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Segurança Eventos.

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SEGURANÇA PÚBLICA

Acima Prover segurança

Planejamento de segurança para um grande evento é


tarefa complexa. Durante a
Copa do Mundo de 2010,
aeronaves Gripen da South

de grandes eventos African Air Force faziam


parte do esquema de de-
fesa aérea (Foto: Saab).

A segurança de grandes eventos é algo extremamente complexo e com ações da criminalidade local, e as providências não excediam as demandas de re-
incontáveis nuances. Uma coisa, porém, ninguém discute: sem um bom e forço de um policiamento ostensivo convencional.
Os Jogos Pan Americanos de 2007 acrescentaram às tradicionais ameaças a
abrangente planejamento, jamais se conseguirão resultados ideais. O componente de risco do terrorismo. Acontecimento desportivo internacional
presente trabalho se concentra exatamente nesse aspecto. completamente novo no Rio de Janeiro, o Pan trouxe à cidade grande quantidade
de atletas e visitantes, os quais tinham de ser convenientemente protegidos du-
n VINÍCIUS D. CAVALCANTE rante sua estada. Para não arriscar a imagem da cidade e a credibilidade do país
para sediar tais eventos, era necessário que se implementassem os mais moder-

E
ventos internacionais de grande porte, com significativo afluxo de visitan- nos conceitos de planejamento e gestão de segurança.
tes, acarretam também inúmeros benefícios urbanísticos, ambientais, tec- Num evento assim, as responsabilidades de segurança são partilhadas entre
nológicos e sociais, proporcionando uma ótima veiculação da imagem do diversas instituições, segundo sua especialização ou obedecendo aos requisitos
país no exterior. Mas há preços a pagar, entre eles garantir que, do ponto de vista da Lei. O Pan foi um marco na cooperação inter-agências e na adoção de pro-
da segurança, tudo transcorrerá sem maiores percalços. cedimento centralizados de comando e controle. Pela primeira vez, instituições
O anúncio da realização de grandes eventos no Brasil gerou uma imediata como Ministério da Justiça, Forças Armadas, ABIN, Polícia Federal, Polícias
demanda por mais segurança. A vinculação da imagem do país — e em parti- Civil e Militar, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros, Secretarias Estaduais e
cular do Rio de Janeiro — à insegurança proporcionada pela violência do tráfico Municipais de Defesa Civil interagiram com enorme antecedência na elabora-
de drogas, obrigou a um maior esforço do Estado para assegurar à opinião pú- ção de um planejamento abrangente e extremamente minucioso, cobrindo uma
blica mundial sua capacidade de fazer com que tudo se desenvolva dentro da grande gama de riscos e contemplando a atuação de todos os agentes envolvidos
normalidade. na segurança dos jogos. Pela primeira vez no país, um evento desse porte con-
A criminalidade violenta, inclusive associada ao tráfico de drogas, jamais templou até a atuação de voluntários civis, responsáveis por uma variedade de ta-
ameaçou eventos do calendário turístico, como o Carnaval. Entretanto, às auto- refas de apoio e controle de acesso. Inseridos numa conceituação sistêmica de
ridades gestoras de eventos dessa monta não é facultado contar com a boa sorte segurança, eles se fizeram indispensáveis na recepção de visitantes, na detecção
ou com uma pretensa compreensão de parte dos criminosos. Até agora, a pers- de problemas e na comunicação de emergências.
pectiva dos riscos que pesavam sobre os eventos nacionais estava limitada às A segurança do Pan transcorreu sem problemas, e o know-how auferido

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em sua execução capacitou o Brasil a almejar receber eventos ainda maiores. A


tarefa de sediar um evento esportivo de grande magnitude acarreta inúmeros de-
safios, que vão desde providenciar a adequada infra-estrutura de estádios, hote-
laria, suporte de rede para comunicação e transmissão de dados, além de
transporte público, até a implementação de medidas de segurança que assegu-
rem um transcurso tranquilo das atividades do evento e a integridade física dos
cidadãos locais e visitantes que a eles compareçam.
No campo da segurança, há que se efetuar preliminarmente um extensivo
levantamento dos riscos que envolvem o evento. Tudo deve ser pensado: Qual
a natureza do evento (desportivo, religioso, show,...), sua escala e duração? Vai se
processar em um único local ou em várias instalações diferentes? O que pode
acontecer de adverso? Planejadores verificam desde a possibilidade de catástro-
fes naturais até incidentes que envolvam a ação humana, como a atuação de cri-
minosos comuns, sabotagem e terrorismo. Cada possibilidade de ocorrência de
problema, ainda que simplesmente potencial, deve ser previamente detectada e
vai motivar a definição de medidas cautelares e reativas que serão inseridas no
planejamento.
Ressalte-se que, muitas vezes, a segurança não escolhe o cenário em que vai
atuar (em alguns casos até pode exercer um poder de veto, contudo isso nem
sempre é politicamente exequível), e na maioria das vezes se vê diante da neces-
sidade de satisfazer uma demanda de reforços de efetivos que atuem antes, du-
rante e depois do evento.
Uma grande preocupação dos planejadores em eventos que envolvam gran-
des multidões é definir que tipo de público comparecerá e antever o ânimo des-
sas pessoas. Qual a faixa etária do público? Haverá torcidas? Qual o perfil de
seus integrantes ou o histórico de atuação deles em eventos análogos? Serão pa-
cíficos e ordeiros, ou haverá uma grande concentração de hoolligans? A defini-
ção do tipo de público é essencial para o processo de análise de riscos, soal, batedores e efetivos de escolta para os deslo- Acima Grandes ven-
determinando o tipo da segurança que se deverá adotar. Participantes de even- camentos, segurança permanente em todos os lo- tos, como a jornada
tos desportivos podem ou não suscitar uma presença mais forte de efetivos po- cais onde que irão freqüentar, seguranças “velados” Internacional da Ju-
liciais de choque, especializados no controle de distúrbios civis. no meio do público, efetivos uniformizados e os- ventude (na foto, a
Um público pacífico e de forte religiosidade talvez não requeira uma segu- tensivamente armados, etc. de Madrid em 2011),
rança forte e ostensiva. Contudo, se houver perspectiva de opositores radicais que Na conferência internacional Rio+20, a solu- requerem cuidados
especiais (Foto: Ana
professem fé contrária, tal posição poderá ser totalmente revista. A Jornada Mun- ção de estabelecer corredores para assegurar o rá-
Belart, WYD2011).
dial da Juventude, grande evento do catolicismo que terá lugar no Rio de Janeiro pido deslocamento não foi repetida. Em vez disso,
entre 23 e 28 de julho de 2013, promete trazer para a cidade um público predo- as autoridades optaram pela decretação de feriado
minantemente jovem, superior ao da Copa do Mundo e talvez até que o dos durante três dias de semana (entre quarta e sexta-feira). A atitude, embora res-
próprios Jogos Olímpicos em 2016. São esperadas cerca de dois milhões de pes- tritiva ao lucro do comércio, se justificou ante a necessidade de garantir a segu-
soas, além do próprio Papa Bento XVI, que celebrará uma missa campal. Em- rança de 93 Chefes de Estado e de Governo estrangeiros, bem como de 209
bora não tenhamos contundente histórico de intolerância religiosa no Brasil, a delegações, muitos dos quais de alto risco. Não devemos esquecer que, muitas
preocupação com radicais religiosos não é algo que possa ser descartado, so- vezes, é mais fácil atingir tais alvos num terceiro país do que enquanto na prote-
bretudo considerando a perspectiva de um atentado perpetrado por um único ção de suas próprias fronteiras. Ainda em 22 maio de 2012, cerca de um mês
desequilibrado, como o ocorrido em Toulouse (França) em março de 2012, antes da Rio+20, uma bomba que deveria vitimar o ex-presidente colombiano
quando o jovem muçulmano Mohamed Merah assassinou um rabino, três Álvaro Uribe foi desativada num teatro da capital argentina.
crianças de uma escola judaica e três soldados desarmados. Uma das questões mais polêmicas de um grande evento como a Rio+20 é
Há que se pensar não só na proteção dos locais onde transcorrerão ativida- a de como o país anfitrião garantirá a segurança do grande número de dignitá-
des, mas também no reforço da segurança de pontos como aeroportos, estações rios. São inúmeras personalidades, e cada uma traz consigo a perspectiva de ris-
rodoviárias, portos, pontos turísticos que receberão uma maior quantidade de cos que vão desde a eliminação física por antagonistas até a possibilidade de
visitantes e rede hoteleira. Deverá também haver maior policiamento ostensivo males súbitos de saúde enquanto sob nossa proteção. Como experiências vivi-
à pé, motorizado ou montado, a fim de aumentar a sensação de segurança tanto das pelo próprio Papa e pelo Dalai-Lama muito bem demonstram, nenhuma ce-
do público visitante quanto da própria população local. O trânsito também preo- lebridade consegue despertar e manter sentimentos favoráveis em 100% das
cupa muito, sobretudo considerando as características viárias do Rio de Janeiro. pessoas. Uma autoridade, qualquer que seja ela, por mais que angarie simpatias,
Para os jogos Pan Americanos, corredores especiais de tráfego foram demarca- sempre atrairá para si uma razoável dose de antagonismo. O exercício das fun-
dos a fim de permitir um deslocamento mais ágil das delegações de atletas, que ções da autoridade sempre desagradará aos interesses de pessoas, grupos e até
contavam também com motociclistas batedores. Nos Jogos Mundiais Militares, mesmo de governos estrangeiros, que podem tramar e executar ações, contra as
o deslocamento dos atletas foi feito com escolta. quais a segurança de tais dignitários deverá estar preparada para se opor.
Em dezembro de 1993, um espectador de cerca de 50 anos, aparentemente
Dignitários inocente, saiu do meio de um público amistoso e agrediu fisicamente o então pre-
Altos dignitários, sob o sempre presente risco de atentados, vão requerer sidente da Alemanha Ocidental, Richard Von Weizsaecker, com um violento
círculos de segurança bastante cerrados, envolvendo agentes de segurança pes- soco. O Primeiro Ministro da Suécia, que morreu numa via pública de Esto-

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nejamento é dimensionado em função direta das pessoas e grupos antagônicos


que possam pretender desmoralizar, sequestrar, ferir ou matar aqueles que são
alvo da proteção. Em geral, esse tipo de segurança pessoal será condicionado
pela necessidade de sobrepujar seus opositores potencialmente mais poderosos;
e se qualificando obstinadamente para fazer frente ao mais perigoso, a tendên-
cia (embora não a regra) é que se consiga prevenir, dissuadir e atuar com su-
cesso, em face de ocorrências adversas de menor gravidade, risco e sofisticação.

Inteligência
Num grande evento, a segurança sempre estará vinculada ao suporte pres-
tado pelos organismos de inteligência, nas esferas civil, militar e policial. O risco
de ações de terrorismo, sobretudo advindas de grupos estrangeiros, suscita in-
tenso intercâmbio com serviços de inteligência estrangeiros, bem como com a
Interpol. Norteando todo o planejamento, há uma enorme quantidade de in-
formações obtidas de fontes sigilosas ou mesmo abertamente disponíveis, e que
são fruto de um processo preciso de análise especializada. Trazendo essas infor-
mações inestimáveis, a inteligência permite tentar antever os passos dos poten-
ciais adversários, avaliar os riscos de suas ações e melhor nortear o curso de ação
da segurança.
O inimigo terrorista pode estar em qualquer lugar. Em Oklahoma, os auto-
res do brutal atentado a bomba em 19 de abril de 1995, ao contrário do que se
Acima Por exigência colmo, em 1986, atingido por tiros à queima-roupa, pensava, não eram muçulmanos fundamentalistas, mas sim americanos; o as-
da FIFA, os estádios não via necessidade de usar seguranças. No mesmo sassino do Ministro Rabin pertencia a um grupo de radicais israelenses. Esses e
deverão empregar erro incorreu a Ministra de Relações Exteriores da- outros casos, como o do norueguês desajustado, que perpetrou sozinho as vio-
profissionais da se- quele país, Anna Lindh, assassinada a facadas numa lentíssimas ações que nos estarreceram em julho de 2011, nos lembram que não
gurança privada. Na loja de departamentos, em 2003, quando já vinha sis- se pode descartar a possibilidade de que grupos (ou indivíduos) nacionais tam-
foto, um grupo de tematicamente recebendo correspondências amea- bém estejam por trás de atos abomináveis.
Stewards recebe ins-
trução (Foto: S&A
çadoras. Independentemente do forte esquema de Por mais que tal prática venha a encontrar opositores no âmbito da nossa so-
Security Solutions). segurança que há muito protege os presidentes norte- ciedade (potencialmente avessa a tudo que lhe pareça "policialesco" ou "anti-de-
americanos, em 1981 um jovem desequilibrado mocrático"), todo grupo ou organização que possa vir a conspirar, bem como
mental disparou seis tiros contra o presidente Ronald executar ações de atentado ou sabotagem contra o evento a ser realizado, deve
Reagan, ferindo-o com gravidade. A ninguém é facultado descrer dos riscos, ser objeto prioritário da investigação e vigilância constante dos órgãos de inteli-
muito menos aos seguranças! gência. Esses procurarão munir os responsáveis pela segurança com todos os
Receber terceiros consiste numa enorme responsabilidade. O esquema de se- indícios e informações disponíveis sobre possíveis ações adversas. E se a detec-
gurança montado deve ser capaz de assegurar que o visitante (e seu staff) esteja ção de complôs ou de grupos terroristas já é uma tarefa difícil, a tarefa pode se
a salvo de toda sorte de ocorrências adversas que se possa antever. Em geral, o pla- complicar quando se está diante de um terrorista desconhecido, tipo “Lobo So-
litário”, que age sozinho e de forma indetectável, até desencadear seu ataque mo-
vido pelo ódio, vingança, ou por questões de fundo religioso que só ele conhece.
Quem quer que planeje a segurança de um grande evento deve estudar mi-
nuciosamente um grande histórico de ocorrências de atentados, aprender como
eles se processaram e sobre os meios que foram empregados. Com base em tais
informações é que será possível ensejar todos os esforços para impedir que essas
ações possam ser repetidas contra os eventos que estivermos promovendo no
Brasil. Planejadores escrupulosos sabem que não existe “segurança perfeita”, e
que mesmo serviços de segurança estrangeiros, altamente profissionais, já amar-
garam sérios reveses.
Num evento como a conferência Rio+20, o maior temor da segurança era
ver algum de seus protegidos assassinado, ferido ou desmoralizado por um aten-
tado bem executado. Por isso, não se deveria estranhar o excesso de rigor caute-
lar em tudo que envolveu a preservação da
Ao lado Para permitir a integridade dos visitantes. Por mais que deva ser
detecção de armas, evitada a ostentação de aparato bélico ou a des-
drogas e explosivos (na necessária perturbação na vida da população (re-
foto, um IED acoplado a presentada pelo fechamento de ruas, mudanças
uma lata de spray) em lo- de mão de tráfego, cordões de isolamento e de-
cais controlados, muito cretação de feriado), num evento da magnitude
rigor se deve imprimir às da Conferência Rio+20 eles fatalmente advirão.
inspeções de volumes nos Quer se queira, quer não, trata-se de algo bem di-
aparelhos de raios-X ferente de recepcionar uma única autoridade es-
(Foto: Scanna Msc Inc.). trangeira de risco mais baixo, quando se pode

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Ao lado Para pode-


rem atuar eficaz-
mente como first
responders, profis-
sionais como esses
soldados da Polícia
Militar do Estado de
São Paulo precisam
receber treinamento
específico sobre uma
série de situações
(Foto: Milton Michida,
Gov. Est. SP).

bem explorar o sigilo e a descrição da segurança como um aliado mais vantajoso. todos os presentes. O Steward atuará na supervisão dos acessos, impedindo a
Embora para o cidadão comum seja difícil compreender as razões dos pro- entrada não autorizada no estádio e as fraudes, e conduzindo buscas pessoais, de
fissionais encarregados de prover a segurança daqueles visitantes importantes, forma gentil e amigável, que permitam a detecção de objetos não autorizados no
muito poucos dos nossos compatriotas imaginariam que, para assassinar o pre- interior do estádio (armas de fogo, lâminas de corte, fogos de artifício e outros
sidente checheno Ahmad Kadyrov, os separatistas plantaram uma bomba sob a pirotécnicos, bastões, soqueiras etc.). Posicionados no interior do estádio, acom-
estrutura de concreto da tribuna presidencial de um estádio desportivo com mais panharão toda a movimentação do público buscando qualquer indício de anor-
de um ano de antecedência! Na percepção do público leigo, a referência a esses e malidade, detectando-o, informando o problema aos superiores e reagindo —
outros exemplos absolutamente reais só teria paralelo nos livros de Tom Clancy. segundo um planejamento previamente estabelecido — para enfrentar qual-
quer tipo de contingência no menor tempo possível. Sua atuação se resume ao
Copa das Confederações e a Copa do Mundo emprego da inteligência e da boa educação. Para os grandes eventos esportivos
Eventos dos mais esperados pelo público, a Copa das Confederações, em de 2013 e 2014, a FIFA determinou que os estádios brasileiros adotem segurança
2013, e a Copa do Mundo, em 2014, proporcionarão ao Brasil a oportunidade interna privada. Para os profissionais brasileiros, acostumados a uma maciça
de melhorar sua infra-estrutura de estádios de futebol, com a construção de presença policial como garantia de segurança em todos os eventos que os está-
novas instalações, e a reforma de outras mais antigas, tornando-as compatí- dios de futebol costumam sediar (como jogos e shows), o novo padrão de segu-
veis com os modernos requisitos técnicos da FIFA. No Brasil, a estimativa é rança pressupõe uma completa mudança de paradigmas.
de que 16 estádios serão construídos ou completamente
atualizados para que neles possam se processar os jogos da
principal competição, em 2014. Para que os jogos aconte-
çam será necessário que nos adequemos às exigências
quanto às instalações e equipamentos, e também no que se
refere à segurança dos locais e de todos que estarão envol-
vidos nessa competição.
Com larga experiência na segurança de competições fu-
tebolísticas, sobretudo por ter que lidar com torcedores que
se notabilizaram por provocar violentíssimos distúrbios civis
(hoolligans), as autoridades européias desenvolveram novos
conceito em gerenciamento de segurança em estádios de fu-
tebol, onde o Steward(Comissário), exerce uma função fun-
damental. O Steward é um
profissional de segurança pri- Ao lado A possibilidade
vada, embora com atribuições de emprego de aerona-
diversas dos nossos vigilantes ves para ações terro-
tradicionais. Atende as necessi- ristas não pode ser
dades do público sem deixar de descartada. Canhão do
se inserir num contexto de pre- 3ºGAAAe posicionado
venção, atento a tudo que possa no Autódromo do Rio
causar prejuízo aos espectado- de Janeiro durante a
res, dano às instalações ou Rio+20 (Foto: Cap
Jantsch, 3º GAAAe).
ameaça à integridade física de

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cada homem conheça muito bem o papel que lhe cabe desempenhar, nós sabe-
mos o quanto algumas viciosas práticas brasileiras contrariam a boa norma. Nós,
brasileiros, nos habituamos a acreditar que o pior nunca irá nos acometer, e que
mesmo em face dos problemas mais “cabeludos”, sempre poderemos resolver
tudo com um bom “jeitinho”. O autor já perdeu a conta das vezes em que ouviu
de profissionais experientes coisas como: “não esquenta, pois na hora a gente vê
como é que faz”!
Ensinar técnicas de contra-vigilância e análise da linguagem corporal aos
policiais, guardas municipais e vigilantes pode lhes permitir detectar uma situa-
ção potencial de perigo muito antes dela se materializar, e a segurança só tende
a lucrar com isso. Identificando um terrorista ou criminoso antes dele agir, o
profissional terá um melhor controle situacional da ocorrência e, após reportar
o que viu, pode escolher qual o curso de ação será mais adequado. Devemos dar
aos nossos profissionais a opção de se deverão apenas observar o que lhes pare-
cer suspeito, partir para uma abordagem ou mesmo, em caso extremo, disparar
sua arma com maiores chances de sucesso do que se a surpresa estivesse favore-
Acima Para que a
segurança de
Treinamento cendo ao outro lado.
grandes eventos seja Quando pensamos nos grandes eventos que pro- Profissionais melhor treinados podem até não resolver as todas as emer-
eficaz, é necessário ximamente acontecerão no Brasil, não podemos dei- gências que surgirão, mas por certo estarão em condições de melhor auxiliar as
um cuidadoso xar de pensar nos homens e mulheres, tanto do setor Unidades Especiais a fazê-lo. Aos avaliarmos uma segurança, costumamos dizer
planejamento (Foto: público quanto da esfera privada, em cujas mãos a se- que “a força da corrente de proteção se afere pela capacidade do seu elo mais
Daniel Guimarães, gurança desses eventos estará. Na preparação para os fraco”. Logo, eles podem não “ganhar a guerra”, mas, quando deixam de fazer
Gov. Est. SP). eventos, muito se está gastando na aquisição de equi- aquela que seria a sua parte, podem estar irremediavelmente comprometendo
pamentos, na adoção de novas tecnologias de co- o sucesso do trabalho dos grupos de operações especiais e contra-terror como
mando, controle, comunicações e inteligência, no gerenciamento de informações BOPE, COT, GATE, GOE e CORE. Uma melhoria no treinamento dos qua-
e na aquisição de armamento. Contudo, o treinamento dos profissionais que dros mais básicos da segurança pública e privada, de forma a melhor capacitá-
serão empregados nas missões continua sendo um grande “calcanhar de Aqui- los como first responders, é algo que dificilmente redundará em publicidade fácil,
les” no âmbito da segurança que se espera proporcionar. mas pode fazer a diferença diante das ocorrências que podem advir nesses dias
Não se trata de treinar os comandantes, os técnicos, ou mesmo os operado- de visita do Papa, Copa do Mundo e Olimpíadas.
res dos dispendiosos equipamentos, mas de capacitar aqueles que vão receber as
ordens e atuar diuturna e ostensivamente no policiamento, no trânsito e na se- Considerações finais
gurança de instalações. A maioria dos problemas, das ameaças e ocorrências cri- Os profissionais de segurança envolvidos na preparação de um grande
minosas ou de terrorismo, é inicialmente enfrentada pelo profissional comum evento não podem se permitir confundir boa sorte com boas táticas. Em se tra-
— o guarda de trânsito, o policial que ronda o quarteirão, o guarda municipal, tando da segurança de um grande evento, o fato de nenhuma adversidade ter
os policiais em ronda na viatura comum ou o vigilante privado. São estes pro- ocorrido deverá estar associado ao bom planejamento da segurança, à sua exe-
fissionais que normalmente tomam pé do que está acontecendo e que ensejam cução disciplinada e escrupulosa, à colaboração da autoridade, ao emprego de ar-
as primeiras providências (ou “respostas”) que o fato requer: eles são os first res- mamento, equipamentos e recursos adequados e à excelência do treinamento
ponders. dos agentes e não apenas ao fato de que atentados espetaculares não são coisas
Como pudemos acompanhar no combate aos terroristas em Mumbai, no que costumam acontecer todo o dia, principalmente no Brasil. Os planejadores
final de novembro de 2008, na maioria das vezes os first responders são heróis da segurança de um grande evento não podem se fiar no dito de que somos um
anônimos, pessoas comuns, que não são tratadas de forma glamourosa e cuja país pacífico, sem inimigos, que o nosso povo é ordeiro, tranqüilo e de boa ín-
atuação, individual ou em pequenos grupos, quase nunca figura nos livros de his- dole; portanto eles não devem se preocupar com as regras, mas sim buscar acau-
tória ou nos filmes de ação. Entretanto, suas ações podem bem significar a dife- telar-se contra as mais graves, violentas e às vezes imponderáveis exceções!
rença entre vitória e derrota, ou sucesso e fracasso. Em boa parte dos incidentes Poderíamos listar uma extensa relação de personalidades assassinadas, feri-
criminosos ou de terrorismo, se os procedimentos de resposta forem adotados das ou sequestradas, cidadãos vitimados por tiros, explosões de bombas ou agen-
de forma correta, há sempre a possibilidade de que se consiga neutralizar a tes químicos tóxicos, mas, na verdade, é impossível apresentar estatísticas de
ameaça ou minimizar seus danos de forma mais rápida e muitíssimo menos dis- ações adversas que foram desencorajadas pela existência de bons "esquemas de
pendiosa. segurança". Na verdade, a atividade de segurança só vem a merecer comentários
Ainda que desempenhando uma importante tarefa, no Brasil tais first res- quando se vê sobrepujada pela ação inventiva e ousada dos criminosos, loucos
ponders são os profissionais desprestigiados, a quem falta bom , e que na maio- ou terroristas. Nesses infortúnios, não falta quem critique, com alegações do tipo
ria das vezes agem por instinto e improvisadamente. Via de regra, não têm a "eu avisei" ou ainda "estava na cara que poderia acontecer"...
consciência da importância de sua missão e daquilo que devem fazer em face de Como é próprio de qualquer atividade dessa envergadura, com o envolvi-
cada tipo de ocorrência nas quais podem precisar atuar. Como agir diante de mento de tantos profissionais de segurança das mais diversas origens e com o em-
uma ocorrência de roubo em que os criminosos, premidos pela necessidade de prego de tantos recursos logísticos, por certo ocorrerão erros, sobretudo na
garantir sua fuga, façam reféns? O que fazer sozinho, no caso de presenciar a execução. Contudo, ao final de quaisquer dos eventos, o que importa é tudo haja
ação de um grupo de criminosos fortemente armados? Quando se deve atirar? transcorrido dentro de um contexto de normalidade e que todos aqueles que
Como se deve atirar? O que fazer em face de um objeto que se suspeite tratar-se deles participaram possam retornar aos seus lares em segurança, levando uma
de uma bomba? Como fazer para tentar detectar intenções suspeitas antes do cri- visão positiva do Rio de Janeiro e do Brasil e nos proporcionando o reconheci-
minoso ou terrorista perpetrar seu intento? mento internacional pela realização de alguns dos mais seguros e notáveis even-
Embora em qualquer planejamento de segurança seja importantíssimo que tos da nossa História recente. n

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