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1
Universidade Federal Rural do Semiárido
2 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Introdução
Origem da salinidade em áreas irrigadas
Qualidade da água de irrigação
Efeitos prejudiciais dos sais nas áreas irrigadas
Efeitos da salinidade da água sobre o solo
Efeitos dos sais sobre as plantas
Fatores que afetam a salinidade do solo e resposta das culturas à salinidade
Fatores que afetam a salinidade do solo e respostas das culturas à salinidade
Salinidade integrada no espaço e no tempo
Integração com a profundidade:
Integração no tempo
Frequência de irrigação
Necessidade de lixiviação
Frequência de lixiviação
Previsão de salinidade em áreas irrigadas
Balanço de sais na zona radicular
Avaliação da água de irrigação através de simulação e previsão da salinidade do solo
Manejo da água e tolerância das culturas considerando os valores de CE das águas dos poços
na região de Mossoró
Experiências no Nordeste brasileiro com água salina
Referências
Fortaleza - CE
2010
Manejo do solo-água-planta
em áreas afetadas por sais
* As águas de poço, sobretudo as ricas em bicarbonatos, o pH 24 horas após coletados pode passar para valor superior a 8,0. Fonte: Gheyi et al., 2001; Medeiros et al., 2003.
manejo do solo, água e culturas, as condições climáticas, Segundo Medeiros (1992) e Oliveira & Maia (1998)
o método de irrigação e as condições de drenagem são relativamente elevadas as concentrações de sais nas
(Medeiros, 1998). águas do aquífero calcário, às vezes superando 2000 mg L-1
Segundo Rhoades et al. (1992) a utilização das águas (aproximadamente 3,0 dS m -1 ). Neste caso, sua
para irrigação depende das condições de uso, incluindo- utilização fica condicionada à tolerância das culturas à
se culturas, clima, solos, métodos de irrigação e práticas salinidade e ao manejo da irrigação, com vistas ao
de manejo, o que torna as classificações de água quanto controle da salinização das áreas.
à salinidade não aconselhadas para avaliar a
adequabilidade da água de irrigação. No entanto, os EFEITOS PREJUDICIAIS
mesmos autores sugerem que, com o propósito de DOS SAIS NAS ÁREAS IRRIGADAS
identificar os níveis de salinidade de água, é necessário
dispor de um esquema de classificação, sugerindo a
Efeitos da salinidade da água sobre o solo
mesma em termos de concentração de sais, expressos em
O acúmulo de sais solúveis, e especificamente de
condutividade elétrica e o tipo de água correspondente
sódio, no solo, além de reduzir o potencial osmótico da
dentro das classes (Tabela 2).
No Estado do Rio Grande do Norte, a água usada na solução do solo, produz alteração no pH,
região produtora de melão é proveniente de poços desbalanceamento nutricional e desestruturação de seus
artesianos profundos que, embora de boa qualidade, agregados. O efeito dos sais sobre a estrutura do solo
apresenta alto custo de obtenção, impossibilitando o uso ocorre basicamente pela interação eletroquímica
por parte de pequenos produtores, e vem levando os existente entre os cátions e a argila. A característica
grandes produtores a buscarem fontes alternativas de principal deste efeito é a expansão da argila quando
água, como poços abertos no calcário Jandaíra, a um úmida e a contração quando seca, devido o excesso de
custo consideravelmente menor. Entretanto, essas fontes sódio trocável. Se a expansão for exagerada, poderá
de água apresentam níveis elevados de sais, podendo ocorrer a fragmentação das partículas, causando a
causar a salinização dos solos e prejudicar o rendimento dispersão da argila e modificando a estrutura do solo.
das culturas. Em geral, os solos sódicos, ou seja, com excesso de
Tabela 2. Classificação das águas em função da condutividade elétrica (CE) em dS m-1 e concentração de sais em mg L-1
Tipos de Água
292 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
sódio trocável, apresentam problemas de permeabilidade saturação partindo da equação de Gapon (Richards,
e qualquer excesso de água causará encharcamento na 1954):
superfície do solo, afetando a germinação das sementes
e o crescimento das plantas, por falta de aeração Na T Na
KG (1)
(Medeiros et al., 2008). Ca T Mg T Ca Mg
Várias são as causas que podem levar à salinização
do solo. Geralmente, a origem dos sais está relacionada
à drenagem deficiente do solo. Os sais tendem a se em que o primeiro membro da Eq. (1) representa a relação
acumular no solo devido à ascensão capilar do lençol de sódio trocável (RST), com o sub-índice “T” denotando
freático e evaporação da água, na ausência de lixiviação. íons trocáveis em cmolc kg-1, KG representa o coeficiente
O uso excessivo de fertilizantes, a influência de ventos de Gapon, variando de 0,008 a 0,016 e a razão do segundo
que carregam sais encrostados na superfície de solos membro, denominada de relação de adsorção de sódio
altamente salinos para outras áreas e inundações de áreas (RAS), é composta pela concentrações dos íons no extrato
cultivadas pela água do mar devido à maré alta, também de saturação do solo, em mmol L-1.
podem ser a causa de salinização do solo (Blanco, 1999). Considerando que em solos afetados por sais, os
A acumulação de sais solúveis torna o solo floculado, cátions trocáveis do solo correspondem ao Ca, Mg e Na,
fofo e bem permeável; o aumento do sódio trocável a PST pode ser calculada por:
poderá torná-lo adensado, compacto em condições secas,
disperso e pegajoso em condições molhadas. RST 100 K G RAS
PST 100 (2)
A dispersão do solo poderá ser explicada pela teoria 1 RST 1 K G RAS
da dupla camada difusa (DCD) de Gouy & Chapman. A
micela do solo ou partículas de argila contém cargas
Gheyi (1986) estudou a troca entre sódio-cálcio em
negativas, as quais são equilibradas pela adsorção de uma
solos aluvionais (fração argila) dos perímetros irrigados do
quantidade equivalente dos cátions presentes na solução.
Estado da Paraíba, utilizando-se metodologia proposta por
Os cátions são atraídos pela superfície das partículas de
Fletcher et al. (1984) e soluções mistas de Na-Ca em
solos e, portanto, a concentração relativa dos cátions perto
várias proporções (RAS variando de 0 a 150 (mmol L-
da superfície é maior do que em qualquer lugar afastado 1)0,5), porém concentração total (Ca2++ Na+)-2 constante
desta, tornando a distribuição resultante em uma camada
de 50 mmolc L-1 e constatou existência de uma correlação
dupla difusa. Por outro lado, os ânions, por terem carga
altamente significativa entre RST e RAS (r2 = 0,987),
negativa, são repelidos e sua concentração relativa perto
permitindo a estimativa da PST do solo a partir da RAS.
da superfície é igual a zero. A uma certa distância da
superfície da micela, as concentrações de cátions e ânions
100 (0, 01407 RAS 0, 0122)
tornam-se equivalentes. O espaço onde as concentrações PST (3)
1 (0,01407 RAS 0,0122)
de cátions e ânions são diferentes é conhecido como
espessura da DCD, que varia com a concentração da
solução e a valência dos cátions. As curvas de isotermas de troca sódio-cálcio
Os cátions bivalentes (Ca e Mg) são atraídos pela mostraram que o cálcio é adsorvido com preferência no
superfície da micela mais fortemente do que os solo, e a presença de cálcio solúvel entre 20 e 30% na
monovalentes (Na e K). Assim, com o aumento da relação solução foi suficiente para evitar que o solo atingisse
Ca/Na na solução do solo, o tamanho da dupla camada PST superior a 15.
diminui, acontecendo o mesmo quando aumenta a A dispersão (liberação das plaquetas individuais de
concentração da solução do solo (Bohn et al., 1985). argila dos agregados) é primariamente importante em
Quanto maior ou menor for a DCD, maior a facilidade, solos que contêm quantidades substanciais de minerais
respectivamente, de dispersão ou floculação dos colóides filossilicatados de argila com camadas expansíveis
do solo. (esmectitas e montmorilonitas) nos quais a PST excede
No solo, a quantidade de sódio trocável (Na T) em cerca de 15%. A dispersão e a desestruturação
relação a sua capacidade de troca catiônica, denominada (desarranjo dos agregados em subagregados) do solo
de percentagem de sódio trocável (PST), associada a pode ocorrer mesmo em condições de baixos valores de
concentração total da solução solo, são as grandes PST (< 15), desde que, a concentração eletrolítica seja
responsáveis pela agregação e dispersão das partículas suficientemente baixa. A reunião de agregados resulta
coloidais. A PST do solo pode ser estimada a partir da em mais espaço poroso que o de partículas individuais
composição da solução do solo, medida no extrato de ou de microagregados; portanto, a permeabilidade e a
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 293
friabilidade são melhores em condições de solo agregado Valores representativos críticos de RAS ajustada ou
(floculado). As micelas dispersas de argila ou corrigida (aproximadamente igual à PST) e condutividade
microagregados podem alojar-se nos poros reduzindo, elétrica da água de infiltração para manutenção da
também, a permeabilidade. Assim, soluções de solo permeabilidade do solo, são mostrados nas Figuras 1 e 2.
compostas de altas concentrações de solutos (salinidade) A relação de adsorção de sódio (RAS c), conforme
ou com predominância de sais de cálcio e magnésio, Suarez (1982), é recomendada por Ayers & Westcot
proporcionam aos solos boas propriedades físicas. (1999) e Rhoades et al. (2000).
Reciprocamente, baixas concentrações de sais e
proporções relativamente altas de sais de sódio afetam
salinidade, pode se tornar um fator de salinização do solo Sabe-se que as diferentes espécies e cultivares de
se não for manejada corretamente (Ayers & Westcot, plantas reagem diferentemente à salinidade, havendo
1991). para cada espécie ou cultivar um limite tolerável de
Silva et al. (2007) estudando o risco de salinização em salinidade que não causa redução na produtividade
quatro solos do Rio Grande do Norte sob irrigação com potencial (salinidade limiar – SL) a partir do qual a
produtividade passa a diminuir a medida que se
águas salinas verificaram que o uso de águas de
incrementa a salinidade do solo (Ayers & Westcot,1991;
condutividade elétrica crescente promoveu a elevação do
Roades et al,1992).
pH, da CEes e da RAS no extrato de saturação dos solos.
Para Maas & Hoffmam (1997), além de haver
O aumento na relação de adsorção de sódio das águas diferenças de tolerância entre as espécies e cultivares,
promoveu o incremento dos efeitos das soluções salinas dentro de uma mesma espécie pode também existir
sobre os solos indicando a necessidade do monitoramento diferenças entre as fases fonológicas. A resposta das
da qualidade da água e das propriedades físico-químicas plantas aos sais depende, sobretudo, do tipo de sal,
dos solos submetidos a irrigação com águas salinas. método e frequência de irrigação (Roades etal., 1992).
A tolerância de várias culturas a salinidade é
Efeitos dos sais sobre as plantas convencionalmente expressa, segundo Maas & Hoffmam
As plantas em ambientes com alta concentração de (1977), em termos de rendimento relativo (Y), o valor de
sais podem sofrer estresse de duas maneiras: em razão salinidade limiar (SL) e decréscimos percentuais de
da baixa disponibilidade de água no solo, em produção por unidade de aumento da salinidade acima
consequência da diminuição do potencial osmótico na da salinidade limiar (b) onde a salinidade do solo é
zona radicular, e pelo efeito de altas concentrações de expressa, de CEes em dS m-1 , como segue:
íons específicos (Marron, 2001).
Dias et al (2003) relatam que dependendo do grau de 100 para CEes SL
100 - b CEes - SL)
salinidade, a planta em vez de absorver, poderá até
Y (4)
perder a água que se encontra no seu interior. Esta ação 0 para CEes CEmax
é denominada plasmólise, e ocorre quando uma solução para SL CEes CEmax
é altamente concentrada é posta em contato com a célula
vegetal. O fenômeno é devido ao movimento da água que
passa das células para a solução mais concentrada. em que,Y é o percentual de rendimento esperado sob
condições salinas, em relação ao obtido sob condições
Deste modo, energia necessária para absorver água de
não salinas, mantidas comparáveis para as demais
uma solução salina é adicional a energia requerida para
condições e CEmax é salinidade do solo que o
absorver água de uma solução de solo não salina. rendimento tende a ser zero.
Os efeitos da salinidade nos vegetais caracterizam-se Este uso da CEes para expressar o efeito da
por redução e não uniformidade do crescimento, presença salinidade na produção, implica no fato de que as plantas
de coloração verde-azulado e queimaduras nas bordas respondem primariamente ao potencial osmótico da
das folhas das plantas (Richards, 1965). Por outro lado, solução do solo.
a salinidade pode afetar positivamente a composição e o A tolerância relativa da maioria das culturas é
crescimento de algumas planta, pode promover o suficientemente conhecida, o que enseja a preparação de
crescimento de halófitas ou incrementar a produção ou diretrizes técnicas da salinidade. A Figura 4 mostra,
a qualidade de frutos (Pastercak et al 1987). esquematicamente, os grupos de tolerância relativas das
Os efeitos causados pela toxidade acontecem quando culturas e a Tabela 3 inclui valores de tolerância de
algumas culturas extensivas, hortaliças e frutíferas, a
as plantas absorvem os sais do solo, juntamente com a
qual se refere à salinidade da água de irrigação e a
água, permitindo que haja toxidez na planta por excesso
salinidade medida no extrato da pasta saturada do solo
de sais absorvidos. Este excesso promove então
(CEes). Os valores deverão ser considerados apenas
desbalanceamento e danos principalmente na bordadura como de tolerância relativa entre os grupos de culturas,
e no ápice das folhas, a partir de onde a planta perde, por pois os valores de tolerância absoluta variam com o
transpiração, quase que tão somente água havendo, clima, condições de solo e práticas culturais. Esses
nessas regiões acumulo do sal translocado do solo para limites de salinidade foi calculado, considerando que a
a planta para obviamente, intensa toxidez de sais (Dias relação entre salinidade do solo e da água (CEes = 1,5
et al 2005). CEa) e a fração de lixiviação equivalente a 15-20 %,
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 295
adotando-se um modelo de absorção de água na zona Merrill (1976), a salinidade dos solos e resposta das
radicular igual a 40-30-20-10 (padrão de extração plantas à salinidade são afetadas pelas características de
normal). O rendimento potencial zero implica na retenção de água do solo, frequência de irrigação, fração
salinidade máxima teórica (CEes) com a qual cessam o de lixiviação adotada e salinidade da água de irrigação.
crescimento e o desenvolvimento da planta. Baseado nesse estudo para as condições de equilíbrio,
Rhoades et al. (2000) retirou as seguintes conclusões:
i) A salinidade da água de irrigação e a FL são
combinadas para se estabelecer a distribuição de estresse
Rendimento relativo (%)
1 Esses dados servem apenas como indicativo da tolerância relativa entre culturas. Tolerância absoluta depende do clima, das condições do solo e práticas culturais
2 Os nomes botânicos e comuns em inglês, conforme a convenção de “Hortus Third”, quando possível
3 Em solos gipsíferos, as plantas toleram CEes cerca de 2 dS/m acima do indicado
4 T = Tolerante, MT = Moderadamente Tolerante, MS = Moderadamente Sensível e S = Sensível. Classes com * são estimativas
5 Como arroz é cultivado sob condições de inundação, os valores se referem às condutividades elétrica da água do solo, enquanto plantas estão inundadas. Menos tolerantes durante fase de plântula
crítico” do potencial total será alcançado mais vii) sob condições de irrigações mais frequentes, a
rapidamente (para uma dada quantidade de uso de resposta das plantas à salinidade deveria torna-se
água), quanto maior for o potencial osmótico no começo relativamente mais relacionada à salinidade da água de
da depleção de água; irrigação (CEa) e potencial osmótico médio, do que à FL
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 297
e salinidade média com a profundidade. Alguns os três anos de experimento não diferiram
resultados experimentais confirmam isso (Meiri, 1984; estatisticamente. Isso sugere que as plantas respondem
Bresler & Hoffman, 1986; Bresler, 1987). a média aritmética dos valores de salinidade da zona
Em seguida serão discutidos os diferentes fatores que radicular. Os resultados dos estudos de milho em solos
afetam a salinidade do solo e resposta das plantas à orgânicos concordam com resultados de experimento de
salinidade. campo em Israel com solo mineral cultivando amendoim
e tomate e com resultados da Califórnia para alfafa
Salinidade integrada no espaço e no tempo (Hoffman et al., 1992).
No campo, a distribuição dos sais nem é uniforme no
espaço (profundidade), nem é constante com o tempo. A Integração no tempo
aplicação de resultados experimentais dos estudos de Para avaliação, a salinidade do solo é tipicamente
tolerância à salinidade das culturas para as condições de monitorada no começo e fim do ciclo da cultura e os
campo, requer conhecimentos de resposta das plantas à valores são usados para determinar a salinidade média do
salinidade variando com o tempo e profundidade. Até o solo. Em experimentos, a salinidade do solo é
momento, muitos experimentos de campo têm sido normalmente monitorada com maior frequência.
conduzidos considerando a hipótese que as plantas Relacionar a resposta das culturas à salinidade do solo
respondem à salinidade média da zona radicular a integrada no tempo é difícil porque, para algumas
estação de crescimento. culturas, a sensibilidade varia com o estádio de
Rhoades (1972) introduziu o conceito de salinidade desenvolvimento.
média integrada da solução do solo, ao longo do ciclo de Bernstein & Pearson (1954), comparando a influência
irrigação, para considerar as variações de salinidade de um nível constante de salinidade com níveis crescendo
entre irrigações. Conforme Rhoades & Merrill (1976), a e diminuindo, em vários ciclos, porém mantendo o valor
salinidade média da água do solo, em determinado médio do potencial osmótico idêntico ao produzido pelo
intervalo de tempo, é maior em solos que são irrigados nível constante, concluíram que o pimentão respondeu a
com menor frequência, quando se mantêm outros fatores salinidade média do período, independente se variava ou
constantes. não durante o desenvolvimento da cultura, enquanto o
Ingvalson et al. (1976) correlacionaram rendimento de tomate foi mais afetado por períodos de alta salinidade.
alfafa, obtido sob condições de salinidade, para vários Então, a resposta à salinidade média do período é
índices de salinidade, e verificaram que o rendimento foi provavelmente uma estimativa razoável, a não ser que
melhor correlacionado à salinidade da água de drenagem valores de salinidade durante o ciclo oscilem ao redor da
do que à da água de irrigação. Também, correlacionou- salinidade limiar da cultura ou, como foi provavelmente
se melhor à salinidade média integrada no tempo e no o caso para tomate, existam alguns valores de salinidade
espaço (profundidade), do que com a salinidade média da que excedam a faixa de resposta linear na curva de
zona radicular e ponderada com a absorção de água, tolerância à salinidade.
embora estes índices tenham mostrado correlações Avaliar a resposta de culturas perenes à salinidade no
relativamente altas. Vale salientar que o método de tempo é mais complexo do que para as anuais, porque o
irrigação adotado era inundação intermitente e a rendimento pode ser afetado pela salinidade do solo de
frequência das aplicações de água correspondia a de anos anteriores. É difícil explicar como ocorre a
irrigações convencionais. compensação do efeito da salinidade devido períodos de
Meiri & Polijakoff-Mayber (1970) observaram que a dormência e mudanças drásticas do tempo como as
área foliar relativa do feijão, de diferentes experimentos monções, chuvas de inverno ou grandes mudanças da
de salinidade, foi afetada linearmente com a salinidade. demanda evaporativa da atmosfera. Segundo Hoffman
et al. (1992), o período de tempo apropriado para
Integração com a profundidade: determinar a salinidade média dependerá da cultura e de
Em experimento de campo, para estabelecer a seu ambiente.
tolerância à salinidade do milho, Hoffman et al. (1983),
utilizando dois métodos de irrigação (microaspersão e Frequência de irrigação
subirrigação), obtiveram perfis de salinidade do solo Para o cultivo em solos salinos a frequência de
diferentes para cada método de irrigação, entretanto, as irrigação é um fator muito importante, pois, quanto maior
curvas de resposta de tolerância à salinidade para os a frequência, menor será a concentração dos sais, devido
métodos de irrigação, usando a salinidade média linear do ao efeito da diluição. Poucas evidencias experimentais
perfil para todos os níveis de salinidade testados durante existentes, entretanto, sustentam como recomendação
298 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
comum, que o intervalo de irrigação deveria ser fazendo com que uma fração da água aplicada percole
diminuído quando se utiliza água salina (Hoffman et abaixo da zona radicular, lixiviando parte dos sais
al.,1992). acumulados.
Quando o solo seca devido à evapotranspiração, A lixiviação é a chave da irrigação bem sucedida
depois de uma irrigação, os potenciais mátrico e osmótico onde a salinidade é excessiva, e também é considera
diminuem. A taxa de decréscimo depende da taxa de como o único meio pelo qual a salinidade do solo pode
evapotranspiração e da relação entre o potencial mátrico ser mantida em níveis aceitáveis sem riscos para as
e o teor umidade do solo. A taxa de secamento do solo culturas. Pois, quanto mais salina é a água de irrigação
decresce quando o potencial osmótico diminui, ou mais sensível é a cultura à salinidade, a mais lixiviação
produzindo, assim, um maior potencial mátrico antes da deve existir para manter o rendimento da cultura
próxima irrigação. Contrapondo a esse processo, o explorada.
intervalo de irrigação influencia na forma da distribuição A necessidade de lixiviação (NL) é a fração mínima
de sais no perfil e no nível total de salinidade do solo da quantidade total de água aplicada que deve passar
Conforme Ayers & Westcot (1999), o momento da através da zona radicular, para prevenir a redução no
lixiviação não é o fator decisivo, a menos que a rendimento da cultura. Devido à condutividade elétrica
concentração de sais exceda o limite de tolerância da (CE) ser facilmente medida e quase linearmente
cultura por tempo prolongado. Pelo suposto, isto não quer relacionada com a concentração de uma solução do solo
dizer que a lixiviação tenha menos importância relativa, relativamente diluída, comumente substitui-se a
pelo contrário, para evitar a acumulação excessiva e concentração por CE.
perigosa é imprescindível que se satisfaça a necessidade Para Rhoades et al. (1992), a necessidade de
de lixiviação. A frequência de lixiviação deve ser tal que lixiviação é outro aspecto do manejo da irrigação, além
permita manter a salinidade abaixo da concentração que da frequência de irrigação, que influencia na resposta
ocasionaria reduções inaceitáveis nos rendimentos. Isso das culturas à salinidade da água de irrigação. Ele não é
implica que a lixiviação pode ser praticada a cada suficientemente entendido, especialmente quando suas
irrigação, com irrigações intercaladas, ou ainda, com interações de equilíbrio com a frequência de irrigação são
menos frequência, como em cada período (estação) ou consideradas em conjunto. Bower et al. (1969) considera
intervalos ainda maiores. Em muitos casos, as irrigações
quando o solo está em condições de equilíbrio com a
de aplicações aceitáveis, satisfazem as necessidades de
salinidade da água de irrigação, a interação entre
lixiviação e, portanto, aplicar água adicional para lavar
concentração de sais da água de irrigação e a fração de
sais poderá ser desnecessário.
lixiviação é quem primeiramente determina a
A lâmina de lixiviação, que controla a acumulação de
concentração e a distribuição de sais na zona radicular,
sais na zona radicular das culturas irrigadas, depende da
assim, como o valor médio do potencial osmótico da água
concentração salina da água, do método de aplicação, da
do solo. A fração de lixiviação é também o principal fator
precipitação pluviométrica e das peculiaridades do solo
de manejo que afeta a salinidade ponderada com a
(Kelley, 1963). Segundo Bower et al. (1969), frações de
absorção de água. Isso pode ser verificado na Eq. (2),
lixiviações maiores produzem perfis de salinidade mais
desenvolvida por Bernstein & François (1973b) para
uniforme. Shalhevet & Reiniger (1964), durante o ciclo
descrever a concentração média de sais considerando a
de culturas anuais, observaram que com lixiviações
absorção de água pela planta, C , que é independente do
elevadas houve aumento gradativo da salinidade com a
profundidade, enquanto pequenas frações de lixiviação padrão de absorção de água pelas raízes (Hoffman &
induziram maior concentração na parte intermediária da van Genuchten, 1983; Smith & Hancock, 1986):
zona radicular.
Considerando a salinidade do solo, Meire & Shalevet (5)
(1973) concluíram que lixiviações mais frequentes
proporcionaram maiores salinidades na zona radicular no
final do experimento, no cultivo de pimentão. sendo:
Va e Vr - volume de água de irrigação infiltrado e
Necessidade de lixiviação drenado, respectivamente;
A forma de controlar o acúmulo de sais no solo é Ca e Cr - concentração das águas de irrigação e
pela lixiviação, que pode ser proporcionada pela drenada, respectivamente;
precipitação pluvial ou pela aplicação de uma lâmina de FL - fração de lixiviação, que é a relação entre
água de irrigação superior aquela requerida pela cultura, a lâmina drenada e a irrigação.
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 299
A equação acima aplica-se somente para a condição Smith & Hancock (1986) apresentaram a mesma
em que ocorre conservação de massa, ou seja, Ca. Va = relação e aproximação como a de Bernstein & Francois
Cr.Vr (Medeiros, 1998). Entretanto, segundo Ingvalson et (1973b), Rhoades (1982), Hoffman & van Genuchten
al. (1976), pode ser modificada para considerar efeitos de (1983) para calcular NL. Eles sugeriram que a relação
precipitação ou dissolução de sais como segue: ponderada com a extração de água do solo é único
método aceitável para calcular a NL. Os resultados da
b c avaliação recente feita por Bresler (1987), quanto a
C a ln FL (6)
1 FL FL resposta da cultura à salinidade e manejo da irrigação,
pode ser interpretado como o suporte do conceito de “NL
em que, “a”, “b” e “c” são considerados constantes dual” de Rhoades (1982). O conceito de “NL dual” é um
empíricas da equação polinomial de 2ª ordem, que caminho indireto de ajustamento da NL para os efeitos
descreve a concentração da solução do solo para uma do estresse mátrico sobre a resposta da cultura à
dada água de irrigação como função de (1/F) derivada salinidade e é recomendada para isto, até que um método
do modelo “Watsuit” (Rhoades et al., 1992). mais convincente seja desenvolvido (Rhoades &
Segundo Raats (1974), C não é corretamente descrito Loveday, 1990).
pelas equações acima, quando a dispersão hidrodinâmica Para Rhoades et al. (2000), a necessidade de
e difusão afetam apreciavelmente a distribuição de sais lixiviação é outro aspecto do manejo da irrigação, além
na zona radicular. da frequência de irrigação, que influencia a resposta das
De acordo com Rhoades (1974), para culturas culturas à salinidade da água de irrigação mas é, também
específicas e aproximações mais exatas de NL, pode-se suficientemente entendido, especialmente quando suas
utilizar a seguinte equação: interações com a frequência de irrigação são juntamente
considerados. Com o solo em condições de equilíbrio
(7) com a salinidade da água de irrigação e a fração de
lixiviação (FL) que determina concentração e
distribuição de sais na zona radicular, assim como o valor
em que a NL é a necessidade de lixiviação mínima que médio do potencial osmótico da água do solo, como
se necessita para controlar os sais dentro do limite de evidenciam os dados de Bower et al. (1969). A fração de
tolerância da cultura, empregando-se métodos de lixiviação é também o principal fator de manejo que
irrigação convencional; CEa é salinidade da água de afeta a salinidade ponderada com a absorção de água.
irrigação, em dS m-1, e CEes* é a salinidade média do Isso pode ser verificado na equação desenvolvida por
extrato de saturação do solo, em dS m -1 , que Bernstein & Francois (1973) para descrever a
representam a salinidade tolerada pela cultura concentração média de sais na solução do solo
considerada. considerando à absorção de água pela planta, C, que é
A necessidade de lixiviação (NL) para o controle da independente do padrão de absorção de água pelas
salinidade, também pode ser determinada usando as raízes:
relações apresentadas por Rhoades (1977, 1982), quando Shalhevet & Reiniger (1964) observaram, durante o
se conhece a tolerância da cultura à salinidade, a ciclo de culturas anuais que, com lixiviações elevadas,
salinidade da água de irrigação e o tipo de manejo de ocorreu aumento gradativo da salinidade com a
irrigação. Nesse caso, a relação para “irrigação profundidade, enquanto pequenas frações de lixiviação
convencional” é usada onde o solo pode ser deixado induziram uma concentração maior na parte intermediária
secar entre as irrigações, isto é, onde o estresse matricial da zona radicular.
significante ocorre junto com o estresse osmótico Para Rhoades et al. (1992) o nível de sais na zona
induzido pela salinidade; a relação para “irrigação com radicular deve ficar abaixo do nível nocivo às plantas
alta frequência” é usada onde o solo não seca cultivadas. Assim, o monitoramento direto da salinidade
significativamente entre irrigações. Inerente a essas duas na zona radicular é recomendado para se avaliar a
relações, está a mudança no índice de salinidade usado eficiência dos diversos programas de manejo na área
para relacionar a resposta da cultura á salinidade. A irrigada.
salinidade média na zona radicular (média aritmética) é
usada para “irrigações convencionais”, enquanto a Frequência de lixiviação
salinidade da zona radicular ponderada com a absorção Altas concentrações de sais na porção inferior da
de água da cultura é usada para irrigação de alta zona radicular das culturas pode ser tolerada com efeitos
frequência (Medeiros, 1998). mínimos no rendimento, quando a porção superior é
300 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
mantida com teor de sais relativamente baixo (Bernstein drenabilidade do solo, a precipitação dos sais de baixa
& Francois, 1973). As plantas compensam reduzindo a solubilidade, manejo da irrigação e manejo agronômico.
absorção de água da região mais salina e aumentando a A salinidade do solo pode aumentar
absorção da parte menos salina (Shalhevet & Bernstein, consideravelmente em apenas um período de irrigação
1968). Embora essa compensação possa ocorrer sem com água salina, quando não ocorrem chuvas nesse
redução de rendimento, questões frequentemente período (FAO/UNESCO, 1973). Em Israel, o uso de
levantadas são: (i) quanto de sais pode ser armazenado água com uma condutividade elétrica variando entre 0,70
na zona radicular antes que a lixiviação seja necessária e 4,00 dS m-1 tem aumentado a condutividade elétrica do
e (ii) quantas vezes água em excesso deve ser aplicada extrato de saturação do solo de 0,20 a 2,50 dS m-1 após
para proporcionar lixiviação. um período de irrigação (Medeiros, 1992). O Comitê de
A maioria das águas de irrigação apresenta salinidade Terminologia da Sociedade Americana de Ciência do
que, mesmo sem lixiviação, muitas irrigações possam ser Solo classifica um solo de sódico quando este apresenta
aplicadas antes que a salinidade atinja níveis prejudiciais às RAS > 15 meq L-1 e salino para CEes > 2dS m-1 a 25ºC
culturas. Esse atraso na lixiviação é claro, depende da (Glossary of Soiul Science Terms, 1975).
tolerância da cultura; mais tolerante a cultura, maior o Segundo Medeiros (1998), sendo conhecido o teor de
atraso. Um exemplo de atraso da lixiviação, foi o sais no início, na zona radicular, pode-se calcular a
experimento de lisímetro em casa de vegetação com variação de armazenamento de sais (Z) no intervalo de
alfafa usando água de irrigação de 1 dS m-1, em perfis de tempo considerado, como:
solo franco arenoso de 0,6, 1,2 e 1,8 m de profundidade,
durante 9, 14 e 20 meses, respectivamente (Francois,
1981). O rendimento foi reduzido menos de 25%, embora (8)
mais de 14, 30 e 45 Mg ha-1 de sais fossem armazenados
na metade inferior dos três perfis sem lixiviação. Assim,
quanto mais profundo for o solo, maior será a capacidade
de armazenar sais, com redução mínima de rendimento.
sendo,
Reduções drásticas de rendimento somente ocorreram
Z1 - quantidade de sais na zona radicular (Z =
quando os sais começaram a se acumular na porção
CEcc.Wcc), no início da irrigação ou período considerado,
superior da zona radicular. expresso como CEmm, em dS m-1.mm;
Considerando a salinidade do solo, Meiri & Shalhevet Wcc - lâmina de água que o solo retém à capacidade
(1973) concluíram que lixiviações mais frequentes de campo (cc) na profundidade da zona radicular, em
proporcionaram maiores salinidades no final do mm;
experimento. R*- lâmina de percolação, (mm);
Sendo assim, para irrigações de alta frequência, o I - lâmina de irrigação (mm);
problema do pico de salinidade mais raso pode ser Ca - concentração de sais na água de irrigação (dS m-1).
resolvido aplicando-se as lâminas de lixiviação apenas
quando a salinidade do solo atinge valores críticos para Medeiros (1998) considera que a variação de CE da
as culturas. água do solo à capacidade de campo, num período de
tempo, pode ser obtida, dividindo-se a variação de
PREVISÃO DE SALINIDADE EM armazenamento de sais (Z) pela lâmina de água à
ÁREAS IRRIGADAS capacidade de campo (Wcc).
componentes. Entretanto, a maioria dos dados de entrada Tabela 4. Média ao longo do tempo da salinidade medida e
requeridos por esses modelos não está geralmente simulada, assumindo a média aritmética para a
disponível para muitas aplicações práticas e existem profundidade da zona radicular de 60 cm, e salinidade
medida no final do ciclo. (Medeiros, 1998)
muitas incertezas a respeito de como relacionar a
resposta das culturas à salinidade e ao potencial mátrico
variável no tempo e espaço, tal como pode ser previsto
por estes modelos. Por estas razões, modelos
conceitualmente simplificados, como os existentes para
condições de equilíbrio, podem ser mais apropriados para
avaliar a adequabilidade da água de irrigação. Estes
modelos, provavelmente, fornecem a pior situação que
resultaria da irrigação com uma determinada água
(Rhoades et al., 2000).
Assim, Rhoades & Loveday (1990) e Rhoades et al.
(2000) recomendam um modelo para condições de
equilíbrio relativamente simples desenvolvido por
O exemplo apresentado em seguida apresenta uma
Rhoades & Merrill (1976). A sequência básica é a
versão adaptada por Medeiros & Gheyi (1997) para
seguinte: (1) prever a salinidade, sodicidade e
cálculo em planilha eletrônica para simular a salinidade
concentração de íons tóxicos da água do solo em uma
no perfil do solo para diferentes valores CE da água e
zona radicular simulada, resultante do uso de uma
valores de fração de lixiviação, considerando a irrigação
determinada água de irrigação de dada composição,
convencional e alta frequência. Este procedimento
aplicada com uma fração de lixiviação específica e (2)
apresenta boa precisão para as águas do Brasil, pois as
avaliar o efeito deste nível de salinidade (ou mesmas, em sua grande maioria são pobres em SO4, não
concentração iônica) no rendimento da cultura e do nível havendo formação de precipitados de sulfato de cálcio.
de sodicidade sobre a permeabilidade do solo. Também E ainda pode identificar culturas que possam ser
existe uma versão deste modelo, com mais sofisticação, exploradas na área em estudo. A mesma planilha utiliza
em forma de programa para computador, denominado um procedimento, sugerido por Suarez (1981), que é o
“Watsuit” (Rhoades & Merrill, 1976). cálculo da RAS ajustada ou corrigida (RASaj ou RASc)
A tendência atual é desenvolver modelos capazes de para predizer potenciais problemas de infiltração devido
prognosticar os riscos de salinização e/ou sodificação a alta concentração de Na ou baixa concentração de Ca
partir de dados meteorológicos do local e as na água de irrigação, como também estimar a sodicidade
características do solo, água e cultura a serem utilizadas. do solo no seu perfil, conforme a equação:
No Brasil, de nosso conhecimento, essa linha de pesquisa
ainda encontra-se na fase inicial de adaptação. Os Na
RASaj (9)
técnicos da CODEVASF elaboraram um mapa de riscos Mg Ca e
relativos de salinização para bacia do rio São Francisco 2
utilizando dados climatológicos (evapotranspiração e
precipitação) e a qualidade da água disponível para
irrigação. Por outro lado, a Universidade Federal da em que, Na e Mg são concentrações de sódio e
Paraíba com base de balanço de sais no solo tem magnésio na água de irrigação, em mmolc L-1 e Ca e é
verificado boas correlações entre os resultados teor de cálcio da água, modificado pela pressão parcial
simulados e experimentais obtidos em cultivo de banana do dióxido de carbono (PCO2) exercida no perfil do solo.
(Santos, 1997), o mesmo tem sido verificado em plantio O valor de Ca e representa a concentração final de
cálcio que permaneceria na solução do solo, como
de melão, em Mossoró/RN (Costa, 1999), e por Medeiros
resultado da aplicação de uma água de determinada
(1998), sob cultivo de estufa, onde verificou, que em
salinidade (CEa) e teor relativo de bicarbonato em
termos médios a salinidade simulada ficou próxima da relação ao cálcio (HCO3/Ca) e foram apresentados por
medida (Tabela 4), divergindo apenas na evolução ao Suarez (1981), na forma de tabela. Medeiros & Gheyi
longo do tempo. O valor médio simulado 15 a 20% acima (1997) desenvolveram a partir de um ajustamento
do valor medido pode ser atribuído a posição das coletas matemático dos valores da tabela apresentada por
das amostras de solo, que foi feita na região central do Suarez (1981), adaptando-a às grandezas e unidades a
bulbo, onde a salinidade tendeu a ser menor. Equação seguinte:
302 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
1 Valor calculado fazendo-se a média de cada camada e posterior média das médias parciais.
Manejo da água e tolerância das culturas
considerando os valores de CE das águas dos poços
Os procedimentos de como se calcular os valores na região de Mossoró
apresentados nestes dois últimos quadros estão A área explorada sob condições de irrigação no
apresentados em seguida: Nordeste do Brasil ainda é pequena (aproximadamente
CE r - CE da água percolada das respectivas 663.672 ha, em 2001), mas existe potencial para chegar
camadas, sem considerar ocorrência de precipitações. a 1.304.000 ha (Christofidis, 2001). Embora a irrigação
O valor para a posição “0” corresponde a CE da água seja apontada como uma das alternativas para o
de irrigação. desenvolvimento socioeconômico das regiões semi-
Fc - fator de concentração da solução do solo, obtido áridas, ela deve ser manejada racionalmente, a fim de
pela razão entre CEr de cada posição da zona radicular evitar problemas de salinização dos solos e de
e CEa. degradação dos recursos hídricos e edáficos, uma vez
Na, Mg, Ca, HCO 3 e Cl - concentração dos que as condições climáticas dessas regiões são
elementos contidos na água de irrigação vezes o fator de extremamente favoráveis à ocorrência desses problemas
concentração de cada posição. (Medeiros, 2008).
RAS determinada pela equação: RAS = Na/ Souza et al. (2000) reforçam que, em áreas irrigadas,
[(Ca+Mg)/2]0,5 o processo de salinização pode acontecer mesmo em
RASaj determinada pelas Eqs. 17, 18 e 19 solos com boas características, em especial nas situações
CE as - CE da solução do solo na capacidade de em que não existe manejo de solo e água adequado. Na
campo, corrigida pela precipitação ou dissolução da realidade, a concentração de sais nos solos irrigados
apresenta relação direta com a precipitação total anual,
calcita, ou seja, CEas=CEr - 0,1.(Ca - Cae).
com as características físicas do solo e com as condições
CEesaj - CE da solução do solo (CEas) expressa como
de drenagem.
do extrato de saturação, obtido por:
Sabe-se que todas as águas utilizadas na irrigação
contêm sais, que se concentram no solo à medida que as
US
CEes aj CE as (14) plantas retiram a água do mesmo. Uma lâmina de 100
U cc
mm mesmo com, relativamente, baixo teor de sais
(condutividade elétrica de 0,50 dS m-1 ou 320 mg L-1 de
Assim, CEes e CEes, assumindo a precipitação do sólidos dissolvidos totais), pode incorporar no solo cerca
CaCO 3, foram respectivamente 2,22 e 4,01 dS m-1, de 320 kg ha -1 de sais, sendo que cada irrigação ou
lâmina adicional provocaria um aumento progressivo se
representando uma redução de 30,8 e 33,9% em relação
estes sais não forem lixiviados ou sofrerem qualquer
aos valores obtidos sem considerar as precipitações. Por
outra transformação - precipitação ou retirada pelas
outro lado, as médias aritmética e ponderada da RAS
plantas. Na presença do lençol freático alto, a água
apresentaram um aumento de 51,3 e 45,3%, quando se
ascende por capilaridade na zona radicular à medida que
efetuou a correção da precipitação do Ca.
esta é evapotranspirada. A rapidez deste processo
a.3- Necessidade de lixiviação para se obter o depende do manejo da irrigação, da concentração de sais
rendimento potencial de 90%. na água do lençol, da profundidade do lençol freático, do
Considerando os parâmetros de tolerância para o tipo de solo e do clima (Ayers & Westcot, 1999).
tomate, aplicando a Eq. (1), a salinidade do solo para o Na agricultura irrigada, a utilização indiscriminada de
rendimento de 90% é de 3,5. águas com concentração elevadas de sais pode salinizar
Utilizando a planilha de cálculo acima, para FL de os solos, comprometendo a produção das culturas.
0,02 a 0,30, têm-se os seguintes valores de salinidade do Porém, existem amplas evidências em todo o mundo, que
solo para irrigação convencional e de alta frequência: águas de alta salinidade, classificadas como inadequada
304 José F. de Medeiros & Iarajane B. do Nascimento
para irrigação, podem ser usadas na irrigação de várias Nas culturas moderadamente tolerantes (mamão,
culturas selecionadas sob certas condições (Rhoades et abobrinha, sorgo, etc.) a irrigação convencional pode ser
al., 2000). utilizada sem nenhuma restrição quando se utilizar águas
Alguns autores (Medeiros et al., 2003; Maia, 1996) com CE a ≤ 1,75 dS m-1,contudo estas culturas não
verificaram a existência de relações entre diferentes suportam irrigação com águas de CEa ≥ 5dS m-1, sem que
características da água. Na Tabela 5 são apresentadas
haja prejuízo. Para se utilizar águas com CEa de 2,5; 3,5
relações existentes entre a CE e as concentrações de
e 4,5 dS m-1 sem redução do seu rendimento, é preciso
(Ca 2++ Mg2+ , Ca 2+, Na + e Cl-), as duas podem ser
adicionar lâmina de irrigação com frações de lixiviação
estimadas com boa precisão (R2 > 0,69) a partir da CE, ≥ 5%, 10% e 18%, respectivamente.
crescendo todos proporcionalmente com a salinidade da
água, enquanto o HCO 3- não apresentou correlação Utilizando-se irrigação de alta frequência (Figura 6),
significativa, mas podendo ser obtido por diferença observa-se que todas as águas avaliadas podem ser
(HCO 3 =Ca+Mg+Na-Cl). De uma forma geral, as aplicadas na irrigação das culturas tolerantes. Para
relações foram similares entre as épocas, exceto para a moderadamente tolerantes, existem restrições para águas
relação Na x CE, cujas águas mais salina tenderam a com CEa > 3,5 dS m-1.
apresentar maiores teores de Na.
FL (%)
Figura 6. Comportamento da CEes em função da CEa e da
O uso da irrigação com águas de qualidade inferior em fração de lixiviação aplicada através de métodos de
regiões semi-áridas exige manejo adequado, com irrigação de alta freqüência
aplicação de frações de lixiviação e o uso sistemas de
drenagem como estratégia para minimizar a acumulação Para a cultura do melão, considerada moderadamente
de sais na área do sistema radicular das culturas. sensível, não pode ser irrigada sem que haja prejuízo pela
Na Figura 5 verifica-se que as culturas classificadas água de CEa ≥ 3,5 dS m-1 (Figura 6). Já as águas de 2,5
como tolerantes (algodão, coqueiro, grama) podem ser dS m-1 podem ser utilizadas sem prejuízos na produção,
irrigadas sem nenhuma restrição pelo método convencional desde que se aplique fração de lixiviação ≥ 14%.
quando se utiliza águas com CE ≤ 3,5 dS m-1. Já as águas
com CEa a 4,5 apresenta restrição para o uso convencional EXPERIENCIAS NO NORDESTE
em culturas tolerantes, recomendando-se uma lixiviação BRASILEIRO COM ÁGUA SALINA
de ≥ 8 % .
Na área semi-árida do Brasil, embora exista uma boa
disponibilidade de água doce, há uma má distribuição
espacial, muitas vezes distante dos bons solos para
irrigação. Um exemplo concreto disso ocorre na área da
CEes (dS m-1)
Figura 7. Rendimento comercial (A) e peso médio de fru- Figura 8. Lâmina de irrigação e de chuva ocorrida durante o
tos das cultivares de melão Trusty (C1) e Orange flesh cultivo de melão, milho e melão. Cultivo de milho foi
(C2) (B) submetidas a diferentes níveis de salinidade de realizado 120 dias após o início do Exp. I e o segundo
água de irrigação (Barros, 2002) ciclo do melão 335 dias após o início do Exp. I
segundo ciclo, a salinidade média na zona radicular, ao econômica quando essa cultivar foi irrigada com água de
longo de cada ciclo, foi reduzida linearmente com o máxima salinidade equivalente CEa = 2,4 dS m-1 e
aumento da lâmina de irrigação (Figura 10). adubada com doses maiores de K2O.
No caso do coqueiro admite-se que possua elevada
tolerância aos sais, levando em consideração os cultivos
existentes na orla marítima. De acordo com Ferreira Neto
et al. (2002) a água de irrigação com CE de até 10
dS m-1 pode ser utilizada no cultivo de coqueiro anão,
Salinidade do solo (dS m-1)
quer seja da produção total quer seja da produção o uso de água de águas de salinidade incremental sendo
comercial, entretanto, na produção total as perdas utilizada na irrigação do melão, onde se verifica, que o
relativas por unidade de salinidade acima do menor uso de águas salinas no terço final do ciclo não provoca
nível utilizado para produtividade, número de frutos por efeitos negativos à cultura.
planta e peso médio de frutos foram respectivamente de
8,0, 3,2 e 3,5%/(dS m-1), enquanto para a produção (A)
comercial os respectivos valores foram 10,3%, 7,9% e
3,2%/(dS m-1). Constataram ainda que as doses de
nitrogênio incrementaram a produção, exceto para peso
médio de frutos comerciais.
Na Figura 12 (A e B) mostra a produção de melancia
Mickely irrigada com água de diferentes salinidade
Verifica-se que a salinidade influenciou linearmente
parâmetros analisados, sendo a característica mais
afetada a produtividade com uma redução de ate 41,28%
em relação ao menor nível salino. (B)
(A)
ciclo cultural, apresentando um decréscimo no peso de Bresler, E.; Hoffman, G. J. Irrigation management for salinity
2,61 kg por incremento unitário da salinidade acima de control: theories and tests. Soil Science Society of America
CEes=1,7 dS m-1, representando uma perda relativa de Journal. Stanford University, Stanford - California. v.50,
rendimento de 26%/(dS m-1). Assumindo 1,7 dS m-1 p.1552-1560, 1986.
como sendo a salinidade limiar, que na realidade seria Campos, I. S.; Assunção, M. V. Efeitos do cloreto de sódio na
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