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Belém, 1763-1769
N I TE RÓ I
1995
2
- ABREVIATURAS
- ÍN D ICE -
CAPÍTULO 1 15
CAPÍTULO 3 54
CAPÍTULO 4 92
CAPÍTULO 5 116
IX - BIBLIOGRAFIA 153
5
IN TROD U ÇÃO
Esta pesquisa tem como tema a análise das relações entre magia e sociedade no
Pará setecentista, através do Livro da Visitação inquisitorial, ocorrida naquela região no
século XVIII. Interessa, aqui, a investigação das bases do funcionamento de tal relação, isto é,
a aplicabilidade e função desempenhada pela magia dentro do universo maior da mentalidade
religiosa paraense, e como esta se inseria na vida social.
1 Resp o n sável t amb ém p ela p ub licação d o man uscrit o in quisit o r ial, J. R. A. Lap a escr eveu
A I n quisição n o P ará in B o le ti m I nte rnac i o nal de B i bli o g rafi a Lus o - B ras i le i ra,
vo l. X, n º 1, Lisb o a, F un d ação Calo ust e-G ulb en kian , jan -m ar 1969; a co mun icação O
D iab o , um b o m co m p an h eir o ? ap er sen t ad a ao I Co n gr esso I n t er n acio n al e Luso -
Brasileiro so b re a I n quisição , São P aulo , 1987 (mimeo ) - p ub licad a, co m alt eraçõ es, so b
o t ít ulo D a n ecessid ad e d o D iab o (imagin ár io so cial e co t id ian o n o Br asil d o século
XVI I I ) in Re s g ate : Revist a in t er d iscip lin ar d e cult ur a d o Cen t r o d e Mem ó ria d a
UN I CAMP , Camp in as, 1990, vo l.1, p p .39-55. D o mesmo aut o r en co n t r a-se, ain d a, o
est ud o in t r o d ut ó r io p r esen t e n a p ub licação d o Li vro da Vi s i taç ão .
7
que tange à religiosidade colonial e suas relações com o Santo Ofício, traz abundantes e
precisas informações sobre a organização, funcionamento e estrutura do Tribunal no Brasil8.
É durante a década de 1980 que a influência da Nouvelle Histoire, filha direta dos
Annales, traduz-se em pesquisas que utilizam fontes documentais da Inquisição portuguesa.
Os trabalhos seminais de Lana Lage, Laura de Mello e Souza, Luiz Mott e Ronaldo Vainfas9,
por exemplo, trazem em si a renovação metodológica preconizada pelo movimento francês,
no trato com as fontes inquisitoriais. A começar pelos temas de pesquisas e pelo tratamento
qualitativo das fontes, estes trabalhos vêm influenciando, atualmente, diversas investigações
que fazem uso de documentação inquisitorial, entre as quais se insere esta pesquisa.
Para o estudo aqui proposto, a primeira etapa é a que possui maior interesse,
na medida em que consiste na pesquisa biográfica dos acusados e envolvidos, bem como na
busca pelas descrições mais minuciosas possíveis dos delitos - que constam dos processos e,
também, dos livros de visitação. Graças ao detalhismo inquisitorial, presente nos depoimentos,
o estudioso da feitiçaria no Brasil colonial (entre outros temas) consegue relatos com razoável
exatidão dos rituais e práticas mágicas. As descrições de danças, cânticos, preces e objetos de
culto constituem-se em minuciosas etnografias das práticas oriundas da religiosidade popular,
possibilitando ao historiador um conhecimento detalhado desses atos.
Ao traçar o panorama de uma nova história , que é fruto dos Annales, Peter
Burke menciona o fato de que os maiores problemas para os novos historiadores (...) são
certamente aqueles das fontes e métodos . Um dos problemas mencionados por Burke assalta
a todos aqueles que trabalham com fontes inquisitoriais: é o de tentar reconstruir as
suposições cotidianas, comuns, tendo como base os registros do que foram acontecimentos
extraordinários nas vidas do acusado (sic): interrogatórios e julgamentos 12.
Isto porque um depoimento frente à Mesa inquisitorial era, não poucas vezes,
fruto de uma situação de opressão e terror - propositalmente provocado pelo Tribunal. Por
este fato, deve-se ter em mente, sempre, o contexto singular no qual estas fontes foram
produzidas. Há um jogo desigual de poder, onde o inquisidor leva uma nítida vantagem sobre
o depoente, e no qual o esforço do primeiro em extrair deste último uma verdade é, não
poucas vezes, bem sucedido. Em função da situação opressora, e até mesmo em virtude de
algumas passagens pelos aparelhos de tortura, o réu falsearia a verdade e entregar-se-ia,
cumprindo assim o papel que, esperava-se, ele representasse. Segundo Ginzburg, neste caso os
processos inquisitoriais apresentam uma estrutura textual monódica, onde as respostas dos
12 P et er Bur ke, Ab ert ura: A N o va H ist ó r ia, seu p assad o e seu fut ur o in Burke (o r g.),
p ag. 25.
11
réus são meros ecos às questões e à mentalidade dos inquisidores13. Para Ginzburg, cabe ao
historiador a sensibilidade de captar, para lá da superfície aveludada do texto, a interação sutil
de ameaças e medos, de ataques e recuos 14. Há, então, que ser feita uma crítica interna a este
tipo de documentação para que, introjetando-se no contexto desigual da produção desta fonte,
o historiador possa melhor entender a estrutura textual que ela apresenta - podendo, assim,
compreendê-la.
da Coroa lusa, o Grão-Pará acolheu o último visitador inquisitorial a pisar o solo brasileiro.
Uma análise dos motivos que impulsionaram esta visitação e dos delitos nela recolhidos, bem
como dos denunciantes e confitentes, fecha o capítulo.
A Lana Lage, grande amiga que tenho a sorte de ter como orientadora,
agradeço o afeto, a atenção e as discussões - que não foram poucas - ao longo destes anos
todos. Esta dissertação é um pequeno fruto de seu trabalho, e espero que esteja à altura dele.
CAP Í T U LO 1
Reprimidos e expulsos de Castela em 1492, num processo que não cabe aqui
p elas m ais r icas fam ílias ju d aicas cast elh an as, p ar a assegu r ar in gr esso em
P o r t u gal 16. I sto, sem falar no poderio financeiro hebraico, que ajudava a
obviamente agravou antigos preconceitos. Além disso, o rei Fernando não via
com D . I sabel - filha dos reis católicos -, assinado em 1496, uma clara e
p ag. 27.
17
fo r çad as 18. Uma outra forma de integração forçada encontrada pelo monarca
anos, que foram por sua vez retiradas de suas famílias originais e entregues a
famílias cristãs 19. A reação popular também, por seu lado, possuiu momentos
sinagoga.
modo, com que fosse inserida em Portugal, para além da divisão social
volta de 1530, o rei enviava instruções a seu embaixador em Roma, para que
fosse pedida uma bula que estabelecesse o Tribunal em terras lusas. D . João
1531 a bula Cum ad N ihil Mag is . N este documento, que era uma alternativa
inquisidor tinha, por ordem papal, autoridade limitada, não estando acima da
heresias. E sta bula não satisfez o rei, e Fr. D iogo da Silva - confessor real e
p er ío d o d e t r ês an o s.
co n st it u ição d o m o d er n o E st ad o ab so lu t ist a.
20
todo o vasto império português, atingindo regiões tão distantes quanto Brasil,
suas elites -, que será tão acirradamente combatido pela política pombalina,
posteriormente.
E stado, a primeira nunca esteve, pelo menos até a metade do século XVI I I ,
d ir et r izes em an ad as d o t r o n o 28.
notamos que aqui tal submissão e uso do Tribunal por parte do E stado não
seus atos eram totalmente independentes - e ele não podia ser destituído,
agiam, isto sim, afinados por objetivos semelhantes - afinal, não devemos
I I - I N Q U I SI ÇÃO N O CO N T E X T O D AS RE F O RMAS
30 T ais d elit o s est ão m in ucio samen t e list ad o s n o Mo ni tó ri o d e 1536, que leva a assin at ur a
d e D . D io go d a Silva. Ver Co lle c to ri o s das B ullas e B re ve s Apo s to li c o s , Cartas
Alvarás e P ro vi s õ e s Re ae s , e o ut r o s p ap eis, em que se co n t êm a in st it uição e p rim eir o
p ro gr esso d o San ct o O fficio em P o r t ugal, Lisb o a, n as Casas d a San ct a I n quisição , 1596.
Mar ia J. P . F . T avar es ap resen t a, em o b r a já cit ad a, um a t r an scr ição d a versão
26
p ara o sign ificad o d e t ais t er mo s), ver Jean D elumeau, E l Cato li c i s m o de Lute ro a
Vo ltai re , Barcelo n a, Lab o r , 1973 (p r in cip almen t e o cap ít ulo 2); N .S. D avid so n , A
Co ntra- re fo rm a, São P aulo , Mar t in s F o n t es, 1991 e Br en d a Bo lt o n , A Re fo rm a na
I dade Mé di a, Lisb o a, E d içõ es 70, 1986.
27
existia era uma intensa comunicação entre tais estratos, sendo que os
32 P et er Bur ke, Cultura P o pular na I dade Mo de rna, São P aulo , Co m p an h ia d as Let r as,
1989, p p . 232-233.
33 I d em , p ag. 237.
34 Ver Carlo G in zb urg, O Q ue i jo e o s Ve rm e s , São P aulo , Co mp an h ia d as Let r as, 1987,
por parte dos fiéis a serem reformados. H ouve resistências, no que diz
1962 37.
I nquisição ibérica avança na repressão aos delitos dos cristãos velhos, que
iam contra o que pregava o concílio. D este modo novos delitos, morais e
luteranismo (que não tomou vulto expressivo na península I bérica) 40. I sto,
sem falar que a I nquisição voltou seus severos olhos para a disciplinarização
39 Cf. Luiz N azário , O julgam en t o d as ch amas: aut o s-d e-fé co mo esp et áculo s d e m assa
in An it a N o vin sky e Mar ia Luíza T ucci Carn eir o (o rgs.), I nqui s i ç ão , Rio d e
Jan eir o / E xp r essão e Cult ur a; São P aulo / E D USP , 1992, p p . 525-546.
40 E st a vir ad a n a at ivid ad e in quisit o r ial é d emo n st rad a, p ara o caso d e E sp an h a, at r avés d e
est ud o s que fazem p r o veit o sa ut ilização d e t écn icas quan t it at ivas, co m o o d e Jean
P ierr e D ed ieu, Les quat r e t emp s d e l I n quisit io n , in Ben n assar (o r g.), L I nqui s i ti o n
E s pag no le , P ar is, Mar ab o ut , 1982, p p . 13-39.
30
" cr ist ian ism o t r ad icio n al" 42, no qual a sociedade se achava imersa. O campo
rituais, auferir a intercessão dos santos para obter proteção para as colheitas,
41 So b re est a facet a d a r ep ressão I n quisit o r ial, ver a t ese d e Lan a Lage d a G ama Lim a, A
Co nfi s s ão P e lo Ave s s o , ap r esen t ad a à Un iver sid ad e d e São P aulo em 1991, 3 vo ls.,
mimeo .
31
tais como doenças, sumiços de objetos etc. Mas, segundo K . Thomas, o culto
dos santos era apenas uma faceta do magismo que caracterizava a I greja
sobrenaturais, que podiam ser distribuídos aos fiéis para auxiliá-los em seus
42 Jo h n Bo ssy, A Cri s tandade no O c i de nte , Lisb o a, E d içõ es 70, 1990 (p r in cip almen t e a
p rimeir a p ar t e) e K eit h T h o mas, Re li g i ão e o D e c lí ni o da Mag i a, São P aulo ,
Co m p an h ia d as Let r as, 1991 (cap ít ulo s 2 e 3).
43 Bo ssy, o p . cit ., p ag. 26.
44 Ap ud K . T h o mas, o p . cit ., p ag. 36.
45 Bo ssy, o p . cit ., p ag. 32.
46 T h o mas, o p . cit ., p ag. 38.
32
" d e elit e" o u " er u d it a" p er d e r azão d e ser , q u an d o an alisad a so b est a ó t ica - e
só cio -eco n ô m ica, o p esq u isad o r d eve levar em co n t a as d ifer en ças sexu ais,
oposição à religião estabelecida pela I greja - esta, por sua vez, "erudita"
47 I d em , p ag. 40.
48 Ro ger Ch ar t ier , T ext o s, imp r esso s, leit uras in o p . cit , s.d ., p ag. 134.
33
CAP Í T ULO 2
- I N Q UI SI ÇÃO E MAG I A -
todo.
- A Co n s p i raç ão U n i ve rs al
manifestará no livro das Crô nic as , onde Satã influencia a D avid, fazendo
com que ele realize um censo do povo eleito - mensurando, assim, a obra do
por parte dos simples mortais (I , 21). N o texto das Crô nic as reza que
rei poeta, insuflado por Satã. Q uando abordamos a literatura judaica dos
concepção dualista que divide todas as coisas com base em uma opção entre
Cristo e Satã, trazem diversas menções a este combate entre o bem e o mal.
corpos e almas". A partir daí, o mundo será partilhado entre Cristo e Satã 56.
elementos do paganismo, por parte da religião agora dominante. E sta, por sua
vez, via-se às voltas com uma evangelização de fiéis que quase sempre não
53 Co h n , o p . cit ., p ag. 7.
54 Jeffrey Burt o n Russel, O D i abo , Rio d e Jan eir o , Camp us, 1991, p ags. 48 e 86.
55 Carlo s Ro b er t o F . N o gueira, O D i abo no I m ag i nári o Cri s tão , São P aulo , Át ica, 1986,
p ag. 17.
37
se como que obsidiada pela figura do G rande I nimigo. Para D elumeau, esta
infernais, e na idéia fixa das armadilhas e tentações de que Satã faz uso, na
acontecia poderia ser obra sua - para castigar os homens ou para seduzi-los,
levando-os à perdição.
56 I d em p ag. 18.
57 I d em, p p . 26-31.
58 D elumeau, o p . cit ., p ag. 239.
59 I d em, p ag. 240.
60 N o gueir a, o p . cit ., p ag. 76.
61 I d em, p ag. 73.
38
ainda mais amplo de analfabetos, na medida em que eram lidas em voz alta
seu alcance através do tempo: somente o Malle us Male fic arum, ícone maior
81 edições na E uropa entre 1486, data de sua primeira edição, e 1669, quando
62 Ver , a est e resp eit o , Lucien F eb vr e e H en r i-Jean Mar t in , O Apare c i m e nto do Li vro ,
São P aulo , UN E SP / H UCI T E C, 1992, cap ít ulo s 4 e 8.
63 So b r e a d ifusão d as id éias at ravés d as p r át icas d e leit ura, ver Ro ger Ch ar t ier , T ext o s,
im p resso s, leit uras in A H i s tó ri a Cultural, Lisb o a/ D I F E L, Rio d e Jan eir o / Ber t r an d
Brasil, s.d . D o mesmo aut o r , ver As p r át icas d a escr it a n a H i s tó ri a da Vi da P ri vada,
São P aulo , Co mp an h ia d as Let r as, 1991, vo l. 3, p p . 113-161.
64 Ro ssel H o p e Ro b b in s, T he E nc yc lo pe di a o f Wi tc hc raft & D e m o no lo g y, N ew Yo r k,
Por ser incorpóreo, o D iabo podia tomar a forma que lhe aprouvesse para se
que o D iabo, por tomar diversas formas, pode estar em diversos locais e
Co mpe ndium Male fic arum, seis tipos de demônios: os que residem no fogo,
e não têm contato com os homens; os do ar, que estão ao redor dos homens e
d em ô n io s d as t r evas, q u e n ão su p o r t am a lu z e só se lo co m o vem e
67 H ein r ich K r amer & Jako b Sp ren ger , Malle us Male fi c arum , Rio d e Jan eir o , Ro sa d o s
T em p o s, 1991, quest ão I , p p . 49-63.
68 F r an cesco Mar ia G uazzo , Co m pe ndi um Male fi c arum (1608), Ap ud Ro b b in s, o p . cit .,
p p . 132-133.
69 E r am exat o s 133 306 668 d emô n io s. Ap ud Ro b b in s, o p . cit ., p ag. 130.
70 D elumeau, o p . cit ., p ag. 257. Ver t am b ém K eit h T h o mas, Re li g i ão e o D e c lí ni o da
A idéia de que estes agentes de Satã viviam infiltrados no seio das sociedades é
tão antiga quanto o próprio cristianismo. O que variava, ao sabor das conjunturas, era a
identificação do membros desta quinta-coluna dos infernos. A Igreja primitiva os associava
aos pagãos; com o passar do tempo, aqueles que professavam idéias e crenças discordantes da
ortodoxia cristãs também foram ligados a essa proposição. Na Idade Média, esta idéia está
associada aos hereges, judeus, muçulmanos. Na França do século XII, por exemplo,
acreditava-se uma característica dos hereges - segundo aqueles que os perseguiam - a adoração
do Diabo encarnado em alguma forma física - um gato negro, um sapo, um bode ou homem -,
elemento que depois foi incorporado pelo discurso contra a bruxaria. E no século XIV, após o
rumoroso processo contra os templários, a bruxaria começou a ser associada à heresia71.
velha e feia, que possui poderes sobrenaturais malignos, que anda em contato
com os demônios e vai voando numa vassoura ao Sabbat - levou muito tempo
71 Co h n , o p . cit ., p p . 7-11.
42
pelas elites eclesiásticas, mas que encontrou eco na magistratura civil e entre
Assim era com a crença no "exército furioso" de espíritos que, à noite, errava
pequenas para sugar seu sangue. Tais crenças possuíam origem pré-cristã,
manifestavam-se com maior vigor nas zonas rurais e locais mais afastados dos
grandes centros, onde o cristianismo era apenas um fino verniz que recobria
72 Bian P . Levack, A Caç a às B rux as , Rio d e Jan eir o , Cam p us, 1988, esp ecialmen t e o
cap ít ulo 2.
73 Car lo G in zb ur g, H i s tó ri a N o turna, São P aulo , Co m p an h ia d as Let r as, 1991.
74 Ro b ert Much emb led , So rceller ie, cult ur e p o p ulaire et ch r ist ian isme au XVI e siècle in
Annale s , 28 an n ée, 1, jan -fev. 1973, p p . 264-284.
43
I gr eja d a alt a I d ad e Méd ia, p asso u -se a u m a in t o ler ân cia cad a vez m ais
às m ais d iver sas cir cu n st ân cias. I n clu sive, est a fo i a t ô n ica d a cat eq u ese d a
tanto no seio dos rituais como entre os fiéis 76. A esta atitude de
tomando assim, aos poucos, sua forma clássica - a que está nos manuais
h o m icíd io .
ela só tem acesso a ele por meio do pacto. K ramer e Sprenger, no Malle us
ao Ca n o n E p i s c o p i 79!
graças a ele que a feitiçaria - antes vista como uma prática anti-social devido
ao male fic ium, - isto é, a magia prejudicial passível de punição pela justiça
laica - passou a ser associada à heresia. Segundo Levack, "no sentido mais
pleno da palavra, uma bruxa era tanto uma praticante de magia maléfica,
o b r a in t it u lad a D e s e n g an o d o s P e c a d o re s :
" É c o is a s ab id a aq u e le d an o e m ale f íc io q u e f az e m n o m u n d o , q u as e
e m t o d as as n aç õ e s , aq u e las d e p r av ad as m u lh e r e s a q u e v ó s c h am ais
v u lgar m e n t e f e it ic e ir as o u b r u xas . E stas desgraçadas como têm arrenegado
a fé pelo contrato feito com o D emônio, a quem têm vendido a sua alma, ficam
conseguintemente inimigas do gênero humano, principalmente católico, e por
isso procuram faz er-lhe o mal que podem..." 81
entre a bruxa e o D iabo. Um deles é o male fic ium - a magia maléfica, a qual
feiticeiros. E le podia se manifestar das mais diversas formas: desde uma dor
repressão.
- A R e p re s s ão
bruxas.
também a explicar o porque da fúria repressora que teve seu auge entre os
I I O CO N T E XT O I BÉ RI CO
patente dentre eles - é a excessiva atenção dada, pela I nquisição ibérica num
a repressão à bruxaria.
aos dez mandamentos, aos sete pecados capitais e aos sacramentos, discutem
conceito de bruxaria fez com que seus elementos surgissem de forma dispersa
espanhóis não davam aos casos de bruxaria o tratamento que era dispensado
generalizada" 89.
CAP ÍT U LO 3
- P O LÍ T I CA P O MBALI N A E I N Q UI SI ÇÃO -
I - P AN O RAMA D O P O RT U G AL P RÉ -P O MBALI N O
- B re ve H i s tó ri c o d a Go ve rn a ç ã o P o m b a li n a
formação do Estado absolutista, estando na vanguarda dos acontecimentos no período que vai
de fins do século XV a princípios do XVI90.
24.
92 F r an cisco Jo sé Calazan s F alco n , A É po c a P o m bali na, São P aulo , Át ica, 1982, p p .
É neste contexto que D. José I ascende ao poder, e com ele Sebastião José, que
posteriormente (quando adquiriu maior proeminência política, após o terremoto de 1755)
passou a encetar esforços no sentido de fortalecer e reestruturar o poder da Coroa, o que
redundaria, diretamente, no aumento de seu próprio poder pessoal. Pombal encarnaria em
Portugal aquilo que, posteriormente, veio a ser chamado de "despotismo ilustrado" ou
"esclarecido"95.
Devemos levar em conta que este processo de reforço do poder real - para cuja
execução Pombal não mediu conseqüências nem obstáculos - foi contemporâneo à adoção
mais firme, por parte do Marquês, de duas práticas a princípio excludentes e contraditórias: o
iluminismo e o mercantilismo.
94 I d em, p p . 371-373.
95 Marques, o p . cit ., v.1, p ag. 404. Ver t amb ém F alco n , D e s po ti s m o E s c lare c i do , São
P aulo , Br asilien se, 1987.
96 An t ó n io Leit e, " A id eo lo gia p o m b alin a: d esp o t ismo esclar ecid o e r egalism o " in VV.AA.,
Co m o i nte rpre tar P o m bal? Lisb o a/ Bro t ér ia; P o r t o / Livrar ia A.I ., 1983, p ag. 31.
59
- . . . E Su b ju g a r as O p o s i ç õ e s .
sangue cristão-novo, pondo assim por terra a arenga de pureza genealógica feita pelos assim
chamados "puritanos"104.
de tal expurgo, segundo um irado Visconde de Carnaxide, "incensava o Conde de O eiras com
baixa e servil bajulação", mostrando assim sua submissão a Pombal109.
Outra frente da ação pombalina consistiu nos embates contra o clero. Dado o
peso da Igreja, dominante em todos os campos da sociedade portuguesa, era de se esperar a
ocorrência de tal conflito. Afinal, a autonomia do clero e o sucesso de sua atuação, presente
com eficácia desde os mais microscópicos níveis da sociedade, como as comunidades e
famílias, até o âmbito das relações internacionais, devia-se aos diversos privilégios que possuía,
e que lhe valiam posição preponderante na estrutura social portuguesa. O poder da Igreja
chegava a tal ponto que sobrepujava, em termos de identificação, o da nacionalidade:
" ' P o rt uguês' e ' cat ó lico ' t o r n am-se (...) id en t id ad es in sep aráveis. Mas,
co mo o s m eio s d e p r o d ução d a id en t id ad e cat ó lica er am muit o m ais
eficazes e ab ran gen t es d o que o s m ecan ism o s d e p r o d ução d e um a
p ag. 287.
114 E n t r e 1701 e 1750, cer ca d e um t er ço d o s filh o s d a n o b reza, t an t o h o m en s quan t o
mulh eres, in gressava n a vid a eclesiást ica. Ver H i s tó ri a de P o rtug al, vo l. 3, p p . 366-
367.
115 Lei d e 2/ 04/ 1768, in Co le c ç ão das Le i s ..., t o mo I I . G rifo m eu.
65
semelhança da sociedade eclesiástica (...) a visão do Estado como braço secular da Igreja"116.
Tratava-se, em outras palavras, do processo de secularização da sociedade temporal, da
redefinição das relações entre sacerdotium e imperium, com a proeminência e tutela deste
último sobre o primeiro.
O regalismo pombalino, de pleno acordo com sua práxis política, visava retirar
o máximo possível da influência do papado sobre a Igreja portuguesa, subordinando-a
diretamente à tutela da Coroa. Este processo levou, inclusive, a episódios extremos como a
expulsão do Núncio Apostólico de Portugal e, conseqüentemente, à ruptura de relações com a
Santa Sé, em 1760. Este regalismo por pouco não acarretou a constituição, em Portugal, de
uma Igreja nacional de direito (porque o foi de fato), que fosse submetida ao rei e
independente administrativamente do papado. O estudioso António Leite atribui tal regalismo
a uma influência da política religiosa de Inglaterra, onde Pombal estivera a serviço dos
negócios portugueses, entre 1738 e 1744, bem como à influência do Jansenismo, corrente
contrária à dos jesuítas, a quem acusavam de laxismo moral. Os jansenistas também eram
adeptos de doutrinas regalistas, sendo hostis ao papado117.
116 Jo sé Seb ast ião d a Silva D ias, " P o mb alism o e t eo r ia p o lít ica" in Cultura, H i s tó ri a e
F i lo s o fi a, vo l. 1, 1982, p ag. 48.
117 Leit e, o p . cit ., p p . 38-43.
118 Co le c ç ão das Le i s ..., t o mo I I .
66
educacional religioso, retirando primeiro aos jesuítas, e depois aos eclesiásticos em geral, o
monopólio da educação e cultura em Portugal, entre outras medidas119.
A última frente de ação diz respeito à burguesia mercantil, que Pombal tratou
de promover. A promoção desta parcela da sociedade estava ligada diretamente ao esforço
pombalino para retirar a economia portuguesa do jugo inglês, consolidado pelo tratado de
Methuen (27/ 12/ 1703), em que Portugal comprometia-se a fornecer, com exclusividade,
vinhos em troca da mesma exclusividade na compra dos bens manufaturados ingleses120. O
tratado dava o monopólio de tráfico e carregamento à marinha britânica, que influía mesmo
nas viagens entre os portos portugueses, tornando Portugal e suas colônias uma grande
feitoria britânica121.
p ara as r efo r mas p o mb alin as. Assim d escreve o Visco n d e d e Car n axid e: N ão fo i o
im p ulso co n st r ut ivo a mo la que imp eliu a quase t o t alid ad e d est as r efo r mas. O que as
d et er m in o u fo i o d esejo d e co rt ar, ao s in gleses, a in fluên cia que t in h am so b r e o n o sso
co m ércio , e ao s jesuít as, o d o m ín io que exerciam so b re a co n sciên cia p úb lica , o p . cit .,
p ag.2. P en so que, ao in vés d e jesuít as , ser ia m ais acert ad o o uso d a exp ressão
clero . O h ist o r iad o r Jo ão Lúcio d e Azeved o t am b ém at rib ui p ap el fun d am en t al ao
d o mín io in glês: P ô r t er mo a est a fo r çad a vassalagem d a n ação ao co mér cio b rit ân ico
(...) fo i o p en sam en t o d o m in an t e d e Seb ast ião Jo sé d e Car valh o , n a sua p o lít ica
eco n ô m ica , É po c as de P o rtug al E c o nô m i c o , Lisb o a, Livr aria Clássica E d it o r a, 1973,
cap ít ulo VI I e p ag. 432.
122 Mar ques, o p . cit ., p p . 380-382.
123 Azeved o , o p .cit ., p ag. 432.
67
companhias de comércio - isto tudo, como seria de se esperar, sob veementes reações de
comerciantes e diplomatas ingleses.
O que nos interessa, neste momento, é o fato de que esta política de Pombal
levou a uma ascensão da burguesia lusitana - mais sensivelmente em seu setor mercantil - que,
embora não tomasse aos estrangeiros a hegemonia do comércio exterior, passou a ter uma
importância que não tivera até então124. Dentro da estratégia pombalina, a burguesia mercantil
atuava como parceira do Estado, injetando capital (principalmente) nas companhias de
comércio. A burguesia, desta maneira, foi protegida e incentivada pelo Estado, o que pode ser
percebido através do alvará de 5 de janeiro de 1757, que eleva ao enobrecimento a atividade
comercial125. E, no âmbito desta proteção à burguesia, estava inserida uma política de
tolerância face a endinheirado setor que corria para o exterior, devido à acirrada repressão
inquisitorial: os cristãos-novos. É com o fito de proteger o elemento converso da burguesia
que Pombal lança mão de uma legislação protecionista, que será em momento oportuno
analisada. Por ora basta afirmar que esta legislação tem como marcos o Alvará de 2 de maio de
1768, que ordena a destruição das fintas dos cristãos-novos (que constituíam fator gerador de
infâmia e mácula genealógica) e a Carta de Lei de 26 de maio de 1773, onde é abolida a
distinção entre cristãos-novos e velhos126. Obviamente a segregação e o preconceito não
desapareceram, continuando presentes, embora de forma escamoteada, no cotidiano
português127. Vale notar apenas mais um fato significativo: esta legislação tolerante -
principalmente a lei de 1773 - ocorre justamente num momento em que a ascensão da
burguesia, inclusive com sua parcela cristã nova, gera fortes reações entre o setor aristocrático.
É Pombal, mais uma vez, a afrontar a nobreza.
- Co ntra o s Je s uítas
ideológicas e religiosas.
contra a "velha ordem" lusa, clerical até a medula, típica do "atraso" em que
vivia Portugal:
m an t e n d o v igilân c ia in c e s s an t e c o n t r a t o d o s e c o n t r a t u d o q u e s e
c o n s t it u ís s e e m am e aç a a u m a t al h e ge m o n ia" 128.
onde a ordem era senhora absoluta até 1708, ano em que, por concessão
co n t as, a I gr eja o u o E st ad o , d et er m in ar ia o s m ét o d o s e o s co n t eú d o s d o s
p r o cesso s ed u cat ivo s" 130. E ssa ruptura representou a derrocada de um grupo
substituído por outro, mais de acordo com o novo perfil do E stado luso.
este consistia "a base (...) da formação das mentalidades, mais ainda, da
Portugal, esta influência reflete-se no singular fato de que foi com a ajuda do
deste grande estado" e que "cada religião [i. e., ordem religiosa] destas forma,
134 Mar co s Carn eir o d e Men d o n ça (co mp .), A Am az ô ni a na É po c a P o m bali na, t o mo 3ª,
Rio d e Jan eir o , I H G B, s.d ., p ag. 154.
135 Co lle c ç ão do s T ratado s ..., vo l. 3. D en t r e o s est ud io so s que co n co rd am co m a id éia d e
a r esist ên cia ao t r at ad o d e limit es est ar n a gên ese d a quer ela an t ijesuít ica, ver a o b r a d o
Visco n d e d e Carn axid e, já cit ad a, p ag. 16; Avellar , o p . cit ., p p . 25-26; An t ó n io Leit e,
o p . cit ., p ag. 50.
74
ano em que retirava este poder aos jesuítas - para utilizarmos de maior
justamente por ser este o local onde o poder desta última mais resistências
136 O Visco n d e d e Car n axid e é quem t r at a d o assun t o em t erm o s d e guerr a d eclar ad a. Ver
o p . cit ., p ag. 16.
137 D e duç ão Cro no ló g i c a e Analí ti c a, d ad a à luz p elo D r . Jo sé Seab r a d a Silva, Lisb o a,
e mais oficiais de justiça" 140; o uso da língua geral deve ser proibido, ficando
outras medidas.
conseguir sua extinção. Como o Sumo Pontífice, por motivos que punham em
jogo sua própria autoridade enquanto chefe da I greja, mantivera-se surdo aos
Cun h a ao Car d eal Acciaio lli p ara sair d a co rt e d e Lisb o a" (14/ 6/ 1760) in Co le c ç ão das
Le i s ..., t o mo I .
77
custado uma considerável soma ao tesouro português 148. Assim, as três Coroas
in acian o s) 149.
seguinte trecho:
autoridade por parte das três Coroas. D esta maneira, através da Bula
poderio político da I greja, que a todo custo deveria ser reduzido e subjugado.
I nquisição - que não tinha mais lugar no projeto pombalino de levar Portugal
- I n q u i s i ç ão e E s ta d o
d e P ro c e d e r a I n q u i s i ç ã o c o m o s s e u s P re s o s , d a au t o r ia d e P ed r o Lu p in a
de D . Luís da Cunha (escrito entre 1747 e 1749), nas Cartas de Luís Antônio
Tais escritos revelam as idéias que grassavam entre alguns setores da elite
X V III
AN O S Li s b o a É vo ra Co i m b ra T O T AL
N o t am o s, ao an alisar o s n ú m er o s d e co n d en ad o s, q u e est es
usou contra os inacianos): preferiu a dominação lenta e segura, uma vez que
atribuições que este teria, uma vez reformado, foram inspiradas em dois
autores e suas obras: o Cardeal da Cunha (no T e s tame nto Po lític o ) e Verney
(em suas Cartas ). Para o primeiro, a I nquisição era responsável pela penúria
de Portugal, uma vez que fora ela quem provocara a fuga da endinheirada
158 I d em, p ag. 58. A resp eit o d o s cr ist ão s-n o vo s flum in en ses, ver Lin a G o r en st ein F er r eir a
d a Silva, I nqui s i ç ão no Ri o de Jane i ro Se te c e nti s ta: D isser t ação d e Mest r ad o
ap resen t ad a à USP , São P aulo , 1993, esp ecialmen t e p ag. 153.
159 F alco n , A É po c a.., p ag. 441.
85
p o lít icas e r eligio sas q u e est ão a exigi-la" 160. À medida em que preconiza uma
O fício perderia sua principal razão de ser, uma vez que fora instalado em
afirma que a I nquisição deve se voltar para outras esferas de ação, como por
co m p r ad o p er d õ es e o u t r o s b en efício s ao r ei - e q u e er am u sad o s co m o
listas, que deviam ser entregues ao E rário Real para serem destruídas "com
(desde que não fossem hereges impenitentes) eram declarados hábeis para
J. Saraiva,
P r im eir o Min ist r o d e seu r eal m eio -ir m ão 170. Após a renúncia, e por um
sendo o Tribunal gerido pelo Conselho G eral do Santo O fício, que contava,
1769, que confere ao Santo O fício o título de maje s tade , com isso alçando-o
p ag. 113.
90
" f o r am s e m p r e , e s ão t r at ad o s p o r M ajestade, e d e q u e s e n d o o
C o n s e lh o G e r al d o San t o O f íc io u m d o s t r ib u n ais m ais c o n ju n t o s , e
im e d iat o s à M in h a R e al P e s s o a, p e lo s e u in s t it u t o , e m in is t é r io ..."
CAP Í T U LO 4
- A VI SI T AÇÃO E M SE U CO N T E X T O -
178Cap ist r an o d e Ab reu, Capí tulo s de H i s tó ri a Co lo ni al, Belo H o r izo n t e/ I t at iaia; São
P aulo / E D USP , 1988, p p . 109-112.
93
Guajará, uma casa forte, denominada Presépio. Estava dado o primeiro passo para a ocupação
do Pará179.
A partir deste primeiro núcleo, teve início um contato mais efetivo, por parte
dos portugueses, com os índios tupinambás - os quais, por sua vez, já tiveram relações com os
franceses, embora estes não fundassem um estabelecimento na área que viria a se tornar o
Pará. Castelo Branco procurava atrair-lhes a amizade e confiança, presenteando-os com
ferramentas, fazendas e outras utilidades. Contudo, a política portuguesa para com os índios
foi de submissão à força, respaldada pelo terror advindo de execuções massivas e violentas,
que afetaram a povoação indígena180. Castelo Branco fez, ainda , construir habitações
permanentes e uma igreja Matriz, projetando assim a cidade que foi posta sob a guarda
espiritual de Nossa Senhora de Belém.
Por carecer de uma colonização mais efetiva, a região foi alvo de continuadas
campanhas de estímulo à imigração por parte da Coroa. Nestas campanhas, levadas a cabo
através da divulgação de numerosos folhetos propagandísticos, o Pará e o Amazonas eram
apontados como alternativas para a Índia, sendo vistos como uma terra de promissão. O
Norte do Brasil despontava como local produtor de especiarias, graças à abundância do
gengibre, da canela e da pimenta; acreditava-se ainda ser possível encontrar metais preciosos;
outros fatores de atração eram suas terras abundantes e a natureza exuberante183. A
propaganda ressaltava as potencialidades agrícolas daqueles rincões, bem como a necessidade
de ocupá-los e aproveitá-los.
A presença das missões religiosas foi, por um lado, de grande utilidade aos
planos da Coroa. Pacificando e catequizando os índios, os clérigos facilitaram a expansão do
domínio português e da colonização. Os missionários atentavam ao projeto da Coroa lusitana
182 Ver Man o el N un es D ias, E st r at égia P o mb alin a d e ur b an ização d o E sp aço Amazô n ico
in V.V.A.A., Co m o I nte rpre tar P o m bal?, Lisb o a/ Br o t éria; P o rt o / Livrar ia A.I ., 1983,
p p . 301-302.
183 Ân gela D o m in gues, Vi ag e ns de E x plo raç ão Ge o g ráfi c a na Am az ó ni a e m F i nai s do
Sé c ulo XVI I I , Lisb o a, I n st it ut o d e H ist ó r ia d e Além-Mar, F .C.S.H .-U.N .L., 1991, p ag.
12
184 Mo r eira N et o , o p . cit ., p p . 67-96.
95
de dilatar a fé e o Império. O monarca D. Pedro II, em 1680, chega a afirmar que o objetivo
de sua política amazônica era
185 Anai s da B i bli o te c a N ac i o nal, vo l. 66, 1º p ar t e, Rio d e Jan eir o , 1948, p ag. 53.
96
Isto, devido ao fato - era esta a grande questão entre colonos e religiosos - de
as missões serem as grandes monopolizadoras da mão-de-obra indígena. A prática dos
descimentos - que significava, a princípio, trazer, por meios pacíficos e pela persuasão os índios
para o grêmio da Igreja e para a fidelidade ao rei de Portugal - revelou-se por demais lucrativa.
O processo de descimento incluía a pacificação e a mudança dos índios: do sertão para uma
comunidade onde todos vivessem sob a mesma fé, recebendo instruções doutrinárias e
trabalhando pela coletividade. Para conseguir tal intento, os missionários não mediram
esforços: penetraram a fundo na cultura e na religião destes povos, dominando-lhes inclusive a
língua - e neste mister ninguém foi tão hábil quanto os inacianos190. Tal prática, a princípio,
estava plenamente de acordo com a política de propagação da fé e do império adotada pela
Coroa lusitana.
Marquês tomou atitudes concretas e drásticas para acabar com o predomínio das missões - e
principalmente dos jesuítas no Estado - e na colônia, de um modo geral.
Outra medida foi a instituição, no dia seguinte à lei de libertação dos índios, da
Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, criada com o intuito de desenvolver a região e
açambarcar o monopólio comercial religioso. Através do capital privado e estatal, a idéia
básica era incentivar o desenvolvimento urbano, econômico e social do Norte brasileiro - o
que ajudaria a promover também a burguesia comercial portuguesa, a quem Pombal tanto
prezava200. Tal empresa agiu em duas frentes: a primeira contra a influência dos religiosos nos
negócios seculares e no comércio, de um modo geral. A segunda, contra os mercadores
volantes estrangeiros, que estavam a serviço da Inglaterra. A criação da Companhia também
justificou e incrementou um maior investimento em segurança, uma vez que ela abriu novas
frentes de expansão capitalista e enriqueceu as rotas atlânticas201
I I AP O RT A O VI SI T AD O R
Corria o ano de 1763. Chega ao porto de Belém a nau que traria o novo
governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, D. Fernando da Costa de Ataíde Teive.
Com ele, chega o Pe. Giraldo José de Abranches. Esta era, para a sociedade paraense, uma
ocasião especial, de expectativas e ansiedades. Afinal, não é todo dia que chega um novo
governador. Muito menos, acompanhado de um visitador do Santo O fício. Após um intervalo
de 143 anos, o Brasil voltava a abrigar tão alto emissário inquisitorial210. E quem era, afinal,
este visitador?
210A p r im eir a visit ação t eve in ício em 1591, so b r esp o n sab ilid ad e d e H eit o r F ur t ad o d e
Men d o n ça, ab r an geu o s est ad o s d a Bah ia e d e P er n amb uco , se est en d en d o at é 1595. A
103
A cidade que recebeu Pe. Giraldo possuía, à ocasião, mais de dez mil
habitantes212. A população era composta por brancos, negros, indígenas e mestiços, sendo
marcantes a escassez de mulheres brancas e a abundância de militares na região. A cidade,
grande, de ruas bem alinhadas, casas alegres, (...) em pedra e alvenaria, além de igrejas
magníficas , dava ao visitante a impressão de estar na Europa213.
segun d a, a car go d o licen ciad o Mar co s T eixeir a, t eve seu camp o d e at uação limit ad o à
Bah ia, d uran d o d e 1618 a 1620.
211 Li vro da Vi s i taç ão ..., p p . 39-47.
212 D ias, o p . cit ., p ag. 363.
213 Q uem se sen t iu assim t ran sp o rt ad o fo i Ch arles-Mar ie d e La Co n d amin e, que d escr eveu
- e ao Senado da Câmara de Belém (três dias depois de sua apresentação ao Bispo). Ambos,
bispo e autoridades, segundo o ritual de praxe, leram as credenciais e se comprometeram, por
juramento, em ajudar o visitador. Mais uma vez, tomava forma o rito de sujeição das
autoridades principais ao Santo O fício - uma característica da pedagogia inquisitorial, que
desta forma dava a entender que todos os poderes lhe estavam sujeitos, e a Inquisição tomava
a posse simbólica da sociedade215.
215 Ver F r an cisco Bet h en co ur t , I nqui s i ç ão e Co ntro le So c i al, Lisb o a, ex. mimeo , 24p .
105
- E x p li c an d o a Vi s i taç ão
Neste momento, cabe uma questão, que se faz cada vez mais premente: por
que a Inquisição teria enviado um visitador ao Pará, quando havia mais de um século que ela
abandonara tal expediente?216 E mais, por que justamente naquela região?
Por outro lado, somos levados a crer que a visitação ultrapassou a simples
verificação da influência material e espiritual da Companhia de Jesus, como afirma Lapa.
Uma outra situação de confusão e relaxamento que, sem dúvida, atrairia muito
mais as atenções de Pombal, a ponto de este enviar à colônia uma tão anacrônica visitação, é a
do bispado paraense. Criado em 1719, sua história é marcada por confrontos doutrinários e de
jurisdição com as ordens missionárias; tais conflitos, invariavelmente, tinham como temática
principal a exploração da mão-de-obra indígena e a autonomia das missões, no que tange à
administração secular e à catequese dos índios224. Na época do governo pombalino, estes
confrontos recrudescem, principalmente contra os jesuítas. Os bispos, ligados a Pombal e por
ele indicados, tomavam o partido da Coroa no combate às missões religiosas, e agiam de
acordo com a política regalista preconizada por Pombal, que era no sentido de tolher o
poderio da cúria de Roma sobre a Igreja lusitana225.
Dono, por sua vez, de uma também tumultuada biografia - tendo se envolvido
em brigas em Mariana e São Paulo -, Giraldo permaneceu como bispo-inquisidor até 1772. O
fato de haver sido indicado por Francisco Xavier de Mendonça Furtado constitui forte indício
de afinidade entre o visitador e a política de Pombal.
Creio, então, que Giraldo, por ser uma pessoa vinculada ao projeto pombalino
- e por ter amizades de tanto peso, como o irmão do Marquês - tornou-se a pessoa
encarregada de implantar - enquanto visitador inquisitorial e bispo - o modelo do catolicismo
regalista de Pombal229, reestruturando a diocese e realizando as funções de controle social
inerentes à Inquisição. Mantinha-se, desta forma, o domínio pombalino sobre a diocese e a
formação de consciências.
A visitação, por sua vez, foi aqui utilizada claramente como um instrumento
político de vigilância e controle - uma vez que tal expediente já havia sido abandonado pelo
Santo Ofício há muito tempo. Pombal, senhor todo-poderoso também da Inquisição, foi
t rab alh o .
109
buscar esta prática, anacrônica para o século XVIII, devido ao grande peso simbólico e
opressor que uma visitação inquisitorial ainda possuía sobre o povo.
Ao longo dos seis anos daquela que foi a mais demorada visita inquisitorial ao
Brasil, o visitador recebeu em sua sala, para confessar, denunciar ou fazer as duas coisas
simultaneamente, 46 pessoas. Uma quantidade muito pequena, se comparada com o volume
de denúncias/ confissões gerado nas visitações anteriores: nestas, o volume de culpas era tal
que as denúncias e confissões foram separadas em dois livros231. As apresentações da visita
paraense foram distribuídas da seguinte forma, através dos anos de sua ocorrência:
QUANT 22 14 06 02 02
p ara d en un ciar .
234 Ver Ben n assar, Mo d elo s d e la m en t alid ad in quisit o rial: mét o d o s d e su p ed ago gía d el
mied o in Án gel Alcalá (o r g.), I nqui s i c i ó n E s paño la y Me ntali dad I nqui s i to ri al,
Barcelo n a, Ar iel, 1984, p p . 174-182
111
T al p r ep o n d er ân cia d o s h o m en s p o d e ser en t en d id a
n a m ed id a em qu e levam o s em co n t a a car ên cia d e m u lh er es,
p rin cip alm en t e eur o p éias, na r egião (e, por outro lad o , a
ab u n d ân cia d e in d ivíd u o s d o sexo m ascu lin o , p r in cip alm en t e
d evid o ao fato de a área que tratamos se encon trar
fo r t em en t e m ilit ar izad a, co n fo r m e já fo i aq u i r efer id o ).
112
como apoio e meio de solução para as dificuldades do dia-a-dia, tais como doenças, sumiços
de objetos e acidentes vários.
CAP Í T U LO 5
O primeiro deles está ligado à magia propriamente dita. Devemos, aqui, tomar o
cuidado de não adotar inteira ou acriticamente noções de magia que foram elaboradas tendo
por base estudos de outras sociedades e de outros sistemas culturais, alheios ao que
investigamos agora. Tais modelos são úteis se utilizados com comedimento e critério, e isto é
o que pretendo fazer para o estudo do sistema mágico-religioso paraense. Os grandes
esquemas aplicativos ou as definições que cabem em qualquer objeto-tempo-lugar devem ser
evitados pois, nas palavras de Carlos R. F. Nogueira, as bases do pensamento mágico diferem
de sociedade para sociedade, ou mesmo de um grupo social para outro . O autor prossegue,
afirmando que não existe uma magia, existem magias, tantas quanto forem os sistemas
culturais 240. O que procurarei neste estudo é caracterizar esta magia, traçando seus atributos e
procurando revelar sua unicidade, dentro do todo colonial brasileiro.
Creio que, no caso paraense, a magia e as diversas formas pelas quais ela se
manifesta não estão, de modo algum, desvinculadas da religião praticada diariamente. Pelo
contrário, a magia é parte integrante da religiosidade paraense. Os relatos constantes do Livro
da Visitação não apontam, em momento algum, para uma desvinculação entre uma e outra -
o que vem a confirmar as idéias de Carlos Roberto F. Nogueira, para quem
Magia, no âmbito paraense, bem como no todo colonial, não está desvinculada
de religião. Contudo, a fim de uma melhor operacionalização de nossa investigação, faz-se
necessária uma conceituação que lhe seja específica. Para este caso, encontramos em
Malinowski uma definição de considerável aplicabilidade para nosso estudo. Para ele, magia é
formando assim uma ampla rede de difusão de tais práticas, passível de ser atestada através da
leitura das denúncias e confissões245.
Uma outra noção que auxiliará a presente análise é a de religião como sistema
cultural. Segundo Clifford Geertz, a cultura rege o comportamento do homem. Ela o diferencia
do resto dos animais, cujas atitudes e reações ante o mundo estão codificadas na forma de
instinto. A cultura se apresenta como um código de ordenação e controle de atitudes e
experiências incorporado em símbolos. Graças a isto, ela torna o mundo e a vida passíveis de
compreensão pelo homem, livrando-o de um possível caos de emoções, sensações e atos.
Devido à cultura, o homem possui uma visão ordenada daquilo que o cerca: tudo o que é
novo e estranho, fora dos padrões culturais, é culturalizado e simbolizado , tornando-se
assim passível de explicação e aceitação, entrando deste modo em uma ordem lógica de
pensamento246. Cultura, para Geertz, é então um padrão de significados transmitido
historicamente, incorporado em símbolos 247. Os sistemas culturais, ou seja, os mecanismos
pelos quais determinado grupo social elabora um código de compreensão do mundo e da
realidade que o cerca, são, devemos lembrar, variáveis geográfica e cronológicamente.
13-41.
247 I d em, p ag. 103.
248 I d em, p p . 104-105.
119
Tendo este raciocínio como ponto de partida, podemos então traçar o papel da
magia dentro de um sistema religioso: ela é uma das formas de apreensão da realidade objetiva
e dos fatos da vida, como os infortúnios, os nascimentos, a morte, a chuva, as colheitas. Neste
sentido, a magia possui um papel duplo: ao mesmo tempo em que ela torna compreensíveis
tais fatos, oferece uma alternativa para interferir em seu transcurso, ou propiciá-lo de maneira
positiva para quem dela se recorre. Podemos, deste modo, compreender a mentalidade
religiosa, magista, presente no Livro da Visitação, manifestada nas confissões e denúncias
relativas à prática de magia, as quais passamos agora a analisar.
120
I I - CO N JU RO S E F E I T I ÇARI AS
-Magia D ivin at ó r ia
cristais, espelhos, espadas e outros objetos, penalizando aquele que incorresse nestas práticas
com açoites públicos, multa e degredo para o Brasil250.
250 Cf. Laur a d e Mello e So uza, O D i abo e a T e rra de Santa Cruz , São P aulo , Co mp an h ia
d as Let ras, 1987, p ag. 157. Ver t am b ém Jo sé P ed r o P aiva, P ráti c as e Cre nç as Mág i c as ,
Co imb r a, Min erva, 1992, p ag. 40.
251 Li vro da Vi s i taç ão do Santo O fí c i o da I nqui s i ç ão ao E s tado do Grão - P ará,
Deus, São Pedro e São Paulo255. Keith Thomas também relata o uso do balaio na Inglaterra do
século XVI, sendo este praticado sem muitas alterações em relação a Portugal e Brasil: o
mesmo procedimento em relação ao balaio e à tesoura, a invocação a São Pedro e São Paulo -
fortuitamente, a Deus -, e a nomeação dos culpados256.
Isabel confessou ter praticado este ritual de hidromancia por três anos
consecutivos, dois no estado de solteira, e um sendo já casada com Domingos da Silva,
capitão do regimento de Belém. Na primeira vez, desejava saber o futuro de um estudante
conhecido seu, o qual sintomaticamente a confitente não se lembra o seu nome nem dos de
seu pai . Segundo a confitente, o ovo desenhou a figura de uma igreja com um altar e um
clérigo rezando missa, indicando uma carreira eclesiástica para o rapaz - o que, conforme o
relato, veio a acontecer. A segunda vez foi para saber se determinada moça, a qual Isabel não
sabia nome, endereço ou nenhum outro dado identificador, casaria com homem do reino, ou
seja, português, ou não. Lançado na água, o ovo desenhou a figura de um navio, indicador de
que o futuro marido da consulente haveria de chegar por mar, ou seja, viria do reino - o que
veio, também, a confirmar-se. A última ocasião confessada foi para saber a mesma coisa para a
parda Nazária: como a gema do ovo, porém, não formou a imagem de um navio no copo com
água, Isabel inferiu então que Nazária casar-se-ia com um homem daqui mesmo, como na
realidade sucedeu 257. Tal prática ainda soa familiar nos dias de hoje, onde nos deparamos
com rituais semelhantes para as noites de S. João e de Sto. Antônio. Encontramos ainda
255 F r an cisco Bet h en co urt , O I m ag i nári o da Mag i a, Lisb o a, P r o ject o Un iver sid ad e
Ab ert a, 1987, p ag. 47.
256 T h o m as, o p . cit ., p ag. 184.
257 Li vro da Vi s i taç ão . . . , p p . 181-186.
123
referências a ela no Portugal do século XVII, onde Vitoria Pereira, conhecida como a
Vianeza adivinhava o destino de pessoas que estivessem ao mar através do ovo e da água.
Ficando o ovo a flutuar por sobre a água, era sinal de que as pessoas estavam a salvo, e as
embarcações estavam a navegar seguras 258.
As adivinhações de Isabel, bem como suas culpas perante o Santo Ofício, não
paravam nas sortes inocentes. Em 26 de outubro de 1763, três dias antes de sua apresentação
à Mesa da Inquisição, portanto, Isabel tinha sido denunciada ao visitador por Josefa Coelho.
Esta, por sua vez, disse saber, através de outras pessoas que testemunharam os fatos, que
Isabel tinha o costume de invocar espíritos para obter conhecimento de diversas coisas. Josefa
narrou ao visitador que Isabel punha-se no centro da sala de sua casa começava a invocar por
cantigas a três pretinhos ou diabretes , que então surgiam dos cantos da casa, dançando ao
som das ditas cantigas , e respondiam às suas perguntas. Segundo a denunciante, Isabel não
possuía uma boa reputação: em suas palavras,
Isto tudo, somado ao fato de que Isabel não frequentava a missa, nem
mandava dizê-la em sua casa260. Com base nestes dados, podemos imaginar as intenções de
Isabel, ao apresentar-se frente ao visitador: procurar cair nas boas graças do inquisidor,
provavelmente já sabendo ter sido denunciada por tão pesadas práticas. Se teve realmente esta
idéia, Isabel não foi muito feliz: as denúncias renderam-lhe um processo pela Inquisição de
Lisboa.
- D e Am o r es D an ad o s e Ar t es E n can t at ó r ias
Marcel Mauss, ao estudar a prece, diz que esta pode assumir diversas formas,
desempenhar diversas funções e manter inalterada sua natureza. Assim, a prece teria
participação no rito e na crença do sistema religioso. Nas palavras de Mauss, a prece
que é a conquista do amor de uma mulher. O ajudante de ordenança Manoel Nunes da Silva
confessou ao visitador uma das mais completas orações a São Marcos, no todo do Livro da
Visitação, cujo texto - com momentos do mais inspirado lirismo, por sinal - é o seguinte:
Jo r ge Camp o s T avar es, D i c i o nári o de Santo s , 2ª ed ., P o r t o , Lello & I r mão , 1990, p ag.
100.
268 O p . cit ., p ag. 233, em it álico n o o r igin al.
269 Li vro da Vi s i taç ão . . . , p ag. 252.
270 Laur a d e Mello e So uza, o p . cit ., p ag. 234.
127
mítica, o que pode ser reparado ainda em outra oração, confessada por Maria Joana de
Azevedo (um raro caso paraense de mulher que confessa orações para atingir o amor dos
homens), onde se menciona que
Nota-se, nestes casos, uma imbricação entre dois sentidos da prece: o ritual,
onde ela é uma evocação de forças exteriores (no caso, os santos) com o fito de propiciar
determinado objetivo, seja ele espiritual ou material; o mítico, onde rememora e fixa eventos
mitológicos que são, desta forma, preservados do esquecimento (ou são usados para
reafirmação do credo religioso). Nas orações que analisamos, o mito é um elemento a mais na
invocação de forças superiores, reforçando o que é pedido.
S. Cipriano, o outro santo a quem são dirigidas orações amorosas, não é menos
interessante enquanto objeto de estudos. Sua oração possui, de maneira idêntica à de S.
Marcos, uma linearidade textual, apresentando poucas variantes entre os diferentes relatos
feitos ao inquisidor. A jovem Maria Joana de Azevedo, que aos 16 anos foi apresentar-se à
Mesa do Santo Ofício, impressiona pela quantidade de orações que sabia em tão tenra idade:
ao todo, confessou onze. Inserida neste vasto repertório, está a mais completa oração a S.
Cipriano encontrada na visitação paraense:
271 Bet h en co ur t , o p . cit ., p ag. 72. Ver t amb ém Luís Ch aves, o p . cit ., p p . 259-267.
272 Li vro da Vi s i taç ão . . . , p ag. 252.
273 Li vro da Vi s i taç ão , p ag. 255.
274 At t wat er , o p . cit ., p p . 72-73; T avares, o p . cit ., p ag. 39.
128
Antioquia. Também martirizado, este Cipriano possuía fama de feiticeiro de alto coturno, que
usou de seus poderes na tentativa de seduzir Justina, jovem e virtuosa cristã. Como a magia negra,
à qual se dedicava, não lhe concedeu os favores que requisitava da donzela, Cipriano acabou
por converter-se ao cristianismo. Deste modo, foi aceito pela amada, e com ela viveu os gozos
do martírio. Sua comemoração ocorre, significativamente, a 26 de setembro, data muito
próxima da comemoração do Cipriano de Cartago275. A utilização de artes mágicas e de
invocações na busca do amor são, deste modo, atributos do Cipriano de Cartago, ex-mágico e
posteriormente, mártir. A estudiosa Jerusa Pires Ferreira trabalha com a hipótese de que a
Igreja cooptou este santo-bruxo cuja oração era bastante difundida em Portugal, de apelo
irremediavelmente popular, dando um cunho cristão à lenda do povo276. O que estas orações
demonstram, em última análise, é uma confusão entre os dois Ciprianos, onde se roga ao de
Cartago determinadas coisas - e também em circunstâncias - próprias das atitudes do Cipriano
de Antioquia. Segundo Laura de Mello e Souza, não se encontra, no conjunto da
documentação inquisitorial referente à colônia, alusões às preces a S. Cipriano fora do Grão-
Pará277.
Assim rezava Maria Joana de Azevedo. Também fez uso desta oração Manoel
Pacheco de Madureira, que se apresentou ao visitador em 4 de novembro de 1765. Seu caso,
aliás, é bastante ilustrativo: além de confessar que praticara o balaio, Manoel relatou que
mantivera relações amorosas com uma sobrinha de sua falecida esposa (o que ele não contou é
se o caso teve lugar enquanto esta ainda era viva). A moça, por instâncias de seus confessores,
que lhe negavam absolvição enquanto vivesse em pecado, rompeu o caso amoroso, levando
desejava. Manoel então usou a oração, e muitas vezes vinha ela [a índia] só sem [o confitente]
a ir buscar 283. Para esta adúltera fornicação o santo trabalhava, voltando a regra a prevalecer.
Encontramos, nesta oração uma intimidade muito grande com Cristo e sua
mãe, que sevidencia na medida em que são ofertados, pela suplicante, elementos pertencentes
ao próprio corpo dos santos. Tal fato remonta àquilo que Mikhail Bakhtin chamou de
vocabulário de praça pública característico da cultura renascentista, onde era comum
mencionar ou jurar sobre membros e partes do corpo divino285. Em relação ao leite da Virgem
Maria, afirma Luiz Mott que este, na devoção popular lusitana era particularmente poderoso
contra as ciladas do diabo 286.
alguma porta ou janela fronteiras à casa da mulher desejada292. Uma vez assumida esta posição,
Manoel ficava a fazer cruzes com a bacia 293 - o que, como já havia mencionado o confitente,
era tiro e queda!
- Bichos e Sevandijas
292 P o rt as e jan elas p o ssuem um sim b o lism o , n o qual são vist as co m o p o n t o s d e p assagem
en t re o mun d o h uman o e o có smico , e en t r e o p ro fan o e o sagr ad o . P o ssuem t am b ém
ligaçõ es sim b ó licas co m a vulva e a p en et r ação sexual. So b r e t al sim b o lism o , ver
Bet h en co ur t , o p . cit ., p ag. 110.
293 Li vro da Vi s i taç ão . . . , p p . 239-242.
133
população, como no caso de Belém do Pará no século XVIII 294. Além disso, estes
missionários também se destacaram enquanto estudiosos das propriedades curativas de ervas
brasílicas, utilizadas pelos pajés.
É com base nestes fatores que podemos compreender o papel social dos
praticantes da magia de cura no conjunto da visita paraense. Os curandeiros, no Livro da
Visitação, podem ser divididos em dois grupos: de um lado, os que exerciam tal mister como
forma de sustento, profissionalmente ; de outro, os que eventualmente praticavam os rituais
de curandeirismo. Um outro indício da importância social dos curandeiros reside na enorme
quantidade de pessoas que são, nas denúncias/ confissões referentes a este tipo de magia,
mencionadas como pacientes ou testemunhas. Tal fator evidencia o trânsito e conhecimento
dos curandeiros, principalmente os profissionais na sociedade paraense. As pessoas
relacionadas em tais relatos pertencem aos mais variados setores da sociedade, passando por
autoridades, lavradores, até pessoas de posição mais humilde.
apenas às pessoas de posição mais destacadas na sociedade paraense. Eclética, visitava também
lavradores, sapateiros, militares e quem mais lhe requisitasse os serviços.
Sabina dissera ainda que aquele feitiço não era para Castelo Branco, e sim para
um outro, que já havia morrido.
Era, pois, pela detecção da causa dos males - em boa parte, feitiços - que se
caracterizava esta etapa da ação de Sabina.
Maranhão , Belo H o rizo n t e/ I t at iaia; São P aulo / E D USP , 1975, p ag. 253.
135
retirara os feitiços do solo, de acordo com seu padrão de atuação. Isto feito, a curandeira
requisitou
Sabina, sincréticamente, pediu água benta, e metendo nela a mão fora com os
dedos dentro da boca da doente e dela extraíra um lagarto . Nem com isso a doente
melhorou, o que veio a acontecer graças ao auxílio dos exorcismos da Igreja, recomendados
por Sabina298. No caso do governador Castelo Branco houve uma deposição parecida: após as
defumações, três bichos saíram de seu corpo.
A mesma idéia não tinha Domingos Rodrigues, que afirmou conhecer Sabina
Em outra ocasião, José utilizou seus rituais de sucção e ervas para curar a
mulher de Manoel F. da Cunha. Insatisfeito, por ter ganho não mais que uma pataca do
carpinteiro, José foi se queixar com uma outra cliente: a esposa de Elias Caetano, familiar do
Santo Ofício, para quem curava uma escrava. A ela, José disse que o sovina havia de morrer
primeiro que a dita sua mulher 303. Curioso, neste caso, é o fato de um curandeiro estar, a
trabalho, na casa de um agente da Inquisição, o que demonstra que nem mesmo os agregados
do Tribunal deixavam de compartilhar a mentalidade religiosa comum.
Uma vez cessados tais barulhos, começaram outros, feitos pelos tais índios ou
demônios . Ouviram-se vozes, que eram interrogadas por Ludovina a respeito da cura da
paciente. O ritual se repetiu por diversas noites, até que em uma delas o índio Antonino caiu
sem sentidos como morto na casa da paciente, sendo lá deixado por Ludovina, que somente
no dia seguinte foi ressuscitá-lo com o auxílio de orações.
302 I d em , p p . 137-138.Laur a d e Mello e So uza t r an scr eve az orra co mo r ã. Ver O D i abo ...,
p ag. 174, n o t a 60.
303 Li vro da Vi s i taç ão ..., p ag. 139.
304 I d em, p ag. 159.
137
dizendo que a enferma não haveria de sobreviver, o que se confirmou em breve espaço de
tempo305.
Porém, suas pajelanças tinham uma característica que lhes diferenciavam das demais: uma
vez na presença do paciente, Domingos cobria o próprio corpo com penas, e dava início ao
tratamento310.
Januário, porém, não curava apenas quebranto: ele declarou ao visitador que
sabia curar mau-olhado, através de uma oração que também utilizava o sinal da cruz e os
santos católicos, praticada incontáveis vezes. Confessou também conhecer um ritual singular,
para curar uma moléstia chamada simplesmente o sol, que se manifestava com dores de cabeça:
Januário estendia um guardanapo sobre um bofete ou qualquer outra parte e com a mão
estendida fazia cruzes com as palavras do credo principiando a fazê-las (...) de uma ponta do
guardanapo até a outra ponta ao viés e concluindo também ao viés nas outras duas pontas ,
dizendo as seguintes palavras (pronunciadas nas pontas do guardanapo): creio(...) Deus padre
(...) todo (...) poderoso . Finda esta etapa preparatória, Januário dobrava o guardanapo e
tendo preparada uma ventosa de vidro cheia d água o punha sobre sua boca, assim como o
tinha dobrado e depositava tudo sobre a cabeça do enfermo, fazendo cruzes e pronunciando
o sol e a lua tiram-se com o sinal da cruz , enquanto rezava um Pai Nosso e uma Ave Maria,
oferecendo tudo à paixão e morte de Cristo. Tal prática continua a ser levada a efeito
atualmente, e dela encontramos menção em Câmara Cascudo313. Voltando a Januário, este
afirma, por fim, o caráter amador de tais curas: disse o confitente que nem por ele [a cura do
sol] nem pelas acima ditas pediu em nenhum tempo satisfação, porém se lhe mandavam
alguma coisa o aceitava por esmola 314.
cruzes com as mãos: Jesus Cristo te lindrou, (...) Jesus Cristo te criou, (...) Jesus Cristo te diz:
olha quem de mal te olhou 315.
- Man d in gas e P at u ás
e guardando-a com outras finalidades. Tal foi o caso de Antônio Rois, que após a comunhão
tirou a hóstia da boca e guardou-a na algibeira, sendo preso por isso em 1765319.
I I I P ACT O S D E MO N Í ACO S
separação não tinha volta, Manoel tratou de buscar o remédio de sua alma aos pés de três
confessores , os quais lhe negaram absolvição até que fosse procurar o visitador321.
Neste caso, nota-se uma imbricação entre a magia indígena, manifestada pela
procura de determinada árvore que cresce acompanhada apenas de mais uma da sua espécie,
formando um tipo de casal, e o cristianismo, manifestado pela invocação do Diabo.
confessor, que agindo de acordo com os interesses inquisitoriais lhe negava a desobriga
quaresmal324, Alberto procurou a Mesa da Inquisição. Uma vez em frente ao visitador relatou
que cobiçara, para fins de trato ilícito uma índia casada. Tentou de todos os meios para
conquistá-la, e não conseguiu. Uma vez que não dobrava a forte vontade de seu objeto de
desejo, mais fortemente tentado fez com o demônio pacto expresso . O pacto, que Alberto
relatara ao confessor, era pronunciado em língua indígena, sendo que iniciava com a palavra
Jurupari. Traduzindo o pacto para o português (o Livro da Visitação não menciona se a
tradução é obra da Mesa inquisitorial ou do próprio confitente), temos o seguinte: Diabo, se
tu fizeres a minha vontade permitindo-me dormir com esta mulher, eu te prometo fazer-te o
que tu quiseres, e me podes levar contigo 325. Encontramos, nesta confissão, os elementos do
contrato demoníaco clássico: a conquista de benesses materiais, em troca da servidão e
danação da alma do pactuante326, que se deixará levar pelo Demo.
Por outro lado, nota-se aqui uma confusão entre o Diabo cristão e entidades
indígenas. Jurupari, originalmente concebido pela mitologia tupi como entidade legisladora e
mantenedora da justiça327 sofreu, graças à ação da catequese católica, um processo de
demonização, sendo associado ao Diabo. Esta é a etapa final de um processo de fusão e
justaposição de crenças e idéias, característico da situação colonial. A mistura de diferentes
matrizes culturais - no caso em questão o lusitano, o indígena e o africano - levou, segundo
Carlos Roberto Nogueira, a um reordenamento de crenças e idéias, formando um vasto
quadro sincrético 328. Tal processo acarretou uma descaracterização e reinterpretação de
diversas formas e figuras religiosas, como o Diabo cristão - que perdeu os atributos
demoníacos essenciais à sua caracterização européia 329 -, e Jurupari, transformado no próprio
Diabo.
324 A d eso b r iga quar esmal er a a o casião o n d e d evia ser feit a a co n fissão an ual o b rigat ó ria,
exigid a p elo co n cílio d e T r en t o . P ar a maio r es d et alh es, ver Lan a Lage d a G am a Lima, A
Co nfi s s ão P e lo Ave s s o , T ese d e D o ut o ram en t o ap r esen t ad a à USP , 1991, vo l. 2.
325 Li vro da Vi s i taç ão ..., p ag. 246.
326 So b re o s elemen t o s d o p act o , ver Ro b b in s, o p . cit ., p p 369-379.
327 Cf. Câmar a Cascud o , o p . cit ., p p . 495-497.
328 N o gueir a, A O utra F ac e ..., p ag. 11. So b re o p ro cesso d e d em o n ização d as cult uras
amer ín d ias, ver t amb ém Laur a d e Mello e So uza, O co n jun t o : Amér ica d iab ó lica in
I nfe rno Atlânti c o , p p .21-46.
329 N o gueir a, A O utra F ac e ..., p ag. 11.
147
pacto, Alberto sentiu no mesmo tempo um grande abalo dentro do coração , e passou a
temer um castigo divino. Contudo, perseverou: repetiu o pacto, e mais uma vez sentiu o tal
abalo. Vendo que não conquistava a mulher cobiçada, Alberto ficou desconfiado de que o
demônio lhe não queria fazer o que lhe pedia, ou de que não tinha poder algum para o fazer .
Existe, contudo, um detalhe sarcástico nesta história: apesar de tamanho fiasco do seu pacto
diabólico, Alberto depois veio a conquistar a mulher que desejava - não por obra e graça do
Diabo, mas sim por virtude das diligências que fizera para o dito fim 330.
O ressabiado Inácio contou ainda, que lendo sobre a eternidade num livro
espiritual, alumiado pelo Espírito Santo veio a conhecer os seus erros, e logo entrou a detestá-
los , procurando um confessor - que prudentemente lhe enviou para a Mesa da Inquisição331.
O Diabo, contudo, não era apenas invocado por meio de palavras. O ferreiro
Crecêncio de Escobar, logo nos primeiros dias da visitação, procurou o inquisidor para
denunciar Adrião Pereira, que já se encontrava naquela região na condição de degredado pelo
Santo Ofício. Segundo Crecêncio, Adrião lhe pedira para transcrever uma carta de tocar, e pela
tarefa lhe pagaria três milréis (sic) . Segundo Adrião, tal carta possuía a virtude de conquistar
qualquer mulher com a qual fosse tocada. O denunciante, então, copiou o texto, que se
encontrava escrito em latim; começou a ficar desconfiado a partir do momento em que
percebeu que repetidas vezes aparecia a palavra Diabo ao longo da carta. Espantado, perguntou
de novo a Adrião qual era a finalidade da carta, tendo ouvido a mesma resposta: conquistar
mulheres. Finda a transcrição, Adrião pegou o papel e nele desenhou duas figuras como de
homens e outra de uma faca de ponta, e outra de uma pistola e abaixo de todas estas figuras
escreveu seu nome , guardando a seguir as cartas na algibeira.
A evocação do Diabo, neste caso, está inserida dentro de uma prática de magia
de contato, efetivada pelo toque entre a carta e a mulher desejada. Tal categoria magista, que
atribuía poderes sobrenaturais à palavra escrita, não era desconhecida no Portugal setecentista,
e mesmo antes, quando diversas pessoas já haviam sido punidas por realizarem tais atos332.
Uma vez que a visita setecentista não foi realizada com o intuito de caçar
judaizantes, compreende-se este aflorar demoníaco, ocorrido às vésperas do último
Regimento da Inquisição, promulgado em 1774. Por uma estranha ironia, neste Regimento,
ficava descartada a possibilidade de existência da bruxaria e do pacto demoníaco, taxados
como fruto do charlatanismo, da histeria ou da loucura. Isto, devido a um simples motivo:
uma vez que o pacto consistia em um contrato entre um mortal e o Diabo, e nunca ninguém
provara que o infernal contratante aceitara ou não o negócio, não havia como assentar sua
validade334. Deste modo, o cerne do modelo clássico de bruxaria, que nunca vingara em
Portugal com a mesma força que no resto da Europa, era descartada. O relegar para segundo
plano das idéias demonológicas representava, certamente, um sinal dos novos tempos.
- CO N CLU SÃO -
Maranhão, era irmão do Marquês de Pombal, Giraldo acumulou também as funções de vigário
capitular, responsabilizando-se pela condução do bispado paraense até 1772.
I X - BI BLI O G RAF I A
- F O N T E S MAN U SCRI T AS
- F O N T E S I MP RE SSAS
- CO LE CÇÃO d as Le i s , D e c re to s e Alvaras q u e Co m p re e n d e o F e li z
R e I n ad o d e l R e y F i d e li s s i m o D . Jo s é I N o s s o Se n h o r, Lisb o a, N a
O fficI n a d e Migu el Ro d r igu es, 1771-1793, 3 t o m o s.
- D I R E CT O R I O q u e s e D e ve O b s e rvar n as P o vo aç õ e s d o s I n d i o s d o
P ará, e M aran h ão E m Q u an to Su a M ag e s tad e n ão m an d ar o
Co n trari o , Lisb o a, n a O ff icin a d e Migu el Ro d r igu es, 1758.
- P E RI E R, Alexan d r e - D e s e n g an o d o s P e c ad o re s , n e c e s s ári o a to d o
g ê n e ro d e p e s s o as , u ti lí s s i m o ao s m i s s i o n ári o s , e ao s p re g ad o re s
d e s e n g an ad o s , q u e s ó d e s e jam a s alvaç ão d as alm as , 5ª ed .,
Lisb o a, n a O fficin a d e Migu el Man escal d a Co st a, 1765.
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P au lo , 1987, 26p .
- MACE D O , Jo r ge Bo r ges d e - A Si tu aç ão E c o n ô m i c a n o T e m p o d e
P o m b al, Lisb o a, G r ad iva, 1989.