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LIVROS E DOCUMENTOS DE ARQUIVO PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO

FRANÇOISE FLIEDER
MICHEL DUCHEIN

Apresentação da tradução portuguesa


A presente tradução, da obra publicada originalmente pela UNESCO, é uma iniciativa do
Grupo de Trabalho em Preservação e Conservação da BAD e assinala o seu primeiro aniversári
o.
A falta de bibliografia em língua portuguesa faz-se sentir profundamente neste sec
tor de actividade. Não está em causa só a barreira linguística mas os aspectos que se pr
endem com a necessidade de criar e normalizar vocabulário próprio e a urgência reconhe
cida de elaborar manuais que possam ser largamente difundidos nas nossas bibliot
ecas e arquivos.
A situação em matéria de Preservação e Conservação nas bibliotecas e arquivos portugueses é a
a mal conhecida. Há a convicção de que tudo está por fazer mas, como em muitas outras área
s da biblioteconomia e da arquivística, não há dados objectivamente recolhidos. A publ
icação deste Manual tem como preocupação despertar junto dos profissionais, diariamente
em contacto com esta realidade, um maior interesse e uma curiosidade mais bem fu
ndamentada que lhes permita ganhar consciência para a dimensão do problema que têm ent
re mãos.
O Grupo de Trabalho identificou outros títulos cuja tradução se justificaria, mas as s
uas capacidades são limitadas e um plano editorial mais ousado obrigará a compromiss
os mais pesados que o Grupo ainda não teve ânimo de assumir, mas de que não desistiu.
O texto ora traduzido tem uma data, isto é, em certos aspectos está ultrapassado e d
estes o mais curioso tem a ver com o carácter de novidade atribuído a uns estudos em
curso sobre papel neutral... Como se evoluiu! No entanto, as questões gerais leva
ntadas que permanecem verdadeiras são tantas que, não temos dúvida, o saldo conseguido
é positivo. Um aspecto que não poderíamos deixar passar em claro prende-se com o própri
o suporte desta edição e mal ficaria a um Grupo desta natureza se a obra não fosse imp
ressa em papel desacidificado o que se garantiu.
Ao texto original apenas se acrescentaram algumas notas de tradução julgadas indispe
nsáveis e o Anexo v referindo as instituições portuguesas que desenvolvem trabalho na ár
ea da Preservação e Conservação.
O nosso pedido à UNESCO foi imediatamente aceite e pelas facilidades concedidas de
vemos uma palavra de agradecimento.
O outro obrigado vai para os elementos do Grupo de Trabalho que se empenharam co
m entusiasmo na tradução e na revisão científica, respectivamente Maria Manuela C. Matos
Correia, Maria Teresa do Vale de Matos e Conceição Alencoão, Luís Casanovas, Glória Estre
la e Vítor Milheirão.
Maria Luísa Cabral
Coordenadora do GT P&C
Prefácio
O presente caderno técnico é consagrado à preservação e à conservação de livros e documentos
arquivo. Trata da tecnologia dos materiais, dos diversos agentes de destruição, da i
mportância de dispor de edifícios adequados bem como métodos de protecção. Também aqui são ab
rdados os tratamentos de urgência e os princípios de restauro.
Este caderno técnico é o sexto de uma série que visa dar directrizes práticas e técnicas s
obre a conservação e o restauro de bens culturais.
Destinada a contribuir para a difusão e para a troca de conhecimentos e experiências
de especialistas, esta série dirige-se em particular aos serviços de museus e de mo
numentos cujos recursos materiais são limitados e que devem encontrar para os seus
problemas de conservação soluções à medida dos seus meios. Esperamos que os ensinamentos
contidos nestas páginas lhes sejam úteis.
Os autores, Françoise Flieder, responsável de investigação do CNRS (Centre National de R
echerche Scientifique), e Michel Duchein, inspector geral dos Arquivos de França,
são especialistas da preservação e do restauro de livros e documentos de arquivo e têm g
rande experiência neste domínio.
Os autores são responsáveis pela escolha e pela apresentação de factos que figuram neste
caderno técnico bem como pelas opiniões que são expressas, que não são necessariamente as
da UNESCO e não vinculam a Organização.

Introdução
Desde os primeiros tempos da História, o homem sentiu necessidade de registar a su
a actividade deixando, para tanto, sinais carregados de significado simbólico sobr
e superfícies virgens. Há mais de quinze mil anos que os habitantes das cavernas de
Lascaux e de Altamira descobriram o segredo dos pigmentos de origem mineral, ani
mal ou vegetal, graças aos quais uma parede rochosa ou uma omoplata de rena pode t
ornar-se suporte de uma mensagem pictórica transmissível de geração em geração.
Mais tarde, enquanto os habitantes da Mesopotâmia gravavam os seus sinais cuneifor
mes sobre as tábuas de argila, os egípcios, os hindus, os chineses, dedicam-se ao fa
brico de folhas de papiro, de fibras de palmeira e de cascas diversas, até ao perg
aminho da Ásia Menor e, mais tarde, o papel dos chineses e dos árabes, onde o junco
cortado, depositava traços de um líquido que o negro de fumo, diluído em goma e nos so
lventes, transformava em grafismos indeléveis.
Deste modo começou, nos berços da civilização que foram os vales do Nilo, do Indo e do r
io Amarelo, a grande aventura da escrita, cuja evolução prosseguiu sob os nossos olh
os com uma rapidez sem precedentes ao longo dos séculos passados.
Mas a membrana vegetal ou animal, a tinta à base de carbono ou de substância curtida
, em resumo todos os materiais aos quais o pensamento humano confia a sua sobrev
ivência, são frágeis. Multidões de inimigos surpreendem-nos, atacam os materiais de supo
rte na sua própria estrutura, ou
apenas à sua superfície, quer se trate de agentes químicos, físicos ou biológicos. As fibr
as vegetais conhecem a hidrólise da celulose, a acção corrosiva dos ácidos, as modificações
fotoquímicas devidas aos raios solares. Os insectos e Os roedores devoram as matéria
s orgânicas. O fogo destrói tudo o que é combustível. As tintas empalidecem e apagam-se,
os papéis reduzem-se a pó, os pergaminhos e os couros enrugam e rasgam-se.
As agressões do mundo moderno multiplicam os perigos a que se expõem os documentos,
no próprio momento em que as necessidades da produção de massa diminuem, em muitos cas
os, a resistência dos materiais, por consequência natural da introdução de componentes q
uímicos perigosos para a conservação.
Felizmente, as descobertas da Química e da Biologia conduziram, em contrapartida,
desde há um século a aperfeiçoamentos espectaculares nas técnicas de protecção e de tratamen
to de documentos. Seguramente os egípcios conheciam já os óleos aromáticos que afastavam
os insectos dos papiros sagrados; os monges da Idade Média transmitiam de convent
o para convento receitas para conservar a flexibilidade do pergaminho e o brilho
das miniaturas; as caixas de madeira asseguravam o isolamento das cartas contra
a humidade e os fungos. Mas não é senão no século XIX que as grandes descobertas em matér
ia de insecticidas e de fungicidas começaram a encontrar a sua aplicação prática nos arq
uivos e bibliotecas.
Hoje, o progresso da investigação científica é tão rápido que, de ano para ano, novas técnica
aparecem, são experimentados novos produtos. Institutos de investigação, em todas as
partes do mundo, consagram-se ao estudo da protecção de documentos e livros. Publicações
especializadas difundem os seus trabalhos em todas as línguas da comunidade científ
ica mundial.
Seria inútil, a menos que se tentasse uma enciclopédia internacional e pluridiscipli
nar, procurar reunir numa só obra os resultados de todas as pesquisas e de todas e
stas experiências. Porém, pareceu-nos útil, no interesse dos arquivistas e bibliotecário
s resumir os dados essenciais neste manual de formato fácil de manusear, e, espera
mos de leitura também fácil.
O principal problema que se nos punha era definir os limites do nosso empreendim
ento.
Tendo em conta as normas de extensão exigidas pela colecção na qual este livro aparece
, impuseram-se escolhas severas.
A primeira consistiu em limitar a nossa exposição aos documentos e livros escritos s
obre materiais tradicionais: papiro, pergaminho e, sobretudo, papel. Excluímos os
suportes "novos", películas fotográficas, bandas e discos magnéticos, que são sem dúvida,
cada vez mais numerosos nas bibliotecas e nos depósitos de arquivos, mas cuja cons
ervação obriga a intervenção de técnicas que só por elas merecem uma obra particular.
Pela mesma razão, não se punha a questão de expor em pormenor todos os processos de tr
atamento e de luta contra todos os elementos de destruição de documentos. Escolhemos
voluntariamente privilegiar os que fizeram prova e que são universalmente reconhe
cidos como sendo os melhores e os mais seguros.
De facto, neste domínio mais que em qualquer outro, a prudência e a modéstia impõem-se.
Foram muito numerosas as experiências desastrosas do passado, os ensaios não conclud
entes. Quer produtos, quer técnicas consideradas durante algum tempo eficazes para
a protecção de documentos revelaram-se a longo prazo ineficazes e até nocivas.
É por isso que não quisemos descrever aqui os processos de restauro de pergaminhos,
de papéis e de couros cuja complexidade exige a intervenção de especialistas qualifica
dos, à falta dos quais os remédios são muitas vezes piores que o mal; limitamo-nos a e
xpor princípios de base e a assinalar os principais perigos a evitar, com exclusão d
e qualquer "receita" específica, cuja escolha é do domínio do especialista.
As técnicas da protecção de documentos gráficos contra os seus inimigos, são, evidentement
e, universais, mas as condições climatéricas de países tropicais e subtropicais tornam a
sua utilização mais indispensável que noutro lugar em razão da agressividade particular
do ambiente. Também os problemas próprios destes climas são especialmente evocados ne
ste pequeno livro.
Apesar de tudo, as técnicas modernas, por mais perfeitas que sejam, não saberão resolv
er todos os problemas. Antes de tudo, a conservação do património escrito pressupõe o re
speito pelo documento, o cuidado no manuseamento, o rigor na aplicação de regras de
segurança. Bom senso também: evitando expor um documento de forma prolongada à luz, ef
ectuando uma limpeza frequente aos locais para eliminar as poeiras e os germes n
ocivos, fazendo circular nos depósitos um ar devidamente filtrado, faz-se já muito p
ara a salvaguarda dos arquivos e dos livros. Nenhum produto químico, nenhum dispos
itivo técnico pode por si só assegurar a bom estado dos documentos. Mas também, nenhum
processo será eficaz se não for aplicado com discernimento e prudência. Este manual t
erá atingido a sua finalidade se tiver convencido os leitores.
Tecnologia dos materiais
Toda a superfície vegetal ou animal suficientemente grande e fácil de polir pode ser
, em geral, considerada como suporte de documentos gráficos.
Desde a Antiguidade, as principais substâncias utilizadas para este fim foram a pe
dra, o bronze, a madeira, a terracota, a cera, o tecido, o papiro, as cascas de ár
vore, o couro, o pergaminho e, finalmente, o papel.
Na realidade, dado o custo, o peso e a dureza de certos materiais, empregou-se,
na Antiguidade, sobretudo o papiro, o couro, depois o pergaminho enquanto suport
e da escrita. Só muito mais tarde é que o papel é utilizado.

O Papiro e as Cascas de Árvore


A origem do suporte que é admitido nesta categoria é o Cyperus papyrus, vulgarmente
chamado papiro. É um junco de grande porte, outrora abundante no Egipto nas margen
s do Nilo, que já não se encontra hoje senão na bacia alta deste rio, na Núbia. Encontra
vam-se também, antigamente, culturas de papiro na Sicília, mas os últimos campos desap
areceram no fim do século XVI. O papiro foi explorado desde a mais alta Antiguidad
e.
Nesta época, as utilizações desta planta eram diversas (fabrico de vasos, barcas, este
iras e cordame). Mas é sobretudo pela sua utilização directa como Planta de papel que
este vegetal é conhecido.
Foi Plínio quem descreveu com mais pormenores os processos técnicos do fabrico do su
porte de escrita fabricado a partir deste junco. Cortavam-se os talos superiores
no sentido da altura. Formavam-se assim tiras que se dispunham sobre tabuinhas
humedecidas com a ajuda de água terrosa do Nilo, em que a terra servia de aglutina
nte. Colocavam-se então transversalmente, Por cima destas tiras, uma segunda camad
a de tiras, de modo a obter uma rede, Esta rede era prensada, depois seca ao sol
. Depois era só polir as folhas assim obtidas, colá-las umas às outras e juntá-las sob a
forma de um rolo designado por volumen. Obtinham-se muitas qualidades de papiro
segundo as partes de talos superiores utilizadas. O mais antigo volumen conheci
do data de 2400 a. C. Os papiros deste tipo provinham, na sua maioria, dos túmulos
egípcios; os sacerdotes tinham, de facto, o hábito de depositar, no túmulo dos mortos
, textos sagrados extraídos do Livro dos Mortos; outros eram, além disso, ornamentad
os com finas pinturas. Fechados assim ao abrigo do ar e da humidade, estes docum
entos conservam-se melhor que os outros.
As desvantagens do papiro eram o seu preço elevado e a sua fragilidade. Contudo, n
o tempo do Império Romano, em que o pergaminho tinha feito já o seu aparecimento, er
a preferido para escrever os actos oficiais. A utilização de papiro desapareceu, con
tudo, completamente, no século XII para ser substituído pelo pergaminho. Apesar da s
ua extrema fragilidade, alguns textos escritos sobre papiro conservam-se ainda n
as reservas de certas bibliotecas e arquivos, mas não representam senão uma ínfima par
te dos antigos papiros.
Foram utilizadas outras partes da árvore como suporte da escrita, tais como a casc
a das árvores de diversas espécies: tília, oliveira, bétula, palmeira. Todavia, estas su
bstâncias não podem ser usadas com frequência, devido à dificuldade do seu emprego.

O Couro e o Pergaminho

História
Nos primórdios da História, o Próximo Oriente abrigava já uma civilização técnica avançada e
scrita ia fazer o seu aparecimento. O couro foi um dos seus suportes mais antigo
s: a primeira menção de um documento escrito sobre couro data da IV dinastia egípcia (
2900-2750 a. C.). Infelizmente, poucas espécies chegaram até nós; os mais antigos docu
mentos são dois rolos de couro egípcios do II milénio a. C. e um tratado de matemáticas,
proveniente igualmente do Egipto e datando do século XVII a. C.
O fabrico do couro, conhecido desde há milénios, apareceu nas civilizações e nos sítios ma
is diversos. Deste modo, os fragmentos de couro encontrados sobre os arcos num l
ocal pré-histórico do nordeste da Europa e que o método do carbono 14 permitiu datar d
e 2690 a. C. seriam contemporâneos do documento escrito sobre couro no período da IV
dinastia egípcia.
O couro, conheceu empregos múltiplos e variados e, o curtidor deve ter exercido to
da a sua arte para responder às diferentes necessidades. Aperfeiçoou numerosas técnica
s cuja escolha judiciosa lhe permitiu obter um determinado tipo de couro. Deve t
er mesmo recorrido à produção industrial, que era a única a poder satisfazer uma procura
sempre crescente.
O pergaminho apareceu muito mais tarde e os historiadores situam em épocas diferen
tes os começos da sua utilização. Alguns autores adiantam que os Assírios, no primeiro m
ilénio a. C. sabiam já fabricá-lo, ainda que, segundo Plínio, o seu fabrico tenha sido d
escoberto no século II a. C.
A palavra "pergaminho" do latim pergamena, derivou do nome de Pergamo, cidade an
tiga da Ásia Menor. Mas pergamena só se tornou de uso corrente no século IV d. C.
Largamente utilizado pelo mundo grego e romano, o pergaminho, torna-se para os e
scribas da Idade Média o principal suporte da escrita, até à introdução do papel na Europa
desde o século X ou XI. Mas, é principalmente a partir do fim do século XIV que o per
gaminho foi pouco a pouco substituído pelo papel, de que a imprensa multiplicou as
necessidades. O pergaminho continuou, contudo, a ser utilizado para certos manu
scritos e algumas impressões de luxo, para os documentos de arquivo, os diplomas e
a encadernação.
Fabrica-se ainda nos nossos dias, se bem que o seu uso seja muito restrito. É util
izado sobretudo em restauro, algumas vezes para a encadernação e pouquíssimas vezes pa
ra a escrita. Serve também para a construção de instrumentos de música, como tambores, b
anjos e para a confecção de quebra-luzes.

Técnicas de preparação
O couro e o pergaminho são materiais completamente diferentes, ainda que provenham
ambos da derme da pele. A obtenção de um ou de outro depende de tratamentos que se
fazem à pele. Esta compõe-se de duas camadas muito diferentes: a epiderme, membrana
fina cujo constituinte químico é a queratina, e a derme (ou corium) camada mais espe
ssa que é essencialmente um tecido de fibras de colagénio, entrelaçadas. A derme repou
sa sobre o tecido subcutâneo, ou hipoderme, que a separa dos órgãos de movimento subja
centes.
O começo do fabrico, que se chama "trabalho de barrela", é comum aos dois materiais,
pois tem como finalidade reduzir a pele à derme. Primeiro é a "depilação" que desembaraça
a pele da epiderme e dos pêlos que a cobrem. A "depilação" pode fazer-se por diferent
es métodos baseados no ataque às queratinas epidérmicas poupando a integridade da derm
e:
a) a depilação bioquímica é obtida pela acção de enzimas libertos nas fermentações de substân
vegetais (cereais, folhas) ou de substâncias animais (urina, excrementos). A destr
uição de camadas de base da epiderme provoca o relaxamento dos pêlos, que serão eliminad
os facilmente por fricção. É o processo mais antigo;
b) a depilação química é provocada por alcalis (cal, cinzas de madeira e, recentemente,
sulfureto de sódio). Estes reagentes não se limitam à destruição das camadas vivas da epid
erme, atacam também as queratinas velhas que formam a parte exterior dos pêlos, e po
dem mesmo em certos casos provocar a sua dissolução. A primeira menção conhecida do empr
ego de cal para depilar uma pele figura num manuscrito do século VIII encontrado e
m Lucca, na Itália.
Depois do pêlo ter sido arrancado, retiram-se os fragmentos de carne que poderão ain
da existir - é a descarnagem. Depois as operações diferem segundo se trate de preparar
o couro ou o pergaminho.
TRANSFORMAÇÃO DA PELE EM COURO: O curtume propriamente dito é a operação que vai transform
ar a pele em couro, isto é, numa matéria que não apodreça e seja resistente à hidrólise, por
reacção química irreversível entre o colagénio e um tanino.
As matérias para curtume utilizadas são muito numerosas: podem ser de origem orgânica
(gordura, formol, taninos vegetais, taninos sintéticos) ou mineral (alúmen, crómio, fe
rro, enxofre). Esta enumeração não é exaustiva, e não compreende senão os taninos de uso cor
rente. Cada matéria tanina permite obter um couro que possui propriedades particul
ares.
O couro bruto assim obtido deve ainda sofrer uma série de operações mecânicas e químicas.
Trata-se primeiro de alimentar o couro, que consiste em incorporar neste matérias
gordas depois de ter sido humedecido. Depois da secagem, os couros são tingidos. Vêm
em seguida as diferentes operações mecânicas de superfície: acetinação, polimento, lustrage
m e granulação quando o grão não é suficiente.
TRANSFORMAÇÃO DA PELE EM PERGAMINHO: Depois de ter permanecido vários dias na cal, a p
ele é lavada e os pêlos são arrancados. É em seguida colocada num bastidor e raspada com
um cutelo especial de modo a eliminar os últimos resíduos de carne. Hoje, estas ope
rações são muitas vezes substituídas pela abertura mecânica da pele que lhe dá, desde o iníci
, uma espessura igual. A pele seca assim sob tensão: apertam-se de tempos a tempos
as cordas que a mantêm, de modo que ela fique bem esticada.
O facto de esticar a pele enquanto ela está ainda molhada modifica profundamente a
estrutura da derme. Produz-se um novo arranjo das fibras de colagénio, que se dis
põem em camadas lamelares, paralelamente à superfície da pele, no sentido das forças de
tracção exercidas sobre ela durante a secagem. O fabrico do couro, pelo contrário, não m
odifica a estrutura original da derme: as fibras entrelaçam-se como num tecido, co
mo se estivessem vivas.
A secagem do pergaminho tem, de facto, cuidados especiais. Numerosas receitas me
dievais descrevem o uso do crê, da cal ou de pastas feitas de cal ou de gesso. Est
as substâncias que têm a propriedade de absorver a humidade, têm um efeito simultâneo de
desengordurar; por causa da reacção entre os sais de cálcio que contêm e as gorduras, p
roduzem-se sabões facilmente dispersos na água. Ao mesmo tempo que a pele é seca e des
engordurada, é preciso poli-la para amaciar a superfície. A pedra-pomes, pedra vulcâni
ca muito dura, passou a ser usada recentemente. Todavia, nos países em que não era f
acilmente encontrada, foi substituída por outras pedras duras (como o Kieselgur) o
u por folhas rugosas.
O pergaminho, como o couro, pode ser fabricado de qualquer pele animal, inclusiv
e, pela humana. As peles mais correntemente utilizadas são a de cabra, a de carnei
ro e a de vitela; o velino é um pergaminho extremamente fino e liso fabricado com
pele de animal recém-nascido, a vitela, na maioria dos casos, que tem um grão muito
pouco marcado. As peles de burro, lobo, coelho, gamo, gazela podem ser igualment
e utilizadas.
Ainda que sejam ambas preparadas a partir da derme da pele, o couro e o pergamin
ho são materiais completamente diferentes, possuindo as suas características próprias.
O pergaminho, que não foi estabilizado pelo curtume, é muito higroscópico e, por este
facto, está muito sujeito às variações dimensionais. Em compensação os produtos utilizados
na altura do seu fabrico conferem-lhe uma certa reserva alcalina que lhe permite
resistir melhor que o couro à acidez que o circunda.

O Papel
História
O termo papel vem do grego ou do latim papyrus. Contudo, o papel constitui uma m
atéria completamente diferente deste último. De origem vegetal, a sua invenção data da e
ra cristã.
O papel propriamente dito é originário da China e podem ser seguidas as suas etapas
no percurso para o Ocidente.
Foi em 195 da nossa era que chineses da região de Cantão encontraram o segredo do pa
pel. Utilizavam canas, bambús, cascas de amoreira para produzir papel. Trituravam
esses materiais com água e com a ajuda de uma pedra grande; recuperavam em seguida
esta pasta sobre um crivo de bambil entrançado, enxugavam e secavam a folha assim
formada sobre uma pedra lisa, ao sol. Durante muitos séculos, a China guardou o s
egredo do papel; o seu fabrico modernizou-se com a invenção dos moinhos de papel, ma
s as matérias primitivas ficaram quase as mesmas, com a junção, contudo, de caules de
linho ou de cânhamo, ou de palha de arroz. O papel obtido era aglutinado com cola
de amido de arroz e alisado com uma pedra dura.
Os papéis chineses eram exportados para o mundo árabe, mas a transmissão do segredo de
fabrico só teve lugar em 751, quando dos ataques mongóis aos territórios orientais.
Prisioneiros chineses espalharam o segredo na Pérsia, em Samarcanda, e, desde aí, a
partir do fim do século VIII, em todo o Médio Oriente, principalmente na Síria (Damasc
o), na Mesopotâmia (Bagdade) e em todo o Islão, até ao Egipto.
O papel permaneceu desconhecido na Europa até às Cruzadas, que teve particularmente
como consequência mais notável dar o domínio do Mediterrâneo aos portos italianos e fran
ceses. O comércio fazia-se pelas cidades com os portos do Oriente. A Espanha escap
ou a este movimento comercial, mas as invasões muçulmanas trouxeram o conhecimento d
o papel a partir do século X.
O fabrico do papel na Europa surgiu em Espanha no século XI: tem-se como provável a
data de 1056 para um moinho em Xativa e a de 1085 para um moinho em Toledo.
Em Itália, os mais antigos moinhos são os de Fabriano (1276) depois os de Pádua, Trevi
so e Milão.
Em França, o fabrico de papel terá vindo de Espanha e, julga-se que os primeiros moi
nhos apareceram em Brie e em Champagne (Troyes, 1338; Essonnes, 1356).
A mesma época viu a implantação de moinhos em Liège, Bruges, Antuérpia, Mainz (1320), Nure
mberga (1390).
A indústria papeleira foi introduzida em 1494 em Inglaterra e em 1690 na Pensilvânia
(América do Norte).
Técnicas de fabrico
Até cerca de 1800, utilizava-se, para transformar o linho e o cânhamo, baterias de p
ilões que esmagavam e separavam as fibras. Estas baterias foram em seguida substit
uídas por "pilões holandeses" espécie de lâminas entrelaçadas. Foi apenas cerca de 1799 qu
e foi construída a primeira máquina para fabrico de papel de grandes dimensões. Perto
de 1840, deu-se conta de que a quantidade de trapo disponível para o fabrico de p
apel era insuficiente. Foi preciso recorrer a outras fibras tais como cordame, p
alha e até madeira. Na mesma época, graças às descobertas de Berthelot, foi possível branq
uear estas fibras novas. Chegou-se rapidamente ao fabrico do papel tal como nós o
conhecemos actualmente.
Os materiais que constituem o papel são diversos: fibras contidas nas diferentes p
astas de papel, produtos aglutinantes, cargas e, finalmente, em certos casos, co
rantes.
A degradação do papel dá-se de acordo com a sua composição. Se todas fibras vegetais, cont
endo celulose, podem, em princípio, ser empregadas para o seu fabrico, a sua resis
tência varia com a qualidade e a percentagem de celulose pura que elas contêm. Acont
ece o mesmo no que respeita à qualidade de produtos aglutinantes.

As pastas de papel
Distinguem-se: As PASTAS DE TRAPO: Estas são "pastas químicas obtidas a partir de re
síduos de têxteis vegetais". Estes têxteis são na maior parte das vezes compostos de fib
ras de algodão, linho ou cânhamo. Os papéis resultantes têm então uma celulose muito pura,
que resiste muito aos atentados do tempo. Infelizmente, o seu preço de custo é extr
emamente elevado e por conseguinte são cada vez mais substituídos por papéis fabricado
s a partir de pastas de madeira.
AS PASTAS DE MADEIRAS: Utiliza-se a madeira proveniente de várias espécies de árvores:
resinosas (pinheiro, abeto) ou folhosas (choupo, bétula, faia, castanheiro). Segu
ndo o tratamento aplicado, obtém-se diferentes tipos de pastas.
AS PASTAS MECÂNICAS: Estas são "as pastas obtidas a partir da madeira por meios unic
amente mecânicas". Preferir-se-ão madeiras finas (abeto, choupo, bétula). Em todos est
es casos, estas madeiras contém dois grupos de substâncias muito diferentes: a celul
ose, e as matérias encrustantes, compreendendo entre outras a lenhina, as matérias péc
ticas e as matérias cerosas.
No fabrico de pasta mecânica, não se procura separar estes dois grupos. É claro que um
papel assim fabricado não contendo senão 50% de celulose pura e 50% de impurezas, não
pode ter as características de duração indispensáveis para a sua boa conservação.
AS PASTAS QUÍMICAS: Estas são "pastas obtidas depois de cozimento com a ajuda de age
ntes químicos provocando a eliminação de uma parte importante de constituintes não celulós
icos do vegetal.
AS PASTAS QUÍMICAS CRUAS: São "pastas químicas que não sofreram qualquer tratamento supl
ementar de branqueamento". São superiores às pastas mecânicas mas têm o inconveniente de
ser de um tom bege-castanho que as torna inutilizáveis para o fabrico de bons papéi
s de impressão.
AS PASTAS QUÍMICAS BRANQUEADAS. São "pastas cujo branqueamento foi obtido pela elimi
nação da coloração natural por meio de produtos químicos". Estes são, em geral, o cloreto de
cálcio, o cloro gasoso e água oxigenada.
Os papéis fabricados deste modo, são muito brancos, podem, em certos casos, substitu
ir as pastas de trapo, mas sem jamais as igualar.
Excepto as fibras celulósicas, constituintes essenciais do papel, outras substâncias
entram no fabrico destes, entre elas, citemos os principais:

Produtos de colagem
A colagem torna o papel utilizável para a escrita e a impressão. A colagem com amido
ou com gelatina dos Antigos foi substituída desde o fim do séc. XVIII, pela resina,
que é ainda o procedimento mais utilizado nos nossos dias.
A resina ou pez-louro (extracto da seiva do pinheiro) no estado de emulsão na água é p
recipitada sobre as fibras pela adição de sulfato de alumínio em meio ácido. É uma boa col
agem que produz contudo um papel ácido.
Para a conservação a longo termo de arquivos, procurou-se então outras substâncias susce
ptíveis de produzir um papel neutro. Este existe desde há muito tempo nos Estados Un
idos da América e, fez recentemente a sua aparição noutros países particularmente no Rei
no Unido.

As cargas
Para melhorar a opacidade, a brancura e a estabilidade do papel, juntam-se eleme
ntos minerais. Estas são substâncias finas geralmente brancas, tais como o caolino,
o talco, o carbonato de cálcio, o sulfato de bário.

Os corantes e azuladores ópticos


Para colorir o papel, junta-se-lhe corantes ou pigmentos de cor. A fim de melhor
ar a brancura de papéis brancos, introduzem-se na pasta produtos de azulamento óptic
o, fluorescentes aos ultravioletas.
O seu emprego é formalmente desaconselhado para os papéis destinados aos arquivos, p
orque aceleram o amarelecimento.

As Tintas Manuscritas
Até ao século XIX, duas grandes categorias de tintas foram utilizadas: as tintas de
carbono e as tintas metalogálicas. Esta classificação não deve, contudo, ser tomada de m
aneira muito rígida, porque há numerosas variantes entre as duas categorias (A desig
nação "tintas ferrogálicas" e mais corrente que a de "tintas metalogálicas").

As tintas de carbono
Os mais antigos traços de tinta foram descobertos nos hipogeus egípcios, sobre papir
os escritos cerca de 2500 a. C. Não temos, é um facto, conhecimentos sobre a composição
destas tintas, mas, a partir de análises que teriam sido efectuadas no princípio do
século, pensa-se que as tintas egípcias desta época continham o negro de carbono mistu
rado com goma arábica ou mel. Na China, a invenção da tinta remontaria a um período situ
ado entre 2673 e 2597 a. C.
Do século III ao século V d. C., sempre se começou a fabricar na China (dinastias Wei
e Chin) tinta com negro de fumo produzido pela combustão da laca e da madeira de a
beto. Misturavam-se então estas partículas com um produto aglutinante que podia ser
a cola fabricada a partir do como do rinoceronte, do como de veado, da pele de b
oi, da pele de burro, ou ainda melhor da cola de peixe. Esta tinta vendia-se sob
a forma de bolas.
No Ocidente, para além dos textos de Plínio, Dioscórides e Vitrúvio, encontram-se muito
poucas referências ao fabrico de tintas de carbono. Estes três autores falam de uma
tinta feita à base de sebo.
Mais tarde, no século XI, na África do Norte, as tintas ditas da índia, de Koufa, da Pér
sia, do Irão, eram preparadas em geral a partir da combustão de substâncias vegetais,
ligadas com goma arábica, com branco de ovo ou óleos.
Em França, no século XV, serviam-se de uma suspensão de água gomada, com negro de fumo p
roveniente da combustão de velas ou de candeias. Contudo, a tinta da China era rar
a na Europa até ao século XVII.
De uma maneira geral, constata-se que, se as técnicas de fabrico de tintas variara
m pouco através dos tempos, os constituintes de base são numerosos: negro de fumo, o
btido a partir da combustão de substâncias vegetais e por vezes de gorduras animais;
aglutinante glucídico (goma, mel) proteínico (cola, branco de ovo) ou lipídico (óleo);
solvente (geralmente água). O conjunto podia ser aromatizado com cânfora, almíscar, ma
deira de sândalo, e cravinho-da-Índia.

As tintas metalogálicas
O princípio de fabrico destas tintas era já conhecido no século II antes da nossa era.
Com efeito, Fílon de Bizâncio, no seu tratado intitulado Veteres Mathematici, dava
a fórmula de uma tinta simpática (Tinta simpática, isto é, tinta incolor ao escrever-se,
mas que posteriormente se torna visível quando submetida à acção de certos agentes.), u
tilizando a mistura de noz-de-galha. e vitríolo: a escrita invisível era traçada com u
ma solução de noz-de-galha, revelada posteriormente com uma solução de vitríolo.
Muito mais tarde, nos séculos VII e VIII da nossa era, utilizaram-se tintas fabric
adas com vitríolo azul, levedura, borra de vinho, cascas de romã. De facto, é preciso
esperar pelo século XII, com a aparição da obra De diversis artibus, do monge Teófilo, p
ara encontrar a primeira receita de tinta à base de tanino e de sulfato de ferro.
Tratava-se de um cozimento, em água, de casca de madeira de castanheiro.
Na África do Norte, na mesma época, utilizava-se como tanino noz-de-galha e o vitríolo
proveniente de regiões afastadas como o Egipto, o Chipre, a Pérsia, etc...
No Ocidente, desde o século XIV, quase todas as receitas descrevem tintas metalogáli
cas.
As tintas metalogálicas são assim uma combinação de sais metálicos (sulfato de cobre ou fe
rro) e taninos vegetais (borra de vinho, casca de árvores, noz-de-galha, bolota),
um aglutinante (goma arábica, mel), um solvente (vinho, vinagre, água) e adjuvantes
diversos.
As substâncias tanantes secas e muito finamente trituradas são dispersas em água pura.
Deixa-se macerar o cozimento assim obtido durante algumas horas, a quente ou a
frio, depois junta-se uma solução diluída de sal metálico. Forma-se um complexo metalogáli
co colorido castanho que se precipita. Em contacto com o oxigénio do ar, esta colo
ração intensifica-se progressivamente até se tornar negra escura. Incorpora-se então o p
roduto aglutinante, que dá uma certa coesão ao precipitado e aumenta a viscosidade d
o meio.
Pouco a pouco, o fabrico destas tintas passou do estádio artesanal ao estádio indust
rial.
A partir do século XVIII, estabeleceram-se indústrias em Dresden, Amesterdão, Berlim,
Paris e, na primeira metade do século XIX, nos Estados Unidos.
As pesquisas sobre tintas foram aumentando, e, paralelamente, o interesse dado à s
ua qualidade declinou. Fabricou-se assim uma grande variedade de tintas cuja dur
ação diminuiu.
Assim, Leonhardi introduziu em 1856 a tinta de alisarina e cerca de 1860 aparece
ram as tintas à base de anilina. Todas eram pouco estáveis ao ar e à luz.
Cada vez mais os produtos de síntese (indigo, nigrosina, violeta de metílo) bem como
novas substâncias corantes passaram a ser utilizadas a fim de reduzir o preço de cu
sto.
Actualmente, à excepção de algumas fórmulas de tintas de carbono ainda fabricadas segund
o receitas antigas, todas as tintas manuscritas (para canetas esferográficas e de
feltro) contêm, em vez das substâncias vegetais utilizadas outrora, corantes de síntes
e. Estes produtos, cuja variedade aumentou muito rapidamente, são mal conhecidos,
devido aos segredos de fabrico. São todos muito sensíveis à luz. É esta a razão porque os
manuscritos contemporâneos se arriscam a ter uma vida muito efémera se não se tomarem
as devidas precauções.
Do mesmo modo, as tintas empregadas para as máquinas de escrever (fita de tinta e
carbono) são de tipos muito variados; no conjunto, contudo, são menos vulneráveis aos
ataques do tempo.

Agentes de deterioração
Todos os materiais orgânicos que entram na composição de documentos gráficos são extremame
nte frágeis e facilmente deterioráveis por agentes físicos, químicos e biológicos. A isto
juntam-se os perigos de inundação e de incêndio. O homem pode, igualmente, de maneira
deliberada ou consciente, estar na origem de desastres muito grandes: o roubo, a
guerra ou os tumultos, as manipulações demasiado brutais, a aplicação de técnicas de cons
ervação e de restauro não adequadas, são factores de destruição.
Devem, pois, estudar-se com minúcia, todos os problemas relativos à conservação destes d
ocumentos. Para este fim, é necessário conhecer o melhor possível os diferentes agente
s de deterioração, tal como os efeitos sobre as obras a conservar, de modo a melhor
os conseguir combater.
Distinguiremos quatro grandes classes de agentes de deterioração:
* o ambiente;
* a má qualidade dos materiais que constituem os documentos;
* os sinistros naturais;
* os danos causados pelo homem.

O Ambiente
Os documentos, se não são conservados num gás inerte (o que não pode ser senão o caso para
alguns documentos de muitíssimo valor histórico ou artístico) são submetidos a um ar am
biente que pode, em certos casos, ser-lhe nefasto e provocar fenómenos de deterior
ações físicas, químicas e biológicas. Estudaremos aqui o conjunto destes factores.

Os agentes de deterioração físico-química


As alterações provocadas por estes agentes são de três tipos: fotoquímica, hidrolítica, por
oxidação e manifestam-se muitas vezes por uma alteração de cor e uma fragilidade mais ou
menos pronunciada dos documentos alterados.
As corrosões físicas são produzidas pela luz, pelo calor, pela humidade, enquanto as c
orrosões químicas são quase exclusivamente devidas à poluição atmosférica.

A luz
A luz é formada por ondas electromagnéticas comparáveis em todos os pontos às utilizados
na transmissão de rádio ou de televisão, mas de menor comprimento de onda.
Se se utiliza como unidade de medida o nanómetro (nm), pode considerar-se que a vi
sta só é influenciada pelas radiações cujo comprimento de onda está compreendido entre 400
e 750 nm. Este campo é o das radiações visíveis. Abaixo de 400 nm, temos as radiações invisí
eis chamadas ultravioletas. Estas radiações têm uma acção fotoquímica destrutiva sobre os ma
teriais. Acima, as radiações igualmente invisíveis, chamadas infravermelhas (térmicas),
podem produzir sobre os materiais reacções químicas do tipo de oxidação.
As radiações visíveis compreendem todas as cores do arco-íris. A vista não é igualmente sensí
el a todas as cores, mas a sua sensibilidade máxima situa-se no comprimento de ond
a 550 nm no amarelo. Esta sensibilidade diminui de um e de outro lado.
O MECANISMO DE DETERIORAÇÃO FOTOQUÍMICA: Nem todos os objectos têm a mesma sensibilidade
à luz. São os materiais orgânicos que sofrem as deteriorações mais rápidas. Notemos que os
efeitos fotoquímicos da luz são agravados por um excesso de temperatura ou de humida
de. São os comprimentos de onda mais curtos que são os mais nocivos, porque são os mai
s, energéticos.
No que diz respeito ao papel, o seu constituinte essencial é a celulose. Esta é uma
macromolécula formada pela condensação de diversas moléculas de glucose. Sob o efeito de
reacções fotoquímicas, existe a despolimerização e ruptura das cadeias. Cada um dos fragm
entos, em contacto com o calor e a humidade, pode posteriormente oxidar-se e hid
rolisar-se. O papel torna-se então muito quebradiço e amarelecido.
O couro e o pergaminho são geralmente menos sensíveis ao efeito da luz.
Em compensação, as tintas metalogálicas podem desbotar em certos casos assim como algu
ns pigmentos orgânicos contidos na camada pictórica das iluminuras.
Outros factores intervêm igualmente no processo de deterioração em particular o tempo
de exposição e o nível de iluminação. De facto, se estes dois factores não podem impedir rea
cções fotoquímicas, modificam-nas consideravelmente.
As FONTES LUMINOSAS: As fontes luminosas, quer sejam naturais (Sol) ou artificia
is (lâmpadas incandescentes ou tubos fluorescentes) emitem uma irradiação que contém, além
das radiações visíveis, uma certa proporção de ultravioletas e de infravermelhos nocivos
para as matérias orgânicas.
A composição da radiação emitida por uma fonte luminosa é caracterizada pela sua temperatu
ra de cor que se numera em graus Kelvin (1ºK = 273ºC).
É a temperatura à qual se deve aquecer um "corpo negro" (Chama-se corpo negro a todo
o corpo capaz de absorver a totalidade das radiações que recebe e de as transformar
integralmente em calor.) para que emita uma irradiação da mesma cor. Podem assim cl
assificar-se as fontes luminosas em função da sua temperatura de cor.
Uma luz diz-se "quente" quando a sua temperatura de cor é baixa (igual ou inferior
a 3000W. É a temperatura da cor do vermelho e do laranja. Inversamente, as temper
aturas de cores elevadas (iguais ou superiores a 5000º K) dão uma luz "fria" que pro
duz o azul.
Todavia, duas fontes de luz que tenham a mesma temperatura de cor, não têm forçosament
e a mesma composição espectral. De facto, um objecto colo rido iluminado por duas fo
ntes luminosas da mesma temperatura de cor, Ma de energia espectral diferente, dão
uma impressão colorida diferente. A isto chama-se "a restituição de cores de uma font
e luminosa" que é uma característica muito importante.
Para uniformizar esta noção muito subjectiva, tomou-se um padrão que é utilizado para c
lassificar as fontes de luz e muito particularmente os tubos fluorescentes. Este
padrão é um branco correspondente a uma "iluminação-dia tipo". Uma fonte luminosa que t
em um índice 100 deve ter uni espectro de emissão idêntico ao da luz do dia para uma d
ada temperatura de cor.
A LUZ NATURAL: podemos distinguir a irradiação solar directa, a irradiação do céu ou abóbada
celeste e a irradiação global. Em todos os casos, sabemos; que somente 50 % dos rai
os solares atingem a superfície da Terra. As radiações de comprimentos de onda inferio
res a 300 nm são retidas pela camada de ozono, o vapor de água e as impurezas atmosfér
icas. Tomemos em atenção que a temperatura da cor pode variar de 2000ºK quando o sol s
e aproxima do horizonte para 25 000ºK num lugar não poluído e com céu azul.
A LUZ ARTIFICIAL: podemos considerar duas categorias de fontes luminosas cuja co
mposição espectral é muito diferente.
As lâmpadas incandescentes são de dois tipos:
a) as lâmpadas vulgares de filamento de tungsténio. O filamento é aquecido a 2700ºC. O
invólucro é de vidro vulgar transparente ou opaco. Estas lâmpadas emitem não só uma irradi
ação repartida nos diferentes comprimentos de onda do espectro visível, mas, além disso,
unia irradiação infravermelha importante. Pelo contrário, não difundem radiações ultraviole
tas. A sua temperatura de cor é bastante baixa 25 000K-19 000K. Esta luz é muito ric
a em radiações amarelas e vermelhas;
b) as lâmpadas "de halogénio tungsténio", ditas "lâmpadas de iodo". Estas são lâmpadas de fi
lamentos de tungsténio aquecidas a uma temperatura superior às precedentes. (Com efe
ito, uma grande parte da corrente eléctrica que passa através de uma lâmpada vulgar de
filamento é convertida em calor, e não em luz). Obtém-se, assim, um melhor rendimento
luminoso, isto é, menos potência consumida para uma mesma capacidade de iluminação. A o
peração pode fazer-se introduzindo uma pequena quantidade de iodo (ou de um outro ha
logénio) que equilibra a reacção.
Os tubos fluorescentes. O tubo está cheio de um gás tal como vapor de mercúrio ou vapo
r de azoto. A face interna do tubo está coberta de uma substância luminescente que e
mite uma luz visível quando é estimulada pelos raios ultravioletas gerados no interi
or do tubo quando se dá uma faísca eléctrica. Se os materiais luminescentes têm uma espe
ssura suficiente, os raios ultravioletas podem ser completamente absorvidos. Pel
o contrário, estas lâmpadas emitem poucas radiações infravermelhas. A sua temperatura si
tua-se entre 2700ºK e 6500ºK.
A humidade e a temperatura
Os materiais que constituem os documentos gráficos são extremamente sensíveis às variações d
e clima.
O papel, essencialmente composto por fibras celulósicas, é muito higroscópico. As suas
propriedades físicas e químicas dependem pois do teor em água da atmosfera. Acontece
o mesmo com o pergaminho.
Porém, a acção da humidade está estreitamente ligada à da temperatura, porque não é a quantid
de absoluta de vapor de água que é nefasta, mas a humidade relativa
Que se deve entender por humidade absoluta e humidade relativa? A humidade absol
uta é o peso (p) do vapor de água contido num dado volume de ar húmido a uma certa tem
peratura (tº). É expressa em g/m³.
A humidade relativa é a relação expressa em percentagem entre o peso (p) do vapor de águ
a efectivamente contido num dado volume de ar e o peso (P) máximo de vapor de água q
ue este volume poderá conter à mesma temperatura (tº).
% HR = p x 100
p
Por este facto, se se aumentar a temperatura do ar, diminui-se a quantidade que
contém e vice-versa.
Quando o ar ambiente é arrefecido a uma dada temperatura, a humidade relativa aume
nta até que se atinja uma temperatura em que a água começa a condensar-se sob a forma
de finas gotículas. Esta temperatura é designada "ponto de orvalho" (Em francês point
de rosée. (N. T.))ou temperatura de saturação em vapor de água do ar (% HR = 100).
Esta humidade exerce uma acção muito marcada sobre as propriedades químicas e físicas do
s materiais orgânicos. Favorece igualmente as deteriorações biológicas.
DETERIORAÇÕES FÍSICAS: Os materiais higroscópicos, em particular o papel e o pergaminho,
incham quando absorvem humidade e contraem-se quando a libertam. Isto leva a im
portantes modificações dimensionais: perda de elasticidade, de maleabilidade e de re
sistência. Este fenómeno é particularmente evidente no caso dos pergaminhos iluminados
; a desigualdade de tensões entre o suporte e a camada pictural leva forçosamente a
uma separação das camadas. É por isso que as variações higrométricas bruscas representam um
perigo importantíssimo.
Se é de impedir um excesso de humidade, também um ambiente muito seco é igualmente per
nicioso. Com efeito, o papel tem necessidade de um nível de humidade bastante impo
rtante (cerca de 50 %) para conservar a sua maleabilidade e a sua elasticidade:
se este nível baixa e se torna inferior a 40 % o papel e sobretudo as colas tornam
-se quebradiças e acabam por cair em pó enquanto as encadernações estalam.
DETERIORAÇÕES QUÍMICAS: Do ponto de vista químico, o calor húmido leva a uma hidrólise das m
oléculas que, por este facto, se subdividem em cadeias moleculares, mais pequenas.
Este fenómeno foi já estudado por Chapman que, em 1915, comparou o estado de uma co
lecção de livros de que uma parte tinha sido conservada nas Índias e a outra no Reino
Unido. Sobre lotes de oito obras, os exemplares conservados na índia, num clima húmi
do e quente, estavam todos atacados, ao passo que no British Museum de Londres s
eis estavam intactos, um estava picado e um outro descolorido.
As mesmas constatações foram feitas no que respeita a papéis conservados, em regiões mon
tanhosas (clima seco e frio), outros em regiões marítimas salino muito húmido). Aconte
ce o mesmo com o colagénio, constituinte essencial do couro e do pergaminho. Este é
constituído por três cadeias polipeptídicas resultantes da condensação de aminoácidos.
A humidade combinada para um excesso de acidez leva por hidrólise a cortes destas
cadeias, o que modifica a resistência mecânica e química dos materiais: há libertação de num
erosos aminoácidos.
DETERIORAÇÕES BIOLÓGICAS: A humidade e o calor são factores essenciais de germinação de espo
ros de cogumelos e de reprodução de bactérias, sempre presentes em suspensão na atmosfer
a. Basta que as condições de temperatura e de higrometria sejam favoráveis (temperatur
a superior a 22ºC, humidade relativa superior a 65 %) para que os esporos de cogum
elos, em contacto com o papel (meio de cultura extremamente nutritivo) se reprod
uzam retirando o seu alimento do suporte cuja resistência eles enfraquecem muito r
apidamente.
No seguimento dos trabalhos que realizámos, concluímos que as condições termo-higrométrica
s a respeitar variam em função dos materiais a conservar. Neste sentido, para os liv
ros e documentos de arquivos, a temperatura deve ser de WC com variação de ± lºC, com um
a humidade relativa de 55 % com variação de ± 5 %* (Trata-se de um conjunto de valores
normativos, ideais, difíceis de atingir. (N. T.))
A poluição atmosférica
O problema da deterioração das obras de arte pela poluição atmosférica não é novo: já em 1850
astlake e Faraday estudaram os meios de proteger pinturas da National Gallery. C
ontudo, com o desenvolvimento industrial e o aumento da circulação automóvel, os fenómen
os de deterioração devidos à poluição desenvolveram-se muito seriamente no decurso dos últim
os vinte anos. Com efeito, a maior parte dos agentes poluentes provêm da combustão d
o carvão e do fuel, do aquecimento doméstico, etc.
O ar viciado compõe-se normalmente de uma mistura de gás e de partículas sólidas dispers
as muito finamente. Em função do lugar e da estação do ano, esta composição pode variar enor
memente.

Os gases
A unidade de medida utilizada é u g/M3. A combustão dos produtos petrolíferos liberta
um número imenso de compostos químicos mais ou menos voláteis, tais como os ácidos e os
oxidantes. Entre os ácidos, citaremos apenas os mais corrosivos: compostos de enxo
fre, compostos azotados e cloretos.
O ANIDRIDO SULFUROSO OU DIÓXIDO DE ENXOFRE (SO²): Este gás tende a associar-se com as
partículas sólidas e líquidas em suspensão no ar, tornando-se assim um constituinte impo
rtante dos aerossóis. Uma parte é oxidada em trióxido de enxofre (SO³) que reage com o v
apor de água para formar "névoas" de ácido sulfúrico (H²SO4). Contudo, esta reacção de oxidaç
ito complexa e depende das condições meteorológicas. Todos os compostos orgânicos, em pa
rticular o papel e o couro, são muito sensíveis à acção do SO2 que provoca hidrólises ácidas
, deste modo, uma despolimerização repentina destes materiais.
OS ÓXIDOS DE AZOTO (NO): O azoto combina-se com o oxigénio a uma temperatura elevada
para dar origem a uma variedade de óxidos dos quais só dois se encontram em grande
quantidade na atmosfera: o monóxido de azoto (NO) e o dióxido de azoto (NO²). Ambos são
muito corrosivos. Em zona urbana, os dois terços destes óxidos provêm da combustão de ga
ses de escape de veículos e formam "nuvens" espessas.
OS CLORETOS: Os compostos de cloro encontram-se no estado de vestígios na atmosfer
a das cidades industriais. Em contrapartida, estão presentes em quantidade apreciáve
l nas regiões marítimas. O vento dispersa, de facto, finas partículas de chuviscos marít
imos ricos em halogeno e sobretudo em cloretos. Estas substâncias são higroscópicas e
tornam-se então muito corrosivas.
O OZONO: O ozono provém em grande parte da estratosfera (a um altura de 20 a 30 km
da Terra) pela acção dos raios ultravioletas de comprimento de onda muito curta sob
re o oxigénio (é a razão pela qual os raios ultravioletas inferiores a 300 nm não penetr
am na superfície do solo, porque são todos a[,sorvidos pelo ozono na estratosfera).
O ozono é um oxidante muito poderoso. Também a sua acção é ela própria extremamente nociva p
ara os materiais orgânicos*. (De salientar que os óxidos de azoto são directamente res
ponsáveis pela presença do ozono no ambiente urbano. (N. T.))
As partículas sólidas
Nas atmosferas industriais tal como nos aglomerados urbanos o ar está carregado de
partículas minerais e orgânicas muito finas.
Encontram-se, de facto, óxidos de ferro, sulfatos de alumínio, sílica, carbonatos de m
agnésio e uma grande quantidade de carbono, alcatrão, em que o diâmetro das partículas p
ode variar. Estes aerossóis que constituem a poeira são extremamente penetrantes. De
positam-se sobre os documentos e acabam por ter, com o tempo, uma acção destrutiva.
Com efeito, estas partículas são muitas vezes higroscópicas e ácidas; podem ser, além diss
o, catalisadores de reacção. Finalmente, a poeira, muitas vezes carregada de esporos
de cogumelos, é uma fonte constante de contaminação biológica.
Assinalamos para concluir que, se cada uma destas substâncias tem em si própria uma
acção corrosiva, este poder de deterioração é ainda maior quando todas elas se encontram p
resentes na atmosfera.
Os agentes de deterioração biológica
Entre os numerosos factores de alteração dos documentos gráficos, são certamente os micr
o-organismos e os insectos que provocam os estragos mais frequentes e os mais co
nsideráveis.
Os fungos
Os fungos são vegetais cujo aparelho vegetativo é um talo, celular ou filamentoso (m
icélio), desprovido de clorofila. Incapazes de assimilar o carbono atmosférico, vive
m quer em saprófitas, quer em parasitas, quer ainda em simbiose com outros organis
mos; contribuem deste modo para decomposição dos materiais à custa dos quais se desenv
olvem. Os fungos papirícolas atacam muito particularmente os livros antigos, as es
tampas, os pergaminhos, as encadernações.
Estes fungos, vulgarmente chamados bolores, segregam pigmentos que se difundem n
o papel deixando manchas de diferentes cores mais ou menos intensas. Mais de 600
espécies foram já reconhecidas recentemente, que se repartem assim:
Os Ascomicetas, cuja forma mais frequente é o Chaetomium;
Os Adelomicetas (Fungi imperfecti), mais particularmente representados pelo Peni
cillum, o Aspergillus e o Fusarium;
Os Basidiomicetas, mais raramente encontrados nos materiais que constituem docum
entos gráficos, à excepção da Gyrophana lacrymans, vulgarmente designada merula ou merul
a carpideira, cogumelo específico da madeira, que algumas vezes já foi isolado no pa
pel e no couro. A merula é um cogumelo resistente e muito nocivo para os materiais
em que se desenvolve; pode apresentar-se sob aspectos muito diferentes de acord
o com as condições de ventilação, de iluminação e de localização. As suas principais formas s
em uma evolução: tufos de algodão, finos filamentos enegrecidos (forma pobre) ou teia;
hastes divergentes; fios brancos, ou rizomorfos compridos e bastante espessos;
placas alaranjadas que são receptáculos férteis. É então bastante difícil de reconhecer pelo
não-especialista.
As bactérias
As bactérias têm sido igualmente isoladas nos documentos gráficos, mas menos frequente
mente que os cogumelos; é por isso que não insistiremos aqui nestes agentes de deter
ioração, de que assinalaremos simplesmente as espécies mais frequentemente encontradas
. São sempre bactérias aeróbias que pertencem às Eubactérias e às Micobactérias.
Entre as Eubactérias encontramos os Pseudomonas, os Ceulomonas, Os Bacilos (o Baff
ilus licheniformis, isolado recentemente no pergaminho, provoca manchas castanha
s e um princípio de liquefacção).
Nas Micobactérias assinalamos os Streptomyces (em particular o Streptomyces cellul
osa) e os Mixobacterianos, géneros Cytophaga e Sorangium (o Sorangium cellulosum f
orma uma geleia escura sobre o papel).
Os insectos
Os insectos que devastam os fundos das bibliotecas e arquivos são numerosos e pert
encem a diversas espécies. Citaremos aqui apenas os que se encontram mais frequent
emente ou que provocam estragos muito importantes. A sua classificação será a que se a
presenta nas páginas seguintes.
ORDEM DOS TISANUROS: Só as espécies que pertencem à família dos lepismas são prejudiciais
aos documentos de arquivos, principalmente o Lepisma Saccharina, conhecido pelo
nome de "peixe-de-prata". Os seus alimentos favoritos são a cola, o amido; atacam
sobretudo as encadernações roendo-lhes a superfície.
ORDEM DOS DICTIOPEROS: Trata-se de baratas e em particular da barata alemã (Phyllo
droffia germanica L.) e da barata oriental (Blatta orientalis L.). Estes insecto
s, que fogem da luz, pululam nas zonas sonabrias, quentes e húmidas danificando pr
incipalmente as encadernações.
ORDEM DOS ISOPTEROS: São os insectos mais temíveis para as habitações, as bibliotecas e
os museus. Conhecidos pelo nome de térmitas, proliferam nos países tropicais. Encont
ram-se duas espécies nas regiões temperadas. O Reticulitermes lucifugus Rossi mais f
requente em França, na Charante-Marítima e nas Landes, e o Calotermes flavícollis F.,
cujos estragos se verificam na Provença e principalmente em Itália.
Estes insectos vivem em sociedade; distinguem-se entre eles quatro tipos de indi
víduos: dois tipos sexuados - o rei e a rainha, responsáveis pela reprodução; o rei é semp
re único, mas a verdadeira rainha é muitas vezes substituída por várias "fêmeas de substit
uição"; e dois tipos assexuados - as obreiras, a quem incumbem os trabalhos, e os so
ldados, encarregados da defesa da colónia. O C. flavicollis F. não tem obreiras, est
as são substituídas pelas larvas e as ninfas.
Os indivíduos sexuados têm asas membranosas que caem logo após o acasalamento. O abdómen
das obreiras e dos soldados é descolorido e mole; a cabeça é amarelo-acastanhado. Os
soldados têm uma cabeça enorme (metade do comprimento total do insecto) e têm fortes m
andíbulas; são quase cegos.
O rei tem uma forma alongada. O abdómen da rainha toma a forma de uma espiral que
mede metade do comprimento do seu corpo; está cheio de ovos. As larvas são brancas,
têm uma cabeça volumosa e um corpo maciço.
Os prejuízos causados pelas térmitas são enormes sobretudo nos países quentes, mas também
nas regiões temperadas. Nas casas, os seus locais de predilecção são os madeiramentos fe
itos de todas as espécies, os soalhos, os rodapés, as molduras dos quadros, etc. Além
disso, precisam de calor e humidade. Os prejuízos causados pelas térmitas são tanto ma
is terríveis quanto elas só são descobertas no último momento, porque estes insectos esc
avam, ao abrigo da luz, profundas galerias entrecruzadas em que nada revela a su
a presença para o exterior.
ORDEM DOS PSOCOFTEROS: Entre estes, os Psoques (Tractes divinatorius), vulgarmen
te chamados "piolhos do livro", atacam particularmente a cola e as peles.
ORDEM DOS COLEOPTEROS: Comprende:
a) os Dermestidae, entre os quais o Dermestes maculatus procura especialmente o
couro e as peles;
b) os Anobiidae, que são insectos xilófagos conhecidos pelo nome de "cartinchos" dev
ido à forma dos buracos que fazem na madeira; o Anobium punctatum e o Anobium pani
ceum são as espécies mais frequentemente encontradas nos livros;
c) os Cerambucidae, ou capricórnios, que são notáveis pelo desenvolvimento importante
das suas antenas; o mais nocivo é o Hylotrypes bajulus L., vulgarmente chamado "ca
pricórnio das casas". Eles procuram sobretudo a madeira, na qual as larvas escavam
galerias profundas;
d) os Lyctidae, de que destacamos o Lyctus linearis que ataca especialmente as m
adeiras, mas pode eventualmente ocasionar estragos nos couros;
e) os Ptinidae, insectos activos durante a noite, que se alimentam de substâncias
orgânicas, em particular de plantas secas, mas também de papel, de cartão e de couro;
a espécie mais nefasta para os arquivos é o Ptinus fur.
Reconhece-se a presença de insectos nos depósitos dos arquivos por diversos indícios:
Estragos causados aos próprios documentos; galerias sinuosas feita pelos lepismas
e pelos dermestes, pequenos buracos circulares pelos carunchos, largas cavidades
escavadas pelas térmitas, e geralmente cheias de matérias orgânicas acastanhadas; Pre
sença de larvas ou de ovos no exterior dos documentos ou no interior dos maços e reg
istos; Presença de pequenos montes de serradura revelando a existência de insectos x
ilófagos ou de pequenos montes de excrementos (poeira enegrecida) sobre os documen
tos ou na sua proximidade; ou ainda, matérias orgânicas segregadas pelos insectos fo
rmando unia cola ao ponto de tornar impossível por vezes a separação das folhas; Enfim
, constata-se muitas vezes a presença de insectos vendo-os circular no depósito (bar
atas, dermestes) ou ao abrir os maços de documentos (lepismas).
Os roedores
Todos os roedores podem provocar prejuízos muito importantes nos fundos das biblio
tecas e arquivos. Em certos casos, os estragos podem atingir até 20 % dos document
os. Devoram com a mesma avidez os papéis, os couros, os pergaminhos e as colas.
Ao contrário de certos insectos que provocam alterações muitas vezes lentas e limitada
s, os roedores são capazes de deteriorar completamente um documento em muito pouco
tempo.
A Má Qualidade dos Materiais que Constituem os Documentos
O papel, outrora constituído essencialmente por fibras celulósicas de algodão ou de li
nho, resistia aos danos do tempo. Como já assinalámos mais atrás, não acontece o mesmo c
om certos papéis à base de pasta de madeira, colado com pez louro em meio ácido. Com e
feito, a acidez inicial já elevada destes papéis (pH 5-5,5) pode aumentar considerav
elmente com o envelhecimento, que conduz, como no caso da poluição, à hidrólise da celul
ose, de que advém uma despolimerização e uma perda da sua resistência mecânica.
Os couros podem deteriorar-se quando os ácidos fortes foram utilizados na operação de
extracção da cal ou quando foram empregues substâncias gordas instáveis para os alimenta
r.
Por fim, a estabilidade das tintas depende dos produtos que elas contêm. As tintas
de carbono, geralmente indeléveis, tornam-se, por vezes, pulverulentas por decomp
osição do aglutinante. Podem igualmente, lascar quando são espalhadas sobre um suporte
não absorvente, como o pergaminho, ao qual aderem mal. No que respeita às tintas me
talogálicas, à base de sulfato de ferro, podem, em contacto com a humidade, libertar
ácido sulfúrico que corrói o papel e o pergaminho e os transforma em "renda". Por out
ro lado, acontece que estas tintas desbotam e por vezes descoloram mesmo complet
amente. Este fenómeno é devido a uma decomposição parcial de substâncias próprias para curt
ir que não podem mais juntar-se às partículas metálicas que permanecem à superfície do docum
ento.
Os Sinistros de origem Natural ou de Origem Acidental
As inundações e ciclones
A água provoca muitas vezes prejuízos consideráveis nos documentos gráficos. A origem de
ste género de desastre pode ser ou natural (inundações dos rios ou ribeiras, tempestad
es e temporais) ou acidental (ruptura de canalizações, fendas no telhado, paredes ra
chadas, água utilizada durante incêndios). Em poucos minutos, dezenas de milhar de l
ivros manuscritos e maços de arquivo podem ser assim afectados.
Recordamo-nos da amplitude dos estragos causados por certos sinistros como as in
undações de Florença e de Veneza em 1966, a cheia do Tejo em Oeiras (Lisboa) que, em 1
967, submergiu a totalidade das obras de arte da Colecção Calouste Gulbenkian, ou o
famoso furacão Celia que devastou uma parte do Texas em 1970, destruindo 50 000 li
vros conservados na Biblioteca Universitária de Corpus Christi.
Salvar documentos assim submersos devido à catástrofe é uma das principais preocupações de
todos os responsáveis por colecções. Esta tarefa é difícil, porque é preciso agir com rapid
ez e sobre uma quantidade tão importante de documentos. Devem, pois, ser tomadas m
edidas preventivas.
Ventos
Em certas regiões de clima muito seco, o vento transporta partículas minerais result
antes da erosão das rochas. Algumas destas partículas, compostas de minerais muito d
uros (sílica, materiais vulcânicos) exercem sobre os documentos de arquivos e de bib
lioteca uma acção abrasiva que pode ir até ao apagamento da escrita.
O fogo
De todos os inimigos dos documentos gráficos, o fogo é, evidentemente, com a água, o m
ais espectacular; é também o mais temível, porque ameaça de destruição total, rápida e irreme
iavelmente irreversível, todos os materiais.
Infelizmente, desde há uma vintena de anos, o número de focos de incêndio não tem parado
de aumentar em função do emprego intensivo de materiais muito inflamáveis e mal ou não-
tratados. Com efeito, os materiais plásticos substituíram demasiadas vezes os materi
ais tradicionais para o arranjo dos locais. Os sacos e os envelopes em polietile
no ou mesmo em policloreto de vinilo são utilizados em substituição do papel kraft. Es
tas substâncias, se não são tornadas ignífugas são muito inflamáveis e permitem que o fogo s
e propague muito rapidamente. Além disso, os produtos de combustão são muito tóxicos par
a o homem.
Os Estragos Causados pelo Homem
Muitíssimas vezes a má vontade ou negligência do homem provoca deteriorações que podem ir
até à destruição completa dos documentos.
O vandalismo e a falta de cuidado dos leitores ou visitantes
Se os actos de vandalismo tendem a diminuir graças à vigilância dos conservadores e do
s guardas, deve-se contudo, assinalar o caso dos manuscritos com pinturas que fo
ram cortadas, de notas marginais manuscritas apagadas borracha, de páginas de livr
o e de manuscritos rasgados, folhetos mandos de gordura ou de tinta de caneta, d
e caneta de feltro ou esferográfica.
As manipulações desastrosas
Estas acontecem geralmente quando do inventário, da classificação ou da divulgação dos doc
umentos.
Entre os numerosos factos verificados no decurso de inspecções dos depósitos, assinala
mos as mais marcantes:
* A carimbagem das colecções é muitas vezes efectuada com tintas inadequadas e em sítios
mal escolhidos;
* As etiquetas (em especial as etiquetas auto-adesivas) com a cota inscrita do d
ocumento, podem em certos casos, provocar uma deterioração pontual das encadernações;
* Os livros são algumas vezes mal colocados nas estantes: os grandes formatos esma
gam os mais pequenos;
* Os documentos muito apertados correm o risco de se rasgar quando são retirados d
as prateleiras;
* Quando os maços de arquivos atados estão dispostos em pilha nas estantes, a poeira
penetra no interior dos maços; e, além disso os cordéis por vezes muito esticados ras
gam os papéis;
* As encadernações não tratadas secam, e as pastas acabam, com o tempo, por se despren
der da lombada.
* Enfim, é preciso não negligenciar a falta de cuidado de alguns guardas, que danifi
cam as obras manipulando-as com demasiada força.
Os restauros defeituosos
Não será demais insistir nas catástrofes provocadas pelos tratamentos de restauro inad
equados. A lista será demasiado longa para a indicar aqui. Contudo, o leitor encon
trará as precauções a tomar aquando de um restauro se consultar o último capítulo deste li
vro, consagrado aos "Princípios do Restauro".
Os edifícios e a protecção dos documentos
A estrutura e o equipamento dos edifícios desempenha um papel essencial na conserv
ação dos documentos de arquivos e dos livros. Com efeito, a escolha de materiais de
construção adequados é importante para assegurar a sua protecção contra os elementos clima
téricos (humidade, secura, iluminação solar), contra a poluição atmosférica, contra os insec
tos e os roedores, contra o fogo. O próprio local dos edifícios e a sua orientação devem
ser cuidadosamente escolhidos.
Por outro lado, a boa conservação dos documentos depende em grande medida dos equipa
mentos técnicos - aquecimento/climatização, luta contra incêndio.
Localização e Disposição Geral
Antes de tudo, um edifício de arquivos ou de biblioteca deve estar situado longe d
e toda a fonte de perigo permanente ou potencial. Evitar-se-á então os terrenos inun
dáveis, as zonas costeiras marítimas expostas às tempestades, as encostas susceptíveis d
e deslizes de terreno. Evitar-se-á também a vizinhança de fábricas de químicos, de centros
nucleares, de depósitos de materiais inflamáveis ou explosivos, de objectivos milit
ares.
Terrenos húmidos
Quando o terreno é húmido (zonas baixas, proximidade de uma ribeira ou de um lago, e
tc.) deve ter-se um cuidado particular com o controlo das infiltrações de humidade.
Uma excelente solução consiste em isolar o edifício do solo por meio de estacaria em b
etão; esta estacaria constitui também uma boa protecção contra as térmitas (na condição de as
envolver num fosso com redes verticais) e contra os roedores. Unia outra solução é a c
onstrução de um revestimento de protecção contra a acção das águas, impermeável, sobre o qual
senta o conjunto do edifício. os materiais de construção devem ser escolhidos pelas su
as qualidades higroscópicas. Existem cimentos especiais com forte capacidade de ab
sorção de humidade. O tijolo é também um material muito isolante.
Zonas altamente sísmicas
Nas zonas expostas a graves riscos de tremores de terra, as construções de depósitos d
e arquivos e de bibliotecas devem obrigatoriamente estar em conformidade com as
normas anti-sísmicas; estrutura de betão armado de muita boa qualidade, prumos horiz
ontais e verticais, lajes reforçadas e juntas que assegurem a coesão entre as difere
ntes partes do edifício, limitação do alcance das vigas e tectos entre os suportes ver
ticais. Recomenda-se que, nestas zonas, não se construam os depósitos de arquivos e
bibliotecas em altura, mas que se construam edifícios que não ultrapassem dois ou três
andares.
Zonas de ciclone
Nas zonas expostas aos ciclones tropicais, os edifícios devem ser cobertos de laje
s de betão anticiclones, e todas as aberturas (portas e janelas) devem estar munid
as de dispositivos de fecho impermeável para impedir a infiltração das águas da chuva. A
construção sobre estacaria é particularmente recomendada. As armações dos telhados devem
estar ancoradas sobre as paredes para evitar que o vento as levante.
Protecção contra os ventos dominantes e a chuva
Para proteger os edifícios contra a humidade, os chuviscos das ondas, a poeira ou
a areia que os ventos dominantes transportam (de acordo com o país) evitar-se-á colo
car janelas nas paredes do lado donde estes ventos sopram. Tanto quanto possível,
escolher-se-ão terrenos abrigados, principalmente junto ao mar, pelo perigo que o
ar salgado representa para os documentos de arquivos e livros.
As aberturas serão protegidas por cortinas e estores. Nos países sujeitos a precipit
ações violentas, as armações dos telhados devem ter grande declive, com um rebordo sufic
iente para evitar o jorro de águas nas paredes. Como se trata muitas vezes também de
zonas de ciclones, observar-se-á as regras anticiclónicas que dizem respeito às armações
de telhado sobre as paredes.
O escoamento de águas da chuva deve ser assegurado por numerosos tubos de queda, d
e que se cuidará evitar a obstrução.
Deve reservar-se um espaço de arejamento entre o telhado e o tecto do nível superior
do edifício. Todos os materiais de construção e de revestimento serão especialmente esc
olhidos em função da sua impermeabilidade e da sua resistência à humidade.
Edifícios à superfície ou edifícios subterrâneos?
Desde há longo tempo, mantém-se a ideia de construir depósitos de arquivos e de biblio
tecas subterrâneos, para os proteger contra os riscos de explosão e incêndio.
Em particular, esta fórmula de edifícios subterrâneos é considerada como a única que garan
te uma segurança perfeita contra os riscos de guerra (nuclear ou convencional). É po
r esta razão que o depósito de microfilmes da Sociedade Genealógica de Salt Lake City
(Utah, Estados Unidos da América) ocupa galerias subterrâneas nas Montanhas Rochosas
.
É exacto que a protecção contra os riscos de guerra é assim garantida ao máximo, mas devem
considerar-se outros inconvenientes, que dizem respeito aos riscos de infiltração d
e água nas paredes rochosas e à circulação do ar. Quando o edifício subterrâneo é feito na ro
ha, no ventre da montanha ou no solo de uma planície, devem ser asseguradas uma cl
imatização e uma ventilação perfeitas, na falta das quais a atmosfera do subterrâneo se to
rna húmida e estagnada, o que provoca o desenvolvimento de fungos.
Se o terreno é húmido e movediço, é particularmente indispensável isolar a parte subterrânea
por meio de um revestimento de protecção contra a acção das águas em betão hidrófugo. O peso
das estantes carregadas de documentos põe então um problema para o equilíbrio deste re
vestimento, o qual é necessário fazer assentar sobre pilares rígidos enterrados até à roch
a.
Estes processos de construção são dispendiosos e a manutenção dos sistemas de climatização e
e ventilação é delicada, sobretudo nos países fracamente industrializados. Por todas est
as razões, a construção de depósitos subterrâneos não é recomendável, como regra geral. Ela s
justifica: para conservar documentos excepcionalmente preciosos; para economizar
a superfície do terreno (no coração das cidades, por exemplo); para conservar os docu
mentos nas zonas de alto risco em tempo de guerra (proximidade de objectivos mil
itares, por exemplo).
Materiais de construção
Os materiais escolhidos para a construção de edifícios de arquivos e de bibliotecas de
vem garantir a protecção máxima dos documentos e dos livros contra o fogo, a humidade,
o frio, o calor, a secura.
Devem então ser incombustíveis e conformes às normas de segurança para a resistência ao fo
go, e oferecer também o melhor isolamento térmico e higrométrico, tanto para as parede
s como para as armações dos telhados.
As paredes envidraçadas ainda que tratadas com filtros de raios solares são de banir
completamente. Seria em vão procurar garantir uma boa climatização de depósitos se as p
aredes e as armações dos telhados deixarem passar o calor, o frio e a humidade do ex
terior. (Cada zona climática tem as suas próprias exigências em matéria de construção, e não
ossível desenvolver este assunto no quadro restrito do presente manual.)
Altura dos edifícios
Nas grandes cidades, onde o terreno é muitíssimo caro, tem-se muitas vezes tendência d
e elevar os edifícios de arquivos e bibliotecas até às grandes alturas (80 metros para
os Archives de la Seine-Maritime em Rouão, França).
Do ponto de vista da segurança, esta fórmula não é condenável, na condição de que as ligações
icais (escadas, ascensores, escadas de salvação) estejam conformes às normas em vigor
para os imóveis de grande altura. Por outro lado, do ponto de vista da comodidade
de utilização, evita os longos trajectos interiores que implica, para um edifício de g
randes dimensões, a disposição habitual em comprimento.
Todavia, quando se constrói em altura, o custo das fundações e da estrutura do edifício é
muito mais elevado. Além do mais, esta fórmula é de rejeitar nas zonas de forte tendênci
a sísmica, em razão dos riscos de desmoronamento por motivo de tremores de terra.
Plano de conjunto dos edifícios
Um edifício de arquivos ou de biblioteca não compreende somente locais destinados à co
nservação dos documentos e dos livros (depósitos), compreende também locais de trabalho
reservados ao pessoal (salas de classificação e de catalogação, oficinas de encadernação e d
e restauro, gabinetes de administração, etc.) e ao público (salas de leitura, salas de
exposições e de conferências, etc.)
Ora as características arquitecturais e climatológicas destas duas categorias de loc
ais - depósitos e lugares de trabalho - são totalmente diferentes. É, pois, necessário g
arantir a sua coexistência e ao mesmo tempo a sua especificidade no interior de um
mesmo conjunto arquitectural.
A separação entre os locais de trabalho e os depósitos pode ser realizada pela sua jus
taposição horizontal: de um lado o "bloco depósito", do outro os locais de trabalho, s
eparados quer por um espaço vazio com uma galeria de circulação, quer por uma parede c
orta-fogo. (Uma parede corta-fogo é uma parede de uma espessura de pelo menos 30 c
m em alvenaria, 22 cm em tijolo ou 18 cm em betão armado, e cujas aberturas têm uma
superfície inferior a 9 m² e são munidas de portas em materiais incombustíveis com alisa
res em materiais resistentes ao fogo.)
Nos outros casos, os locais de trabalho são colocados por baixo dos depósitos, mas o
s arquitectos contemporâneos têm cada vez mais tendência a colocá-los por cima destes, i
sto é, no cimo dos edifícios. Esta disposição tem a dupla vantagem de situar muito em ci
ma a parte mais leve do edifício (gabinetes) e garantir aos locais de trabalho uma
localização mais agradável, longe da circulação automóvel e do barulho da rua.
Em todas as circunstâncias, os locais de trabalho devem dispor de uma circulação verti
cal (escadas e ascensores) independente da dos depósitos e das saídas de emergência co
nformes às normas de segurança.
Normas Dimensionais, Estrutura, Estantes
Normas dimensionais
Os locais de trabalho dos serviços de arquivos ou de biblioteca não apresentam nenhu
ma característica arquitectural diferente da dos locais administrativos em geral.
A altura sob o tecto está conforme às normas habituais (geralmente de 3 m a 3,50 m):
é desejável uma maior altura para as salas de leitura, de exposição e de conferências des
tinadas a receber um público numeroso.
Em compensação, os depósitos dos arquivos e das bibliotecas são estritamente normalizado
s em função das necessidades da conservação e da segurança dos documentos e dos livros . A
altura das estantes está limitada a 2,20 m para permitir o acesso às prateleiras su
periores, sem recurso a escadote.(Por esta razão, os andares dos depósitos dos arqui
vos e das bibliotecas são em geral reduzidos a um pé direito de 2,30 ou 2,40 m deixa
ndo precisamente o espaço necessário, por cima das estantes para a passagem das cond
utas de ventilação e de climatização, e dos cabos eléctricos.) A largura dos corredores de
circulação entre as fileiras paralelas de estantes está fixada em 0,80 m. Com as esta
ntes de 2,20 m de altura e os corredores de circulação de 0,80 m de largura, a capac
idade de uma sala de 170 m² é em média de 1000 m de estantes.
As estantes e a estrutura do edifício
Em geral, nos edifícios dos arquivos e das bibliotecas modernas as estantes são metáli
cas. (A norma mais corrente é a folha de aço de 1 mm de espessura tratada contra a f
errugem e revestida de pintura de esmalte cozida ao forno.) As estantes de madei
ra, correntes nos edifícios antigos, foram durante muito tempo proibidas devido às s
uas propriedades inflamáveis e à sua vulnerabilidade aos insectos. Entretanto, as técn
icas modernas permitem torná-las praticamente incombustíveis recorrendo a um tratame
nto dito de "ignifugação" sendo também tratadas com produtos insecticidas. Mediante es
ta dupla precaução, têm a vantagem de evitar a condensação sendo um factor apreciável de reg
ulação higrométrica.
A fim de permitir a deslocação das prateleiras em altura, os prumos verticais das es
tantes devem estar munidos de orifícios (entalhes) ou de cremalheiras, onde assent
am as prateleiras ou os suportes que sustêm as prateleiras. Os sistemas de suspensão
por pernos e porcas de parafuso são de proibir devido à sua falta de comodidade e a
os riscos de rotura em que incorrem os livros e os documentos de arquivo.
As estantes são quase sempre dispostas em fileiras paralelas sem direito, nem aves
so. Para permitir uma boa circulação de ar, recomenda-se evitar as estantes com fund
os chapeados; um simples sistema de barras metálicas é preferível.
Devido ao peso dos documentos, cada prateleira de 1 m de comprimento deve suport
ar uma carga até 100 kg.
Estantes autoportadoras
Existe um sistema de estantes cujas peças metálicas verticais suportam ao mesmo temp
o as passadeiras de circulação sobre os vários níveis; estas são as estantes "autoportador
as". Este sistema tem a vantagem de ser pouco dispendioso e de construção rápida, mas
os serviços de segurança são-lhe hostis devido aos riscos de desmoronamento da estrutu
ra metálica em caso de incêndio. Por isso, há mais de uma dezena de anos, na maior par
te dos países, o sistema autoportador não está autorizado, senão para uma pequena altura
(dois ou três níveis no máximo). Deve ser absolutamente proibido nas zonas de alto ri
sco de tremores de terra.
A estrutura habitual dos depósitos dos arquivos ou das bibliotecas é, portanto, a es
trutura em barrotes de madeira e vigas de betão armado. Devido ao peso das estante
s e dos documentos, os soalhos devem poder suportar uma carga de 1000 kg/m².
Estantes móveis
Finalmente, é preciso assinalar a existência do sistema de estantes "móveis" ( Diz-se
também estantes densas ou compactas) armadas sobre carris no solo ou suspensas de
carris aéreos, ou ainda girando sobre eixos que permitem economizar a superfície dos
depósitos colocando as fileiras das estantes umas contra as outras.
Contudo, estes sistemas têm inconvenientes:
* São muito caros (aproximadamente duas vezes mais caros que as estantes tradicio
nais não-móveis);
* Fazem com que o chão tenha de suportar o dobro da carga das estantes não-móveis (até
2000 kg/m²);
* São bastante frágeis e requerem ser manobradas com o maior cuidado;
* Se são movidas por um motor eléctrico ou pneumático, a manutenção deste motor é bastante d
elicada;
* Quase não deixam circular o ar no interior entre as fileiras das estantes.
Por todas estas razões, as estantes móveis são desaconselhadas nos países fracamente ind
ustrializados e nas zonas de clima quente e húmido, onde a ventilação das estantes é ess
encial.
Em contrapartida, oferecem uma boa protecção contra o fogo devido à sua compacidade.
Utilização de Edifícios Antigos
Nem sempre é possível, senão por razões económicas, construir um edifício novo especialmente
destinado à conservação dos documentos de arquivo e dos livros. Muitas vezes é-se obrig
ado a utilizar todo ou parte de um edifício já existente e concebido, na origem, par
a outros fins.
Em casos semelhantes, as normas acima enunciadas a propósito do local permanecem vál
idas; é preciso evitar utilizar edifícios situados junto de uma vizinhança perigosa ou
sobre um terreno inundável ou resvaladiço.
Do mesmo modo, as regras de segurança relativas aos incêndios devem ser respeitadas:
paredes corta-fogo, materiais incombustíveis.
A principal dificuldade, quando se trata de adaptar um edifício antigo às necessidad
es de conservação dos livros e dos documentos de arquivo, reside na carga que os soa
lhos podem suportar (peso de 1000 kg/m²). Raros são os edifícios que no seu estado de
origem têm sobrados suficientemente sólidos para uma tal carga. Portanto, é quase semp
re necessário reforçar os sobrados por meio de vigas metálicas especiais, ou melhor ai
nda, de os demolir e de os substituir por sobrados em betão armado capazes de supo
rtar o peso das estantes carregadas. A esta última operação (que apenas conserva do ed
ifício original as paredes mestras) chama-se curetage. (Curetagem, termo empregado
na cirurgia. É uma operação que consiste em remover com uma cureta corpos estranhos e
produtos de deterioração. (N. T.)). É tecnicamente possível, mas em geral bastante disp
endiosa; por isso, está sobretudo reservada aos edifícios de certo interesse arquite
ctónico dos quais se pretende conservar a fachada sacrificando o interior.
Contudo, alguns edifícios prestam-se facilmente à sua transformação em depósitos de arquiv
os ou de bibliotecas: é o caso dos edifícios que apresentam um grande volume interio
r, desprovido de paredes e de andares, por exemplo as igrejas e as capelas, os e
ntrepostos industriais ou comerciais, as entradas das fábricas, os mercados cobert
os. Em casos semelhantes constrói-se uma estrutura de betão armado no interior do ed
ifício existente (ou uma estrutura metálica de estantes autoportadoras se a altura não
ultrapassar 6 ou 7 metros) e age-se em seguida como se se tratasse de um edifício
novo,
Pode, também, utilizar-se sem dificuldades os edifícios industriais ou comerciais co
ncebidos desde a origem, para suportar grandes cargas como o antigo Mercado Cent
ral de Buenos Aires, onde está em estudo a instalação dos Arquivos Nacionais da Repúblic
a Argentina.
Em compensação, é preciso evitar os edifícios que possuem numerosas paredes interiores q
ue impedem de realizar uma implantação racional das estantes, a menos que não se utili
zem estas pequenas salas senão para fazer as "células" à prova de fogo (como, por exem
plo, nos novos arquivos nacionais do México, antiga prisão central do México). Neste c
aso é a ventilação que constitui a principal dificuldade.
Protecção Contra a Luz
Princípios gerais
Os efeitos nocivos da luz sobre os documentos foram assinalados mais acima, no c
apítulo intitulado: "Agentes de deterioração". Para os evitar, a composição espectral (eli
minação dos raios ultravioletas e redução máxima dos infravermelhos) será tomada em consider
ação, depois da redução da intensidade da iluminação e da duração da exposição dos documentos
problema põe-se evidentemente de maneira diferente nos depósitos de conservação e nas s
alas de leitura e de exposições.
Protecção contra a luz natural
Os depósitos
Para proteger os documentos contra a luz solar nos depósitos, construíram-se, desde
há muito, edifícios cujas áreas ocupadas por janelas são reduzidas, ou que são mesmo intei
ramente desprovidos de janelas.
Esta última solução apresenta, todavia, inconvenientes reais porque obriga a utilizar
permanentemente a luz eléctrica nos depósitos (o que representa uma fonte de despesa
s e de consumo de energia).
Os depósitos sem luz natural devem estar, obrigatoriamente, munidos pelo menos de
um sistema de ventilação artificial, para evitar a estagnação do ar, que favorece o dese
nvolvimento de fungos; exigem, quase sistematicamente, ar condicionado, a fim de
manter as condições adequadas de temperatura e de higrometria (sobre este ponto rem
etemos para o que foi dito a propósito das construções subterrâneas).
De preferência a suprimir completamente as superfícies envidraçadas é, pois, conveniente
reduzi-las. Nos países moderadamente soalheiros, a melhor solução consiste em evitar
as janelas nas fachadas dos depósitos expostas a sul (no hemisfério Norte) ou a nort
e (no hemisfério Sul); as superfícies envidraçadas não devem ultrapassar 1/10 das fachad
as expostas a leste e a oeste e 3/10 das fachadas expostas a norte (hemisfério Nor
te) ou a sul (hemisfério Sul). Nos países muito soalheiros, onde os raios ultraviole
tas são particularmente nocivos, estas proporções devem ser reduzidas para metade.
As superfícies envidraçadas devem também, se ultrapassarem as dimensões acima indicadas,
estar munidas de dispositivos de protecção contra a exposição directa aos raios solares
: telheiros, claustros, guarda-sóis.
Quando se utiliza um edifício antigo cujas superfícies envidraçadas são demasiado grande
s, é necessário ocultar a maior parte das aberturas com postigos metálicos ou com cort
inas opacas, ou melhor ainda, com paredes de alvenaria ou com painéis de fibro-cim
ento.
Para diminuir os raios ultravioletas e infravermelhos, pode-se equipar as janela
s com vidros filtrantes ou com filtros (estes filtros oferecem, no entanto, uma
duração limitada. (N. T.)), comercializados sob diferentes formas. Os vidros tratado
s são, contudo, mais caros e dão resultados variáveis consoante as marcas.
Quaisquer que sejam as precauções tomadas para limitar a entrada da luz solar nos de
pósitos dos arquivos e das bibliotecas, estas medidas devem ser completadas pela p
rotecção individual dos documentos de arquivo (postos em maço e em pastas) e pela disp
osição das estantes, que devem ser perpendiculares às superfícies envidraçadas, de maneira
que os raios solares nunca batam directamente nos documentos.
As superfícies envidraçadas, quaisquer que sejam as suas dimensões, devem igualmente s
er protegidas contra os riscos de quebra e de arrombamento: barras ou grades serão
colocadas no rés-do-chão e nos andares inferiores.
Os locais de trabalho e de exposição
Não se trata de suprimir totalmente a luz do dia nos locais de trabalho e de leitu
ra. Contudo é preciso evitar a exposição directa aos raios solares, por meio de estore
s, cortinas, etc., colocadas no exterior para eliminar o efeito de estufa.
Em compensação, as salas de exposição podem ser concebidas sem iluminação natural, o que tem
, além disso, a vantagem de criar mais espaço nas paredes. No caso das salas de expo
sição munidas de janelas, estas devem ser cuidadosamente tapadas durante as exposições.
O tempo de exposição dos documentos deve ser limitado ao mínimo, porque está provado que
os prejuízos causados aos documentos são os mesmos, quer para uma curta exposição a uma
fonte luminosa de forte intensidade, quer para uma longa exposição a uma fonte lumi
nosa de baixa intensidade. Terá, portanto, interesse em praticar-se uma rotação dos do
cumentos por ocasião das exposições de longa duração e em voltar regularmente as páginas dos
livros e manuscritos expostos.
Protecção contra a luz artificial
Tudo o que segue aplica-se, particularmente, às salas de leitura e de exposição, onde
os livros e documentos estão mais expostos à luz artificial.
A composição espectral
Os raios ultravioletas e infravermelhos, imperceptíveis à vista, não contribuem de mod
o nenhum para uma melhor visualização do objecto. É preciso, portanto, eliminá-los. Toda
via, é necessário manter uma boa restituição de cores, o que requer uma iluminação contendo
todos os comprimentos de onda de luz visível.
Se se precisar de recorrer às lâmpadas incandescentes, utilizar-se-ão filtros que elim
inarão todos os infravermelhos.
Para os tubos fluorescentes, usar-se-ão tubos que contenham materiais luminescente
s apropriados, que melhoram o espectro das cores favorecendo, especialmente, as
cores quentes mais sensíveis à vista. Além de que, ao aumentar a quantidade destes mat
eriais luminescentes dispostos sobre a parede interna do tubo, eliminam-se, prat
icamente, todos os raios ultravioletas. As casas Philips e Mazda vendem tubos fl
uorescentes "de duas camas": tubos P27 e P37 para a Philips; Blanc-Confort CL, p
ara a Mazda. As duas primeiras têm uma temperatura de cor de 2700º a 3700ºK e o tercei
ro de 2700ºK (As referências actuais dos fabricantes citados já não são as indicadas haven
do equivalência praticamente em todas as marcas. (N. T.)). Estes três tubos não emitem
mais ultravioletas do que as lâmpadas incandescentes. Para um melhor resultado de
cores, dar-se-á preferência ao tubo cuja temperatura de cor for a mais elevada, ou
seja o P37.
Sobre os outros tubos, devem igualmente utilizar-se filtros em matéria plástica cont
endo compostos orgânicos capazes de absorver os ultravioletas.
A intensidade da iluminação
Se a distribuição espectral é muito importante, a intensidade luminosa à qual as obras são
expostas deve, igualmente, ser cuidadosamente estudada. É preciso que a iluminação se
ja suficiente para que o visitante possa ver bem estas obras, mas para isso não é ne
cessário iluminá-las, porque se arrisca então a deteriorar os documentos e a fatigar a
vista do visitante.
Ficou estabelecido que uma iluminação de 150 lux é aceitável tanto para os objectos comu
ns como para as encadernações em pergaminho não decoradas, mas que para os objectos se
nsíveis (aguarelas, pastéis, documentos com iluminuras) é preciso baixar o nível da ilum
inação para os 50 lux. Este nível de iluminação, que pode parecer a priori muito baixo, é to
talmente suficiente na medida em que se terá preparado a vista dispondo entre o ex
terior e a sala de exposição um filtro em que o nível de iluminação se situará à volta de 100
a 150 lux.
Portanto, é primordial medir a iluminação de uma sala de exposição. Isso faz-se com um fotóm
etro ou com um luxímetro, que não mede a energia directa, mas a que é distinguida pela
vista. Estes aparelhos devem ser suficientemente sensíveis para permitir medir os
níveis de iluminação inferiores a 50 lux.
É, igualmente, conveniente medir a energia ultravioleta emitida por uma lâmpada; par
a isso, é preciso utilizar um aparelho especialmente concebido para este efeito (Há
actualmente no mercado um aparelho que permite determinar a percentagem de LTV d
e uma fonte luminosa. Trata-se do monitor Crawford fabricado pela Littlemore de
Oxford (Reino Unido). (N. T.). Em compensação, não existe nenhum aparelho para medir a
s energias infravermelhas; estes raios têm como efeito aumentar a temperatura da s
uperfície dos objectos iluminados e é mais fácil medir esta temperatura com a ajuda de
uma sonda ou de um termómetro para infravermelhos (O efeito de aquecimento não é perc
eptível se forem respeitados os níveis de iluminação recomendados. (N. T.)).
Protecção Contra a Temperatura e a Humidade
Protecção arquitectónica
Já fizemos alusão várias vezes, nas partes antecedentes a este capítulo, às medidas arquit
ectónicas de protecção contra a humidade e variações de temperatura.
As precauções essenciais dizem respeito à escolha dos materiais de construção e de revesti
mento, assim como à qualidade das fundações e à drenagem do terreno.
Nas regiões muito húmidas, as paredes exteriores de parede dupla, com uma caixa de a
r intermédia entre elas, constituem ao mesmo tempo um isolamento muito eficaz cont
ra o escoamento das águas e contra as variações de temperatura. A presença de um espaço va
zio entre o telhado e o tecto das salas do último andar é rigorosamente indispensável
para assegurar um bom isolamento térmico.
Nas regiões muito quentes, uma camada de lã de vidro posta por baixo do telhado asse
gura igualmente um isolamento térmico eficaz.
Medida da humidade e da temperatura
Qualquer que seja o clima e quaisquer que sejam as precauções tomadas sobre o plano
arquitectónico, é conveniente conhecer bem as condições climáticas que imperam nos locais
de conservação. Para isso, é necessário medir a temperatura e a humidade relativa da atm
osfera durante um período longo, com o auxílio de diferentes aparelhos dispostos em
sítios criteriosamente escolhidos. É devido ao estudo do conjunto destes dados que s
e poderá fazer uma ideia muito precisa das condições climáticas reais de um local ao lon
go de todo um ano.
Pode medir-se a humidade relativa de diversas maneiras, consoante se deseje faze
r uma medida pontual mim determinado momento ou uma medida registada, continuame
nte, ao longo do ano.
Descreveremos aqui apenas os sistemas mais frequentemente utilizados.
Os psicrómetros
São aparelhos que não precisam de aferimento preliminar e que permitem uma medida po
ntual num dado momento. São constituídos por dois termómetros: um termómetro seco que me
de a temperatura ambiente e um outro humedecido por um invólucro em algodão embebido
em água disposto à volta do bolbo. A água evapora-se deste invólucro a uma velocidade q
ue depende da secura do ar ambiente. Há, por consequência, diminuição da temperatura do
termómetro húmido. Numa atmosfera saturada, não haverá evaporação e os dois termómetros indic
rão portanto o mesmo valor.
Para que a medida seja exacta, é necessário agitar o ar limítrofe aos dois termómetros.
Com os psicrómetros de mulinete (ou de funda) obtém-se esse efeito fazendo girar o i
nstrumento à volta de um cabo a uma dada velocidade durante um determinado tempo.
Com o modelo Assmann, mais sofisticado e mais preciso, a circulação do ar faz-se à vol
ta dos dois termómetros com um ventilador accionado por um pequeno motor.
Então, toma-se nota das duas temperaturas com a ajuda de uma tabela psicrométrica fo
rnecida com o aparelho, obtendo-se directamente a humidade relativa sendo a temp
eratura, como referimos, a que indica o termómetro de bolbo seco. Com os psicrómetro
s Assmann, pode chegar-se a uma precisão superior aos 2 %.
Encontra-se, igualmente, toda uma gama de aparelhos electrónicos que dão directament
e a percentagem da humidade relativa. Estes aparelhos contêm instrumentos de medid
a cujas propriedades eléctricas variam segundo a humidade relativa ambiente. A lei
tura é digital. Alguns destes aparelhos são muito precisos, mas são todos muito oneros
os (Por precaução todos estes aparelhos devem ser periodicamente aferidos com um psi
crómetro, de preferência do tipo Assmann. (N. T.)).
Os higrómetros
Os higrómetros devem ser aferidos uma vez por mês. Existem muitas variedades, donde
o mais conhecido e o mais divulgado é o higrómetro de Cabelo.
HIGRÓMETRO DE CABELO: O princípio reside no facto de que o cabelo humano tem a propr
iedade de esticar e de encolher sob o efeito das variações de humidade. Este higrómetr
o é portanto munido de cabelos, cuja variação de comprimento é transmitida a uma agulha
que indicará a humidade relativa sobre um mostrador graduado. É um aparelho fiável, fáci
l de manejar e pouco oneroso.
HIGRÓMETROS DIVERSOS: Existem outros tipos de higrómetros tais como o higrómetro de di
fusão, o higrómetro de condensação e o higrómetro de ponto de orvalho. São aparelhos de empr
ego delicado, mal adaptados às necessidades dos museus.
TERMO-HIGRÓGRAFOS REGISTADORES: O seu princípio é o do higrómetro de cabelo, mas pode re
gistar-se em simultâneo a temperatura e a humidade relativa e isso durante um, set
e, quinze ou trinta dias conforme os modelos. As variações de comprimento de uma mec
ha de cabelos são neste caso transmitidas a um estílete que os inscreve sobre uma ba
nda de papel disposta sobre um cilindro metálico rodando sobre ele mesmo graças a um
movimento de relojoaria. Estes aparelhos são indispensáveis sempre que se desejem c
onhecer as condições climáticas que imperam num compartimento de noite ou de dia ao lo
ngo de todo o ano.
Pode, igualmente, instalar-se um sistema de medição contínuo, mais elaborado, recorren
do aos higrómetros registadores electrónicos ligados a uma central de medição. Trata-se,
evidentemente, de instalações mais dispendiosas ((Actualmente há no mercado equipamen
to que pode ser ligado a qualquer tipo de PC e cujo preço, no caso de ser aconselháv
el dispor de registos em vários pontos, é comparável ao dos registadores mecânicos. (N.
T.)).
Toda a biblioteca ou depósito de arquivos deve possuir um termo-higrógrafo cujos reg
istos darão as informações necessárias para melhorar as condições de conservação.
Os indicadores coloridos
Alguns sais têm a propriedade de mudar a Cor em função da humidade relativa. É assim que
os sais de cobalto variam do azul ao rosa. Encontram-se no comércio alguns papéis i
mpregnados de tiocianato de cobalto; compara-se a cor obtida às cores tipo e obtém-s
e assim uma medida aproximada da percentagem da humidade relativa de uma peça.
Este método pouco dispendioso é, infelizmente, muito pouco preciso.
Regulação da humidade e da temperatura
Logo que a temperatura e o grau higrométrico do ar ambiente se desviam muito das c
ondições climáticas correctas, é necessário assegurar, artificialmente, o calor, a refrige
ração, a desumidificação ou humidificação dos locais dos arquivos e das bibliotecas, conform
e o caso.
Se um único sistema assegura ao mesmo tempo a regulação térmica e higrométrica, falaremos
de climatização geral. Se o sistema não assegura senão uma ou outra destas regulações tratar
-se-á de climatização pontual.
A climatização geral ou o ar condicionado
O ar condicionado é um conjunto de operações que asseguram em simultâneo ou sucessivamen
te segundo as necessidades o aquecimento, a refrigeração, a secagem, a humidificação e a
filtragem do ar, de modo a criar, nos edifícios, uma verdadeira "atmosfera artifi
cial" ideal para a conservação dos documentos e dos livros e para o conforto humano.
Os aparelhos designados como "climatizadores", não são na maioria dos casos senão refr
igeradores de ar e não têm qualquer acção controlável sobre o grau higrométrico. Não assegura
, portanto, um verdadeiro ar condicionado.
Este necessita de uma instalação dispendiosa com numerosos aparelhos de controlo (te
rmostatos e hígrostatos), com condutas e com pontos de distribuição do ar condicionado
repartidos pelo edifício.
Devido ao seu custo (instalação e elevado consumo de energia), não é de encarar o ar con
dicionado senão quando as condições climatéricas o exigem, quer dizer, essencialmente, n
os países tropicais e sub-tropicais, onde a temperatura ultrapassa correntemente 2
5ºC, onde a humidade relativa atinge muitas vezes 80 % e até mesmo 90 %.
O ar condicionado completo, com a sua maquinaria e sistema de distribuição, deve ser
previsto desde a construção do edifício. Num edifício já existente, a instalação de um siste
a central de ar condicionado é, excessivamente, dispendiosa, não só na compra, mas tam
bém na manutenção; melhor será, então, contentarmo-nos com climatizadores individuais inst
alados em cada sala, apesar da fragilidade bem conhecida destes aparelhos.
A climatização pontual
O aquecimento
Nos países de clima frio e nos países de clima dito temperado onde a temperatura des
ce todos os anos e durante bastante tempo, abaixo de 10ºC, deve ser assegurado um
aquecimento sasonal. Todos os processos de aquecimento são admissíveis, exceptuando
os que acarretam riscos de incêndio ou de inundação por ruptura da canalização nos depósitos
.
A temperatura a manter nos depósitos é de cerca de 16ºC a 18ºC, isto é um pouco menos que
nos locais de trabalho; também os circuitos de aquecimento devem ser concebidos de
modo a poder assegurar temperaturas diferentes nas zonas do edifício reservadas à c
onservação de documentos e de livros e naquelas onde trabalham pessoas.
A refrigeração do ar
A refrigeração não deve ser encarada (salvo se se trata de conservar documentos ou liv
ros excepcionalmente preciosos) senão nos países onde a temperatura é de 25'C ou frequ
entemente superior. É inútil na maioria dos países temperados, onde esta temperatura só é
ultrapassada apenas durante algumas semanas do ano.
É assegurada, quer por climatizadores múltiplos refrigerando cada um, um volume de a
r bastante restrito, quer por um sistema de climatização geral para todo o edifício. E
xistem vários sistemas de refrigeração do ar; infelizmente, todos consomem muita energ
ia. Com efeito a refrigeração está quase sempre ligada à humidificação ou à desumidificação n
stemas de ar condicionado.
A desumidificação
Quando o excesso de humidade é patente num local, a primeira medida que se impõe é a d
e examinar as causas. Assim, encontra-se muitas vezes a explicação para isso: fugas
nos telhados ou nos algeroses, paredes rachadas, falta de aquecimento, condensação d
as paredes exteriores demasiado frias, ou ainda má concepção dos depósitos dos quais não s
e tinha previsto, à partida, tomar para esta utilização. Encontramo-nos portanto, muit
as vezes perante depósitos situados na cave (frios e húmidos), em corredores em comp
leta corrente de ar ou ainda em habitações deterioradas muito velhas.
Para lutar contra esta humidade, é necessário, numa primeira fase, ventilar bem o lo
cal, não através da abertura das janelas, mas por meio de um sistema de ventilação artif
icial. Esta medida sendo geralmente insuficiente, será utilizada na falta de um si
stema de climatização geral, de aparelhos portáteis ou não, chamados "desumidificadores"
. Estes condensam o vapor de água, por refrigeração nas serpentinas refrigerantes, ou
desidratam o ar fazendo-o passar através de substâncias desidratantes.
DESUMIDIFICAÇÃO POR REFRIGERAÇÃO: O ar húmido é aspirado, depois soprado sobre a secção fria
um refrigerador. A água condensa-se e é evacuada para o exterior. O ar seco, depois
de ter sido reaquecido com o auxílio de resistências eléctricas, é remetido para a sala à
temperatura desejada. Esta instalação, particularmente aconselhada para os climas qu
entes, dá muito bons resultados.
DESUMIDIFICAÇÃO POR DESIDRATAÇÃO: Os produtos de secagem são dispostos num tambor que gira
devagar. O ar húmido, propulsionado por ventiladores, passa através de gel de sílica,
desidrata-se, depois é reenviado seco para a sala. O produto higroscópico é então regen
erado por uma corrente de ar seco e quente. A água é em seguida evacuada para o exte
rior. Este sistema funciona em contínuo.
Se não se dispuser de qualquer aparelho podem utilizar-se recipientes largos e pla
nos contendo gel de sílica. O gel de sílica absorve 38 % do seu peso em água. Apresent
a-se sobre a forma de cristais. um produto corrente, mas bastante dispendioso. P
ara o secar, é preciso deixar várias horas nas estufas ou em fornos a 100ºC. Não é, portan
to, utilizável para grandes volumes, mas pode prestar serviço quando se tratar de vi
trinas ou de compartimentos de pequenas dimensões.
A humidificação
Quando o ar está demasiado seco, pode-se humidificá-lo de três maneiras: pulverização de águ
a; evaporação de água por aquecimento; humidificação por evaporação.
PULVERIZAÇÃO DE ÁGUA: Para isso utiliza-se humidificadores, por vezes, chamados humidi
ficadores centrifugadores, comportando um ventilador que aspira o ar seco e o im
pele sobre um difusor alimentado a água por uma bomba centrífuga. A água é então pulverização
em partículas muito finas e espalhada outra vez no compartimento. Esta técnica, pouc
o onerosa, tem e inconveniente de projectar na atmosfera os sais solúveis na água qu
e podem reagir secundariamente com os objectos. Além de que nos arriscamos a criai
microclimas.
EVAPORAÇÃO DE ÁGUA POR AQUECIMENTO: É um método simples, pouco dispendioso, mas que é precis
o utilizar com precaução, porque se arrisca a ultrapassar a percentagem de humidade
relativa desejada e a provocar a condensação de água.
HUMIDIFICAÇÃO POR EVAPORAÇÃO: O aparelho utilizado para este efeito é constituído por um tam
bor cheio de uma substância absorvente (uma esponja). Este tambor gira lentamente
num reservatório de água. O ar do compartimento, aspirado por ventiladores potentes,
passa através de uma esponja embebida em água. Carrega-se assim de humidade antes d
e ser devolvido à atmosfera. É um aparelho caro que requer uma grande manutenção. Contud
o, a água devolvida para a sala está totalmente desprovida de sais minerais.
Protecção Contra a Poluição Atmosférica
Existem dois sistemas de purificação do ar: por eliminação dos gases e por eliminação das pa
rtículas sólidas.
Eliminação dos gases
Pulverização de água
O ar passa através de um aerossol de água. Os vapores de SO2, e NO2 São absorvidos tan
to mais facilmente quanto a água é ligeiramente alcalina. Este sistema é ineficaz para
o ozono.
Filtros de carvão activado
O ar passa através de uma bateria constituída por sacos cheios de partículas de carvão a
ctivado. Os gases condensam-se, depois são absorvidos, Este sistema muito eficaz p
ara o SO2 é menos para os vapores de NO2. O ozono não é absorvido, mas destruído pelo ca
rvão activo. Os filtros devem ser substituídos regularmente.
Hoje em dia existem outras espécies de filtros tendo um melhor rendimento. São const
ituídos por uma mistura de carvão activo e de reagentes alcalinos.
Eliminação das partículas sólidas
A poeira e a areia podem ser parcialmente eliminadas se fizermos passar o ar atr
avés dos filtros constituídos por uma mistura de lã de vidro e de substâncias plásticas co
mprimidas.
Além disso, é preciso cuidar regularmente da aspiração mecânica das poeiras nos depósitos co
m o auxílio de um aspirador e não de um espanador, que mais não faz do que mudá-la de um
lugar para outro.
Protecção Arquitectural Contra os Insectos
Os insectos que atacam os livros e os documentos de arquivo foram descritos no c
apítulo intitulado: "Agentes de deterioração". Uns propagam-se pelo solo e pelas pared
es, outros pelo ar; cada um destes modos de progressão exige medidas de protecção arqu
itectónica apropriadas.
Contudo, é muito difícil impedir, completamente, os insectos de penetrarem nos locai
s de conservação, sobretudo sob a forma de ovos ou de larvas microscópicas. A protecção ar
quitectural não pode portanto, neste caso particular, estar dissociada das medidas
de desinfecção expostas no capítulo consagrado aos "tratamentos de urgência".
Os insectos rastejantes
Infelizmente não existem materiais de revestimento que eliminem radicalmente os in
sectos rastejantes.
Os mais perigosos insectos devastadores dos arquivos e das bibliotecas são as térmit
as, que são lucífugos e se deslocam no subsolo, dentro das galerias escavadas na mad
eira, nas fendas do betão, etc.
Para proteger os documentos contra os insectos, os edifícios podem ser elevados so
bre pilares de betão, sendo cada pilar rodeado de um fosso também de betão com tabique
s verticais. Crivos de metal nas passagens das canalizações e nas aberturas da venti
lação por onde passam os insectos.
Ao nível das fundações, espaços sanitários munidos de isolantes químicos à base de DDT evitar
a invasão das térmitas (O uso do DDT está, hoje em dia, absolutamente proibido. (N. T.
)).
Nos terrenos muito infestados, isola-se o edifício por um fosso de paredes vertica
is de betão, que se vigiará, atentamente, para aí se descobrir os traços característicos d
as térmitas. Com efeito, estas para evitarem a luz do dia, constroem galerias de t
erra ou de restos orgânicos, que se descobrem facilmente à superfície do betão, sob a fo
rma de grandes rastos acastanhados mais ou menos sinuosos. Assim que tais galeri
as são identificadas é preciso proceder a uma desinfestação.
Os insectos voadores
Alguns dos insectos destruidores das bibliotecas e dos arquivos ganham asas num
certo estádio do seu desenvolvimento e, então, voam invadindo os depósitos, especialme
nte à noite. Contra eles a precaução essencial consiste, evidentemente, em munir todas
as aberturas (janelas ou aberturas de Ventilação) de redes de malha muito fina de n
ylon estendidos sobre caixilhos rígidos, que se adaptam perfeitamente.
É claro que, durante a noite, todas as aberturas das bibliotecas e dos arquivos de
vem estar fechadas.
Protecção Contra o Fogo
A protecção contra o risco de incêndio subsiste, apesar dos progressos dos métodos e dos
materiais de construção, como uma das maiores preocupações por ocasião da construção ou da a
aptação de edifícios destinados à conservação dos documentos de arquivo e dos livros.
Para maior clareza do que foi exposto, convém reagrupar neste ponto alguns dos asp
ectos desta protecção: a prevenção contra o incêndio (ao nível da construção e das medidas de
gurança); a detecção do fogo; os dispositivos de evacuação do edifício; e finalmente, a exti
nção do fogo.
A prevenção do fogo
Escolha dos materiais de construção
Primeiramente, é preciso escolher com cuidado os materiais de construção. Em todos os
países estes são classificados, oficialmente, segundo o grau de combustibilidade e d
e resistência ao fogo. Os edifícios dos arquivos e das bibliotecas devem ser obrigat
oriamente construídos com materiais classificados entre os "incombustíveis".
Paredes, portas e painéis corta-fogo
Como se disse mais acima, os depósitos devem estar separados das outras partes do
edifício por paredes ou por painéis corta-fogo; as portas de comunicação abertas nas par
edes corta-fogo devem ser conforme as normas oficiais relativas às portas "corta-f
ogo 2 horas" e estar munidas de dispositivos de segurança para permitir a evacuação da
s pessoas. As circula( verticiais (ascensores e escadas) devem ser contornadas p
or paredes corta-fogo.
Uma outra preocupação elementar é a limitação das superfícies das salas de depósito, para evi
ar que os incêndios eventuais se propaguem. Em certos países, a superfície está limitada
a 200 m²; pode-se ir sem inconvenientes graves até 400 m² mas será perigoso ultrapassa
r esta superfície sem pare corta-fogo para a dividir.
Instalação eléctrica
Toda a instalação eléctrica deve estar protegida com disjuntores e interruptores automát
icos. Interruptores manuais devem estar dispostos de modo poder-se cortar a elec
tricidade nos depósitos e nos locais de trabalho fora horas de serviço. Um quadro de
sinalização, colocado no local do vigilante permite saber a todo o momento quais são
os locais onde as lâmpadas estão acesas.
Os aparelhos de fotografia, fotocópia, encadernação/restauro, desinfecção, etc., devem est
ar munidos de tomadas ligadas à terra.
As tomadas de corrente dispostas nos depósitos para utilização dos aspiradores devem e
star situadas acima do solo (a fim de evitar qualquer risco curto-circuito por c
ontacto com a água, no caso de limpeza húmida) e munidos de tampas.
Convém evitar as tomadas de corrente salientes, que se arriscam a ficar penduradas
aquando das manobras dos carros.
Pára-raios
A presença de um pára-raios é indispensável em todos os edifícios ultrapassam a altura média
das construções circunvizinhas, sobretudo nas regiões onde as trovoadas são frequentes.
Lembramos que uma sala com a superfície de 400 m² corresponde a uma capacidade média d
e 2350 m de estantes.
Medidas de segurança
Também convém assinalar (se bem que não se trate da construção, mas de preferência da discip
lina interior) o carácter indispensável de medidas de segurança, tais como a absoluta
interdição de fumar nos arquivos ou bibliotecas, a interdição de toda a chama, mesmo em
caso de avaria da electricidade, a interdição de acumular papéis ou materiais combustíve
is no chão, etc.
Os produtos perigosos, tais como os produtos químicos inflamáveis utilizados nos tra
balhos de encadernação, de restauro ou de fotografia devem ser fechados em armários ou
em compartimentos que se fecham à chave e munidos de portas corta-fogo.
A detecção do incêndio
Se, apesar das precauções tomadas, o incêndio vem a deflagrar, é preciso que seja imedia
tamente detectado.
Devido à natureza específica dos fogos dos arquivos e das bibliotecas - que libertam
fumo antes que as chamas se elevem - os sistemas de detecção automática de incêndio mai
s adaptados a este caso particular são os detectores de fumo, quer por variação da ion
ização, quer por medição óptica da luz.
Os sistemas mais aperfeiçoados associam a detecção do fumo à detecção da elevação da temperat
.
Células electrónicas fixadas no tecto dos depósitos e dos locais de trabalho accionam
o alarme em caso de libertação de fumo, qualquer que ele seja.
O alarme é materializado por um toque de alerta e pelo acender de um alvo luminoso
num quadro, que permite localizar o ponto exacto da libertação do fumo.
Em geral, o accionamento do alarme ocasiona o fecho imediato das portas corta-fo
go e a colocação em serviço dos sistemas de extinção automática, se existirem.
Os dispositivos de evacuação
Dispositivos de evacuação devem estar previstos tanto para os livros e documentos co
mo para o pessoal. Além das saídas de emergência conforme as normas de segurança, é útil pre
ver as rampas para a evacuação rápida dos livros e dos documentos, com a condição de serem
dispostas de modo a que a sua utilização não estorve as manobras dos bombeiros.
A extinção do fogo
A extinção do fogo faz-se em várias fases: primeiro a extinção automática, em seguida a exti
nção manual pelo pessoal do serviço, finalmente a extinção assegurada pelos bombeiros com
o seu material especializado.
A extinção automática
Os dispositivos de extinção automática mais conhecidos são os extintores automáticos de água
, ditos sprinklers. Estas instalações compreendem essencialmente uma rede de canaliz
ação de água sob pressão colocada ao fundo dos locais a proteger e equipadas de cabeças de
projecção, ou sprinklers. Os depósitos de arquivos e de bibliotecas estão equipados com
sprinklers em alguns países (particularmente nos Estados Unidos), mas noutros (po
r exemplo, em França) o uso destes dispositivos é proibido neste tipo de edifício, dev
ido aos riscos de inundação que apresentam e aos estragos que a água pode causar nos d
ocumentos e nos livros.
Um outro sistema de extinção automática consiste em largar nas salas gás carbónico (CO2),
que extingue o fogo pela ausência de oxigénio. Este sistema é utilizado particularment
e na URSS. Porém, necessita de grandes reservas de gás carbónico (várias centenas de met
ros cúbicos para um edifício pouco importante) e além disso, é perigoso para o pessoal d
e serviço devido ao risco de asfixia se alguém se encontrar numa sala no momento em
que o gás é libertado pelas canalizações especiais.
O melhor meio de extinção automática é o uso de um gás halogeno (em particular o gás Halon 1
301), não tóxico para o homem e que extingue o fogo em alguns segundos. O seu único in
conveniente é o preço muito elevado, que obriga a limitar o seu emprego aos locais d
e superfície bastante restricta (De momento, o Halon não deve ser usado. Trata-se de
um CFC cujo fabrico vai cessar até 1995. (N. T.)).
A extinção manual
Todo o edifício de arquivos e de bibliotecas deve estar munido de extintores manua
is de um modelo aprovado pelos serviços de segurança.
Os extintores disponíveis no comércio são essencialmente de quatro tipos: os extintore
s de água pulverizada, os extintores de espuma, os extintores de neve carbónica, os
extintores de pó.
Os primeiros são de evitar nos incêndios de arquivos ou de bibliotecas, devido aos e
stragos que a água pode causar aos documentos e também aos riscos de corrosão pelos pr
odutos químicos (álcool gordo, óleos sulfonados, etc.) a que a água é geralmente adicionad
a nestes aparelhos.
Os extintores de espuma são igualmente de proibir, porque a espuma é composta de pro
dutos químicos (bióxido de carbono, sulfato de alumínio, etc.) que são perigosos para os
documentos.
A neve carbónica é sobretudo utilizada para apagar os fogos de hidrocarbonetos ou de
aparelhos eléctricos.
Os melhores extintores para os fogos de arquivos e de bibliotecas são, portanto, o
s extintores de pó seco (bicarbonato de soda) que apresentam um mínimo de perigo par
a os documentos. Contudo, convém saber que têm mais um efeito retardador do que de e
xtinção propriamente dita.
Constituem, portanto, um meio de primeira intervenção que não é realmente eficaz senão no
começo dos incêndios, quando o fogo ainda não teve tempo de se propagar. Depois da uti
lização dos extintores de pó, os documentos devem ser cuidadosamente limpos para tirar
todo o vestígio do pó depositado.
Logo que o fogo toma amplitude, não convém hesitar (enquanto se espera a chegada dos
bombeiros chamados desde o primeiro alerta) em utilizar os extintores de água, ap
arelhos portáteis que projectam água sob pressão por meio de um tubo flexível e de que t
odos os arquivos e bibliotecas deve estar munidos.
O apelo aos bombeiros
A chamada dos bombeiros é obrigatória para todo o fogo que ultrapasse as possibilida
des de extinção manual imediata. Para permitir aos bombeiros utilizarem o seu materi
al especializado (agulhetas), os edifícios devem estar munidos de válvulas de entrad
a de água e de colunas secas conforme as normas em vigor em cada país.
Protecção Contra o Roubo
A protecção contra o roubo, nos depósitos dos arquivos e das bibliotecas é, em grande pa
rte, de ordem disciplinar mais do que técnica: vigilância das entradas e das salas d
e leitura, controle dos visitantes à entrada e à saída.
Contudo, devem ser tomadas algumas precauções indispensáveis na altura da construção dos e
difícios.
As janelas do rés-do-chão e os andares de acesso fácil devem estar munidos de disposit
ivos de protecção: grades, barras, postigos metálicos e/ou vidros especiais inquebráveis
.
Pode também instalar-se sistemas de alarme com destravagem automática em caso de que
bra de vidro, como existe nos bancos por exemplo, ou ainda sistemas de células fot
o-eléctricas ou de detecção sonora, ultra-sónica ou por radar; mas estes sistemas são muit
o dispendiosos e de uma manutenção delicada.
Nas salas acessíveis ao público (em especial salas de exposição e de leitura), câmaras de
televisão em circuito fechado permitem assegurar uma vigilância permanente com um pe
ssoal reduzido. As vitrinas de exposição podem estar equipadas com sistemas de alarm
e em caso de quebra ou de arrombamento das fechaduras.
Para proteger os documentos ou os livros que estão à livre disposição do público (usuais,
por exemplo), pode-se muni-los de pastilhas ou de fitas magnetizadas que acciona
m um alarme no momento em que se tenta fazê-las passar através de um feixe de detecção i
nstalado à saída.
O acesso aos depósitos deve ser, rigorosamente, interdito ao público; isso é uma razão s
uplementar para isolar bem os depósitos dos locais de trabalho.
Para os documentos mais preciosos ou mais confidenciais, deve recorrer-se a caix
as fortes com paredes e portas à prova de fogo e de arrombamento. Convém, todavia, a
ssegurarmo-nos que estes compartimentos fortes estejam bem ventilados, para que
não se corra o risco de ver aí proliferar os fungos.
Mobiliário e Material de Conservação
Ao terminar este capítulo, convém dizer algumas palavras sobre mobiliário e materiais
utilizados para a disposição dos livros e dos documentos de arquivo. Com efeito, a b
oa conservação destes depende em grande parte da sua escolha.
As estantes
Já foram descritas mais acima.
Os livros das bibliotecas são postos, em geral, directamente sobre as estantes. Não
devem ficar demasiado apertados, para evitar a deteriorização das encadernações. Os livr
os brochados e as brochuras devem ser conservados em caixas de cartão ou em carton
agens especialmente concebidas.
Maços de papel e caixas de arquivo
Ao contrário, os documentos de arquivo (registos de contabilidade, registos de cas
amento, registos cadastrais) são raramente encadernados. A maioria está simplesmente
contida em capas de cartão ligeiro ou em papel forte. Para a sua conservação, é necessári
o que estejam protegidos por capas de cartão sólido, com pestanas a envolver complet
amente o maço de papéis de maneira a protegê-los contra a poeira e contra a luz, ou me
lhor ainda, fechados em caixas de cartão (denominados simplesmente "caixas de arqu
ivo").
Estas caixas de arquivo são de vários tipos e de várias dimensões, segundo o uso de cada
país e também segundo o seu custo. Elas devem ser sólidas, munidas de uma lingueta ou
de uma argola para que se possam puxar facilmente e devem ser suficientemente g
randes para que os documentos, no interior, não se rasguem nas margens.
A qualidade do material destas caixas é extremamente importante para a conservação dos
documentos. O cartão deve ser composto de uma pasta química de madeira, totalmente
desprovida de pasta mecânica. Para mais, deve ser neutra ou ligeiramente alcalina.
O custo das caixas assim feitas é evidentemente mais elevado e o seu fabrico não é co
rrente (salvo nos Estados Unidos e em alguns outros países como o Reino Unido); ma
s, devido às suas qualidades para a conservação, merece ser feito um esforço extraordinári
o para as obtermos.
Móveis para plantas, rolos, etc.
Para os documentos de dimensões muito grandes (cartas, plantas, cartazes, etc.), e
xistem móveis especiais, seja de gavetas (conservação horizontal), seja em varões de fer
ro (conservação vertical). Estes dois sistemas têm as suas vantagens e os seus inconve
nientes; a conservação vertical é preferível para os formatos muito grandes e a conservação
horizontal para os formatos médios.
Nos móveis de gavetas, é conveniente conservar os documentos dentro de grandes capas
em cartão rígido, evitando comprimi-las demasiado no interior.
Para os documentos em rolos, fabricam-se estantes especiais formando goteiras, o
u utilizam-se tubos de cartão que se fecham nas duas extremidades com tampas a fim
de os proteger da poeira.
Móveis especiais
Não é possível descrever aqui, detalhadamente, todos os móveis e materiais especiais con
cebidos para a conservação de documentos de tipo particular - documentos selados, ne
gativos fotográficos, filmes, microfilmes, documentos magnéticos, etc. - que exigem
materiais específicos. Retenhamos, apenas, que quanto mais um documento ou um livr
o for frágil e o meio ambiente agressivo (humidade, secura, poluição atmosférica), mais
as precauções de conservação devem ser rigorosas. A economia realizada à custa dos equipam
entos de conservação vai sempre ao encontro da própria conservação
Tratamentos de urgência
Se a lista dos agentes de deterioração é longa, os meios de os combater são, felizmente,
muitos e eficazes.
No capítulo precedente, descrevemos as medidas a tomar para proteger os documentos
contra os efeitos nocivos da luz, da temperatura e da humidade e para se precav
er contra o fogo e o roubo. Falaremos agora das medidas de urgência que e preciso
conhecer e aplicar em caso de sinistro.
A Secagem dos Documentos
Como fizemos notar no capítulo sobre os "Agentes de deterioração", a água é um dos agentes
que provoca os maiores estragos. Deve-se, portanto, recorrer frequentemente aos
"tratamentos em massa", seja para secar documentos molhados, seja para desumidi
ficar outros conservados em más condições.
Até cerca de 1970, utilizavam-se processos clássicos para secar os documentos, tais
como a interfoliação (que consiste em colocar entre as páginas de um livro uma ou duas
folhas de papel mata-borrão), a aspersão de talco, as radiações de infravermelhos, a ve
ntilação de ar quente, etc. Todas estas técnicas eram muito contestáveis e muito lentas.
Os documentos que permaneciam assim ensopados em água durante semanas, até mesmo du
rante meses, deterioravam-se rapidamente. A tinta dos manuscritos, muitas vezes
solúvel na água, desaparecia e a camada pictórica das iluminuras escorria ao longo do
pergaminho, arrastando uma mistura de aglutinantes de pigmentos. Além disso, o exc
esso de humidade favorecia o crescimento de micro-organismos e numerosas manchas
coloridas apareciam dentro de alguns dias nos suportes. A fim de evitar tais ca
tástrofes, foi necessário encontrar um método de secagem muito rápido. Então, recorreu-se à
congelação a -20ºC. A esta temperatura, muito baixa, os mícro-organismos não podem desenvo
lver-se e a solubilidade das tintas e das pinturas pára imediatamente. Os document
os assim estabilizados podem esperar anos até que o seu restauro seja efectuado. E
ste sistema apresenta, não obstante, o inconveniente de bloquear durante períodos mu
ito longos as instalações frigoríficas. Para resolver esta dificuldade utiliza-se a fi
m de secar os documentos congelados, uma técnica correntemente empregada na indústri
a alimentar para desidratar os vegetais: a liofilização, É um processo que utiliza a a
cção combinada do frio e do vazio; a água é transformada em gelo, depois sublimada por c
onversão directa do estado sólido ao estado gasoso, sem nunca passar pelo estado líqui
do. O aparelho de liofilizar consiste numa cuba de congelação, num condensador que c
apta as moléculas de água e numa bomba de vácuo permitindo baixar a pressão, no interior
do aparelho, em cerca de 10 mm de mercúrio. Este sistema está hoje inteiramente act
ualizado, mas necessita do emprego de um liofilizador, aparelho de preço elevado.
Sublinhemos, contudo, que esta técnica pode ser empregada com sucesso quando se tr
ata simplesmente de secar os documentos muito húmidos antes de os desinfectar. Nes
te caso, o tratamento será o mesmo, mas os períodos de intervenção serão mais curtos.
A Desinfecção dos Documentos
Quando se está na presença de documentos infestados, a primeira operação a empreender co
nsiste, evidentemente, em retirá-los o mais rapidamente possível dos depósitos onde se
encontram a fim de limitar ao máximo as contaminações. É somente neste momento que se e
studará a natureza exacta da alteração a combater (levantamentos e análise) e o remédio a
empregar.
Entende-se por desinfecção o conjunto de processos pelos quais os elementos de infecção
são eliminados: para os fungos, a desinfecção não estará completa até os esporos serem destr
uídos e no caso dos insectos, até as larvas e os ovos serem aniquilados.
Quando se tiver de proceder à desinfecção dos documentos deteriorados é indispensável trat
ar igualmente todos os que estão contíguos, porque as contaminações biológicas são muito rápi
as e dificilmente detectáveis a olho nu.
Para escolher uma técnica de desinfecção, é sempre necessário assegurar-se antes de tudo,
não somente da eficácia dos produtos utilizados, mas também da sua inocuidade face aos
constituintes, porque um grande número de produtos usados para este efeito são tóxico
s para o pessoal e nocivos para o papel, tintas, pergaminho, etc. Uma das grande
s dificuldades levantadas pela desinfecção dos documentos de arquivo (dificuldade qu
e é muitas vezes menosprezada nas publicidades das firmas comerciais de desinfecção) r
esulta da penetração dos fungos e dos insectos no meio dos maços de papéis e dos registo
s. É o que explica que nenhum tratamento de superfície é suficiente neste caso particu
lar, e é o que também justifica a preferência dada aos métodos de desinfecção em autoclave n
o vazio, graças aos quais os gases desinfectantes penetram em todas as cavidades d
os documentos contaminados.
Entre os principais tratamentos que foram experimentados pelo CRCDG (Centro de P
esquisas sobre a Conservação dos Documentos Gráficos) em Paris descreveremos aqui apen
as os que respondem às necessidades dos arquivos.
Tratamento misto: fungicida, bactericida e insecticida
Só o óxido de etileno (CH 2-O-CH2) responde a todas estas condições. É um gás incolor, de od
or aromático, usado desde há muito tempo como insecticida e bactericida. Há alguns ano
s, pusemos em evidência as suas propriedade, fungicidas. Este gás oferece, portanto,
todas as garantias requeridas pela desinfecção dos documentos de arquivo. Pode, além
disso, ser empregado no vazio, o que lhe dá um excelente poder penetrante e permi
te ao conservador colocar os arquivos seja tal qual estão, seja em caixas fechadas
e de dispor as caixas empilhadas no interior de um autoclave. Deste modo o óxido
de etileno foi numerosas vezes utilizado nos tratamentos em massa e em particula
r, por ocasião dos sinistros de Florença e de Lisboa.
O óxido de etileno deve ser utilizado misturado com azoto ou com Fréon 12. Cria-se n
o interior do autoclave um vazio suficiente para obter um pressão compreendida ent
re 10 e 60 mm de mercúrio. Introduz-se a mistura gasosa de maneira a obter uma con
centração de óxido de etileno de 500 g/m3. A operação que dura seis horas é realizada a 24 e
a 50 % de humidade relativa no mínimo. Terminada a desinfecção, efectuam-se duas lava
gens, extraindo mistura introduzida com a ajuda de um dispositivo de fazer vácuo,
e introduzindo depois ar.
Infelizmente os serviços de arquivos nem sempre têm a possibilidade de utilizar este
s autoclaves e devem portanto recorrer a outras técnicas, menos práticas, mas todavi
a eficazes até certo ponto.
Tratamento exclusivamente fungicida
O formol (HCHO), ou melhor, o aldeído fórmico, é um líquido incolor, muito volátil que tem
um odor irritante. As suas propriedades fungicidas e bactericidas são conhecidas
desde há muito tempo. Para desinfectar os documentos, a dificuldade reside na pene
tração do gás entre as folhas ou no meio dos maços de papel e dos registos.
Utiliza-se uma "estufa", armário hermeticamente fechado e munido de estantes com g
rades, nas quais os documentos são dispostos abertos (os livros de pé, as folhas sep
aradas, os rolos desenrolados). O aldeído fórmico (solução comercializada a 40 %) é vapori
zado na estufa à razão de 250 g/m3 assim como uma quantidade igual de vapor de água. O
tratamento efectua-se a 30ºC e dura de vinte e quatro a setenta e duas horas. Os
documentos devem permanecer na estufa de dois a quatro dias segundo a importância
dos estragos.
Este processo oferece, evidentemente, em relação ao tratamento no vácuo, a vantagem de
ser muito menos dispendioso. A estufa pode ser realizada de maneira quase artes
anal, com a única condição de ter uma vedação hermética. Contudo, a duração do tratamento é l
e, por consequência, menos conveniente para a desinfecção de quantidades importantes d
e documentos. É indispensável realizar amostras de controle no fim da operação. Todavia,
este tratamento é desaconselhado para os pergaminhos, que se arriscam a encolher.
Tratamento exclusivamente insecticida
O lindano (HCH), ou isómero gama do hexaclorociclohexano (C6 H6 C16), apresenta-se
sob a forma de um pó branco sublimável, que tem um odor característico a mofo. Só o isóme
ro gama possui uma acção insecticida; os outros isómeros (alfa, beta, delta) não insecti
cidas arriscam-se a alterar os metais, oxidando-os, e em particular os dourados.
Por esta razão, quando se utilizar o HCH para a desinfecção, é obrigatório tomar o isómero
gama puro, ou líndano.
Sublima-se, com a ajuda de um aquecimento eléctrico, o lindano na porção de 1,5 g/m3.
Os documentos são dispostos abertos num compartimento cujas portas e janelas são her
meticamente fechadas, Numa primeira fase, o lindano liquefaz-se depois sublima-s
e sob a forma de um fumo branco muito considerável. No momento em que não aparecer m
ais fumo (de uma meia-hora a uma hora), corta-se a corrente e deixa-se o fumo sa
ir durante vinte e quatro horas. Uma película invisível muito fina, capaz de matar o
s insectos e as larvas, deposita-se sobre os documentos.
O brometo de metil (CH3 Br), líquido a ferver a 4ºC e cujo poder insecticida foi des
coberto em 1929, emprega-se, como o óxido de etileno, no vazio. Não tem, contudo, as
propriedades fungicidas e bactericidas deste último; é por isso que o Centro de Pes
quisas para a Conservação dos Documentos Gráficos só o prescreve muito raramente.
Para além destes tratamentos, um grande número de outras técnicas são empregadas nos dif
erentes países, mas no nosso parecer, nenhuma é satisfatõria. Estas são as seguintes:
Para o tratamento fungicida, utiliza-se timol, quer por sublimação, quer por impregn
ação de papel mata-borrão com uma solução alcoólica a 10 %. Inserem-se as folhas do mata-bor
rão tratadas entre as folhas dos rolos e dos registos. Esta técnica é particularmente
perigosa, porque é sempre desaconselhável deixar os documentos, durante muito tempo
em contacto com produtos químicos. Para mais, as propriedades fungicidas do timol
são fracas. A utilização de corrente a alta tensão e dos raios ultravioletas, bastante e
ficazes, revelou-se extremamente perigosa para o papel.
Para o tratamento insecticida, utiliza-se o DDT (actualmente proibido), o clorofór
mio e o paradiclorobenzeno, cuja acção é insuficiente.
O tratamento dos documentos atacados por fungos, bactérias e insectos deve ser ob
rigatoriamente associado às medidas preventivas (limpeza e aplicação repetida dos prod
utos antisépticos).
Entretanto, é bem evidente que se hoje estamos em condições de propor aos conservadore
s um grande número de remédios para combater os agentes biológicos de deterioração é necessár
o para os aplicar, dispor de orçamentos suficientes. Os tratamentos descritos não são
onerosos por eles mesmos, mas não podendo em caso algum ser efectuados no lugar, n
ecessitam de uma manipulação mais ou menos importante dos documentos: colocação em caixa
s de arquivo (no caso do óxido de etileno e transferência para o autoclave mais próxim
o; ventilação e disposição dos rolos nas mesas, nos outros casos; limpeza dos depósitos e
das prateleiras, etc. Todas estas operações são longas, e fastidiosas e necessitam de
um grande número de pessoas.
A Desinfecção e a Desinfestação dos Depósitos
Por múltiplas razões, pode produzir-se um desenvolvimento maciço de micro-organismos n
as paredes, nos tectos no solo ou nos andares de um depósito. Além disso, pode haver
aí uma invasão de insectos de proveniências várias. É preciso intervir, então, de uma manei
ra eficaz e rápida, tendo antecipadamente desimpedido o local que contém todos os do
cumentos. Estes serão tratados separadamente seguindo as instruções descritas na secção pr
ecedente.
Aliás, desde que os depósitos contiveram arquivos ou livros bolorentos ou infestados
pelos insectos, proceder-se-á igualmente à sua desinfestação antes de colocar no lugar
os objectos tratados.
Esta desinfecção será diferente conforme se trate de uma poluição devida a micro-organismo
s ou a insectos.
Locais invadidos por micro-organismos
Dois métodos podem ser aplicados:
A pulverização com a ajuda de um compressor de ar comprimido de Caequartyl BE, que é u
m brometo de lauril-dimetilcarbetoximetil de amónia. Utiliza-se uma solução alcoólica a
10 % (a fim de não tornar a atmosfera húmida com uma pulverização de solução aquosa), à razão
5 cm3/m3.
Para limitar os riscos de incêndio, utiliza-se o álcool desnaturado a 70 % na água. Es
te produto sendo irritante para as mucosas, torna indispensável o uso de uma máscara
durante toda esta operação. Utilizado em pulverização, desde há cerca de dez anos que tem
dado provas nas diferentes bibliotecas e arquivos.
Pulverizar-se-á um composto orgânico do boro, o decahidrato de diborolactato de trie
tanolamónia, usando um aparelho do tipo swing fog. Este último método tem a vantagem d
e dispersar o produto em partículas muito finas, pelo que a concentração em produto ac
tivo pode ser menor e a sua eficácia maior.
Nos dois casos, as prateleiras serão lavadas com um esponja embebida na
mesma solução de Caequartyl BE.
Locais invadidos por insectos
Recorrer-se-á a uma solução de lindano na dose de 1,5 g/m3. Será preciso prever, igualme
nte, injecções de xilofene SOR nas prateleiras se estas são em madeira e estão corroídas p
elos insectos.
Assinalemos, enfim, que todos os tratamentos descritos são válidos unicamente para c
ombater mícro-organismos e insectos, mas serão insuficientes para destruir os roedor
es. Neste caso específico, a única solução consiste em recorrer a uma empresa especializ
ada de desratização.
Os princípios do restauro
Quando os documentos de um valor histórico ou artístico inestimável tiverem sido danif
icados pelos agentes de deterioração, deve-se intervir a fim de lhes devolver um asp
ecto e uma solidez tão próximas quanto possível do estado original, sem lhe modificar
do mesmo modo o valor documental ou artístico.
Para efectuar uma operação desta natureza, é fundamental recorrer aos especialistas: o
s restauradores (É corrente usar-se a designação de técnicos de restauro).
Os primeiros trabalhos de restauro de obras de arte tiveram lugar no século XVIII,
mas foi preciso esperar pelo século XIX, com o progresso das grandes colecções privad
as, depois públicas, para assistir ao pleno desenvolvimento desta arte. Contudo, n
esta época o restaurador trabalhava, como artista, de uma maneira intuitiva e empíri
ca. Estava geralmente isolado e utilizava receitas das quais guardava ciosamente
o segredo, Desde há uns cinquenta anos, desenvolveram-se numerosos laboratórios que
transformaram fundamentalmente este ofício. É assim que conhecimentos científicos, te
cnológicos e históricos vieram completar a experiência artesanal e artística do restaura
dor. Actualmente o restauro não pode ser concebido de outro modo senão como o trabal
ho de uma equipa, na qual o restaurador tem um papel primordial. Deve haver aqui
uma simbiose entre o conservador, o restaurador e o cientista, tendo cada um de
les as suas próprias responsabilidades.
O conservador, único responsável pelas colecções, fixa as grandes linhas dos trabalhos p
recisando-lhes o objectivo a atingir e definindo-lhes com muita exactidão os limit
es destas operações. Confia a obra ao restaurador da sua escolha cuja "mão guiada pela
inteligência, a sensibilidade e o respeito absoluto pela obra" assegura-lhe a pre
servação.
Enfim, o cientista prescreve os processos a empregar e dá conselhos sobre a escolh
a dos produtos.
Dada a variedade e a complexidade das técnicas postas em prática pelo restauro, a su
a exposição necessitaria de um desenvolvimento muito mais detalhado que o presente m
anual não o permite. Uma descrição sumária e por conseguinte incompleta, podendo revelar
-se perigosa, até mesmo catastrófica, preferimos limitar-nos a expor aqui algumas re
gras básicas. Os conservadores de arquivos, bibliotecas ou museus desejando obter
uma documentação mais complexa podem dirigir-se às instituições especializadas (ver anexo
II), que os ajudarão a planificar a política geral de conservação e de restauro dos fund
os.
Definição da Oportunidade de um Restauro
Os princípios de restauro são universais e muito rigorosos: "Restaurar é permitir a co
nservação e a consulta de uma obra dentro das condições normais, pelo acréscimo mínimo de el
ementos novos e um respeito quase absoluto pelos elementos antigos, tornando o c
onjunto sólido e permanecendo estético." (Jean Moor, 1956).
O conservador deve determinar se o restauro de um documento é necessário ou se se po
de conservar o objecto no seu estado "degradado" retirando-o definitivamente da
consulta e pondo-o num depósito em condições climáticas convenientes.
Com efeito, se os tratamentos de preservação (secagem, desinfecção, etc.) são indispensáveis
e devem ser aplicados muito rapidamente, o mesmo não acontece para os tratamentos
de restauro. Se é necessário restaurar uma obra que deve ser divulgada ou exposta,
isso não acontece no momento em que esta obra pode ser substituída por, um microfilm
e ou por um outro exemplar idêntico, mas em bom estado.
Quando o conservador decide recorrer a um processo de restauro, deve rodear-se d
e muitas precauções, muito particularmente na escolha do restaurador que lhe pareça o
mais apto a realizar o trabalho, devendo esta escolha ser definida em função da própri
a natureza do objecto e dos problemas que ele põe.
Convém nunca esquecer que um restauro mal conduzido, em vez de aumentar a longevid
ade do documento, pode ocasionar, a longo ou a curto prazo, a sua completa destr
uição.
Respeito pela Autenticidade do Documento
A conservação do carácter original do documento deve ser a maior preocupação do restaurado
r.
O objecto não será nem embelezado, nem modificado, mas simplesmente mantido o estado
, estacando ou eliminando o processo de deterioração e consolidando-o de uma maneira
eficaz e pouco visível. Contudo, a fim de evitar qualquer falsificação, as partes que
faltam serão substituídas por materiais da mesma natureza, de uma maneira discreta,
mas aparente: nenhuma parte deteriorada pode ser retirada por simples razões estéti
cas, porque a integridade do documento se acharia comprometida.
Em caso algum se deve retocar o traço de um desenho ou de uma iluminura, nem torna
r a escrever um texto donde uma parte teria sido desligada, sob pena de lhe modi
ficar a autenticidade.
A legibilidade de um texto não deve ser alterada; é portanto indispensável escolher ma
teriais finos, suaves e extremamente transparentes para reforçar os manuscritos.
Estudo do Documento a Restaurar
Ao mesmo tempo é preciso analisar todos os constituintes de um documento e os aspe
ctos da sua deterioração, a fim de se recorrer às técnicas de restauro melhor adaptadas
aos problemas. Todas estas informações figurarão numa ficha técnica que será posteriorment
e completada pela descrição dos diferentes tratamentos a que se terá feito submeter o
documento. Sobre esta ficha serão tomadas notas de um máximo de informações, que deverá se
r acompanhada de fotografias antes e depois do restauro. Anotar-se-á também a nature
za do suporte (com os resultados das análises logo que estas tiverem sido efectuad
as) e do traçado, da solubilidade na água e dos dissolventes orgânicos dos diferentes
constituintes da escrita e das ilustrações.
Se se trata de um livro, a descrição da encadernação será feita com precisão. Antes de o des
encadernar, ter-se-á o cuidado de anotar a ordem dos cadernos e das páginas se a num
eração tiver sido apagada.
Uma descrição muito minuciosa do estado de conservação dos documentos e da natureza da s
ua degradação deve ser efectuada, folha por folha. Enfim, é necessário assegurarmo-nos,
no caso de uma deterioração biológica de que todos os micro-organismos foram convenien
temente destruídos por tratamentos específicos.
Escolha dos Processos de Restauro
O considerável acervo bibliográfico a restaurar e os fracos recursos financeiros ger
almente postos à disposição dos organismos de conservação implicam uma escolha racional da
s técnicas a pôr em curso.
Todos os tratamentos de restauro são onerosos porque, por um lado o tempo de execução
do restauro de uma obra é sempre considerável e, por outro os materiais empregados,
de uma qualidade excepcional, são extremamente caros.
O valor do documento guiará portanto o restaurador na escolha dos processos a util
izar. Com efeito, não é possível aplicar o mesmo tratamento a um livro precioso, mas d
e grande difusão, que a um exemplar único insubstituível. Existe toda uma panóplia de pr
ocessos e de produtos, cujo preço de custo varia na proporção de 1 para 10.
Se, por exemplo, se pode utilizar os processos mecânicos relativamente rápidos para
certos documentos tais como os periódicos e os maços de arquivos administrativos, é in
dispensável recorrer aos processos artesanais, portanto manuais e dispendiosos, pa
ra o reforço dos manuscritos preciosos.
Todavia, outros critérios guiarão o restaurador: a natureza dos materiais que consti
tuem o documento e a natureza dos agentes de deterioração. Com efeito, não se tratará da
mesma maneira os documentos danificados pela humidade e os que tiverem sido par
cialmente calcinados durante um incêndio. Na verdade, não há panaceia e cada documento
põe um problema específico que deve ser estudado separadamente com cuidado, prudência
e engenho.
Os Imperativos do Restauro
Quatro critérios devem estar sempre presentes no espírito do restaurador.
A eficácia e a permanência do tratamento
Exactamente como o cirurgião antes de uma intervenção, o restaurador deve interrogar-s
e se a técnica e os produtos que conta utilizar darão resultados positivos e permane
ntes. Demasiadas vezes, os trabalhos conduzidos com produtos mal adaptados aos p
roblemas levam a resultados que à primeira vista parecem excelentes, mas que a lon
go prazo se verificam ineficazes, até mesmo desastrosos.
Isso é particularmente frequente durante as operações de limpeza e de branqueamento do
s papéis. É igualmente verdade que quando se trata do reforço do papel que, mal execut
ado, não dura senão algum tempo e pode ocasionar ao fim de alguns anos o desdobramen
to do próprio documento.
A lista de erros deste género é longa e não a daremos aqui, mas temos de sublinhar o f
acto de que é necessário assegurarmo-nos do comportamento da acção do tempo sobre este o
u aquele composto antes de o empregar. Esta indicação será fornecida pelos laboratórios
que, graças aos métodos de envelhecimento acelerado, terão comprovado a eficácia e a per
manência dos diferentes produtos a poder ser utilizados pelo restauro.
A inocuidade e a estabilidade dos produtos
Dentro da importante gama dos produtos e das técnicas que respondem aos critérios de
eficácia e de permanência, convém escolher os que dão o máximo de garantias de inocuidade
e de estabilidade.
É assim que se estabeleceram regras absolutas:
Os produtos particularmente agressivos tais como os ácidos, as bases fortes, devem
ser proibidos e substituídos por outros também eficazes, mas cuja acção é mais lenta.
Se o emprego de reagentes químicos é necessário, é preciso assegurarmo-nos de que estes
são totalmente eliminados após o tratamento de lavagem em água corrente. Caso contrário
estes produtos podem continuar a reagir sobre os documentos (sobretudo se as con
dições de conservação são más) e destruí-los completamente em alguns anos. O exemplo do branq
eamento dos papéis é particularmente impressionante.
O produto utilizado é em geral um oxidante à base de cloro. Este tem um efeito rápido
e enérgico. Deve-se estacar a sua acção utilizando os "anti-cloro", que por sua vez de
verão ser eliminados por lavagem prolongada em água corrente pura e desmineralizada.
Se os vestígios do cloro subsistem, haverá sempre a maior ou menor prazo, uma destr
uição completa da celulose, o que ocasionará um esboroamento irremediável do papel.
O único caso em que os produtos químicos devem ficar em contacto permanente com os d
ocumentos é o da desacidificação. Com efeito, é então necessário reincorporar no papel as su
bstâncias químicas capazes de, não só, neutralizar a acidez excessiva do meio, mas também
de lutar contra as agressões ácidas do ambiente. Para isso, utilizar-se-ão certos sais
alcalinos que terão o poder de proteger a longo prazo o documento.
Se os livros encadernados tiverem de ser tratados com reagentes químicos, é indispen
sável desencaderná-los antes do tratamento a fim de se poder eliminar em seguida est
as substâncias por imersão das folhas em água corrente. Não se pode, em caso algum, efec
tuar esta operação por simples cobertura com um algodão embebido em água: este processo é
totalmente ineficaz para a completa eliminação dos produtos químicos utilizados aquand
o do tratamento.
Antes de utilizar produtos sintéticos, devemos assegurar-nos da sua estabilidade. É
preciso conhecer o seu comportamento relativamente à humidade, à temperatura e à luz e
eliminar os que se arriscam a apresentar certas modificações físicas (cor, elasticida
de, resistência mecânica) ou químicas (decomposição ou polimerização). É assim que se elimina
efinitivamente os produtos à base de cloreto de vinil que, como se sabe, se decompõe
lentamente libertando vapores de cloro muito corrosivos.
A escolha de uma película auto-adesiva para o reforço do papel ou para um restauro p
ontual deve ser feita com muita minúcia, porque um mau material pode causar prejuízo
s importantes: amarelecimento, rigidez, opacidade do documento, má reversibilidade
. Numerosos livros foram definitivamente perdidos na sequência do uso abusivo de u
ma fita auto-adesiva à base de cloreto de vinil que não só se decompunha e esboroava,
mas deixava no papel vestígios muito inestéticos que eram algumas vezes impossíveis de
suprimir.
Será igualmente necessário certificarmo-nos de que os produtos utilizados não são auto-i
nflamáveis (é o caso dos nitratos de celulose) e que os seus produtos de combustão não d
esenvolvam substâncias tóxicas para o homem.
A inocuidade dos processos de aplicação
Se um corpo químico aplicado em certas condições dá bons resultados, aplicado de modo di
ferente, pode ter efeitos desfavoráveis. Vários factores são de considerar: por um lad
o, a pureza, a qualidade e as concentrações dos produtos; por outro lado, a temperat
ura à qual é realizado o tratamento e a duração deste.
Tomamos como exemplo a desinfecção com óxido de etileno que, utilizada como prescrevem
os mais acima, dá excelentes resultados para todos os documentos gráficos. É bem evide
nte que se modificarmos um dos parâmetros, (temperatura, concentração ou duração do tratam
ento), os efeitos obtidos serão muito diferentes: se as concentrações são muito fracas e
a temperatura muito baixa, o tratamento será ineficaz ao passo que se aumentarmos
a duração do tratamento ou se o fizermos a uma temperatura muito elevada, o óxido de
etileno danificará o objecto de uma maneira mais ou menos óbvia.
Pode citar-se igualmente o caso de um branqueamento químico de papéis. Com efeito,
um produto tendo comprovado a sua eficácia e a sua inocuidade, em certas condições pod
e tornar-se corrosivo e destruidor se as concentrações e as durações do emprego forem mo
dificadas. Pensamos em particular no problema, muitas vezes encontrado, das "man
chas, rebeldes". Mais vale limitarmo-nos neste caso a limpar parcialmente a obra
, mesmo que fiquem algumas manchas, do que querer a todo o custo restituir-lhe o
seu brilho aumentando as concentrações dos produtos e a duração de tratamento. Uma tal
imprudência provocará forçosamente um dia ou outro catástrofes irreversíveis.
A reversibilidade das operações
Enfim, todo o restauro deve ser reversível sem risco de danificar o documento. Dev
e ser possível, a todo o momento, recuperá-lo no seu estado primitivo, se o restauro
não dá os resultados esperados ou se as técnicas mais modernas podem substituir com v
antagem as anteriores. Certificar-nos-emos, portanto, antes de empreender um tra
tamento, que os produtos utilizados são facilmente elimináveis.
Para concluir este capítulo, diremos que o restauro é uma arte que obedece a leis mu
ito restrictas devendo ser aplicadas por um técnico experimentado e bem informado
que tenha, para além de tudo, o respeito pela obra.
Por vezes é difícil encontrar a pessoa que satisfaça todas estas exigências e em muitos
casos, o conservador terá interesse em se dirigir a grandes instituições que possuam o
ficinas e laboratórios a trabalhar em estreita colaboração.
Finalmente, é útil sublinhar que um documento restaurado não deve ser remetido para os
locais de origem se as condições ambiente não estão conforme às normas de uma boa conserv
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u cuir et du parchemin. Zagreb, ICOM, 1978.
GALLO, Fausta; GALLO, Pietro
"Désinfection des livres avec l'oxyde d'ethyIéne et le formaldhéhyde", Bollettino dell
'Istituto di Patologia del Libro (Italie), 3O G-2) Gennaio-Giugno
GUICHEN, GAEL de
Climat dans le musée: mesure, fiches techniques/Climate in museums: measurement, t
echnical cards. Rome, ICCROM, 1980.
ICCROM
International index on training in concervation of cultural property. Rome, 1978
.

ANEXO I
Composição de Algumas Variedades de Papel
Papel jornal
Contém, pelo menos 80 % de pasta mecânica crua e 20 % de pasta química crua. Caracteri
za-se pelo seu baixo preço, e pela sua óptima absorção das tintas de impressão, mas também p
ela sua má conservação no tempo.
Papel revista
A sua constituição é muito próxima da do papel jornal, mas contém um pouco menos de pasta
mecânica.
Papéis de edição
Papéis de edição corrente
Em geral são feitos a partir das pastas químicas branqueadas com uma mistura em prop
orções variáveis de resinosas e de folhosas e por vezes de palha. Podem receber tratam
entos de superfície, tais como a acetinação, isto é, um alisamento de superfície ou a esta
mpagem, que origina desenhos em relevo numa das faces, ou a estucagem, que consi
ste em cobrir a superfície do papel de uma mistura de cargas minerais e de aglutin
antes e a polir o papel. Estes papéis são de boa qualidade.
Papéis de edição de luxo e fiduciários (notas de banco)
Contêm pastas de trapo em proporções consideráveis podendo ir até aos 100 %. São encolados e
m meio neutro. São papéis que resistem melhor à acção do tempo e que têm maior duração.
Papéis de escrita
São geralmente semelhantes aos papéis de edição corrente, mas contêm uma forte percentagem
de cargas e são muito encolados para permitirem a escrita com pena.
Papéis de embalagem
Papéis kraft
São constituídos por 100 % de pasta química crua muito refinada. Têm uma notável resistência
mecânica, mas a presença de linhina na pasta torna-os sensíveis à luz e à temperatura: po
dem, portanto, degradar-se, escurecer, tornar-se quebradiços e talvez libertar pro
dutos nocivos para os outros documentos.
Papel cristal
É composto de pasta química muito refinada e calandrada (passada em rolos muito pesa
dos e muito lisos) o que lhe dá a sua transparência. A refinação em alto grau da pasta,
degrada em parte a celulose e a conservação deste papel não será muito boa. O papel calc
o (Papier calque - papel transparente que permite o decalque, utilizado em desen
ho. (N. T.) é feito a partir do papel cristal, por imersão em óleos ou em essências de o
rigem vegetal.
Papéis finos
Papel translúcido
É fabricado com as mesmas pastas que os papéis de edição corrente, mas é muito mais fino.
É utilizado para duplicados de máquina de escrever ou como suporte de carbonos.
Papel bíblia
As qualidades clássicas são feitas a partir de linho ou de cânhamo e servem para impri
mir os textos religiosos e outros textos particularmente densos (por exemplo, as
obras da colecção "La Plêiade").

ANEXO II
Principais centros de conservação e oficinas de restauro
Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Egipto, Espanha, Estad
os Unidos da América, Finlândia, França, Holanda, Hungria, Índia, Irlanda, Israel, Itália,
Japão Malásia, México, Noruega, Polónia, Reino-Unido, República Checa, Senegal, Suécia, Rúss
a e Uruguai.

ANEXO III
Alguns organismos internacionais especializados na conservação dos bens culturais
CIA
Conseil International des Archives
60, rue des Francs-Bourgeois
75141 Paris Codex 03
France

ICCROM
Centre Internationale d'Études pour la
Conservation et la Restauration des Biens Culturels
Via di San Michele, 13
00153 Roma
Italie
ICOM
Conseil International des Musées
Comité pour la Conservation.
Maison de l'Unesco
1, rue Miollis
75732 Paris Cedex 15
France
IFLA
International Federation of Library
Associations and Institutions
POB 95313
25O9 CH The Hague
Netherlands
Preservation and Conservation International Focal Point
Bibliothèque Nationale
2, rue Vivienne
75O84 Paris Cedex O2
France
IIC
International Institute for Conservation of
Historic Works
6, Buckingham Street
London WC2N 6BA
United Kingdom

ANEXO IV
Alguns periódicos que tratam de problemas relativos à conservação e ao restauro de docum
entos gráficos
Art and archaelogy technical abstracts, International Institute for Conservation
of Historic and Artistic Works, 6 Buckingham Street, London WC2N 6BA, United Ki
ngdom.
Bollettino dell'Istituto Centrale di Patologia del Libro, Via Milano 76, 00184 R
oma, Italia.
Bolletino dell'lnstituto Centrale del Restauro, Piazza San Francisco di Pacola,
9 Roma, Italia.
Conservatiom administration news, University of Wyorning Libraries, Box 3334, Un
iversity Station, Laramie, WY 82071, United States of America.
The conservator, United Kindgom. Institute for Conservation of Historic and Arti
stic Works, MilIbank, The State Callery, London SW 1P 4RG, United Kingdom.
ICCM bulletin, Institute for the Conservation of Cultural Material, Canberra Col
lege of Advanced Education, School of Applied Science, P.O. Box 1, Belcormen, AC
T 2616, Australia.
ICC bulletin, International Institute for Conservation of Historic and Artistic
Works, 6 Buckingham Street, London WC2N 6BA, United Kingdom.
Journal de l'Institute canadien de conservation/journal of the Canadian Conserva
tion Institute, Institut Canadien de conservation, Musées nationaux du Canada, 1O3
O Chemin Innes, Ottawa, Ontario KlA OM8, Canada.
Journal of the American Institute for Conservation, American Institute for Conse
rvation of Historic and Artistic Works, 1522 K Street, N. W., Suite 804, Wash
ington DC 20005, United States of America.
Maltechnik restauro, Verlag Georg D. W. Callwey KG, Streitfeldstrasse 35, 8000 Mün
chen 80, Deutschland.
Newsletter, The Commission on Preservation and Access, Washington, D. C.
20036-2217, United States of America.
Nouvelles de l'ICOM, Conseil International des Musées, Maison de l'Unesco, 1, rue
Miollis, 75732 Paris Cedex 15, France,
The paper conservator, Journal of the Institute of Paper Conservation, P. O. Box
17, London WC1N 2PE, United Kingdom.
Restaurator: International journal for the preservation of library and archival
material, Munksgaard International Publishers, 35 Nörre Sögade, DK-1370 Copenhagen K
, Danemark.
Studies in conservation, International Institute for Conservation of Historic an
d Artistic Works, 6 Buckingham Street, London WC2N 6BA, United Kingdom.

ANEXO V
Organismos portugueses especializados na conservação de documentos gráficos
Arquivo Histórico Ultramarino
Calçada da Boa-Hora, 30
Ajuda
1300 LISBOA
Arquivos Nacionais/Torre do Tombo
Alameda da Universidade
1600 LISBOA
Escola Superior de Conservação e Restauro
Rua das Janelas Verdes, 37
1200 LISBOA
Escola Superior de Tecnologia de Tomar
Curso de Artes Gráficas
2300 TOMAR
Fundação Calouste Gulbenkian
Museu Calouste Gulbenkian
Laboratório de Restauro
Av. de Berna, 45-A
1000 LISBOA
Fundação Ricardo Espírito Santo
Rua de S. Tomé, 90
1000 LISBOA
Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro
Laboratório de Restauro
Edifício da Biblioteca Nacional Campo Grande, 83
1751 LISBOA Codex
Instituto José de Figueiredo
Rua das janelas Verdes
1200 LISBOA

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