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Unidade: A LINGUÍSTICA E

OUTRAS CIÊNCIAS
Unidade I:

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Unidade: A LINGUÍSTICA E OUTRAS CIÊNCIAS

Chegamos à última unidade de nossos estudos linguísticos e, conforme


pudemos observar, esta é uma área com inúmeras ramificações.
Inicialmente observamos o surgimento da Linguística enquanto ciência
nos estudos estruturalistas de Saussure. Percebemos que, naquele momento,
optou-se pela análise da língua, por esta ser considerada menos variável que a
fala.
Em seguida, surgiram os estudos gerativistas de Chomsky que, apesar
de ampliarem o objeto de estudo para as sentenças e para a competência
linguística dos falantes, não almejavam analisar as sentenças reais, proferidas
por falantes em situações de comunicação, antes, a língua analisada, bem
como suas sentenças eram idealizadas.
É somente a partir da segunda metade do século XX que as correntes
linguísticas passam a dedicar-se aos estudos das situações reais de
comunicação, bem como a observar os falantes envolvidos nos atos interativos.
Estudamos assim algumas correntes Funcionalistas, a Pragmática, a Análise
da Conversação, e, na unidade anterior, a Análise do Discurso e as Teorias da
Enunciação.
Percebemos, ainda que, como o passar do tempo, os estudos
linguísticos tornam-se cada vez mais associados a outras ciências como a
antropologia, a sociologia, a psicologia etc. Tal fato, conforme observaremos

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nesta Unidade gera bastante confusão terminológica, pois nem sempre é fácil
distinguir os objetos de estudo de uma ou outra corrente linguística, como se,
em muitas ocasiões houvesse o encadeamento, ou justaposição de várias
ciências.
Tentaremos, portanto, observadas as restrições acima, delimitar o que
se entende por Sociolinguística, Geolinguística, Etnolinguística e
Psicolinguística.

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A Sociolinguística

Pudemos observar, nos estudos apresentados anteriormente, a estreita


relação que existe entre a linguagem e a sociedade. Entretanto, o termo
Sociolinguística só surgiu em 1964, mais especificamente em um congresso
organizado pelo linguista americano William Bright, na Universidade da
Califórnia (UCLA). Para este pesquisador, a Sociolinguística deveria estudar as
relações existentes entre as variações linguísticas observáveis em uma
comunidade e as diferenciações na estrutura social dessa mesma sociedade
(ALKMIM, 2003, p.28).

Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/_oWWSP-6-O6c/SmxxEPY4tpI/AAAAAAAAADE/A6v-es-


hpLk/s400/logo_bonecos1.jpg Acesso: 10/0410

Com isso se entende que, para Bright, o objeto de estudo da


Sociolinguística é a diversidade linguística e, para tanto, ele associa a
diversidade a certos fatores sociais como a identidade social do falante e do Unidade: A LINGUÍSTICA E OUTRAS CIÊNCIAS
ouvinte, o contexto social etc.
Segundo Alkmim, a Sociolinguística pode, portanto, ser definida como:

[...] o estudo da língua falada [tanto na modalidade oral quanto


escrita], observada, descrita e analisada em seu contexto
social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida
é a comunidade lingüística, um conjunto de pessoas que
interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de
normas com respeito aos usos lingüísticos
(ALKMIM, 2003, p.31).

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Note que, de acordo com tal definição, os estudos da Sociolinguística
baseiam-se na observação dos usos que as chamadas comunidades
linguísticas fazem da língua.
É importante entender que pelo termo comunidade linguística, ou se
você preferir, comunidade de fala, não se quer dizer grupos que falam
exatamente do mesmo modo, mas grupos de pessoas que obedecem às
mesmas regras linguísticas para se comunicarem.

Disponível em: http://files.eflog.net/fotos/img166490_jaquemiranda.jpg Acesso: 09/04/10

Dessa forma, pode-se entender, portanto, desde os falantes do


português, até os habitantes da cidade de São Paulo, do bairro da Penha, ou
os estudantes de Medicina da USP e os rappers.
Percebe-se assim que o termo comunidade linguística poderá ter sua

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significação reduzida ou ampliada dependendo dos objetivos propostos por um
determinado estudo de natureza sociolinguística.
De uma ou de outra forma, observamos que um fator comum a todas as
comunidades linguísticas é o fato de que sempre existirá diversidade ou
variação dentro de cada uma delas. Isso significa que:
[...] toda comunidade se caracteriza pelo emprego de diferentes
modos de falar. A essas diferentes maneiras de falar, a
Sociolinguística reserva o nome de variedades lingüísticas. O
conjunto de variedades lingüísticas utilizado por uma
comunidade é chamado repertório verbal.
(Ibid., p.32)

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Veja o exemplo a seguir para uma melhor compreensão dos termos
apresentados:

Se considerarmos a comunidade linguística da cidade de São Paulo,


observaremos que seu repertório verbal se constitui de muitas variedades
linguísticas distintas, pois essas serão influenciadas pelas regiões da cidade,
pelas classes sociais dos falantes, por suas ocupações, por sua escolaridade
dentre tantos outros fatores.

Assim, um morador típico do bairro da Mooca provavelmente utilizará


expressões próprias, bem como falará de modo muito mais “cantado” que os
moradores de outras regiões da cidade. Esse falar foi reproduzido por Adoniran
Barbosa em muitas de suas obras.
Acesse o link abaixo e observe essa variante na letra e música da
canção “Samba do Arnesto”, de Adoniran Barbosa.

http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa/43968/

Para a Sociolinguística a diversidade não é vista como um problema,


antes, é observada como uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico,
como algo inseparável da efetiva produção social do discurso.
A variação linguística pode ser observada tanto no plano diacrônico,
quando consideramos as alterações que as diversas línguas sofrem com o

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passar do tempo, quanto no plano sincrônico, no qual fatores como a origem
geográfica dos falantes, a idade e o sexo podem influenciar o modo como as
pessoas de uma mesma comunidade linguística fazem uso da língua.
É possível descrever as variedades linguísticas a partir de dois
parâmetros básicos: a variação geográfica (ou diatópica) e a variação social
(ou diastrática).
Segundo Alkmim (Ibid., p.34) a variação geográfica ou diatópica
relaciona-se às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico e que
podem ser observadas entre falantes oriundos de diferentes regiões.

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Disponível em: http://www.balaiodeminas.com.br/conteudo/jornais/uploads/CH_Caipira.jpg
Acesso: 09/04/10

Podemos observar tal fato se considerarmos os modos distintos de falar


das pessoas que vêm dos vários estados do nordeste brasileiro. Apesar de
serem tratados genericamente como “nordestinos”, paraibanos, baianos,
cearenses, sergipanos, maranhenses etc têm características linguísticas que
os distinguem.
“A variação social ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto
de valores que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a
organização sociocultural da comunidade de fala” (Ibid., p.35).
Com isso quer-se dizer que fatores como a classe social, a idade, o sexo
e a situação ou contexto social contribuem para as observadas variações
linguísticas.
Vejamos alguns exemplos a esse respeito:

Classe social – pessoas pertencentes a grupos sociais mais pobres tendem a: Unidade: A LINGUÍSTICA E OUTRAS CIÊNCIAS

 Usar a dupla negação: “ninguém não viu”, “eu nem num gosto”;
 Substituir o [l] pelo [r] como em “brusa” e “grobo”.

Idade
 O uso de gírias está geralmente vinculado a grupos pertencentes a
faixas etárias mais jovens;
 A pronúncia fechada da vogal tônica da palavra “senhora” (/senhôura/ ao
invés de /senhóra/) é característica de alguns falantes mais velhos.

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Sexo
 Mulheres tendem a alongar algumas vogais como em “maaravilhoso”;
 O uso de diminutivos como bonitinho, camisinha, sapatinho é
característico do universo feminino.

Disponível em:
http://1.bp.blogspot.com/_ff9k9cHmraA/S03H_Mb9MfI/AAAAAAAAAeA/_B5RVdWSAkc/s400/conversade
mulher.jpg Acesso 10/04/10

Situação ou Contexto Social – cada falante costuma adequar sua fala de


acordo com o ambiente em que se encontra e também de acordo com seus
interlocutores. Assim, um estudante universitário utilizará determinadas
expressões e vocabulário com seus colegas diferentes das escolhidas para se
dirigir a um professor.

Alkmim, portanto declara que “As variedades lingüísticas utilizadas pelos


participantes das situações devem corresponder às expectativas sociais Unidade: A LINGUÍSTICA E OUTRAS CIÊNCIAS
convencionais” (Ibid., p.37).
Com isso, ela demonstra que, caso não adequemos nossa linguagem ao
que é esperado em cada situação, provavelmente seremos “punidos”, o que
pode representar desde um simples franzir de sobrancelhas até a perda de
uma vaga de emprego.

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Disponível em: http://blog.educacional.com.br/glaucegram/files/2010/02/capoliglota.jpg Acesso: 10/04/10

Chamamos às variações linguísticas relacionadas ao contexto de


variações estilísticas ou registros.
É possível observar, portanto, que as variedades linguísticas inserem-se
nas relações sociais e que, a valorização de uma variedade em relação às
demais resulta da hierarquia dos grupos sociais, muito mais do que de fatores
inerentes à própria língua.
Ou, se utilizarmos a citação apresentada por Alkmim “uma variedade
lingüística „vale‟ o que „valem‟ na sociedade os seus falantes, isto é, como
reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e
sociais” (GNERRE, 1985, p.4 apud ALKMIM, 2003, p.39)
Observamos assim como surgem as chamadas variedades padrão dos
idiomas que, em geral, coincidem com a variedade linguística utilizada pelas
classes dominantes em determinado período.
Em consequência, as variantes que não estejam dentro do que é Unidade: A LINGUÍSTICA E OUTRAS CIÊNCIAS
considerado o padrão, serão consideradas como variantes não-padrão ou
estigmatizadas. (CAMACHO, 2003, p.59, grifos nossos).
Por essa razão também é possível inferir que, uma variedade tida como
padrão numa determinada época, pode deixar de sê-lo em outra. Um exemplo
clássico disso são formas como “frauta”, “escuitar” e “intonce” que atualmente
não pertencem à língua padrão, mas que são encontradas em Os Lusíadas, de
Camões.

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Disponível em: http://www.areamilitar.net/DIRECTORIO/im_MAR/NAU_PT1550_001.jpg Acesso: 10/04/10

Um dos objetivos dos estudos sociolinguísticos com relação a este


assunto é demonstrar que não há línguas superiores ou inferiores, antes, cada
língua é adequada à comunidade que a utiliza. Dessa forma, se uma língua
não possui determinados vocábulos é porque estes não são necessários para a
comunicação naquela comunidade de fala.

A Geolinguística

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Disponível em: http://earthrotation.oma.be/gif/earth_rot_5.jpg Acesso: 10/04/10

No tópico sobre a Sociolinguística, observamos que um dos parâmetros


para se estudar as variedades linguísticas diz respeito às diferenças
geográficas, espaciais, ou, utilizando a terminologia técnica, diatópicas.

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Muitos pesquisadores de orientação sociolinguística passaram a estudar
as variedades dos falares com relação aos locais geográficos de onde os
falantes são oriundos, dessa forma, originando uma corrente específica de
estudos denominada Geolinguística, ou Geografia Linguística.
A Geolinguística relaciona-se, ainda, com uma outra área de estudos
denominada Dialectologia, ou seja, uma ciência que se dedica à observação
dos vários dialetos existentes dentro de uma determinada região geográfica.
Para alguns estudiosos, portanto, a Geolinguística passa a ser considerada
como um “método por excelência da Dialectologia e vai se incumbir de recolher
de forma sistemática o testemunho das diferentes realidades dialetais refletidas
nos espaços considerados” (CARDOSO, 2002, p. 2).
Uma das técnicas mais utilizadas para se estudar as variedades dialetais
é por meio dos denominados Atlas Linguísticos que mapeiam os falares de
determinadas regiões. Temos assim o Atlas Linguístico da Paraíba, do Paraná,
de São Paulo etc.

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Disponível em: http://brasil.indymedia.org/images/2010/01/463343.jpg Acesso: 10/04/10

Para se organizar um Atlas Linguístico existe uma metodologia que


precisa ser observada, bem como itens que podem variar de acordo com os
objetivos da pesquisa. Assim, a maioria dos Atlas Linguísticos apresenta,
principalmente, diferenças observadas no léxico de determinada região,
enquanto outros estudos dedicam-se a verificar aspectos fonéticos
relacionados à língua, ou seja, as formas como as pessoas pronunciam os
sons em determinadas regiões.

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Vejam na imagem seguinte um exemplo de estudo sobre os termos que
designam a brincadeira “cabra-cega” em diversas regiões do Brasil.
Disponibilizamos no item Material Complementar alguns links sobre este
e outros artigos que abordam diferentes estudos geolinguísticos brasileiros.

Disponível em: http://www.faccar.com.br/desletras/hist/2007_g/textos/18_arquivos/image010.jpg


Acesso: 10/04/10

O objetivo de tais estudos não é certamente homogeneizar os falares de

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determinadas regiões, mas delimitar o uso de certas variedades
geograficamente, para, a partir daí, observar questões sociais e culturais
associadas a tais variedades linguísticas, muitas vezes estigmatizadas.
Desse modo, a Geolinguística compartilha muitos pontos de contato com
a Sociolinguística, bem como com a Etnolinguística que é nosso próximo
tópico. Vejamos porque.

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A Etnolinguística

Assim como a Geolinguística, que possui fronteiras muito próximas com


as da Sociolinguística, a Etnolinguística, por vezes também se ocupa de
questões estudadas por outras correntes.
Segundo Lyons a Etnolinguística pode ser definida como:

[...] o estudo da linguagem em relação à cultura – considerando


„cultura‟ no sentido em que é usada em antropologia [...] nesse
sentido, pressupõe a sociedade; e a sociedade, por sua vez,
depende da cultura
(LYONS, 1987, p.245).

Conforme a citação acima demonstra, esses estudos aproximam-se da


antropologia e, por esta razão, a Etnolinguística é por vezes chamada de
Linguística Antropológica, ou Antropologia Linguística. Em qualquer
denominação, seu campo de atuação é o das relações entre língua e cultura,
pois, conforme nos apresenta Borba (1998, p.78) “a língua é, ao mesmo tempo,
parte integrante, produto e veículo da cultura”.

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Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/_Cw-YZM6i1GQ/SS3gSF3lwTI/AAAAAAAAAAc/xQgC-


uMMUgU/s320/todas-as-criancas-do-brasil06.jpg Acesso: 09/04/10

Com isso, entendemos que a língua tanto reproduz as concepções de


uma determinada cultura, quanto é influenciada e modificada por esta. Assim, o
vocabulário de cada língua irá adequar-se ao tipo de comunidade que o utiliza,
por exemplo, um povo caçador e um povo agricultor terão vocabulários bem
diferenciados (BORBA, 1998, p.78).

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Outros elementos culturais que podem reproduzir-se na organização
linguística das diversas sociedades são a religião, as crenças, as artes etc.
Em resumo, os estudos etnolinguísticos visam observar as relações
entre a língua e a cultura representadas nas escolhas linguísticas e estruturais
feitas por seus falantes, pois, podemos inferir que, cada sociedade tem um
modo diferente de observar os mesmos elementos. Vejamos os exemplos
abaixo extraídos de Borba:

Ao que chamamos escada rolante o francês diz escalier


mécanique; nós focalizamos a função; eles, a estrutura da
coisa. O nosso beija-flor é oiseau-mouche (pássaro mosca)
para os franceses e humming bird (pássaro que zumbe) para
os ingleses. Para denominar, chama-nos a atenção a atividade
da ave; para os franceses, o tamanho; para os ingleses, o ruído
que produz
(Ibid, p.79).

Borba ainda nos alerta para o fato de que os exemplos apresentados


são extraídos de línguas aparentadas que possuem influências latinas; o que
nos leva a concluir que as distinções linguísticas entre línguas provenientes de
culturas mais distantes podem ser realmente grandes, uma vez que, conforme
vimos, a língua é influenciada pelas concepções de mundo de cada povo.

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Disponível em: http://img.vivaolinux.com.br/imagens/artigos/comunidade/02.ilustracao02.jpg


Acesso: 10/04/10

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Devemos finalmente observar, com relação a Etnolinguística, que esses
estudos não pretendem simplesmente estabelecer uma dualidade entre língua
e sociedade, como se esses aspectos fossem dois elementos em separado,
antes, “procura-se estabelecer uma identidade de relações entre fatos
lingüísticos e fatos culturais, ambos condicionados pelas necessidades da vida
social” (BORBA, 1998, p.80).
Retornamos, desse modo, a um conceito já apresentado pela
Sociolinguística que atesta que cada língua desenvolve-se de modo a suprir as
necessidades da comunidade linguística que dela faz uso.
Observaremos a seguir uma corrente que mantém relações bastante
estreitas com a Psicologia e que, portanto, recebe a denominação de
Psicolinguística.

A Psicolinguística

O termo Psicolinguística surge pela primeira vez em um artigo intitulado


Language and Psycolinguistics (Linguagem e Psicolinguística), de autoria de
N.H. Proncko, em 1946. Neste artigo, tenta-se alinhar os estudos da Psicologia
aos da Linguística a fim de observar o relacionamento existente entre o
pensamento (ou o comportamento) e a linguagem (BALIEIRO JR, 2001, p.172).

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Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/psicolinguistica/images/faces.jpg Acesso: 10/04/10

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Observa-se, neste primeiro momento da Psicolinguística, a existência de
dois movimentos opostos: um que parte da Psicologia para a Linguística e
outro que opera em movimento inverso, da Linguística para a Psicologia.
Os psicólogos buscavam compreender o funcionamento da linguagem
para, a partir daí, entender como funcionava a mente humana, pois, para
muitos estudiosos da área, a mente se estruturava de forma análoga à
linguagem, ou mesmo através dela.
Na Linguística, por seu lado, desde o início do século XX, se buscava
encontrar elementos na Psicologia que pudessem embasar as teorias sobre as
mudanças linguísticas.
Foi com o surgimento das Teorias Estruturalistas, tendo a frente
Saussure, que pode ser estabelecido um contato maior entre a Linguística e a
Psicologia; isso porque a língua passou a ser analisada de forma sincrônica,
isto é, a partir de um determinado estado, como que “congelada”.
Outra corrente linguística que grandemente influenciou a Psicolinguística
foi o Gerativismo de Noam Chomsky, pois, dentre outras coisas propõe que:

a) Há uma gramática interiorizada pelo indivíduo (Gramática Universal) que


lhe possibilita transformar as estruturas profundas da língua (sintaxe) em
estruturas superficiais (as sentenças produzidas).
b) Distingue-se a competência inata do indivíduo para reconhecer o que é
gramatical do agramatical em sua língua, do desempenho (ou
performance) que é a realização concreta da língua.

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Dessa forma, se focaliza a linguagem como atividade cognitiva, ou
seja, busca-se estudar os processos mentais que fazem com que o
conhecimento seja adquirido.

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Disponível em: http://www.letramagna.com/mente_jpg.jpg Acesso: 10/04/10

Segundo Borba (1998, p.82) o psicolinguista busca, portanto, estudar o


comportamento do indivíduo como participante do processo comunicativo.
Inicialmente, este deve observar de que modo elementos psíquicos
como as sensações, as percepções, as recordações, os pensamentos, os
conceitos e até imagens mentais influenciam as escolhas linguísticas
realizadas no momento da comunicação.
A esse conjunto de escolhas dá-se o nome de comportamento
encodizante, pois, é a partir de um determinado código linguístico que o
indivíduo realiza sua seleção.
Ainda é necessário entender o comportamento decodizante, ou seja,
como ocorre a recepção e percepção das mensagens.

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Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/_UuiyPD7rZS0/SYA-


6EjLHjI/AAAAAAAAAEE/DqE8P0wAmKg/s320/dix2.bmp Acesso: 10/04/10

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O psicolinguista debruça-se, ainda sobre os estudos que envolvem o
comportamento interpretativo, que trata da compreensão e da formulação de
respostas possíveis e adequadas.

Codificar, decodificar, interpretar, responder são atitudes


psicológicas dos usuários do sistema lingüístico, e é essa a
área de atuação da psicolinguística que abrange, então, os
processos ligados à aquisição da linguagem, ao
desenvolvimento da linguagem infantil, à aprendizagem de uma
segunda língua
(BORBA, 1998. p.82).

Conforme nos apresenta, portanto, a citação de Borba, os limites de


estudos da Psicolinguística relacionam-se intimamente com algumas teorias da
aprendizagem, uma vez que buscam compreender como os indivíduos
aprendem, de que forma é adquirida a escrita, chegando-se até a aquisição de
línguas estrangeiras.
Tenta-se, dessa forma, observar quais os elementos que favorecem o
aprendizado, para, a partir daí, formular hipóteses que possam minimizar
problemas como os de alfabetização ou aquisição de uma segunda língua.
A esses estudos na área da Psicolinguística, que têm uma aplicação
prática, dá-se o nome de Psicolinguística Aplicada.
Encerramos aqui nosso estudo panorâmico por algumas das principais
correntes linguísticas. Esperamos que você consiga perceber que, cada uma
das correntes apresentadas é essencial na formulação e embasamento das Unidade: A LINGUÍSTICA E OUTRAS CIÊNCIAS

que vêm posteriormente.


Dessa forma, mesmo que não utilizemos atualmente alguns dos
pressupostos teóricos apresentados pelas correntes estruturalistas, essas
foram imprescindíveis para que os estudos linguísticos atingissem o status
atual.
Conforme você verá, muitos pressupostos teóricos apresentados aqui,
serão retomados em outras disciplinas. Portanto, guarde todo o material
disponibilizado para consultas futuras.
Boa sorte a todos e bons estudos!

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Referências

ALKMIM, T.M. Sociolingüística: Parte I In. MUSSALIM, F. BENTES, A.C.


Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. 3 ed. São Paulo: Cortez,
2003. v.1. p.21-47.

BALIEIRO JR, A.P. Psicolinguística. In MUSSALIM, F. BENTES, A.C.


Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
v.2. p. 171-202.

BORBA, F.S. Introdução aos Estudos Lingüísticos. 12 ed. Campinas:


Pontes, 1998.

CAMACHO, R.G. Sociolingüística: Parte II. In. MUSSALIM, F. BENTES, A.C.


Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. 3 ed. São Paulo: Cortez,
2003. v.1. p.49-75.

CARDOSO, S.A.M. A Geolinguística no Terceiro Milênio: monodimensional


ou pluridimensional? Disponível em:
http://www.gelne.ufc.br/revista_ano4_no2_12.pdf Acesso: 10/04/10

LYONS, J. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC,


1987.

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Responsável pelo Conteúdo:
Profª. Ms.Sandra Moreira
Revisão Textual:
Profª. Dra. Magali Sparano

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