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Transição para a vida adulta no Brasil:

análise comparada entre 1970 e 2000*

Joice Melo Vieira**

A transição para a vida adulta é um momento-chave do curso de vida dos


sujeitos. É uma fase marcada por importantes mudanças de status, como a
passagem de estudante para trabalhador, de membro dependente de um domicílio
para chefe de domicílio, de solteiro para pessoa em união, de filho(a) para pai
ou mãe. A partir da aplicação de uma metodologia nova, que mede mudanças
na estrutura do curso de vida, desenvolvida por pesquisadores associados à
IUSSP, comparou-se a transição para a vida adulta no Brasil em dois momentos,
1970 e 2000, segundo a renda domiciliar per capita, a situação de domicílio e o
sexo dos indivíduos. Em síntese, a técnica – conhecida como análise de entropia
de combinações de status de coortes sintéticas – consiste em construir índices
que combinam a proporção de pessoas em determinada idade que freqüentam
escola, trabalham e formaram família, ou não. A partir dos resultados é possível
identificar quando a transição para a vida adulta começa e termina, bem como
quando atinge um pico. O recurso gráfico permite visualizar que, partindo de
idades mais próximas à infância (quando a maioria das pessoas encontra-se
em uma combinação de status bem característica: estudante, não trabalha, é
membro dependente no domicílio, sem experiência conjugal e sem filhos), em
direção à adolescência/juventude, em algum ponto o índice de entropia aumenta
significativamente, o que evidencia mudança de status, sinalizando o início da
passagem para a vida adulta. O que se explora nesse texto são as desigualdades
nos marcos temporais e na extensão da transição para a vida adulta de jovens
de diferentes estratos de renda, segundo o sexo.

Palavras-chave: Juventude. Transição. Renda domiciliar per capita. Gênero.


Cor. Situação de domicílio.

Algumas considerações teóricas sobre para a vida adulta sem esbarrar, em algum
o tema momento, com noções de periodização da
vida, categorias de idade e preocupações
Para entender a transição para a vida com a estrutura do ciclo de vida, ou do curso
adulta, é necessário primeiro situá-la dentro da vida, como preferem muitos teóricos de
de certos marcos históricos e contextuais em abordagem qualitativa.1 Enquanto a idéia
que ela emerge como uma questão social. É de ciclo de vida traz à mente noções de
praticamente impossível discutir a transição continuidade sociobiológica, segundo a

* Trabalho apresentado no Seminário População, Pobreza e Desigualdade (Tema: Estrutura etária, gerações, pobreza e
desigualdade), da Abep, realizado em Belo Horizonte – MG – Brasil, de 05 a 07 de novembro de 2007.
** Doutoranda em Demografia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Nepo/Unicamp. Bolsista da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
1 Ver especialmente Debert (1998 e 1999).

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qual o indivíduo nasce, cresce, reproduz-se etapas sucessivas, em que a sensibilidade


e morre, seguindo um script que se repete investida na idade cronológica é radicalmente
distinta: a pré-modernidade em que a idade
de geração em geração, a idéia de curso da
cronológica seria menos relevante do
vida se traduz na apreensão da vida como que o status da família na determinação
um fluxo, um movimento que se renova. do grau de maturidade e no controle de
Enquanto a melhor analogia do ciclo de vida recursos de poder; a modernidade, que
talvez seja a de um círculo que se fecha, teria correspondido a uma cronologização
da vida; e a pós-modernidade, que operaria
a melhor representação do curso da vida
uma desconstrução do curso da vida em
são rotas, ou “trajetórias”, como diria Motta nome de um estilo unietário.
(1998). Na atualidade, a experiência humana
ao longo do tempo de vida torna-se mais Parte dos estudiosos afirma que foi com
complexa e plural. É como se o script tivesse a modernização das sociedades, especial-
que ser reeditado, quando não totalmente mente com a industrialização, que houve a
reescrito. padronização e individualização do curso
Mudanças sociais e econômicas, es- de vida e, por conseguinte, da transição
pecialmente as motivadas pelos processos para a vida adulta. A tese da padronização
de industrialização e urbanização, aliadas argumenta que, com o advento da indus-
às mudanças demográficas2 e na vida fa- trialização, a organização da sociedade
miliar, estão no cerne de várias explicações passou paulatinamente a se basear em
sobre como o ciclo de vida é segmentado indivíduos, e não em famílias e comunidades
e de que maneira novos estágios da vida (BILLARI, 2001; FUSSELL, 2006). Na prática,
são criados. isso significa que instituições como a escola,
A racionalização sobre o ciclo da vida o mercado e o Estado agem diretamente
e o reconhecimento da existência de seus sobre indivíduos classificados por idades.
distintos estágios, nos quais os indivíduos Contudo, essa tendência à padronização
seriam dotados de diferentes habilidades e à individualização seria constantemente
físicas e cognitivas, impondo necessidades complicada por flutuações econômicas,
específicas de acordo com a idade, é uma eventos históricos ou desigualdades de
gênero, raça e classe dentro de um mesmo
formulação produzida na Europa, no final
grupo geracional (SHANAHAN, 2000).
do século XVIII, que se desenvolveu e se
Peralva (1997) ressalta que é na era
propagou pelo mundo ao longo do século
industrial que o Estado assume, de modo
XIX com os avanços empreendidos pelas
sistemático, numerosas dimensões de
ciências comportamentais e médicas
proteção ao indivíduo, entre as quais se
(HAREVEN, 1999). Já no século XX, muito
destaca a defesa da escolarização universal
do conhecimento teórico-científico sobre
e obrigatória. A difusão da escolarização
as fases da vida, seus dilemas, vantagens
teve o poder de separar, como nunca se
e desafios se popularizou graças aos meios
viu antes, as crianças, definidas como indi-
de comunicação de massa e políticas públi-
víduos em formação, dos adultos. Enquanto
cas voltadas para determinados segmentos o jovem aprendiz convivia com pessoas
etários: escolas para crianças, frentes de de diversas faixas etárias, o estudante tem
trabalho para adultos e aposentadoria para em geral uma experiência completamente
idosos, são alguns exemplos. distinta. Refletindo sobre o que informa esta
É válido lembrar que a idade cronológi- autora, observa-se que o ensino seriado
ca nem sempre foi um critério tão relevante e transmite justamente a idéia de uma escala,
legítimo de organização social e fixação de na qual existe uma correspondência idade-
direitos e deveres. Como esclarece Debert série que segue uma direção linear. Não
(1999, p.73): por acaso, o indivíduo que completa os
[A história das sociedades ocidentais estudos é considerado formado, em con-
contemporâneas] estaria marcada por três traste direto com a imagem das crianças ou

2 Entre as mudanças demográficas destacam-se a queda da mortalidade e da fecundidade e o aumento da expectativa


de vida.

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adolescentes, classificados como indivíduos do tempo também se altera sob a lógica da


em formação. simultaneidade, do instantâneo, do virtual e
Aliás, a literatura especializada tem do real. Isso abala os velhos fundamentos
chamado a atenção para a relação existente de continuidade, linearidade e seqüência
entre a universalização do ensino público previsível dos eventos ao longo do curso da
e a consolidação da adolescência e da vida. A educação continuada passou a ser
juventude enquanto estágios da vida so- uma exigência do mercado e a aposentado-
cialmente reconhecidos (SETTERSTEN Jr.; ria também deixou de ser sinônimo de ina-
FURSTENBERG; RUMBAUT, 2005), bem tividade, de tal modo que há sobreposição
como para a relação entre o aumento do entre educação, trabalho e aposentadoria
tempo de formação escolar e o prolon- (CAMARANO; MELLO; KANSO, 2006).
gamento da juventude (ARRUDA, 2004; Pessoas de diferentes idades podem estar
MELLO, 2005; MADEIRA, 2006). A principal expostas à mesma experiência, bem como
justificativa para estes fenômenos é que, cresce a possibilidade de experiências dis-
ao longo do século XX, os requisitos para tintas entre pessoas de um mesmo grupo
a conquista da condição plena de adulto etário. Cogita-se que a era pós-moderna
tornaram-se cada vez mais complexos, de traz consigo a despadronização do curso
modo que foram sendo legitimadas etapas de vida, ou seja, maior heterogeneidade
intermediárias entre a infância e a vida intragrupo etário. Se antes a condição de
adulta. estudante estava relacionada às crianças
É válido lembrar que, obviamente, a dependentes de seus pais, que idealmente
modernização e a industrialização não ocor- não trabalhavam, e a imagem do trabalhador
reram simultaneamente em todos os países. era a do chefe de família com esposa e filhos
Mas dentro de uma esquematização, o curso e que encerrou sua carreira educacional,
de vida típico da era industrial estava seg- hoje essas combinações de status escolar,
mentado idealmente em três compartimentos ocupacional e conjugal se misturam, se
estanques: o período em que a preocupação confundem e levam a uma ampla gama de
única era a educação (associada à infância outras possibilidades. Um maior número
e adolescência); aquele em que a centrali- de combinações desses status, abertas a
dade da existência era o trabalho (associado pessoas de uma mesma idade, evidencia a
à vida adulta); e por fim a aposentadoria heterogeneidade intragrupo etário. Quanto
(vinculada à velhice). Assim, pessoas de maior a heterogeneidade de combinações
diferentes idades vivenciavam necessaria- realizáveis, maior é a complexidade do curso
mente diferentes experiências, enquanto de vida e mais difícil se torna vislumbrar um
provavelmente havia maior homogeneidade padrão etário rígido.
intragrupo etário. Esse esquema é um desdo-
bramento da forma como o tempo passa Algumas ponderações sobre população
a ser percebido. De acordo com Melucci jovem brasileira em 1970 e 2000
(1997), nas sociedades modernas, o tempo
perde a vinculação com a natureza para ser Do ponto de vista demográfico, a popu-
associado a uma máquina (o relógio), que lação brasileira mudou significativamente
converte o tempo em uma medida objetiva, entre 1970 e 2000. Apesar da queda da
universal e dotada de uma direção, uma fecundidade, em termos absolutos houve
orientação linear voltada para um fim espe- expressivo crescimento populacional. O
cífico (seja o progresso, o desenvolvimento Brasil possuía, em 1970, um pouco mais
ou a revolução). de 94 milhões de habitantes. Em 2000, esse
No final do século XX e início do XXI, a contingente já era de aproximadamente 170
economia capitalista industrial cedeu lugar à milhões de pessoas. A taxa de urbanização,
economia globalizada. Fala-se na emergên- que era da ordem de 55% em 1970, ultra-
cia de sociedades pós-modernas, que de passou o patamar de 80% em 2000. Mas
certa forma subvertem a ordem intrínseca talvez a mudança mais importante ocorrida
ao momento anterior. A própria percepção durante esses trinta anos, e que impõe mais

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desafios, é aquela verificada na estrutura extensamente na bibliografia dedicada aos


etária da população. estudos populacionais. O estreitamento na
Como se pode observar nas pirâmides base da pirâmide pode, sob certo prisma,
etárias (Gráfico 1), entre 1970 e 2000, di- ser considerado um dado demográfico
minuiu a proporção de pessoas com menos favorável a investimentos concentrados em
de 15 anos, tal como já foi documentado educação, uma vez que se poderia imagi-
GRÁFICO 1
Pirâmide etária, por sexo
Brasil – 1970-2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censos demográficos 1970 e 2000. Elaboração
própria.

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nar que uma menor proporção de jovens a ção, para níveis mais elevados do sistema
serem educados deslocaria o foco das educacional.
políticas educacionais da preocupação com O Gráfico 2 atesta que houve clara
a quantidade, para a qualidade do ensino, melhoria quanto ao acesso ao sistema edu-
da atenção focada nos níveis elementares cacional não só nas idades de escolarização
de educação pré-escolar e de alfabetiza- obrigatória (7-14 anos), mas também na
GRÁFICO 2
Pirâmide etária e pessoas que freqüentam escola, por sexo
Brasil – 1970-2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censos demográficos 1970 e 2000. Elaboração
própria.

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faixa etária contígua de 15 a 19 anos e, em objetivo de adquirir as credenciais exigidas


menor grau, no grupo de 20 a 24 anos. pelo mercado de trabalho em tempos de
Como visto anteriormente, mudanças economia globalizada.
na transição para a vida adulta e especial- Além da ampliação do acesso ao
mente o prolongamento da juventude são sistema educacional, verifica-se, através
associados ao aumento da duração do do Gráfico 3, que houve um expressivo
período de formação educacional com o crescimento da população que concluiu a

GRÁFICO 3
Pirâmide etária e pessoas com escolaridade secundária completa ou mais, por sexo
Brasil – 1970-2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censos demográficos 1970 e 2000. Elaboração
própria.

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escola secundária ou foi além dela, transcor- dade, reconstroem-se as componentes que
ridos os trinta anos que separam os dois formam o todo, de maneira que a entropia
censos demográficos. Contudo, apesar de capta o quanto esse todo está segmentado
ser visível o relativo progresso alcançado internamente. Por esse prisma, a entropia
pela educação no Brasil, considerando mede a heterogeneidade interna do grupo
que a maioria das atividades criadas pela social ou de qualquer outro objeto em
economia globalizada demanda ao menos estudo. Há os que consideram que uma
formação secundária completa, é frustrante maior heterogeneidade representa intensa
constatar que ainda é pequena a proporção transformação, enquanto outros preferem
de brasileiros com reais chances de compe- traduzi-la como caos ou desordem. Toda-
tir por vagas no mercado formal de trabalho, via, em ambas as leituras, quanto maior
que atualmente requer maior qualificação. entropia, maior é a complexidade de um
Mas vejamos o que ocorreu ao curso de fenômeno.
vida e, particularmente, à transição para A aplicação e a interpretação dos re-
a vida adulta dos brasileiros em tópicos sultados da técnica apresentada neste texto
subseqüentes. são baseadas no artigo de Fussell (2006),
que foi o primeiro trabalho a usar a análise
Metodologia: a análise de entropia de entropia no estudo da transição para a
de combinações de status de coortes vida adulta a que tivemos acesso. Um estu-
sintéticas do posterior (FUSSELL; EVANS; GAUTHIER,
2006), em que os autores reafirmam o po-
A entropia é um conceito cunhado tencial da técnica para sumarizar diferentes
pela termodinâmica que, gradativamente, modelos de transição para a vida adulta ao
foi sendo apropriado por outras áreas do longo do tempo e estabelecer comparações
conhecimento, entre elas a Economia e internacionais, podendo-se inclusive utilizá-
as Ciências da Informação. Nas Ciências la para descrever o processo de transição
Sociais, esse conceito é introduzido por em países em desenvolvimento, motivou-
Theil (1972) com o objetivo de produzir nos ainda mais a tentar aplicá-la ao caso
indicadores que subsidiassem a explicação brasileiro.
de processos sociais. A técnica proposta consiste em calcu-
Embora o cálculo do índice de entropia lar medidas de entropia a partir de com-
geral sofra poucas alterações nas diferentes binações de status (estudante, trabalhador,
áreas de investigação nas quais foi empre- chefe de domicílio, cônjuge) por idade
gado, o significado a ele atribuído depende específica, assumindo os dados do censo
ora da abordagem do investigador, ora da como compondo uma coorte sintética. Uma
natureza do objeto de pesquisa. Baseado das maiores vantagens dessa técnica é
na natureza do objeto de pesquisa ou na justamente permitir a análise do processo
abordagem do investigador, a entropia de transição para a vida adulta contando-
pode ser apresentada como uma medida se unicamente com dados censitários, já
de desordem de um sistema ou como uma que para países em desenvolvimento não
medida de transformação. No caso da tran- há pesquisas longitudinais específicas
sição para a vida adulta, a entropia funciona sobre a transição para a vida adulta. Do
como uma medida de transformação, uma ponto de vista de seu potencial explicativo,
vez que mensura o câmbio de status de a técnica serve para medir diferenças no
adolescentes e jovens. Vale registrar que timing da transição para a vida adulta ao
a própria etimologia da palavra reafirma longo do tempo, pela comparação de duas
este segundo significado de algo em trans- ou mais coortes sintéticas tomadas de uma
formação, pois o termo entropia deriva do seqüência de levantamentos censitários,
grego em (em) e trope (transformação) ou de dois censos que retratam momentos
(COLOVAN, 2004, p. 14). históricos distintos. Além disso, viabiliza
A análise de entropia é uma técnica a comparação do processo de transição
de decomposição, isto é, dada uma totali- para a vida adulta entre subgrupos de uma

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mesma coorte sintética, mediante a ex- entropia seria de 100% se todas as possibili-
ploração de clivagens fundadas no sexo, na dades de combinações de status fossem en-
situação de domicílio (rural ou urbano), na contradas empiricamente e se em cada uma
renda, na raça, entre outras segmentações dessas combinações houvesse um mesmo
que as informações dos censos envolvidos número de indivíduos. Inversamente, quanto
na análise permitirem. mais próximo de zero é o índice, mais os
Todo o raciocínio baseia-se na utiliza- indivíduos estão concentrados em algumas
ção do índice de entropia geral de Theil poucas combinações de status, havendo,
(1972): por conseguinte, uma estrutura mais rígida
de papéis assumidos por grande parte das
pessoas àquela idade.
onde, S indica uma determinada com- Calculando-se os índices de entropia
binação de status a uma idade x e ps é a por idade específica conforme foi descrito
proporção da população desta idade no anteriormente e, a partir desses resultados,
estado s. construindo um gráfico simples de linhas,
O cálculo da entropia é obtido pelo é possível identificar quando a transição
produto da proporção da população da para a vida adulta começa e termina, bem
idade x no estado considerado pelo log natu- como quando atinge um pico. O recurso
ral da probabilidade inversa da combinação gráfico permite visualizar que, partindo de
de status particular, nossa ps. A somatória idades mais próximas à infância (quando a
de todas as medidas assim construídas, maioria das pessoas encontra-se em uma
considerando cada combinação de status combinação de status bem característica:
possível para a população de uma dada estudante, que não trabalha, é na maioria
idade específica, resulta em um número: o das vezes dependente de um dos pais ou
índice de entropia geral, que indica o grau de ambos, nunca teve uma experiência
de heterogeneidade das combinações de conjugal e não tem filho), ao longo dos anos
status àquela determinada idade (FUSSELL, que compõem a adolescência, em algum
2006, p. 9). ponto o índice de entropia aumenta significa-
A amplitude do índice de entropia geral tivamente, o que evidencia que as pessoas
varia de 0, quando há perfeita homogenei- estão mudando de status e, portanto, há
dade (ou seja, todos os indivíduos estariam novas combinações de status. Essa idade,
concentrados em uma única combinação na qual boa parcela das pessoas escapa da
de status) até a entropia máxima (máxima combinação típica da figura do estudante-fi-
heterogeneidade, situação na qual haveria lho-depentente, marca o início do período de
exatamente o mesmo número de indivíduos transição para a vida adulta. Analogamente,
em cada uma das combinações de status idades nas quais o índice de entropia cai ou
possíveis). O valor numérico da entropia relativamente estabiliza-se são consideradas
máxima depende de quantos status estão o fim do período de transição.
sendo combinados, já que no cálculo da en-
tropia máxima é preciso conhecer o número
Dados: censos brasileiros de 1970 e
total de combinações de status possíveis:
2000

sendo, a entropia máxima e o Os dados censitários considerados na


número total de combinações de status presente análise foram extraídos do IPUMS
possíveis. – Integrated Public Use Microdata Series-
Para que o índice de entropia se torne International (2002), concebido e admi-
uma grandeza de mais fácil compreensão, nistrado pelo Minnesota Population Center
Fussell sugere que ele seja transformado da Universidade de Minnesota. A decisão
em uma porcentagem da entropia máxima. de utilizar esses dados, em vez de resgatar
Quanto mais próximo de 100% (entropia aqueles fornecidos pelo IBGE, baseou-se
máxima), maior é a dispersão dos indivíduos no critério de agilidade e facilidade, pois os
em diferentes combinações de status. Uma dados fornecidos pelo IPUMS poupam uma

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boa parcela do trabalho de compatibilização na história nacional, por ser ponto de mu-
e harmonização das informações prove- tação da sociedade brasileira – até então,
nientes de dois ou mais censos do Brasil ou uma sociedade de economia e valores rurais
de qualquer outro país considerado. – que rapidamente se transforma e se asse-
Para os propósitos do cálculo do índice melha a uma sociedade urbano-industrial
de entropia descrito anteriormente, foram complexa, na qual se acirram a pobreza e
utilizadas cinco variáveis presentes na base a desigualdade.
do IPUMS, que refletem quesitos censitários Durante os 30 anos que separam os dois
relacionados à transição para a vida adulta levantamentos censitários, a metamorfose
(Quadro 1). em direção a uma sociedade cada vez mais
A decisão por trabalhar com os dados urbanizada foi acompanhada, entre outras
censitários de 1970 e 2000 certamente não coisas, por uma tendência à concentração
foi arbitrária. Assumiu-se como pressuposto de renda, pelo crescimento do acesso à
que o espaçamento de 30 anos constitui escolarização e pela progressiva entrada
tempo suficiente para se poder falar não das mulheres na força de trabalho, o que
apenas em termos de experiências de alterou radicalmente o papel social feminino,
coortes distintas, mas também de gerações, podendo-se presumir, conseqüentemente,
uma vez que é bastante plausível imaginar que isso teve impacto sobre o curso de vida
que parte dos jovens descritos pelo censo feminino. À luz desta colocação, isolaram-
de 1970 são pais dos jovens de 2000. Outro se diferentes grupos de jovens, segundo o
aspecto que vale sublinhar é que os cenários sexo, de acordo com:
socioeconômico e político-cultural mudaram • a situação de domicílio – residente em
significativamente neste intervalo, ainda área rural ou urbana;
que não caiba detalhar todo este processo
• o rendimento domiciliar per capita – se
nesta ocasião.
membro da camada de baixa renda
Entre os anos 50 e o final da década
(os 20% mais pobres), da camada de
de 70, o Brasil passou por um processo
alta renda (os 20% mais ricos) ou das
intenso de urbanização e modernização
camadas médias (os demais).
econômica, com profundas mudanças
estruturais (MADEIRA, 1986; FARIA, 1991). A análise que se segue busca explorar
Trata-se de um período caracterizado por eventuais diferenças no início do curso
elevadas taxas de crescimento econômico, de vida adulta desses subgrupos jovens,
que costuma ser lembrado como um marco comparando os índices de entropia por eles

QUADRO 1
Apropriação de quesitos para fins de análise combinatória

Fonte: Documentação de variáveis, IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International, 2002. Elaboração própria.

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alcançados em um mesmo ano censitário. A com outras fases da vida. Assim, os cálcu-
clivagem segundo a renda e a situação de los foram feitos para a população de 13 a
domicílio permitirá testar a hipótese de que 44 anos. O limite inferior justifica-se porque
jovens pertencentes a segmentos sociais de os 13 e 14 anos ainda são idades em que a
maior renda e aqueles inseridos no meio ur- freqüência à escola é obrigatória e não se
bano, onde a variabilidade de estilos de vida pode ingressar formalmente no mercado
é maior e o acesso ao sistema educacional é de trabalho, segundo a legislação vigente
mais difundido, teriam a duração do período em 2000. Esse mesmo marco etário inicial
de transição para a vida adulta mais dilatada é mantido para 1970 por razões óbvias de
do que os jovens residentes no meio rural, ou comparabilidade. Logo, o esperado, ao
oriundos de estratos de baixa renda. Intuiti- menos para 2000, é que aos 13-14 anos
vamente, pode-se considerar essa hipótese haja maior concentração de indivíduos em
verdadeira. Mas o que esta análise pretende algumas poucas combinações de status,
de certo modo é, existindo essa diferença sendo a maioria dos adolescentes ainda
de duração, medi-la objetivamente. Um se- estudante, dependente e vivendo com os
gundo passo é detectar as similaridades e pais, o que deverá se traduzir em índices de
diferenças do comportamento de cada sub- entropia mais baixos do que em qualquer
grupo tomado isoladamente nos dois marcos outra fase da vida. À medida que os jovens
temporais considerados. Infelizmente, o mudam de status e assumem papéis adul-
censo de 1970 não contemplou a variável cor/ tos, o índice deve subir, atingindo um valor
raça. Contudo, dada a importância de que máximo quando houver o maior número de
se reveste este tema na atualidade e o uso possibilidades de combinações de status
corrente das informações sobre cor/raça na observado empiricamente. Isto é, quando,
formulação de políticas públicas para juven- ao lado da possibilidade de ser estudante-
tude, a exemplo das políticas de quota nas dependente-solteiro-sem filhos, houver
universidades, foram efetuados os mesmos outras opções que igualmente descrevem
cálculos considerando-se dois grupos raciais o perfil do jovem àquela idade: mãe-estu-
– brancos e negros (pretos e pardos, se- dante-trabalhadora-residindo com a família
gundo a terminologia empregada pelo IBGE). de origem, trabalhador-residindo com a
O objetivo, neste caso, era visualizar se as família de origem, etc.
diferenças na combinação e mudança de Já o limite etário superior fixado em 44
status (educacional, ocupacional, residencial anos para esta análise levou em conta que
e familiar) entre brancos e negros, ao longo deveria ser assegurado um leque etário
dos anos de transição para a vida adulta, suficientemente amplo que permitisse
seriam ou não maiores do que aquelas entre delinear o momento do curso da vida em
os mais ricos e os mais pobres. que os índices de entropia se estabilizam
ou caem mais lentamente. Essa queda ou
Resultados e discussão estabilização é tomada como indício de que
uma determinada coorte sintética alcançou
Atualmente, a população definida como a vida adulta, ao menos do ponto de vista
jovem no Brasil é aquela com idades entre dos status e aquisição de papéis tradicionais
15 e 29 anos.3 Com o intuito de melhor da vida adulta.
captar a singularidade desta faixa etária Primeiramente, foram comparadas as
ampla, calculou-se o índice de entropia por diferenças no timing4 da transição para a
idade simples, considerando-se uma certa vida adulta entre subgrupos segmentados
margem acima e abaixo destas idades, a fim pelo sexo e pela situação de domicílio, mas
de verificar a existência de algum contraste pertencentes a uma mesma coorte.

3 Desde 2006, a Secretaria Nacional de Juventude (responsável pela articulação de programas e projetos do governo
federal) decidiu estender a faixa etária de sua população-alvo, que era de 15 a 24 anos, para 15 a 29 anos. Ver Guia de
Políticas Públicas de Juventude (2006) e Novaes et. al. (2006).
4 Entende-se por timing da transição o momento em que as mudanças de status se tornam mais intensas e freqüentes
para uma determinada coorte.

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O Gráfico 4 retrata importantes dife- Nesta fase, a maioria das meninas é apenas
renças entre as formas como os cursos estudante, ou, mesmo que não estude, tem
de vida feminino e masculino estavam es- menores chances de estar trabalhando.
truturados em 1970, bem como os ritmos Pode-se observar no gráfico que os índices
distintos da transição para a vida adulta, de entropia são maiores para os meninos
segundo a situação de domicílio. urbanos de 13 a 17 anos do que para as
Já nas primeiras idades (13-14 anos), meninas urbanas, isso porque, em 1970,
chama a atenção que os índices de entro- era mais freqüente encontrar meninos que
pia encontrados para jovens residentes em já detinham o status de trabalhador. As pos-
áreas urbanas são substancialmente meno- sibilidades reais de diferentes combinações
res do que aqueles de seus congêneres resi- de status eram mais numerosas entre os
dentes em áreas rurais. Isto ocorre porque meninos do que para as meninas, por isso
tanto meninos quanto meninas residentes o ponto de partida do índice é mais elevado
em áreas urbanas aderem mais ao perfil de entre os garotos.
estudante, fora da PEA5 e sem autonomia Ainda sobre o Gráfico 4, é visível o quan-
residencial. O que faz com que tanto no meio to o padrão da curva referente aos homens
rural quanto no urbano os índices de entro- rurais destoa de modo mais acentuado em
pia sejam menores para mulheres do que relação às outras curvas. Enquanto em
para os homens, por volta dos 13-14 anos, todos os subgrupos o índice de entropia
é que, nesta idade, há um menor número de segue uma tendência de crescimento à
combinações de status possíveis para elas. medida que aumenta a idade dos ado-

GRÁFICO 4
Índice de entropia, segundo sexo e situação domiciliar
Brasil – 1970

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censo Demográfico 1970. Elaboração própria.

5 PEA – População Economicamente Ativa, isto é, o contingente populacional de “pessoas ocupadas (PO) e de pessoas
em situação de desemprego (PD)” (DEDECCA 1998, p. 97).

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008 37


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

lescentes, no caso dos garotos rurais o ín- múltiplas possibilidades de combinações


dice se reduz. A explicação para isso é que, de status. O fator que mais contribui para a
enquanto a tendência nas idades referentes heterogeneidade do subgrupo das mulheres
à adolescência é de que os jovens se dis- urbanas é estar ou não inserida no mercado
persem nas mais diferentes combinações de de trabalho.
status, o contrário se verifica entre os rapa- Em 1970, enquanto as mulheres ru-
zes das áreas rurais, onde a tendência é se rais se concentravam majoritariamente na
concentrarem em uma única combinação: categoria de esposa/donas-de-casa – aos
aquela de trabalhador, solteiro e membro 27 anos, 54% delas eram mães, cônjuges
de domicílio no qual não é o principal res- e estavam fora da PEA –, a realidade das
ponsável. Além disso, os meninos rurais mulheres urbanas já comportava outras
são, em 1970, os que menos se inserem possibilidades. Encontram-se entre elas
no ambiente escolar e os primeiros que o combinações de status que são mesmo ine-
deixam. Deve-se considerar também que xistentes em outros subgrupos, denotando
essa queda circunda a idade de prestação que elas devem ter experimentado estilos
do serviço militar obrigatório. de vida alternativos antes dos demais. De
Outro aspecto que merece destaque é qualquer forma, por volta dos 30 anos, os
que o ápice da transição para a vida adulta índices de entropia por idade simples já
ocorre mais cedo entre as mulheres do que caem substancialmente se comparados ao
para os homens, independente da situação ápice de cada curva em particular, mantendo
de domicílio. Verifica-se que o auge da o ritmo de queda ou de relativa estabiliza-
transição para esta coorte, ou seja, a idade ção, quando comparados às idades mais
em que há maior heterogeneidade de com- jovens. Isso é indicativo de que a fase de
binações de status intragrupo (sinal de que ebulição, de trânsito de status, desacelera
as pessoas estão cambiando da posição caracterizando o fim da transição para a vida
de filhos-estudantes-dependentes para a adulta da respectiva coorte.
de trabalhadores-cônjuges-independentes) O Gráfico 5 apresenta os índices de
ocorre, em 1970, aos 20 anos para as entropia segundo o sexo e a situação de
mulheres rurais e entre 21 e 22 anos para domicílio em 2000. Se comparado ao Grá-
as urbanas. Já para os homens, seja para fico 4, verifica-se que, para 2000, as curvas
os residentes em áreas rurais ou urbanas, delineadas para os subgrupos em estudo
o auge da heterogeneidade se dá aos 23 possuem um comportamento mais regular
anos. Depois de atingir esse ápice, em que e uniforme do que aquele encontrado para
a coorte parece estar em um estado de 1970. É nítido que ainda se mantêm dife-
alta efervescência de câmbio de status, o renças importantes segundo as clivagens
índice de entropia cai, dada a tendência de por sexo e situação de domicílio. Contudo, o
os indivíduos novamente se concentrarem padrão das curvas é muito mais semelhante
em uma mesma combinação de status. Em em 2000 do que em 1970, especialmente se
1970, mais de 75% dos homens rurais se respeitada a segmentação apenas por sexo.
enquadram na categoria de trabalhador- Isto é, de certo modo – atentando-se estri-
marido-chefe de domicílio aos 30 anos. Essa tamente para os critérios de combinação
mesma categoria assume tal representativi- de status significativos para a aquisição de
dade para os homens urbanos mais tarde, papéis adultos –, em 2000, o curso de vida
aos 33 anos. no meio rural está mais parecido com aquele
Empiricamente, o curso de vida femini- do meio urbano, quando comparado ao que
no revela-se mais complexo, especialmente se observava em 1970.
nas áreas urbanas. Observa-se que entre Nas primeiras idades (13-14 anos),
essas mulheres o índice de entropia não nota-se que o índice de entropia parte de
diminui para níveis tão baixos quanto nos níveis mais baixos do que em 1970. Isto,
demais subgrupos. Isto revela que o sub- porque houve em todos os subgrupos um
grupo das mulheres urbanas é aquele que aumento da proporção de adolescentes que
se mostra mais heterogêneo, comportando atendem ao perfil de estudante-filho depen-

38 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

dente e fora da PEA. Esta mudança denota Tal como ocorria em 1970, o ápice do
que houve, para os mais jovens, certa con- processo de transição para a vida adulta,
vergência no processo de transição, algo entendido como a fase de maior efervescên-
que se deve em grande medida à expansão cia de mudanças de status de uma coorte
e à massificação do sistema educacional. É tomada no seu conjunto, acontece em idades
óbvio que nada pode ser dito sobre a quali- mais precoces entre as mulheres do que
dade e o nível escolar alcançado por esses para os homens. Além disso, ocorre primeiro
jovens, mas é possível afirmar que a expe- no meio rural do que no urbano. Um dado
riência de ser estudante-filho dependente e importante é que, apesar da maior escolari-
estar fora da PEA torna-se mais universal. zação, as idades em que o índice de entropia
Por outro lado, os garotos do meio rural alcança os valores mais altos, revelando a
continuam tendo um perfil mais heterogêneo intensificação das mudanças de status, não
do que os outros adolescentes, sendo a se alteraram ou alteraram-se muito pouco
característica de trabalhar ou não o fator que entre 1970 e 2000. A idade em que se en-
mais produz diversificação de experiências contra maior heterogeneidade de status, em
nesse grupo, fazendo com que assuma os 2000, continua sendo aos 20 anos, para as
índices de entropia mais elevados entre os moças de áreas rurais, e aos 22 anos, para os
13 e os 15 anos, se comparado aos demais rapazes do meio rural, com a antecipação de
subgrupos das mesmas idades. um ano neste último caso. No meio urbano,
Em 2000, não se observa queda do ín- passados 30 anos, as mudanças foram mais
dice para os meninos ao redor dos 18 anos. sensíveis para as mulheres. O auge da he-
Esse dado é consistente com a restrição terogeneidade de status ocorre aos 22 anos
de gastos das forças armadas. Apesar do para elas e aos 22-23 anos para eles.
serviço militar continuar obrigatório, muitos Um dado interessante é que, em 1970,
jovens são dispensados de cumpri-lo. apenas as mulheres urbanas mantinham o

GRÁFICO 5
Índice de entropia, segundo sexo e situação domiciliar
Brasil – 2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censo Demográfico 2000. Elaboração própria.

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008 39


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

índice de entropia em patamares elevados já fornece algumas pistas importantes so-


(próximos ou acima de 40% da entropia bre o que ocorreu à transição para a vida
máxima) aos 30 anos e mais. Em 2000, to- adulta e a uma parte significativa do curso
dos os subgrupos se mantêm acima desse de vida adulta, os resultados encontrados
patamar, mesmo depois de completados atentando-se para clivagens de sexo e
os 30 anos de idade. É um indício de que renda domiciliar per capita são ainda mais
o curso de vida tornou-se mais complexo interessantes.
para todos. Muitas outras possibilidades O Gráfico 6 apresenta os índices de
que escapam às combinações tradicionais entropia segundo o sexo e a renda domi-
de homem-trabalhador-chefe de família e ciliar per capita em 1970. Uma primeira
de mulher-mãe-esposa-fora da PEA ao final característica que chama a atenção refere-se
dos 20 anos e início dos 30 tornam-se reais, aos baixos índices de entropia dos jovens
passíveis de serem encontradas empirica- com menos de 15 anos de ambos os sexos
mente. Não se tem aqui a pretensão de se pertencentes à camada de alta renda. A
fazer nenhum julgamento de valor, mas a representação gráfica permite visualizar
complexificação do curso de vida se deve o quanto a experiência desses jovens se
tanto a mudanças no ritmo e no momento distancia daquela dos demais grupos, nos
de formação de família quanto às maiores quais é muito mais freqüente encontrar
chances de homens – tanto quanto já ocor- jovens que já assumiram alguma responsa-
ria com as mulheres no passado – estarem bilidade, quer produtiva ou reprodutiva típica
fora do mercado de trabalho em idades do mundo adulto. Entre os 13 e os 16 anos,
consideradas adultas. no caso das garotas, e entre os 13 e os 15
A coorte de 2000 não só realiza um anos, para os meninos de alta renda, o perfil
maior número de combinações de status predominante é o de estudante, fora da PEA
possíveis, e por isso suas curvas possuem e sem autonomia residencial. Em todos os
níveis mais altos, como se conserva dispersa estratos sociais as meninas aderem mais a
em diferentes combinações em idades muito este perfil do que os meninos do mesmo
acima daquelas circunscritas à juventude. grupo social.
Isto é prova de que a instabilidade, antes Assim como ocorria com os meninos
própria da juventude, de fato se espraiou das áreas rurais em 1970, para os quais
e transcende a própria juventude. Pratica- o índice de entropia caía no final da ado-
mente todos os status têm contribuído para lescência, contrariando a tendência verifi-
essa maior heterogeneidade, especialmente cada para os outros subgrupos em análise
os relacionados à independência residen- naquele momento, o mesmo se observa
cial, à inserção na PEA e ao fato de ter ou para os garotos das camadas médias e
não experiência de viver em união. de baixa renda. Enquanto as mulheres de
Por outro lado, ainda é verdade que o todas as camadas sociais e os homens das
curso de vida no meio rural segue sendo faixas de alta renda se dispersam cada vez
mais rigidamente estruturado do que no mais em diferentes combinações de status
meio urbano. Se na adolescência é mais à medida que avançam para as idades finais
comum o jovem da área rural ter respon- da adolescência, os rapazes de 16 a 19 anos
sabilidades adultas quanto à atividade das camadas médias e baixa se concentram,
econômica, fazendo com que inicialmente em 1970, em uma mesma combinação de
apresente índices de entropia mais eleva- status: não estudam, estão inseridos na PEA,
dos, para todas as idades subseqüentes são solteiros e sem autonomia residencial.
seus índices de entropia são mais baixos Ao adentrarem os 20 anos, o índice de en-
do que no meio urbano, porque se observa tropia associado a eles segue a tendência
uma tendência mais forte de concentração de crescimento que já estava em ação entre
dos indivíduos em poucas combinações os outros subgrupos, sendo o aumento da
de status. heterogeneidade gerado pelo movimento de
Se a segmentação da população em alguns em direção à autonomia residencial
análise por sexo e situação de domicílio e formação do par conjugal.

40 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

GRÁFICO 6
Índice de entropia, segundo sexo e estrato de renda domiciliar per capita
Brasil – 1970

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censo Demográfico 1970. Elaboração própria.

Avaliando-se o ápice da heterogenei- vida adulta ligeiramente mais velhos do que


dade intragrupo, ou seja, o momento em seus pares de outras camadas sociais.
que as combinações de status são mais Quanto mais pobre a mulher, maior era a
numerosas, um indicativo típico da transição chance de se enquadrar ao perfil de esposa/
para a vida adulta de uma coorte, constata- mãe/dona-de-casa. Aos 23 anos, mais de
se que as mulheres das camadas médias 50% das mulheres de baixa renda tinham
são as que primeiro intensificam este pro- este perfil; por isso a curva que as repre-
cesso de transição, com o auge ocorrendo, senta revela índices de entropia mais baixos
em 1970, aos 20 anos. Para as mulheres do que as demais mulheres. Já os homens,
da camada de baixa renda, o ponto alto de nas imediações dos 30 anos, invariavel-
mudança de status era aos 21 anos e, para mente assumiam o papel de trabalhador-
aquelas da camada de alta renda, aos 23 cônjuge-chefe de domicílio, apresentando,
anos. Entre os homens, essas idades são a partir de então, nas idades subseqüentes,
23 anos, para os de média e baixa renda, e índices de entropia sempre menores do
24 anos, para aqueles de alta renda. Res- que as mulheres da mesma camada social.
tringindo a transição para a vida adulta à O perfil dos grupos femininos se conserva
mudança de status, atesta-se que, em 1970, sempre mais heterogêneo, mesmo após os
as mulheres faziam a transição para a vida 30 anos, especialmente em decorrência dos
adulta em idades um pouco mais jovens do fatores inserção no mercado de trabalho e
que seus pares do sexo masculino perten- formação de família.
centes ao mesmo estrato social. Por outro O Gráfico 7 traz os resultados obtidos
lado, os jovens de ambos os sexos da ca- para 2000 tomando como critério de seg-
mada de alta renda desta coorte intensificam mentação populacional o sexo e a renda
a mudança de status social em direção à domiciliar per capita. Os padrões das curvas

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008 41


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

GRÁFICO 7
Índice de entropia, segundo sexo e estrato de renda domiciliar per capita
Brasil – 2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censo Demográfico 2000. Elaboração própria.

deste gráfico são mais semelhantes entre que a transição para a vida ocorre mais
si do que em 1970. Para todos os grupos, tardiamente nestes grupos.
cresce o percentual de jovens que são Vale destacar que, entre os subgrupos
estudantes-dependentes (fora da PEA e sem femininos, aquele composto por mulheres
autonomia residencial), mas a disparidade de baixa renda domiciliar per capita é o
entre as camadas sociais persiste, com os único que teve, em 2000, o auge da tran-
jovens mais pobres tendo sempre que com- sição para a vida adulta antecipado em um
binar uma ou duas atribuições, de ordem ano, passando de 21 anos em 1970 para 20
produtiva e/ou reprodutiva típicas de adulto, anos em 2000. Nos outros dois subgrupos
além das incumbências de estudante. ocorreu o oposto, isto é, o adiamento em
As meninas oriundas da camada de um ano (deve-se atentar para os pontos
baixa renda fazem a transição para a vida máximos de cada curva do Gráfico 8).
adulta mais cedo e mais rapidamente do Observando o Gráfico 8, merece aten-
que os outros jovens. Mesmo não sendo o ção o fato de que, ao se compararem os
grupo que parte de patamares mais altos cursos de vida dos subgrupos femininos de
de entropia nas idades iniciais, é aquele 1970 e 2000, representados pelas respecti-
que mais precocemente atinge o pico da vas curvas, percebe-se que as maiores mu-
transição de status: aos 20 anos. O auge danças ocorreram nas camadas médias e de
da dispersão dos jovens por diferentes baixa renda. Grosso modo, em 2000, dos 25
combinações de status, em 2000, se dá anos em diante, há uma tendência mais forte
aos 21 anos para as mulheres das camadas de convergência do comportamento das
médias e aos 24 para aquelas de alta renda curvas, sendo grande a dispersão de mu-
domiciliar per capita, sinalizando, portanto, lheres em diferentes combinações de status

42 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

GRÁFICO 8
Índice de entropia para mulheres, segundo renda domiciliar per capita
Brasil – 1970-2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censos Demográficos 1970 e 2000. Elaboração
própria.

em todos os subgrupos. Isso comprova que, anos, em 1970, para 22 anos, em 2000.
em 2000, muitas outras possibilidades de Para os outros dois subgrupos masculinos
combinações de status alternativas àquela praticamente não houve mudança quanto
de mãe/esposa/dona-de-casa estão abertas à idade em que se alcança a maior hetero-
às mulheres de todas as camadas sociais. geneidade de status, apesar de ter havido
Em outras palavras, aumentou a variabili- uma mudança de nível, sendo o grau de
dade de perfis que descrevem as mulheres heterogeneidade de combinações de status
passados esses 30 anos que separam os maior em 2000.
dois levantamentos censitários em estudo. Também como ocorre entre as mu-
Contudo, entre os 13 e os 24 anos, é visível lheres, em 2000, conforme se avança em
que o momento e o ritmo da transição estão idades próximas ou superiores a 30 anos,
associados à renda domiciliar per capita do há certa convergência no grau de heteroge-
indivíduo. neidade de combinações de status de todos
Se entre as moças de baixa renda a tran- os subgrupos, sendo o grande diferencial
sição para a vida adulta ocorre mais cedo observado para as idades mais jovens,
e se processa mais rapidamente (a curva especialmente de 13 a 24 anos.
atinge um auge e depois declina de modo Uma vez que as discussões sobre desi-
mais drástico que entre outros subgrupos), gualdade de renda têm sido ultimamente
para os rapazes do mesmo estrato social contrabalançadas pelos debates em torno
a situação não é muito diferente, conforme de diferenças raciais, muitas vezes emergin-
se pode visualizar no Gráfico 9. Também do o questionamento se políticas sociais
entre eles o ápice do processo de transição devem se pautar em critérios sociais, ou de
foi antecipado em um ano: passou de 23 cor/raça, decidiu-se, apenas a título de curio-

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008 43


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

GRÁFICO 9
Índice de entropia para homens, segundo renda domiciliar per capita
Brasil – 1970-2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International, 2002. Censos Demográficos 1970 e 2000. Elaboração
própria.

sidade exploratória, utilizar o mesmo instru- de sexo/gênero pesa mais do que o de cor/
mental metodológico da análise de entropia raça na produção de diferenciais de momen-
de coortes sintéticas para medir eventuais to e ritmo no processo de transição para a
discrepâncias entre uma parte significativa vida adulta. Basta notar que, à primeira vista,
do curso de vida e da transição para a vida o que mais se destaca é certa similaridade
adulta de brasileiros brancos e negros.6 Os entre as curvas referentes a mulheres bran-
resultados estão sintetizados no Gráfico 10. cas e negras, o mesmo sendo observado
Vale lembrar que aproximadamente 54% da para homens brancos e negros.
população brasileira se autodeclarou branca Contudo, apesar de as diferenças entre
no censo de 2000, enquanto cerca de 44,5% brancos e negros serem menos evidentes do
se identificou como negra. que eram aquelas entre as camadas sociais
Conforme se pode observar no grá- e áreas urbanas e rurais, há ao menos duas
fico, as diferenças no momento e ritmo da informações neste gráfico que merecem ser
transição para a vida adulta com base no enunciadas. A primeira é a de que, por volta
critério cor/raça são menos gritantes do que dos 23 a 29 anos, os índices de entropia para
aquelas captadas quando se consideram a mulheres brancas são praticamente iguais
renda domiciliar per capita e a situação de aos encontrados para mulheres negras.
domicílio. Fica claro, por exemplo, que o viés Porém, em todas as demais idades consi-

6 Foram consideradas negras as pessoas que se declararam como pretas e pardas no Censo Demográfico de 2000.
Indivíduos que compunham as categorias indígena e amarela, embora tenham sido computados quando as clivagens
em análise foram a situação de domicílio e a renda domiciliar per capita, foram excluídos nesta etapa em que o viés foi
estritamente a cor/raça. A decisão de excluí-los foi tomada levando-se em conta que são grupos numericamente muito
menores em comparação com o de brancos e negros. Além disso, possuem características que lhes são muito peculiares,
o que torna de certo modo não recomendável incorporá-los a quaisquer dos outros dois grupos.

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Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

GRÁFICO 10
Índice de entropia, segundo sexo e cor
Brasil – 2000

Fonte: IPUMS – Integrated Public Use Microdata Series-International 2002. Censo Demográfico 2000. Elaboração própria.

deradas, os índices de entropia calculados não assumiu nenhum papel típico de adulto
para as mulheres negras superam os das também é mais freqüente entre brancos do
brancas. Isto é, ao longo do curso de vida que negros.
das mulheres negras, há um número maior Dos 13 aos 22 anos, o índice de entropia
de combinações de status possíveis que é mais alto entre os jovens negros do que
se realizam empiricamente, se comparado os brancos, justamente porque assumem in-
à realidade vivida pelas mulheres brancas. cumbências de adulto mais cedo, o que faz
Pode-se dizer, portanto, que, considerando com que entre eles possam ser encontradas
as múltiplas possibilidades de status (de combinações de status (relativas ao status
trabalhador ou estudante, autonomia resi- de trabalhador, status residencial ou familiar)
dencial, experiência de estabelecimento de inexistentes, ou muito menos freqüentes
união conjugal e de ter ou não filhos), o entre brancos.
grupo composto por mulheres negras é As idades em que se verifica maior
mais heterogêneo do que o de brancas. As dispersão de indivíduos por diferentes
mesmas constatações são válidas quando combinações de status, marcando o ponto
se comparam as curvas referentes aos ho- alto de múltiplas transformações de status
mens negros e brancos. que estão sendo vivenciadas pela coorte,
A segunda informação revelada pelo são: 20-21 anos para as mulheres negras
Gráfico 10 é talvez mais importante do que (quando se atinge cerca de 77% da entro-
a primeira. Percebe-se que as diferenças pia máxima); 22-23 anos para as mulheres
entre o curso de vida de brancos e negros, brancas (aproximadamente 76% da entropia
no que tange a combinação de status, são máxima); 22-23 anos para os homens ne-
maiores nas idades mais jovens. Aos 13-14 gros (em torno de 65% da entropia máxima);
anos, quando a freqüência à escola ainda é e 22-24 anos para os homens brancos
obrigatória, é mais comum meninas brancas (cerca de 64% da entropia máxima). Isso
se enquadrarem no perfil de estudante- reforça o argumento de que os jovens ne-
dependente-fora da PEA do que as negras. gros, enquanto grupo, tendem a ingressar
Entre os meninos desta faixa etária, esta na vida adulta mais cedo do que seus pares
mesma combinação de status de quem brancos do mesmo sexo.

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008 45


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

Conclusões menor grau também se observa que, nas


primeiras idades, pessoas brancas, mais
A partir dos resultados da análise de en- do que as negras, e as mulheres, mais do
tropia de combinações de status de coortes que os homens, enquadram-se no perfil de
sintéticas, torna-se patente que o curso de estudante-fora da PEA.
vida tornou-se mais complexo em 2000 se O ápice do processo de transição ocorre
comparado a 1970. No raiar do século XXI, em idades diferentes, segundo renda, cor,
a combinação de status tradicional de adulto sexo e situação de domicílio. Contudo, ape-
(indivíduo que encerrou a fase de escolari- sar dessas diferenças, as idades em que a
zação, inseriu-se no mercado de trabalho, coorte atinge o máximo de dispersão por
constituiu domicílio independente e formou diferentes combinações de status, captando-
família) divide espaço com outras tantas va- se um movimento de mudança de status no
riações por muito mais tempo, dado que os interior da coorte, são idades mais jovens do
índices de entropia para 2000 se mantêm em que aquelas que se têm observado em países
patamares superiores aos de 1970 em todos desenvolvidos (FUSSELL; EVANS; GAUTHI-
os subgrupos populacionais nas idades ao ER, 2006). Enquanto no Brasil as idades em
redor dos 20 anos e mais. que há mais numerosas mudanças de status
O aumento da freqüência escolar e a atingem um clímax na faixa de 20-24 anos
diminuição do trabalho em idades inferiores no máximo, naqueles países a tendência é
aos 15 anos também são perceptíveis pela que isso ocorra um pouco mais tarde, ou
tendência de queda do índice de entropia que se mantenham patamares semelhantes
para essas idades iniciais em todos os de índices de entropia para as faixas 20-24
subgrupos, neste intervalo de 30 anos entre e 25-30 anos.
os dois censos considerados. Entretanto, Em todo caso, o curso de vida tem se
persistem grandes desigualdades quanto tornado menos previsível, uma vez que há
a esse aspecto, especialmente no que diz maiores combinações de status que de fato
respeito aos subgrupos segmentados por se realizam empiricamente, e que estão
renda domiciliar per capita e situação de abertas igualmente a um amplo leque etário.
domicílio, sendo mais comum a oportuni- Isso dá a impressão de que em parte se
dade de se dedicar exclusivamente aos es- materializa aquela “desconstrução do curso
tudos aos jovens de estratos de maior renda da vida em nome de um estilo unietário” de
e àqueles residentes em áreas urbanas. Em que falava Debert (1999).

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Resumen

Transición a la vida adulta en Brasil: Análisis comparado entre 1970 y 2000

La transición a la vida adulta es un momento clave del curso de vida de los sujetos. Es una
fase marcada por importantes cambios de status, como el pasaje de estudiante a trabajador,
de miembro dependiente de una familia a jefe de familia, de soltero a persona en unión,
de hijo(a) a padre o madre. A partir de la aplicación de una metodología nueva, que mide
cambios en la estructura del curso de vida, desarrollada por investigadores asociados a
IUSSP, se comparó la transición a la vida adulta en Brasil en dos momentos, 1970 y 2000,

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 27-48, jan./jun. 2008 47


Vieira, J.M. Transição para a vida adulta no Brasil

según los ingresos domiciliarios per cápita, la situación de familia y el sexo de los individuos.
En síntesis, la técnica – conocida como análisis de entropía de combinaciones de status de
cohortes sintéticas – consiste en construir índices que combinan la proporción de personas
de determinada edad que frecuentan la escuela, trabajan y formaron familia, o no. A partir de
los resultados es posible identificar cuando la transición a la vida adulta comienza y termina,
así como cuando alcanza un pico. El recurso gráfico permite visualizar que, partiendo de
edades más próximas a la infancia (cuando la mayoría de las personas se encuentran en una
combinación de status muy característica: estudiante, no trabaja, es miembro dependiente
de la familia, sin experiencia conyugal y sin hijos), en dirección a la adolescencia/juventud,
en algún punto el índice de entropía aumenta significativamente, lo que evidencia cambio de
status, señalizando el inicio del pasaje a la vida adulta. Lo que se explora en este texto son las
desigualdades en los marcos temporales y en la extensión de la transición a la vida adulta de
jóvenes de diferentes estratos de ingresos, según el sexo.
Palabras-clave: Juventud. Transición. Ingreso familiar per cápita. Género. Color. Situación de
familia.

Abstract

Transition to adult life in Brazil: comparative analysis between 1970 and 2000

The transition to adult life is a key phase in young person’s life. It is a phase marked by important
changes in status, such as the passage from student to worker, from dependent member of a
household to the head of a family, from single to married person and from child to parent. By
applying a new methodology which measures changes in the structure of a person’s life course,
developed by researchers associated with IUSSP, the transition to adult life in Brazil in two
different periods, 1970 and 2000, was compared. The subjects were classified according to per
capita household income, household situation and gender. In synthesis, the technique - known
as analysis of entropy of status combinations of synthetic cohorts - consists of constructing
indexes that combine the proportion of persons of a given age who attend school, have a job,
and have or have not set up a family. Based on the findings, it is possible to identify when the
transition to adult life begins and ends, and when it reaches a peak. The graphic resource makes
it possible to visualize that, starting from the ages closest to childhood (when most people are
located in a very characteristic status combination: student, does not work, is dependent on the
household, without conjugal experience and without children), toward adolescence/youth, at
some point the entropy index increases significantly. This represents a change in status and is
an indication of the beginning of the passage to adult life. This article explores the inequalities
in temporal milestones and in the length of the transition to adult life of young people of different
income levels, according to gender.
Keywords: Youth. Transition. Per capita household income. Gender. Color. Household
situation

Recebido para publicação em 06/03/2007.


Aceito para publicação em 20/05/2008.

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