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USO DA SHANTALA COMO TÉCNICA TERAPÊUTICA NA MELHORA DO SONO,

VARIAÇÕES DE HUMOR E CÓLICAS EM BEBÊS

1
Karine Mazon
2
Júlio César de Oliveira Araújo

RESUMO

A Shantala é uma técnica de massagem em bebês, trazida da Índia e introduzida no


Ocidente pelo Doutor Leboyer. A técnica é composta de vinte e um movimentos, e
consiste em massagear a criança nua sobre as pernas da mãe. Os principais
benefícios que esta massagem proporciona são relaxamento, alivio de cólicas, além
de provocar momentos de paz, amor e ternura, e um melhor convívio entre mãe e
filho. O presente estudo é classificado como um estudo de caso, de natureza
experimental, com o objetivo principal de utilizar a Shantala de forma terapêutica,
analisando seus efeitos sobre os aspectos físicos e comportamentais. Fez parte
desta pesquisa um bebê que na data da primeira avaliação estava com 19 dias, e na
avaliação final estava com 2 meses. Os dados eram coletados uma vez por semana
através da ficha de entrevista, e ao final do período de coleta solicitou-se à mãe que
entregasse por escrito um relato a respeito das alterações ocorridas após o início da
massagem, principalmente com relação ao sono, cólicas e variações de humor do
bebê. Por meio deste depoimento, observou-se que o bebê obteve uma melhora do
funcionamento do aparelho digestivo, na qualidade do sono e um aumento do
vínculo afetivo entre a mãe e o seu filho. Sendo assim uma técnica terapêutica
eficaz no que se refere aos aspectos físicos e comportamentais do bebê.

Palavras-chave: Shantala, Massagem.

INTRODUÇÃO

1
Acadêmica do oitavo semestre do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul),
Campus Tubarão. E-mail: catka@zipmail.com.br
2
Orientador temático. Professor Mestrando do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina
(Unisul), Campus Tubarão.
2

A Shantala é uma técnica de massagem em bebês, composta de vinte e


um movimentos, realizados no corpo nu do bebê, que fica sobre o colo da mãe. E,
além dos benefícios físicos que uma massagem proporciona, a Shantala ainda pode
provocar momentos de paz, amor e ternura, promovendo também o equilíbrio
energético entre o bebê e o universo.
O objetivo principal desta pesquisa foi utilizar a Shantala de forma
terapêutica, analisando seus efeitos sobre os aspectos físicos e comportamentais,
onde se buscou primeiro proporcionar o conhecimento e o aprendizado da técnica
pela mãe, para que então a Shantala se tornasse parte da vida dos dois, mãe e filho.
O presente estudo é classificado como um estudo de caso, de natureza
experimental, onde se pôde observar a influência da técnica de massagem Shantala
sobre o funcionamento do aparelho digestivo, a qualidade do sono do bebê e um
aumento do vínculo afetivo entre mãe e o seu filho.
A fisioterapia é uma ciência que faz arte, quando cuida do ser humano
como um todo. Em toda a nossa existência, desde o útero materno, necessitamos da
fisioterapia, seja para tratar, prevenir ou melhorar a qualidade de vida.
Na vida intra-uterina o bebê tem um ambiente de paz e segurança, onde
ele vai desenvolver todo seu corpo, e a pele é um dos primeiros órgãos a se formar.
Segundo Montagu (1988, p.21) “a pele é o mais antigo e sensível órgão, nosso
primeiro meio de comunicação, o mais eficiente protetor”.
O toque é o contato primordial entre a mãe e o bebê, quando este ainda
está no calor do útero, flutuando no líquido amniótico. O toque feito com amor é a
melhor forma de dar as boas vindas ao recém nascido, aumentando ainda mais o
vínculo afetivo entre mãe e filho, assegurando ao bebê um bem estar físico e mental.
A massagem é um recurso que se utiliza do toque para promover seus
efeitos relaxantes ou terapêuticos, nos diversos sistemas do corpo, tais como
músculos, nervos, circulação sanguínea, além de ter ligação direta com as emoções.
A Shantala é uma técnica de massagem para bebês, é uma arte milenar
que teve sua origem na Índia e foi descrita e trazida para o ocidente pelo Dr.
Frédérick Leboyer, obstetra francês, que em uma viagem à Calcutá pode observar
uma mãe massageando seu bebê. Encantado com a força do momento deu o nome
daquela mulher a seqüência de movimentos. Ela chamava-se Shantala.
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Esta técnica de massagem pode aliviar cólicas, acalmar e ajudar o bebê a


dormir melhor. Pode ainda favorecer o desenvolvimento psicomotor e emocional, já
que proporciona uma maior integração dos pais com o bebê.
Com base nestes dados, quer se investigar qual a contribuição da
Shantala como técnica terapêutica para melhorar o sono, as variações de humor e as
cólicas em um bebê?
O objetivo geral do estudo é analisar os efeitos da Shantala, em um bebê,
com idade de dezenove dias a dois meses, relacionando os aspectos físicos e
comportamentais, tendo como objetivos específicos: 1) Promover o aprendizado dos
movimentos da massagem Shantala entre os pais, principalmente a mãe, para que
esta tenha conhecimento da técnica; 2) Descrever as seqüências de movimentos da
Shantala aplicados em um bebê de dezenove dias a dois meses de idade; 3)
Verificar, através do relato da mãe, as contribuições da Shantala no que diz respeito
ao sono, variações de humor e cólicas do bebê.
Este estudo caracteriza-se como um estudo de caso, de natureza
experimental, visto que objetiva analisar os efeitos da Shantala enquanto técnica
terapêutica.
A população alvo foi composta por um bebê, que na data da primeira
avaliação estava com 19 dias, e na avaliação final estava com 2 meses. Este bebê
nasceu no dia 08 de agosto de 2002, a termo (38 semanas), pesando 3, 350 kg,
medindo 49 cm. No dia da primeira avaliação estava com 3,900 kg e 51,5 cm.
Durante a aplicação da Shantala, utilizou-se óleo mineral infantil, para um
melhor deslizamento das mãos sobre a pele do bebê, um fundo musical suave e
uma iluminação mais branda para manter o ambiente aconchegante e o manual da
Shantala3 para facilitar o aprendizado da mãe. Para a análise dos efeitos foi utilizada
uma ficha de entrevista elaborada pela pesquisadora, analisado e validado por dez
fisioterapeutas, contendo informações sobre os dados pessoais, dados físicos e
comportamentais (apêndice A). Esta ficha foi utilizada para estabelecer parâmetros
de diferenciação da evolução do bebê entre o início e o final do tratamento. Além da
ficha, foi solicitado à mãe que fizesse por escrito um relato sobre as alterações que

3
Manual da Shantala – elaborado pela pesquisadora sob a orientação dos professores Júlio César de Oliveira
Araújo, Dayane Montemezzo e Melissa Medeiros Braz, como parte do Projeto de Extensão intitulado “Shantala
Massagem para Bebês”, do Curso de Fisioterapia da Unisul.
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ela observou após o início da massagem, principalmente com relação ao sono,


cólicas e variações de humor do bebê (anexo A)
A coleta de dados foi realizada na residência do bebê, em local tranqüilo,
aquecido e arejado, onde ele se sentia mais seguro e familiarizado. No primeiro
encontro, a massagem foi realizada pela terapeuta, para que a mãe pudesse
visualizar e assimilar melhor a seqüência dos movimentos, que estavam descritas e
ilustrada no manual da Shantala. O bebê permanecia deitado, nu, sobre as pernas
da mãe, visto que, após ter aprendido, era ela quem realizava as manobras, sendo
que estas eram feitas de maneira lenta e num ritmo constante. A mãe realizava a
massagem diariamente e procurava manter sempre o mesmo horário das 16:30
horas respeitando o intervalo das mamadas. Após a realização da massagem, que
tinha duração média de 20 a 30 minutos, a mãe banhava o bebê em água morna.
O bebê foi avaliado através da ficha de entrevista, antes de iniciar a
aplicação da massagem, uma vez por semana durante o período de coleta que foi
de cinqüenta e dois dias, e ao final, totalizando oito avaliações.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Através das orientações prestadas pela pesquisadora durante os


primeiros encontros e a consulta no manual de Shantala, anteriormente citado, foi
possível promover o aprendizado correto da técnica pela mãe, assim como a sua
seqüência ideal. A mãe assimilou com facilidade as informações relativas a técnica,
tornando-se auto-suficiente na sua aplicação.
Após o término da coleta de dados foi possível observar os benefícios
que a Shantala proporcionou, tais como, redução da freqüência respiratória,
diminuição das cólicas e do choro, um sono mais tranqüilo e um aumento do vínculo
entre mãe e filha.
Os efeitos provocados pela massagem Shantala são relaxamento das
fibras musculares e redução dos reflexos tendíneos, diminuição da freqüência
respiratória e aumento da expansibilidade da caixa torácica, normalização da
produção de suco gástrico e bílis, normalização do peristaltismo (SHANTALA,
2002).
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A redução da freqüência respiratória pode ser constatada e confirmada


através da ficha de entrevista após a terceira avaliação semanal, e será melhor
exposta no gráfico abaixo. Este fenômeno só pôde ser observado a partir da terceira
semana, visto que nas primeiras o bebê ainda não estava acostumado com a
massagem e estava frio, o que fez com que ele ficasse um pouco agitado.

60 56
53 53 54

50 48
46
43 42 43 42
40 41 40 40
39 39
40
cpm

30

20

10

0
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º

Encontros

Inicial Final

Figura 1: Variações da freqüência respiratória

Com relação às cólicas a mãe relatou que: “[...] Aumentou os intervalos


das cólicas, diminuindo as crises de choro, antes não conseguia ficar mais que uma
semana sem administrar fármacos, hoje com a shantala, os remédios não fazem
mais parte da nossa rotina”.
Confirmando este relato, McClure (1996) afirma que a massagem
estimula o sistema gastrointestinal, libera a tensão acumulada e ajuda o bebê a
relaxar, diminuindo desta forma as cólicas, comum em bebês, e ajudando na
liberação de gases. Silva Filho (2001) explica que as cólicas são um acontecimento
natural, decorrentes da imaturidade do intestino do bebê e agravados pela ingestão
de ar durante a mamada. Esta imaturidade refere-se ao fenômeno adaptativo da
capacidade de contração do intestino, os chamados movimentos peristálticos. Estes
movimentos acontecem de forma pouco organizada na criança pequena, o que
pode provocar distensões localizadas e transitórias produzindo assim uma dor em
pontada ou agulhada. Por ser uma dor intensa as crianças apresentam choro
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inconsolável, com movimentos de recolhimento das pernas e contração da parede


do abdômen. Reafirmando os possíveis efeitos da Shantala, no que se refere às
cólicas, Leboyer (1998) escreve que a massagem atua na normalização dos
movimentos peristálticos, resultado da estimulação proporcionada pelo toque
ritmado sobre a barriga do bebê.
A mãe ainda relatou que “Com relação ao bebê, após a massagem ela
dorme por mais tempo e o sono é mais tranqüilo.” E com as fichas de entrevista foi
possível confirmar esse relato, visto que após a massagem o bebê geralmente
mostrava-se calmo e adormecia, com exceção das primeiras semanas, como já foi
citado anteriormente.
Domenico; Wood (1998) confirmam isso quando citam alguns dos efeitos
da massagem, tais como, aumento da circulação sanguínea e linfática; aumento do
fluxo de nutrientes; alívio da dor; aumento dos movimentos das articulações;
facilitação da atividade muscular; estimulação das funções autonômicas;
estimulação das funções viscerais; remoção de secreções pulmonares; promoção
do relaxamento geral. O ato de tocar o bebê com carinho e atenção, segundo
Bretas; Silva (1998), estabelece um canal de comunicação corporal e contribui para
um ambiente suficientemente bom, e este é absolutamente essencial para o
desenvolvimento natural do ser humano que está começando a viver, e a
massagem contribui muito para a construção deste ambiente, em que a mãe pode
se comunicar com o bebê a partir de um canal sensorial de grande amplitude.
Pôde-se constatar maior interação e afetividade entre mãe e filha durante
a aplicação da Shantala, conforme o relato da mãe que diz: “A shantala foi bastante
importante para troca de carinho entre nós. Um tempo dedicado a nós duas, com
tempo para risos, olhares, gestos de amor, além do contato físico e emocional.”
Estes aspectos salientados pela mãe do bebê podem ser confirmados por
Domenico; Wood (1998) que afirmam que a massagem ajuda a estabelecer uma
relação calorosa e positiva entre os pais e a criança, proporcionando prazer,
confiança, comunicação, relaxamento e incentivo por meio do contato com a pele,
desenvolvimento da percepção corporal e tranqüilidade. Buchabqui (apud Morés e
Langone, 2002) diz que o vínculo afetivo entre pais e filhos é um dos mais
importantes, pois possui características únicas e constitui a principal fonte de ligação
subseqüente do bebê, além de ser um relacionamento formativo no decorrer do qual
a criança desenvolve um sentido de si mesma. Bretas; Silva (1998) relatam que a
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interação mãe e bebê têm início na gestação, na vida intra-uterina e prossegue


depois do nascimento, período no qual o tato, olfato, paladar e audição formam uma
maneira de assegurar a continuidade dessa relação e este relacionamento afetuoso,
íntimo e contínuo com sua mãe é essencial para a saúde mental do bebê e para que
ambos encontrem satisfação e prazer.
Desta forma, após o relato da mãe, análise das fichas de entrevista e a
pesquisa nos estudos já realizados, pôde-se constatar a importância da Shantala na
melhora de cólicas, sono e nas variações de humor do bebê.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos objetivos propostos e resultados obtidos, juntamente com a


relação estabelecida entre a pesquisadora e a mãe do bebê, foi possível elaborar as
considerações finais deste estudo.
No que se refere aos efeitos físicos, observou-se no decorrer do trabalho,
e foi confirmado pelo relato da mãe, que melhorou a qualidade do sono do bebê,
tornando-se mais tranqüilo e profundo, e isto contribuiu para que ele se tornasse
mais alegre e feliz. Quanto às cólicas, conforme constatação da mãe, a massagem
possibilitou a abolição do uso de medicamentos, tornando-se desta forma um
instrumento para o alívio das dores do bebê, servindo assim de incentivo para ela
dar continuidade à massagem, mesmo após o término da pesquisa.
Durante a aplicação da Shantala, era nítida a aceitação da massagem por
parte do bebê, que expressava sua alegria sorrindo, e emitindo sons de satisfação,
o que, para a mãe era um momento mágico, e de grande emoção, pois via que
através de suas mãos podia passar à sua filha muito mais amor e carinho.
Desta forma, é importante enfatizar que durante o período de
desenvolvimento desta pesquisa, pôde-se perceber a importância do toque para o
ser vivo, principalmente nesta fase da vida, em que mais se precisa do contato físico
para se desenvolver. E a massagem Shantala ajuda a fortalecer o vínculo afetivo
entre mãe e filho, numa relação pura e calorosa, que vai ajudar a criança a
desenvolver a sua auto-imagem.
Esta pesquisa contribuirá como ponto de partida e de referência para
novos estudos, visto que já serviu de base para a elaboração de um projeto de
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extensão e pesquisa, servindo para despertar o interesse de outros acadêmicos e


professores do curso de fisioterapia da Unisul.

EFERÊNCIAS

BRETAS, S. R. S. ; SILVA, M. G. B. Massagem em bebês: uma abordagem


psicomotora. Temas sobre desenvolvimento [s.l.]. v.7, n.39,1998, p.24-32.

DOMENICO, G.; WOOD, E. C. Técnica de massagem de Beard. 4. ed. São Paulo:


Manole, 1998.

LEBOYER, F. Shantala: uma arte tradicional massagem para bebês. Trad. Luiz
Roberto Binati e Maria Silvia Cintra Martins. 7. ed. São Paulo: Ground, 1998.

McCLURE, V. S. Massagem infantil: um guia para pais carinhosos. Trad. Ana


Maria Sarda. Rio de Janeiro: Record, 1996.

MONTAGU, A. Tocar, O Significado Humano da Pele. São Paulo: Summus, 1988.

MORÉS, J. ; LANGONE, V. A participação da massagem shantala no rol de


cuidados com o bebê: relato de mães. 2002. 89f. Curso de Fisioterapia da
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Concórdia.

SHANTALA. São Paulo, nov. 2000. Disponível em:


<http://www.geocities.com/heartland/Acres/1110/paginasamarelas/ShantalaHP.htm>
Acesso em 20 out. 2002.

SILVA FILHO, L. V. Cólicas do lactente. São Paulo, nov. 2001. Disponível em:
<http://www.clubedobebe.com.br> Acesso em: 23 out. 2002.

ANEXO A - RELATO DA MÃE


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APÊNDICE A - FICHA DE ENTREVISTA

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