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CONDIÇÕES GEOFÍSICAS PARA CAFEICULTURA

Maurício R. Fernandes, Eng. Agro. Msc


Ana Cláudia M P Albanez, Eng Agro. Msc
Vinicius L. Rabello, Estag.

1 – CONTEXTUALIZAÇÃO

Este documento tem a finalidade de apresentar as características geomorfológicas e pedológicas


desejáveis para o sucesso da atividade de cafeicultura no Estado de Minas Gerais assumindo-se que as
condições climáticas e a altitude são adequadas para o estabelecimento desta cultura.
O café, por se tratar de uma cultura permanente e arbórea/arbustiva com expressiva profundidade das
raízes pivotantes, permite a aplicação de técnicas relativamente simples para manejo e conservação de
solos e água.
Para o desenvolvimento eficaz desta atividade, as condicionantes físicas do solo sobressaem uma vez que,
aquelas de natureza química e biológicas, são passíveis de intervenções tecnológicas disponíveis.
Considerando-se a notória heterogeneidade de ecossistemas existentes em Minas Gerais, quatro regiões
sobressaem pela sua expressividade na produção cafeeira: Sul, Mata/ Rio Doce, Chapadas e Cerrado.

2 – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DESEJÁVEIS DOS SOLOS

As principais características que refletem a qualidade dos solos são as suas propriedades físicas. Dentre
estas, destacam-se:

Profundidade do Horizonte B

Também denominada de profundidade efetiva, representa o espaço radicular quando os objetivos são
atividades agrosilvipastoris. Constitui condição fundamental especialmente para a cafeicultura e outras
culturas com raízes pivotantes.

Os solos que apresentam maiores profundidades efetivas (espaços radiculares) são os Latossolos e
Argissolos.
Foto 1: Horizonte B exposto em corte de estrada na região do Rio Doce. Fotografia: Felipe Oliveira.

O espaço radicular dos solos pode ser limitado, em condições naturais, pela ocorrência de rochas,
camadas adensadas, saturação hídrica e, quimicamente, por teores elevados de Alumínio e Sódio. Este
espaço pode ser induzido, sobretudo em solos argilosos, por compactação provocada por trânsito de
máquinas, veículos e pisoteio de animais.

Além do espaço para desenvolvimento radicular, o Horizonte B constitui o principal reservatório de água
dos solos.

Porosidade

Figura 1: Esquema de permeabilidade x porosidade


Refere-se aos espaços no perfil dos solos que podem estar saturados de água ou ar.
Se a macroporosidade é alta significa que o solo é muito permeável, formado por partículas de areia
maiores e, portanto, a retenção de água é pequena. Se a macroporosidade é baixa tem-se um solo
formado por partículas principalmente de argila com maior retenção de água. A argila além de permitir
uma maior retenção de água, possui cargas positivas que absorvem partículas negativas do solo o que
permite trocas com as raízes das plantas consequentemente, influenciando positivamente na qualidade
dos solos – retenção/percolação hídrica, abastecimento de aquíferos, aeração e movimento/absorção de
nutriente. Entretanto o conhecimento da porosidade total não é suficiente para se obter inferências nas
integrações solo-água-planta. Faz-se necessária a discriminação em macro e microporos cujas funções
nos solos são específicas. O equilíbrio macro/microporosidade reflete, em primeira instância, a
capacidade de retenção hídrica, atividades microbiológicas e desenvolvimento do sistema radicular capilar.
Salienta-se, entretanto, que os sistemas de manejo dos solos podem afetar o equilíbrio das relações
macro/microporos.

A textura e estrutura refletem na macro e micro/macroporosidade dos solos. Solos arenosos tendem ao
predomínio da macroporosidade levando à elevadas permeabilidades e baixas capacidades de retenção
hídrica e adsorção de íons. Já os solos argilosos tendem ao predomínio da microporosidade levando a
baixas permeabilidades e elevada capacidade de retenção hídrica. Entretanto, tanto a predominância do
macro ou microporosidade são prejudiciais ao desenvolvimento das culturas tanto no desenvolvimento
radicular quanto na dinâmica de absorção de nutrientes (difusão, fluxo em massa e contato direto)

A absorção de nutrientes pelos vegetais segue dinâmicas diferenciadas.


Os processos de aporte dos nutrientes até os sistemas radiculares das plantas são:
 Fluxo de massa
 Difusão
 Contato direto
Os processos fluxos de massa e difusão estão relacionados, respectivamente, com a macro e
microporosidade dos solos. Sendo as relações macro/micronutrientes alteráveis com os sistemas de
manejo dos solos, nutrição vegetal depende de práticas de manejo de solos que mantenha relações
macro/microporosidade desejáveis.
Quanto à dinâmica das relações solo- água – atmosfera, a água, entende-se como a solução dos solos,
disponível para o metabolismo vegetal é retida nos microporos (poros capilares) onde se processa o
fenômeno da capilaridade. Já nos macroporos se processa processos de drenagem hídrica oriundas da
precipitação pluviométrica e irrigação artificial. Após a drenagem hídrica os macroporos apresentam a
aeração necessária par respiração do sistema radicular e atividades microbiológicas aeróbicas.
Uma das finalidades das práticas de manejo dos solos é a busca do equilíbrio macro/microporosidade dos
solos.
3 – UNIDADES DE PAISAGENS APTAS À CAFEICULTURA

A unidade de paisagem integra os componentes do meio físico, biótico e antrópico. Para implantação da
cafeicultura e estabelecimento de práticas de manejo de solos, o conhecimento destas feições permite,
além de identificar os tipos de solos, prospectar as respectivas aptidões desejáveis para essa cultura.
Estas unidades de paisagens são características específicas de cada região de Minas Gerais, respeitada a
heterogeneidade de ecossistemas deste Estado. Serão enfocadas as unidades de paisagens aptas à
implantação de cafeicultura assumindo condições climáticas e altitudes desejáveis para essa atividade.

SUL DE MINAS GERAIS

Figura 2: Mapa de Minas Gerais com destaque à mesorregião Sul e Centro Oeste de Minas

Observa-se na Região do Sul de Minas uma predominância das paisagens colina de topo alongadonde
encontra-se a maioria do plantio do cafeeiro da região, planícies fluviais acompanhando os cursos d'água
de maior volume, a Rampa de colúvio onde também encontramos uma grande parte dos cafezais da
região do sul de minas, as rebordos que geralmente possuem pedregosidade e representa uma área difícil
de ser manejada, os terraços bastante planos com grande aptidão para a cultura e onde encontra-se uma
grande parte do café cultivado na região, os vales encaixados os quais dependendo do tipo de solo
formado pode acolher a cultura com boa aptidão e as vertentes convexas que representam muitas vezes
áreas de recarga com remanescentes florestais da fitofisionomia da região mas que pode também estar
coberto com o cafezal.

TOPOS ALONGADOS /CONVEXOS DE COLINAS COM OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS VERMELHOS E


VERMELHO-AMARELOS

Foto 2: Cafeicultura em colina de topo alongado. Fotografia: Edmundo Modesto

RAMPAS DE COLÚVIO COM OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS VERMELHOS E VERMELHO-AMARELOS

Foto 3: Cafeicultura em rampa de colúvio. Fotografia: Bernardino Cangussu.


VERTENTES CONVEXAS COM OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS VERMELHOS E VERMELHO-AMARELOS

Foto 4: Plantio de café em região com predomínio de vertentes convexas.Fotografia: Bernardino Cangussu.

VERTENTES CÔNCAVAS EM ANFITEATRO (provável ocorrência de Argissolos)

Foto 5: Plantio de café em vertentes côncavas em anfiteatros. Fotografia: Edmundo Modesto


ZONA DA MATA/ VALE DO RIO DOCE

Figura 3: Mapa de Minas Gerais com destaque para as mesorregiões da Zona da Mata e Rio Doce.

As principais unidades de paisagem encontradas na região são as chapadas, as quais constituem área de
preservação permanente, (áreas de recarga) portanto não passivas de serem cultivadas, as colinas de
topo alongado e as rampas de colúvio onde estão a maior parte do café plantado na região, os terraços
que acolhem, também, uma parte das áreas cultivadas principalmente da produção familiar, as serras,
domos e rebordos onde encontramos a cultura em principalmente nas vertentes côncavas.
Foto 6: Cafeicultura em terraço fluvial. Fotografia: Péricles Marques.
TOPOS ALONGADOS /CONVEXOS DE COLINAS COM OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS VERMELHOS E
VERMELHO-AMARELOS

Foto 7: Cafeicultura em colinas de topo alongado. Fotografia: Péricles Marques.

RAMPAS DE COLÚVIO COM OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS VERMELHOS E VERMELHO-AMARELOS

Foto 8: Rampas de colúvio com plantios de café no município de Manhuaçú. Fotografia: Bernardino Cangussú.
VERTENTES CONVEXAS COM OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS VERMELHOS E VERMELHO-AMARELOS

Foto 9: Vertente convexa com plantio de café. Fotografia: Bernardino Gangussu

VERTENTES CÔNCAVA EM ANFITEATRO (provável ocorrência de Argissolos)


.

Foto 10: Vertente côncava em anfiteatro com cafeicultura na região de Eravália. Fotografia:Péricles Marques
TERRAÇOS FLUVIAIS (ocorrência de Cambissolos e Argissolos eutróficos)

Foto 11: Cafeicultura em Terraço Fluvial. Fotografia: Bernadino Cangussú.


CERRADOS

Figura 4: Mapa de Minas Gerais com destaque nas regiões de Cerrado

Nesta região os plantios de cafés estão concentrados nas unidades de paisagens superfícies tabulares e
rampas de colúvio com Latossolos Vermelhos e vermelhos amarelos. Vê-se no alto Paranaíba o café sob
Terraços. Observa-se ainda na região, principalmente na abrangência do Triângulo Mineiro uma grande
incidência de veredas que são áreas de Preservação permanente.
SUPERFÍCIES ONDULADAS/TABULARES (com ocorrência de Latossolos Vermelhos e Vermelho-
Amarelos)

Foto 12: Plantio de café na região de Carmo do Paranaíba. Fotografia: Bernardino Cangussu.

RAMPAS DE COLÚVIO com ocorrência de Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos;

Foto 13: Rampa de colúvio com cafeicultura na região do Triângulo Mineiro. Fotografia: Péricles Marques.
CHAPADAS DE MINAS (JEQUITINHONHA)

Figura 5: Mapa de Minas Gerais com destaque à região das chapadas (Jequitinhonha)

14: Região de chapadas com plantio de café. Fotografia: Péricles Marques.


4 – CARACTERÍSTICAS DAS UNIDADES DE PAISAGENS
• COLINAS DE TOPO ALONGADO
Características
Topo alongado, vertentes côncavas e convexas.
Potencialidades
Topo com solos profundos e permeáveis; vertentes côncavas com área de concentração de águas pluviais;
vertentes convexas com solos profundos e estáveis.
Limitações
Topo com solos de baixa fertilidade e elevada acidez com necessidades de correção e fertilização.
Vertente côncava co acesso restrito, solos rasos, declividade. Vertente convexa com declividade,
erodibilidade.
Aptidão
Topo com vegetação arbórea permanente. Vertente côncava – proteção de nascentes, apicultura, área de
preservação permanente. Área de recarga de lençol subterrâneo. Vertentes convexas – culturas
permanentes.
Solo Predominante:
Latossolo (L)
Os latossolos são solos desenvolvidos, profundos e apresentam grande espessura do horizonte B. A
textura granular torna esses solos permeáveis. Têm capacidade de troca de cátions baixa, variam de
fortemente a bem drenados. São ácidos, com baixa saturação por bases, quando distróficos ou alumínicos,
contudo apresentam excelentes condições físicas. Quando em superfície ondulada, constituem
importantes áreas de recarga de aquíferos.
• RAMPAS DE COLÚVIO
Características
Rampas com ocorrência de solos desenvolvidos (Latossolo Vermelho). Vegetação nativa Cerrado ''stricto
sensu''.
Potencialidades
Solos profundos e estáveis de alta permeabilidade.
Limitações
Os expressivos comprimentos de rampa e a uniformidade da declividade favorecem processos de erosão
laminar. Quando argilosos, são suscetíveis à compactação por pressão de máquinas e pisoteio de animais.
Aptidão
Culturas anuais, pastagens, silvicultura, fruticultura e capineiras.
Solo Predominante:
Latossolo (L)
Os Latossolos são solos bem desenvolvidos, profundos e apresentam grande espessura do horizonte B. A
textura granular torna esses solos permeáveis. Têm capacidade de troca de cátions baixa, variam de
fortemente a bem drenados. São ácidos, com baixa saturação por bases, quando distróficos ou alumínicos,
contudo apresentam excelentes condições físicas.
• VERTENTES CONVEXAS

Características
Relevo acidentado e solos de baixa fertilidade e elevada acidez.
Potencialidades
Solos profundos e estáveis.
Limitações
Declividade, erodibilidade.
Aptidão
Culturas permanentes: fruticultura, pastagens, cafeicultura e silvicultura.
Solo Predominante:
Latossolo (L)
Os Latossolos são solos bem desenvolvidos, profundos e apresentam grande espessura do horizonte B. A
textura granular torna esses solos permeáveis. Têm capacidade de troca de cátions baixa, variam de
fortemente a bem drenados. São ácidos, com baixa saturação por bases, quando distróficos ou alumínicos,
contudo apresentam excelentes condições físicas.

• VERTENTES CÕNCAVAS – ANFITEATROS

Características
As vertentes côncavas sugerem a ocorrência de solos de perfis menos desenvolvidos, tais como os
Cambissolos e as concavidades mais abertas, os Argissolos. A concavidade potencializa a concentração
de nutrientes e umidade nestas unidades, sendo comum a ocorrência de nascentes pontuais.
Potencialidades
Área de concentração de águas pluviais; ocorrência de olhos d'água.
Limitações
Acesso restrito. Solos rasos, declividade.
Aptidão
Proteção de nascentes, apicultura, área de proteção permanente. Área de recarga de lençol subterrâneo.
Solo Predominante
Argissolo (P)
Os argissolos são solos profundos, ocorrendo maior concentração de argila no horizonte B (B textural).
São forte a moderadamente ácidos, com saturação por bases alta ou baixa, predominantemente
cauliníticos. Podem ter caráter eutrófico. Permitem, em muitas circunstâncias, o emprego de máquinas
agrícolas, sem restrições. Respondem bem à aplicação de fertilizantes e de corretivos.

• TERRAÇOS FLUVIAIS

Características
Área plana de nível mais elevado em relação à planície fluvial.Cambissolos margeando cursos d'água.
Potencialidades
Relevo plano, média a alta fertilidade do solo.
Limitações
Dificuldades no preparo do solo para o plantio e risco de inundação.
Aptidão
Culturas irrigadas de entressafra, produzidas no período de seca.
Solo Predominante
Cambissolo (C)
Os Cambissolos apresentam notória diversidade. São solos pouco desenvolvidos, com horizonte B em
formação (B incipiente). Contudo, estes solos inseridos em terraços fluviais apresentam espessura
mediana e sem restrição de drenagem. Apresentam bom potencial agrícola.

• SUPERFÍCIES ONDULADAS/TABULARES

Características
Superfícies planas, com ocorrência de solos profundos de baixa fertilidade natural e elevada acidez
(Latossolos e Neossolos Quartzarênicos), sob vegetação de Cerrado ''stricto sensu''. Constituem áeras de
recarga de aquíferos em meio granular. A geologia é constituída por arenitos do Grupo Bauru e dos
arenitos da Formação Botucatu, pertencentes à Bacia Sedimentar do Paraná.
Potencialidades
Relevo plano, solos profundos e permeáveis
Limitações
Baixa fertilidade natural e elevada acidez.
Aptidão
Produção de cereais tecnificados, silvicultura, fruticultura e pastagens cultivadas.
Solo Predominante
Latossolo (L)
Os latossolos são solos desenvolvidos, profundos e apresentam grande espessura do horizonte B. A
textura granular torna esses solos permeáveis. Têm capacidade de troca de cátions baixa, variam de
fortemente a bem drenados. São ácidos, com baixa saturação por bases, quando distróficos ou alumínicos,
contudo apresentam excelentes condições físicas. Quando em superfície ondulada, constituem
importantes áreas de recarga de aquíferos.

• SUPERFÍCIES TABULARES/CHAPADAS

Características
Chapadas com relevo plano, solos profundos, permeáveis, ácidos e de baixa fertilidade natural. As
chapadas correspondem a grandes áreas de recarga subterrâneas na região, devido ao relevo plano e a
profundidade e à permeabilidade dos solos predominantes. A vegetação é o cerrado.
Potencialidades
Facilidade para mecanização agrícola e implantação de estruturas para irrrigação; boas condições para
construção e manutenção de estradas. Solos profundos.
Limitações
Solos de baixa fertilidade e acidez inadequada.
Aptidão
Silvicultura fruticultura, cana-de-açúcar, fornecimento de matéria-prima para indústria moveleira e usinas
de álcool e açúcar. Importantes áreas de recarga de águas subterrâneas.
Solo Predominante
Latossolo (L)
Os latossolos são solos desenvolvidos, apresentando grande espessura do horizonte B, sendo, portanto,
profundos. A textura granular torna esses solos permeáveis e arejados. Têm capacidade de troca catiônica
baixa, variam de fortemente a bem drenados. São ácidos, com baixa saturação por bases, quando
distróficos ou alumínicos.

5 – Climatologia para a cultura do café

A cultura cafeeira domina paisagens específicas da região onde está instalada. O clima, “merece destaque
enquanto fator de influência no ecossistema e também como mediador na dinâmica da paisagem”.

O Brasil é o maior produtor e exportador de café. Das espécies do cafeeiro cultivadas em Minas Gerais,
encontram-se o Coffea arábica (arabica) que é a espécie plantada em Minas Gerais e em mais de 80%
dos países cafeicultores; origina-se nas regiões altas da Etiópia onde são cultivados em altitudes restritas
(1600 a 2800 m) e temperaturas médias anuais em torno de 18ºC a 22ºC e o C. canephora (conillon ou
Robusta), originário de regiões equatoriais baixas, quentes e úmidas, cultivado em temperaturas médias
anuais entre 22ºC e 26ºC. O café robusta vem ganhando espaço em dimensão de área plantada no estado
de Minas pela sua capacidade de adaptação e robustez.

O sistema produtivo do cafeeiro, apesar das variedades desenvolvidas mais adaptadas a ecossistemas
distintos, é diretamente afetado pelas condições macro e microclimáticas cujos efeitos podem ser favorá-
veis ou limitantes para o crescimento, desenvolvimento e produção da cultura podendo ainda constituir
uma potencialidade para a produção de produtos diferenciados que agregam valor de mercado ao produto
pelo seu padrão de bebida e qualidade.

O estado de Minas Gerais por sua extensão, e diversidade de paisagens, possui climas e microclimas dife-
rentes constituídos por padrões da interação dos elementos temperatura, umidade e pressão atmosférica
na superfície terrestre.

Clima

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2006), o Estado de Minas Gerais apresenta
13 subtipos climáticos regionais que podem ser subdivididos em quatro subconjuntos climáticos utilizando-
se como critério básico as temperaturas médias e o regime pluviométrico (volume anual e distribuição sa-
zonal), Figura 1.

Figura1. Distribuição climática no Estado de Minas Gerais

O primeiro subconjunto é formado por climas mesotérmicos brando. As temperaturas variam entre 10°C e
15°C que pode ser subdividido em 5 variações segundo a distribuição pluvial: semiúmido 4 a 5 meses,
superunido sem seca, superúmido com subseca e úmido com 1 a 2 meses secos.

O segundo é formado pelo clima mesotérmico mediano com uma temperatura média anual maior que
10°C sem seca.

O terceiro subgrupo o clima quente com temperaturas maiores que 18°C variando segundo a distribuição
pluvial em semiárido com 6 meses secos, semiúmido com 4 a 5 meses secos, úmido com 1 a 2 meses
secos e o úmido com 3 meses secos e, o terceiro grupo, clima subquente com temperaturas variando de
15°C a 18°C e distribuição pluviométrica sazonal de 4 a 5 meses secos, semiúmido, 1 a 2 meses secos e
3 meses secos constituindo o subgrupo úmido.

As regiões caraterizadas como regiões cafeicultoras estão subdivididas em grupos climáticos nas figuras
2, 3, 4e 5.
Figura 2. Distribuição do clima na Região Cafeeira do Sul e Centro Oeste mineiro.

Figura 3. Distribuição do clima na Região Cafeeira do Triângulo, Alto Paranaíba e Cen-


tro Oeste mineiro.
Figura 4. Distribuição do clima na Zona da Mata, Rio Doce e Central.

Figura 5. Distribuição do clima na Região Cafeeira do Norte, Jequitinhonha e Mu-


curi.
A temperatura é o parâmetro que mais afeta a distribuição da cultura de café no estado levando-se em
consideração que outros parâmetros como por exemplo a distribuição de chuvas e fertilidade do solo po-
dem ser corrigidas, na maioria das vezes (Figura 6.).

Figura 6. Distribuição da temperatura no Estado de Minas Gerais.

O Zoneamento agrícola para a cultura do cafeeiro arábica e robusta vem corroborar com esta afirmativa
(figuras 7 e 8).

O Zoneamento agrícola é um instrumento construído a partir do conhecimento das potencialidades e vul-


nerabilidades ambientais de determinada região, especialmente do comportamento e das características
do clima, do solo, da vegetação, da geomorfologia, e com foco na aptidão das terras para uso agrícola.
Considera também as características sociais e econômicas de cada região.

O café Arábica é uma espécie de clima tropical úmido e de temperaturas amenas. Apresenta aptidão para
temperaturas médias anuais entre 18 °C e 23 °C, consideradas temperaturas limites para a cultura, sendo
que índices térmicos médios anuais entre 19 °C e 21 °C são os ideais. De modo geral, o cafeeiro é pouco
tolerante ao frio (BRASIL, 2011a). No zoneamento da aptidão climática para o café Arábica, (EPAMIG,
2017) foram adotados os seguintes parâmetros e classes:
a) Apta - sendo as condições térmicas e hídricas, satisfatórias para o cultivo:
Temperatura média anual de 18 °C a 23 °C, e deficiência hídrica anual do ciclo inferior a 150 mm. Essa
faixa compreende a maior parte da região central do Estado como o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, o
Sul de Minas, a Zona da Mata e a Região Metropolitana de Belo Horizonte, nas duas épocas de plantio;
b) Restrita - por carência hídrica: Deficiência hídrica anual do ciclo é superior a 150 mm;
c) Restrita - por condição térmica:
Temperatura media anual inferior a 18 °C ou superior 23 °C;
d) Restrita - por condições térmicas e hídricas desfavoráveis:
Temperatura média anual inferior a 18 °C ou superior a 23 °C, e deficiência hídrica anual superior a 150
mm.
Em regiões de temperaturas muito baixas, há o risco de ocorrência de geadas, prejudiciais ao cafeeiro
(MOURA et al., 2007). As temperaturas inferiores a 13 °C causam sérios distúrbios ao café Arábica, parali-
sando o crescimento da parte aérea, em consequência de várias desordens fisiológicas, dentre outras, a
drástica redução da translocação de fotoassimilados (seiva orgânica quese movimenta no floema, da fo-
tossíntese e da assimilação do nitrogênio pelas folhas) (EPAMIG - 2017), (Figura 6).

Figura 6. Zoneamento Agroclimático para o Estado de Minas Gerais.

O mapeamento realizado para o Café arábica no Estado de Minas Gerais mostrou que a maioria das áreas
plantadas estão obedecendo os padrões estabelecidos pelo Zoneamento Agroclimático para o estado
(Figura 7).
Figura 7. Zoneamento agroclimático para a cultura do café arábica para o Es-
tado de Minas Gerais contendo cafés mapeados.

No mapeamento da aptidão climática para o café Robusta, foram consideradas as seguintes classes:
a) Apta - sendo as condições térmicas satisfatórias e sem restrições hídricas:
Temperatura média anual superior a 22 °C e deficiência hídrica anual inferior a 200 mm. Esta faixa com-
preende uma área na mesorregião do Triângulo Mineiro juntamente com o Alto Paranaíba, a região no
leste do Estado e regiões próximas a Paracatu e Buritizeiro;
b) Restrita - por carência hídrica:
Deficiência hídrica anual superior a 200 mm. Praticamente todo o norte e oeste do Estado, e grande parte
da região leste;
c) Restrita - por carência térmica:
Temperatura média anual de 21 °C a 22 °C;
d) Restrita - por carência hídrica e térmica:
Deficiência hídrica anual superior a 200 mm e temperatura média anual de 21 °C a 22 °C;
e) Inapta - por carência térmica:
Temperatura média anual inferior a 21 °C. Praticamente todo o sul do Estado e nas
regiões próximas a Araxá e Diamantina (EPAMIG, 2017), (Figura 8).
Figura 7. Zoneamento agroclimático para a cultura do café arábica para o Estado de Minas
Gerais.

6 – MANEJO E CONSERVAÇÃO DE SOLOS E ÁGUA (MCSA) EM CAFEICULTURA

Tratando-se de uma cultura permanente, permite-se na cafeicultura a aplicação de técnicas relativamente


simples e de baixos custos de manejo e conservação dos solos e água. Estas condições favorecem a
implantação de cafezais, com sucesso, mesmo em áreas relativamente acidentadas (Café de Montanha)
desde que adotadas técnicas adequadas a estas situações.

Todas as intervenções de MCSA destinam-se a manutenção de características físicas e biológicas


desejáveis, controle da erosão e aproveitamento das águas pluviais. Destaca-se entre estas, a
manutenção da cobertura dos solos para minimizar o impacto direto das gotas de chuvas.

Apresentam-se, a seguir, práticas de conservação dos solos e água para a cafeicultura, respeitadas as
características regionais:
 Tipos de solos para cafeicultura

Os solos que atendem os critérios, apresentados no item 02 deste relatório, são os LATOSSOLOS e
ARGISSOLOS inseridos nas unidades de paisagens que se adequam aos sistemas de manejo desta
cultura, conforme o item 03.

 Carreadores

Os carreadores, necessários para trânsitos de pessoas e equipamentos para colheita e tratos culturais,
devem constituir também estruturas minimizadoras de processos erosivos, sobretudo em áreas
acidentadas. Para tanto, devem ser planejados em projetos específicos associando sistemas de
drenagens
Em síntese os carreadores principais devem ser dispostos em contorno e os de ligação em diagonal.

Figura 6: Esquema demonstrando o sistema de carreadores.

 Sistema de plantio

As linhas de plantas em contorno constituem renques redutores do volume e velocidade do escoamento


superficial (enxurradas). A disposição em contorno deve, nos cafezais de montanha, serem reforçados
com adensamento das linhas de café (Figura 15).
Foto 15: Cafeicultura de montanha na cidade de Caiana, Zona da Mata mineira. Fotografia: Bernardino
Cangussu

• Sistemas de cultivos

Destinam-se a reduzir a competição, em água e nutrientes, por plantas indesejáveis e a cultura do café.
Por outro lado, a manutenção de cobertura morta entre as fileiras de plantas, mantem a umidade dos solos,
elevam o conteúdo orgânico e controlam processos erosivos.
Apresentam-se as seguintes alternativas a serem decididas pelos produtores:

• Roçada das ervas entre ruas

Consiste na roçada das ervas entre ruas e manutenção da cobertura morta;

• Capinas alternadas

Consiste em alternância de capinas entre as ruas, ou seja, capinar uma rua e manter a seguinte sob
vegetação.
• Práticas mecânicas para manejo e conservação dos solos – considerações.

Práticas de manejo e conservação dos solos de natureza mecânica, que demandam a remoção de
camadas de solos por máquinas, manuais ou motorizadas, requerem cuidados especiais, tanto na
elaboração de projetos executivos, quanto no acompanhamento e execução dos trabalhos. Por outro lado,
o monitoramento é imprescindível as manutenções periódicas.
Dentre as práticas de natureza mecânica mais utilizadas, destacam-se:

• Sistemas de terraceamento em nível e em gradiente(foto 16)


• Construção de barragens de terra(foto 17)
• readequação ambiental de estradas de terra e respectivos sistemas de drenagens(foto 18)

Foto 16: Sistema de terraceamento em Latossolos. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello e Ana
Cláudia Albanez
Foto 17: Bacia de captação de enxurradas em Latossolo. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello

Foto 18: Estrada sobre Latossolo Vermelho. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello
O conhecimento e reconhecimento dos tipos de solos passíveis de intervenção de natureza mecânica
constituem o primeiro passo a ser tomado. Intervenções em horizontes instáveis deflagram processos
erosivos acelerados, podendo comprometer todo o trabalho realizado, interferindo negativamente nas
áreas de entorno e na malha hídrica superficial e subterrânea.
Os solos estáveis são aqueles que apresentam horizontes B expressivos: LATOSSOLOS (foto 19) e
ARGISSOLOS (fioto 20).
O horizonte B tende à textura argilosa que garante esta estabilidade quando submetidos às intervenções
mecânicas – estabelecimento de terraços, cordões em contorno, taludes e barragens. Materiais de solos
provenientes do horizonte B são utilizados, inclusive, como material de “empréstimo” para
estabelecimento de aterros em barragens e estradas.

Foto 19: Perfil profundo de Latossolo. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello.


Foto 20: Perfil de Argissolo sob pastagem. Fotografia Márcio Stoduto de Mello

Já os CAMBISSOLOS apresentam horizonte B incipiente e de espessura em geral inferior a 1,00 metro. O


horizonte C de textura predominantemente siltosa é expressivo e facilmente exposto por intervenções que
implicam remoção de camadas de solos.
A textura siltosa do horizonte C leva à considerável instabilidade desses solos, quando exposto por
qualquer intervenção que remova os horizontes superficiais – horizontes O e A.
Entretanto, caso se trate de CAMBISSOLOS Eutróficos, podem ser cultivados sob cultivo mínimo, sistema
de manejo adequado à agricultura familiar (plantio em covas/sulcos).
As intervenções em CAMBISSOLOS devem ser de natureza vegetativa, evitando-se a exposição do
horizonte C, incluindo-se estabelecimento de sistemas de terraceamento, drenagens de estradas e taludes.
Em substituição ao terraceamento, estabelecer faixas de retenção vegetativas, utilizando-se das seguintes
alternativas: cana-de-açúcar, capim-guatemala ou erva-cidreira.Já os CAMBISSOLOS apresentam
horizonte B incipiente e de espessura em geral inferior a 1,00 metro. O horizonte C de textura
predominantemente siltosa é expressivo e facilmente exposto por intervenções que implicam remoção de
camadas de solos.
A textura siltosa do horizonte C leva à considerável instabilidade desses solos, quando exposto por
qualquer intervenção que remova os horizontes superficiais – horizontes O e A.
Entretanto, caso se trate de CAMBISSOLOS Eutróficos, podem ser cultivados sob cultivo mínimo, sistema
de manejo adequado à agricultura familiar (plantio em covas/sulcos).As intervenções em CAMBISSOLOS
devem ser de natureza vegetativa, evitando-se a exposição dohorizonte C, incluindo-se estabelecimento
de sistemas de terraceamento, drenagens de estradas e taludes. Em substituição ao terraceamento,
estabelecer faixas de retenção vegetativas, utilizando-se das seguintes alternativas: cana-de-açúcar,
capim-guatemala ou erva-cidreira.

Foto 21: Perfil de Horizonte B em CAMBISSOLO. Fotografia:Márcio Stoduto de Mello.

Foto 22: Paisagem de ocorrência de Cambissolo. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello


Ao estabelecer estradas, evitar a exposição do horizonte C em cortes para formação de taludes.

Foto 23: Perfil de Cambissolo. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello.

Foto 24: Voçoroca em Cabissolo. Fotografia: Márcio Stoduto de Melllo.


Em casos de NEOSSOLOS LITÓLICOS constituídos por horizontes A sobre C ou saprólito, as
recomendações para CAMBISSOLOS são válidas.

Foto 25: Perfil de Cambissolo erodido. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello.

Quanto aos sistemas de controle de processos erosivos, recomenda-se:


. Os terraços somente devem ser estabelecidos em LATOSSOLOS e ARGISSOLOS em geoformas,
com declividades entre 3% a 12%, e em glebas, com conformação convexa.
. Para se evitarem as necessárias manutenções destes sistemas, recomenda-se o
estabelecimento, nos camalhões dos terraços, a implantação de faixas vegetativas de retenção. A tolerável
erosão entre estas faixas propicia o paulatino aplainamento do terreno entre faixas, formando, a baixos
custos, patamares.
. Sistemas de drenagens de estradas, por meio de canais e bacias de captação de enxurradas,
devem ser feitos apenas em LATOSSOLOS e ARGISSOLOS.
. Os necessários cortes e aterros no estabelecimento de estradas devem minimizar ou,
preferencialmente, evitar, a exposição de horizontes C. A exposição desse horizonte compromete todo o
talude.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sistemas de drenagens e coleta de enxurradas de estradas e carreadores recomenda-se serem aplicadas,


com a devida segurança, em LATOSSOLOS e ARGISSOLOS que apresentam expressivos horizontes B.
Para implantação de sistemas de drenagens de estradas e carreadores aconselha-se que somente sejam
efetuadas em LATOSSOLOS e ARGISSOLOS.
Elevadas turbidez das águas drenadas e armazenadas nas bacias de captação de enxurradas, indicam
sedimentos argilosos. Estes sedimentos, de tamanho coloidal, obstruem os poros do fundo das bacias
reduzindo as respectivas permeabilidades, Podendo comprometer a eficiência e eficácia destas estruturas.
Ainda, com referência à implantação de estradas, é fundamental minimizar a exposição, em taludes de
corte e aterros, de horizonte C (foto 26).

Foto 26: Degradação de Cambissolo por ação mecânica. Fotografia: Márcio Stoduto de Mello.
CONSIDERAÇÕES GERAIS

Além das condições climáticas, o sucesso da lavoura cafeeira depende das características do meio físico
integradas nas unidades de paisagens. Estas unidades refletem e permitem inferências seguras quanto à
geologia, ao relevo e sobretudo à natureza dos solos.
A sustentabilidade desta atividade está fundamentalmente condicionada pela implantação desta cultura,
dentro dos limites e aptidões de cada unidade de paisagem.
Tratando-se de uma cultura arbustiva, perene, com expressiva raiz pivotante, desde que implantadas em
glebas aptas para esta cultura, práticas simples e de baixos custos minimizam significativamente
processos erosivos e de degradação dos solos.
A heterogeneidade de Minas Gerais requer procedimentos e intervenções que atendam tanto as
especificidades fisiográficas quanto as socioeconômicas de cada região cafeeira - Sul de Minas,
Montanhas, Cerrados e Chapadas de Minas.

Bibliografia Sugerida

 EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 412 p. Serviço de Informação, Brasília,


1999;

 FERNANDES, M. R. Minas Gerais: Caracterização de Unidades de Paisagens. 1ª ed. 96 p. Belo


Horizonte: EMATER-MG, 2014;

 FERNANDES, M. R. Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas: Fundamentos e Aplicações.


232 p. Belo Horizonte: SMEA/CREA, 2010;

 FERNANDES, M. R. Fundamentos de Solos. 20 p. Belo Horizonte: EMATER-MG, 2012;

 MOURA, A. C. M. Reflexões metodológicas como subsídio para estudos ambientais


baseados em análise multicritério. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto.
Florianópolis: INPE, p. 2899-2906;

 SANTOS, A. A. Geoprocessamento aplicado à identificação de áreas de fragilidade ambiental


no parque estadual da Serra do Rola Moça. 2010. 39f. Monografia de Especialização em
Geoprocessamento – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.

 EPAMIG, Zoneamento Agroclimático para o Estado de Minas Gerais - EAPAMIG. Belo


Horizonte, 2017, 220p.

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