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A gestão dos dados sobre a pandemia nas prisões:

REFLEXÕES NA PANDEMIA
Uma comparação entre as práticas de ocultamento das
secretarias de administração prisional do RJ e DF
Camila Prando
Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil
Rafael Godoi
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

A
gestão da pandemia de Covid-19 nas prisões convoca a atuação de inúmeros atores
institucionais e da sociedade civil a se organizarem diante de novas demandas e
antigas estruturas. Neste texto, pretendemos compreender comparativamente de
que modo as autoridades penitenciárias do Rio de Janeiro e do Distrito Federal vêm
organizando a produção e a divulgação de informações oficiais sobre a expansão do
contágio da Covid-19 no interior das unidades prisionais.
O recorte proposto não decorre apenas de nossas respectivas inserções institucionais. O Rio
de Janeiro foi o primeiro estado a confirmar a morte em decorrência da doença de uma pessoa
presa, em 17 de abril, e é o segundo estado com mais mortes no cárcere atribuídas à infecção; por
sua vez, o Distrito Federal se destaca por abrigar o sistema penitenciário com o maior número de
casos confirmados1. E para além da relevância de cada caso, o exercício comparativo aqui
proposto nos parece particularmente interessante porque revela estratégias diversas de gestão de
informações sobre a evolução da pandemia em contextos carcerários, sendo que tais estratégias
comunicacionais são indissociáveis das políticas de diagnóstico e cuidado postas em prática (ou
não) pelas autoridades penitenciárias em questão.
Dados e métricas sobre a pandemia não são o resultado de um fenômeno da natureza que se
transcreve objetivamente em números; são, antes, o produto de constantes negociações e disputas entre
múltiplos atores institucionais e da sociedade civil, nas quais se definem o que se registrará ou não,
como tais registros serão produzidos e divulgados, quem os acessará, quando e como esses diversos
expedientes se darão. Importam, sobretudo, porque acionam modos de diagnosticar e intervir na
expansão do contágio e provocam, por consequência, efeitos de produção e/ou violação de direitos2.
Exploramos os diversos modos de gestão de informações da pandemia no cárcere a partir de duas
estratégias metodológicas principais. Em um primeiro movimento, comparamos conteúdos e
analisamos a evolução dos boletins informativos da Secretaria de Administração Penitenciária do Rio
de Janeiro (Seap-RJ) e da Subsecretaria do Sistema Penitenciário do Distrito Federal (Sesipe-DF). Tais
boletins materializam o discurso oficial a respeito da pandemia nas prisões em ambos os estados. O
acompanhamento diacrônico de sua produção nos permite observar escolhas e modificações
significativas nesses enquadramentos oficiais. Uma vez que os documentos de Estado são aqui
entendidos como produto das relações de poder entre instituições3, em um segundo momento

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prospectamos dinâmicas de negociação e disputa, de fricção e alinhamento entre agências estatais


diversas e setores da sociedade civil que incidem na produção e divulgação dos dados. Para tanto,
recorremos ao Relatório Parcial sobre os Impactos do Covid-19 no Sistema Prisional do Rio de Janeiro,
produzido, divulgado e atualizado semanalmente pelo Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura
do Estado do Rio de Janeiro (MEPCT-RJ) e aos ofícios e à audiência pública produzidos pela Comissão
de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CDHM-DF).

Os boletins

Os boletins da Seap-RJ e da Sesipe-DF construíram retratos da pandemia nas prisões bastante


contrastantes, mas convergentes em seus efeitos. Em linhas gerais, enquanto as autoridades
prisionais do Rio de Janeiro tenderam a minimizar a gravidade e o alcance da pandemia, no
Distrito Federal elas zelaram por manter uma imagem positiva da administração, fortemente
associada à eficiência na prevenção e controle do contágio. Em ambos os casos, as informações
veiculadas referendavam a violação de direitos das pessoas presas — as quais poderiam se
beneficiar de maior proteção com uma política de desencarceramento em massa que reconhecesse
os altos riscos de contágio no interior dos espaços prisionais.
No Rio de Janeiro, a pandemia do novo coronavírus foi mencionada pela primeira vez na
página eletrônica da Seap-RJ4 em 17 de março, em notícia sobre o decreto governamental que
estabelecia a suspensão das “visitas em todo o sistema prisional fluminense”. Nas semanas seguintes,
notícias esparsas divulgavam ações pontuais, como uma reunião do titular da pasta com o Ministro
da Justiça e o recebimento de doações de kits de higiene da Igreja Universal do Reino de Deus. O
tom ligeiro dessas notícias só foi quebrado entre meados de abril e o início de maio, quando uma
sequência de notas oficiais da Secretaria comunicava a morte por Covid-19 de um servidor e de
quatro pessoas privadas de liberdade — todas elas ocorridas no Pronto-Socorro Geral Hamilton
Agostinho (PSG-HA), no Complexo de Gericinó. As notas informavam unidade de origem e idade
do apenado, data da internação, do óbito e do resultado do exame de RT-PCR5 coletado; também
anunciavam a distribuição de máscaras a idosos, a verificação de temperatura de presos e
funcionários, o acompanhamento dos sintomas de presos isolados e a intensificação das medidas de
higiene de todas as unidades. Apenas depois dessa funesta sequência de notas, a Seap-RJ passou a
divulgar, a partir de 6 de maio, boletins diários sobre a evolução da pandemia nas prisões do estado.
O boletim da secretaria fluminense se divide em duas partes: a primeira veiculando os dados do
contágio e a segunda, as medidas adotadas pela administração. No começo de maio, os dados do
contágio se restringiam aos quatro óbitos mencionados e as medidas destacadas eram as mesmas já
presentes nas notas oficiais. Vale enfatizar que não só a mesma estrutura se repete nos boletins, como o
mesmo texto é republicado por dias a fio. Em 13 de maio, a Seap-RJ registrou o número de cinco testes
positivos, acrescendo aos quatro óbitos um primeiro e único caso de “positivo custodiado”. Essa mesma
estrutura dos dados do contágio se mantém até o final desse mês, quando o boletim reporta que

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[Vinte] apenados testaram positivo para a Covid-19, por testes de Swab nasal. (...) Entre estes, oito passam bem.
Um teve liberdade da Justiça e os outros sete estão isolados dos outros privados de liberdade nas unidades, onde
estão acautelados e acompanhados pela equipe de saúde. Houve 12 óbitos confirmados, sendo 11 ocorridos no
Pronto-Socorro Geral Doutor Hamilton Agostinho e um no Hospital Pedro II, onde o referido interno estava
internado por outro diagnóstico e adquiriu a doença.

Surpreendentemente, em junho a Secretaria não registrou nenhum óbito por Covid-19 no sistema
carcerário fluminense e os testes de RT-PCR com resultados positivos, realizados no PSG-HA, variaram
apenas de 21 a 28 no decorrer de todo o mês. No dia 3, apareceram os primeiros dois registros de casos
confirmados por “testes rápidos” realizados nas “referidas unidades onde estão acautelados”. Esses
registros só evoluíram a quatro até o dia 23 e, abruptamente, saltaram para 83 em 24 de junho. Entre este
dia e o 29 do mesmo mês, os boletins da Seap-RJ trouxeram a maior diversidade de dados de todo o
período analisado, reportando ainda o número de 36 “positivos custodiados”, de 1.661 testes rápidos
aplicados em servidores, dos quais 201 resultaram positivos, além de mencionar ainda os quatro óbitos
de funcionários ocorridos até o final de maio. A partir de julho, no entanto, as informações se retraíram
a seu grau mínimo: o órgão deixou de especificar o número de testes aplicados por tipo, unificando as
cifras das categorias de exames; abandonou a classe dos “positivos custodiados” e se limitou a indicar a
realização de testes rápidos “em mais de 1.500 servidores”. Em 3 de julho, depois de mais de um mês de
intervalo, a Secretaria reportou mais um óbito de interno por Covid-19 nos seguintes termos: “Ao todo,
houve 13 óbitos, sendo 11 ocorridos no Pronto-Socorro Geral Doutor Hamilton Agostinho; um no
Hospital Pedro II; e um no Hospital Ferreira Machado [em Campos dos Goytacazes]”.
No Distrito Federal, em 12 de março, a Sesipe-DF6 emitiu a primeira notícia relacionada à
Covid-19 também anunciando a suspensão temporária de visitas em todas as unidades prisionais.
Pouco mais de uma semana depois, divulgava as seguintes medidas preventivas: “distribuição de
cartilha e informativos a servidores e internos”, “higienização de celas e viaturas” e “dentro da
possibilidade de cada unidade” extensão de 2h para 3h de banho de sol para internos. Também
informava a destinação de alas específicas para idosos em cada unidade, e o isolamento de presos
que estavam em regime de trabalho externo7, além de quarentena aos recém-chegados.
Apenas em 13 de abril a secretaria brasiliense divulgou o seu primeiro boletim sobre Covid-
19. Eles foram emitidos diariamente, salvo finais de semana, até 17 de junho. Em todo esse
período, é possível apreender três características principais da narrativa sobre a pandemia nas
prisões do DF. Em primeiro lugar, a administração prisional construiu de modo inédito uma
agenda sanitária e de saúde para a população carcerária, tanto por meio de enquadramentos das
informações, quanto por meio das imagens veiculadas no boletim e na página eletrônica do
órgão8. Em segundo lugar, a produção das categorias e dos enquadramentos sobre os números de
contágio na população prisional promoveram a minimização e o apagamento dos efeitos da
pandemia nas prisões. Em terceiro lugar, a narrativa dos boletins, em consonância com os
discursos de outras agências do sistema prisional, construiu uma imagem positiva de eficiência
da administração penitenciária fortemente relacionada à política de testagem adotada.

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No DF, a estrutura dos boletins também se dividia em dois tópicos. No primeiro,


apresentavam os números sobre o contágio e sua distribuição por unidades prisionais,
produzindo categorias e enquadramentos sobre contaminação e condições de saúde, de
internos e policiais penais. No segundo, enumeravam as medidas já adotadas pela Secretaria —
a realização de testes, medidas sanitárias e de assistência à saúde (desinfecção de unidades,
isolamento, vacinação, instalação de consultórios médicos, por exemplo), fluxos de
comunicação de internos com familiares (suspensão de visitas, envio de cartas, visitas on-line)
e acesso à justiça (atendimentos de advogados, parlatórios virtuais).
O primeiro boletim, de 13 de abril, noticiou o registro de 20 “agentes penais positivos”,
23 “reeducandos positivos”, um “agente recuperado”, zero “casos graves”. O
enquadramento do contágio no DF já se iniciou com a produção da categoria
“recuperados”9, demarcando desde então uma solução positiva e eficiente da gestão, mesmo
que o número de testes aplicados fosse ainda baixo10 e a divulgação sobre a política de
testagem não conformasse o eixo central da imagem de eficiência.
Dez dias depois, o boletim começou a divulgar o enquadramento dos “internados com
sintomas moderados”, distinguindo-os dos “internados com sintomas graves”, e noticiou
que, naquela data, além dos 36 policiais e 98 detentos com resultados positivos, outros três
custodiados estavam internados em estado de saúde moderado no Hospital Regional da Asa
Norte (HRAN) — buscando, então, reforçar uma narrativa de eficiência no fluxo de
cuidados de saúde, descrita no boletim nos seguintes termos: “Destacamos que reeducandos
que por ventura apresentem algum tipo de agravamento no estado de saúde são
imediatamente encaminhados para o HRAN” 11. Essa narrativa, no entanto, foi desmentida
pelo terceiro óbito oficial de detento por Covid-19 em 20 de junho: o enfermo foi
encaminhado ao hospital em estado muito agravado e morreu no mesmo dia.
Em 29 de abril, o boletim noticiou 70 policiais e 153 pessoas presas diagnosticados como
positivos, 13 recuperados, e seis detentos internados. Pela primeira vez, incluiu ainda dois
detentos na categoria “internados com sintomas graves”. Mas, para tanto, especificou que
ambos apresentavam comorbidades e necessitavam de “cuidados especiais”. Assim dito nas
palavras do boletim: “Seis internos que apresentaram sintomas da doença estão internados, por
precaução, no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Dois deles têm comorbidades e
necessitam de cuidados especiais”12. Com isso, o enquadramento da gravidade dos sintomas
passou a ser associado às comorbidades, de modo a produzir um efeito de atribuição da causa
do estado agravado de saúde à própria condição do detento e, por consequência, preservar a
imagem de eficiência no atendimento à saúde das unidades prisionais.
Em 4 de maio, o boletim começou a divulgar os números de testes aplicados, sem identificar
quantos se destinaram a servidores e quantos à população prisional, nem discriminar com
precisão quais unidades prisionais haviam sido contempladas ou quais os tipos de testes usados.
No entanto, ao noticiarem a aplicação de “quase mil testes entre internos e policiais no DF”,
exaltavam a eficiência da gestão da pandemia nos seguintes termos:

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[T]ais iniciativas têm se mostrado muito eficazes, pois, apesar de apresentar cerca de 70% dos casos
detectados no sistema prisional brasileiro, de acordo com o Painel Covid-19 do Departamento
Penitenciário Nacional (Depen), o DF possui atualmente uma taxa de 0% de letalidade. No restante do
país, 13 internos morreram da doença até o momento.

O alto número de internos e servidores identificados como positivos no sistema prisional do


DF gerou ampla visibilidade pública sobre o tema (MALATRASI, 29/04/2020; PINHEIRO,
01/05/2020; G1, 29/04/2020; DIOGO, 06/05/2020). Em relação aos dados das demais unidades
prisionais, divulgados pelas secretarias dos estados e pelo painel do Depen13, o Distrito Federal
concentrava a maioria absoluta dos casos positivos. Os boletins se utilizaram dessa relação entre
a ausência de testes nas demais unidades federativas e aqueles então aplicados no DF para
construir a narrativa da eficiência, ainda que, naquele momento, nem 6% da população prisional
distrital tivesse sido efetivamente testada. Mesmo com a opacidade dos dados sobre a política de
testagem, o boletim passou a articular uma ideia de eficiência da gestão prisional, a aplicação de
exames e o baixo índice de letalidade.
Em 7 de maio, o boletim passou a divulgar o percentual de recuperados, incluindo
apenas as unidades prisionais que registravam mais de 50% de policiais penais ou de
internos recuperados. Em 11 de maio, menos de um mês após o início das edições do
boletim, os informes suprimiram dados sobre a situação dos internos e passaram a
informar apenas sobre os policiais penais. Segundo a Sesipe-DF, este apagamento se
deveu a um “alinhamento” com a Secretaria de Saúde (SESDF), que se tornou responsável
pela produção dessas informações. No entanto, os boletins diários da SESDF passaram a
informar apenas o número de pessoas contaminadas na população privada de liberdade,
sem especificações mais detalhadas sobre situação de saúde dos contaminados ou sobre
as unidades prisionais nas quais haveria contágio.
Em 18 de maio, o informe noticiou, além dos “mais de 3100 testes”, o primeiro óbito
de um policial penal e, no dia seguinte, o primeiro óbito de um interno. No dia 26, um
decreto governamental retirava a Subsecretaria de Gestão Penitenciária da alçada da
Secretaria de Segurança Pública, dando origem à nova Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF) — sem, no entanto, maiores
alterações de pessoal.
Após aquele primeiro óbito de interno, o boletim deixou de associar a narrativa de
eficiência com a porcentagem de óbitos, passando a se fixar unicamente na testagem. As
mortes de internos que vieram a ocorrer posteriormente não foram publicamente
informadas pela Seape-DF 14. Em 17 de junho, o último boletim divulgava apenas um total
de 19 policiais penais positivos e 232 policiais recuperados, arrematando, assim, sua
imagem de eficiência pela via do apagamento da situação de saúde dos presos e da
projeção da categoria de recuperados.

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Fricções e alinhamentos

Consideramos importante desdobrar esta análise das informações dispostas nos boletins com
uma exploração dos arranjos e desarranjos institucionais, cujas negociações e disputas, fricções e
alinhamentos, conformaram o contexto geral de elaboração e enunciação desses discursos oficiais.
No Rio de Janeiro, desde 6 de abril o MEPCT-RJ vem publicando semanalmente seu
Relatório Parcial sobre os Impactos do Covid-19 no Sistema Prisional do Rio de Janeiro15. Tal
material registra as pressões do próprio Mecanismo e de outros agentes por informações e
providências, bem como as reações da Seap-RJ. Já na primeira semana da pandemia, em 19 de
março, o MEPCT-RJ oficiou a Secretaria, indagando sobre as condições de funcionamento do
PSG-HA, e o Comitê Estadual para a Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro (CEPCT-
RJ) oficiou a pasta demandando informações sobre as providências tomadas para a contenção do
contágio pelo novo coronavírus no sistema prisional fluminense como um todo. Em 24 de março,
o MEPCT-RJ, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPERJ), a Defensoria Pública
da União (DPU), o Ministério Público Federal (MPF), a seccional fluminense da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB-RJ), o Fórum Grita Baixada, a Frente Estadual pelo
Desencarceramento, o coletivo Maré 0800 e a Rede de Comunidades e Movimentos contra a
Violência oficiaram conjuntamente a Seap-RJ, pedindo esclarecimentos e providências sobre o
combate ao coronavírus nos presídios do estado.
Tais pressões resultaram no encaminhamento ao CEPCT-RJ, em 7 de abril, do Relatório de
Ações Tomadas pela Seap na Prevenção e Combate à Covid-19, no qual a secretaria elencava o
conjunto de medidas adotadas até aquele momento. Embora tal documento não tenha sido
divulgado publicamente, ele pode ser considerado uma primeira prestação de contas da Seap no
contexto da pandemia. O conteúdo desse documento é descrito e analisado em detalhe pelo
MEPCT-RJ em seu relatório semanal. Chama atenção o esforço da entidade em organizar as
diversas ações “por tema para melhor compreensão”, já que a Seap se limitava a listar “um
compilado de ações realizadas ou encaminhadas” por dia, sem sequer se propor a articular um
discurso minimamente elaborado sobre sua estratégia de enfrentamento da crise. A partir de
então, o Mecanismo intensificou e diversificou sua política de provocação por informações e
dados, oficiando diretamente diversas instâncias administrativas da Seap-RJ e mesmo unidades
prisionais específicas. As respostas a tais provocações tardaram e variaram bastante, mas traziam
informações mais detalhadas, como, por exemplo, o número de casos de síndrome gripal
identificados, de transferências de presos, de funcionários afastados entre outros. Não obstante
certas inconsistências, esses discursos oficiais confluíam no esforço de transmitir a sensação de
que a situação estava sob controle e que todas as medidas cabíveis estavam sendo tomadas.
Ainda em abril, outra iniciativa importante que obrigou a Seap a facilitar o acesso a
informações sobre a situação da pandemia nas prisões, as medidas adotadas e seus planos de
ação foi o estabelecimento, “a partir de um procedimento administrativo” levado a cabo pela
Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Saúde da Capital do MPE, de um grupo de

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trabalho (GT) “com objetivo de incidir sobre o fluxo de atendimento, apoiar e monitorar o
cumprimento das ações de atenção, prevenção e cuidado no interior do sistema prisional do
Rio de Janeiro”. O GT foi composto por representantes da Seap-RJ, da Secretaria Estadual
de Saúde (SES-RJ), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), da DPERJ, da referida
Promotoria, do próprio MEPCT-RJ e do Projeto Justiça Presente, do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ)16. Conforme os relatos do Mecanismo, as informações a circularem nesses
encontros retratavam, com maior riqueza de detalhes, o aparato de atenção à saúde das
pessoas presas, os recursos disponíveis, os encaminhamentos em curso, os planos de cada
agência e a complexa divisão de trabalho entre elas.
Para além da “via administrativa”, a via judicial também foi insistentemente mobilizada pelos
mesmos atores, no esforço de acessar informações qualificadas sobre a situação dos presos. Já em
28 de abril, a mesma Promotoria de Tutela Coletiva da Saúde e a DPERJ impetraram uma Ação
Civil Pública (ACP) com pedido de tutela de urgência responsabilizando os governos estadual e
municipal do Rio de Janeiro e a Associação Filantrópica Nova Esperança, que gere o PSG-HA,
pela insuficiência das medidas de prevenção e atenção à saúde de pessoas privadas de liberdade
no contexto da pandemia. Ainda que, já no dia 30, tal pedido tenha sido indeferido, a ACP
compõe o quadro de pressões múltiplas que, juntamente com o avolumar das mortes, caracteriza
o contexto imediato em que a Seap adotou uma política de comunicação alicerçada na publicação
de boletins diariamente “atualizados” em sua página eletrônica. Posteriormente, em 8 de maio, a
DPERJ ajuizou outra “ACP com pedido de tutela de urgência frente às reiteradas negativas em
fornecimento de informações sobre a saúde das pessoas presas no estado por parte da Seap”. No
dia 12, a liminar foi parcialmente deferida, determinando que a secretaria repassasse à DPERJ os
documentos solicitados, tais como laudos médicos e boletins de atendimento médico (BAM) de
pessoas custodiadas doentes ou que vieram a falecer.
Se essas pressões elencadas são importantes para compreender a conformação de uma
política de comunicação da Seap limitada à reatividade, completar a caracterização desse contexto
exige ainda levar em consideração uma pressão muito maior que, nesse período, atingiu a política
sanitária do governo estadual como um todo. Já em 11 de abril, o secretário executivo da SES-RJ
responsável pelos contratos emergenciais de compra de respiradores, testes e EPIs foi afastado sob
suspeita de fraudes e desvios (TV GLOBO, 11/04/2020). Em 7 de maio ele e outros servidores da
SES foram presos na Operação Mercadores do Caos (COELHO e TORRES, 07/05/2020), levada a
cabo pela Polícia Civil e pelo MPE. Os desdobramentos dessa investigação levaram à queda de
dois secretários estaduais de saúde e à prisão de um deles (BRASIL, FIGUEIREDO, GUEDES,
ROUVENAT e COELHO, 10/07/2020). Ademais, ainda em maio, o próprio governador Wilson
Witzel, além de sua esposa e outros suspeitos foram alvos da Operação Placebo, conduzida pela
Polícia Federal (PF), para investigar denúncias de corrupção nos contratos firmados pelo governo
estadual para construção de hospitais de campanha (LUCCHESE, HAIDAR, PALMA, PEIXOTO,
COELHO, FALCÃO, FIGUEIREDO e ABREU, 26/05/2020).

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À diversidade de pressões sociais e institucionais sofridas pela Seap-RJ corresponde uma


diversidade de dados facilitados, informações dispersas, desarticuladas, por vezes divergentes.
Durante toda a pandemia, o MEPCT-RJ procurou sistematizar e interpretar esse emaranhado.
Duas de suas observações são particularmente importantes — e contrastantes com a realidade do
DF. No que se refere à política de testagem adotada nas prisões do Rio de Janeiro, o Mecanismo
observa que o baixo número de testes aplicados, bem como a proximidade entre a data de coleta
de material para “testes de Swab nasal” e de registro dos óbitos dos internos, indicam que a
testagem só é feita em casos muito graves. Ademais, o cruzamento de informações também aponta
que, no geral, “os presos que conseguem acessar a saúde na rede externa e vem a óbito, não estão
sendo contabilizados como óbitos da Seap”. O modo como são apresentados nos boletins da pasta
os dois óbitos que não ocorreram no PSG-HA mais corrobora do que contradiz esse “cuidado”.
Embora esse verdadeiro quebra-cabeças esteja longe de ser montado, já é possível perceber
como essa multiplicidade de informações disparatadas, facilitadas por provocação, circulando por
diversas vias, confluem na produção de uma imagem da pandemia nas prisões fluminenses que
minimiza sua importância e suas dimensões. Entretanto, só entre 11 de março e 15 de maio, o
sistema prisional do estado registrou um crescimento de 33% do número total de óbitos em
comparação com mesmo período de 2019 (SATRIANO, 20/05/2020). Segundo dados do MEPCT-
RJ, entre 1o de janeiro e 20 de julho de 2020, foram registrados 97 óbitos nas prisões do estado.
Considerando os últimos 18 meses, a Seap-RJ registrou um pico de mortes em abril de 2020 e,
surpreendentemente, o menor número de casos em junho.
Em contraste com um processo de pressões institucionais que levaram a um movimento
reativo e descoordenado da Seap-RJ, no caso do Distrito Federal se desenhou um forte
alinhamento entre a Vara de Execução Penal (VEP), o MP e a Sesipe/Seape. Tal alinhamento
obstou um tensionamento com as decisões contrárias ao desencarceramento, emitidas pela VEP,
ou com outras medidas administrativas, tanto em relação à opacidade de informações públicas
quanto à comunicação precária com familiares. Com o decorrer da pandemia, o alinhamento
aprofundou uma narrativa sobre a eficiência da gestão da pandemia associada ao número de testes
aplicados e acompanhada por uma política de sigilo e apagamento cada vez maior.
Ainda em março, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) instituiu o
Grupo de Monitoramento Emergencial de Covid-19 nas Prisões, formado por representantes do
Poder Judiciário, do MP, da Sesipe-DF e do SESDF — deixando de fora representantes de grupos
de familiares, conforme prescrevia a Recomendação 62 do CNJ. O forte alinhamento
interinstitucional ficou ainda mais evidente no começo de maio, quando a narrativa da eficiência
calcada em elevada testagem e evitação de óbitos se consolidou simultaneamente à determinação
da juíza titular da VEP para a alteração da regra de publicidade sobre os dados de saúde dos
internos17. A partir de então, definiu-se sigilo absoluto sobre a situação de saúde dos presos, com
acesso apenas para o MP e a Defensoria Pública do Distrito Federal e Territórios (DPDFT). Os
demais acessos passaram a ser disponibilizados apenas mediante judicialização. Assim, aquela
narrativa oficial da eficiência ganhou força no mesmo momento em que uma estratégia de sigilo

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e opacidade sobre os dados se aprofundava. No boletim de 11 de maio, a Sesipe-DF não hesitava


em declarar oficialmente que: “O trabalho de prevenção e de enfrentamento à Covid-19 no
sistema prisional é realizado de forma alinhada com a Secretaria de Saúde (SES), a Vara de
Execuções Penais (VEP/TJDFT) e o Ministério Público do Distrito Federal, que também
entenderam a urgência e a relevância do problema”.
Em 25 de maio, em audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM-DF), o alinhamento estratégico entre esses atores
também se manifestou em declarações sobre a pandemia nas unidades prisionais do Distrito
Federal. A métrica do contágio fundada na omissão de informações e na narrativa da eficiência
associada a uma política de testes foi reforçada e acionou a legitimidade para obstar o
desencarceramento como medida preventiva de contágio no interior do sistema penitenciário. Os
representantes do MP manifestaram acordo com a ideia de eficiência da gestão e demonstraram
preocupação com os pedidos de “soltura indiscriminada”18. O representante do Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, por sua vez, afirmou que o caso do
DF era um exemplo a ser seguido na prevenção ao contágio, em razão do alto número de testes —
que, no entanto, àquele dia da audiência, não representava sequer 15% da população prisional
distrital. O titular da Sesipe-DF reforçou o alinhamento institucional com a VEP, o MP, a DPDFT
e a SESDF, e afirmou, manifestando-se contrário ao desencarceramento, que “o indivíduo que
comete furtos, por exemplo, faz isso sem parar até ser preso. Tem que soltar com responsabilidade”.
Vale reconhecer que, no DF, a Defensoria Pública tem atuado com insistência na solicitação de
medidas de desencarceramento (progressão antecipada de regime de pena e prisões domiciliares),
por meio de ações individuais e coletivas, mas não tem obtido sucesso em virtude das negativas da
VEP e do TJDFT. No entanto, não encontramos ações específicas para acompanhar e controlar os
fluxos de cuidado em saúde e a produção transparente de informações produzidas pela Sesipe/Seape,
de modo que não observamos maiores tensões nessa agenda. No DF, não existe um Mecanismo
Distrital de Prevenção e Combate à Tortura, como no Rio de Janeiro, a Frente Distrital pelo
Desencarceramento tem uma formação recente e as organizações de familiares ainda apresentam
dificuldades de articulação. Tais fatores ajudam a compreender como os tensionamentos presentes
na produção de informação e transparência na gestão da Covid-19 não foram suficientes para
desestabilizar o forte alinhamento das agências institucionais em sua narrativa hegemônica.
A Câmara Distrital, por meio da sua Comissão de Direitos Humanos, tem atuado talvez
como um dos agentes mais importantes na produção de fricções com os agentes estatais por meio
de solicitações de informação sobre violações de direitos e sobre falta de dados transparentes. A
Comissão criou um canal de atendimento sobre violações no sistema prisional do DF e já recebeu
mais de 300 denúncias nesse período referentes a: insalubridade das unidades, falta de
comunicação e de informação sobre a situação de saúde dos internos, precariedade no
atendimento de saúde a doentes crônicos e fornecimento de alimentação e produtos de higiene.
Ela tem atuado com o encaminhamento oficial de ofícios para atender às demandas por
informações e por meio de uma inspeção nas unidades prisionais ocorrida no início de julho.

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Nesse mesmo período e assim como no Rio de Janeiro, MP e Polícia Civil deflagraram uma
investigação sobre irregularidades na compra de testes de Covid-19 pelo governo distrital (G1,
02/07/2020). No entanto, até o momento em que escrevemos estas linhas, os impactos de tais
ações ainda não podem ser bem dimensionados.

Retratos da pandemia nas prisões

Aqui nos deparamos com dois retratos da pandemia nas prisões, resultantes de processos
distintos de conformação dos discursos oficiais, ligados a divergentes estratégias de ação das
autoridades penitenciárias, bem como a ambientes institucionais e conjunturas políticas diferentes.
Os boletins oficiais das autoridades penitenciárias do estado do Rio de Janeiro sobre a
evolução da pandemia no cárcere podem ser descritos como assépticos, constritos e minimalistas.
Procuram passar a impressão de que não há muito o que dizer sobre a matéria e que estão fazendo
o necessário para sanar a crise. Tentam comunicar uma sensação de normalidade, de que as
autoridades têm tudo sob controle. Desprovidos de uma política proativa de diagnóstico e
contenção do contágio — que se revela, por exemplo, no baixíssimo número de testes aplicados
— e dispondo de um sistema de atenção à saúde já colapsado muito antes da pandemia19, os
gestores do sistema prisional fluminense tendem a tergiversar. Para eles, em nenhum momento a
situação se mostrou realmente grave. Informações mais detalhadas sobre a situação no interior
das prisões, as medidas adotadas e planejadas vieram à luz, sobretudo, por pressão de uma densa
rede de atores comprometidos com a defesa dos direitos humanos, o desencarceramento e a
preservação da vida, abarcando articulações da sociedade civil — como a Frente Estadual pelo
Desencarceramento —, órgãos governamentais específicos — como o MEPCT-RJ — e
determinadas agências do sistema de justiça — como a DPERJ e o MP.
A narrativa sobre a gestão da pandemia nas prisões no DF seguiu uma estratégia diversa. Diante
de um estreito alinhamento entre as principais agências estatais na gestão carcerária, as denúncias
de violações e a falta de informação reclamadas por familiares ganharam pouca força e vocalização.
Nesse cenário, a VEP, o MP e a Sesipe/Seape se apresentaram como os principais atores na gestão
da pandemia. A produção de uma narrativa homogênea em torno da imagem da eficiência da gestão
em virtude do número de testes aplicados se organizou primeiramente na produção dos boletins e
se expandiu nas manifestações públicas e oficiais desses atores. No entanto, concomitantemente à
consolidação da narrativa da eficiência, que ganhou força especialmente em maio, aprofundou-se
uma política de sigilo, ocultação e opacidade de dados. A narrativa, em oposição àquela construída
no Rio de Janeiro, reconheceu a pandemia como um problema a ser enfrentado. A própria imagem
da eficiência e da política bem-sucedida no enfrentamento à Covid-19 dependia do reconhecimento
de sua gravidade. No entanto, a narrativa se consolidou contra o reconhecimento de direitos da
população prisional, seja pelo apagamento das denúncias de familiares e das informações sobre a
saúde dos presos, seja pelo descumprimento reiterado da Recomendação 62 do CNJ.

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A gestão das secretarias de administração prisional e os modos como enquadram a morte e


a saúde da população carcerária abrem uma agenda de pesquisas sobre as formas pelas quais
práticas administrativas e comunicacionais produzem condições de possibilidade para o
reconhecimento ou, no limite, a negação da vida dessa população. A pandemia leva ao extremo
esses modos de gestão. Nos casos aqui analisados, ao nos debruçarmos sobre os enquadramentos
oficiais da morte e da saúde da população prisional, divisamos formas heterogêneas, mas
convergentes, de gestão de dados da pandemia e de populações aprisionadas. Na medida em que
os enquadramentos apagam os rastros da violência dentro das prisões, eles negam também a
possibilidade social de enlutamento dessas vidas e da formulação de demandas por justiça,
condições essas necessárias para o reconhecimento da vida, conforme nos ensina Butler
(2015[2009]). Investigar as operações de poder e as categorias com que as agências estatais
apreendem a vida e a morte da população prisional compõe o esforço em tentar subverter os
enquadramentos do Estado em instrumentos de crítica e colocá-los para circular em contextos
capazes de gerar indignação e demandas por justiça pelas vidas negadas, lesadas e perdidas.

Notas

1
Ver (on-line): https://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario/covid-19/registros-de-contagios-obitos/
2
Para uma reflexão sobre o lugar da estatística na estruturação de sistemas de governo e na instrumentalização de
políticas públicas ver, respectivamente, Desrosières (1998) e Lascoumes e Le Gales (2007). Para uma reflexão mais
abrangente sobre dimensões diversas das estatísticas da pandemia, ver Motta (2020).
3
Conforme Muzzopappa e Villata (2011).
4
Os boletins da Seap-RJ estão disponíveis (on-line) em: http://www.rj.gov.br/secretaria/NoticiaListar.aspx (acesso em
28/07/2020).
5
Exame que identifica a presença do vírus no organismo em seu período ativo, considerado o mais eficaz para diagnosticar
a Covid-19 e para municiar medidas de contenção do contágio.
6
Os comunicados da Sesipe estão disponíveis (on-line) em: http://www.sesipe.ssp.df.gov.br/category/modulo-carrossel-
de-destaques-principais/ (consulta em 28/07/2020).
7
No Distrito Federal, os presos que já haviam adquirido direito a saídas temporárias e trabalhos externos retornaram às
unidades prisionais em tempo integral. No Rio de Janeiro, por sua vez, de todos os sentenciados que tiveram acesso à
prisão domiciliar, os que estavam nessas condições não só constituem a maioria, como foram o grupo mais prontamente
beneficiado.
8
A discussão sobre a produção de imagens e informações no site e no boletim e a construção da agenda de saúde e
sanitária merecem um estudo mais aprofundado, que não será desenvolvido neste texto. Para uma reflexão sobre como
um processo análogo se desenvolve no estado do Amazonas, ver Candotti (30/07/2020).
9
Vale notar que posteriormente o Ministério da Saúde irá adotar a mesma estratégia para comunicar dados da pandemia
no país como um todo. Ver Correio Braziliense (20/05/2020).
10
Na ocasião, a secretaria divulgou a realização de testes rápidos em 332 internos e 126 agentes da ala em que os primeiros
casos haviam sido detectados.
11
Ver (on-line): http://www.ssp.df.gov.br/%f0%9f%93%8a-balanco-sobre-a-covid-19-no-sistema-penitenciario-quinta-
feira-23-04/
12
Ver (on-line): http://www.ssp.df.gov.br/%f0%9f%93%8a-balanco-sobre-a-covid-19-no-sistema-penitenciario-quarta-
feira-29-04/
13
Para uma reflexão sobre o painel do Depen e o discurso de eficiência por ele veiculado, ver Prando, Freitas, Budó e Cappi
(03/06/2020). Sobre outras políticas levadas a cabo por esse departamento, ver Campello e Godoi (03/07/2020).

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Até 23 de julho o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Distrito Federal declarou terem ocorrido três óbitos
de internos por Covid-19. A Seape-DF, por sua vez, negou-se a responder pedido amparado na Lei de Acesso à Informação
(LAI) sobre o número total de óbitos nas unidades prisionais de janeiro a julho de 2020.
15
Ver a pasta Covid, disponível (on-line) em: http://mecanismorj.com.br/relatorios/
16
Embora o GT tenha se reunido já em abril, suas dinâmicas e deliberações só aparecem nos relatórios semanais do
Mecanismo a partir de junho. O relato das reuniões é revelador da dinâmica caótica de gestão interinstitucional da crise e
mereceria uma reconstituição mais detalhada e uma análise mais profunda que ultrapassaria as dimensões deste artigo.
17
Pedido de Providências. Poder Judiciário do Distrito Federal. Vara de Execuções Penais do Distrito Federal. Processo no
0401846-72.2020.8.07.0015.
18
A afirmação dos representantes do Ministério Público estão de acordo com a Nota Técnica 01/2020 Nupri/MPDFT, na
qual reforçam positivamente a política de testes no sistema prisional e afirmam que: “É importante salientar que após
consulta do MPDFT, o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) emitiu parecer informando que o
confinamento prisional (à semelhança do isolamento social) seria a medida mais apta a prevenir a contaminação de presos
por Covid-19. E, na hipótese de eventual necessidade de atendimento médico, os presos possuem atendimento prioritário
em todos os hospitais públicos do DF. Dessa forma, a soltura dos apenados, além de não ser adequada à saúde dos
detentos, acabaria por gerar um problema de segurança pública”.
19
Ver, a esse respeito, a entrevista feita por um de nós e colegas (GODOI, CAMPELLO e MALLART, 2020) com o MEPCT-RJ
e publicado nesta mesma seção.

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Referências

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2015[2009].
DESROSIÈRES, Alain. The Politics of Large Numbers: A History of Statistical Reasoning. Cambridge:
Harvard University Press, 1998.
GODOI, Rafael; CAMPELLO, Ricardo; MALLART, Fábio. “O colapso é o ponto de partida: Entrevista com
o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro sobre prisões e a Covid-
19”. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Reflexões na Pandemia (seção
excepcional), 2020. Disponível (on-line) em: https://www.reflexpandemia.org/texto-21
LASCOUMES, Pierre; LE GALES, Patrick. “Introduction: Understanding Public Policy Through its
Instruments – From the Nature of Instruments to the Sociology of Public Policy Instrumentation”.
Governance, vol. 20, no 1, pp. 1-21, 2007.
MOTTA, Eugênia. “‘Achatar a curva’: Estética, topografia e moralidade da pandemia”. Blog Dados, 2020.
Disponível (on-line) em: http://dados.iesp.uerj.br/estetica-da-pandemia/
MUZZOPAPPA, Eva; VILLALTA, Carla. “Los documentos como campo: Relexiones teórico-
metodológicas sobre un enfoque etnográfico de archivos y documentos estatales”. Revista
Colombiana de Antropología, vol. 47, no 1, pp. 13-42, 2011.

Fontes da imprensa

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“Edmar Santos, ex-secretário de Saúde, é preso no RJ: Ele é investigado por suspeitas de
irregularidades nos contratos assinados durante a pandemia de Covid no estado. Santos foi levado
para a Cidade da Polícia, onde chegou de cabeça baixa, capuz e boné”. G1, Rio de Janeiro, 10 de julho
de 2020. Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/2020/07/10/ministerio-publico-realiza-operacao-no-rj.ghtml
CAMPELLO, Ricardo; GODOI, Rafael. “Tranca, contêiner e bomba: a gestão penitenciária da pandemia
no Brasil”. Le Monde Diplomatique Brasil, Acervo Online, 3 de julho de 2020. Disponível (on-line)
em: https://diplomatique.org.br/tranca-conteiner-e-bomba-a-gestao-penitenciaria-da-pandemia-
no-brasil/
CANDOTTI, Fabio Magalhães. “‘Tem irmão morrendo aqui dentro!’: A gestão carcerária-militar (do
limite) da vida”. Le Monde Diplomatique Brasil, Acervo Online, 30 de julho de 2020. Disponível
(on-line) em: https://diplomatique.org.br/tem-irmao-morrendo-aqui-dentro-a-gestao-carceraria-
militar-do-limite-da-vida/
COELHO, Henrique; TORRES, Lívia. “Ex-subsecretário de Saúde do RJ é preso por suspeita de fraude na
compra de respiradores: Gabriell Neves foi exonerado em abril pelo governador Wilson Witzel, após
suspeita de irregularidades. Outras três pessoas também foram presas e uma ainda está foragida”. G1,
Rio de Janeiro, 7 de maio de 2020. Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/2020/05/07/mprj-realiza-operacao-nesta-quinta-feira.ghtml
CORREIO BRAZILIENSE. “Governo muda painel para destacar casos recuperados de covid-19: A
mudança ocorre um dia depois de o Brasil registrar, pela primeira vez, mais de mil mortes em 24
horas”. Correio Braziliense, Brasil, 20 de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2020/05/20/interna-
brasil,856915/governo-muda-painel-para-destacar-casos-recuperados-de-covid-19.shtml

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DIOGO, Darcianne. “Passa de 300 o número de infectados por coronavírus na Papuda: Até o momento,
a Secretaria de Saúde aplicou mais de 1,8 mil testes em internos e policiais penais das unidades
prisionais do DF”. Correio Braziliense, Cidades, 6 de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/05/06/interna_cidadesdf,852090/
passa-de-300-o-numero-de-infectados-por-coronavirus-na-papuda.shtml
G1. “Sobe para 224 número de infectados pelo coronavírus no Complexo da Papuda: Aumento é de seis
registros em relação a segunda-feira (27), todos de policiais penais. Segundo Sesipe, há ainda uma
pessoa infectada na Penitenciária Feminina, no Gama”. G1, Distrito Federal, 29 de abril de 2020.
Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/04/29/sobe-para-
224-numero-de-infectados-pelo-coronavirus-no-complexo-da-papuda.ghtml
________. “MP e polícia fazem buscas na Secretaria de Saúde do DF em investigação sobre compra de
testes de coronavírus: Operação cumpre mandados também em 7 estados. Suspeita é que material de
baixa qualidade que pode dar falso resultado negativo tenha sido adquirido com superfaturamento.
Governo do DF diz que testes foram aprovados pela Anvisa e aquisição foi a preço de mercado”. G1,
Distrito Federal, 2 de julho de 2020. Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/noticia/2020/07/02/policia-faz-buscas-em-operacao-que-apura-irregularidades-em-
compra-de-testes-de-coronavirus-pelo-governo-do-df.ghtml
LUCCHESE, Bette; HAIDAR, Diego; PALMA, Gabriel; PEIXOTO, Guilherme; COELHO, Henrique; FALCÃO,
Márcio; FIGUEIREDO, Pedro; ABREU, Ricardo. “PF faz buscas contra governador do RJ, Wilson
Witzel, em investigação sobre hospitais de campanha: Operação Placebo, autorizada pelo STJ, busca
provas em 12 endereços. Witzel negou participar de qualquer esquema. ‘A interferência anunciada
pelo presidente da República [na Polícia Federal] está devidamente oficializada’, respondeu”. G1, Rio
de Janeiro, 26 de maio de 2020. Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/2020/05/26/agentes-da-pf-estao-no-palacio-laranjeiras-residencia-oficial-do-
governador-do-rj.ghtml
MALATRASI, Larissa Galli. “Explode incidência de covid-19 na Papuda: De acordo com a Secretaria de
Saúde, o número de casos equivale a 1.214 infectados por 100 mil pessoas”. Jornal de Brasília,
Cidades, 29 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://jornaldebrasilia.com.br/cidades/explode-incidencia-de-covid-19-na-papuda/
PRANDO, Camila; FREITAS, Felipe; BUDÓ, Marília de Nardin; CAPPI, Riccardo. “A pandemia do
confinamento: políticas de morte nas prisões”. Le Monde Diplomatique Brasil, Acervo Online, 3 de
junho de 2020. Disponível (on-line) em: https://diplomatique.org.br/a-pandemia-do-confinamento-
politicas-de-morte-nas-prisoes/
PINHEIRO, Mirelle. “Papuda: em 3 semanas, número de casos de Covid-19 entre presos sobe 282%: Com
relação aos policiais penais, o crescimento de casos no mesmo período foi de 155%: de 27 para 69”.
Metrópoles, Distrito Federal, 1o de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.metropoles.com/distrito-federal/papuda-em-3-semanas-numero-de-casos-de-covid-
19-entre-presos-sobe-282
SATRIANO, Nicolás. “RJ tem 48 mortes em presídios durante quarentena da Covid-19, o maior número
em 6 anos: Levantamento revela aumento de 33% no número de óbitos entre os dias 11 de março,
quando foi decretado isolamento social no RJ, e 15 de maio, comparado com o mesmo período de
2019”. G1, Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020. Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/rj/rio-
de-janeiro/noticia/2020/05/20/rj-tem-48-mortes-em-presidios-durante-quarentena-da-covid-19-o-
maior-numero-em-6-anos.ghtml
TV GLOBO. “Subsecretário-Executivo de Saúde é afastado pelo Governo do RJ: De acordo com nota do
Governo do RJ, a medida foi tomada para assegurar que os processos de auditoria externa possam
ocorrer sem suspeição ou interferência”. G1, Rio de Janeiro, 11 de abril de 2020. Disponível (on-
line) em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/11/subsecretario-executivo-de-
saude-e-afastado-pelo-governo-do-rj.ghtml

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CAMILA PRANDO (camilaprando@gmail.com) é


professora da Faculdade de Direito e do
Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD),
ambos da Universidade de Brasília (UnB, Brasil).
É doutora e mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Direito Penal (PPGDP) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC,
Florianópolis, Brasil) e tem graduação em direito
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR,
Curitiba, Brasil).

RAFAEL GODOI (godoirafa@gmail.com) é


pesquisador de pós-doutorado (PNPD/Capes)
do Programa de Pós-Graduação em Sociologia
e Antropologia (PPGSA) e do Núcleo de Estudos
da Cidadania, Conflito e Violência Urbana
(Necvu), ambos da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil). É doutor
e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Sociologia (PPGS) da Universidade de São Paulo
(USP, São Paulo, Brasil).

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