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A cultura ocidental está imersa na ideia da imortalidade. Os doentes são enviados aos
hospitais, onde seus órgãos doentes são tratados, e só voltam para casa quando estão
“magicamente” recuperados. É cada vez menos comum que a morte ocorra em casa.
Os hospitais e necrotérios substituem este rito de passagem de forma fria e asséptica.
Muitas vezes, a pessoa que está prestes a morrer não sabe que o fim está próximo, e
os parentes não têm autorização para expressar seus sentimentos de perda e solidão.
Entretanto, a pessoa que morre não é mais velada em casa, não existe “velório”. Suas
virtudes e defeitos não são proclamados, e a expressão de sentimentos que favorece o
processo de luto não é mais encorajada, salvo em comunidades isoladas. Não
surpreende que essa repressão de sentimentos opere na profundidade do organismo,
aparecendo depois na forma de úlcera psicossomática, estresse ou depressão.
A técnica do espelho permite que cada um tome distância para observar sua situação
existencial, como se estivesse numa varanda.
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A inversão de papéis com parentes (o morto e a família) facilita a recuperação do meio
social do cliente e oferece a oportunidade de experimentar diferentes maneiras de
resolver o luto. A etapa de incorporação dos parentes exige o reconhecimento da
irreversibilidade, a expressão dos sentimentos de solidão e, finalmente, a
oportunidade de se despedir da pessoa que morreu. Mesmo que se possa utilizar a
palavra “adeus”, é melhor para o protagonista dizer à pessoa querida que qualidade
dela ele vai guardar consigo. Dessa forma, o protagonista mantém viva sua memória e
se enriquece com novas habilidades. Ao incorporar as qualidades de quem se foi, ele
aceita a morte e promove um processo de desenvolvimento pessoal.
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7- Na sessão seguinte, depois da intervenção, os resultados e as hipóteses são
verificados. Se a evolução foi boa (ou seja, se faram alcançados e mantidos os
efeitos esperados), não se fazem mais sessões de tratamento, mas o paciente
pode retornar à sua terapia para o tradicional acompanhamento. Se a evolução
não foi bem-sucedida, considera realizar novas sessões psicodramáticas ou
utilizar novas estratégias de intervenção, com diferentes orientações.
Em princípio, qualquer caso pode ser admitido para tratamento, mas somente se leva
adiante quando existe uma garantia mínima de progresso para o paciente.
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8- Recuperação: volta progressiva à funcionalidade.
9- Reconexão com o meio e estabelecimento de novos vínculos com as pessoas.
Entre os sintomas do luto estão: ficar estacionado em alguma dessas fases, em geral
na de negação da perda e/ou uma exacerbação dos sintomas esperado de dor; e/ou o
aparecimento de formas alteradas de comportamento, que podem inclusive ser
perigosas para a saúde do paciente (descuido, tentativa de suicídio, e assim por
diante). A falta de consciência e de perspectiva de um adeus deixa um grande número
de temas em suspenso: tudo que o sujeito gostaria de ter feito, mas não fez com a
pessoa que morreu.
O processo terapêutico também passa por várias etapas. Olhando para o passado,
ocorre primeiro um insight e um reconhecimento da morte (iminente ou acontecida).
Depois, vem uma resolução mental de problemas importantes. No presente, há um
ritual de despedida em que se expressam sentimentos contidos. Olhando para o
futuro, há finalmente uma busca de apoio no meio externo, que poderia potencial e
parcialmente substituir a pessoa perdida. Assim, há um retorno ao mundo “real” e
uma nova vinculação com pessoas que continuam vivas.
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Neste texto, apresentamos apenas os dados mais relevantes dos casos de luto. Todos
os casos tratados com psicodrama produziram resultados satisfatórios, mesmo os mais
graves. O risco de suicídio ou a presença de sintomatologia pseudopsicótica
costumam ser diagnosticados, equivocadamente, como depressão ou psicose.
ESTUDO DE CASO.
Mulher de 57 anos
Homem de 60 anos
Mulher de 18 anos
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encontrou uma razão para continuar vivendo. Reconectou-se e recuperou a
funcionalidade.
Homem de 59 anos
Foi tratado ambulatorialmente por luto. Sua mulher havia desaparecido e ele
suspeitava que ela tivesse cometido suicídio, atirando-se ao rio, porque ela tinha uma
longa história de depressão e tentara se matar anteriormente. Ele estava vivendo o
luto antes de saber da morte, uma vez que o corpo da esposa não havia sido
encontrado. Trabalhamos seus sentimentos de culpa (ele pensava que deveria tê-la
controlado melhor). Ele dramatizou também alguns temas importantes (o que ele não
tinha dito à esposa ou não tinha feito com ela). Finalmente, ele conseguiu despedir-se
de um neto desejado, ainda não nascido, e se reconectou com a filha, numa projeção
futura. Houve uma intensa explosão emocional, com uma consequente recuperação
plena da saúde e da funcionalidade. Ele não teve recaída, como se esperava, quando o
corpo de sua mulher foi encontrado no rio, um mês depois.
Conclusões