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05/09/2020 A Mitologia Científica ameaça a Religião e a Ciência | Nova Resistência

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A Mitologia Científica ameaça a Religião e


a Ciência
Por Christopher Clemens
17 de setembro de 2019.

Tradução: Franciele Graebin

Neste artigo, Christopher Clemens


demonstra que não há desacordo entre
sua condição de astrofísico e de
religioso, bem como critica o que chama
de Mitologia Científica e Triunfalismo
Científico. Meus Tuítes
Muitas pessoas se chocam ao saber que sou
astrofísico e também crente religioso. Isso choca Internacional:
alguns de meus companheiros astrofísicos e até mesmo
alguns de meus companheiros católicos. E eu sei que
isso choca alguns de meus colegas da faculdade de
Chapel Hill. Mas por que isso acontece? Por que é tão

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surpreendente que alguém cuja pro ssão escolhida seja


o estudo cientí co do universo também seja uma
pessoa de fé? Por que a percepção do con ito? É
intrínseco à atividade da ciência que ela esteja em
desacordo com a religião? Ou isso está enraizado em
atitudes culturais? Vamos começar observando certos
aspectos da cultura mais ampla e da cultura da ciência
em si.

Um dos defeitos da cultura contemporânea é a As Pistas Polonesas no Maidan


indevida e insalubre reverência que prestamos aos
cientistas. O público imagina que os cientistas sejam
muito inteligentes para que se possa discordar deles, Cinema:
muito objetivos para serem in uenciados pela emoção
ou por preconceitos, e peritos em cada assunto sobre o
qual escolham falar. Nenhuma dessas a rmações é
verdadeira, é claro, e a aceitação inquestionável dessas
noções traz grande prejuízo. Quando o físico Stephen
Hawking disse que suas teorias mostram que o universo
não tem causa, mas simplesmente “é”, ou quando o
biólogo Richard Dawkins ralha contra a religião como
um “vírus” que deveria ser erradicado, se dá muito peso
Emil Cioran e “Twin Peaks: Os Ú
a suas palavras. Eles são as grandes mentes de nosso
Palmer”
tempo, nossa cultura supõe, e, portanto, não somos
inteligentes o su ciente até mesmo para discordar.

Na verdade, os cientistas não são nada além de Metapolitik:


autoridades em certos assuntos losó cos, e se
desviam para muito longe de seu próprio método
cientí co quando fazem este tipo de
pronunciamento. A questão do porquê de suas
palavras carregarem tanto peso é interessante e merece
ser estudada, mas aqui eu quero explorar o que está
por trás de alguns de seus pronunciamentos
antirreligiosos. O que eu espero que que claro é que
enquanto cientistas podem ser muito bons em seus Tomislav Sunic – Vilfredo Paret
trabalhos, seu pensamento sobre o assunto religião não Política
é sempre objetivo e lúcido.

Para começar, eu preciso apresentar um conceito que Nacional-


soa como um oxímoro: “Mitologia Cientí ca”. A grande
maioria de cientistas agnósticos ou ateus criticam os
Revolucionários:
cristãos por suas “superstições”, mas suas próprias
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visões do mundo são frequentemente construídas


sobre um tipo de mitologia, com os próprios cientistas
sendo os heróis mitológicos. O inimigo (ou, mais
romanticamente, o “dragão”) em seus mitos é qualquer
obstáculo que impeça a livre investigação e o avanço do
conhecimento. Em seus termos, o inimigo é o “dogma”,
e eles não terão nenhum. Estes mesmos cientistas
não veem que considerar o avanço do conhecimento
ou da investigação livre como o bem supremo é em
si um tipo de dogma; e isso nos deveria ajudar a Jünger e a Inviolabilidade do La
perceber que os cientistas não são sempre perfeitos em
sua lógica.
Editorial
Em qualquer acontecimento, uma história típica em
Mitologia Cientí ca tem como seu herói uma pessoa
com uma ideia nova, e a história funciona melhor se
a ideia puder ser descrita como “herética” – um
adjetivo que muitos cientistas usam para conferir honra.
No decorrer da história, o herói encontra um vilão
“dogmático”, preferencialmente um que seja
imensamente poderoso, e que seja frequentemente
derrotado em corpo e espírito, mas nunca em mente;
no clímax da história ele pode murmurar sob sua
respiração, “e pur si muove” (“e, no entanto, ela se
move”), ou alguma outra frase para nos dizer que ele
não desistiu de sua ideia. A moral é sempre a mesma:
hoje nós sabemos que a ideia “herética” é correta, e que
podemos escarnecer do vilão dogmático que era
poderoso, mas errado, e honrar o herói do pensamento
livre que era fraco, mas estava certo.

Muitos cientistas são devotados a este tipo de


mitologia a tal ponto que isso deturpa sua visão da Cultura
do
história, afeta seu trabalho cientí co adversamente, Cancela
e até mesmo compromete a honestidade. Estas são Yale
acusações sérias, as mais sérias que se pode fazer deixa
contra um cientista, mas eu as baseio em experiência de
ensinar
íntima. Deixe-me contar uma história que ilustra o que
a
estou dizendo. História
da Arte
Quando eu era aluno da pós-graduação da Europeia
Universidade do Texas, muitos dos professores lá
ensinavam um mito sobre a Nebulosa do Caranguejo e
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a Supernova de 1054. A Nebulosa do Caranguejo é uma Biopolític


nuvem na de gás e poeira visível nos céus do norte que do
Coronav
os astrônomos acreditam ser remanescente da
(Parte
explosão de uma estrela chamada de supernova. VII) –
Baseados na distância da nebulosa e o ritmo em que o Coletes
material da nebulosa se expande, podemos calcular o Amarelo
ano (1054 d.C.) que a supernova teria aparecido no céu e
Jalecos
e quão brilhante ela teria sido. Como costuma
Brancos
acontecer, naquele ano, astrônomos chineses e Os
japoneses registraram a presença de uma nova estrela, “Empreg
brilhante o su ciente para ser vista até mesmo durante de
o dia, que é o que esperaríamos. Contudo, não há Merda”
registro que o evento tenha sido visto na Europa.

Tião
Desta falta de evidência registrada cresceu o mito Carreiro
ensinado por muitos dos professores de astronomia da Tradição
UT (que rastreei até pelo menos as Lições de Física de e as
Feynman). A supernova de 1054, eles ensinaram, não foi quatro
virtudes
registrada na Europa porque os europeus estavam nas
morais
garras da Idade das Trevas, e a poderosa e dogmática do
Igreja Católica compelia a visão de Aristóteles de que as caipira
estrelas eram imutáveis. Esta Igreja era tão e ciente em
suprimir as observações que nenhuma sobreviveu em
toda a Europa. O
momento
antilibera
Essa história tem todos os elementos básicos da
Mitologia Cientí ca ampliados muitas vezes. A ideia
supostamente herética, que uma nova estrela poderia “O
aparecer, era veri cável por qualquer um que tivesse Passo
olhos para ver. O vilão dogmático era tão poderoso que da
seria capaz de convencer as pobres massas ignorantes Floresta”
de
de um continente inteiro que elas não poderiam
Ernst
acreditar no que seus olhos vissem. De fato, uma Idade Junger
das Trevas! Graças a Newton nós vivemos em tempos ea
melhores! Mente
Conserv
Há apenas um problema com essa história: ela é
evidentemente ridícula. Qualquer um que consiga ler os
A
Evangelhos terá uma primeira impressão de que deve Questão
haver algo muito errado com ela: “Perguntaram eles: do
“Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos Estado
a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mateus, Curdo
2:2). É difícil conciliar uma posição dogmática de que os
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céus são imutáveis, com uma recém-surgida Estrela de A


Belém do evangelho de Mateus. Ou deveríamos Indústria
Fármaco
acreditar que Aristóteles mantinha uma posição mais
Química
alta na mente medieval do que os evangelhos? Bem,
isso realmente não importa, porque qualquer um que
conheça a história ocidental, esse tópico cada vez mais Tomislav
esotérico e impopular, verá um problema maior. As Sunic –
ideias de Aristóteles eram quase completamente Vilfredo
Pareto
desconhecidas na Europa Latina em 1054. Somente
e
no século XIII, São Tomás de Aquino e outros Irraciona
pensadores escolásticos tentaram adaptar o Política
pensamento aristotélico pensado para as fundações da
teologia cristã, e isso foi recebido com muita suspeita a
princípio. Integraçã
e
Fragmen
Para continuar a história, perto do m de meus estudos
Os
de pós-graduação na UT, eu passei muito tempo Casos
trabalhando na biblioteca, e deparei-me com um livro – do
acredito que se chame “The Historical Supernovae” – e li Líbano
um relato da supernova de 1006. Esta era mais e de
Belarus
brilhante do que a supernova de 1054 e um pouco mais
ao sul, e também foi registrada na China e no Japão, e…
nos registros de um monastério europeu. Neste ponto, Coronav
eu tinha visto o su ciente. Copiei a página do livro e “A
trouxe a um dos nossos almoços de grupo semanais. Ao Vacina
m da reunião, mostrei-o a um professor que eu ouvi Russa é
um
ensinar a versão “mitológica”. Ele era um homem cuja
Novo
integridade cientí ca eu respeitava. Disse a ele que ele Momento
e muitos dos professores estavam ensinando um Sputnik”
erro nas aulas de astronomia introdutória. Expliquei
tudo o que relatei acima, terminando com um enfático
oreio: “E assim, a menos que você tenha uma teoria
convincente de que alguma mudança dogmática tenha
ocorrido nos 48 anos entre 1006 e 1054, você
provavelmente deveria mudar o que ensina sobre a
supernova de 1054”. O que você supõe que ele disse?
Sua única frase de resposta foi “eu vou continuar
ensinando isso do jeito que sempre ensinei”.

Aparentemente, ele valorizava mais o seu mito do


que a verdade. E ele não é o único. Encontrei muitas
referências interessantes para o mito da supernova de
1054. A mais interessante é de uma publicação de 1998
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da revista “Natural History” – escrita pelo diretor do


Planetário Hayden (ninguém menos do que Neil
deGrasse Tyson) – em um artigo, ironicamente, sobre a
importância de checar a evidência antes de acreditar em
algo:

Em investigações do mundo natural, a única coisa pior do


que um crente cego é um negador que vê. Em 1054 d.C,
uma estrela da constelação Taurus aumentou
abruptamente seu brilho por um fator de um milhão.
Astrônomos chineses escreveram sobre ela. Astrônomos do
Oriente Médio escreveram sobre ela. Americanos nativos no
que é hoje o sudoeste dos Estados Unidos zeram gravuras
rupestres dela. A estrela tornou-se brilhante o su ciente
para ser vista à luz do dia por semanas, e continuou visível
no céu da noite por meses. Ainda assim não temos registro
de ninguém em toda a Europa que tenha documentado o
evento.

A explicação de Tyson: “[Mas] Aristóteles tinha dito que as


estrelas não mudam. A Igreja, com sua autoridade sem
igual, promulgou a ideia. As pessoas a aceitaram,
acreditaram nela: uma ilusão coletiva que era mais forte
que seus próprios poderes de observação.” Mais adiante,
no mesmo artigo, referindo-se a alguns dos equívocos
comumente aceitos sobre astronomia, Tyson lamentou,
“Poder-se-ia pensar que em nossa cultura moderna e
iluminada, as pessoas seriam imunes a acreditar em
falsidades que são facilmente testáveis. Mas não estamos.”

O que se pode dizer, a não ser “que verdadeiro?” Você


só tem uma chance de adivinhar aonde Neil deGrasse
Tyson conduziu seus estudos de pós-graduação… Na
Universidade do Texas. Assim a Mitologia Cientí ca
passa para a próxima geração, exceto, com Tyson, que o
tamanho do fórum é bem maior. Em uma ironia nal,
encontrei um artigo de 1999 que a rma ter encontrado
evidências de que a supernova de 1054 na verdade foi
relatada em registros europeus. Mas mesmo esse artigo
não poderia abrir mão da versão mitológica tão
facilmente. Ele termina observando que europeus
nunca relataram ver a supernova de manhã, como os
asiáticos, e então especula que a igreja romana pode ter
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suprimido apenas as observações matutinas. Certo… Ou


talvez eles apenas dormissem mais tarde na Europa?

Há muitos outros exemplos de Mitologia Cientí ca


que poderiam ser citados. Muitos deles têm a ver com
o caso de Galileu, que envolveu real abuso de
autoridade e verdadeira injustiça, embora não tão
nitidamente como nas versões mitológicas.

Para ver quão distorcida a história de Galileu se tornou,


considere o seguinte fato que muitos historiadores e
cientistas se esquecem de mencionar: a evidência que
Galileu apresentou para a moção da Terra em seu
Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo que
tinha a ver com marés oceânicas e está completamente
errado. Não sua conclusão, lembre-se – a Terra se move
– mas a evidência que ele apresentou. Então, seus
críticos na Igreja não estavam errados em insistir em
melhores provas antes de seguir seu conselho de
reinterpretar as Escrituras à luz da teoria heliocêntrica.

A Mitologia Cientí ca distorce injustamente a


história, mas é frequentemente inocente e bastante
juvenil. Às vezes, contudo, ela está ligada a algo mais
pernicioso, a saber, a ideia de que a ciência e a
cristandade estão em oposição fundamental. Isso
geralmente toma a forma do que se pode chamar
“Triunfalismo Cientí co”, em que a ciência desloca
completamente a teologia, a loso a, e tudo o mais
como sendo o único árbitro para entender nossa
existência.

O Triunfalismo Cientí co é prejudicial tanto à


ciência quanto à cristandade, e é tão cheio de erros
sutis que eu tenho certeza que não os descobri por
completo. Então, deixe-me prosseguir novamente com
exemplos. Tomo de empréstimo o primeiro exemplo do
falecido Stephen Hawking, que era Cadeira Lucasian de
Matemática na Universidade de Cambridge, a própria
cadeira de Newton. Em um artigo de 2002 do simpósio
de seu 60º aniversário, Hawking descreveu a situação na
cosmologia teórica no início de sua carreira. A grande
questão em cosmologia naquela época (início dos anos
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1960) era se o universo tinha um início temporal, ou


seja, um primeiro momento de tempo. Muitos cientistas
se opuseram instintivamente a essa ideia, porque
sentiram que um primeiro momento poderia ser visto
como um “ponto de criação”. Poderia até mesmo ser
visto como um lugar onde a ciência se quebrou e poder-
se-ia apelar à mão de Deus para estabelecer as
“condições iniciais” do universo.

O preconceito amplamente difundido contra a ideia


de que o universo teve um começo surgiu das
loso as materialistas do século XIX, e por volta de
1917 teve tanta in uência que o próprio Einstein a igiu-
se com isso. Quando Einstein melhorou a teoria da
gravidade de Newton e usou sua nova teoria para
construir as equações gravitacionais que governam o
universo, ele descobriu que não havia “solução estática”,
isto é, as equações sugeriram que um universo
dominado pela gravidade poderia tanto se expandir
quanto se contrair. Esta ideia era tão loso camente
“repugnante” (nas palavras dele) que ele adicionou uma
constante, ou “fator de fudge”, se você preferir, as
equações para equilibrá-las. Em efeito, ele forçou as
equações a descreverem um universo eterno. Ele mais
tarde chamou isso de seu “maior erro”. A consequência
de seu erro foi que ele não conseguiu prever a
expansão cósmica que Edwin Hubble mediria em 1929.

Por acaso, havia um herói menos dogmático nesta


história, que levou a sério a possibilidade sugerida pelas
equações, que o universo poderia estar se expandindo.
Você sabe quem era ele? Sua história está tão fora do
padrão da Mitologia Cientí ca que você raramente ouve
sobre tal, ou sequer o seu nome. Ele era o físico teórico
belga e padre católico Georges Lemaitre. Lemaitre usou
as equações de Einstein para construir a teoria que,
mais tarde, se tornou conhecida como teoria do Big
Bang, e para prever a expansão do universo dois anos
antes de Hubble a medir. Aqui está o que Pe. Lemaitre
tinha a dizer sobre ciência e religião em sua vida: “Havia
duas maneiras de chegar à verdade. Eu decidi seguir as
duas.” Ele também disse,

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Nada em minha vida pro ssional, nada do que eu aprendi


em meus estudos tanto de ciência e religião jamais me fez
mudar essa opinião. Eu não tenho con ito para reconciliar.
A ciência não abalou minha fé na religião e a religião
nunca me fez questionar as conclusões que eu alcancei por
métodos cientí cos.

Para continuar a história de Lemaitre, a resposta inicial


de alguns a sua teoria do universo em expansão com
uma idade nita foi a rejeição e até o escárnio. Fred
Hoyle, um astrônomo de Cambridge de rmes
convicções ateias, aplicou o nome “Big Bang” à teoria
como chacota. Hoyle odiou a ideia de um universo com
um começo, até mesmo após a descoberta de Hubble
de que o universo está se expandindo. Ele não acreditou
que a questão estivesse resolvida, mas propôs que,
conforme o universo se expandisse, nova matéria
estaria constantemente aparecendo para preencher o
vazio, para que o Universo ainda pudesse ser eterno.
Hoyle cou mais feliz com a geração espontânea e não
observada de nova matéria (que violava o princípio da
conservação da energia) do que com um início cósmico.

Felizmente, uma das grandes características da


investigação cientí ca é que ela se apoia sobre
observações do universo em si para corrigir quaisquer
preconceitos que teóricos possam ter. Isso é o que
aconteceu no caso da teoria do “Big Bang”. Em 1965,
quando a radiação da “bola de fogo primordial” da
teoria de Lemaitre foi observada pelos engenheiros da
Bell Labs, Arno Penzias e Robert Wilson, mesmo os
céticos obstinados foram convencidos, e agora o Big
Bang é o modelo padrão que astrônomos e físicos usam
para pensar no universo. Quase todos eles concordam
que houve algum tipo de começo muito diferente das
condições que vemos agora. Felizmente, Pe. Lemaitre
está agora começando a receber uma honra maior dos
cientistas por suas contribuições. Em 2018, os membros
da União Internacional Astronômica votaram em
maioria esmagadora para recomendar que a famosa
“Lei Hubble” que descreve a expansão do universo
deveria de agora em diante se chamar Lei Hubble-
Lemaitre. Esta é outra coisa maravilhosa sobre a ciência
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que deveria nos dar esperança: no m a verdade


tende a vencer sobre o mito e o preconceito.

Meu segundo exemplo de Triunfalismo Cientí co são as


visões radicalmente reducionistas da evolução do tipo
promovida por Richard Dawkins e outros. A evolução
por seleção natural é uma teoria elegante, porém
incompleta, e uma teoria sobre a qual eu gosto
muito de pensar. Como teoria cientí ca, ela não é mais
problemática para a religião do que o estudo do
desenvolvimento fetal. Se eu digo aos meus lhos em
um momento que eles foram feitos por Deus e no
próximo momento explico como eles cresceram no
útero de sua mãe de uma única célula por meio de um
conjunto de reações químicas magni camente
orquestradas, eu não estou cometendo quaisquer erros
teológicos ou cientí cos.

Como uma vez expus a uma plateia cristã, “Senhoras e


senhores, nenhuma lei da física foi quebrada na criação
deste ser humano que você vê aqui na sua frente.” A
reprodução me parece uma maneira econômica de
criar. Ela ilustra um princípio geral da teologia Católica,
que foi citada como segue pelo grande teólogo jesuíta
Francisco Suarez (1548-1617): “Deus não interfere
diretamente com a ordem natural, onde causas
secundárias são su cientes para o efeito pretendido.” É
claro, o desenvolvimento fetal não é apenas econômico,
ele é também admirável, maravilhoso, e, se você já
tentou construir qualquer coisa remotamente
complicada, inspirador.

Antes de aplicar a mesma lógica à evolução, é


importante ser claro quanto ao signi cado da
palavra. “Evoluir”, no sentido literal da palavra, é
“desdobrar”. Se o desdobramento do primeiro homem
e da primeira mulher foi por meio da seleção natural
agindo nas bem reguladas interações naturais da
matéria, então o que há nisso que ameaça a nossa fé?
Ao dizer isso, vou sair em um ramo teológico? Bem,
ouça o que o grande Santo Agostinho escreveu mais de
dezesseis séculos atrás em seu trabalho Interpretação
literal do Gênesis:
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Mas do início das eras, quando o dia foi criado, se diz que
o mundo foi formado, e em seus elementos ao mesmo
tempo foram colocadas criaturas que iriam depois brotar
com a passagem do tempo, plantas e animais, cada um de
acordo com seu tipo.

… Em todas essas coisas, seres já criados receberam em


seu próprio tempo sua maneira de ser e agir, que se
desenvolveram em formas e naturezas visíveis a partir das
razões ocultas e invisíveis que estão latentes na criação
como causas.

Essa é uma antecipação da evolução tão boa quanto se


poderia imaginar. E Santo Agostinho a propôs por
razões teológicas. Então, por que a evolução é
considerada tão controversa e problemática, e por
que até mesmo alguns católicos sentem um buraco
no estômago quando algum biólogo eminente
ensina e defende a teoria? Parte da razão é que alguns
desses biólogos são como os astrônomos descritos
acima. Alguns deles estão interessados não apenas em
nos ensinar sobre a evolução, mas também em nos
dizer o que ela signi ca. Sua versão materialista e
triunfalista do que ela signi ca. O que geralmente se
traduz como “Deus está nalmente morto”.

Por exemplo, Jacques Monod, biólogo molecular e


laureado Nobel em medicina, argumentou em seu livro
“Chance and Necessity” que por termos surgido de um
processo que envolve eventos aleatórios, não podemos
ser o resultado de nenhuma previsão, nem podemos
ser o preenchimento de nenhum propósito, divino ou
não. “O destino”, ele disse, “é escrito simultaneamente
com o evento, não antes dele.” Richard Dawkins, o mais
e ciente popularizador da teoria evolucionária, é mais
franco: “Todas as aparências ao contrário, o único
relojoeiro na natureza são as forças cegas da física… A
seleção natural não tem um propósito em mente, ela
não tem mente e nem olho da mente. Ela não tem a
faculdade de ver, nem previsão, nem visão de qualquer
modo.” Juntamente com sua apresentação da teoria
evolucionária, ambos destes ateus apresentam, como

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uma conclusão lógica da teoria, que ela não pode ser o


resultado de um projeto.

Minha primeira resposta a isso é que é uma falácia


lógica. A presença de aleatoriedade em um processo
pode tanto ser evidência de que existe um projeto
quanto de que não existe. Nos anos recentes, todo um
novo campo de física computacional que conta com os
mesmo princípios que encontramos na teoria
evolucionária emergiu. Neste novo campo, os
programadores constroem “algoritmos genéticos”, que
mesclam e aleatoriamente alteram soluções para
equações complexas; e então eles usam esses
algoritmos para explorar as propriedades dos sistemas
físicos. Acontece que essa é a maneira mais e ciente de
explorar soluções para alguns problemas complicados,
e ainda depende da aleatoriedade e da seleção com
base na aptidão. Se encontrássemos um computador
executando um desses algoritmos, não seríamos
capazes de discernir seu propósito simplesmente
observando-o em operação, mas nos enganaríamos se
supuséssemos que por seu uso de mutação aleatória
ele não tivesse propósito ou projeto.

Para os mais poéticos, uma analogia diferente:


assim como poeira polvilhada aleatoriamente em
uma superfície pode revelar as impressões deixadas
por uma mão, a exploração aleatória de formas
físicas revela as criaturas latentes deixadas pelo
projeto de Deus nas muitas potencialidades da
matéria. Eu não njo estar provando que isso é
verdade, estou apenas mostrando que a aleatoriedade
e a seleção por aptidão, intrínsecas à teoria
evolucionária, não são evidências prima facie contra
Deus, não importa o que alguns biólogos bem
conhecidos possam dizer.

Eu também apontaria um paradoxo curioso. No


intervalo da história entre Isaac Newton e Werner
Heisenberg, materialistas nos disseram que Deus estava
morto porque as leis da física eram determinísticas.
Uma vez que as condições iniciais foram xadas, o
universo se desenvolveu sem uma chance de livre
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arbítrio. Na melhor das hipóteses, nós poderíamos ter o


Deísmo, em que Deus encerra as coisas e depois se
senta para assistir. Mas isso não seria uma mostra
muito interessante já que o m foi xado no início.
Agora nós sabemos melhor, sabemos que todas as
interações na natureza estão impregnadas de
aleatoriedade intrínseca, incluindo as interações de
seres como nós. E o que os materialistas nos dizem que
isso signi ca?… Que Deus está morto!

Um dos problemas com o Triunfalismo Cientí co, a


noção de que a ciência deslocou todas as outras
maneiras de chegar à verdade, é que há muitas
questões às quais ela não pode fornecer respostas,
incluindo a maioria das questões importantes da vida e
como deveríamos viver nossas vidas. A ciência
moderna, como a conhecemos e praticamos, surge
no início do período moderno dentro de uma cultura
ocidental cristã. Ela fez muito bem para o
orescimento humano. Mas em um ocidente
crescentemente secularizado, a ciência como uma
metodologia para resolver problemas está em
constante perigo de soltar-se de suas amarras religiosas
e espirituais. Quando quer que isso aconteça, o
resultado será desastroso. Em ética e moralidade a
ciência não pode se sustentar. Há duas coisas em
particular que ela precisa emprestar de outro lugar, e
elas são “compaixão” e “esperança”. Sobre a compaixão,
uma maneira de colocar o problema é: “compaixão
pelos fracos não é um princípio da ciência”.

Quanto mais você pensa a respeito, mais assustador


isso se torna. Para ser justo, todos os cientistas ateus
que eu conheci que diziam viver somente pela
ciência, na verdade tinham muita compaixão pelos
fracos. Se isso surgiu da “lei escrita em seus corações”
por Deus (Romanos 2;14-5) ou de respirar o que resta
do componente cada vez mais raro da atmosfera da
nossa cultura, eu não posso dizer. Mas esta compaixão
certamente não era produto de seu materialismo
cientí co. Eu sempre quei simultaneamente intrigado e
grato pela compaixão dos ateus, mas eu nunca
investiguei muito profundamente sobre isso, por medo
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de que pudesse desencadear o reconhecimento do que


acabei de lhes contar: “a compaixão pelos fracos não é
um princípio da ciência.”

De fato, a compaixão pelos fracos é a virtude que a


ciência mais facilmente esquece. O erte com a
eugenia no último século foi uma tentativa de
melhorar a raça humana eliminando os chamados
fracos. Nos Estados Unidos isso resultou em
esterilizações forçadas e na Europa milhões morreram.
No futuro, quando nós tivermos construído mapas
genéticos claros o su ciente para escolher precisamente
entre os fortes e os fracos, quantos milhões morrerão?
A maquinaria já está em seu lugar, e a nossa cultura já
declarou sua boa vontade em cooperar em tal “projeto
de melhoramento” assentindo o aborto de milhões de
crianças.

Além da “compaixão pelos fracos”, a ciência não tem o


caminho para outra importante virtude, e essa virtude é
a esperança. A partir da observação, nós sabemos não
apenas que cada um de nós morrerá, mas que num
futuro distante nosso planeta terá o mesmo destino.
Mesmo que não haja a colisão catastró ca de um
asteroide que aniquile com toda a vida antes disso, em
cinco bilhões de anos mais ou menos o sol vai se tornar
uma estrela gigante e vermelha, ferver até evaporar os
oceanos da Terra e acabar com a atmosfera e deixar
uma pedra sem vida. Tudo o que nós já criamos ou
criaremos estará perdido para sempre. Mesmo que
possamos nos mudar para outro lugar, a crescente
expansão do universo terminará por signi car que a
energia é muito diluída para sustentar a vida. A ciência
não nos dá razão para ter esperança face aos medos
existenciais.

A perda de esperança tornou-se um problema sério no


mundo secular. Qual é a causa principal de mortes
violentas ao redor do mundo? É a guerra, o homicídio?
Nenhum deles. De acordo com a World Health
Organization, a principal causa de mortes violentas é o
suicídio, que é aproximadamente duas vezes mais
comum que o homicídio e sete vezes mais comum que
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05/09/2020 A Mitologia Científica ameaça a Religião e a Ciência | Nova Resistência

morte por con itos violentos. De muitas maneiras nós


vivemos nossa própria Idade das Trevas, uma era de
desespero. Nunca tantos, com tanto, foram tão infelizes.
A ciência pode nos mostrar como viver mais tempo,
mas não pode nos mostrar como nós deveríamos
viver ou até mesmo se deveríamos viver.

A ciência em si é uma grande bem e um grande


presente. Ela não é e nunca foi uma inimiga da religião.
O que é prejudicial à religião, e não apenas à religião
e à ciência em si, é o que chamei de Mitologia
Cientí ca e Triunfalismo Cientí co. Esses são
fenômenos culturais que não provém das descobertas
da ciência, mas da vaidade de alguns cientistas que são
incapazes de colocar a ciência na perspectiva adequada.

NOTA EDITORIAL: Este artigo é parte de uma colaboração


com a Sociedade de Católicos Cientistas.

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