Você está na página 1de 28

CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS

em Maputo

Uma experiência inovadora


para valorizar a agricultura
periurbana
2 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 3

Índice
04 Acrónimos

05 Introdução

06 Capítulo 1: O desenvolvimento da agricultura


urbana e periurbana em Maputo: intervenção da ESSOR
de 2010 a 2016

15 Capítulo 2: A cadeia de hortaliças agroecológicas


em Maputo: situação atual no final de 2016

16 Capítulo 3: Construir a cadeia agroecológica elo por


elo

46 Capítulo 4 : Dificuldades e desafios da cadeia


agroecológica

52 Conclusão

O conteúdo (textos, gráficos, ilustrações, metodologia …) deste livro, e em particular o método que é apresentado,
é o resultado de anos de trabalho e experiência da ESSOR. Qualquer empréstimo ou recuperação, total ou
parcial, deste trabalho requer que seja feito expressamente crédito à ESSOR, na sua qualidade de autor.

© ESSOR
4 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 5

AcrÓnimos introduÇÃo
AB : Agricultura Biológica Ha : Hectare Maputo, como inúmeras capitais Africanas, conhece um juntodos produtores e as experiências mostraram como
crescimento urbano importante e enfrenta como desafio adaptar estas técnicas no contexto da agricultura urbana
AFD : Agência Francesa de Desenvolvimento IDE : Empresa de Desenvolvimento Internacional maior garantir uma alimentação à sua população com e periurbana (AUPU). Esta primeira fase terminou com
base em produtos de qualidade e diversificados cujos uma convicção: a produção agroecológica é possível e
AgroEco : Agroecológico/a IFOAM: International Federation of Organic Agriculture preços sejam acessíveis aos consumidores. Não é sempre oferece oportunidades aos produtores, tanto em termos
Movements-Federação internacional dos movimentos o caso atualmente, porque o país recorre a importações de redução de custos de produção, como também dos
AMAP : Associação para a Manutenção de uma Agricul- para agricultura orgânica em massa, enquanto a qualidade dos produtos não é impactos sobre a saúde e ambiente. Os primeiros testes
tura Camponesa garantida e os preços seguem as flutuações da moeda de colocação no mercado, também mostraram o potencial
IMF : Instituição de Micro Finanças que foi particularmente forte em 2016. A população urbana comercial dos produtos agroecológicos.
AUPU : Agricultura Urbana e PeriUrbana tem acesso aos legumes folhas produzidos localmente na
INNOQ : Instituto Nacional das Normas e Qualidade cintura verde de Maputo, entretanto, as outras hortaliças Com base nesta contestação, uma segunda fase de 3
CA: Conselho de Administração provêm seja de outras províncias, seja da vizinha África anos foi implementada para desenvolver uma verdadeira
Km : quilómetro do sul. cadeia agroecológica com três níveis: desenvolver a
CMM : Conselho Municipal de Maputo produção, facilitar a comercialização, e implementar um
Mts : Meticais = moeda moçambicana (1euro = 72 Mts em Para contribuir para o desafio de alimentar a Cidade de sistema de certificação. Uma abordagem participativa
Conv: Convencional Março 2017) Maputo com produtos locais de qualidade, a ESSOR baseada na experiência e envolvimento de diferentes
lançou um desafio de criar e acompanhar uma cadeia atores foi privilegiada para construir esta cadeia de valor.
DASACM : Direcção da Agricultura e da Segurança Ali- ONG : Organização Não Governamental comercial inovadora, curta e de proximidade que valorize
mentar da Cidade de Maputo uma produção local, familiar, sustentavél e de qualidade. O presente documento tenciona explicar a abordagem
OP : Organização de Produtores metodológica, valorizar a metodologia utilizada,
DAUPU: Desenvolvimento da Agricultura Urbana e Pe- Duas fases sucessivas de três anos cada, de 2010 apresentar os resultados e discutir os limites e desafios
riUrbana SMIC : Salário Mínimo de Crescimento a 2016, foram financiados pela Agência Francesa de identificados ou ainda de atualidade. É um suporte para
Desenvolvimento, a Fundação Ensemble, as fundações os atores que desejam se engajar numa abordagem
DTT: Dithiothreitol SPG : Sistema Participativo de Garantia e associações SEED, Lord Michelham of Hellingly, Colam similar, e uma ferramenta de apoio à reflexão mais geral
Initiatives, RAJA, Frères de nos frères e Anber. sobre as oportunidades que oferecem as cadeias curtas
DUAT : Direito de Uso e de Aproveitamento da Terra UGC : União Geral das Cooperativas agroecológicas para alimentar as cidades.
A primeira fase entre 2010 e 2013 permitiu testar a
FAO : Food and Agriculture Organization = Organização T : Tonelada pertinência e a eficácia das práticas agroecológicas
das Nações-Unidas para Alimentação e Agricultura

FAP : Formação Agrícola Participativa

GVC : Gruppo di Volontariato Civile = ONG de volunta-


riado Italiana

© ESSOR © ESSOR
6 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 7

Capítulo 1 : O desenvolvimento da agricultura urbana e periurbana A agricultura periurbana em Maputo, contexto e problemática

em Maputo: intervenção da ESSOR de 2010 a 2016 Em 2008, ESSOR intervém na Cidade de Maputo sobre
a temática da educação pré-escolar, em colaboração
e a Universidade Eduardo Mondlane são fortemente
implicados nesta primeira etapa que permite uma análise
nomeadamente com o Conselho Municipal da Cidade de aprofundada da situação da cintura verde de Maputo:
ESSOR, uma associação comprometida em benefício dos mais vulneráveis Maputo. Este último, informado sobre as diferentes áreas tipologia das explorações, problemáticas agronómicas,
de intervenção da ONG, propõe realizar um diagnóstico nas ambientais, institucionais, acesso aos mercados, níveis de
ESSOR é uma Organização não-governamental francesa Participativa1) tem por base a experiência e as atividades zonas verdes de Maputo, onde existe um forte potencial estruturação das organizações de produtores, capacidade
criada em 1992 por profissionais do desenvolvimento da ESSOR no Brasil, em Cabo Verde, no Congo- agrícola mas com limites para o seu desenvolvimento. e limites da intervenção de instituições públicas, nível
que tem como objetivo ajudar as populações mais Brazzaville e em Moçambique. Interessada, ESSOR responde favoravelmente, e com o de coordenação dos atores implicados na zona, etc.
carenciadas em adquirir meios para melhorar de forma apoio da Embaixada da França em Moçambique, realiza Muitas perguntas em que o diagnóstico tentou responder,
sustentável suas condições de vida. Seu apoio baseia-se Em 1997, a ESSOR inicia suas primeiras ações em um primeiro diagnóstico durante 8 meses onde foram muitos temas necessitando realizar um estudo para bem
na concepção e implementação de ações concretas que Moçambique, e desenvolve pouco a pouco projetos em encontrados todos os atores locais do setor agrícola compreender as forças e as fraquezas da zona.
facilitem a apropriação de processos de desenvolvimento diferentes zonas do País: em Maputo, em Beira, e nas urbano e periurbano (ONGs, associações, uniões,
local. ESSOR intervém no meio rural como no meio províncias de Sofala, Inhambane, Gaza e Nampula. Seus instituições públicas, setor privado). O Conselho Municipal
urbano em 6 países Brasil, França, Moçambique, Guiné- eixos de intervenção respondem às necessidades do país
Bissau, Chade e Congo-Brazzaville, em 4 temáticas onde a grande maioria da população moçambicana vive
principais: Educação, Desenvolvimento Agrícola, em situação de pobreza e onde a má nutrição crónica das
Formação e Inserção Profissional dos jovens, Educação crianças de menos de 5 anos ultrapassa os 40%. Embora 8 de Março
para Desenvolvimento (França). sendo um País independente desde 1975, os 20 anos
de guerra civil marcaram profundamente o País, que no Centro das Mulheres do Zimpete
ESSOR caracteriza-se nas suas intervenções agrícolas por entanto conhece hoje em dia uma estabilidade política
uma metodologia de formação e experiência participativa e um crescimento económico notável (em média de 7% A Djaulane
de inovações, utilizada entre outras para promover a por ano), mas que continua muito dependente da ajuda Janet Mondlane
Joaquim Chissano
adopção pelos agricultores de técnicas agroecológicas. exterior.
Esta metodologia, chamada FAP (Formação Agrícola Eduardo Mondlane Lirandjo
10 de Novembro
Samora Machel Costa do Sol
Foça do povo
Marcelina Chissano de Bagamoyo

Luisa Diogo

Distritos

• Kamavota
• Katembe
• Kamubukwana
• Rio Mulauze
Auto Apoio de Chali
Associação da cadeaia de
Armando Guebuza horticolas ecologicas

1
Um manual detalhando esta metodologia é disponível em português e em francês no sítio “Pratiques”: http://www.interaides.org/pratiques/.

© ESSOR © ESSOR
8 Essor - filière maraichère agroécologique à maputo Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 9
Caracterização sintética da agricultura urbana e periurbana:

• Zona verde bastante importante (2 050 hectares em Ma- • O lençol freático leva tempo para recarregar; as fontes
puto e Matola). de água enfraquecem.

• Cerca de 20 000 famílias dependem dessa atividade, • Gestão coletiva tos terrenos agrícolas, com direito de
que constitui uma fonte tanto de alimentos como de ren- uso individual para os membros das associações. As ter-
dimentos. ras pertencem ao Estado e foram postas à disposição das
associações depois da independência, através do Direito
• Com seu milhão de habitantes, Maputo é muito de- de Utilização da Terra para uso agrícola (DUAT).
pendente das importações de alimentos para alimentar
a sua população, não somente no que diz respeito aos • Produção vendida em 95% a intermediários vindos de
Canteiro de alface convencional cereais de base mas também a muitas hortaliças (excepto outras parcelas que sempre compram hortaliças por can-
os legumes folhas) importadas da África do Sul. teiro.

• Parcelas com dimensões muito pequenas (parcela mé- • Preço fixado pelo intermediário, sem margem de nego-
dia por produtor de 500 a 800 m²) cultivadas de maneira ciação para o produtor: os preços flutuam muito ao longo
bastante intensiva. do ano variando de 150 MZN2 para um canteiro de alface
de 8 m² no pico de produção (Junho-Julho) até 900 MZN
• Sistemas de cultivo muitas vezes baseados na monocul- no período menos favorável para a produção (Janeiro
tura de espécies de ciclo curto (couve, alface…). -Fevereiro).

• Produção anual total de mais de 23.000 toneladas de • Impactos ambientais importantes: o uso de pesticidas
produtos hortícolas em 20161, produção essencialmente foi várias vezes claramente denunciado como inadequado
concentrada na estação seca, entre Março e Outubro. através de publicações da FAO, confirmado por casos de
intoxicação dos consumidores.
• Na estação chuvosa, as inundações nas baixas e as
temperaturas muito elevadas tornam a atividade hortícola
pouco propícia.

1
Estimativa dos serviços públicos.
2
Ou seja entre 2 e 13 euros por canteiro.

© ESSOR
10 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 11
O estudo da ESSOR mostrou que as práticas são globalmente deficiente. Contudo, o desenvolvimento da
globalmente inadequadas e perigosas (utilização de agricultura periurbana seria facilitado pela existência de
insumos de origem duvidosa ou altamente tóxicos, organizações fortes, capazes de propor aos seus membros
não respeito dos intervalos de segurança, ausência de serviços adaptados às suas necessidades (equipamentos
equipamento de proteção no momento de pulverizar) coletivos, fornecimento de insumos…) e de representá-los
e as análises realizadas confirmaram que grande parte eficazmente junto das instituições de tutela.
das hortaliças comercializadas localmente apresentam
resíduos de pesticidas prejudiciais à saúde humana1. Além Do ponto de vista institucional, as estruturas ligadas ao
dos problemas sanitários, o uso abusivo e descontrolado sector da AUPU em Maputo e Matola são de três tipos:
de pesticidas químicos é responsável pela degradação da
microfauna do solo, da poluição dos lençois freáticos e • Serviços de Estado dependentes do Ministério da
dos pontos de água, etc. Agricultura, dos quais a Direção da Agricultura e da
A falta de conhecimento de técnicas alternativas por Segurança Alimentar de Maputo e a Direção Provincial
parte dos produtores assim como dos técnicos agrícolas da Matola, nascidos de uma forte vontade politíca de
das instituições de apoio, nomeadamente baseadas na desenvolver a AUPU logo após a Independência.
agroecologia, constitui um entrave ao desenvolvimento • Conselhos municipais cujas competências estão sendo
de uma agricultura mais sustentável. reforçadas no que diz respeito ao apoio à AUPU, no
quadro da transferência de responsabilidades em curso.
Os produtores são na sua maioria organizados em • Instituições privadas: federações de organizações
cooperativas, constituidas depois da Independência de produtores (é o caso da UGC-AD, União Geral das
na época do colectivismo, ou em associações,criadas Cooperativas), ou de outras organizações.
mais recentemente, por iniciativa das instituições de
apoio, para oficializar o direito de uso da terra e facilitar Cada uma dessas instituições possui seu público
o enquadramento técnico dos produtores. Contamos em privilegiado, seus modos de ação, seus recursos próprios,
2016, com 45 associações e 113 cooperativas em Maputo mas não existe coordenação permanente entre elas, o
e Matola. que por vezes tem resultado numa falta de coerência e de
Estes dois tipos de estruturas apresentam um dinamismo eficácia nas ações.
limitado, devido à sua criação «de cima para baixo»,
à idade avançada de seus membros, e à sua gestão

Agricultura urbana e periurbana em fotos:

1
70% das amostras colhidas nos campos em Maputo e analisadas em 2010 apresentavam quantidades de resíduos químicos superiores às
© ESSOR normas da União Europeia, algumas amostras tinham até pesticidas proíbidos para qualquer uso agrícola, tais como o DDT. © ESSOR
12 Essor- -filière
Essor CADEIAmaraichère
DE HORTALIÇAS
agroécologique
AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO
à maputo Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 13
Técnico de Estado e agricultoras de uma associação
Distrito de Kamavota Desenvolvimento da agricultura periurbana: uma segunda fase centrada sobre os atores locais e a agroecologia

Esta fase focou sua intervenção nas três principais Os parceiros públicos tiveram um papel preponderante,
vertentes seguintes: sua forte implicação sendo vista como um dos elos
que possa garantir uma viabilidade maior das ações
1) Reforçar as capacidades dos diferentes atores implementadas pelo projeto. Foi a primeira vez na
e a concertação entre eles: i) melhorar as condições história agrícola de Maputo que o Conselho Municipal e
organizacionais dos produtores trabalhando desde a a Direção da Agricultura se associaram com ESSOR para
base (grupos pilotos e associações) até as estruturas a implementação de um projeto de 3 anos, enquanto os
federativas (uniões) a fim de as ajudar a pôr em prática as acordos assinados envolviam essas duas instituições em
ferramentas de funcionamento interno, de comunicação, ações ainda em contra-corrente da política agrícola do
de governação, e a sua capacidade de influenciar as país (a favor da Revolução Verde).
políticas públicas ii) reforçar os serviços públicos do apoio
à agricultura, especialmente seus técnicos iii) reforçar a Outra particularidade desse projeto era o reconhecimento
concertação entre produtores, comerciantes, serviços pelas instituições públicas dos outros atores envolvidos
públicos e consumidores. no setor agrícola (uniões dos produtores) e a criação de
dispositivos de concertação e planificação coordenada.
2) Melhorar a produção agrícola pela difusão de
técnicas de produção agroecológica, a experiências de Se a concertação entre os atores era uma atividade
Projeto de Desenvolvimento da Agricultura Urbana e PeriUrbana (DAUPU), primeira fase inovações técnicas, a promoção de meios de irrigação e a transversal do projeto, necessária para melhorar os
diversificação das atividades agrícolas. impactos e a perenidade das intervenções, esta não podia
Com base nos resultados do estudo, ESSOR arranca em • As premissas de uma cadeia agroecológica ser implementada sem um reforço das capacidades de
2010 um projeto em parceria com as diferentes instituições foram iniciadas. 3) Desenvolver uma cadeia hortícola agroecológica cada um dos atores envolvidos.
públicas de Maputo e Matola (Conselhos municipais das 2 • Os técnicos de 4 instituições públicas receberam certificada.
cidades, Direção da Agricultura e da Segurança Alimentar um programa de formação completo, orientado para a
de Maputo e Direção Provincial de Matola, UGC, Instituto agroecologia e participaram nas experiências conduzidas
de formação Agrodec-cefat). Este projeto procurou com os agricultores.
promover as práticas agroecológicas para melhorar a
produção de forma sustentável, mas também reforçar Apesar desses resultados encorajadores, 3 anos de
o diálogo entre a sociedade civil e os poderes públicos intervenção não foram suficientes para consolidar
sobre a questão da soberania alimentar, e contribuir para o desenvolvimento de uma agricultura produtiva e
o reforço das capacidades dos serviços públicos e das sustentável, que possa abastecer as cidades de Maputo
organizações profissionais nesse setor. e Matola em produtos locais, de qualidade com impactos
ambientais limitados. A avaliação externa do projeto
As atividades realizadas pelo Projecto DAUPU entre 2010 confirmou a necessidade de prosseguir com a estratégia
e 2013 tiveram resultados positivos: de desenvolvimento de ações de reforço da cadeia de
hortaliças agroecológicas, que permita fazer a ligação
• Uma trintena de organizações de produtores entre as ações técnicas, implicar concretamente os
receberam formações organizacionais que lhes permitiram diferentes atores (produtores, decisores, consumidores),
ter conhecimentos e as ferramentas de base para melhorar reunir pessoas e estruturas que habitualmente coabitam,
o seu funcionamento interno. mas dialogam pouco, até nunca. Além disso, a promoção
• Mais de 1000 agricultores foram sensibilizados das técnicas agroecológicas inscreve-se num processo de
sobre práticas agroecológicas sustentáveis e 600 mudança de práticas mais longo, para uma apropriação
experimentaram práticas que demostraram benefícios em real pelos produtores e pelos atores privados e públicos.
Reunião de planificação mensal entre as instituições públicas.
termos de produtividade, dos custos de produção e dos
impactos sobre o ambiente.
© ESSOR
14 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 15
O segundo eixo visava melhorar a produção agrícola
das zonas verdes de Maputo, em quantidade, qualidade
enquanto existia uma demanda pelos produtos locais, de
qualidade e diversificados.
CapÍtulo 2 : A cadeia das hortaliças agroecológicas de Maputo:
e diversidade. Durante a primeira fase, ESSOR era
completamente responsável por este eixo, enquanto nessa Num estado embrionário no fim da primeira fase, centrou-
situação atual no final de 2016.
segunda fase, o reforço da competências das instituições se então, na construção desta cadeia de valor inovadora,
públicas permitiu responsabilizá-las muito mais. No elo por elo, desde a produção até a comercialização, Escolhemos aqui apresentar uma imagem da situação da cadeia agroecológica em fins de 2016 (fim do projeto DAUPU).
terreno, traduziu-se pela organização de formações passando pela certificação para garantir a qualidade Permite definir o quadro deste documento, e servir de referência para os próximos capítulos onde são expostas e
práticas pelos técnicos das instituições públicas (sozinhos dos produtos. Os parceiros públicos com ESSOR analisadas as etapas de construção da cadeia de valor.
ou em pares com um técnico do projeto), mas também concordaram em construir estea cadeia com base em
o acompanhamento de campos de experimentação regras de proximidade e de equidade entre os atores, e
nas parcelas-escolas das associações de produtores. com o objetivo de garantir uma melhor remuneração dos Apoio da ESSOR, do Conselho Municipal, da Direção da Agricultura
Formações sobre o uso racional dos insumos químicos, produtores. da cidade de Maputo
especialmente os pesticidas, foram também realizadas, de
forma a integrar práticas mais sustentáveis na agricultura Grandes desafios tiveram de ser enfrentados tanto
Consumidor
convencional. para tornar a produção suficiente, como para garantir Produção Comercialização Certificação
final
a qualidade agroecológica, e desenvolver a demanda
É através da experimentação participativa de práticas através da sensibilização dos consumidores.
agroecológicas, ao nível coletivo e/ou individual, que foi
construída a cadeia das hortaliças agroecológicas. Embora Maputo, a maior cidade de Moçambique, oferece um
o contexto seja pouco propício, esta opção pareceu terreno propício para esta experiência e ESSOR e seus
pertinente: era possível produzir hortaliças de qualidade parceiros decidiram enfrentar o desafio de criar a primeira
de maneira agroecológica sem nenhuma utilização cadeia certificada de hortaliças agroecológicas.
de insumos químicos e mantendo bons rendimentos,

89 produtores individuais 1 Empresa social privada: 1 Sistema de certificação Consumidores da


344 agricultores em ComOrgânico participativa classe média e
produção coletiva 11,5 Toneladas comercializadas Primeiras normas de produção alta
(parcela coletiva) em 2016 em diferentes mercados: agroecológica 60 famílias
Mínimo de 1,02 - Feiras mensais e periódicas 1 Rede de atores comprometidos reunidas numa
ha cultivado em - Entrega domiciliária para na certificação (produtores, associação
agroecologia cada mês particulares consumidores, comerciantes, 90 particulares
na estação fresca e 0,5 - Entrega agrupada (associação, instituições públicas, ONGs) 2 embaixadas,
ha na estação quente escola) 64 agricultores e 1 empresa 2 escolas, 1
(ou verão) certificados restaurante
Produção contínua 1 campanha de
durante as 2 estações comunicação e
climáticas sensibilização
Mais de 20 culturas
diferentes

Demostração de pulverização de biopesticida


por um técnico da DASACM

© ESSOR
16 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 17

CapÍtulo 3 : Construir a cadeia agroecológica elo por elo


3.1 Desenvolver a produção agroecológica

Compreender as fraquezas e os constrangimentos dos modos de produção atuais

Em primeiro lugar, o projeto procurou compreender melhor produtores, reunidos em pequenos grupos, no terreno,
as dificuldades dos produtores e suas expectativas. Essas no meio de uma parcela. O quadro seguinte resume
primeiras discussões, nos campos, foram a etapa prévia as dificuldades e os constrangimentos, e apresenta as
às formações e experiências. Consistiram na animação propostas avançadas pelo projeto para superá-los.
de reflexões e análises conduzidas pelos próprios

CONSTRANGIMENTOS RESPOSTAS ÁS DIFICULDADES CONSTRANGIMENTOS RESPOSTAS ÁS DIFICULDADES


• Custos elevados das sementes → Visita de lojas de insumos para identificar • Na época chuvosa, risco importante de → Em colaboração com as uniões e as
• Custos elevados dos pesticidas os serviços, os preços, a oferta, e negociar as inundações e perda de plantas jovens associações, organização da limpeza manual
• Resistência das doenças e pragas aos compras a grosso • Canais mal limpos, entupidos, contaminados dos canais de irrigação e lobbying junto das
pesticidas → Formação sobre o uso razoável de pesticidas: pelos insumos químicos, resíduos e recargas instituições públicas para a limpeza mecânica
• Desconhecimento dos tipos de pesticidas, dos os tipos de pesticidas, o conteúdo dos rótulos, o Acesso à das empresas do rio principal
seus efeitos, dos intervalos de segurança bom uso dos produtos químicos, a utilização dos água • Problema de drenagem dos poços e fontes → Formação sobre a produção de plantinhas
• Custos elevados dos materiais de proteção materiais de pulverização de água em caso de má estação chuvosa em caixinha transportavél protegida
Insumos • Venda de produtos químicos por vendedores → Elaboração e difusão de um manual sobre a • Dificuldade de produção na estação chuvosa → Experiência de sistemas manuais de
ambulantes a preços atrativos mas sem garantia utilização racional dos agro-tóxicos sob a forma provocando o abandono de parcelas irrigação a baixo custo
da qualidade / efeito / origem do produto de desenhos • Carga de trabalho elevada para a rega → Instalação de barreiras de vetiver para
• Dificuldade para encontrar sementes → Experiências de práticas agroecológicas manual estabilizar os solos e evitar a lixiviação e a
diversificadas alternativas aos produtos químicos, erosão
• Acesso difícil à matéria orgânica tipo estrume nomeadamente biopesticidas → Organização dos canteiros de cultura no
(preço e disponibilidade) sentido perpendicular à direção da encosta

• Queda dos rendimentos → Formação em produção de sementes • Dependência forte face aos intermediários, → Levantamento dos preços mensais nos
• Solos cada vez menos férteis → Experimentação em técnicas de produção interessados unicamente pela couve e alface mercados locais (grossistas e semi grossistas)
• Falta de conhecimento das técnicas de agroecológica para melhorar os rendimentos • Preço de venda do canteiro muito pouco e difusão junto dos produtores
produção de sementes e a fertilidade de solos: biopesticidas, remunerador → Análise técnico-económica para determinar
• Incidência de doenças e pragas cada vez fertilizantes orgânicos, compostos, • Preços fixados pelos intermediários sem os custos de produção
mais importante biofertilizantes, cobertura morta, rotação e negociação possível do produtor → Visita aos mercados e negociação com os
Produção • Fraco enquadramento técnico pelos serviços associação cultural, etc. Comercia- • Falta de domínio dos custos de produção vendedores
de apoio lização pelos produtores para definir melhor seus → Organização de espaços de discussão com
• Pouco conhecimentos sobre as outras preços de venda os intermediários
culturas fora do repolho, couve tronchuda e • Produção vendida sem ter em conta → Facilitação para participação nas feiras
alface os intervalos de segurança ligados às agrícolas
pulverizações de produtos químicos

© ESSOR © ESSOR
18 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - filière maraichère agroécologique à maputo 19
Danos causados pela Através das discussões e intercâmbios, os rendimentos. Mas aos poucos, observou-
Plutella xylostella L. na horticultores constataram e perceberam se um efeito inverso: as doenças e pragas
cultura de couve
o círculo vicioso em que pouco a pouco tornaram-se resistentes, as doses de
se deixaram fechar: ao produzir de pesticidas e adubos tiveram de aumentar.
forma intensa e contínua duas principais O solo nunca descansa, enquanto os
culturas, a couve e a alface (com apenas insetos, fungos e viroses encontram
1 variedade de couve e 2 variedades todas as condições necessárias para se
de alface disponíveis no mercado das multiplicar e se espalhar. Os agricultores
sementes), empobreceram os seus solos, e reduzem os intervalos de pulverização e
favoreceram o desenvolvimento das pragas produzem alimentos contaminados, sem
Instalação de uma experiência numa parcela escola
e doenças. Para remediar esta situação, ver soluções alternativas para resolver os
o uso de pesticidas e adubos químicos seus problemas. O quadro1 seguinte sintetiza o conjunto de práticas e seus objetivos que foram experimentadas ao longo das duas
permitiu no início manter e/ou aumentar os fases do projeto. As que se destacaram e pareceram as mais adaptadas e mais adoptáveis no contexto das zonas
verdes de Maputo foram conservadas.
Da passagem da experiência à produção agroecológica
A base de ním, de tabaco, de alho, de pimenta, de folhas de pa-
É a Formação Agrícola Participativa (FAP) que foi Uma experimentação era considerada como um sucesso Biopesticidas paieira, de leite, de cinza e/ou de farinha, em aplicação de forma
privilégiada como abordagem metodológica com os quando permitia que os produtores analisem uma preventiva ou curativa, para um efeito fungicida, bactericida ou
produtores. Em cada associação e seguindo também a prática diferente, façam a comparação com as práticas insecticida.
metodologia das instituições públicas, pequenos grupos convencionais, compreendam os efeitos positivos e Armadilha A base de cerveja, para lutar contra as lesmas e caracóis.
de produtores foram criados, associados a uma parcela negativos da prática inovadora, vejam como ela podia ser
escola (13 grupos de 15 a 30 produtores, ou seja um total melhorada e adaptada. Alho, hortelã, coentro, belgata, manjericão e cravo, cujos cheiros
Plantas repulsivas
de 344 produtores). Entretanto, estes grupos já haviam O projeto suportou os insumos de base (sementes na Gestão naturais são repulsivos para muitos insectos.
sido criados pelas instituições públicas e o projeto os maioria dos casos, totalidade ou parte das matérias integrada de Para otimizar a exploração do espaço, permitir um melhor desen-
dinamizou. primas e do material necessários) para o lançamento Tutoramento
doenças e volvimento vegetativo, proteger os frutos, facilitar a colheita.
das experimentações, mas os produtores eram sempre pragas Para manter e aumentar a fertilidade dos solos e gerir a incidên-
É ao nível das parcelas escolas que as experiências responsáveis pela implementação da experiência: rega, Rotação de culturas cia de doenças e pragas (ruptura de ciclo de desenvolvimento
foram realizadas para responder às problemáticas sacha, controlo, etc. das pragas).
enfrentradas pelos produtores. Em função das situações e
dos objetivos, as técnicas foram testadas de forma isolada É a repetição destas experiências que permitiu aos Para efeitos benéficos entre as plantas e optimizar a exploração
Associação cultural da parcela de produção.
ou comparadas com as técnicas convencionais. Algumas produtores, assim como aos técnicos do projeto e das
práticas tiveram de ser repetidas por vários ciclos para instituições públicas, dominar as práticas e saber utilizá-
compreender seus efeitos (por exemplo as rotações). Em las, adaptá-las e «dosá-las » em função dos contextos, Introdução de novas Para responder a um novo mercado, favorecer a biodiversidade,
média, uma experiência leva entre 1 a 3 meses conforme das épocas de produção, das culturas. Os produtores- culturas aproveitar o efeito repulsivo e/ou benéfico de certas culturas, etc.
a duração do ciclo da cultura. O técnico responsável pela experimentadores tiveram por vezes a impressão de Fertilização A partir da fermentação de matérias orgânicas complementares
experimentação fazia um seguimento semanal ou 15 em retornar aos tempos dos seus avós, que não tinham acesso Biofertilizante líquido
orgânica que enriquecem os solos e favorecem a nutrição das plantas.
15 dias. aos produtos químicos, mas, mais do que um regresso
ao passado, trata-se de adaptação e melhoramento de Para diminuir a evaporação da água de irrigação, melhorar a fer-
Cobertura morta /
O grupo completo estava presente no lançamento da práticas tradicionais, enriquecidos pelos conhecimentos e tilização e a qualidade do solo para o ciclo seguinte e reduzir a
Gestão da empalhamento
experimentação, nas etapas intermediárias para o saber-fazer agronómicos internacionais. monda.
seguimento e análise, e depois no fim da experimentação água
Em barreira, para proteger os solos e as culturas contra a lixivia-
para o balanço global. Geralmente, a implementação da A FAP, como a agroecologia, não é uma receita milagrosa Vétiver
ção e a erosão, e estabilizar os canais de irrigação.
experiência em curso era assumida de maneira coletiva para resolver um problema, mas um processo permitindo
(os grupos tendo 1 a 2 dias de trabalho coletivos previstos resolver um problema encontrado pelos produtores, Produção de plantas Para uma melhor gestão dos viveiros e a possibilidade de os
Proteção das
nas parcelas escolas) e individual, através de um sistema baseado na compreensão do problema e na procura de em caixinhas trans- transportar em caso de chuva/inundação.
de rotação organizado entre os membros do grupo. uma combinação de diferentes soluções, testadas em mudas portáveis
condições reais pelos produtores mesmos.
© ESSOR 1
© ESSOR
Todas essas técnicas são detalhadas no documento “Manual de práticas agroecológicas na produção de hortaliças em Maputo”, disponível junto
da ESSOR.
20 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 21
As práticas agroecológicas ilustradas Adotar as práticas individualmente

Cobertura morta sobre feijão verde Biofertilizante fermentado A experimentação participativa é uma ferramenta para culturas de diferentes famílias assim como a integração
se formar e testar novas práticas, mas o objetivo máximo de plantas repulsivas em associação cultural, favorecem
é a sua adopção pelos produtores, o que leva tempo. a diminuição dos ataques.
É por isso que no fim da experimentação, é importante
organizar um debate com os produtores para analisar e Ao contrário das práticas convencionais onde o agricultor
questionar os resultados em termos técnicos e técnico- trata um problema com um produto químico, as práticas
económicos: será que a prática permite resolver o agroecológicas impõem aos agricultores para raciocinarem
problema identificado? Será que é adoptável? Será que é e reflectirem sobre o seu itinerário técnico de forma global.
adaptada ao contexto e à capacidade do produtor? Como A preparação dos tratamentos naturais requer também
pode ser melhorada? tempo e antecipação, mesmo se o custo é bem mais
reduzido que um pesticida químico e os ingredientes
Geralmente, as práticas deram na sua maioria bons de base são disponíveis (para todos os biopesticidas e
resultados, embora tenha sido necessário repetir certas os fertilizantes propostos pelo projeto, cuidamos para
experiências (seja para garantir o resultado, seja para que o material seja sempre acessível, aproveitando a
analisar o efeito a longo prazo). Se os insumos ou o biodiversidade local). É uma mudança de hábito radical
material necessários podem ser um entrave à aplicação que o agricultor deve integrar.
da técnica ao nível do campo individual, é muitas vezes
Cultura sob rede de proteção Armadilha feita de cerveja
a mudança de hábitos que torna lenta a sua adoção. Os estudos realizados mostram que uma vez que os
É necessário então um acompanhamento quase produtores tenham integrado uma grande parte ou o
semanal do agricultor para encorajá-lo e apoiá-lo na sua conjunto de técnicas agroecológicas propostas, eles
escolha ao adoptar uma prática. Assim como explicado chegam a ter rendimentos iguais ou superiores aos
anteriormente, em agroecologia, não existe uma receita rendimentos das práticas convencionais. Da mesma
milagrosa, é a combinação de várias técnicas que permite forma, a duração do ciclo das culturas em agroecologia,
dar o resultado certo. que no início é superior à duração dos ciclos em cultivo
convencional, diminui pouco a pouco à medida que o
Tomando um exemplo concreto para ilustrar os feitos: agricultor domina mais as técnicas. Constatamos também
que os agricultores que hoje em dia dominam melhor
Na cultura de alface, os agricultores são confrontados com suas produções agroecológicas, são os que iniciaram a
muitos ataques de lagartas. As práticas convencionais dos conversão há pelo menos 2 anos.
agricultores consistem em pulverizar um insecticida tipo
cipermetrina logo na manifestação dos primeiros ataques.
Quanto mais o ataque é persistente, maior a tendência do Técnico do projecto ajudando uma agricultora a preparar um biopesticida
agricultor para reduzir os intervalos entre cada pulverização.
Em produção agroecológica procuramos logo de início
reforçar o solo e a planta, partindo do princípio que uma
planta bem alimentada resistirá melhor aos ataques.
Trata-se então de fornecer nutrientes complementares,
através da compostagem, dos biofertilizantes líquidos,
da incorporação no solo da cobertura morta proveniente
de uma cultura benéfica anterior (tipo feijão), etc. Da
mesma forma, trabalhamos primeiro na prevenção em
vez de recorrer a um tratamento curativo. O agricultor é
dai encorajado a pulverizar 15 em 15 dias um biopesticida
Produção de plantas em caixinhas transportáveis Biopesticida de tabaco a base de ním ou de tabaco, alternando as categorias
de biopesticidas. Por fim, a prática das rotações entre as
© ESSOR © ESSOR
22 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 23
Ajustar a produção ao mercado Comparação entre produção convencional / produção agroecológica

Os agricultores especializaram-se em hortaliças do tipo de mercado. Os produtos devem então ser adaptados em Este capítulo não seria completo sem uma comparação entre os dois modos de produção, convencional e agroecológica.
couve e alface, porque são estes produtos que não quantidade e em qualidade para responder à demanda:
sofrem da concorrência das importações, que são os semanal e diversificada. O produtor deve então ser capaz
mais solicitados pela população local e que oferecem por de planificar sua produção de modo que possa fornecer Convencional Agroecológica
fim uma remuneração mensal porque o seu ciclo é de um semanalmente canteiros das diferentes hortaliças.
mês.
É sobre esta questão maior que o projeto teve de
Os intermediários encarregues pela comercialização vêm acompanhar os produtores tanto de forma individual
diariamente até as parcelas para comprar os canteiros de como de forma global ao nível de toda a zona de Vista geral da parcela
alface e outras hortaliças, ao preço por eles fixado. produção, desenhando planos de produção sazonais e
acompanhando sua implementação nas parcelas.
O produtor não precisa de planificar a sua produção, ele
sabe que venderá seu canteiro quando atingir o estado Um trabalho foi também realizado de maneira participativa
de colheita, a única incerteza sendo sobre o preço. Ele com os agricultores e os atores encarregues pela
deverá sobretudo assegurar-se de ter suficientes canteiros comercialização a fim de fazer uma previsão dos volumes Força de Trabalho Trabalho manual Trabalho manual
prontos para venda no fim do mês para remunerar sua semanais necessários para cada produto e de os repartir
própria mão-de-obra. depois por distrito, e depois por agricultor em função da • 95% folhas de repolho, repolho e al- Couve, alface, cebola, pimento, berin-
sua capacidade de produção e domínio das culturas. face em cultivo contínuo durante o ano gela, beterraba, acelga, espinafre,
Uma vez que o produtor se engaje na produção todo cenoura, nabo, feijão-verde, rabanete,
agroecológica, além do domínio das práticas, adicionam- A dificuldade que implica a diversificação dos produtos • 5% beterraba, cebolinha, acelga, ce- salsa, manjericão, coentro
se duas novas competências: planificar e escalonar a reside na duração do ciclo de produção. As hortaliças bola em época fresca Em especialidade e consoante época:
Agrobiodiversidade
produção; e adaptar a oferta à procura. De fato, a produção convencionais tipo legumes folhas têm um ciclo de um • Folha de abóbora, feijão-de-corda ervilha, alho francês, brócolos, couve-
agroecológica inscreve-se numa cadeia com vocação mês, entretanto as hortaliças «novas», têm ciclos mais (feijão nhemba) e milho cultivados em flor, tomate, batata, batata-doce, abó-
comercial, para abastecer numa primeira fase um nicho longos geralmente, até 3 a 4 meses para certas hortaliças época chuvosa bora, abobrinha.
(cenoura, brócolos, beringela, etc.). A couve e a alface não representam
mais que 5% da produção
Dentro de um contexto de pobreza, a mobilização da Áreas cultivadas em
sua parcela, durante este lapso de tempo pode ser 100% da SAU cultivada em conven- 25 a 100% da SAU cultivada em
convencional VS em cional agroecologia consoante os produtores
problemática e constituir um entrave importante. Mesmo
se no final a remuneração seja maior, provoca muitas agroecologia
vezes constrangimentos em termos de tesouraria para os Ureia e NPK Estrume de galinha e de bovinos
agricultores mais vulneráveis. Para superar isso, é preciso Estrume de galinha Incorporação de restos de culturas
ter uma boa gestão e planificação da exploração agrícola: Gestão da Cobertura morta
trata-se de introduzir pouco a pouco, canteiro por canteiro, fertilidade Biofertilizante líquido
uma nova hortaliça, de forma que possam depois colher Composto
mensalmente as novas hortaliças, da mesma forma que
as hortaliças convencionais. Pesticidas tipo cipermetrina, manco- Biopesticidas em preventivo e curativo
zebe, metamidofos (Tamaron), clorpi- Armadilhas
Gestão de doenças e
rifos Plantas repulsivas e associação cultu-
pragas ral
Rotações

Introdução da abobrinha

© ESSOR © ESSOR
24 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 25

Convencional Agroecológica O quadro seguinte apresenta os melhores resultados obtidos pelos produtores agroecológicos comparados às parce-
las convencionais:
Sistemática em função das famílias de
Rotação cultural Couve-alface culturas Alface Alface Tomate Tomate Cenoura Cenoura Beterraba Beterraba Couve Couve
Conv. agroEco Conv AgroEco Conv AgroEco Conv AgroEco Conv AgroEco
Contorno dos canteiros de alface ou couve Privilegiadas consoante as famílias de
Associações culturas
com cebola, beterrabas e cebolinha Duração do ciclo (j) 63 65 133 135 90 90 86 88 83 98
culturais Exemplo : alface-feijão verde; alface-
cebola; nabo-acelga, tomate-couve Rendimento em kg/m² 5,9 4,9 * 1,2 2,9 1,9 2,6 0,8 1,1 6,6 6,7
60 dias para couve e alface (dos quais 15
Duração do ciclo de 45 dias para couve e alface (dos quais 15 dias de viveiro) para os agricultores que
Tempo de trabalho 3,4 3,3 8,7 7,9 7,1 7,5** 5,7 6,3 6,5 8,7****
produção dias de viveiro) não dominam perfeitamente as técnicas por hora
3 a 4 meses para as outras culturas fora Custo total de
dos legumes folhas produção por m² 11,9 10,5 8,4 8,3 7,1 28,6 27,3 15,1 10,4 9,1
Os intermediários compram por canteiro A empresa ou o micro empreendedor com- em MZN***
nas parcelas para vender nos mercados pra no campo por kg para revender aos
grossistas. consumidores em directo. Beneficio por
Preço estipulado pelo intermediário evo- Preço estipulado por ano, por consenso m² ao preço do 31,9 33,4 23,8 79,1 41,9 61,1 9,8 22 90 92,4
Comercialização luindo a cada ano entre produtores e empresa / micro em- mercado em MZN
Exemplo: 100 a 900 Mts o canteiro de al- preendedor
face, média de 350 Mts por ano Exemplo: 10 Mts por pé de alface, fixo por Benefício por m²
ano, ou seja 500 Mts por canteiro ao preço da cadeia 195,6 108,2 77,8 22 105,2

12,9 Mts ao preço do mercado local 18,8 Mts ao preço do mercado local
agroecológica em MZN
Benefício/m²/mês 44,9 Mts ao preço da cadeia agroecológica
Exemplo da alface
* : Neste caso, o rendimento inferior explica-se por uma densidade cultural menos importante em agroecologia (19 plantas em agroecologia contra
25 em convencional) ligada à uma associação cultural com a cebola em produção agroecológica
** : Tempo de trabalho mais longo em ligação com uma melhor gestão da fertilidade e a preparação dos biopesticidas
A transição para uma produção agroecológica é um não permitam controlá-las totalmente. Este é o caso por *** : Os custos de produção são em média mais elevados em produção convencional por causa do custo dos insumos químicos
processo que se inscreve no tempo: os produtores exemplo em estação quente e chuvosa para as hortaliças **** : A cultura da couve sofreu bastante durante esta experiência, os tratamentos naturais foram mais importantes em termos de tempo em
relação ao convencional
necessitam de experimentar várias vezes as práticas e tipo couve ou alface. Mas na sua exploração agroecológica,
de as adaptar ao contexto da sua exploração agrícola. os produtores têm um nível de diversidade tal que embora
Este quadro conforta as explicações precedentes: as são mais longos em agroecologia, pois há mais trabalho
Durante o período desta transição, os rendimentos podem uma cultura seja fortemente afetada, o rendimento da
durações do ciclo podem ser um pouco mais longas, de prevenção (biopesticidas), em fertilização orgânica e
diminuir um pouco (queda de 20% no início da transição exploração é globalmente mantido graças às outras
mas para os produtores que dominam bem as técnicas, empalhamento das parcelas. No final, as receitas obtidas
agroecológica) e a duração dos ciclos se estender de uma culturas, o que não é o caso na produção convencional
as diferenças são mínimas. Os rendimentos, para estes são superiores em agroecologia, porque no obstante os
quinzena de dias para as culturas tipo alface e couve. onde um produtor que cultiva 80% da sua superfície em
produtores em conversão desde mais de um ano, são tempos de trabalho mais longos, os rendimentos não são
Constatamos no terreno que é necessário um a dois anos couve e alface, incorre o risco de perder tudo em caso de
cada vez mais importantes: ao longo dos ciclos, eles mais impactados pelos custos dos insumos químicos.
para que estas diferenças desapareçam completamente. ataques muito fortes de doenças e pragas.
melhoram a fertilidade do seu solo, dominam melhor os Quando as hortaliças são comercializadas aos preços da
Os produtores que integraram todas as práticas
tratamentos preventivos naturais, fazem o empalhamento cadeia agroecológica, a renda é nitidamente superior, pois
agroecológicas para a gestão da fertilidade, a prevenção e As análises técnico-económicas mostraram que para
sistemático das suas parcelas, etc. Os tempos de trabalho o preço é bem mais remunerador.
a luta contra as doenças e pragas, bem como as rotações e os agricultores que melhor dominam as práticas
associações culturais chegam mesmo a obter rendimentos agroecológicas e comercializam dentro da cadeia, seu
em produção agroecológica superiores de 15 à 30% à rendimento aumenta de 45%. Não somente o preço da
produção convencional. cadeia é mais interessante, mas também os custos de
produção são inferiores, pois os encargos de insumos
Entretanto, acontece que a incidência de doenças e químicos são nulos, o que compensa deste modo o tempo
pragas seja importante e que as técnicas agroecológicas de trabalho e a duração de ciclo por vezes mais longos.
© ESSOR © ESSOR
26 Essor - filière maraichère agroécologique à maputo Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 27
3.2 Um mercado de nicho de proximidade, socialmente justo

Chamo-me Isabel Marcos Muholove, Identificar um mercado para os produtos agroecológicos


tenho 41 anos, vivo no bairro de Produzir de maneira agroecológica hortaliças de qualidade Mas como fazer concorrência com a produção intensiva
Zimpeto, sou membro e produtora da e diversificadas é um trunfo maior para o produtor que sul-africana que exporta cenoura ao preço de 14 mts
Associação Centro das Mulheres de pode pretender um mercado mais remunerador, desde que o kg enquanto localmente, e mesmo em produção
Zimpeto desde 1996. A minha formação circuitos curtos sejam estabelecidos e que o consumidor convencional, o custo de produção se avizinha de 30 mts
esteja disposto a pagar um pouco mais caro um produto por kg?
em práticas agroecológicas começou
local cuja qualidade seja garantida.
em 2011; recibi um apoio técnico para Foi decidido depois recorrer aos consumidores, e
experimentar práticas alternativas ao O projeto primeiro procurou avaliar a pertinência do através de inquéritos realizados junto dos compradores
uso dos insumos químicos. Em 2015, outra posicionamento desses produtos nos mercados locais. nos mercados locais, constatamos que a população
produtora, técnicos do projeto DAUPU As primeiras pesquisas tiveram lugar em vários mercados moçambicana, seja qual for a sua categoria social, tem
da capital, o mercado grossista do Zimpeto mas também mais interesse nos produtos moçambicanos do que nos
e eu mesmo fomos até o Brasil para
os mercados semi grossistas e atacados (mercado Janet produtos importados. Nota-se no seu discurso o orgulho
uma formação para melhorar os nossos e mercado central). Os comerciantes e vendedores das nacional, a vontade de apoiar e valorizar a agricultura
conhecimentos em agroecologia e bancas responderam: «sim, hortaliças diversificadas são moçambicana. Mas somente as classes alta e média
certificação participativa. Era muito interessantes, por fazerem concorrência aos produtos confirmam estar dispostas a pagar um pouco mais caro
impressionante ver o nível de domínio importados da África do Sul, mas os preços devem ser um produto local de tipo «orgânico».
inferiores a estes últimos». Poucos comerciantes ao
das práticas agroécológicas pelos
contrário mostraram interesse na qualidade particular, Para confirmar esses inquéritos, diferentes testes de
produtores brasileiros. Essas formações nomeadamente produtos isentos de pesticidas: somente comercialização foram realizados:
contribuiram para mudar a minha vida, a questão do preço e abastecimento direto pelo produtor • Num mercado local em colaboração com uma
porque antes, cultivava somente couve os motivavam. Mesmo discurso ao nível dos responsáveis vendedora possuindo já uma banca fixa.
e alface, e utilizava insumos químicos dos supermercados da capital, cujo único interesse era ter • Nas feiras agrícolas pontuais organizadas pela
um preço mais competitivo possível e volumes garantidos DASACM.
para combater as doenças e pragas,
ao longo do ano todo. • Abrindo pontos de venda informais dentro dos
o que não é mais o caso hoje em dia: bairros frequentados pela classe alta.
minha produção é totalmente orgânica,
e o que se nota nas minhas parcelas, Os preços foram fixados tendo em conta os preços do
é a diversificação: cultivo salsa, nabo, mercado, quer seja ao mesmo preço que o mercado
convencional (exemplo para a alface), quer seja a um
feijão verde, beringela, beterraba,
preço um pouco superior ao do mercado (de 10 a 15%)
coentro, alho, cebola, acelga, brócolos, na época fresca. A fixação dos preços foi também feita em
pimentão, etc. e meus custos de concertação com os produtores, e com base nas primeiras
produção baixaram muito! análises de custos realizadas com estes últimos nas suas
parcelas.
Isabel, produtora agroecológica de
Kamubukwana

Teste de comercialização no mercado Janet

© ESSOR © ESSOR
28 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 29
Os primeiros ensaios foram bastante positivos: os seu gerente. Além disso, podemos destacar também a O txova : um novo micro empreendedor dentro da cadeia agroecológica
consumidores mostraram-se interessados, e os da classe integração dos produtores a uma iniciativa de Slow Food,
alta e média abertos para pagar preços mais elevados, em parceria com a GVC (ONG italiana), que se concretizou Os produtores participaram nesses diferentes testes de adquiriu o primeiro «txova» e modificou-o para o tornar
desde que o produto seja garantido sem químico e que pela criação de um Mercado da Terra, favorecendo a comercialização, mas logo que seu rítmo se tornou mais mais atraente: pintura, slogan, teto de palha, caixa de
o produtor receba uma remuneração justa em relação ao ligação dos produtores locais com os consumidores. regular (quinzenalmente), sua participação tornou-se armazenamento dos produtos colorida, etc. A estrutura
seu trabalho. cada vez mais irregular: atraso, ausência, os produtores foi aliviada para facilitar os deslocamentos e pneus de
São essas experiências de marketing iniciais, muitas não conseguiam estar presentes em cada feira ou melhor qualidade foram instalados. Analisando a lista de
O projeto encorajou depois a presença e a participação vezes informais, que identificaram um nicho de mercado venda organizadas aos fins-de-semana. Acrescenta-se consumidores interessados pelos produtos agroecológicos,
dos produtores na criação de postos de venda, informais, em que a produção agroecológica pode ter um lugar ainda a dificuldade de «vender seus produtos»: sendo o projeto definiu um circuito permitindo passar pelas zonas
abertos periodicamente em pontos estratégicos da interessante, remunerador, motivador e recompensador pouco habituados a se relacionar com a classe alta ou mais frequentadas pelos consumidores. Faltava apenas
capital, frequentados pelas classes média e elevada tais para os produtores. média, moçambicana ou estrangeira, eles encontravam encontrar o micro empreendedor para efetuar as vendas.
como jardins e parques públicos, com a autorização do dificuldades em comunicar, apresentar seus produtos
(origem, modo de produção), discutir os preços, dar o Esta foi a parte mais difícil e mais longa. Procurando
troco, etc. Alguns demostraram maior capacidade para na rede dos txovas já em atividade, o projeto perdeu
Participação dos produtores numa feira assumir um papel na comercialização, mas sua falta de muito tempo. Ensaios foram feitos mas nenhum deu
disponibilidade rapidamente tornou-se um problema. continuidade mais do que uma semana. É necessário
saber que tradicionalmente, estes jovens são contratados
É necessário compreender que os produtores não estão pelos proprietários das carroças (txovas) que lhes
encarregues pela comercialização nas cadeias agrícolas fornecem os produtos, eles recebem um salário fixo e uma
convencionais, sendo essa realizada pelos intermediários. parte de sua remuneração é proporcional às vendas. Eles
Ademais, os produtores, mulheres na sua maioria, são não se mostraram interessados na venda de hortaliças
chefes de família, para a qual se dedicam plenamente aos agroecológicas, por um lado por falta de conhecimento
fins-de-semana enquanto durante a semana dedicam a dos produtos e das suas potencialidades comerciais, e por
maior parte do seu tempo aos trabalhos agrícolas. Neste outro lado porque no caso desta cadeia, são eles mesmos
contexto, ficou rapidamente evidente que, devido à falta que eram encarregues pela compra das hortaliças. De
de tempo e/ou de competências comerciais, os produtores fato, o objetivo sendo criar uma cadeia curta, era difícil
não podiam assumir sozinhos a comercialização das acrescentar mais um operador encarregue pela compra e
hortaliças agroecológicas. entrega das hortaliças aos txovas sem ter um impacto ao
nível dos preços de venda final aos consumidores.
Outras alternativas foram então procuradas, e foi
discutindo com os consumidores que novas propostas Conversando com um jovem, formado pela ESSOR no
de circuitos de comercialização alternativos apareceram. quadro de um projeto de Formação e Inserção Profissional
De facto, se a presença de estandes localizados nos dos jovens, e vendedor de produtos de primeira
espaços frequentados permitia fazer uma boa promoção necessidade numa esquina, a equipe encontrou o seu
dos produtos, os consumidores rapidamente desejaram «txova agroecológico»: Alexandre, sorrindo, dinâmico,
pontos de abastecimento regulares, fora dos fins-de- mostrou-se rapidamente curioso, interessado e motivado
semana. pela ideia de experimentar esta nova atividade.

Foi então decidido experimentar um sistema inovador de O projeto facilitou a sua integração: contato e apresentação
comercialização, inspirado de um modelo tradicional de aos produtores, ajuda para a negociação de preços
venda de frutas na cidade: o txova. Trata-se de carroças com os produtores e definição de preços de venda,
ambulantes, empurradas por jovens vendedores, que disponibilização da carroça, formação comercial e contato
circulam durante todo o dia na Cidade. Eles param nos com os consumidores da cadeia no âmbito das feiras.
bairros e andam com os seus produtos convidando
os transeuntes a comprar os seus produtos. O projeto

© ESSOR © ESSOR
30 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 31
O txova, um novo modo de comercialização Depois de um ano de atividade, a procura dos abastecidos diretamente no seu domicílio. Apesar dos
consumidores aumentou, mas o dispositivo foi confrontado custos de deslocação mais elevados, a taxa de entrega
com um problema de logística. Os tempos de compra, ao domicílio de 100 meticais permitiu compensar e
tratamento e entrega dos produtos sendo importantes, manter uma remuneração interessante para os micro-
não era possível para um só txova responder à toda a empreendedores.
demanda e aumentar o número de dias de entrega. Foi
então decidido encontrar um segundo txova: este último, Por fim, podemos mencionar uma iniciativa de
além das entregas domiciliárias, era responsável consumidores que decidiram agrupar suas encomendas
por abastecer uma escola da capital, frequentada por num ponto fixo (no início no domicílio de um desses
expatriados e Moçambicanos da classe alta. consumidores, depois num local da empresa pertencendo
a um dos consumidores), inspirando-se dos modelos
A medida das vendas e da integração de novos AMAP europeus (Associação para a Manutenção de uma
consumidores, estes últimos solicitaram os micro- Agricultura Camponesa). Uma vintena de familias de
empreendedores para serviços de entrega ao expatriados e de Moçambicanos da classe alta, decidiram
Este modo de comercialização foi um sucesso desde a ele transmitia toda a informação junto dos produtores para domicílio. Depois de um ano e meio de atividade, apoiar a cadeia e se organizaram para a compra e a
sua implementação porque respondia às expectativas ajustar a oferta à demanda. mais de 60% dos consumidores desejavam serem distribuição das suas encomendas.
dos consumidores: receber os produtos num lugar mais
Conta de Resultado mensal do Sr. Alexandre, txova de hortaliças agroecológicas, Fevereiro 2015
perto do seu local de trabalho ou de residência. De 2 Os preços de compra aos produtores foram fixados
pontos de estacionamento uma vez por semana, o txova de um comum acordo entre os produtores e o micro Encargos / Despesas Valor em MZN Receitas Valor em MZN
rapidamente passou a ter 4 pontos de estacionamento empreendedor. Tomando como referência os custos de
duas vezes por semana. O número de dias de venda produção e os preços de venda nos mercados locais, os Compra de hortaliças 5340 Venda de hortaliças 8942
semanal não pôde ser aumentado, porque para cada preços eram fixados para o ano, atualizados no início de Transporte compra e venda 320
dia de venda, significa dedicar o dia anterior à colheita e cada ano, na retomada da produção (Fevereiro-Março). Despesas de preparação e embalagem
preparação das hortaliças. Aos fins-de-semana, o txova Seu valor fixo superior aos preços convencionais permitia para venda 90
participava em eventos de promoção périódica (Mercado manter um preço mais remunerador para os produtores
Total dos gastos 5750 Total das receitas 8942
da Terra e feiras agrícolas). De simples vendedor de rua ao longo do tempo, mantendo-se ao mesmo tempo
informal, este jovem micro empreendedor tornou-se um atrativo para o consumidor. O quadro seguinte compara
elo essencial da cadeia assegurando a proximidade entre os preços de algumas hortaliças segundo os mercados
o produtor e o consumidor, num espírito de mercado justo e (convencional ou agroecológico) em função das épocas. Benefício mensal em MZN 3192* Equivalente SMIC local 3183
equitativo. Em contato permanente com os consumidores, mensal em MZN
Benefício diário em MZN/dia 199,5 para Salário diário em MZN/dia 159,15 para
16 dias / mês 20 dias /mês
Preço de venda (em meticais MZN)
**
Unidade Convencional Agroecológica
Época quente 10 10
alface Pé
Época Fresca 4 10 * 44€ / mês

repolho Época quente 35 20 ** 3€ / dia


Época Fresca Monte 7,5 20
Época quente 35 40
tomate Kg
Época Fresca 20 40
cenoura Época quente 40 50
Kg
Época Fresca 25 50
Época quente 35 50
Beterraba Kg
Época Fresca 20 50
Época quente / 50
Feijão verde Kg
Época Fresca 40 50
© ESSOR © ESSOR
33 Essor - filière maraichère agroécologique à maputo
32 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - filière maraichère agroécologique à maputo 33
Evolução dos volumes de venda em 3 anos
Kgs vendidos
1400

1200

1000

800 2014
2015
2016
600

400

200 Alexandre, jovem Moçambicano de 26 anos de idade, era um pequeno


vendedor informal de cigarros, doces e bolachas; instalado numa esquina
perto do ecritório da ESSOR. Nos explica que quando ouviu falar que ESSOR
0 procurava alguém para “ser txova” e ajudar a vender as hortaliças dos
j f m a m j j a s o n d Mês
produtores, manifestou-se: “já tinha beneficiado de uma formação em
empreendedorismo alguns anos antes, o que me ajudou a manter meu
pequeno negócio. Mas desta vez, vi outra oportunidade e decidi me lançar.
Este gráfico mostra o caráter sazonal dos volumes último que já não respeitava as regras de colaboração. Quando fui selecionado, o projeto me explicou bem em que consistia esse
vendidos: cada ano, nos meses de Julho e Agosto, as Em paralelo, o primeiro txova encontrou uma outra trabalho, e sobretudo o que eram as hortaliças agroecológicas, para eu
vendas caem por causa da saída dos expatriados para oportunidade de emprego melhor remunerada (graças aos
depois saber vendê-las aos consumidores. Depois, comecei a empurrar o
suas férias anuais. As vendas baixam também no fim e consumidores a quem entregava) e não pôde continuar
no início do ano, o que corresponde à época quente e a assegurar seu ritmo de venda. Sua companheira veio txova na rua e vender as hortaliças, frente aos escritórios da UNICEF, na rua
chuvosa em que a produção é mais fraca. Este gráfico integrar a cadeia, dedicando-se essencialmente ao serviço Mao Tse Tung e perto do parque de Somershield. No início, tinha dificuldade
ilustra também a integração do segundo txova em 2015 de entrega ao domicílio, mas abandonando o serviço de em explicar e comunicar com os clientes, mas os técnicos da ESSOR me
que permitiu duplicar os volumes vendidos. Pelo contrário, txova, fisicamente muito difícil para ela. acompanharam, e consegui ultrapassar minhas dificuldades. Espero ser
em meados de 2016, a cadeia teve de se separar deste
autónomo o mais rápido possível, aumentar as vendas e ganhar ainda mais
dinheiro.’
A atividade de txova vendedor de hortaliças agroecológicas permite
ao Alexandre ganhar em um dia um rendimento equivalente ao que ele
ganhava em vários dias no seu antigo trabalho.

© ESSOR © ESSOR
34 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 35
A integração de uma empresa de comercialização Investimentos iniciais Comorgânico
Designação Valor em euros
Os circuitos de comercialização acima apresentados relações com os produtores. O projeto então facilitou a
mostraram seus limites: tempo de deslocação aquisição de um capital de base (mini camioneta, Mini camioneta 3150
importante para a compra e a entrega dos produtos, caixas para o transporte e as entregas das hortaliças,
Estante para arrumação dos produtos 215
dificuldades nas deslocações na cidade com o txova local de armazenamento e preparação dos produtos) e
que não pode circular em todas as ruas (algumas são uma formação e acompanhamento em contabilidade 2 Balanças electrónicas 15
proíbidas à circulação dessas carroças), comercialização e gestão de empresa foram igualmente fornecidos. O Impressora 190
baseada apenas em dois micro atores cuja remuneração, plano de negócio foi aperfeiçoado, partindo dos resultados Computador portátil 230
apesar de ser superior às suas atividades anteriores, do estudo de mercado, e atualizando os dados em relação
Caixa de compra e venda de produtos 12
podia ser flutuante, desistência repentina ou não respeito aos custos reais. Para assegurar os diferentes serviços de
das regras de colaboração, e por fim, procura crescente compra e de revenda, um motorista-logístico foi recrutado. Mesa e cadeira 140
dos consumidores que os micro empreendedores não TOTAL 3952
conseguiam atender. Os consumidores foram informados da criação desta
empresa, ComOrganico, e diferentes ferramentas,
Simulação da rentabilidade da empresa
A falta de profissionalização do sistema de suportes de comunicação e publicidade foram criados:
comercialização fez-se sentir ainda mais forte quando os site web (www.produtosagrroecologicos.co.mz), página Simulação económica para alcançar o ponto de equilíbrio em euro em 1 ano (sem amortização)
micro empreendedores reduzíram/pararam sua atividade. Facebook, desdobráveis e panfletos, campanha marketing
Encargos anuais totais dos quais: 20.230
Um novo estudo do mercado foi então realizado em Junho com indoor publicitário. ComOrganico também integrou o
de 2016, com o objetivo de analisar as potencialidades, a Sistema de certificação detalhado no capítulo seguinte. Custo de compra de legumes 11.125
rentabilidade e condições de perenidade de uma empresa Salário do gestor, do motorista-logístico, do guarda, impostos e encargos sociais 5.615
de distribuição. A empresa iniciou a sua atividade de forma informal, mas Aluguer 2.015
rapidamente, colocou-se a questão da sua legalização:
Água e energia 130
Vários sistemas foram estudados: a entrega ao domicílio, o estatuto de empresa individual foi escolhido, mas um
a criação de um ponto de venda, o abastecimento de semi conselho administrativo composto por membros da cadeia Comunicação 120
grossistas e a combinação destes dois ou três sistemas. agroecológica, foi integrado ao modelo jurídico. Este Consumivéis de escritório e manutenção 190
As projeções financeiras, a análise das potencialidades conselho de administração é composto por ESSOR, alguns Transporte (combustivél, manutenção e reparação) 1.035
da instalação na cidade e os custos inerentes, assim consumidores e dois produtores (um para cada distrito). O
Venda de legumes 20.230
como o estudo dos volumes potencialmente absorvíveis seu mandato diz respeito ao apoio à gestão operacional e
mostraram que, num primeiro tempo, a criação de uma estratégica da empresa, ao acompanhamento financeiro
empresa responsável pela entrega ao domicílio e pelo dos resultados, mas garante também que as regras
O salário médio obtido pelo gestor aproxima-se de 360 de gestão, triplicou o número de bénéfíciários, com a
abastecimento a grosso num ponto de venda (em sejam equitativas e justas, ou seja: uma remuneração
euros por mês (ou seja 7 vezes o «SMIC local») com integração de um serviço mais profissional. Bem inferiores
ligação com a associação de consumidores) seria a mais dos produtores valorizada,
uma diminuição em período de baixa época (época aos volumes médios estimados para alcançar o limiar de
pertinente. Para isso, um meio de deslocação tipo mini uma proximidade
quente quando a produção é menor, e férias de verão rentabilidade, as vendas quadruplicaram em relação às
camioneta era necessário para facilitar a distribuição. entre produtores
dos expatriados). Enquanto o volume médio mensal des vendas realizadas nos meses precedentes pelo txova.
e consumidores, e
vendas para atingir o ponto de equilíbrio é de 1.966 kg,
O primeiro desafio foi a escolha de um gestor e é no uma qualidade local
observamos fortes variações intra-anuais. Tendo em conta No decorrer do ano 2017, a empresa mudou de local de
decorrer de discussões internas com a equipa que a e agroecológica dos
a amortização do material, o volume mensal médio de trabalho para reduzir suas despesas, o que permitiu baixar
solução foi encontrada: o técnico do projeto responsável produtos.
venda é de 2.133kg, ou seja 167 kg a mais. o limiar de rentabilidade para 1.500 kg de legumes a vender
pelas atividades de comercialização mostrou-se
por mês. Em 2017, a ComOrganico vendeu 19 toneladas
interessado em aceitar o desafio. Sua experiência no
A empresa foi criada em Setembro de 2016, com a de legumes, atingindo assim quase o equilibrio financeiro.
seio da cadeia junto dos produtores e em termos de
aproximação da época quente e chuvosa (périodo morto Alguns desafios devem ainda ser ultrapassados, depois da
acompanhamento dos circuitos de comercialização, era
para a horticultura). No entanto, em 6 meses, a empresa intalação de uma câmara fria (que facilita a logistica mas
uma prova da sua rápida integração, de seu conhecimento
triplicou o número de clientes (uma centena em Fevereiro representa também novas despesas), e para absorver toda
dos desafios, mas também da sua capacidade em se
de 2017), enquanto a associação de consumidores que a produção na época fresca.
posicionar como um operador equitativo e justo nas suas Logotipo da empresa
limitava seu número de famílias a 20 devido a dificuldades
© ESSOR © ESSOR
36 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO

O gráfico abaixo apresenta os volumes comercializados uma revisão em baixa dos custos atuais do local de Em 2016, quando foi falado de criar
de Setembro de 2016 a Fevereiro de 2017, e os volumes funcionamento assim como um ligeiro aumento dos preços uma empresa de comercialização
previsionais para alcançar o limiar de rentabilidade de venda. Estas duas últimas estratégias foram decididas
das hortaliças agroecológicas,
financeira da empresa para o ano 2017. com base nas primeiras análises financeiras feitas nos 5
primeiros meses de atividade da empresa.
senti-me motivado pela ideia,
Essas prévisões integram os encargos fixos mínimos, porque, quando era estudante na
faculdade de agronomia, tinha
como ideia fazer agronegócio.
Durante o projeto, percebi a
necessidade de melhorar a
comercialização dos produtos,
porque os micro-empreendedores
responsáveis pela comercialização
não conseguiam absorver toda a
produção agroecológica, o que
desmotivava os produtores. É por
isso que manifestei o meu interesse
em assumir o papel de gestor da
empresa. Hoje em dia, ESSOR
acompanha a minha empresa
ComOrganico, queEssorpermite
37
- filièreter uma agroécologique à maputo
maraichère
comercialização mais profissional
das hortaliças agroecológicas. Farei
todos os possíveis para que a minha
empresa tenha boas relações com
os produtores e os consumidores,
mas também para que seja rentável
A produção fora da época quente ultrapassa os volumes a difusão de receitas de cozinha deveria permitir-lhes e assegure um bom rendimento
absorvidos pela empresa, e os produtores escoam o descobrir os modos de preparação e os sabores desses para minha família.
resto da sua produção nos mercados convencionais, legumes. A valorização destes produtos pela ComOrganico,
sem valorização da qualidade agroecológica e ao preço assim como outras pistas de diversificação, permitirão
Paulo, gerente da ComOrganico,
do mercado convencional. Eles estão interessados em manter um ritmo de comercialização satisfatório.
vender seus produtos à ComOrganico que propõe preços antigo técnico do projeto
mais elevados, e a empresa tem um grande desafio: Esta jovem empresa oferece então perspetivas de
aumentar o número e o tipo de clientes para absorver toda comercialização interessantes e aparece como o elo-
a produção agroecológica. chave profissional para dinamizar e viabilizar a cadeia Transporte com van Entrega em domicílio
agroecológica. Mas esta cadeia necessita de garantir a
Para limitar o impacto negativo sobre a atividade na qualidade junto dos consumidores que estão dispostos a
época quente, a empresa deve trabalhar para valorizar pagar mais caro um produto e a privilegiá-lo desde que
as hortaliças cultivadas tradicionalmente nesta a qualidade agroecológica seja certificada. Da mesma
época: folhas de batata-doce, de abóbora, de feijão forma, os produtores devem valorizar suas produções
caupi (nhemba), etc. que os horticultires produzem sem agroecológicas que necessitam um bom domínio das
dificuldade nesse período. Se os consumidores da classe técnicas.
alta ainda não estão acostumados com estes legumes, Compra no produtor

© ESSOR © ESSOR
38 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 39
Garantir a qualidade agroecológica adaptadas e apropriadas e que correspondam bem às experiência entre os atores, basea-se na confiança e na
realidades locais. Ademais, seu modelo participativo transparência, do produtor aos consumidores, e facilita a
→ Os sIstemas de certificação existentes (sistema privado, sistema participativo) implica diferentes atores, e não depende apenas de um só criação e o reforço de redes de atores. É uma abordagem
avaliador privado, com os riscos que se pode infelizmente pedagógica que procura valorizar a agricultura sustentável
Existe hoje no mundo 2 principais sistemas de certificação: de confidencialidade, eficácia e competência. Estes imaginar no contexto local (preço elevado, corrupção à escala da exploração familiar, sendo uma ferramenta
• A certificação por um organismo privado (dito terceiro), organismos podem definir seus próprios mecanismos de para obter as normas, incompetência do avaliador, etc.). para construir um selo de qualidade trazendo uma
largamente mais difundida, certificação para responder às exigências das normas. É o Por fim, o sistema participativo valoriza mais a troca de mais-valia ao produtor e uma garantia ao consumidor.
• A certificação participativa, agrupada sobre a caso por exemplo da Ecocert que certifica a qualidade dos
→ Adaptação do modelo ao contexto Moçambicano
denominação SPG (Sistema Participativo de Garantia). produtos provenientes da Agricultura Biológica (AB) que
Estes dois sistemas de certificação coexistem e permitem é muito conhecida em França ou a Fairtrade responsável Com 25 anos de experiência, o modelo de certificação locais e de construir cada etapa do sistema, apresentado
garantir uma especialidade tradicional e um saber-fazer, pela certificação do comércío justo. participativa desenvolvido no Brasil é atualmente funcional, no esquema seguinte.
uma denominação e/ou origem geográfica, e por fim uma reconhecido pelo governo brasileiro ao mesmo título que As primeiras normas de produção agroecológica
qualidade biológica, ou agroecológica. A certificação participativa é um outro modelo nascido no a certificação privada, e largamente desenvolvido em todo moçambicanas surgiram assim e constituem os pilares da
Brasil, mas que existe também na Europa, baseado na o país. Tornou-se mais complexo ao longo do tempo para certificação.
A certificação por um organismo privado é um sistema obtenção de informações, a verificação do respeito das satisfazer as necessidades e exigências dos produtores e
estabelecido com base num controlo de produto realizado normas, e o aperfeiçoamento dos sistemas de produção, consumidores. Um trabalho foi também realizado para elaborar um selo
por um organismo independente do processo que integra os agricultores e suas organizações, os Através da rede internacional sobre agroecologia liderada de qualidade: uma ferramenta visual e comunicativa que
de produção. Este organismo deve se submeter às técnicos, os organismos de apoio ao setor, os consumidores pelo Brasil, entramos em contato com um dos fundadores acompanha a certificação, e que simboliza ao mesmo
exigências das normas oficiais reconhecidas pelo governo. e os atores privados como os comerciantes. A confiança do sistema Ecovida, Laercio Meirelles, responsável pelos tempo a produção agroecológica local, respeitadora
Deve ser independente, imparcial, respeitar os critérios é a base do sistema de certificação participativa. SPG no sul do Brasil. do meio ambiente e da saúde pública. Este selo,
elaborado de maneira participativa com todos os atores
→ Porquê escolher o sistema participativo? A missão deste périto nos finais de 2014 permitiu da cadeia, serve de suporte de comunicação e de garantia
desenhar os contornos de um modelo moçambicano junto dos consumidores.
Ainda não existe em Moçambique normas agrícola. de certificação participativa, de o adaptar às realidades
Missão L. Meirelles, discussão no campo com produtores e técnicos
estabelecidas e reconhecidas pelo governo para a • A atribuição da certificação depende do sistema de
produção agroecológica. O organismo moçambicano avaliação do organismo privado que na maioria dos casos
de estabelecimento das normas (INNOQ) mostrou-se contrata somente um avaliador. A certificação basea-se
interessado em elaborar estas novas normas, com o numa só pessoa e nas suas competências.
apoio técnico e financeiro do projeto, mas a certificação • A certificação por um terceiro envolve custos importantes
teria tido que ser depois assumida por um organismo ligados ao funcionamento do organismo privado, o que
privado, com os seguintes limites, identificados através prejudica os produtores mais pobres. Os produtores mais
de outras experiências internacionais: diversificados terão custos de certificação por cultura
• Os trâmites administrativos de certificação feitos pelos mais elevados enquanto a diversificação é procurada em
organismos terceiros são longos, custosos e incentivam agroecologia.
geralmente os produtores a privilegiarem monoculturas a
fim de certificar uma área maior de forma a reduzir assim Com o objetivo de valorizar uma produção agroecológica
o custo da certificação. Isto entra em contradição com a desenvolvida por agricultores vulneráveis, os sistemas
agroecologia, sendo um dos seus princípios a promoção de certificação geridos por organismos terceiros não
da diversidade dos tipos de culturas. pareceram os mais pertinentes e adaptados ao contexto
• Do ponto de vista técnico, os trâmites impostos pelas de Moçambique. Ao contrário, os sistemas de certificação
normas são menos flexíveis e têm tendência a favorecer participativa são modelos adaptáveis e se adequam
os sistemas de produção standardizados e homogêneos, bem com a filosofia da cadeia em Maputo: são baseados
pois a certificação faz-se cultura por cultura e não ao nível em normas estabelecidas pelo conjunto de atores
de uma exploração na sua globalidade. A certificação do envolvidos, entre os quais temos evidentemente os
produto torna-se então o objetivo final, em vez de ser uma produtores, mas também os outros atores das cadeias.
ferramenta complementar para valorizar uma exploração Este sistema garante que as normas sejam bem
© ESSOR © ESSOR
40 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTOto Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 41
O selo de qualidade da cadeia agroecológica e seu simbolismo Esquema do sistema de certificação da cadeia agroecológica

O símbolo da mulher agricultora foi cor amarela, verde, vermelha e preta, que Etapa prévia Normas agroecolÓgicas
escolhido porque 80% dos horticultores são as cores da bandeira moçambicana. Declaração de compromisso assinada pelos horticultores
da zona são mulheres. A característica Este desenho está rodeado pela
que mais impressiona quando se visitam menção “produto agroecológico – pelo
essas zonas verdes, são essas mulheres, meio ambiente – pela sua saúde”. A Associação A Associação B Associação C
Distrito 1 Distrito 1 Distrito 2
enxada na mão, trabalhando na sua denominação “produto agroecológico”
parcela. expressa a vontade de abrir o selo para
todos os produtos agroecológicos, quer
Por isso foi decidido destacar esta sejam agrícolas, hortícolas, ou agro-
imagem dentro do selo, com um fundo de alimentares.

Visita dos pares:


Assinaturas das declarações de Assinatura do relatório de terreno pelos Observações entre produtores vizinhos
compromisso membros do comité de verificação Intercâmbio de experiências e controles
internos informais

Etapa 2 : comité de verificação


Associação A Associação B
Distrito 1 Distrito 1

Visita de verificação :
Intercâmbio de experiências
Controlo do respeito das normas
Recomendações para melhorar as práticas
Redação do relatório de conformidade assinado
pelos participantes

Instituções
ONG públicas Outras

Etapa 3 : Comité de ética

Comité de ética:
Verificação e melhoria dos mecanismos de verificação
Verificação e aprovação dos relatórios dos comités de verificação
Emissão dos certificados de conformidade

Comerciantes
Instituções
públicas Consumidores
Certificados
ONG
Produtores certificados
© ESSOR © ESSOR
42 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 43
→ Resumo das normas de produção agroecológica → As análises dos produtos químicos: porquê, como, que resultados

Artigo 1: Fertilização dos solos e das culturas A fim de avaliar a quantidade de resíduos de pesticidas produções da horticultura convencional. As análises
A fertilização pode ser feita com uso de estrume de bovinos, caprinos, galinhas, porcos e composto. químicos nas hortaliças,análises de amostras de produtos foram todas realizadas na África do Sul, num laboratório
Recomenda-se utilizar biofertilizante líquido produzido com recursos naturais locais. provenientes dos campos e dos mercados locais foram especializado nessa área, por um custo médio de 110
Recomenda-se o uso de leguminosas nas rotações culturais para enriquecer o solo em nitrogénio. realizadas anualmente desde 2010. No início da criação da euros por amostra (transporte incluído). Os resultados são
cadeia, e na ausência de outros elementos de certificação, sempre divulgados junto dos consumidores mas também
Artigo 2: Rotações e associações de culturas foram estas análises que permitiram garantir a qualidade junto dos produtores da cadeia e dos comerciantes. O
Recomenda-se respeitar as rotações culturais seguindo as regras baseadas na rotação entre “sem insumos químicos” junto dos consumidores. quadro seguinte apresenta os resultados obtidos desde
as famílias botânicas, as necessidades nutricionais das plantas e a profundidade diferencial das Permitiram também comparar e ter dados sobre as 2010:
raizes.
A prática das associações entre hortaliças é aconselhada.
Amostras
Artigo 3: Cobertura do solo Dentro Resultados
Fora da
Recomenda-se a cobertura total ou parcial do solo através do mulching (empalhamento): cobertura da
cadeia
do solo com restos de culturas, palha seca, casca de amendoim, e qualquer matéria vegetal cadeia
biodegradável encontrada na exploração agrícola. 70% das amostras com resíduos> as normas UE
2010 14
30% <às normas UE
Artigo 4: Gestão da água
A irrigação deve ser feita de forma a evitar as perdas de água e evitar as contaminações superficiais 2011 16 25 %> às normas UE
ou do lençol freático em caso de uso de produtos químicos nas parcelas convencionais. 75% <às normas UE
Os recursos em água devem ser protegidos de qualquer fonte de contaminação externa: aconselha- 38%> às normas UE
se plantar vétiver, árvores, bananeiras, taro,para proteger os canais de rega e as fontes de água. 2012 8
62% < às normas UE
81% das amostras colhidas dentro da cadeia são sem resíduo químico
Artigo 5: Proibição do uso de insumos químicos 9% das amostras colhidas dentro da cadeia têm resíduos < às normas UE
2013 1 10
É estritamente proibido utilizar pesticidas e adubos químicos nas parcelas agroecológicas. A amostra fora da cadeia têm resíduos > às normas
Todos os materiais e equipamentos utilizados para as zonas não agroecológicas não podem ser
100% das amostras colhidas dentro da cadeia são sem resíduo químico
utilizados nas áreas agroecológicas. 2014 1 8
1 amostra fora da cadeia com resíduos < às normas
Artigo 6 : Meios autorizados para combater as pragas e doenças 100% das amostras colhidas na cadeia são sem resíduo químico
2015 2 9 1 amostra fora da cadeia tem resíduos > às normas e 1 tem resíduos < às normas
Recomenda-se utilizar os biopesticidas com base em extratos naturais de forma rotativa.
Deve se privilegiar a associação de culturas e o uso de plantas repelentes contra alguns insetos 77% das amostras colhidas dentro da cadeia são sem resíduo químico
e/ou plantas atrativas para os inimigos naturais das pragas. 2016 5 17 12% dentro da cadeia apresentam traços < às normas EU et 11% > às normas
O uso de rede mosquiteira, com base em material local, para proteger as culturas, deve ser 80% das amostras fora da cadeia têm resíduos > às normas
promovido.
As armadilhas luminosas ou físicas podem ser instaladas.

Artigo 7: Proteção das zonas de produção Antes de analisar este quadro, é importante ter em conta a tendência geral de presença de resíduos químicos
É importante isolar e diferenciar as zonas de produção convencional das zonas de produção que todas as análises não puderam ser realizadas no está a baixar, fora da cadeia, com excepção de 2016
agroecológica, deixando no mínimo duas parcelas “tampões”: essas parcelas de separação não mesmo período, a taxa de presença de resíduos químicos quando o nível de doenças afetando as plantas era muito
devem receber qualquer tratamento químico, mas a sua produção não pode ser vendida como tendo maior probabilidade de ser elevada quando a alto, o que levou os produtores a aumentarem o uso de
agroecológica. incidência das pragas e doenças é mais importante, produtos químicos, provocando contaminações externas
O uso de barreiras naturais para proteger contra as contaminações é aconselhado, com plantas tais geralmente na época quente. É interessante constatar que das amostras da cadeia.
como vétiver, árvores frutíferas ou de sombra, e qualquer planta que tenha uma altura suficiente.

© ESSOR © ESSOR
44 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 45
Dada a proximidade geográfica entre parcelas vetiver, arbustos, ou qualquer planta suficientemente alta Face a estas questões, ESSOR decidiu organizar • Folhetos de apresentação,
agroecológicas e convencionais, sempre existe um para evitar as contaminações pelo vento. uma campanha de comunicação para sensibilizar os • Cartazes afixados em espaços públicos,
risco de contaminação que os produtores devem ter consumidores sobre a existência de produções hortícolas • Faixas penduradas nas feiras e nos eventos,
em conta. É por isso que as normas agroecológicas Em dois anos consecutivos, as amostras da cadeia na periferia de Maputo, e o seu potencial agricóla, mas • Um site internet (http://produtosagroecológicos.co.mz/)
exigem a presença de parcelas «tampões» em volta ficaram isentas de produtos químicos, elemento bastante também sobre o saber-fazer desenvolvido por parte que apresenta a cadeia, sua história, os atores envolvidos,
das parcelas agroecológicas, onde as pulverizações encorajador. No entanto, em 2016, 11% das amostras dos produtores locais para produzir hortaliças sem os modos de produção, o sistema de certificação e um
não são autorizadas. Estas zonas tampões devem apresentaram resíduos superiores às normas da União insumo químico, de um modo chamado «orgânico» para serviço de encomendas em linha via ComOrganico,
absorver as eventuais contaminações dos produtores Europeia. Este resultado, analisado pelo comité de ética, facilitar a compreensão. Esta campanha de comunicação, • Dois outdoors publicitários no centro da cidade,
vizinhos convencionais e, sendo assim, não podem ser levou à decisão de excluir os dois agricultores indiciados. baseada na mensagem chave seguinte: «descobrir • Um filme sobre a cadeia: baseado no testemunho de
comercializadas dentro da cadeia. Além dessa proteção, Estas análises químicas constituem assim elementos o sabor orgânico das hortaliças das zonas verdes de agricultores, o filme trata da produção, da comercialização
os produtores foram encorajados para instalarem complementares necessários para confirmar ou não o Maputo», apoiava-se num conjunto de suportes onde e da certificação da cadeia.
barreiras de proteção, constituídas de bananeiras, taro, respeito do caderno de encargos. aparece o selo da cadeia:

Valorizar o consumir local e o trabalho multi-atores Fotos dos suportes da campanha de comunicação

Muito poucos cidadãos têm conhecimento da existência Este último ponto suscitou debate, nomeadamente
e importância das zonas de produção da cintura verde de da parte dos produtores não pertencendo à cadeia
Maputo, e ainda menos das problemáticas de utilização agroecológica; suas preocupações prendiam-se com o
excessiva dos produtos químicos, e suas consequências conteúdo da mensagem difundida junto dos consumidores:
sobre o ambiente e a saúde humana. ao informar os consumidores que existe um uso
importante e por vezes abusivo dos produtos químicos na
A realização de várias mesas redondas com os principais agricultura convencional, estes últimos podiam abandonar
atores envolvidos nos setores agricóla, ambiental e da a produção local e privilegiar os produtos importados
saúde permitiu reunir os Ministérios da Agricultura, considerados de melhor qualidade, embora estes
do Ambiente, e da Saúde, a FAO e as uniões de podem também conter muitos produtos químicos, uma
produtores em torno da problématica da utilização dos vez que as normas moçambicanas e os controlos são
produtos químicos. Dessas discussões surgiram as ineficientes ou inexistentes. Deste modo os produtores
seguintes decisões: tiveram medo que uma campanha de sensibilização
viesse prejudicar a sua atividade. Do mesmo modo,
• A sensibilização necessária dos produtores sobre o os representantes do Ministério da Agricultura alertaram
uso adequado dos produtos químicos: ESSOR produziu sobre questões políticas: o governo tendo sido sempre a
e difundiu um manual na forma de desenhos para favor da Revolução Verde, uma campanha defendendo
explicar as regras do uso de produtos químicos e um discurso contrário podia ser mal recebida.
seus riscos.
• A eliminação dos produtos químicos fora de prazo ou
proíbidos ainda conservados no país: a FAO realizou
uma campanha nacional de recuperação e destruição
desses agrotóxicos.
• A proibição de produtos químicos julgados bastante
perigosos para a saúde e o ambiente: o governo, sob
pressão da FAO, retirou em 2015, 70 pesticidas químicos
da sua lista de produtos autorizados à venda no País.
• A sensibilização dos consumidores para os produtos
nacionais, locais e de qualidade.

© ESSOR © ESSOR
46 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 47

CapÍtulo 4 : dificuldades e desafios da cadeia agroecológica a metodologia de experimentação participativa com os


produtores.
ator que possa apoiar a produção e a certificação
agroecológica: a ONG moçambicana ABIODES,
É com base num espírito de criação de uma cadeia e em superfície em relação ao tamanho da zona de Sem garantia de poder contar com as instituições actuando jà na área da agricultura sutentável. Esta, com
curta e de proximidade que valoriza a produção local, produção, e mesmo que todos os produtores envolvidos públicas, o desafio do aconselhamento técnico ao nível o apoio financeiro da ESSOR, continua a sensibilizar,
familiar, sustentável e de qualidade que ESSOR não tenham convertido a totalidade da sua exploração da exploração agroecológica continua problemático. formar e experimentar práticas com os produtores, por um
pretendeu contribuir para o desafio de abastecer a em agroecologia. As dificuldades não faltaram ao longo A solução adoptada no quadro da estratégia de saída lado para reforçar o nível técnico dos agricultores actuais,
cidade de Maputo em hortaliças locais de qualidade. dos anos de construção da cadeia e desafios ainda do projeto consistiu em identificar e integrar um novo e por outro, para integrar novos produtores.
A produção agroecológica tornou-se uma realidade persistiam no final do projeto.
na capital, mesmo que ela continue fraca em volume O acesso às sementes
O mercado dos insumos é ditado pela demanda e por implementar completamente. A produção de sementes
As dificuldades da transição agroecológica consequência, diz essencialmente respeito às culturas locais desenvolve-se esporadicamente hoje em dia,
de legumes folhas, tais como couves e alface. A oferta sempre que as condições e o tipo de sementes o permitam.
A transição de uma produção convencional para um modo mensal garantido pela compra pelos intermédiarios em sementes do tipo cebola, ervas aromáticas, beterraba, Um esforço deve ser feito também sobre as sementes
de exploração agroecológica é um processo mais longo na sua parcela, alguns produtores decidem guardar espinafre, acelga, cenoura existe, mas é flutuante ao tradicionais locais; o Instítuto de Investigação
do que a duração de um projeto, porque não apenas os ainda algumas parcelas em convencional, onde aplicam longo do ano, e os preços são elevados. As culturas Agrícola Moçambicano (IIAM) possui uma pequena
produtores necessitam dominar perfeitamente as técnicas, normalmente práticas agroecológicas, mas onde podem mais inovadoras e atrativas na cadeia agroecológica, estação experimental que necessitaria ser valorizada e
mas também sua fragilidade financeira (capacidade de utilizar insumos químicos caso a incidência de doenças como a couve-flor, brócolos, alho francês e ervilha sofrem alimentada. Esforços estão também a ser feitos nesse
investimento e tesouraria limitada) constitui um factor e pragas seja dificilmente controlável pelas técnicas particularmente de uma oferta reduzida, e de preços sentido por ONGs tais como a Slow Food et Africarte,
limitante não negligenciavél: face a uma produção agroecológicas. muito elevados. Sem contar que o mercado propõe à apesar de ser numa escala ainda muito reduzida.
convencional, que lhes permite obter um rendimento venda sementes muitas vezes híbridas a preços elevados Por fim, a empresa ComOrganico experimenta desde
e cuja reprodução e multiplicação são limitadas. o início de 2017, contratos com os produtores: estes
Dominar as técnicas ao nível da exploração agrícola Existe sem dúvida uma verdadeira estratégia a adotar últimos comprometem-se a produzir um certo volume
O mercado da cadeia requer um esforço particular em da produção. A equipa do projeto sendo limitada, sua pelo governo moçambicano para promover sementes com uma garantia de compra por parte da empresa, a um
termos de diversificação dos produtos e da planificação intervenção foi restrita. Este trabalho poderia ter sido diversificadas e facilitar o seu acesso. De igual modo, preço previamente fixado. O fornecimento de sementes
da produção para responder à sazonalidade da procura. realizado também pelos técnicos das instituições os produtores devem ser acompanhados e formados pela empresa, reembolsado pela venda de hortaliças, é
Com efeito, os consumidores actuais, maioritariamente públicas, mas, apesar do reforço das suas competências, para a produção de sementes locais, e as sementes também previsto no contrato, graças ao apoio da ONG
estrangeiros, procuram hortaliças mais adequadas com sua mobilização e motivação em difundir as inovações tradicionais devem ser valorizadas. O projeto inscreveu ACDI VOCA (ComOrganico ainda não tendo tesouraria
os seus hábitos alimentares ou que possam substituir agroecológicas foi bastante variável, e fica claro que o esta atividade na sua intervenção, mas não a pôde suficiente).
os produtos importados: a procura em alface e couves, seu apoio aos produtores da cadeia agroecológica ficará
produtos mais produzidos em convencional, é bem menor limitado. Além disso, mesmo que esforços sejam feitos Uma zona com problemáticas recorrentes de acesso à água
em comparação com a procura em feijão verde, tomate, pelo governo, o número de técnicos mantem-se inferior No distrito de Kamubukwana, a água de irrigação é estresse hídrico e a evapotranspiração das plantas. Neste
batata rena e cenoura. às necessidades da zona que eles cobrem, tendo em fornecida pelo rio Mulauze e uma rede de canais mesmo período, as chuvas podem ser tão intensas que
conta que por vezes um técnico deve acompanhar até mais secundários e terciários que circunscrevem a zona. No podem provocar graves problemas de lixiviação e de
Ao contrário do mercado convencional que absorve de 1000 agricultores. Por outro lado, alguns agricultores distrito de Kamavota, são poços cavados manualmente erosão.
toda a produção no fim de ciclo, o mercado da cadeia envolvidos na cadeia agroecológica têm às vezes um onde o lençol freático é acessível que abastecem a zona, As práticas agroecológicas promovidas pelo projeto, como
agroecológica exige da parte dos produtores saber melhor nível técnico que os extensionistas, o que pode estes poços alimentando os diferentes canais em água. a cobertura morta ou o uso do vetiver, contribuiram
escalonar sua produção para colher duas vezes provocar uma certa resistência da parte do técnico à ideia Este sistema de distribuição de água, vestígio da para uma melhor gestão da água (ver quadro 4):
por semana produtos diversificados. Este exercício de acompanhar um agricultor mais competente, e também colonização portuguesa, permite na época fresca estas experiências conduzidas em várias associações
é certamente o mais difícil para os produtores que da parte do camponês perante um técnico que terá pouco um bom abastecimento em água nos dois distritos. mostraram-se bastante positivas.
precisam de um acompanhamento técnico e de um bom para lhe ensinar. Os produtores captam a água nestes canais, poços
conhecimento do mercado. A ComOrganico representa ou diretamente no Rio, para regar manualmente seus Outras experiências foram realizadas para melhorar a
uma corrreia de transmissão interessante para os Num contexto em que a formação académica dos campos. Mas na época quente, a disponibilidade em disponibilidade em água, nas parcelas agroecológicas
orientar na elaboração do seu calendário de produção, técnicos e a política governamental estão a favor de água é reduzida, enquanto as chuvas não conseguem como as convencionais, tais como as bombas manuais de
sendo em ligação estreita com a demanda, mas a uma Revolução verde “convencional”, percebe-se recarregar o lençol freático suficientemente. A irrigação captação e distribuição de água, promovidas pela ONG
presença de um conselheiro agricóla ao lado do que a agroecologia pode «desarmar» alguns técnicos, torna-se problemática entre Outubro e Fevereiro enquanto IDE. Estas bombas pedestais permitem enviar a água
produtor revela-se necessária para uma boa planificação que além disso, se sentem às vezes inconfortáveis com as temperaturas cada vez mais elevadas aumentam o com pressão até uma distância de 100 m e distribuí-la por
© ESSOR © ESSOR
48 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 49
aspersão ou gravidade. Pequenos poços de 6 a 8 metros informais, solo argiloso com lama, tornando difícil a Um mercado de nicho foi desenvolvido, mas a oferta e de propor aos consumidores de qualquer classe sócio-
de profundidade foram também testados, com um sistema passagem das máquinas). mantém-se superior à procura, e um trabalho de económica preços acessíveis. Estas iniciativas surgem
de corda e roldana para trazer água para a superfície. Uma outra solução consiste na construção de sistemas promoção e sensibilização deve ser prosseguido e principalmente através de feiras agrícolas organizadas pela
No entanto, estes diferentes equipamentos não de irrigação em grande escala, compostos por um furo intensificado para atrair novos consumidores. Os custos DASACM nos distritos periurbanos e através de contatos
convenceram os agricultores: por um lado, para as de 40 a 60 metros de profundidade e por uma torre de de uma campanha de promoção foram estimados em 500 diretos que eles estabelecem com os consumidores desses
mulheres, requerem um esforço físico que não lhes elevação com um a dois reservatórios de 10 000 litros. A a 1500€ por ano em função dos meios de comunicação distritos. Os produtores não devem depender somente da
convém; por outro lado, as bombas e os poços precisam água é captada e armazenada nestes reservatórios por utilizados (desde o folheto simples até o outdoor ComOrganico.
de manutenção e reparação regulares não adaptadas a uma electrobomba para depois alimentar uma rede de publicitário exibido na cidade), mas esses meios não • O aumento das superfícies/áreas cultivadas e dos
um uso coletivo. Mesmo para um uso individual, o rácio distribuição que pode cobrir até 3 hectares. 7 sistemas são suficientes. Estes custos deveriam ser assumidos volumes de produção assim como o domínio crescente
custo de aquisição / eficiência do sistema não satisfez deste tipo foram instalados, dos quais 6 financiados pela em parte pela ComOrganico, e porque não também pelos das técnicas agroecológicas, deveriam permitir reduzir
os produtores que por fim não desejaram adquirir os Direção da Agricultura. Se o financiamento pode ser um produtores, mas a jovem empresa não tem neste momento progressivamente os preços de venda. Os intermediários
equipamentos, mesmo subsidiados. constrangimento maior (mais ou menos 10 000 euros meios suficientes para lançar uma campanha de marketing «clássicos» poderiam então estar interessados (os
por sistema), a sua gestão pode também ser bastante de grande envergadura (TV, rádios, outdoors publicitários). volumes atualmente reduzidos da cadeia não permitem
As estratégias permitindo melhorar de forma sustentável a complicada. Com efeito, estes sistemas são construídos A colaboração com as instituições públicas, que têm uma negociação com estes mercados).
disponibilidade em água baseiam-se por parte na limpeza e postos à disposição ao nível das associações de espaços de comunicação gratuitos tais como os outdoors • A «contratualização» com os consumidores a fim de
e na manutenção regular dos canais de irrigação (a produtores que devem por sua vez se responsabilizar publicitários, é uma alternativa para pensar; outra opção melhor planificar a produção e antecipar a produção.
invasão dos canais pelas ervas e pelo lixo diminui o fluxo pela sua manutenção, suas reparações e o pagamento seria solicitar o patrocínio de atores terceiros: um orçamento De momento, não existe nenhum compromisso da parte
e perturba a distribuição das águas). Se a manutenção das faturas de electricidade (ou de combustível em caso de comunicação foi nomeadamente previsto dentro do dos consumidores no que diz respeito ao prazo, nem às
dos canais secundários e terciários é da responsabilidade de motobomba). Num contexto onde as associações apoio financeiro da ESSOR à ABIODES. quantidades: os clientes encomendam as quantidades de
das associações, organizada e animada também pela ultrapassam às vezes mais de 1000 membros, a hortaliças que querem, quando querem.
União dos produtores, o canal principal no distrito de gestão coletiva deste tipo de instalação necessita uma O facto de muitos consumidores actuais serem estrangeiros • Procurar novos mercados «a grosso», diferentes do
Kamubukwana é da responsabilidade do governo. A estruturação e uma boa organização dos membros. fragiliza a cadeia agroecológica no momento em que dos particulares que originam custos importantes para
mobilização e pressão das Uniões de produtores Um trabalho de reforço organizacional é então necessário a produção agrícola é importante (época fresca): com a empresa (entrega ao domicílio). A ComOrganico deve
implicadas, apoiadas pelo projeto, permitiram que em antes de considerar tal investimento. Na cintura verde efeito, durante as férias de verão no hemisfério Norte, estes contatar escolas e restaurantes, e multiplicar os sistemas
2015, o canal fosse limpo mecanicamente. Este foi um de Maputo, poucas associações têm este nivél de consumidores europeus regressam aos seus países de tipo AMAPUTO com espécies de pontos de entrega em
longo trabalho, cansativo, porque o acesso às bordas do estruturação, é por isso que os investimentos foram origem e a procura torna-se reduzida.É portanto necessário empresas por exemplo. Os supermercados representam
canal é complicado (presença de campos, construções limitados a 7 delas. diversificar os consumidores, nomeadamente a classe uma oportunidade , mas o fator preço é limitante, enquanto
alta / média moçambicana, para não depender somente de os critérios volume e abastecimento regular são os mais
consumidores expatriados. importantes.
A comercialização: elo sensível da cadeia agroecológica • Melhorar a logistíca com a aquisição de uma pequena
A questão do preço também é crucial: para conquistar câmara frigorífica permitindo conservar melhor os produtos,
Num objetivo de criação de circuitos curtos, a primeira de manter relaçôes equitativas, transparentes e novos públicos e aumentar os volumes de venda, um graças ao apoio da ONG ACDI VOCA.
estratégia baseou-se na participação dos produtores honestas entre os produtores, os operadores económicos equilíbrio deve ser encontrado entre a optimização dos
para assegurar a comercialização, mas esta estratégia e os consumidores. Este txova foi excluído da cadeia porque custos de produção e de distribuição, e a valorização da
e os diferentes dispositivos de comercialização testados abusou da confiança dos produtores e dos consumidores, qualidade agroecológica e local. Com efeito, parece possível
não deram quaisquer frutos (ver capítulo 3). Não houve o que prejudicou toda a cadeia, manchando a sua rever para baixo os preços de venda dos produtores,
outra alternativa a não ser posicionar operadores reputação e seu profissionalismo. Se hoje a confiança foi mantendo uma remueração justa, uma vez que estes
económicos intermediários: os txovas e depois a recuperada com o gerente da Empresa ComOrganico, últimos vendem uma parte da sua produção agroecológica
empresa ComOrganico. Foi necessário algum tempo existem regras e limites a definir para evitar que este no mercado convencional (ao preço do convencional).
antes de encontrar o «modelo adequado» e sobretudo a tipo de situação se repita: a ESSOR integrou o conselho Por fim, outras pistas devem ainda ser aprofundadas:
pessoa ideal: com efeito, a ComOrganico foi criada apenas de administração da empresa, bem como dois produtores • O encorajamento, a formação e o acompanhamento
4 meses antes do fim oficial do projeto, o que limitou o de cada distrito e um consumidor. A empresa é também dos produtores tendo começado com iniciativas
acompanhamento de proximidade por parte da ESSOR. A submetida ao processo de certificação participativa e individuais de comercialização. Embora eles sejam
empresa continua frágil, mas ela conseguiu enfrentar as ao respeito da comercialização exclusiva de produtos pouco significativos, existem produtores com capacidade
dificuldades em 2017. agroecológicos. de comercializar suas hortaliças, de valorizar sua qualidade,
Vimos com a experiência do segundo txova a importância

© ESSOR © ESSOR
50 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 51
Perenizar o sistema de certificação O sistema de certificação participativa não prevê nem São sobretudo as despesas de comunicação, os
remuneração, nem indeminização dos membros consumíveis, a produção dos suportes do selo de
A certificação participativa é um modelo adaptado e reconhecido legalmente, os riscos de utilização de forma participantes porque é do interesse dos produtores, qualidade e as análises químicas que ficam por cobrir,
construído por todos os atores envolvidos na cadeia enganosa por atores não certificados e não membros da consumidores e comerciantes. As deslocações para as o que necessitaria para ser viável ter uma contribuição
agroecológica. No entanto, este meio de controlo não é cadeia, são menores. visitas de verificação nos campos não têm custo real: dos diferentes atores beneficários da certificação.
totalmente infálivel, é possivél que certos produtores não Se todos os atores estiverem fortemente comprometidos com efeito, os produtores, que pertencem ao mesmo
respeitem as normas e utilizem produtos químicos. Isso na criação e na configuração deste sistema, ESSOR distrito que o produtor a verificar, podem se deslocar a No Brasil, foram necessários 25 anos de presença das
já aconteceu, e os resultados das análises de resíduos desempenhou um papel preponderante, na animação pé, sem custo de transporte, enquanto os consumidores, ONGs locais para promover, apoiar e animar os sistemas
químicos em algumas amostras permitiram confirmar as e na facilitação das diferentes etapas: as reuniões do os comerciantes e os organismos de apoio participando de certificação participativa. Se a curto prazo essas ONG
suspeitas que existiam para alguns produtores. O comité de comité de ética como as visitas de verificação foram nessas visitas vêm com seus próprios meios de transporte. autonomizaram os sistemas, houve um longo trabalho
ética deve então ser particularmente vigilante e os membros organizadas e realizadas com o apoio da ESSOR, e os Será necessário manter este tipo de participação, ativa para desenvolver estes sistemas ao nível nacional,
dos comités de verificação devem fazer seu trabalho com custos ligados à peritagem brasileira, à produção do e voluntária, para que os atores possam manter estas organizá-los em rede e obter o seu reconhecimento
rigor, porque é toda a credibilidade de toda a cadeia selo de qualidade e do material de comunicação sobre a visitas de verificação com baixo custo. Para os comités pelo governo (a certificação participativa no Brasil é
que está em causa. Não se deve hesitar em suspender certificação foram assumidos pelo projeto. de ética, constituído pela ESSOR e outras organizações reconhecida por lei da mesma forma que a certificação
ou excluir certos produtores e enviar uma mensagem clara O processo é longo: o intervalo de tempo entre a de desenvolvimento (GVC, Slow Food) e instituições por um terceiro). Assim, a ESSOR abriu uma porta a um
aos produtores tentados para fazer jogo duplo. As visitas configuração deste sistema, sua experimentação, os públicas, parece possível contar com estes atores para novo sistema de certificação, mas o envolvimento dos
regulares dos pares permitem por outrolado exercer uma ajustes, sua apropriação, e o fim do projeto, foi curto pôr à disposição uma sala de reuniões, 3 vezes por ano, atores locais a longo prazo é necessário.
certa pressão social e servem de salvaguardas. demais para trabalhar mais profundamente sobre de forma rotativa.
as condições de sustentabilidade. A animação
A certificação é também um sistema que permite limitar deste sistema foi transferida para a ABIODES mas a
os concorrentes sem escrúpulos que gostariam de organização não poderá indefinidamente ficar com esta
comercializar os produtos ditos orgânicos ou agroecológicos. responsabilidade e assumir os custos associados. Será
Para os consumidores, o selo de qualidade evita preciso mobilizar os diferentes atores em torno da reflexão
confusões: só os produtos apresentando o selo da cadeia sobre a sustentabilidade e definir as condições para chegar
satisfazem bem as normas agroecológicas, a filosofia do até là, respondendo às seguintes perguntas: como repartir
mercado justo e de proximidade a favor dos agricultores os custos da certificação? Por quem e como a animação da
familiares. O selo sendo protegido juridicamente, pois certificação deve ser feita?
Os custos estimados do sistema de certificação para um ano e 100 produtores são os seguintes:

Despesas Quantitade Custo unitário Total


(euros) (euros)
5 pessoas x 1 visita por
Deslocação para visita de verificação 8 480
mês x 12 mês = 60

Local para reunião do comité de ética 3 50 150

Material (papel, caneta) 12 5 60

Despesas de comunicação (internet e telefone) 12 5 60

Produção dos suportes do selo 12 30 360

Análises dos resíduos químicos 10 100 1000

total 2110
© ESSOR © ESSOR
52 Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO Essor - CADEIA DE HORTALIÇAS AGROECOLÓGICAS EM MAPUTO 53

Conclusão
São 6 anos de intervenção no terreno junto dos produtores de desenvolver e experimentar novos modelos, ao abrigo
para experimentar, adaptar e desenvolver novas técnicas de uma ONG, antes de poder tirar as lições e de as levar
que permitiram inscrever a produção agroecológica para as instâncias políticas superiores onde poderão ser
como uma realidade nas zonas hortícolas de Maputo. integradas nos programas nacionais do governo.
Esta produção é hoje comercializada num mercado de
nicho que oferece boas perspetivas, e certificada através Os primeiros resultados obtidos em 3 anos são
de um sistema participativo inovador que valoriza os muito encorajadores, mas a cadeia é ainda frágil.
produtores e garante a qualidade junto dos consumidores. Lembremo-nos que no Brasil as cadeias agroecológicas
foram apoiadas durante 25 anos para hoje poderem ser Autores:
Por trás da cadeia agroecológica, são mulheres e homens autónomas. É por isso que a ESSOR continua, através da
que procuraram tornar a agricultura mais sustentável, mais ABIODES*, a apoiar a cadeia agroecológica em Maputo, Emmanuelle Patetsos, Marie-Pierre Albouy, Simon Baliteau
respeitosa do ambiente e da saúde humana. É também com objetivos de consolidação, profissionalismo e
uma escolha de vida que leva os agricultores a entrarem sustentabilidade. Os produtores agroecológicos ainda Contribuição:
numa transição agroecológica e os consumidores precisam de acompanhamento para testar, dominar
a privilegiarem este tipo de hortaliças saudáveis. A as técnicas e aumentar seus volumes de produção. Jean-Philippe Delgrange
experiência de Maputo, ainda pequena, é um exemplo do Em paralelo, eles precisam também ter a garantia de
que se desenvolve à escala internacional, e é importante poder escoar sua produção a um preço remunerador. É Revisão:
que um país como Moçambique seja pioneiro nesta aqui que se torna relevante a jovem empresa social, a
mudança e encontre na agroecologia uma alternativa ComOrganico, elemento chave da cadeia, que bem soube Ariane Delgrange, Marie Devroux, Julie Pignat
sustentável e económicamente viável. se integrar, mas que ainda deve atingir seu ponto de
equilíbrio financeiro. Por fim, a certificação participativa, Zona geográfica:
Uma das chaves da construção da cadeia foi a abordagem modelo exemplar e único em Moçambique, deve ganhar
participativa baseada no engajamento de todos os autonomia. Fortemente liderada pela ESSOR desde Maputo, Moçambique
atores. A abordagem participativa exprimiu-se através o início, sua animação deve ser assumida pelos atores
das experiências realizadas pelos produtores nas suas locais, mas isso é um processo gradual e mais longo que Desenho gráfico:
parcelas, mas também através de todas as reflexões a duração de um projeto.
conduzidas com os diferentes atores (instituições Mélanie Dubreucq
públicas, ONGs, consumidores, operadores económicos, A ESSOR tenciona valorizar esta primeira experiência e
etc) sobre os dispositivos de comercialização, a promoção inscrevê-la numa mudança de escala em Moçambique, Créditos das fotos:
da agroecologia, a certificação. Construir esta cadeia com o início entre outras de novas ações em Nampula. A
agroecológica mobilizando todos os atores diretos e troca de expêriencias e saber-fazer** entre os atores de ESSOR e seus parceiros
indiretos é sem dúvida o caminho mais pertinente, Maputo e Nampula será facilitada através de diferentes
mas também o menos fácil. Os interesses de cada ator ferramentas: visitas de intercâmbios, mesas redondas,
nem sempre são convergentes, a maneira de trabalhar é seminários, redes sociais, etc…
diferente, o que provoca por vezes um abrandamento, até Por fim, um número maior de atores será mobilizado
mesmo dificuldades operacionais. A vontade da ESSOR em torno de uma agricultura periurbana sustentável,
de implicar os atores públicos é bastante inovadora primeiro nestas duas grandes cidades, depois a longo
em relação aos esquemas clássicos da intervenção das prazo em outras cidades do país. A formalização
ONGs. Ainda assim, apesar de todas as dificuldades de uma rede, atualmente ainda informal em Maputo,
que o projeto enfrentou, as instituições públicas não permitirá influenciar o governo para que este integre
devem ser descartadas da montagem deste tipo de nas suas políticas nacionais uma verdadeira estratégia de O conteúdo (textos, gráficos, ilustrações, metodologia …) deste livro, e em particular o método que é apresentado,
cadeias. Para elas, representa uma oportunidade única desenvolvimento agrícola sustentável. é o resultado de anos de trabalho e experiência da ESSOR. Qualquer empréstimo ou recuperação, total ou
parcial, deste trabalho requer que seja feito expressamente crédito à ESSOR, na sua qualidade de autor.

© ESSOR * A seleção desta ONG moçambicana foi feita de forma participativa, associando os parceiros institucionais © ESSOR
** Uma primeira visita de intercâmbio foi organizada em Maputo em Outubro de 2017.
Parceiros financeiros

Parceiros operacionais

Para mais informação, contacte o sítio " Pratiques " de Inter Aide/ESSOR : www.interaide.org/pratiques

O conteúdo desta publicação é da responsabilidade exclusiva da ONG ESSOR.

www.essor-ong.org

Você também pode gostar