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FIGLIOLO, Gustavo Javier, p. 55.
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De acordo com TODOROV, o personagem não existe fora das palavras, já que o
personagem é “um ser de papel”. Todavia, recusar a relação entre personagem e pessoa seria,
ainda de acordo com ele, um absurdo. Afinal, os personagens representam pessoas, segundo a
modalidade próprias da ficção2. E as relações construídas entre os personagens na narrativa
de Rulfo, demonstram aspectos sociais que interage com o psicológico, de modo que, os
conflitos familiares, presentes em sua obra “El Lano en Llamas”, publicado primeiramente do
que, “Pedro Páramo”, em que a figura do incesto começa a conjecturar-se, assim como os
conflitos familiares que surge nos contos, e posteriormente, no romance de 1955.
A ausência paterna na narrativa de Rulfo, faz com que o leitor busque a afetividade
existente. No entanto, a figura paterna é somente biológico nas obras do escritor,
evidenciando o conflito entre pai e filho, ou na busca do filho pelo pai. Sendo o fim da
existência deste pai oculta, mas presente nas entrelinhas do texto quando refere-se à morte
daquele pai, ou do próprio filho. O que torna a narrativa do Rulfo extremamente interessante,
uma vez que os mesmos estão inseridos em uma sociedade patriarcal onde as mulheres da
narrativa pouco decidem ou opinam. Existindo apenas alguns breves momentos de lucidez
feminina que se fazem questionar acerca da situação vivenciada. Sendo, portanto, a resposta
para o poder masculino que é o responsável pela direção familiar. O incesto, no entanto,
aparece ora de modo explícito, ora de modo oculto. Remetendo novamente ao patriarcado
que surge representado em figuras masculinas de autoridade, como o latifundiário, ou o
irmão, tio ou até mesmo na imagem de filho que sustenta o lar.
As obras de Rulfo narra histórias familiares que cuja precariedade e a pobreza, tanto
quanto a miséria vivenciada por seus personagens, apresentam o outro lado, o anseio da
conquista de algo novo ou condições de vida melhores para seus familiares, buscando
distanciar da extrema pobreza que infiltra-se através da falta de perspectivas para construir
um meio de vida, ou de sobrevivência em meio à desolação.
2
TODOROV, 1972, p.286
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sua perdição3”. Ou seja, não bastasse o olhar lascivo do irmão da personagem, que configura
a situação oculta, porém incestuosa, demonstra a predisposição inicial da volúpia dentro da
família, que parece repetir-se diversas vezes nos contos da obra “Chão em Chamas”, tanto
quanto, os conflitos que remetem sempre ao seio familiar. Outro conto, onde o incesto se faz
presente de modo explícito é no conto “A Madrugada”. Onde Dom Justo, tio de Margarita,
tem uma relação incestuosa, “Se o senhor padre autorizasse isso, eu me casaria com ela; mas
tenho certeza que armará um escândalo se eu pedir isso. Vai dizer que é um incesto [...]4”.
Uma história aparentemente simples apresenta novamente um mundo prístino.
Nesta trama, onde se faz a vontade de quem tem o poder, apresenta-se também as
consequências do ato, visto que, o próprio Dom Justo sente a impureza do pecado. Assim
como, a personagem Margarita, que sofre pelo pecado cometido através da humilhação feita
pela mãe que depois de muito sermão, a chama de prostituta. Dom Justo (nome irônico
elegido por Juan Rulfo, ao personagem) termina assassinado por Esteban, demonstrando
neste momento que o incesto cometido apresenta consequência condenavéis. O último conto
da obra também contém o tema incesto, porém como humor. Sendo interessante perceber,
como Rulfo forma a natureza humana nos personagens de suas obras. Pois, existe a violência,
os conflitos familiares, principalmente paternos, assasinato e impunidade em uma terra
desolada e sem ninguém: morta. Havendo a promiscuidade, envolvendo incesto, mas também
a constante presença religiosa.
3
RULFO, Juan. É que somos muito pobres, in: Chão em Chamas. 2021. p. 41.
4
Rulfo, Juan. A madrugada, in: Chão em Chamas, 2021. p. 63.
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A narrativa de Juan Rulfo é marcada pela sobriedade, pelo corte, pela força de evocar
o mundo construído, que por sua vez, carrega um lugar mais do que atemporal, assim como,
personagens cujos destinos trágicos carregam uma carga de culpa e do pecado. A escrita do
Rulfo não tem perspectiva de futuro. Mesmo condenados, os personagens buscam uma
salvação para o seu destino. O passado se faz presente e o presente é o passado, pois a
memória presente como condição necessária, onde o sentido da vida parece encontrar a
explicação do por que do trágico destino que antemão antecede a tragédia. Às narrativa dos
contos se entrecruzam, de modo que, falta cronologia nas sequências, a invasão de temáticas
e personagens não referidos, confundem o leitor a tal ponto que, o questionamento se à
estrutura da narrativa cruzam as histórias, ou não.
REFERÊNCIA
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de: Maria Clara Correa.
São Paulo: Perspectiva, 1975.
FIGLIOLO, Gustavo Javier. Uma visão do incesto em Juan Rulfo: narrativa, semântica e
ideologia. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de
Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2010.
Disponível em: <Uma visão do incesto em Juan Rulfo: narrativa, semântica e ideologia
(ufsc.br)>. Acesso em: 07 de dezembro de 2022.