Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS, PALMAS, TOCANTINS, 2013, RESENHA

CRÍTICA, LARA PONTES NOGUEIRA VASCONCELOS

DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Tradução: Paulo Neves,


revisão da tradução: Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007-
(Coleção tópicos), 3º edição.

Fonte: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Resenha-Cr%C3%ADtica-As-
Regras-Do-M%C3%A9todo/31901854.html

“As Regras do Método Sociológico” foi primeiramente publicada por Émilie


Durkheim (1858-1917) em 1895 sob o título de “Les règles de la méthode
sociologique”. Durkheim se formou em Filosofia na École Normale Supérieure,
porém toda a sua obra foi dedicada a Sociologia, sendo inclusive visto como
um dos pais desta, devido a sua grande colaboração para o desenvolvimento e
conceituação dela como ciência; A obra procura trabalhar noções básicas do
pensamento Durkheimiano como o fato social, a coerção, patologia e anomia.
Além de traçar o método de estudos da sociologia, que até então não se
encontrava consolidado. Durkheim defende a sociologia como ciência da
sociedade, portanto ela deve se afastar da psicologia, que trabalha apenas com
o indivíduo, e focar-se somente no ser coletivo. O que interessa a Durkheim é
compreender o homem no meio social e estudar os aspectos que o
condicionam a se moldar de acordo com a realidade social em que está
inserido. No primeiro capítulo Durkheim nos apresenta o fato social, que
segundo ele, é o objeto de estudo da sociologia. Fatos sociais são fenômenos
que se dão no interior da sociedade, mas são exteriores e anteriores ao
indivíduo, tão naturais aos olhos daqueles já inseridos naquela realidade que
só chegamos a nota-lo quando nos impomos a ele. Podemos citar como
exemplo de fato social a língua que falamos, preceitos religioso, o sistema
jurídico e financeiro em vigor e todo o pensamento social de um povo que foi
moldado ao longo dos anos, todos estes fatores que já estavam consolidados
antes mesmo de nascermos e que, agora, se impõe a nós. “Ainda que, de fato,
eu possa libertar-me dessas regras e viola-las com sucesso, isso jamais ocorre
sem que seja obrigado a lutar contra elas. E ainda que elas sejam finalmente
vencidas, demonstram suficientemente sua força coercitiva pela resistência
que opõe.” (P. 3). Durkheim faz essa afirmação justamente para mostrar a
tamanha força do fato social, de modo que somos obrigados a segui-lo ou
então temos que sofrer com o afastamento que nossos próprios
companheiros terão conosco diante do estranhamente que ir contra um fato
social proporciona. No segundo capítulo, o livro apresenta uma abordagem
voltada para o método sociológico em si. Onde Durkheim irá defender que o
pesquisador deve ver os fatos sociais como coisas e através da observação e
pesquisa analisa-los, porém sem deixar que seus pensamentos individuais
interfiram em seus resultados, deve-se adotar um posicionamento distante,
como podemos ver no seguinte trecho: "Considerar fenômenos sociais em si
mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso
estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se
apresentam a nós" (p.28). De modo geral, no terceiro capítulo, Durkheim
trabalha com os conceitos de patologia e normalidade na sociedade,
utilizando, a primeiro momento uma abordagem biológica interessantíssima,
na qual ele afirma que nem tudo o que causa dor ou desconforto é uma
doença e que há doenças que não causam dor ou desconforto algum. Tal
como as ditas “doenças sociais” que acabam se mostrando um estado de
normalidade e não uma patologia. Para Durkheim patológica seria aquela
sociedade que não se comporta de maneira natural e condizente a seu estado
de evolução, sendo assim um fator bem relativo. Além disso, ele inova ao
apresentar o crime e o suicídio, por exemplo, como designadores de uma
sociedade normal, uma vez que estes aspectos estão presentes em toda
sociedade e caso não estivessem muito do que já temos desenvolvido hoje se
perderia, por exemplo o Direito que sem o crime não teria se desenvolvido ao
ponto em que está hoje. A patologia apenas existe, segundo ele, quando as
doenças se excedem, como quando se vê um número de suicídios maior que o
normal ou uma grande onda de crimes. Na quarta parte, Durkheim argumenta
sobre os tipos sociais, onde defende que todas as sociedades, apesar de
diversas, possuem elementos em comum e sua essência é sempre a mesma,
assim bastando a análise de uma ou algumas para poder-se generalizar o
social de maneira apropriada. Também decorre sobre a formação da
sociedade, que começa com pequenos grupos, transformando-se em clãs e
esses clãs se juntam com outros clãs até dar origem a sociedade tal qual a
conhecemos. Neste capítulo, o autor classificará as sociedades em níveis de
organização e evolução, o que gerou críticas ao seu pensamento evolucionista.
Podemos ver tal característica expressa no seguinte trecho “Começar-se-á por
classificar as sociedades de acordo com o grau de composição que elas
apresentam, tomando por base a sociedade perfeitamente simples ou de
segmento único.” ( p.87). No quinto capítulo, Durkheim aponta um erro na
teoria do seu colega, Comte, que entende e explica o fenômeno baseando-se
em sua finalidade ou por sua utilidade, o autor diz: “Mostrar a utilidade de um
fato não é explicar como nasceu nem como é o que é, pois as funções para que
serve supõem as propriedades especificas que o caracterizam, mas não o
criam” (p.105). Para ele, a explicação para os fatos sociais serem da maneira
que são será encontrada não na pesquisa de sua finalidade ou utilidade, mas
na análise dos fatos sociais anteriores, pois é deles que o fato social se origina.
No sexto capítulo, denominado “ Regras Relativas a Administração da Prova”,
Durkheim irá frisar a importância da análise comparativa na sociologia, pois é
esta a única maneira de obter respostas no que diz respeito a evolução e
diferentes comportamentos do fato social. Uma vez que a sociologia é uma
ciência que não consegue gerar artificialmente o seu objeto de estudo, ela só
pode recorrer, então, a observação e a partir de uma observação atenta
comparar dados e impressões que ao fim devem chegar a alguma conclusão.
Por fim, podemos ver que Durkheim cumpriu com maestria a proposta que
havia feito de traçar um método de estudo para a sociologia. Através de seu
texto, o estudo da sociologia se transformou em uma tarefa muito mais
objetiva e dinâmica. Durkheim também se fez notar por romper com a filosofia
e a psicologia, afirmando que eram os fatos sociais o objeto de estudo da
ciência, assim traçando um novo paradigma e revolucionando a sociologia da
época. Recomendamos a leitura da obra, pois, apesar de se tratar de um dos
primeiros trabalhos de uma ciência recém-criada, “Regras do Método
Sociológico”, mantêm-se um texto atual e um dos mais utilizados a fim de
pesquisas na área das ciências humanas. Portanto, é um texto de leitura
essencial e primordial para qualquer um que venha a exercer profissão ou
pesquisa na área de humanas.

Você também pode gostar