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CAPÍTULO 6 – FLEXÃO
6.1 INTRODUÇÃO
A flexão é a formação de palavras que não muda categorias nem cria novos lexemas,
mas sim cria novas formas dos lexemas para que eles se encaixem em diferentes contextos
gramaticais. A formação de palavras pela flexão utiliza muitas das regras de formação de
palavras (afixação, reduplicação, conversão etc.) com exceção da composição. A forma, ou
seja, o tipo de processo de formação de palavra, independe da função – derivação ou flexão.
- CASO = os nomes são distinguidos com base na posição que ocupam em uma frase.
Os nomes podem ter função de sujeito, objeto direto ou indireto, local, tempo ou
instrumento, ou mesmo o objeto de uma preposição. Há dois sistemas de caso
possíveis na língua humana:
1 Nominativo/acusativo (latim, PB): tem o nominativo sempre em posição de
sujeito e o acusativo de objeto – não importando se o verbo é transitivo ou não.
2 Ergativo/absolutivo (georgiano): na sentença transitiva, o caso ergativo faz a
função de sujeito, e o absolutivo, de objeto. Já em frases intransitivas, o sujeito
é absolutivo.
O inglês tem flexões regulares e irregulares. Todas as regulares são sufixais, mas as
irregulares são geralmente formadas por mudanças na estrutura interna da palavra (ablaut:
processo morfológico que afeta a qualidade, quantidade ou tonalidade da vogal ou umlaut:
anteriorização da vogal que ocorre quando o sufixo possui uma vogal anterior) ou por uma
combinação disso com a sufixação. Os plurais e as formas de passado irregulares formam as
chamadas classes fechadas – uma lista fixa de quais formas podem ser perdidas, mas para as
quais nenhuma nova forma pode ser adicionada. As terminações do plural e das formas de
passado regulares são consideradas terminações padrão, ou seja, quando novas palavras são
formadas no inglês ou “emprestadas” de outra língua, as terminações de plural e passado
serão –s e –ed.
Formas irregulares são, em alguns casos, remanescentes de formas plurais ou de
passado que não existem mais na língua. A flexão de verbos irregulares também tem a ver
com a sua etimologia, sendo originários muitas vezes de línguas ancestrais do inglês.
Por que o inglês tem tão pouca flexão? O inglês antigo tinha mais marcas de flexão
que o atual, além de mais complexidade na flexão verbal, entre outras diferenças. Há duas
razões para a perda de flexões: a primeira é relacionada com o sistema de tonicidade do inglês
– no inglês antigo, a tonicidade era voltada à primeira sílaba das palavras, e por conta disso os
sufixos flexionais não eram enfatizados. Isso levou, com o tempo, a um enfraquecimento da
flexão. A segunda razão para essa perda seria o contato com as línguas do norte da Inglaterra,
pois a comunicação entre falantes do inglês antigo e do nórdico antigo era dificultada pelas
flexões presentes no inglês; essas, portanto, eram retiradas da fala.
6.4 PARADIGMA
CLASSES FLEXIONAIS
Nem todos os verbos e nomes de uma língua são flexionados da mesma forma exata;
as formas de casos, número, tempo e outras propriedades variam de acordo com o grupo de
nomes ou de verbos. As classes flexionais são grupos de palavras que obedecem ao mesmo
paradigma, comportando-se da mesma forma perante ao mesmo paradigma.
SUPLEÇÃO E SINCRETISMO
Os dois termos se referem às relações entre formas flexionadas em um paradigma. A
supleção ocorre quando uma ou mais formas flexionadas de um lexema é construída em uma
base que não tem relação com a base de outros membros do paradigma. A construção
fonológica dessa forma flexionada não se relaciona à forma original. Um exemplo é go –
went. A forma supletiva went não tem nada fonologicamente semelhante à original go.
O sincretismo é outra relação que encontramos entre os membros de um paradigma,
especificamente um que tenha duas ou mais células da tabela preenchidas com a mesma
forma. Isso significa que a mesma forma se aplica a mais de um contexto – por exemplo: uma
mesma forma que se aplica à primeira e segunda pessoa, no plural. A tabela seria dessa forma:
Singular Plural
Primeira
X
pessoa
Y
Segunda
Z
pessoa
A forma Y é sincrética para a propriedade de pessoa, pois está presente tanto para a
primeira quanto para a segunda pessoas do plural. No entanto, Y não tem uma semântica de
pessoa – não é possível dizer, somente a partir da forma Y, qual pessoa ela representaria.
Logo, ela possui semântica de número (plural), mas não de pessoa.
Os processos flexionais são muito mais produtivos que os derivacionais. Isso ocorre
porque a flexão é obrigatória. Toda vez que um determinado contexto para a aplicação de uma
regra ocorre, essa regra se aplica obrigatoriamente.
FLEXÃO DERIVAÇÃO
Nunca muda a categoria Pode mudar a categoria
Adiciona significado gramatical Pode adicionar significado gramatical
Produz novas formas de lexemas existentes Produz novos lexemas
Importa para a sintaxe Pode ser improdutiva ou produtiva
Muito produtiva
Outra diferença entre a flexão e a derivação é que, em palavras com afixos tanto
derivacionais quanto flexionais, os afixos derivacionais quase sempre ocorrem dentro, antes,
dos flexionais; ou seja, os derivacionais se aproximam mais da raiz da palavra. No inglês, um
exemplo é pur-ify-ed sendo que –ify é um sufixo derivacional e –ed é flexional. Não seria
possível trocar a ordem dos sufixos. Nem sempre, entretanto, a distinção entre os processos é
tão clara. Há línguas em que essas diferenças se confundem!
CAPÍTULO 7 – TIPOLOGIA
7.1 INTRODUÇÃO
TURCO
- Muita sufixação, pode criar palavras longuíssimas com significados bem específicos e
complexos. A formação de palavras predominante é a sufixação, tanto para derivação
quanto para flexão.
- Cada sufixo tem uma função, como formar verbos causativos (causar X) ao se juntar
com intransitivos, ou mudar a categoria de uma palavra.
- O turco não tem quase nenhuma prefixação! Seu sistema morfológico é abundante,
mesmo utilizando poucos processos.
MANDARIM
- Muito rica em composição! Há compostos de todos os tipos, inclusive em verbos, e a
maioria é endocêntrica.
- A flexão é mínima: não há flexão de número em nomes e verbos, o tempo e o aspecto
não são marcados morfologicamente.
SAMOANO
- Utiliza uma variedade de processos de formação de palavra, não necessariamente
favorecendo um ou outro. Possui processos de sufixação, prefixação, circunfixação,
reduplicação total e parcial e alguma composição, além do alongamento de vogais.
- O samoano não tem paradigmas flexionais. As propriedades de caso, aspecto, tempo e
modo são expressos por partículas independentes.
LATIM
- Língua com muita flexão, quase inteiramente sufixal como o turco. Porém, a flexão do
latim acumula vários significados em um só morfema flexional, algo que difere do
turco. Tem mais prefixação e composição que o turco, também.
- Flexão: caso, número e gênero (para nomes), concordando com os adjetivos.
- Prefixos e sufixos derivacionais
NISHNAABEMWIN OU ALGONQUIANO
- Língua algonquina falada no sul de Ontario, no Canadá.
- Muita afixação, especialmente com sufixos. Os nomes são separados entre animados
ou inanimados, podendo ser flexionados para número – há diferentes formas para
diminutivo, plural, pejorativo etc. Elas podem se combinar em uma ordem específica.
- Flexão verbal é muito complexa. Há, por exemplo, uma forma positiva e uma negativa
para cada verbo!
- A derivação também é complexa. São poucas as palavras constituídas de um morfema;
a maioria é composta de bases presas, de muitos morfemas.
SÍNTESE
Comparando essas línguas, é possível ver diferentes combinações de processos de
formação de palavras e os pesos diferentes dados a cada processo. Cada língua é única, cada
combinação é única – esse é o conceito de gênio da língua de Sapir. Mas é importante
também observar o que há em comum, o universal que marca todas as línguas como humanas.
7.4 FORMAS DE CARACTERIZAR LÍNGUAS
CLASSIFICAÇÃO QUÁDRUPLA
A tipologia morfológica vem desde o século XIX, com o trabalho de Humboldt. Essa
tradição dividia as línguas em quatro tipos morfológicos: isoladora ou analítica, aglutinante,
fusional, e polissintética.
CORRELAÇÕES
Um grande interesse da morfologia é a busca de correlações entre características
morfológicas especificas ou entre características morfológicas e outros aspectos (sintáticos,
fonológicos) gramaticais. O morfologista busca entender se há padrões dentro dos tipos de
morfologia de uma língua, e, se houver, o porquê desses padrões existirem.
Existem conceitos que observam essas correlações linguísticas, chamados de
universais implicacionais. Esses são fenômenos que ocorrem em um número significativo de
línguas, e estão condicionados à ocorrência de outro fenômeno. Por exemplo: “se uma língua
tem flexão, ela terá derivação”.
8.1 INTRODUÇÃO
PASSIVA E ANTIPASSIVA
Um exemplo de morfologia que modifica a valência verbal no inglês é a voz passiva.
Em uma sentença com voz ativa, há dois argumentos: o agente, que funciona como o sujeito,
e o paciente, o objeto. Já na voz passiva, o agente é desnecessário; se há agente, ele aparece
em um adjunto, uma prepositional phrase, usando a preposição by. O paciente é o sujeito da
sentença passiva – como não tem objeto, a forma passiva do verbo tem um argumento apenas.
A voz passiva no inglês é construída com morfologia, com um verbo auxiliar be e um
particípio passado, com o sufixo –ed para verbos regulares e outras formas para irregulares. A
chamada voz antipassiva (que não existe no inglês) também elimina um argumento do verbo,
tornando-o intransitivo, mas é o objeto que desaparece.
CAUSATIVO E APLICATIVO
O causativo sinaliza a adição de um novo argumento de sujeito, que é o causador da
ação, semanticamente falando. Um exemplo é “a bola murchou” “o sol quente murchou a
bola”. Na segunda sentença há um causador, e esse pode ser morfologicamente marcado,
como ocorre em muitas línguas. A primeira frase tem um argumento, o paciente. Já a segunda
tem um argumento externo causador, o sujeito.
A morfologia aplicativa, como a causativa, sinaliza a adição de um argumento de
objeto na valência verbal. Pode haver, por exemplo, um sufixo que significa a adição de mais
um objeto.
INCORPORAÇÃO DE NOMES
Há mais uma forma de interação da morfologia com a estrutura de argumentos dos
verbos. A incorporação de nomes é uma estrutura em que o objeto ou outro argumento do
verbo forma uma palavra complexa junto com o verbo. Esse fenômeno tende a ocorrer em
línguas com uma morfologia polissintética. O objeto pode ser posicionado após a base do
verbo nas formas incorporadas e não incorporadas, ou mesmo mudar de posição dependendo
se a forma é incorporada ou não.
CLÍTICOS
Os clíticos são pequenos elementos gramaticais que não ocorrem de forma
independente, e portanto não podem ser chamados de morfemas livres. Mas eles também não
entram na categoria dos afixos. Em termos fonológicos, os clíticos não possuem tonicidade, e
formam uma única palavra fonológica com uma palavra vizinha, chamada de “hospedeira” do
clítico. Os que vêm antes da palavra vizinha são proclíticos, e os que vêm depois são os
enclíticos.
Há uma divisão entre dois tipos de clíticos: os simples e os especiais. Os simples são
definidos como variantes não acentuadas de morfemas livres, que podem ser fonologicamente
reduzidas e subordinadas a uma palavra vizinha. Podem aparecer na mesma posição em que o
morfema livre correspondente estaria. Um exemplo no inglês é o –ll em “I’ll”. O –ll é a forma
contraída do verbo auxiliar will. Como um afixo, é pronunciado como parte da palavra que o
precede, mas não seleciona uma categoria para a base e nem adiciona informação gramatical a
ela (ou mesmo muda sua categoria).
Os clíticos especiais também são fonologicamente dependentes de uma palavra, mas
não são formas reduzidas de palavras independentes. No francês, o “le” de depende do verbo
– são pronunciados juntos como uma palavra fonológica só, para significar “ele”.
Esse conceito traz características de morfemas presos (o fato de não existirem
sozinhos) e de unidades sintáticas. Diferentemente dos morfemas, os clíticos não fazem uma
seleção categorial para se associar, além de terem suas funções independentes em sintagmas.
COMPOSTOS SINTAGMÁTICOS
Um composto sintagmático é uma palavra feita de um sintagma e um nome em
seguida dele. Ele pode ser encontrado em muitas línguas germânicas, como o inglês, o
holandês e o alemão. Exemplo do inglês: stuff-blowing-up effects. É impossível colocar um
modificador entre a frase e o nome, e esses compostos estão muito presentes em variantes
mais informais e até na linguagem jornalística.
9.1 INTRODUÇÃO
9.2 ALOMORFES
ALOMORFIA PREVISÍVEL
Analisando o in– do inglês, pode-se ver que ele possui 5 variantes: in–, il–, im–, ir– e
in– (nasal velar). A ocorrência de cada alomorfe depende do som inicial da base: