Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
A importância do presente trabalho reside no desafio em tratar das complexidades
operacionais relacionadas aos processos produtivos do produto de moda. O segmento da
Manufatura do Vestuário de Moda - MVM - possui características de diversificação,
diferenciação e curto ciclo de vida.
Tal estudo deve ser considerado muito relevante em face da magnitude econômica e social da
manufatura do vestuário e pelas questôes operacionais envolvidas no processo, as quais
possuem interferência final em todos os aspectos referentes à qualidade dos produtos e da
produção, prazos de entrega, flexibilidade, inovações e custos.
Palavras-chave: Vestuário; Mão-de-obra; Terceirização.
1. Introdução
O presente trabalho levou em consideração a importância da Manufatura do Vestuário de
Moda - MVM - no cenário produtivo brasileiro. Foi detectado um ambiente com grande
potencial para o incremento da produtividade, aprimoramento das qualidades dos processos
produtivos e dos produtos, com a conseqüente melhoria das relações competitivas no mercado
interno, potencial aumento no volume de exportações e número de mão-de-obra formalmente
empregada, o que possibilita novas formas de inclusão social.
O segmento do vestuário, como parte da cadeia têxtil, representa um importante ramo de
atividade industrial no Brasil, ao se considerar o grande número de empresas, mão-de-obra
empregada e valor de produção, conforme pode ser observado pelos dados fornecidos pelo
IEMI para o ano de 2004 (IEMI, 2005), conforme Tabela 1.
De acordo com Cruz-Moreira (2003), “No meio acadêmico dos países em desenvolvimento, o
estudo de casos das cadeias têxtil-vestuário, pode contribuir na elaboração de um referencial
teórico e empírico para abordar outros setores de importância para a economia e o
desenvolvimento industrial.”
O produto de moda apresenta uma ampla variedade de produtos finais e possui características
talentos especiais nas empresas. Percebe-se que esta é uma forte característica do mercado
voltado ao produto de moda, onde a disputa também apresenta campos de competição
particulares e que devem ser analisados cuidadosamente: competição em produto e
competição em imagem (ver Contador, 1996). Por outro lado, o estudo de Skinner (1969)
apregoa que a competitividade é definida pela forma como são elaborados os planos para
produção e venda de produtos, cada vez mais focalizados em um particular conjunto de
consumidores, atributo claramente observado no segmento de vestuário de moda. A qualidade
de tais produtos é destacada como prioridade competitiva em seus aspectos de estética e
imagem do produto, GARVIN (1987).
Azzolini Jr. (2004), por sua vez, propõe uma abordagem teórica dos Paradigmas e
Adequações dos Sistemas de Administração da Produção e suas Técnicas Auxiliares, em
conjunto com os Sistemas de Planejamento e Controle da Produção, no sentido de apontar e
entender as relações existentes e a necessidade de se estruturar o fluxo produtivo junto ao PCP
– Planejamento e Controle da Produção. O objetivo, portanto, é compreender as relações de
causa-efeito, com o intuito de avaliar e planejar o desenvolvimento das habilidades
necessárias para garantir o feedback esperado pelo mercado, de acordo com o cenário
competitivo, impelido pelo meio ambiente aos quais as empresas estão expostas, como pode
ser visualizado na Figura 1.
relação aos diversos níveis tecnológicos e gerenciais dentro de um mesmo segmento, quanto
no interior das empresas ” CUNHA (2002).
peças o controle de qualidade, a limpeza dos fios, o alisamento a ferro, colocação das
etiquetas e embalagens; 5. o departamento de expedição controla o estoque e realiza a
distribuição ao varejo.
Com o advento da produção em escala, as tarefas tornaram-se cada vez mais segmentadas. A
costureira passou a realizar um menor número de seqüências de serviços, especializando-se no
controle de determinados maquinários e na manipulação de matérias-primas ou produtos
finais. As habilidades manuais cederam lugar para a destreza na manipulação dos tecidos
quando processados pelas máquinas. Essa profissional hoje é conhecida como operadora de
máquina de confecção, da qual não se exige conhecimento de modelagem ou de execução de
toda a costura existente em um produto final.
Cruz-Moreira (2003) argumenta que “A fragmentação das etapas do seu processo produtivo
permite, ao mesmo tempo, a dispersão geográfica e a mobilidade das atividades produtivas.
Possibilita, ainda, a divisão do trabalho e dos lucros em forma desigual. A existência de
etapas da produção intensiva em mão-de-obra – MDO e o baixo custo do posto de trabalho na
etapa de costura (que continua basicamente constituído por um operador e uma máquina de
costura) favorece a geração de emprego e, por isso, muitos governos nacionais vêem essas
indústrias como estratégias para seu desenvolvimento industrial.”
4. Estudo de caso
Foi desenvolvida uma abordagem especial (observação e entrevista) em função das
peculiaridades do segmento, muito sensível às freqüentes alterações mercadológicas e sociais
ditadas pela moda e à concorrência acirrada que caracteriza o segmento em geral.
A empresa de moda Lucy in the Sky - LITS, está há mais de 15 anos no mercado. Seu público
consumidor é altamente exigente quanto à produtos inovadores, diversificados e
diferenciados. Como estratégia, possui duas unidades de negócios com demandas distintas.
Super Lucy produtos de vanguarda, mais inovadores, Lucy in the Sky produtos fashion que
acompanham tendências da moda. A empresa mantém lojas próprias e franquias nos
principais Shoppings (centros de compras) de São Paulo e de algumas capitais do Brasil.
Outro importante canal de distribuição são lojas multi-marcas selecionadas entre aquelas que
têm identidade com o estilo de seus produtos e com o perfil do seu público consumidor.
Suas coleções são lançadas no evento Fashion Rio. Em cada coleção, a empresa desenvolve,
em média, um mix com 350 novos produtos distribuídos em aproximadamente 80 tipos
diferentes de matérias-primas compreendidas entre tecidos planos e malhas. Como estratégia
competitiva, a produção da empresa LITS é totalmente terceirizada, como forma de
concentrar seus esforços no desenvolvimento de produto.
A empresa caracteriza-se como I na tabela 2, desenvolve as suas próprias coleções mantendo
em seu departamento de desenvolvimento de produto algumas modelistas e piloteiras. Além
das peças de sua coleção, a empresa também compra alguns produtos exclusivos
desenvolvidos e produzidos por empresas especializadas e terceirizadas. Neste caso, a LITS
aplica sua etiqueta, como é o caso das calças jeans, por exemplo.
Sua produção média por semestre varia entre 55.000 a 60.000 peças. Para a fabricação de
cada coleção a LITS elege cerca de 13 facções escolhidas dentre uma carteira de 30
fornecedores desse serviço. Seu departamento de produção está equipado com o CAD e o
ploter para a impressão do risco que é utilizado pelo seu departamento de corte em suas
próprias instalações.
5. Análises e conclusões
Em cumprimento aos objetivos mencionados, as conclusões deste trabalho estão alicerçadas
nas estratégias competitivas sugeridas em HORTE et al (1987) e PORTER (1999).
Na MVM brasileira, o estudo nos conduz à exacerbação do cenário competitivo, onde, com
grande freqüência, o ciclo de vida das empresas apresenta-se relativamente curto entre as
pequenas e médias empresas, o giro de matérias-primas é altamente volátil, o treinamento de
mão-de-obra é precário e o aproveitamento da capacidade ociosa é questão de sobrevivência,
exigindo cada vez mais ousadia criativa diante de desafios hoje potencializados pelo mercado
global.
Há exigência da demanda por produtos altamente diversificados e diferenciados e, como
resultado, a produção depara-se com uma ampla variedade de produtos disponibilizados em
pequenos lotes, ciclos de vida prementes e consumidores exigentes quanto à renovação de
produtos em períodos cada vez mais curtos nas vitrines, o que exige uma Manufatura Enxuta,
Responsiva e Ágil com maior flexibilidade.
A empresa LITS, objeto do estudo, possui marca própria e desenvolve coleções somente para
suas unidades de negócios. Como estratégia competitiva, a empresa terceiriza a sua produção
e procura fornecedores com produtos disponíveis para aplicação de sua marca com
exclusividade. O objetivo é atingir melhorias na qualidade e obter agilidade e flexibilidade de
manufatura.
Tendo em vista que as facções de produtos de moda, em sua maioria, são pouco estruturadas,
com reduzido número de profissionais e apresentam curto ciclo de vida, a LITS é obrigada a
promover um rodízio constante de fornecedores em cada lançamento de coleção, motivo pelo
qual mantém o cadastramento de um grande número de potenciais fornecedores de serviços.
Os resultados sugerem a existência de várias oportunidades no que diz respeito às pequenas e
médias confecções e facções da MVM:
Referências
AZZOLINI Jr., W. Tendência do processo de evolução dos sistemas de administração da produção. Tese de
doutorado. Engenharia de São Carlos, USP. 2004.
CONTADOR, T.C. Modelo para aumentar a competitividade industrial. São Paulo. Edgard Bhicher Ltda.
1996.
CRUZ-MOREIRA, J.R. Industrial Upgrading nas Cadeias Produtivas Globais: Reflexões a Partir das
Indústrias Têxtil e do Vestuário de Honduras e do Brasil, Tese de Doutorado, USP, Escola Politécnica, 2003.
CUNHA, D.C. Avaliação dos Resultados da Aplicação de Postponement em uma Grande Malharia e Confecção
de Santa Catarina, Mestrado em Engenharia de Produção- U.F. Santa Catarina, 2002.
FUSCO, J.P.A. et al, Administração de Operações: da formulação estratégica ao controle operacional, São
Paulo, ed. Arte e Ciência Editora, 2003.
GARVIN, D. A. Competing on the eight dimensions of quality. Havard Bussiness Review, November-
December. 1987.
GODINHO M. F. “Paradigmas Estratégicos da Gestão de Manufatura: configuração, relações com o
Planejamento e Controle da Produção e estudo exploratório na indústria de calçados”. São Carlos.
Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Engenharia de Produção. 2004.
HORTE et al.; LINDBERG, P.; TUNALV, C. Manufacturing strategies in Sweden. v 25, n 111987.
IEMI para o ano de 2004 - IEMI Instituto de Estudos e Marketing Industrial S/C. Ltda. – Brasil Têxtil -
Relatório Setorial da Ind. Têxtil Brasileira 2005 – site www.iemi.com.br/
KIDD, P. T. “Agile Manufacturing: Forging New Fronties”, Wokingham, UK, Addison – Wesley. 1994.
KRITCHANCHAI, D. & MACCARTHY, B. L. “Responsiveness and strategy in manufacturing”,
Proceedings of the workshop Responsiveness in Manufacturing, digest, número 98/213, IEE, London, 1998.
PORTER, M.E. Competição: Estratégias competitivas. 7ª. edição. Rio de Janeiro: Campus. 1999.
SKINNER, M. Manufacturing: Missing Link in corporate strategy. Havard Bussiness Review, May-June. 1969.
WOMACK, J.P. & JONES, D. T. “A mentalidade Enxuta nas Empresas”, Ed. Campus, 5ª. edição. 1998.
ZACCARELLI, S.B. Estratégia e sucesso nas empresas. São Paulo. Ed. Saraiva. 2000.