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T.aquino - o Hábito Determina A Ação PDF
T.aquino - o Hábito Determina A Ação PDF
26 e 27/05/2011
O Filósofo expressa que a virtude moral não nos é concedida pela natureza.
Recebemos a potência para desenvolver as virtudes morais, mas a capacidade de agir de
acordo com elas só pode ser adquirida pelo hábito. Ao contrário das capacidades
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sensitivas, como a visão, por exemplo, as virtudes morais só podem ser desenvolvidas
pelo exercício constante, pelo hábito de exercê-las. Assim, Aristóteles afirma que “[...] a
virtude moral ou ética é produto do hábito [...]” (Ética, L. II, 1, § 1), ou seja, para que o
homem seja ético é necessário que tenha o hábito de agir de maneira ética. Contudo,
como este hábito não é oferecido pela natureza, é necessário que o homem seja educado
para adquiri-lo.
Nesse sentido, as ações humanas se encontram imersas na cultura, nos hábitos e
no conhecimento. São esses aspectos que nos movem e temos a liberdade de
encaminhá-los para boas ou más ações. A prática social cotidiana depende, diretamente,
dos hábitos adquiridos, das escolhas realizadas e do conhecimento que possuímos.
Escolhas, conhecimento e hábitos determinam, desse modo, as características sociais do
homem, pois determinam, também, o seu agir.
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Conforme o professor Gerald Cresta, os homens medievais distinguiam razão e fé, porém não as
consideravam num estado de oposição ou de superioridade. Mas, como interdependentes: para que a
razão se desenvolva a fé é essencial e a fé só pode existir num ser que possui e utiliza a razão. “Este punto
de partida originario constituído por la fe es el que mueve al entendimiento a examinar el objeto creído.
Se parte de la fe porque se está frente a un objeto de conocimiento al cual no es posible acceder con los
sentidos, y sobretodo porque se trata de un objeto trascendente que es dado históricamente por la fe a la
razón natural para que ésta última lo examine” (CRESTA, ¿Es Posible el conocimiento de Dios? –
aproximaciones y diferencias entre Santo Tomás y San Buenaventura. Disponível em:
http://www.hottopos.com/rih4/gerald.htm. Consulta em: 24/mai/2010).
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No período pré-tomista (séculos IX – XIII), predominava a escolástica de Santo Agostinho, que, embora
não distinguisse fé e razão, priorizava a primeira.
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Vemos que mestre Tomás parte da origem latina da palavra hábito, ao passo que
o conceito aristotélico está vinculado à origem grega da palavra – ethos (hábito) e éthos
(caráter) são congêneres. Tanto em um sentido, quanto em outro, o hábito qualifica o
sujeito, dispondo-o bem ou mal em relação a si mesmo ou a ‘outra coisa’. No segundo
artigo, isto se torna mais claro com a demonstração da diferença entre hábito e
disposição, com a finalidade de comprovar que o hábito é uma qualidade distinta.
Desse modo, é relevante ressaltar que o mestre dominicano indica o hábito como
uma qualidade específica, que se diferencia da disposição por ser dificilmente removível
– difficile mobile – e por ser qualitativamente superior a esta. Na passagem acima, a
disposição é apresentada como uma característica que, por se desenvolver, transforma-
se em hábito. Nesta ideia está expressa a relevância do hábito como qualidade que
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dificilmente perdemos e acreditamos que, por esse motivo, deve ser desenvolvida e
direcionada às ações virtuosas. O que nos leva a pensar desse modo em relação à análise
da questão 49, é o fato de que Tomás de Aquino indaga, no artigo seguinte, se ‘o hábito
implica ordenação ao ato’. Sua conclusão é que “[...] o hábito não implica só ordenação
à natureza da coisa, mas também, por conseqüência, à ação, enquanto é fim da natureza,
ou conduz para o fim.” (TOMÁS DE AQUINO, ST, Ia IIae, q. 49, a. 3). Assim, a
qualidade hábito implica em uma ação que conduz à finalidade da natureza e à
determinação das potências para o bem ou para o mal.
No artigo quarto, esta argumentação prossegue com a questão relativa à
necessidade ou não dos hábitos. Tomás de Aquino explica que são necessários três
requisitos para uma coisa se dispor a outra, tal qual alguém se dispõe bem ou mal para
algo. O primeiro, é que essa ‘coisa’ seja composta de potência e ato e não exista por si
mesma, pois se assim não o for, não haverá lugar para o hábito ou para a disposição, tal
como ocorre em Deus. O segundo requisito, para que ocorra tanto a disposição, quanto
o hábito, é que o sujeito tenha potência relacionada a mais de uma ação, ou seja, é
necessário que haja possibilidade de escolha. Assim, o exemplo que o mestre Tomás
apresenta é de um corpo celeste que tem, em potência, um único movimento – este não
poderá ser sujeito de disposições ou hábitos. O terceiro requisito, é que haja condições
de comparação entre muitas formas e ações para que o sujeito possa se dispor bem ou
mal em relação a estas, ou seja, para que tenha escolha.
Observa-se, portanto, que o argumento utilizado por Tomás de Aquino para
comprovar a necessidade do hábito, relaciona-se à escolha. Os hábitos e as disposições
só podem existir em seres que têm como característica a potência a realizar diferentes
ações – boas ou más.
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Para o autor, os hábitos são necessários aos seres humanos para determinar suas
ações para o bem. Potencialmente, os homens podem agir tanto para o bem quanto para
o mal. O que Tomás de Aquino expressa é que o hábito é a forma apropriada para
determinar as potências humanas para o bem. As denominadas ‘forças naturais’ não são
objetos dos hábitos, pois possuem uma potência direcionada a uma única ação. Deus,
também, não é ordenado pelo hábito, pois possui existência em si mesmo. Mas as
potências do homem necessitam de ‘algo’ que as orientem.
É possível, portanto, considerar que, tanto para Aristóteles, quanto para Tomás
de Aquino, o hábito orienta as ações. Para o Filósofo da Antiguidade, o hábito é o meio
pelo qual as ações virtuosas podem ser aprendidas; para o mestre medieval o hábito é a
qualidade necessária para que as ações sejam ordenadas para o bem. Desse modo,
observamos que, a concepção tomasiana de hábito é fundamentada com a teoria
aristotélica, porém, é apresentada de uma nova maneira, adequada a seu tempo. A
questão que se apresenta na teoria de Tomás de Aquino é a relação do homem com a
espiritualidade e com Deus.
Nesta noção, reside um dos pontos que consideramos relevantes no estudo do
conceito de hábito na História da Educação: observar o que se mantém na teoria dos
autores clássicos em relação ao conceito. Neste texto, elegemos Tomás de Aquino e
procuramos observar como este considerou a percepção aristotélica de hábito em uma
de suas inúmeras questões. Para o mestre Tomás, o conceito passa a se configurar como
uma qualidade superior à disposição, pois, é dificilmente removível e, portanto, deve ser
orientado pelo bem. Desenvolver hábitos significa, dessa maneira, desenvolver
qualidades que se manifestarão nas ações humanas – a ética, por exemplo, é uma
qualidade de quem desenvolveu o hábito de praticar ações éticas.
Outro ponto que consideramos relevante – e que nos move a dar continuidade ao
estudo sobre o hábito – é que, na História da Educação, temos a possibilidade de
aprender, com este e outros conceitos, formas de educar que podem ser aplicadas em
nossos dias. Afinal, quando observamos a educação escolarizada, por exemplo, são
vários os hábitos e disposições indesejáveis que poderíamos mencionar – desde a falta
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REFERÊNCIAS
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2005. IV volume, q. 49-
114.