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04/08/2020 Efeitos de diferentes tipos de feedback sobre a propriocepção de praticantes de ballet clássico

Efeitos de diferentes tipos de sobre feedback


a propriocepção de praticantes de ballet clássico
Efectos de diferentes tipos de feedback sobre la propiocepción de practicantes de ballet clásico

Ellen dos Santos Soares* | Ricardo Drews*


*Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
**Universidade Federal de Pelotas - UFPEL Juliana Izabel Katzer** | Priscila Lopes Cardozo*
(Brasil) Sara Terezinha Corazza*
ellensoa@gmail.com

Resumo
O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de diferentes tipos de feedback sobre a propriocepção de praticantes de balletclássico. A amostra foi
constituída por 16 bailarinas (média de 10±25 anos), participantes de uma Escola de Dança, divididas em dois grupos: Grupo A (feedback proprioceptivo) e Grupo B
(feedback visual e verbal). Foram realizadas análises da propriocepção pré e pós o desenvolvimento de oito aulas priorizando o feedback extrínseco. Avaliou-se a
propriocepção através de um cinesiômetro (PAIXÃO, 1981) para membros superiores e um goniômetro (CAMARGOS et al, 2004) para membros inferiores. A análise
dos dados revelou que não houve diferença estatística significativa entre pré e pós-teste, como também, não houve significância entre os resultados de pós-teste
intergrupos. Conclui-se, portanto que, analisar a variável propriocepção, tanto na estimulação de elementos proprioceptivos, quanto visuais e verbais, pode
acrescentar em qualidade na execução dos movimentos para o aprendiz de ballet clássico.
Unitermos: Feedback. Propriocepção. Ballet clássico.

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução
O Ballet
Clássico requer, além de beleza, um bom desempenho motor dos bailarinos. A prática desta habilidade
desenvolve sensibilidade, percepção, coordenação, equilíbrio, tônus, lateralidade, noção espacial, noção temporal,
ritmo, entre outras (PRATI; PRATI, 2006). É uma modalidade que exige a execução de movimentos técnicos perfeitos
e, para tanto, necessita de fornecimento de informações sensoriais que contribuam para a realização de uma
performance habilidosa e que poderão oportunizar aos bailarinos a detecção e correção de erros durante a execução
dos movimentos (BERTONI, 1992). Estas informações, necessárias para a produção dos movimentos, chegam de
diversas fontes sensoriais e podem surgir de fontes internas (interocepção) ou externas (exterocepção) ao corpo
(SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

Entre as fontes de informação exteroceptiva encontram-se a visão e a audição. (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Já
em relação à interoceptiva, sua fonte básica de informação é a propriocepção, sendo esta uma importante fonte de
informação sensorial do corpo, que tem influência no controle postural, estabilidade articular e diversas sensações
conscientes (CORAZZA et al., 2005; ANTES et al., 2008; LEPORACE et al., 2009). As informações proprioceptivas são
oriundas dos receptores musculares e tendíneos, denominados fuso muscular e órgão tendinoso de Golgi, além de
receptores localizados nos ligamentos, cápsula articular, meniscos e tecidos cutâneos (LEPORACE et al., 2009).

A propriocepção faz parte de um sistema denominado somatossensorial. Esse sistema possui receptores
distribuídos pelo corpo e responde a diferentes estímulos que são agrupados em quatro categorias: toque,
temperatura, posição do corpo e dor. Os receptores de toque e de posição, especialmente, relacionam-se com a
propriocepção, visto que, estes sensores estão na pele e nas paredes do corpo, nos músculos, tendões, ligamentos,
nos tecidos conectivos das articulações e nos órgãos internos. A sensação de toque é estimulada mecanicamente na
superfície corporal e a sensação de posição é dada pelo estímulo mecânico dos músculos e articulações. Os receptores
proprioceptivos respondem a mudanças de ângulo, direção e velocidade de movimento de uma articulação.
Respondem ainda sobre a localização do corpo no espaço, a direção e a intensidade do movimento e têm duas
funções: detectar a posição do corpo para auxiliar na identificação de coisas ao nosso redor e guiar os movimentos
(MOCHIZUKI; AMADIO, 2006).

Neste contexto, as informações de origem somatossensorial, através dos proprioceptores, juntamente com as
informações do sistema visual e do sistema vestibular fornecem ao Sistema Nervoso Central conhecimento da
estruturação do corpo no espaço (BARCELLOS; IMBIRIBA, 2002). Estas informações sensoriais, quando proporcionam
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ao indivíduo conhecimento sobre o seu desempenho durante ou após a execução de um movimento, são
denominadas de feedback
(MAGILL, 2000). Sendo assim, o feedback
quando provêm de fontes exteroceptivas é
denominado intrínseco e quando advém de fontes interoceptivas é denominado intrínseco, podendo ser fornecido
como feedback visual, verbal ou proprioceptivo (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

Partindo destes pressupostos teóricos, o objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de diferentes tipos de
feedback sobre a propriocepção de praticantes de ballet clássico.
Materiais e métodos

Sujeitos

O grupo de estudos foi composto por 16 meninas com idade entre 9 e 13 anos (10±25 anos),
praticantes de Ballet
Clássico em uma Escola de Dança da cidade de Santa Maria – RS. Adotou-se como
critério de inclusão o tempo de prática do Ballet
Clássico há, no mínimo, 2 anos, com freqüência
semanal de duas vezes por semana. Além disso, não apresentar nenhuma alteração visual,
somatossensorial, auditiva, ou ferimentos que impedissem ou dificultassem a realização dos testes.

Procedimentos

As participantes juntamente com seus responsáveis, foram devidamente esclarecidas sobre todos os
procedimentos adotados na pesquisa e após assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

As meninas foram divididas em dois grupos: Grupo A (GA) ( feedback


proprioceptivo) e Grupo B(GB)
(feedback visual e verbal). O GA recebeu, durante a correção, apenas feedback
proprioceptivo (toque do
professor), sendo privadas as informações visuais e verbais. Já o GB obteve apenas verbal e feedback
visual na correção dos movimentos, onde era dado toda a vez que o indivíduo errava o movimento, sem
nenhuma informação proprioceptiva.

Foram feitas análises da propriocepção anterior e após o desenvolvimento de oito aulas de Ballet
Clássico priorizando o feedbackdado pelo professor durante a correção dos exercícios. A avaliação foi
realizada nas dependências da mesma escola de dança em que se desenvolveram as aulas, as quais
aconteceram no período posterior das respectivas aulas, individualmente e havendo um prévio
treinamento dos avaliadores para posterior aplicação dos testes, no qual foi realizado pelos mesmos
avaliadores.

Instrumentos

Avaliou-se a propriocepção de membros superiores por meio do cinesiômetro, conforme o protocolo


de Paixão (1981) e de membros inferiores por meio do goniômetro seguindo o protocolo proposto por
Camargos et al. (2004).

Durantes as avaliações, em ambos os testes, foram fornecidas informações apenas em relação às


posições, sem citar os ângulos correspondentes. Logo após solicitava-se à bailarina que repetisse a
seqüência demonstrada e anotava-se o ângulo correspondente a cada posição alcançada pela mesma.

Por fim, anotava-se o ângulo correspondente a cada posição apresentada e após calculava-se o
resultado através do erro absoluto, de quantos graus faltaram ou extrapolaram os ângulos
correspondentes a cada ponto pré-determinado.

Tratamento estatístico

Para análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva, com média e desvio padrão, um Teste t
pareado para verificar a diferença entre pré e pós-testes intragrupos e ainda um Teste t para amostras
independentes para verificar a diferença entre os tratamentos pós-testes intergrupos. Utilizou-se o
pacote estatístico SPSS for Windowsversão 14.0, com nível de significância de 5%.

Resultados e discussão

Nos resultados apresentados estão expressos o erro absoluto para cada tarefa requerida. As Tabelas
1 e 2 demonstram os resultados mínimos e máximos, as médias, desvios padrão e as comparações
intragrupos de pré-teste e pós-teste e também intergrupos no pós-teste.

Tabela 1. Valores dos índices da avaliação da propriocepção do GA e GB, indicados por erro médio

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Variáveis Mínimo Máximo Média Desvio Padrão t p

PréPMI A 1,0º 8,0º 3,6º 2,33º


1,31 0,35
PósPMI A 0,0º 6,0º 2,7º 2,25º

PréPMS A 6,3º 31,0º 13,9º 10,40º


0,88 0,92
PósPMS A 6,0º 16,6º 10,2º 4,08º

PréPMI B 0,0º 11,0º 3,8º 3,8º


0,2 0,84
PósPM B 0,0º 7 3,6º 2,50º

PréPMS B 3,3º 20,3º 12,8º 5,98º


0,99 0,35
PósPMS B 6,0º 16,6º 10,2º 4,08º
Legenda: PMI= Propriocepção de Membros Inferiores; PMS= Propriocepção de Membros Superiores;
A = Grupo com feedback proprioceptivo; B = Grupo com feedback visual e verbal; º=Graus.
A partir destes resultados pode-se notar que, após o desenvolvimento das oito aulas de ballet clássico, ambos os
grupos tiveram uma leve superioridade (verificada em erros) de pré para pós-teste na variável propriocepção, tanto de
membros inferiores, quanto de membros superiores, porém não houve diferença estatisticamente significativa entre os
mesmos.

Santos (2008), em um estudo que teve o objetivo de investigar a influência do feedback extrínseco na performance
de uma manobra de skatistas, constatou que as informações fornecidas pelo feedback extrínseco auxiliaram no
aperfeiçoamento da manobra, melhorando a técnica apresentada pelos skatistas.

Freitas et al. (2008) verificaram o efeito do feedback


extrínseco nos indicadores biomecânicos de desempenho da
virada no nado crawl. Os autores identificaram melhoras no comportamento proporcionadas após o fornecimento do
feedback extrínseco. As melhoras foram relacionadas às informações verbais e visuais fornecidas, que orientaram os
indivíduos para alterarem as características pessoais do movimento.

Herbert et al. (2003) enfatizam a importância do feedback


intrínseco na detecção de erros por parte do indivíduo,
para comparar a execução planejada com a realizada, fortalecendo o referencial interno.

Magill (2000) afirma que normalmente as estratégias utilizadas durante os estágios iniciais de aprendizagem não
apresentam sucesso e, embora os indivíduos tenham consciência de que estão fazendo alguma coisa errada, em geral,
são incapazes de detectar a origem ou as características do erro cometido. Sendo assim, assegura que são
indispensáveis as informações fornecidas por fontes externas, como o professor, para tornar o intrínseco feedback
mais significativo.

Tabela 2. Comparação entre os escores dos pós-testes do GA e do GB

Variáveis N t p

PósPMI A 8 -0,74 0,47

PósPMI B 8 -0,74 0,47

PósPMS A 8 1,29 0,21

PósPMS B 8 1,29 0,21


Legenda: PMI= Propriocepção de Membros Inferiores; PMS= Propriocepção de Membros Superiores;
A = Grupo com feedback proprioceptivo; B = Grupo com feedback visual e verbal; º=Graus.
A Tabela 2 traz a diferença do GA e GB no pós-teste nos membros superiores e membros inferiores, revelando que
não houve significância entre os resultados de pós-teste intergrupos.

Piekarzievcz (2004) realizou um estudo que procurou investigar a influência do feedback extrínseco aumentado
verbalmente e do feedback extrínseco aumentado visualmente durante a aprendizagem da habilidade motora do
putting no golfe. Foram investigados 30 sujeitos divididos em três grupos: G1 - feedback extrínseco verbal; G2 -
feedback extrínseco visual; e G3 - feedback intrínseco. Os resultados demonstraram que, independente do tipo de
feedback, ocorreu uma melhora no desempenho dos grupos após o período de prática.

Marinzeck (2009) afirma que é importante apreciar a relação entre as diversas formas de feedback (visual, verbal e
proprioceptivo) durante o treinamento porque elas têm uma forte influência no aprendizado e na retenção de

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habilidades.

Conclusão

Em virtude de todos os grupos apresentarem uma melhora no desempenho, porém sem diferença significativa,
independente do tipo de feedback recebido, conclui-se portanto que, ao analisarmos a variável propriocepção, tanto a
estimulação de elementos proprioceptivos, quanto visuais e verbais, pode acrescentar em qualidade na execução dos
movimento para o aprendiz de ballet
clássico. Permitindo que o aprendiz, através do desenvolvimento do sistema
cinestésico, consiga assimilar as informações importantes sobre o posicionamento do seu corpo no espaço corrigindo
os seus movimentos corporais, se necessários, executando-os de maneira eficaz. Para que dessa forma contribuam
para a realização da performance na habilidade motora específica ballet clássico.

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SCHMIDT, R. A . & WRISBERG, C. Aprendizagem e Performance Motora: uma abordagem da aprendizagem


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. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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