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Há pessoas que têm a ilusão que para ser pai ou mãe de santo basta ter um
cargo, outros nem se valem de cargo e acham que basta fazer a obrigação do
sétimo ano (quando se tornará uma ebomi) para abrir um terreiro.
Infelizmente o que mais se vê por aí são pessoas que tem sim o cargo e abrem um
terreiro, porém não estão preparadas para exercer tão importante função, e
acabam se perdendo e fazendo com que muitos também se percam.
Quando você se torna uma yalorixá ou babalorixá você passa a ser responsável
pelos orixás e também pela vida dos seus filhos, pois a cada problema ou dúvida é
na casa de santo que um filho procura resposta. Por desilusão com casas de santo
mal administradas, muitas pessoas abandonam a religião e não querem nunca
mais saber, pois a decepção faz com que desistam e sigam outro caminho.
Não basta cuidar do Orixá, é preciso cuidar também da pessoa, pois todo
Babalorixá e Yalorixá também precisa ser um pouco psicólogo para poder acolher
e aconselhar os seus filhos. Precisa aprender a lidar com os defeitos e qualidades
de cada um, pois os filhos de santo precisam sim servir, mas é ao Orixá.
Costumo dizer que o Orixá é puro, e nem todos estão preparados para lidar com
essa pureza, muitos se valem de cargo, tempo de santo e conhecimento para
humilhar e destratar as pessoas da casa. Esquecem que também já foram iaôs,
abiãs e também já precisaram de uma ajuda para tirar dúvidas e também para
aprender e pagar as suas obrigações. É muito comum fazer o santo com uma
pessoa, e dar obrigação com outra, pois há Yalorixás e Babalorixás, que não
sabem dar a assistência necessária para os seus filhos, e por não ter o
conhecimento necessário “brincam” com a cabeça do yaô, fazendo coisas erradas
e prejudicando ao invés de ajudar.
Existem muitos pais e mães de santo que parecem artistas, costumam deixar as
pessoas esperando para falar com os mesmos por horas e nunca podem atender
um filho, a menos que tenham algo a receber em troca. Procure sempre casas
sérias, que realmente honrem a religião, porém não se humilhe para ninguém,
respeite a hierarquia e as regras da casa, isso é primordial, mas não se esqueça
que tratar bem e respeitar também é um dever.
O Sacerdócio de Umbanda
O que é Sacerdócio? – Quem é o Sacerdote de Umbanda? – Sacerdócio Vertical e
Horizontal
O Xamã é alguém que se torna Xamã por dois caminhos, ele é um homem normal,
comum, que passa a ter dificuldades emocionais, espirituais, ele vê coisas, ele
sente coisas e muitas vezes ele fica até doente com doenças que não têm
explicação, isso se conhece por doença Xamânica.
Em algum momento, ele se auto cura, ele tem uma visão, um encontro com um
espírito ou com uma divindade, com um ser, com uma força, com um mistério, ele
passa a ser portador desse mistério, se torna um Xamã, isso é o Xamanismo de
investidura vertical.
Ele se torna Xamã pelo contato direto com o transcendente, com aquilo que vai ser
sagrado na vida dele. E há o preparo do Xamã que é feito por outro Xamã, o Xamã
mais velho prepara um Xamã mais novo para dar continuidade a uma linhagem
Xamânica.
Esta é a sua religião, mesmo que não tenha nenhuma organização, passa a existir
um conjunto de conhecimentos, de informações baseadas na prática desse Xamã
que começa a explicar quem é o sagrado quem é Deus quem é o transcendente,
como ele se manifesta.
E pela investidura horizontal alguém, que viveu isso, preparou outra pessoa, que
preparou outra e assim sucessivamente, assim surgiu a hierarquia sacerdotal no
Judaísmo que é descrita na Bíblia, onde Moisés, que tem o contato direto com
Deus – da forma como está descrito no Velho Testamento – prepara Arão e coloca
a responsabilidade da descendente de Arão – irmão de Moisés – que constitui os
descendentes da tribo de Levi, de terem a investidura sacerdotal.
Esse sacerdote tem um oráculo que são duas pedras para responder sim ou não,
tem um efode de doze pedras que vai ao seu peito, tem uma roupa sacerdotal, ele
passou por uma investidura, na Bíblia, no Velho Testamento está descrito como é
feita a investidura desse sacerdote.
Abrahão encontra esse sacerdote Melquisedeque que não tem pai, nem mãe, na
linhagem sempre aparece quem é o pai e quem é a mãe, Melquisedeque aparece
sem pai, nem mãe, então, ele pode ser um Anjo, ele é um sacerdote do Altíssimo.
O sacerdócio Judaico é um sacerdócio, o Cristão é outro, o sacerdócio Cristão
segue Cristo. Cristo não é da tribo de Judá, ele não usa as roupas sacerdotais,
não passou por uma investidura sacerdotal, mas ele é reconhecido como
descendente da linhagem de Melquisedeque que é uma linhagem que não tem
sacrifício animal porque melquisedeque senta-se junto com Abrahão e ele
comunga do pão e do vinho com Abrahão e não faz sacrifício animal, é de uma
linha não cruenta.
E a igreja Católica vai criar a sua investidura sacerdotal, há uma forma, que Roma
criou, de dar a investidura sacerdotal que é uma investidura horizontal, um
sacerdote prepara outro sacerdote, é outra leitura.
Jesus era um rabino, um mestre, mas não tinha investidura sacerdotal, mas passa
a ser sacerdote da linhagem de Melquisedeque. O rabino deve ser respeitado
como sacerdote enquanto líder religioso.
Aquele que foi ordenado como padre, que foi preparado para ser padre – para ser
padre, meu amigo, você tem que estudar muito, tem que se formar em Teologia,
tem que ter cultura, tem que ter conhecimento, tem que ter embasamento para se
ordenar padre, você tem que saber o que está fazendo, a pessoa se ordenou, ela
recebeu investidura sacerdotal e que naquela tradição Católica ele é chamado
padre, ele é um sacerdote.
Mesmo que ele não seja um líder de nenhuma comunidade, ele já é um sacerdote
porque ele já foi ordenado, mas não é líder de nenhuma comunidade porque ele
não está à frente de nenhuma, não é responsável por nenhuma igreja, mas ele é
um sacerdote que foi ordenado. Agora, aquele que está à frente de uma
comunidade tendo passado ou não por uma ordenação horizontal é um líder
religioso, logo, é um sacerdote. Por que essa conversa toda? Porque existe uma
enorme discussão de quem é sacerdote ou quem pode ser sacerdote.
No Islã, o Sheik não passa por uma ordenação de sacerdócio de templo porque a
Mesquita é uma casa de oração e ele não é ponte, mas ele é um sacerdote
enquanto líder religioso.
O Rabino é a figura do sacerdote enquanto líder religioso, mas tecnicamente ele
não teve uma investidura para estar à frente do templo porque a Sinagoga é uma
casa de oração. Mas, ele é o líder religioso daquele povo, então, ele é visto como
um sacerdote.
Vamos começar com Zélio de Moraes. O que aconteceu com Zélio de Moraes? Ele
tinha dores pelo corpo, o Zélio teve todos os traços da doença Xamânica, de uma
mediunidade descontrolada, ele já incorporava antes de descobrir a sua
mediunidade, passava mal, ficou doente, foi levado para um padre exorcizar, foi
levado para um médico psiquiatra, ele foi levado a benzedeira, foi para um Centro
Espírita, incorporou um espírito e o espírito disse “amanhã eu vou criar uma nova
religião” no dia 14 de novembro de 1908. Zélio era um jovem rapaz que não sabia
o que fazer da sua mediunidade.
No dia 15 de novembro, incorporado nele um Caboclo, anunciou uma religião, no
dia 16 de novembro, o Zélio de Moraes estava inaugurando, incorporado, um
Templo, no dia 16 de novembro o Zélio já estava como sacerdote da Umbanda –
olha que loucura – por uma ordenação vertical, os espíritos fizeram de Zélio de
Moraes o sacerdote da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, ali ele preparou
outros sacerdotes e é o fundador da religião, que é o primeiro Umbandista e criou
o primeiro Templo.
Por qual preparo Zélio passou? Zélio de Moraes não foi raspado, não foi burilado,
não deitou, não fez coroação, não fez nada disso porque ele não vinha do
Candomblé, a sua mediunidade eclodiu, ele veio tendo manifestações mediúnicas
que é aquela história “quem não vem pelo amor, vem pela dor”, Zélio estava vindo
pela dor e no momento que ele entra no Centro Espírita, sua mediunidade eclode,
o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorpora e fala “Estou aqui. Estou dando minha
mensagem e tenho uma missão de trazer uma nova religião, esse rapaz vai estar à
frente”.
Mas, esse preparo não vinha do Candomblé, esse preparo não veio do Espiritismo,
Zélio os preparou mediúnicamente e eles tinham uma missão.
Essa comunidade, que é uma comunidade religiosa, deve ter um estatuto e nesse
estatuto, os membros da comunidade fazem saber a quem possa interessar que
fulano de tal é o sacerdote, o líder religioso, o ministro religioso dessa comunidade,
então, ele é um sacerdote reconhecido por essa comunidade e isso é registrado
em cartório, a partir desse estatuto, essa comunidade faz saber ao Estado de
forma legal que essa pessoa é sacerdote, ou seja, é o líder religioso, o
responsável espiritual por aquela comunidade.
O seu dirigente, seu padrinho, sua madrinha, seu Babá, sua Babá, o comandante
de Terreiro, o cacique da sua Tenda, seu Babalaô, Babalorixá, use a palavra que
quiser, o pai de santo, a mãe de santo, o pai no santo, a mãe no santo, o pai
espiritual, use a terminologia que quiser, esse dirigente espiritual é o sacerdote
daquela comunidade.
Quando o astral reconhece que você tem a missão de sacerdote, você é visto
como sacerdote perante o astral.
E por que preparar alguém para o sacerdócio se antigamente só era feito dentro
do Terreiro? Ainda é feito no Terreiro, o curso de sacerdócio é uma vivência, é
uma experiência de Terreiro, isso é feito dentro do Terreiro, isso não é feito fora do
Terreiro. Para ensinar teoria ensinamos em qualquer ambiente, mas o preparo
sacerdotal é presencial, é feito no Templo, no ambiente do Templo.
O tempo todo tem médium entrando para o Terreiro, como é que você vai dar
teologia de Umbanda para todos eles que estão entrando no seu Terreiro? Não
tem condição.
O aprendizado sacerdotal não vai te fazer menos, vai te fazer mais porque o
objetivo não é inventar coisas, é aprender coisas, viver experiências, é burilar a
questão mediúnica, lapidar o relacionamento entre você e a sua espiritualidade,
trabalhar a ideia do sacerdócio que diz que todo médium de incorporação é um
sacerdote em potencial.
Quando Pai Ronaldo conheceu Zélio de Moraes ele já tinha o curso de sacerdócio
e Zélio de Moraes viu com bons olhos, Zélio de Moraes fundador da Umbanda viu
com bons olhos o curso de sacerdócio de Pai Ronaldo Linares, tanto que, em
muitas formaturas de sacerdócio de Pai Ronaldo Linares, as filhas de Zélio de
Moraes: Zélia e Zilméia estiveram presentes no momento da formatura.
Num livro chamado “Umbanda, Religião Cristã e Brasileira”, o autor fez uma
entrevista com Zélio de Moraes onde ele comenta sobre o trabalho de Pai Ronaldo
Linares, da Federação Umbandista do Grande ABC e da organização da religião
pelo sacerdócio.
Rubens Saraceni foi preparado por Pai Ronaldo Linares de forma horizontal, foi
preparado pelos seus Guias e Orixás de forma vertical e idealizou uma teologia,
um sacerdócio fundamentado em todo um conhecimento trazido do astral.
O sacerdote é um líder e ele deve exercer liderança, você não ensina alguém a ter
fé, mas você ensina alguém a entender a sua fé. Você ensina o sacerdócio, você
pratica junto, é um conjunto de experiências. Agora, liderar é algo que pode ser
trabalhado, lapidado.
Não usar o sacerdócio como ferramenta da sua vaidade, do seu ego, não usar o
sacerdócio para se sentir melhor ou mais importante, para se colocar acima dos
outros, não usar o sacerdócio para humilhar, não usar o sacerdócio para expor
alguém ao ridículo.
O Sacerdote moderno entende que velhos modelos já não servem mais, não se
encaixam numa sociedade voltada à tecnologia que, a cada dia, disponibiliza
novidades. O novo Sacerdote tem a preocupação de ensinar, sabe que segredos
já não mais satisfazem os médiuns de hoje, mesmo porque são jovens que se
valem dos recursos tecnológicos capazes de acessar, facilmente, qualquer
informação, portanto, busca, na religião, uma trégua nas tribulações da vida sem
dispensar o conhecimento acerca da religião e do templo que frequentam.
O Novo Sacerdote, de qualquer religião, deve ser aquele que incentiva o estudo,
que se abre às novas ideias, pois o novo bate à porta todos os dias. Exemplo claro
é o novo Papa que tem conquistado a simpatia de todos, dentro e fora da religião
católica. Ele sabe que velhos modelos já não mais satisfazem a ninguém,
principalmente aos que buscam, junto à espiritualidade, viver melhor e com mais
qualidade.
Vejo o novo Sacerdote de Umbanda como alguém que se aproxima mais do povo
e de seus seguidores, como um homem, ou mulher, disposto a ensinar e a
aprender todos os dias, algo novo que possa ser aplicado dentro da religião ou de
seu templo.
Tudo e todos evoluímos afinal, o progresso não espera ninguém, ele simplesmente
acontece, espontaneamente a cada dia, cabendo a cada um de nós, segui-lo, para
o nosso bem e para o bem de todos que estão a nossa volta.
Sempre é tempo de rever posturas, ajustar crenças, abrir a mente a novas ideias,
isso acontece em todos os segmentos de nossas vidas e, com nossa religião, não
deve ser diferente.
É claro que o Sacerdote, como cidadão, deve manter uma postura que não o
contradiga como religioso, é natural que seja assim, porém, as pessoas que o
seguem, ou pretendem seguir, devem, por sua vez entender que o Sacerdote é
humano, não é um Santo, não é alguém que já atingiu a iluminação, é apenas
alguém que está buscando ser melhor e querendo compartilhar com os outros
esses desejos.
Muito se fala sobre os deveres do Sacerdote, pouco se fala sobre seus direitos. O
Sacerdote é extremamente cobrado, constantemente sabatinado, muitas vezes
passa pelo constrangimento de não saber a resposta para todas as perguntas que
lhe são feitas, exigindo assim que se mantenha, o máximo possível, informado
sobre a religião e assuntos gerais que afetam a vida cotidiana de todos.
Nem todo Sacerdote é ou foi estudioso, alguns não tiveram acesso ao estudo,
porém, cumprem com amor, humildade e fé a missão do Sacerdócio.
Exigir de pessoas assim alguma erudição é falta de caridade, compreensão,
significa que a pessoa está no lugar errado, que deve buscar outro Sacerdote que
o satisfaça intimamente, se é que seja possível encontrar porque ninguém é
perfeito, mas afinidade é fato.
O Sacerdote tem muitos direitos, caminham lado a lado com seus deveres e
obrigações. O direito de ser uma pessoa comum é um deles, de viver sua vida fora
do templo como bem entender é outro e assim por diante porque nenhum
Sacerdote atingiu a angelitude, sabe tudo ou está à disposição de seus seguidores
24 horas por dia como fosse o setor de emergência de um hospital.
O Sacerdote tem direito à privacidade, deve, pelo seu próprio bem, estabelecer
controle sobre o acesso a ele fora do templo, do contrário terá uma vida
controlada, sufocada e, penso eu, isso não é saudável. Estabelecer a dependência
de seus seguidores não é algo bom, pelo contrário.
É claro que alguma atenção deve ser concedida, porém, que seja com equilíbrio,
controle e, acima de tudo, bom senso de ambas as partes, sim, porque, em
contrapartida, existem aqueles Sacerdotes que não dão sossego aos seus
seguidores, por isso, bom senso para os dois lados é garantia de uma boa e
saudável relação.