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TEORIA LITERÁRIA V
Florianópolis, 20/10/22
Toni se coloca num tempo que não viveu através da sua própria hermenêutica da
história dos estados unidos e recria uma narrativa textual que abarca a realidade histórica da
forma mais concreta que suas fontes permitiram.
“Eles eram jovens e tão loucos com a ausência de mulher que tinham passado a fazer com as
bezerras. Mesmo assim, deixaram a menina de olhos de aço sossegada, para ela poder
escolher, apesar do fato de que, para ficar com ela, cada um deles era capaz de bater no outro
até virar mingau. Levou um ano para ela escolher: um ano longo, duro de revirar na cama
roída pelos sonhos com ela. Um ano de desejo, quando o estupro parecia um presente solitário
de vida. O controle que exercitaram só possível porque eram homens da Doce Lar — os
homens de quem mr. Garner se gabava enquanto outros fazendeiros sacudiam a cabeça
desconfiados com a frase.” (p. 20)
Aqui temos um exemplo fortíssimo de ideologema, uma forma de controle social que afeta
principalmente a sexualidade, o desejo. O conteúdo do livro, leva constantemente a se pensar
o pior de todas as situações, como uma menina de 13 anos perto de vários homens resulta em
estupro na certa; e neste treco isto não ocorre, pois o senhor da casa castra psicologicamente
seus escravizados para que isso não ocorra, a ponto destes homens transarem com animais. O
ideologema nesta parte se torna tão intrínseco do contexto da época, que é a desumanização
do negro, não é algo humano, apenas animal, algo que transita entre animal e ferramenta, mas
não é humano.
“Depois que eu deixei vocês, aqueles rapazes entraram lá e tomaram meu leite. Foi para isso
que eles entraram lá. Me seguraram e tomaram. Contei para mrs. Garner o que eles fizeram.
Ela ficou com um nó, não conseguia falar, mas dos olhos rolaram lágrimas. Os rapazes
descobriram que eu tinha contado deles. O professor fez um deles abrir minhas costas e
quando fechou fez uma árvore. Ainda crescendo aqui.”
“Quase sozinha. Não sozinha de tudo. Uma moçabranca me ajudou.” (p. 18)
“Amy olhou para ela. “Quer dizer que não tem apetite? Bom, eu tenho de comer
alguma coisa.” Enquanto penteava o cabelo com os dedos, olhou cuidadosamente a paisagem
mais uma vez. Verificando que não havia nada comestível em torno, se pôs de pé e o coração
de Sethe se levantou também à ideia de ser deixada sozinha ali na grama sem presas na boca.”
(p. 46)
Na primeira citação, temos Sethe falando com o Paul D, sobre como ela teve o bebê;
ela foi ajudada por uma moça de cor branca, que Sethe não conhece e não conhecia. Na
segunda citação, Sethe ainda está gravida e encontra Amy que está indo comprar veludo, Amy
sendo a moçabranca citada pela Sethe no futuro ao Paul D.
Nisso, vemos que quem fala o nome da Amy para os leitores é o narrado, fazendo uma
entrega que nunca vai chegar aos personagens. A linha cronológica também não pode ser
descartada, a autora introduz a Amy pra gente, num primeiro momento sem nome, para
posteriormente voltar no tempo, em um leitmotiv, um flashback, para que nós entendamos o
que aconteceu entre Sethe e Amy.