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Título: A fenomenologia de Heidegger como método e hermenêutica.

O método Fenomenológico.

Nos primeiros parágrafos de sua obra Ser e Tempo (1927), Martin


Heidegger apresentas as razões que o motivaram a retomar a questão do
sentido do ser. Para Heidegger, apreender o ser quanto ao seu sentido é a
chave para alcançar devidamente a questão, todavia a tradição teria ficado em
volta do ser, em volta da questão sem conseguir se voltar para o núcleo da
questão.

Heidegger, ao tomar para si a tarefa de reconduzir a questão da ontologia


ao seu devido lugar, ou seja, perguntar pelo ser quanto ao seu sentido,
denominou-a de ontologia fundamental. Essa ontologia fundamental ele a
desenvolve, pela via fenomenológica. Para Heidegger a ontologia só é possível
“retornando as coisas elas mesma” e isso é fenomenologia. A fenomenologia é
a via de acesso para a compreensão da questão do sentido do ser e por essa
razão se estabelece, em Ser e Tempo como método e hermenêutica. A obra
Ser e Tempo se apresenta, portanto, como investigação fenomenológica.

O conceito de fenômeno

No parágrafo 7 de Ser e Tempo, Heidegger traz uma concepção


preliminar da fenomenologia. Das análises dos termos que compõem a palavra
Heidegger toma por “fenômeno”, termo derivado do verbo “fainestaí”, que
significa: mostrar-se e, por tanto, “fenômeno” diz o que se mostra, o que se
revela. Mas “fainestaí” é também a forma média de “faino” que significa: trazer
para luz do dia, pôr no claro, isso significa que é inerente ao “fenômeno” a
capacidade de poder vir a se revelar e a se tornar visível em sí mesma.
Assim Heidegger toma como conceito de fenômeno – “ o que se revela, o
que se mostra em si mesmo. Diz Heidegger:

Os fenômenos, constituem, pois, a totalidade do que está à luz do dia


ou se pode pôr à luz, os gregos identificavam, algumas vezes,
simplesmente com “os entes”, a totalidades de tudo que é.
(Heidegger1927, p.58)

O conceito de Logos

Heidegger reconhece a dificuldade para conceituar o termo Logos, por ser


polissêmico, em Platão e Aristóteles, a tal modo, que seu significado tende a se
dispersar, mas essa dificuldade aparente é resolvida, segundo Heidegger,
quando se apreender devidamente o sentido primordial de Logos.

Heidegger toma por discurso o sentido primordial de Logos, mas essa


tradução literal, segundo Heidegger, só terá valor completo apenas se definir o
que é um discurso, pois para Heidegger a história posterior ao significado de
Logos encobriu o seu sentido primordial.

a história posterior do significado da palavra Logos e, sobretudo, as


interpretações diversas e arbitrárias da filosofia posterior encobrem o
sentido próprio de discurso, que é bastante claro. Essas filosofias
posteriores “traduz” Logos por razão, juízo, conceito, definição,
fundamento, relação, proporção. (Heidegger1927, p.62)

Heidegger questiona como pode o discurso se modificar tanto, ao ponto


de Logos significar tudo isso, nem como juízo, afirma Heidegger, que
aparentemente poderia está correta mas deixa de fora o significado básico
principalmente quando se concebe juízo no sentido de alguma “teoria do
Juízo”.

“Em todo caso, Logos não diz, ou não diz primeiramente, juízo, caso
se entenda por juízo uma “ligação”, um “posicionamento” (aceitar-
rejeitar) ”. (Heidegger 1927, p62).

Heidegger toma como discurso, Logos que diz; Logos que revela aquilo
de que trata o discurso. Esta função do discurso, Heidegger toma de Aristóteles
quem melhor explicitou determinando-a como “Apofainestai”, ou seja, para
Heidegger Logos é “apofanaistai”.
“O Logos, deixa e faz ver aquilo sobre o que se discorre e o faz para
quem discorre (médium) e para todos aqueles que discursam uns
com os outros”. O discurso “deixa e faz ver” ... a partir daquilo sobre o
que discorre” (Heidegger 1927, p62).

Ambos os termos “fenômeno” e “logos” traz intrínseco em suas estruturas


a característica primordial de “mostrar-se em sí mesmo”, revela algo de sí
mesmo. Heidegger então toma o conceito preliminar de fenomenologia como –
“deixar e fazer ver por sí mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a
partir de si mesmo. ”

A fenomenologia apresentada no parágrafo 7 da obra Ser e Tempo tem a


função de “deixar e fazer ver”. Mas o que a fenomenologia deve deixar e fazer
ver, pergunta Heidegger, aquilo que exige tornar-se fenômeno e na maioria das
vezes se mantém velado tão profundo que sua investigação e sentido chega a
ser esquecido. A fenomenologia tem a função de deixar e fazer ver o ser dos
entes.
“O que, num sentido extraordinário, se mantém velado ou volta
novamente a encobrir-se ou ainda só se mostra “desfigurado” não é
este ou aquele ente, mas o ser dos entes[...] o que, portanto, num
sentido privilegiado e em seu conteúdo mais próprio, exige torna-se
fenômeno é o que a fenomenologia tomou para objeto de seu tema. ”
(Heidegger 1927, p66).

A fenomenologia heideggeriana se constitui como método porque é a via


de acesso e o modo de verificação para se determinar a questão do ser dos
entes que de início e na maioria das vezes, os fenômenos não se dão. O
conceito fenomenológico de fenômeno apresenta, como o que se mostra, o ser
dos entes, o seu sentido, suas modificações e derivados e esta questão é tema
da ontologia.
Hermenêutica e Faticidade

Heidegger considerava o seu método fenomenológico e hermenêutico.


Ambos os conceitos se referem a intenção de dirigir a atenção para trazer à luz
aquilo que exige tornar-se fenômeno e na maioria das vezes se mantém
velado tão profundo que sua investigação e sentido chega a ser esquecido.
Heidegger toma por tarefa compreender a coisa que a fenomenologia “deixa e
faz ver”. O ente se dá à interpretação, ou seja, o ente se comunica para
compreensão e a maneira como essa compreensão é pela via da
hermenêutica.

Há um ente que o questionar sobre a questão do ser dos entes se acha


essencialmente determinado nele. A esse ente Heidegger o designou Dasein.

A relação do Dasein com os outros entes, através do ente privilegiado,


homem, Heidegger chamou de existência. Por possuir a compreensão de si
mesmo e dos outros entes que o circunda, o homem é o único que existe e
inclusive tem compreensão da sua existência. Já os outros entes por falta
dessa compreensão, eles simplesmente são. Devido a essa característica
essencial o homem vai se apresenta como a chave para se compreender o
sentido do ser dos entes.

Heidegger vai tomar por hermenêutica o modo como compreende o ser-


aí na sua faticidade, que se mostra a cada ocasião, que interage com os outros
entes e a todo momento se comunica, interpretando e dando-se a
interpretação, e que está sempre em movimento de possibilidade. O “aí” lhe
confere essa mobilidade de vir a ser. A esse modo compreender o ser-aí em
sua existência, em sua faticidade Heidegger chamou de hermenêutica.

Desta forma a fenomenologia dentro da tarefa de Heidegger se apresenta


como método pois estabelece o caminho para o retorno das coisas elas
mesmas, “deixando e fazendo ver” o ser dos entes que se dá a compreensão
via a hermenêutica que assume a tarefa de trazer à luz a compreensão sobre o
sentido do ser dos entes através da análise existencial do Dasein.

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