O documento descreve uma etnografia sobre estudantes de agronomia na PUCPR. O autor observou que os alunos de agronomia são frequentemente julgados negativamente por outros cursos, que os vêem como arrogantes e estranhos. A etnografia detalha as observações do autor sobre as aulas, vestimentas e conversas dos alunos de agronomia para entender se esses julgamentos são justificados.
O documento descreve uma etnografia sobre estudantes de agronomia na PUCPR. O autor observou que os alunos de agronomia são frequentemente julgados negativamente por outros cursos, que os vêem como arrogantes e estranhos. A etnografia detalha as observações do autor sobre as aulas, vestimentas e conversas dos alunos de agronomia para entender se esses julgamentos são justificados.
O documento descreve uma etnografia sobre estudantes de agronomia na PUCPR. O autor observou que os alunos de agronomia são frequentemente julgados negativamente por outros cursos, que os vêem como arrogantes e estranhos. A etnografia detalha as observações do autor sobre as aulas, vestimentas e conversas dos alunos de agronomia para entender se esses julgamentos são justificados.
Primeiramente, antes de expor tudo que foi observado e entendido nessa
etnografia, vale a pena também reportar o que veio antes disso. O que faz com que as aulas de Agronomia seja um ambiente interessante para ser observado? Deve-se começar então pelo pretexto existente para que essa etnografia tenha sido feita: Os rumores sobre o curso. Foi passado para mim, com toda certeza, que os ‘’agroboys’’ são de extrema arrogância, mal educados, antipáticos e que possuem costumes estranhos. Como por exemplo, suas vestimentas, com botas de ‘’roça’’ e muitas vezes blusas quadriculadas e jaquetas cinzas. Criticaram também o seu modo de conversar, sempre fazendo piada sobre plantas e discutindo o tipo específico de grama que a PUCPR põe nos jardins do campus. Além de sempre assimilarem os agronômos com caminhonetes e carroças por acharem que faz mais sentido uma ‘’agroboy’’ andar nesses transportes em vez de outros. É visto a partir disso que o curso de agronomia é pré julgado pelos seus colegas de outros cursos, apenas pelo seu curso ter como foco as plantas, os animais e a produção neste meio. Desse modo, o curso acaba ganhando uma má fama, e uma exclusão social no meio em que se convive. Não somente os cursos de humanidades o excluem, como também alguns de saúde, design e arquitetura entre outros. E é nesse meio, que encontram-se os calouros da universidade, e a pergunta que se deve ter todo o momento em seus anos de faculdade: ‘’Por que?’’. Por que o curso é tão excluído socialmente? Por que tantas piadas, tantos pensamentos negativos sobre um curso que, assim como os outros, trás satisfação ao aluno e nos traz maior conhecimento sobre a natureza e o mundo? Os alunos desse curso seriam pessoas tão ruins assim para que esse pré julgamento continue se perpetuando pelas paredes dos blocos da PUCPR? Nessas perguntas, então criei uma teoria do que poderia ser todo esse julgamento. A pergunta central que me levaria a fazer essa etnografia: ‘Um curso por si só, que define o rumo da sua vida, pode mudar a personalidade de seus alunos ao ponto em que todos se tornam padrões do nosso próprio curso? Será que todos nós carregamos consigo cada vez mais características únicas do nosso próprio curso a cada dia a mais que passamos dentro da sala de aula? Se sim, até a que ponto isso pode ser considerado positivo? Nessa etnografia, pretendo desvendar as minhas dúvidas e curiosidades sobre o assunto. Vendo de uma vez por todas se pré julgamos o curso de agronomia, ou se realmente todo aluno vira fruto da própria área que escolhe pertencer; estudar. Etnografia: suas dificuldades, desenvolvimento e descobertas. Começando este trabalho, fui inicialmente procurar saber sobre os horários de aula. Com muita dificuldade tive acesso às algumas grades horárias, de alguns turnos e períodos diversos. O primeiro momento que tive real contato com o ambiente didático deles foi no nono período. Era em torno de 15-16 alunos. Pelo modo que se vestiam, a barba e o cabelo bem feito, presumi em primeiro momento o que poderia ser uma boa condição financeira. Não estava errada. A maioria comentava de fazendas no interior, além de alguns terem comentado que não pagam sua faculdade. Tendo assim, um auxilio familiar para concluir a graduação. Tinham grupos bem separados, com 4 ou 5 em cada grupo. Eles, eram, de certo modo, bem humorados uns com os outros. Havia uma boa socialização entre os grupos, e o fato de ter uma convidada entre eles não atrapalhou muito isso. Apesar das separações dos meios sociais existentes na sala, eu diria que em torno de ¼ da sala usava uma jaqueta cinza, grossa, com um símbolo no meio e o nome de cada um em cima. Posteriormente conversei com os alunos e a jaqueta é uma forma de representação do curso deles. Eles usam realmente como um uniforme. Assim como nas áreas da saúde é comum usar jaleco para fazer os seus estudos. Confesso que no primeiro momento, tive dificuldades em achar as reais aulas que acontecem no período noturno. Por motivos de final de semestre, muito das aulas já haviam acabado e logo, não consegui começar o meu trabalho de campo. Esse primeiro momento com o nono período por exemplo, não foi uma aula. Foram orientações sobre o TCC e datas de entrega do trabalho. Depois desse momento de orientação, conversei com algumas meninas que me ajudaram a procurar mais turmas no horário do noturno. Achamos que teria aula no prédio amarelo da PUC, o prédio de humanidades, na sala A1 e A2. Porém, encontrei apenas uma sala com alunos, sendo que esses estavam fazendo prova. Após aquela prova, no horário de 19h45 até 21h15, não haveria mais nenhuma aula no dia de terça. Entretanto, consegui me misturar com alguns deles a partir das semanas em que fiquei procurando os horários das matérias. E acabei me aproveitando disso para tirar algumas informações, e também ouvi-los conversar algumas vezes sobre a matéria. Alguns deles dos quais eu conversei, era do terceiro período. Eles têm aula sobre ‘’estrutura e funcionamento de plantas’’, uma matéria na área de botânica. Eles pareciam nervosos após sair da prova desta matéria pela dificuldade nos nomes que tinham que saber para ir bem. Eles me explicaram que esta matéria é de grande importância no curso deles, sendo uma das matérias que eles dão mais foco. Explicaram que pelos diferentes tipos de plantas que existem, existem também diferentes estruturas internas. A espessura do caule, o comprimento da raiz, se ela é forte ou não, os sistemas circulatórios que existem dentro da planta e tudo mais. E saber disso tudo é entender melhor cada espécie de planta que, um dia, eles irão se cultivar. Perguntei então se eles procuram conhecer muitas plantas no dia a dia deles. Eles responderam que normalmente eles sabem alguns tipos, por eles já terem contato a mais tempo. Nesta pergunta, acabei me lembrando de uma piada feita por outros cursos sobre a agronomia. O fato de eles saberem o nome científico das gramas do campus da PUC. Perguntei então se eles sabiam o nome científico de alguma planta que tinha no jardim da PUC, eles riram um pouco. Disseram que se tentarem, conseguem acertar. Pois todos os tipos de grama que existem tem um aspecto bem distintos um do outro. O que eles chamaram de grama Mato Grosso, por exemplo, tem maior crescimento em curto prazo. Logo, eles não arriscariam dizer que seria esse tipo de grama. Mas muitos do curso debatem sobre isso, uma vez ou outra, e tentam adivinhar a grama dos jardins. Para eles, a espécie de grama que tinha maior possibilidade de ser era, mesmo não sabendo o nome científico, a grama esmeralda. Essa grama, pelas minhas pesquisas e pelo que foi falado, é uma grama mais curta, que precisa de muito sol e possui uma boa resistência em questão de ser pisoteada. Depois dessa conversa com um grupo de agrônomos, notei que voltei para casa observando a grama por uns dois dias, e concordo com eles quando digo que a grama ‘’Zoysia Japônica’’ (esmeralda) tem grandes chances de ser a grama que se vê nos jardins da PUCPR. Também pude socializar com um grupo do primeiro período. Mesmo eu não tendo assistido nenhuma aula deles, eu os observei antes da prova pela porta. Uma classe bem unida, conversando sobre a prova que começaria sobre agricultura de precisão. Tinham as mesmas vestimentas que o nono período, a jaqueta cinza, alguns com o cabelo e a barba bem feita e outros nem tão arrumados assim. Mais tarde, após a prova, pude conversar com alguns alunos. Eles tiveram maior facilidade de conversar comigo sem achar tão estranho. Conversaram bastante da prova e as questões em si sobre processos envolvidos na produção agrícola, trabalho com drones para mapeamento de lavouras e também o georreferenciamento da propriedade. 2/3 responderam que essa era uma das matérias mais interessantes do período, e se animaram para me contar um pouco mais sobre essa matéria. Após isso, eles falaram de algumas piadas que eles ouviram sobre a agronomia. Eles não pareciam se importar realmente, eles tinham muitas piadas internas também. Mas, de certa maneira, eles terminaram esse assunto fazendo uma crítica aos outros cursos, por agirem como ignorantes por falarem dessa maneira sobre outro curso. Vale a pena explicar que essa crítica veio de um comentário que uma das meninas do primeiro período ouviu, onde uma pessoa falava em um grupinho que a agronomia não servia para nada. Que os alunos dessa área estudavam 5 anos só para aprenser a fazer horta. O que acarretou a crítica feita pela agronôma. Entretanto, mesmo depois de um deles ter feito essa fala, uma conversa um tanto quanto negativa sobre o curso de arquitetura começou. Falando das vestimentas um tanto quanto sociais deles, e o modo sério de conversar. Eles estranhavam o curso de arquitetura. Iniciando assim mais um ciclo universitário, aonde a antropologia descreve de uma maneira bem simples de entender, onde o Mesmo vê o Outro e cria uma estranheza. E após isso, acaba por fazer um pré julgamento sobre ele. Isso me fez pensar o primeiro motivo do qual escolhi essa etnografia, o pré julgamento que existente entre um curso e outro. E, a partir de algumas conversas, descobri que a maioria das coisas que falavam era verdade, realmente. Eles gostam de usar blusa quadriculada, bota e, muitas vezes, a jaqueta do curso deles – o motivo por trás disso veio mais tarde em uma conversa com um menino do primeiro período também. Eles usam essa jaqueta também, porquê fazem muitas experiências com terra e plantas, e no cinza as sujeiras não aparecem tanto. - Muitos deles são filhos de fazendeiros, mas muitos também trabalham para pagar a faculdade – essa informação é mais específica sobre o primeiro período. -. São simpáticos, porém não muito sociáveis. Alguns gostam de agronomia principalmente por ser um trabalho solitário e sem estresse para eles. Eles possuem sim, suas características coletivas que muitos outros cursos acabam por achar negativo e criticar. Mas ao meu observar, é mais um ciclo universitário visto em um gosto diferente do meu pela vida. E notoriamente, pode-se ver que faz parte do ciclo pré julgar um curso e ser julgado também por outro. As ciências sociais pré julgam os agrônomos, os agrônomos pré julgam os arquitetos e assim continua o eterno retorno – como diria Nietzsche.
Conclusão: A resposta, os julgamentos, a universidade.
A partir desses pequenos momentos que pude ter com o curso de agronomia, tive tempo para responder a pergunta foco que fiz neste trabalho. Afinal, um curso pode afetar sua personalidade de alguma maneira? Acredito que sim. Obviamente, entre o nono período e o primeiro período, haviam diferenças em questão de conversas e vivências. Mas mesmo assim, eles partilham do mesmo modo de falar sobre o curso, o mesmo esteriótipo visual, as mesmas piadas e estilos musicais – Música gaúcha é a favorita deles. Eu vi pelo menos duas turmas colocarem após a conversa sobre o TCC. -. Então, é possível ver que segue uma linha de características desse curso. Chegando então ao pensamento que a representação física dos cursos seriam os seus alunos. Sobre o quanto isso pode ser prejudicial, isso varia. Quanto mais o curso te fecha no seu próprio mundo, menos chance de encher outras visões e vivências você terá. O grupo de Agronomia, por exemplo, é um grupo que não gosta de conversar com outros cursos, nem do bloco amarelo e nem no bloco verde. Isso acaba fazendo o que eles não se integrem muito na própria faculdade e seus diferentes habitats. Isso vale para todos os cursos de todas as faculdades: todos vivem dentro de uma zona social confortável; uma bolha. Onde todos tem um pensamento semelhante. Mas nem sempre viver dentro dessa zona é o melhor. Temos que entender as diferenças dos outros cursos, e apreciar de certo modo eles por serem dessa maneira. Por proporcionar outros campos de visão e ideias sobre o mundo. Afinal, a faculdade serve para tornar seus alunos conhecedores de nossas áreas, e não ignorante de outras. Logo, concluo que os agrônomos são um outro gênero existente dentro dessa família de cursos que a PUCPR proporciona. Eles têm suas maneiras de viver e se comunicar, são julgados por serem diferentes, mas também julgam por acharem outros diferentes. Acabo essa etnografia afirmando que o equilíbrio na sociedade universitária que existe. E a prova disso pode ser encontrado em uma simples frase: Ser julgado, mas julgar também.