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PROSPERIDADE
Alan B. Pieratt
tradução de
Robinson Malkomes
1. Visão Geral 09
2. Antecedentes Históricos 16
3. Prévia do Conteúdo 28
1. Autoridade Espiritual 33
2. Saúde e Prosperidade 47
3. A Confissão Positiva 61
1. Autoridade Espiritual 95
2. Saúde e Prosperidade 125
3. A Confissão Positiva 153
Bibliografia 230
PREFÁCIO DOS EDITORES
1
O autor não deseja usar a palavra "heresia" para rotular a doutrina da prosperidade, pois
tal julgamento é severo e deve ser feito somente com muita cautela e por muitas vozes
juntas. Vale observar que, na Bíblia, a palavra heresia é usada para se referir a três coisas:
1) um partido ou facção dos judeus, como os saduceus ou os fariseus (At 5.17); 2) um
partido ou facção dos cristãos (At 24.14; 1 Co 11.19) — aqui, a palavra é sinônimo de
cisma; e 3) uma opinião ou doutrina contrária à crença da igreja (Gl 1.8; 5.20; 2 Pe 2.1).
Em grego, "allos" significa "outro" do mesmo tipo ou numa série. "Heteros" significa
"outro" de um tipo diferente. Em alguns contextos, as palavras são intercambiáveis. Mas,
em Gálatas, o sentido de "heteros" é claro. Além disso. Pedro classifica como destruidoras
as heresias que chegavam ao ponto de negar Jesus Cristo (2 Pe 2.1). Paulo afirma que o
homem que causa divisões na igreja é "herege", pervertido e autocondenado (Tt3.10; ARC).
tocam, mas raramente destruindo por completo o objeto da
infecção. De modo semelhante, esta interpretação do evangelho
altera a mensagem cristã, mas não a torna irreconhecível ou
irrecuperável.
Ele diz a seus seguidores que, logo depois disso, recebeu uma
revelação do "verdadeiro" significado de Marcos 11.23, 24 e da
natureza da fé cristã. A essência dessa revelação era que, para
obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz
alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido
respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que
a oração foi atendida. Uma vez feita a oração, o fiel deve afirmar
constantemente a resposta, até que surja a prova. Essa é, por
certo, a essência daquilo que é hoje ensinado como "confissão
positiva". Hagin afirma que a fonte disso não foi outra senão o
próprio Senhor.
3. Prévia do Conteúdo
Os quatro capítulos restantes deste livro assumem a seguinte
forma: no capítulo dois, os ensinos da teologia da prosperidade
serão apresentados de maneira sistemática. As fontes estarão
quase inteiramente limitadas aos escritos de Hagin, muitos dos
quais se encontram em português. Estes serão ocasionalmente
complementados com aquilo que escrevem R. R. Soares ou Ken
Copeland, mas Hagin é merecidamente conhecido como o pai da
doutrina da prosperidade, e até esta data seus escritos fornecem a
melhor exposição de suas idéias.
1. Autoridade Espiritual
A semelhança de muitas igrejas carismáticas e pentecostais,
Hagin ensina que Deus está ungindo profetas nos dias de hoje.
Tais homens são porta-vozes de Deus e, portanto, trazem consigo
a autoridade do próprio Senhor. "Deus ainda está ungindo
profetas hoje. Esses profetas são porta-vozes dEle..." (Unção, 9).
Ele ridiculariza aquelas denominações que ensinam que a
autoridade apostólica cessou com a morte dos Doze, dizendo que
"o diabo já ludibriou denominações inteiras", fazendo-as pensar
que esse dom cessou com os Doze (Nome, 51), Não nos
surpreende o fato de Hagin afirmar ser um desses porta-vozes
escolhidos, e seus sermões e escritos estão repletos de mensagens
e visões da parte de Deus. As expressões encontradas com maior
freqüência em seus livros são: "tive uma visão", "tive uma visão
espiritual rápida" ou "o Senhor me disse". Algumas vezes essas
visões são de natureza espetacular, à semelhança da vez em que
ele foi levado ao inferno três vezes num único dia.
2
Os textos extraídos dos livros de Hagin em português e os do livro de R. R. Soares serão
citados na íntegra, incluindo os erros gramaticais, freqüentes naquelas publicações (nota do
tradutor).
... conforme já preguei muitas vezes, eu mesmo fui para o
inferno. Foi no dia 22 de abril de 1933, às 19:30 do
sábado... meu coração parou em meu peito, e senti a
circulação desligada... tive a sensação de pular para fora
do meu corpo... Comecei a descer. Desci cada vez mais
fundo, como se fosse em direção ao fundo de um poço.
Olhei para cima, e ainda via as luzes da Terra, muito acima
de mim. Quanto mais descia, tanto mais escuro ficava.
Finalmente, as trevas me envolveram... Minha mente, minha
alma, estava intacta... Vi lá longe, na minha frente, uma
chama alaranjada gigante, com uma crista branca. Então
cheguei ao portão, à entrada, aos portais do próprio
inferno. Algum tipo de criatura estava me esperando no
fundo do poço... a criatura... agarrou o meu braço... No
momento em que aquela criatura me pegou pelo braço para
me escoltar para dentro, uma voz falou... Não consegui
compreender o que a voz dizia... Quando, porém, Ele falou
aquilo, seja o que for... aquele local inteiro tremeu e
estremeceu como uma folha no vento. Então aquela criatura
largou o meu braço, e alguma coisa como uma sucção,
puxando-me irresistivelmente pelas costas, sem me virar,
me puxou para trás, para longe da entrada do inferno e das
trevas do abismo, e subi... O cenário inteiro repetiu-se três
vezes (Crescimento, 38-40).
Ele soube com antecedência, por meio de uma visão, com quem
iria se casar e os filhos que iria ter (Planos, 33).
2.1 Saúde
A teologia da prosperidade não se cansa de repetir que nem
doenças nem problemas financeiros são da vontade de Deus para
o cristão, nem é necessário que este se confronte com eles
durante a vida.
2.2 Prosperidade
No campo das finanças, Hagin segue exatamente o mesmo
raciocínio que utiliza em suas afirmações sobre saúde. A
prosperidade financeira é um direito do cristão, pois faz parte da
expiação efetuada por Cristo. Assim como o cristão tem direito à
saúde, ele também tem direito de ser próspero. Exatamente da
mesma forma como as enfermidades nunca representam a
vontade de Deus para o fiel, assim também a pobreza ou as
dificuldades financeiras de qualquer espécie. O pastor de hoje
tem o dever de pregar essa mensagem com toda sua força, pois
no passado a igreja deu destaque demasiado ao lado espiritual da
salvação. O direito de sermos financeiramente prósperos precisa
ser cada vez mais proclamado dos púlpitos. Depois de citar Josué
1.8, Hagin diz:
Alguém disse: "Irmão, acho que sou outro Jó". O que você
quer dizer com ser outro Jó? Louvado seja Deus, se você é
o Jó de Deus, você receberá sua cura. Jó foi curado.
(Redimidos, 12.)
Se você pensa que você é outro Jó, isso significa que você
vai ser uma das pessoas mais ricas das redondezas... Se
você for outro Jó, prosperará. (Limiares, 63.)
Deus já fez o que tinha que fazer para você... Agora é você
que tem que fazer algo. (Soares, 1987, 26.)
Use este Nome com a mesma liberdade que você usa seu
talão de cheques. O dinheiro já está depositado, você emite
o cheque sem exercer qualquer fé especial; ou seja: você
não está consciente de exercê-la — embora você a esteja
usando. (Nome, 120.)
O raciocínio aqui parece ser este: uma vez que nossos direitos já
foram garantidos na expiação, a vontade de Deus para nós
sempre será de que tenhamos saúde e prosperidade. Hagin
acrescenta seu próprio testemunho de que isso é realmente assim:
Não orei uma só oração em 45 anos (quero dizer, para
mim e para meus filhos enquanto eram pequenos) sem obter
uma resposta. Sempre recebi uma resposta — e a resposta
foi sempre "sim". Algumas pessoas dizem: "Deus sempre
responde às orações. Às vezes diz: "Sim," e às vezes diz:
"Não". Nunca li isto na Bíblia. Trata-se apenas de
raciocínio humano. (Nome, 13, 14.)
A esta altura deve estar claro por que dizer "se for de tua
vontade" não é aceitável na confissão positiva. Isso indica
dúvida, e dúvida destrói a eficácia da fé como força. Por isso, os
membros do movimento da prosperidade que se encontram
doentes nunca admitem ou falam sobre os sintomas da doença.
Em uma seção intitulada "O Medo Abre a Porta Para o Diabo",
Hagin diz:
Tudo que Deus diz que você é e tudo que Deus diz que você
tem, já é real na dimensão espiritual. Mas você deseja que
se torne real na dimensão física para então desfrutar o que
já é seu em Cristo. (Combater, 35.)
4
Continua válido hoje o comentário de William James sobre os escritos dos pregadores da
cura de sua época, no início do século XX. Ele escreveu que podemos pôr de lado "... a
verbosidade de boa parte da literatura sobre cura pela mente, algumas de um otimismo tão
Por fim, permitam-me acrescentar uma palavra de incentivo. Há
muitos pastores frustrados nas igrejas, perguntando que tipo de
resposta devem dar à congregação quanto à doutrina da
prosperidade. A intenção desse capítulo é exatamente fornecer a
espécie de material necessário para uma resposta detalhada,
extensa e convincente. Um pouco dele é ligeiramente técnico,
mas sua maior parte é dirigida ao uso em sermões ou para o
ensino na Escola Dominical. Espera-se que o pastor que busque
orientação ache esta análise útil e convincente.
lunático e expressas de forma tão vaga que até a mente com perícia acadêmica acha quase
impossível lê-las" (Variety of Religious Experience, 94).
1. Autoridade Espiritual
A alegação que Hagin faz de autoridade espiritual é bem clara:
ele não defende sua interpretação da Bíblia com base na erudição
teológica, no raciocínio filosófico cuidadoso ou na pesquisa
sobre a história das doutrinas na igreja. Antes, ele alega possuir a
autoridade de um profeta que falou com Deus. A semelhança de
Paulo, ele foi instruído diretamente por Jesus (Gl 1.12). Essa
afirmação sublime de conhecimento por meio de revelação é
ratificada por muitas histórias de poder espiritual para curar e
operar sinais e maravilhas de todos os tipos. Essa afirmação é
séria tanto hoje quanto nos dias de Moisés, quando foram feitas
as primeiras advertências contra profetas que surgiriam no futuro
(Dt 13.1-3).
Daniel 10.1-19
Isaías 6.1-5
Apocalipse 1.9-17
5
Remetemos o leitor ao livro de Jonathan Edwards, A Verdadeira Obra do Espírito: Sinais
de Autenticidade (Vida Nova, 1992). Ele apresenta testes semelhantes pelos quais podem
ser feitos julgamentos relacionados a um avivamento ou a alguma obra espiritual.
1.2 Sinais e Maravilhas
Visões, profecias, visitas de Jesus, curas, palavras de conhe-
cimento, falar em línguas, ser abatido no Espírito, nuvens de
glória, rostos que brilham com luz sobrenatural, conhecimento do
futuro, dons espirituais que descem com um "clique"; estes são
os sinais e maravilhas. Na igreja atual, muitas pessoas tendem a
acreditar que esse tipo de coisa é algo novo. Ele sempre está
associado a sinais do fim dos tempos ou, no mínimo, a provas de
uma unção especial do Espírito. Mas o fato é que tais relatos
sempre foram comuns na história da igreja, desde cerca do quarto
século. A história dos sinais e maravilhas é fascinante e traz uma
lição para a igreja de hoje. O propósito dessa parte é mostrar a
natureza dessa lição.
6
Veja Justino Mártir, Apology, I, cap. 6; Irineu, Contra Heresies, I, cap. 34; Tertuliano, Ad
Scap IV, 4; Orígenes, Contra Celsum B, III, cap. 24; Clemente de Alexandria, Epis C, XII.
parte dos pais pós-apostólicos um esforço deliberado de não
alegar qualquer tipo de poder especial para operar sinais e
maravilhas. Por isso. Warfield considera aqueles primeiros
líderes cristãos
7
Os exemplos de cura instantânea têm duas exceções: Lucas 17.11-14 e Marcos 8.22-26,
mas até mesmo esses casos foram de cura relativamente rápida.
Talvez seja por isso que muitos pregadores da cura pela fé evitem
o escrutínio. O próprio Hagin ameaça aqueles que desafiam suas
afirmações nessa área. Mas o que há para ser temido? O Espírito
pode ser analisado da forma mais crítica possível. Se aquilo é de
Deus, a obra suportará qualquer tipo de escrutínio. O apóstolo
João recomenda; "... provai os espíritos se procedem de Deus".
... o que vem à tona... é que uma linha nítida é traçada entre
as categorias de cura que podem ser obtidas e as categorias
que não podem ser obtidas pela fé, e essa linha é traçada
aproximadamente no exato ponto onde passa a linha que
separa as curas que são obtidas daquelas que não são
obtidas pela mente... Há categorias de doenças que a cura
pela fé pode resolver e categorias que ela não pode. Num
exemplo específico, ela não consegue curar ossos
quebrados, restaurar mutilações ou fazer algo tão simples
quanto recuperar dentes perdidos. (Warfield, 1972, 191.)
8
Em geral são admitidos três propósitos para os milagres na Bíblia: primeiro, eles
autenticavam a mensagem daquele que o efetuava (1 Rs 18.21; Jo 5.36); segundo, eles
mostravam que o reino de Deus estava presente (Mt 12.28); e terceiro, revelavam o caráter
de Deus (Jo 9.35). Jesus curava e realizava milagres porque era Deus e, portanto, doença e
opressão eram suas inimigas.
Os milagres não surgem errantes nas páginas das
Escrituras, aqui, ali e acolá, indiferentemente, sem razão
justa. Eles pertencem a períodos de revelação e aparecem
somente quando Deus está falando a seu povo por meio de
mensageiros dignos de crédito... A priori, de fato poderia
ser concebível que Deus deva lidar com os homens
atomisticamente, revelando a si e a sua vontade a cada
indivíduo, através de todo o curso da história, no recesso de
sua própria consciência. Este é o sonho do místico... Ele
escolheu, em vez disso, lidar com a raça como um todo e
dar a ela a revelação completa de si mesmo num conjunto
orgânico... e quando o conhecimento total de Deus... havia
sido absorvido pelo corpo vivo do pensamento do mundo —
ali permaneceu; é claro, nenhuma revelação mais existe
para ser feita e, conseqüentemente, nenhuma outra foi feita.
O Deus Espírito Santo fez de sua obra posterior não a
introdução de revelações novas e desnecessárias no mundo,
mas a divulgação dessa revelação completa através do
mundo e a condução da humanidade ao conhecimento que
salva. (Warfield, 1972, 25, 26.)
2. Saúde e Prosperidade
Ao passarmos da questão da autoridade espiritual para as
promessas da doutrina da prosperidade, precisamos ter cuidado
com aquilo que está sendo questionado. A questão não é se Deus
responde às orações de seu povo. Adoramos e servimos a um
Deus de amor que se preocupa conosco, tanto com a alma como
com o corpo. Somos convidados a levar-lhe nossas necessidades
(1 Pe 5.7) e cremos que ele ouve nossas orações e está conosco,
na saúde ou na doença (Mt 28.20). Portanto, o que está em jogo
nesta seção não é o caráter de Deus nem o valor da oração. A
questão aqui é a validade das promessas feitas ao cristão que crê
na doutrina da prosperidade. Seria válido esperar saúde e riqueza
como parte de nossos "direitos" com Deus? Doença e pobreza
fazem parte da maldição da lei, a qual foi substituída pela bênção
de Abraão? Responderemos a essas perguntas, olhando
primeiramente para Gálatas 3 e, depois, para os textos
específicos usados para defender a idéia de saúde e riqueza.
2.1 A Bênção e a Maldição de Gálatas 3
Vimos que o fundamento exegético da teologia de Hagin
encontra-se em Gálatas 3.13, 14:
Por outro lado, a igreja não deve cair no erro de dizer que a
pobreza é boa em si mesma e que, de alguma forma, traz até nós
a graça de Deus. No passado, esse foi o erro do monasticismo, o
qual permanece entre nós até hoje na teologia da libertação. Na
cosmovisão da Bíblia nem a pobreza nem a prosperidade são
virtudes, mas, entre as duas, um acesso relativo à prosperidade
constitui o ideal bíblico. É isso que João desejou para seus
leitores de 3 João 2. A prosperidade contra a qual a Bíblia prega
é aquele acúmulo de bens que vem com a riqueza e que engana a
mente e a alma, fazendo com que se sintam auto-suficientes,
pensando que não devem nada a Deus ou aos homens. A
prosperidade é um bem, se for concebida no sentido de uma vida
ordeira e decente, sem uma preocupação excessiva com
pagamento de contas, consumo e educação, onde sobra o
necessário para ajudar o próximo.
Dar e Receber
3. A Confissão Positiva
Chegamos agora à terceira e última categoria — os métodos e as
regras da confissão positiva. No capítulo dois, vimos que as
promessas de saúde e prosperidade não são colocadas em
funcionamento de forma automática, mas recebidas somente por
meio de alguns procedimentos agrupados pela frase "confissão
positiva". Encontramos aqui os meios ou métodos pelos quais o
cristão consegue ou merece saúde e prosperidade. Eles envolvem
a afirmação dos direitos em voz alta, nunca duvidar, nunca
repetir uma oração, negar qualquer sintoma negativo, etc. O
pressuposto é que essas regras e procedimentos refletem as leis
espirituais que regem o mundo. Uma vez que descubra essas leis,
o cristão pode colocá-las em funcionamento para seu próprio
bem. Elas existem para que o homem de fé possa utilizá-las e
manipulá-las da mesma forma como usa e manipula a lei da
gravidade e da circulação do ar ao andar de avião. Empregando
uma metáfora mais comum para Hagin, é o mesmo que fazer uso
das vantagens das leis da atividade bancária quando preenchemos
um cheque.
Observe nessa citação que Hagin afirma que a oração que não foi
respondida fracassou por falta de conhecimento. As regras e
procedimentos da magia também afirmam invariavelmente que
recebemos poder mediante o conhecimento de fórmulas secretas
que invocam forças sobrenaturais.
Não adianta muito Hagin negar que o nome de Jesus atue como
magia (Nome, 37). Isso não impede que ele o trate como se fosse
algo mágico. Hagin diz que é importante orar apenas e
exatamente "em nome de Jesus", sem qualquer variação. Mas não
existe diferença lógica entre declarações como "em nome de
Jesus", "por amor de Jesus", "por Jesus" ou qualquer outra
variável. Em cada caso, a frase representa uma sinédoque, figura
de linguagem em que uma expressão mais curta é usada em lugar
de outra mais longa. A sinédoque, nesse caso, está no uso de "em
nome de Jesus" ou "por amor de Jesus" em lugar da frase mais
longa "peço que esta oração seja respondida por amor daquilo
que Jesus fez por mim e afirmo isso como um de seus
seguidores".
Segunda essa opinião, nosso Deus que cria tem uma grande
quantidade de fé, porque fé é isso: força que cria. O homem é
como Deus, ao partilhar com ele a capacidade de criar pela fé.
Portanto, a verdadeira fé é como a fé que Deus tem: poderosa,
livre de dúvidas e, por isso, capaz de trazer à existência aquilo
que deseja.
Conclusão
Os dois lados desse ensino são atraentes, mas também vão contra
a doutrina bíblica. As idéias de Hagin serão consideradas sob
quatro aspectos diferentes: primeiro, o dualismo da natureza
humana; segundo, o dualismo do conhecimento humano;
terceiro, o dualismo da redenção; e quarto, uma tendência
dualista à exaltação de Satanás. Por fim, antes de encerrar este
capítulo, veremos que resposta os ensinos da prosperidade
oferecem ao problema do mal.
1. O Dualismo do
Corpo e do Espírito
Hagin ensina que o homem é constituído de três partes: espírito,
alma (ou mente) e corpo: "O homem é um espírito — tem uma
alma — e vive num corpo" (Nome, 89). Cada uma dessas três
partes tem uma função que corresponde aos aspectos espiritual,
mental e físico da vida humana. O espírito lida com a esfera
espiritual, a alma fornece as funções mentais e o corpo provê a
corporalidade.
13
É evidente aqui a presença de mais um erro na edição em português desse livro de Hagin.
Onde se lê "corpo", leia-se "espírito" (nota do tradutor).
de Satanás, nossa abordagem em relação à cura também precisa
ser espiritual.
2. O Dualismo no Conhecimento
Conceitos hierárquicos da natureza humana são quase sempre
acompanhados por uma hierarquia equivalente no campo do
conhecimento humano, e a doutrina da prosperidade não constitui
exceção. Assim como o universo se divide em duas partes, uma
espiritual e outra física, sendo a primeira superior, também o
conhecimento apresenta a mesma divisão. Existe um
conhecimento superior, o espiritual, e outro inferior, o físico. O
primeiro é chamado de "verdade revelacional", enquanto o
inferior é chamado de "conhecimento dos sentidos" (Paz, 9).
Como o leitor poderia prever, Hagin ensina que somente o lado
espiritual do homem pode ter percepção do conhecimento mais
elevado. A mente não tem capacidade de perceber ou entender as
coisas do espírito nem qualquer outra coisa que tenha a ver com
conhecimento de revelação do mundo espiritual (Crescendo,
107).
Seu espírito sabe coisas que sua cabeça não sabe. Porque o
Espírito Santo está no seu espírito. (Dirigido, 65.)
Mas como o cristão pode saber se a voz interior que ele ouve é
verdadeiramente o Espírito de Deus? Não poderia ser aquela a
voz de sua natureza inferior e não completamente redimida?
Hagin responde, dizendo que, para o cristão, não se faz
necessária nenhuma distinção entre seu espírito e a orientação
direta do Espírito de Deus.
3. O Dualismo na Salvação
Deixamos agora as opiniões dualistas de Hagin sobre a natureza
humana e acerca do conhecimento para olharmos sua
compreensão da expiação de Cristo na cruz. Nesse ponto, em
vista de suas pressuposições dualistas, Hagin ensina de forma
coerente que, pelo fato de a natureza humana ser basicamente
espiritual, a expiação também teve um aspecto espiritual. O
sofrimento físico de Cristo podia fazer expiação por nossa
natureza física, mas nosso espírito precisava de algo mais. A
conclusão é de que Jesus morreu duas vezes, uma fisicamente e
outra espiritualmente. Afirma-se que isso aconteceu em duas
etapas. Primeira, Cristo sofreu e teve a morte física na cruz.
Então, ele desceu para o inferno, onde sofreu e morreu
espiritualmente.
Uma vez que Jesus foi feito pecado por nós, Ele teve de
pagar a pena do pecado. Ele teve de morrer espiritual e
fisicamente, o que o levou às regiões dos condenados...
Isaías 53.9 afirma: "designaram-lhe a sepultura com os
perversos... com o rico... na sua morte"... A palavra "morte"
no original hebraico está literalmente no plural. Jesus
passou por duas mortes. Ele morreu física e
espiritualmente. Ao ser feito pecado, ele foi separado de
Deus... Jesus passou três dias e três noites horríveis nas
entranhas dessa terra, readquirindo os direitos e a
autoridade dos homens, ao pagar o preço do pecado
humano. (Copeland, 1983, 35.)
Além disso, Cristo não somente morreu duas vezes, mas sua
natureza foi transformada na natureza de Satanás. Realmente
aconteceram duas transformações. A ordem é esta: primeiro,
Jesus foi para a cruz com sua natureza divina intacta. Depois, na
hora em que ele pergunta a Deus por que o havia desamparado,
ele assumiu a natureza satânica, a mesma do homem decaído. Por
fim, depois que a expiação estava encerrada tanto no aspecto
físico quanto espiritual, a natureza divina de Jesus lhe foi
restaurada. Hagin chega a essa conclusão em seus comentários
sobre Atos 13.33 e pela frase "hoje eu te gerei".
Em terceiro lugar, o uso que Hagin faz de Isaías 53.9 como prova
da morte dupla de Cristo não resiste ao escrutínio, Realmente
esse versículo traz a palavra "morte" no plural, mas uma
característica da língua hebraica é colocar no plural substantivos
que devem ser destacados. Em outras palavras, o plural "mortes"
confere intensidade à palavra. Na linguagem de hoje, diríamos
que ele "realmente" morreu (Keil & Delitzsch, 1976).
Também não faz sentido dizer que Cristo nasceu de novo para
uma nova natureza divina. Ele é o autor do novo nascimento, não
seu beneficiário (cf. Jo 1.12, 13; Gl 3.26). Ao encerrar essa
discussão, vale notar que, em cada caso, seja na natureza
humana, no conhecimento ou na expiação, o erro básico da
doutrina da prosperidade começa com sua visão dualista do
mundo. Por considerar a esfera espiritual sempre primária e mais
importante, ela procura uma realidade espiritual mais profunda
por trás de cada ensino. No caso da cruz. pressupõe-se que a
morte física não foi suficiente para fazer a expiação pela
realidade espiritual. Paulo refletiu árdua e demoradamente sobre
o evento e significado da cruz, chegando à conclusão de que não
somos salvos por meio de duas mortes, uma física e outra
espiritual, mas pelo sangue de Cristo (Cl 1.20) ou, como ele
afirma dois versículos à frente, somos salvos "no corpo da sua
carne". Embora tenhamos verificado que Hagin não gosta de ser
comparado com a Ciência Cristã, negar que o sofrimento e a
morte física foram suficientes para fazer expiação pelos nossos
pecados é ensinar a mesma coisa que ela também ensina. Nos
dois casos, trata-se da espiritualização da obra de Jesus, impondo
à Bíblia um ensino que não se encontra nem está insinuado em
suas páginas.
4. O Dualismo de Deuses
Fechamos nossa análise da cosmovisão dualista dos ensinos da
prosperidade, olhando para a tendência de enxergar Satanás
como um deus oposto e quase igual a Jeová. Hagin diz que
"Satanás é o deus deste mundo. Satanás é um deus negativo.
Tudo neste mundo é negativo" (Perdida, 55.) É claro que Hagin
não quer dizer que Satanás é um deus igual ao criador do mundo
e, por essa razão, o leitor deve notar que estamos afirmando que
a teologia da prosperidade tende apenas a enxergar Satanás como
igual a Deus. Ela realmente não ensina que seja assim.
Entretanto, essa é uma tendência forte e ocorre em dois sentidos
distintos. Primeiro, Satanás é acusado de todos os problemas,
sofrimentos e aflições na vida.
5. O Problema do Mal
Uma das questões centrais que qualquer teologia deve enfrentar é
a razão da existência do mal no mundo. Por que coisas ruins
acontecem às pessoas boas, até para cristãos que vivem no centro
da vontade de Deus? Antes de encerrar nossa análise e resposta à
teologia da prosperidade, vale a pena olhar brevemente para a
resposta oferecida por ela. De fato, não se trata de uma resposta,
mas, sim, de uma negação de que o problema surja na vida
daquele que crê. Segundo a doutrina da prosperidade, não há
razão por que o cristão não esteja sempre bem e prosperando. Ele
pode sofrer um pouco, mas isto são apenas vales entre as
montanhas de saúde e prosperidade. Aqueles que passam por
problemas e enfermidades têm somente a si para culpar: ou estão
em pecado ou desconhecem seus direitos ou não têm fé
suficiente. Portanto, o problema do mal não existe para o cristão
vitorioso que conhece seus direitos e deles se apropria. A
intenção dessa divisão é mostrar que essa resposta ao problema
do mal é totalmente inadequada, fornecendo um breve esboço da
solução tradicionalmente oferecida pelo cristianismo.
A Resposta de Agostinho
Para aquele que opta pela fé, a resposta de Camus não serve. Mas
o que o cristão tem a dizer sobre a presença de tanto sofrimento
no mundo, que parece não ter nada a ver com o pecado da pessoa
que está sofrendo? O sofrimento parece não ter propósito e
exceder a culpa daqueles que passam pelo pior, como, por
exemplo, as crianças. O problema pode ser apresentado de modo
sucinto. Como podemos acreditar num Deus que é Todo-
Poderoso e Todo-Amor, mas que também permite tanta dor e
sofrimento, principalmente no caso de pessoas inocentes? Se ele
é Todo-Poderoso, tem a capacidade de eliminar o sofrimento; se
ele é Todo-Amor, deve querer acabar com o sofrimento. Então
por que ele não faz nada? Muitos teólogos já escreveram sobre
esse assunto, e a maioria reflete variações do pensamento de
Agostinho. 14
14
No segundo século, Irineu ofereceu uma alternativa à teodicéia de Agostinho, afirmando
que Deus criou um mundo bom que continha em si um pouco de mal. O propósito disso era
edificar o caráter moral do homem, dando-lhe oportunidade na vida de escolher entre o bem
e o mal. Portanto, o mal neste mundo tem o propósito de edificar o caráter. No fim, ele terá
cumprido seu papel e todas as almas serão salvas. Essa é a resposta do que hoje chamamos
de visão liberal da Bíblia. Ela argumenta que o mal, em última análise, é algo bom, pois é o
educador da raça humana.
A resposta de Agostinho concentra-se na queda, de Gênesis 3.
Ele observa que Deus não criou o mundo com o mal nele, mas
este apareceu como resultado do pecado do homem. Ao criar o
homem, Deus o criou com a possibilidade de pecar, como
conseqüência da liberdade de escolha. Deus não podia, ao mesmo
tempo, negar a possibilidade do mal e criar o homem com livre-
arbítrio. Sem essa liberdade, o homem teria sido um autômato e
não uma criatura que poderia escolher amar e servir a Deus. Uma
vez que ele foi assim criado, o mal era uma possibilidade desde o
início e, depois da queda de Adão, tornou-se inevitável. Então, a
origem do pecado e do sofrimento está na escolha do homem no
sentido de pecar. Junto com essa opção vieram todas as
conseqüências que recaem sobre a ordem de um mundo
amaldiçoado e decaído. Desde que Agostinho a formulou, esta
tem sido a resposta conservadora tradicional.
Tal solução tem sido aceita pela igreja como a resposta teológica
básica ao problema do mal. Entretanto, para que se complete o
ensino bíblico, é necessário que seja acrescentado um elemento:
a cruz. Nela percebemos que Deus não abandonou o homem para
que este simplesmente sofresse as conseqüências de seu pecado.
Na redenção oferecida por meio de Cristo, Deus tomou sobre si o
pecado do homem e pagou o preço exigido pela justiça. O
homem não foi abandonado depois da queda. Deus participa de
seu sofrimento, providenciando a resposta definitiva para ele
(Pannenberg, 1973). Tal pensamento não é encontrado em
nenhuma outra religião. Creio que ela coloca o conceito cristão
de Deus num nível superior a qualquer outro conhecido pelo
homem. É por essa razão, pela redenção de alto preço da raça
humana, que as multidões no céu cantarão "digno e o Cordeiro"
(Ap 5.12, 13).
A resposta cristã completa para o sofrimento não é no sentido de
ignorá-lo ou de considerá-lo inaplicável. Em vez disso, ela crê
que Deus se preocupa conosco. Esta é a confissão do povo que
não vê, mas assim mesmo crê, pois, ainda que a cruz esteja no
passado, a plenitude da redenção encontra-se no futuro.
Conclusão
Tal demagogia não pode ser comparada com a Bíblia nem com a
visão protestante a respeito dela. Na espiritualidade do
protestantismo, o fiel não encontrará apóstolos dos dias de hoje
dirigindo seus seguidores com base em visões. Em vez disso, a
única fonte de autoridade e direção espiritual é a Palavra de Deus
encontrada na Bíblia, nem mais nem menos. Os reformadores
criam com firmeza que as Escrituras são suficientes em matéria
de fé como guia seguro para cada área da vida e da doutrina, e
essa convicção continua sendo fundamental para as igrejas
protestantes de hoje. É claro que isso exige que o fiel se esforce
para aprender e estudar a Bíblia. Ele precisa estudá-la por si e,
desse modo, conhecer a vontade de Deus para sua vida. Por isso
o protestantismo sempre tem dado apoio a livros e programas que
ajudem o membro da igreja a aprender sobre sua fé. Sobretudo,
ele desenvolveu uma longa tradição de estudo bíblico cuidadoso,
porque acredita que a Bíblia resistirá a qualquer escrutínio e
permanecerá para oferecer sempre novas percepções sobre Deus
e sua criação (Mt 13.52). Muitos cristãos de gerações do passado
estudaram as Escrituras com um alto grau de confiança na
inspiração e produziram teologias sintonizadas com a Bíblia e
abertas ao estudo ou questionamento de qualquer fiel.
A aceitação da Bíblia como única fonte de orientação e
autoridade também significa que não pode existir nenhum
conhecimento secreto ou mais elevado que esteja à disposição do
cristão ou de qualquer líder espiritual autonomeado. Não se
permitem revelações externas. Isso quer dizer que qualquer novo
ensino ou interpretação que surja na igreja deve passar
obrigatoriamente pelo crivo do cânon das Escrituras. Nesse
aspecto, a exemplo do apóstolo João, o protestantismo faz uso de
uma hermenêutica de suspeita com relação a novas afirmações
(cf. 1 Jo 4.1). É justamente por ser novo que é motivo de
suspeita, pois não se esperam novas revelações até que o Senhor
volte, mas admite-se que Satanás é um anjo de luz capaz de
transmitir boas novas dos mais diferentes tipos para enganar os
menos atentos.