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Agora nas outras narrativas, a ideia do contador aparece de forma mais clara. Ao
pensar nas personagens, o autor demonstra a intenção de apresentar o coletivo, e não
somente o indivíduo. Desse modo, as histórias orais não apresentam uma
complexidade dos seres sobre quem conta a história, mais o que interessa mesmo são
os casos e as situações que ocorrem entre eles.
Outro ponto do discurso que Ladino demonstra na história escrita é que pode ser bem
contada oralmente, na forma como o narrador do início, isto é, no estilo do “era uma
vez...”. “A estória da galinha e do ovo. Estes casos passaram no musseque
Sambizanga, nesta nossa terra de Luanda “Um tal Lomelino dos Reis, Dos reis para
os amigos e ex-Loló para as pequenas vivia com a mulher dele e dois filhos no
musseque Sambizanga.”
Criada por Guimarães Rosa, a palavra estória, tem o objetivo de diferenciar os casos
que não ocorreram daqueles que ocorrem de fato (história). Desse jeito, o autor deixa
evidente que aqueles fatos não possam ter ocorrido, enquanto o narrador tenta
lubrificar o leitor de que tudo aquilo aconteceu e é um fato verídico: estória. Se é
bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro não falei mentira e estes casos
passaram nesta nossa terra de Luanda.”
O primeiro conto é mais literário, está relatando mais a realidade, isto é, o que
realmente e literalmente (entenda-se que não se trata de uma história metafórica) está
acontecendo com o povo de Luanda diante da colonização, e o colonizador
(considerado mais forte) é quem sai vencedor. O segundo conto já possui alguns
elementos mais difíceis de aceitar como fatos realmente ocorridos, como é o caso da
relação do papagaio e Inácia. Se na fábula aparece um animal falante, o conto de
Luandino apresenta um papagaio que, apesar de não falar racionalmente, e sim repete
os sons emitidos por sua dona, a desconfiança por alguns momentos se esse animal
não tem mesmo consciência do que fala e faz: “Logo Jacó abriu a asa e pôs um
barulho que parecia riso de pessoa, antes de falar.” (ELP, p. 66). Porém, as próprias
personagens do conto, mesmo que às vezes por alguns motivos pensem na
humanidade do papagaio, não aceitam o bicho como ser pensante: “Verdade é que os
monas lhe xingavam de ouvir o papagaio, mas quem ensinou foi a Inácia, ela é quem
inventou. Papagaio não pensa, só fala o que ouve, o que estão lhe dizer.” (ELP, p. 86).