
secretaria, pretendemos provocar o empoderamento dos professores e comunidades por meio
de informações sobre seus direitos de modo a cobrar a visibilidade acerca da realidade que
vivenciam. Entendemos que a apropriação do conhecimento sobre a própria realidade na
perspectiva da Educação do Campo, permite que os professores continuem interrogando e se
articulando para impedir o desenvolvimento de projetos que tenham como ponto de partida, os
interesses capitalistas, pautados nas fragilidades de cada município, tais como: os usos dos
materiais didáticos, em especial o Agrinho, Projeto SEBRAE. Segundo os professores, o
projeto SEBRAE não contribui para solucionar as fragilidades em sala de aula; eles
consideraram que o empreendedorismo não traz benefícios para o município tendo em vista que
a estrutura agrária é voltada para o agronegócio e esse projeto ensina a competitividade e o
lucro. Considera-se que esse projeto é padrão no país inteiro e está vinculado a uma concepção
de educação rural.
Em 2014 foi realizado o processo seletivo da licenciatura em educação do campo
ofertado pela UFPR/Litoral, o qual não foi divulgado aos professores das escolas rurais, e
alguns professores da área urbana estão participando. Os professores do campo recebem uma
formação diferenciada dos professores do contexto urbano, não são separados por conta da
diversidade de discussões, mas por conta do preconceito.
Quanto à estrutura agrária é efetivamente voltada ao agronegócio, temos a plantação de
pinus, eucalipto e a agropecuária. Há algumas experiências de plantação de mandioca, feijão,
milho, pokan, verduras e legumes por pequenos produtores. Quem tem gado, contrata pessoas
para trabalharem na manutenção da propriedade.
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Quanto às organizações coletivas destacamos: a cozinha industrial “Delicias sertanejas”,


Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), sindicato dos trabalhadores rurais - Pedro
Almeida Monteiro Neto, Associação dos Funcionários Públicos do Sindicato dos Professores,
Associação Comunitária Água Saudável em São Sebastião e Associação Comunitária
Distribuição de Leite, Associação Portal dos Agricultores da localidade Bomba. O
desenvolvimento da pesquisa neste município tenciona organizar as comunidades para discutir
a prática social e possibilitar necessidade da organização coletiva para indagar as condições
sociais e lutar pelo não fechamento das escolas, em face de garantia de direitos sociais.

Município de Rio Branco do Sul

Em Rio Branco do Sul a discussão da Educação do Campo iniciou em 2013 com a


articulação do projeto de pesquisa que interroga a realidade do campo na Região Metropolitana
de Curitiba.
Em fevereiro 2014 realizamos um seminário no município com as provocações da
professora doutora Maria Antônia de Souza sobre os elementos do projeto político-pedagógico
e a realidade das escolas localizadas no campo. A participação do NUPECAMP provocou os
professores participantes a pensar sobre a realidade das escolas e sobre a importância de
compreender o PPP como um documento em movimento de transformação e não como algo
estático e imposto.
Após o encontro, as professoras e as comunidades se sentiram valorizadas, pois foram
entendidas como sujeito deste processo transformador. As professoras apresentavam um
sentimento de descaso relacionado e desinteresse materializado nas condições precárias de
infraestrutura das escolas. As professoras demonstraram desconhecimento sobre a concepção e
os marcos legais da Educação do Campo, tampouco sabiam que havia pessoas interrogando o
campo, pois o sentimento era de invisibilidade das escolas e comunidades.
Neste sentido, no decorrer do ano de 2014 e 2015 surgiram muitas interrogações sobre
o município e a concepção de sociedade que está latente. A educação tem sido permeada por
uma concepção de educação rural, no entanto a equipe da Secretaria Municipal de Educação
tem demonstrado disposição para discutir e refletir sobre propostas de mudança, no intuito de
dar visibilidade às escolas do campo e promover a compreensão dos direitos de acesso à escolas
melhores no campo.
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Em 2015 foi implantado um programa com recurso da prefeitura para a reforma das
escolas rurais com maior fragilidade estrutural. Também por iniciativa da coordenadora das
escolas do campo, que é bolsista do projeto, aconteceram momentos de reflexão sobre a
proposta de mudança que se volte para além da estrutura física, provocando uma transformação
do modo de enxergar o campo. Esse reconhecimento refere-se à forma de olhar das
comunidades, políticos e governantes, quanto a interrogar as condições de trabalho, provocar a
participação dos pais nas escolas do campo, promover discussões nas escolas sobre as leis,
direitos e possibilidades no campo.
Quanto à formação continuada, os professores estão participando do projeto SEBRAE
o qual não agradou os professores. A propaganda deste projeto é que é bom para fazer o
município crescer, por meio do “treinamento” dos alunos para serem sujeitos empreendedores.
O projeto SEBRAE está sendo interrogado, entretanto foi imposto no município.
A concepção de educação, presente neste município, incentiva a agricultura capitalista;
observamos plantação de pinus, soja, eucalipto. Há também grande incentivo para a venda de
terras dos pequenos agricultores para o plantio de pinus, uma vez que não há trabalho e fomento
para que os filhos dos agricultores vivam no campo. As principais indagações referem-se à
questão que: quem planta o pinus tem uma relação com a terra pautada na exploração e no lucro,
são pessoas estranhas ao contexto, indiferentes aos danos produzidos no solo e à população; as
pessoas tiram o lucro da terra e não promovem o desenvolvimento local. Em contraposição
observamos a presença de pequenos agricultores que plantam: ponkan, hortaliças, feijão, milho,
criação de búfalo, hortifrutigranjeiros.
Quanto à formação continuada é realizada separadamente entre professores do contexto
urbano e contexto rural. O planejamento das escolas do campo era feito pela secretaria, desta
forma foi destacada a importância de possibilitar momentos para que as professoras construam
seu planejamento, de forma a contemplar a realidade que a escola está inserida.

Município de Campo Magro

No município de campo magro a discussão sobre a educação do campo iniciou em 2011


com a vinculação do município no projeto de pesquisa “Estudo da realidade das escolas do
campo na Região Sul do Brasil: alfabetização, letramento e formação de professores”
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desenvolvido de 2011 a 2014 na universidade Tuitui do Paraná em formato de núcleo em rede


com as universidades UFPEL (Rio Grande do Sul) e UFSC (Santa Catarina).
Atualmente o município atende a 02 escolas municipais rurais e uma estadual do campo,
estando distribuídas entre 25 comunidades das 32 que estão espalhadas pelos 250 km² da zona
rural. Já existiram 15 escolas no campo neste município, mas foram uma a uma sendo fechadas,
e na maioria das vezes com o apoio da comunidade local, que acreditava que ter um filho
estudando em uma escola “grande” seria o melhor para seu filho, nem que para isso crianças
ficassem horas dentro do transporte escolar. Esta condição diz da precária infraestrutura que as
escolas apresentavam, pois a comunidade chegou à conclusão que a transferência de uma escola
próxima para uma escola mais distante era a melhor solução.
Para a administração local a justificativa é de que, por terem poucos alunos, mantê-las
abertas geravam muitos custos financeiros ao município. Algumas escolas foram transformadas
em postos de saúde, o que também na visão da comunidade seria a melhor opção, e outras foram
fechadas e encontram-se até os dias atuais abandonadas. Um episódio interessante foi a última
tentativa de fechamento que aconteceu na Escola Rural Municipal Professor Alexandre Bueno
Ferreira, onde a administração concluiu que o melhor seria fechar a escola, em decorrência de
um número reduzido de matrículas e pretendia transferir estes alunos para a escola do campo
que fica a aproximadamente 20 km de distancia. No entanto, a comunidade se organizou,
contando com o incentivo e presença de sua professora, de pais dos alunos e de representantes
de uma empresa local, que está firmada na comunidade chamada uniram-se e trouxeram
contrapropostas que convenceram a administração de que a escola deveria continuar atendendo
os alunos naquele mesmo espaço.
A outra escola municipal localizada no campo (E. R. M. Professora Mercedes Marques
dos Santos), até 2014 não era reconhecida como escola do campo, mesmo tendo 100% do corpo
docente composto de moradores das comunidades do entorno da escola, provenientes de
famílias de agricultores. Estes professores também tinham uma visão negativa sobre a escola
rural. O reconhecimento e valorização destes sujeitos e desta instituição como do campo só deu
inicio com a chegada em 2011 do projeto de pesquisa já mencionado, que trouxe discussões
primeiramente para o grupo de professores e depois envolveu a comunidade neste processo de
reconhecimento de sua identidade. A partir disso, com as provocações da educação do campo,
provocada pela professora Maria Iolanda, bolsista integrante do NUPECAMP, e em parceria
com membros da equipe pedagógica da SEDUC de Campo Magro, o corpo docente se reuniu
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em coletivos para leituras destes documentos sobre a educação do campo. Nestes grupos de
estudos surgiram reflexões do papel e da importância de cada membro na sociedade local, assim
como as condições de letramento destes profissionais que também foram apresentando
mudanças em suas práticas pedagógicas.
Até então, estes profissionais desconheciam a legislação do campo e não havia coletivos
que propusessem discussões para que suas práticas viessem de encontro com as características
do campo. Os materiais pedagógicos direcionados a estas escolas não contemplavam a
educação do campo, eram os mesmos materiais das escolas urbanas, tendo marcas fortes da
educação rural. Havia o desconhecimento das características locais, não percebendo a
importância destes aspectos que estão presentes no cotidiano escolar.
Houve a possibilidade de envolver, os coletivos no processo de reestruturação de seu
PPP, que já teve um avanço, mas ainda necessita de estudos mais aprofundados e contínuos,
vindo da participação coletiva de toda comunidade escolar, envolvendo cada vez mais os alunos
e seus pais neste processo, assim como tendo base e respaldo nos documentos da Educação do
Campo que ainda precisam ser mais analisados e discutidos.
Através destes momentos de estudos coletivos, notou-se um fortalecimento deste grupo
de profissionais que relatavam seu sentimento de inferioridade perante o grupo de professores
da rede municipal urbana, acrescido de uma precária formação profissional.A dificuldade de
deslocamento resultava em cursos a distância, além de enxergar o campo como sinônimo de
atraso. Os próprios moradores locais preferem sair de madrugada para buscar o sustento, na
maioria das vezes nos centros urbanos, pois desconhecem ou desvalorizam suas próprias
condições locais, visto que muitos destes moradores do campo nem se quer tiram de sua terra
o tempero para comida. O desconhecimento da realidade do campo faz com que as informações
sobre as políticas públicas, dados sobre a realidade do campo e a organização escolar não
tenham tanta importância nas políticas públicas municipais.
Por conseguinte, a intenção do município é envolver cada vez mais a comunidade
escolar, tanto no processo de desenvolvimento e execução destes projetos, quanto dar
continuidade aos grupos de estudos e discussões coletivas para que juntos sejam formulados
projetos relevantes que garante a melhoria das condições de ensino das escolas localizadas no
campo.
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Considerações Finais

As experiências desenvolvidas nos três municípios da Região Metropolitana de Curitiba


representam o resultado dos trabalhos desenvolvidos pelo NUPECAMP, tendo como objetivo
a divulgação dos princípios da Educação do Campo.
Como destaca Souza (2006, p.24) “Não se trata de uma reflexão sobre a dicotomia
campo e cidade; é uma reflexão sobre a educação necessária à classe trabalhadora e sobre as
desigualdades que caracterizam o país [...]”. De modo que a escola não cause estranheza aos
alunos nela matriculados, mas desenvolva uma educação voltada para a formação humana, que
busque promover a aquisição de conhecimentos e a ampliação da visão do mundo e da própria
consciência social.
Frigotto (2014, p.55) alerta que a educação pública no Brasil “não cumpre seu papel,
que é o de organizar a leitura crítica do mundo e dar ao jovem a dupla cidadania negada: o da
participação na definição da sociedade e a possibilidade de ter espaço no mundo da produção
para produzir a sua existência e de seus filhos dignamente”.
É pelo reconhecimento dos direitos dos sujeitos que vivem no campo, quanto à
educação, saúde e uma vida digna que os pesquisadores do NUPECAMP, buscam direcionar
seus estudos e pesquisas.

REFERÊNCIAS

CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso. In:
Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.7 n.1, p.35-64, mar./jun.2009.
Disponível em: <http://www.revista.epsjv.fiocruz.br>. Acesso em: 20 out. 2013.

FRIGOTTO, G. Desafios históricos e atuais da educação dos trabalhadores. In: PALUDO, C.


Campo e cidade em busca de caminhos comuns. Pelotas: UFPel, 2014, p. 43- 64

MUNARIM, Antônio. Movimento nacional de educação do campo: Uma trajetória em


construção, 2008. Disponível em <http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT03-
4244--Int.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2013.

SOUZA, Maria Antônia. A Educação é do Campo no Estado do Paraná? In: Org. SOUZA,
Maria Antônia. Práticas educativas do/no campo. Ponta Grossa: UEPG, 2011. p. 25-40.

__________ Educação do Campo: propostas e práticas pedagógicas do MST.Rio de Janeiro:


Vozes, 2006.

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