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PROF.

BRUNO ALMEIDA
História | Aula 08

OBJETO DE CONHECIMENTO: ESCRAVIDÃO E FORMAS DE RESISTÊNCIA INDÍGENA NA AMÉRICA COLONIAL.


H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

1. O TRABALHO INDÍGENA NA AMÉRICA HISPÂNICA Os encomenderos receberam severas críticas por


parte de padres e leigos, por causa da violência com que
Com o início da colonização, os espanhóis tratavam os indígenas. O dominicano Bartolomeu de Las
recorreram ao trabalho de indígenas escravizados, Casas (1474-1566) foi o mais veemente crítico desse
notadamente o das mulheres, para extrair o ouro de aluvião sistema.
de rios nas Antilhas e na América Central. Os conquistadores
também conseguiram se apoderar do ouro e das demais As haciendas
riquezas dos impérios Asteca e Inca. Porém, em meados do Em linhas gerais, a hacienda da América espanhola
século XVI, a descoberta das minas de prata em Potosí, no correspondia ao sistema de plantation, termo em inglês que
Alto Peru (atual Bolívia), representou urna mudança no designa a grande propriedade monocultora de produtos
cenário da exploração de metais preciosos. A prata tropicais e subtropicais de exportação. Outros elementos
assegurou sua longa hegemonia, seduzindo os europeus que característicos da hacienda eram o trabalho compulsório e o
sonhavam com as riquezas hispano-americanas. A extração autoritarismo com que o proprietário controlava as atividades
desse metal foi a atividade predominante da economia produtivas e a vida dos que dele dependiam econômica e
colonial da América hispânica, o que resultou na intensa socialmente. A grande propriedade rural hispano-americana,
ocupação da região mineradora. porém, não produzia prioritariamente para a metrópole e sim
Juridicamente, as minas não eram propriedade para um mercado mais restrito — local, regional, entre zonas
privada. O subsolo estava sob o poder exclusivo da Coroa. da mesma colônia ou quando muito intercolonial.
Os mineradores receberam, porém, em caráter permanente, No entanto, o México e as Antilhas produziam
concessões para a exploração das terras. Mais tarde, a açúcar, destacando-se a participação cubana, notadamente
necessidade de comprar equipamentos especializados para no século XVIII. Desde o século XVI, a produção de algodão
a extração dos metais no fundo das minas, que exigia no litoral peruano adquiriu importância no comércio
investimentos elevados, eliminou os pequenos e médios internacional. Na América Central, especialmente em El
concessionários, deixando a atividade extrativista nas mãos Salvador, o índigo, matéria-prima para o fabrico do anil,
de grupos financeiros elitizados. ocupou grande parte das haciendas.

Repartimientos e encomiendas 2. O TRABALHO INDÍGENA NA AMÉRICA LUSITANA


O sistema de trabalho empregado na atividade
mineradora foi basicamente o repartimiento de índios. Esta De modo a inserir o índio no processo de
forma de organizar o trabalho representou uma adaptação de colonização os portugueses recorreram a três métodos. O
formas de trabalho que já existiam na América antes da primeiro consistia na escravização pura e simples, na base da
chegada dos espanhóis. Ele era semelhante à Mita, praticada força, empregada normalmente pelos colonos. O outro criava
nos países andinos, e ao Cuatéquil, do México. um campesinato indígena por meio dos aldeamentos,
O repartimiento era utilizado principalmente nas praticadas primeiramente pelos jesuítas, e depois pelas
minas e nos setores de beneficiamento do minério. Nos dois demais ordens religiosas, a exemplo dos mercedários e
casos, tinha caráter obrigatório e temporário, mobilizando carmelitas nas chamadas missões ou reduções. O terceiro
mão de obra escolhida geralmente por sorteio. Os indígenas buscava a integração gradual do índio como trabalhador
selecionados poderiam ser levados para qualquer região da assalariado e aliado no projeto colonizador, medida adotada
colônia. Na maioria das vezes, deviam desenvolver uma tanto por seculares como pelos religiosos. Durante todo o
atividade árdua e insalubre em troca de um salário século XVI e início do XVII os portugueses aplicaram
baixíssimo. Mais tarde, além do salário, passaram a receber simultaneamente esses métodos. Naquele momento
o partido, isto é, parte da produção do minério extraído. Numa consideravam a mão-de-obra indígena indispensável.
fase posterior, com a diminuição dos povos indígenas, o Os representantes das ordens religiosas tinham um
sistema de repartimiento foi substituído pelo trabalho livre. projeto de colonização pautado na cristianização do indígena
A encomienda representou um tipo especial de a fim de compatibilizá-la com os interesses metropolitanos e
repartimiento, estabelecido em 1512: comunidades esse método ganhou força e teve grande importância no
indígenas, dirigidas por seus chefes naturais, foram confiadas processo de aculturação dos nativos.
aos colonos espanhóis, que assim dispunham de Segundo a historiadora Beatriz Perrone-Moisés, a
trabalhadores para a agricultura e a extração de metais. legislação portuguesa acerca da escravização dos índios
Nesse tipo de contrato, o encomendero comprometia-se a mostrava-se “contraditória, oscilante e hipócrita” gerando
assegurar a instrução cristã a “seus” índios. Em contrapartida, interpretações dúbias e permitindo entre outras práticas as
estes deveriam recompensá-lo com seu trabalho e pagar seguintes:
tributos em espécie. Concedida pela Coroa, a encomienda
podia ser transferida apenas para duas gerações posteriores • Guerras Justas: Autorizadas pela coroa portuguesa sob
à do beneficiado. As autoridades também proibiram que o alegação de que os índios mostravam-se hostis e
encomendero se apoderasse das terras indígenas. Mas na relutantes a conversão. No geral as guerras justas
prática não havia controle, e esse regime de trabalho, com o tornaram-se o principal mecanismo de escravização dos
repartimiento, foi um dos responsáveis pela dizimação das índios.
populações nativas. • Resgates: Os índios que eram feitos prisioneiros nas
guerras intertribais e seriam sacrificados nos rituais
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antropofágicos eram negociados em relações de Isolados nos aldeamentos e reunidos em grande
escambo com os portugueses. Esse “resgate” feria a número, os índios eram um alvo fácil para a cobiça dos
antiga tradição guerreira dos nativos. colonos, ávidos por mão-de-obra escrava. Enquanto os
• Descimentos: Consistiam em expedições às tribos jesuítas pretendiam converter os índios à fé católica e utilizá-
indígenas com o intuito de convencê-las a “descer” para los economicamente, os colonos queriam-nos apenas como
os aldeamentos missionários para ali receberem uma mão-de-obra. O historiador Luiz Koshiba, diz que “a posição
educação cristã ou então se enquadrarem na rotina de dos jesuítas propunha uma forma mais humana para a
trabalho nas cidades e povoações. Esses índios eram efetivação dos objetivos coloniais, colocando-se contra os
considerados livres, contudo geralmente estavam colonos, que viam na escravidão do índio a solução mais
submetidos às repartições (divisão da mão-de-obra entre adequada para a prática mercantil”.
os diversos colonos laicos). As várias missões constituíam-se na base de
sustentação dos jesuítas no Brasil. Nelas, além da conversão
A partir desses mecanismos de obtenção da mão- dos indígenas, gerava-se uma economia com base na mão-
de-obra indígena era comum a organização do trabalho em de-obra escrava. Assim, a Companhia de Jesus construiu um
torno dos aldeamentos. Charles Boxer, historiador britânico, imenso patrimônio, constituído de propriedades de terras,
nos aponta pelo menos quatro tipos de aldeamentos. O escravos, plantações, engenhos, etc. Também mantinham
primeiro, cuja mão-de-obra beneficiava a ordem religiosa a igrejas, paróquias e colégios.
qual havia sido entregue. O segundo beneficiava a Coroa e Obviamente o indígena não se mostrava passivo a
fornecia mão-de-obra para a construção de obras públicas, todo esse processo de exploração de sua mão-de-obra. Os
navios, salinas, pesqueiros entre outras. O terceiro, aldeamentos eram focos de epidemias das mais
conhecido como de “repartições”, cedia mão-de-obra para diferenciadas doenças como gripe, sarampo e varíola contra
particulares necessitados de serviços em suas propriedades. as quais os nativos possuíam pouca resistência e tornavam-
O último tipo consistia em aldeamentos afastados dos centros se vítimas de grande mortandade. Afora o rígido tratamento o
urbanos que tinham como objetivo a catequização dos índios. indígena se via vítima de uma violência que feria sua
Este último, em geral, era auto-suficiente e sempre sob o liberdade e cultura, violência essa que foi resistida com
controle dos missionários. mecanismos diversos, dentre os quais as fugas mata à
Nos aldeamentos jesuíticos os índios eram dentro.
educados para viver como cristãos. Essa educação
significava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. 4. DIRETÓRIO POMBALINO E O ÍNDIO-CIDADÃO
Os jesuítas se valiam de aspectos da cultura nativa, Por: José Alves de Souza Júnior
especialmente a língua, para se fazerem compreender e se
aproximarem mais dos indígenas. Esta ação incrementava a A visão de Pombal sobre Portugal
destribalização e violentava aspectos fundamentais da vida e A ascensão de Sebastião José de Carvalho e Melo,
da mentalidade dos nativos, como o trabalho na lavoura, Marques de Pombal, ao governo de Portugal, na condição de
atividade que consideravam exclusivamente feminina. Ministro do rei D. José I, representou uma modificação da
Do ponto de vista dos jesuítas, a destruição da concepção do governo metropolitano acerca das relações
cultura indígena simbolizava o sucesso dos aldeamentos e da Metrópole-Colônia, embora permanecessem os princípios
política metropolitana inspirada por eles. Os religiosos norteadores de tais relações. A experiência de Pombal em
argumentavam que as aldeias não só protegiam os nativos da Londres e Viena, como representante português, permitiu-lhe
escravidão e facilitavam sua conversão, mas também avaliar de perto os motivos da supremacia inglesa e constatar
forneciam uma força militar auxiliar para ser usada contra a situação de atraso em que Portugal se encontrava em
tribos hostis, intrusos estrangeiros e escravos bêbados. relação aos seus concorrentes. A ideia de que o Reino
Entretanto, os efeitos dessa política eram tão agressivos e Português encontrava-se, ainda no século XVIII, em situação
aniquiladores da identidade nativa que, não raro, os índios de atraso frente aos outros países da Europa Ocidental,
preferiam trabalhar com os colonos, apesar de serem principalmente a Inglaterra e a França, faz parte do imaginário
atividades mais rigorosas, pois estes pouco se envolviam com social construído no período, tendo sido exteriorizada em
seus valores, deixando-os mais livres. inúmeros trabalhos apresentados à Academia Real de
Ciências de Lisboa por personalidades portuguesas e
3. CONFLITOS ENTRE MISSIONÁRIOS E COLONOS brasileiras.
Decidido a colocar Portugal à altura dos “novos
A base do conflito entre os missionários e os colonos tempos”, Pombal empreendeu uma série de reformas, que
estava na apropriação dos indígenas enquanto iam desde à reorganização econômica do reino até ao
trabalhadores, haja vista que cabia aos religiosos de certa reorganização da cultura, através de reformas na educação.
forma a organização do trabalho indígena a partir do Nesse novo ideário, a ciência adquire o sentido de ciência
aldeamento e a decisão sobre a legitimidade ou não da aplicada, ou seja, a ciência que se aplica à sociedade, o que
escravização deste ou daquele índio por parte dos colonos. permite a formulação de uma política de base científica para
BEZERRA NETO, José Maia. A Conquista Portuguesa na Amazônia. In: ALVES FILHO, o Estado. Por isso, as reformas feitas no sistema de ensino
Armando; SOUZA JR, José Alves de & BEZERRA NETO, José Maia. Pontos da História da centravam-se na profissionalização, sendo exemplo disso a
Amazônia. 3ª Ed. Belém: Paka-Tatu, 2001.
instituição da Aula do Comércio nos Estudos Menores. A
Considerando os indígenas como súditos, era ilegal ciência experimental, condição sinequa non para o progresso,
e moralmente inaceitável escravizá-los. Mas a realidade era vista como a única garantia de se tirar Portugal da
ditava aos portugueses essa necessidade. Nesse sentido situação de atraso em que se encontrava e de introduzi-lo na
travou-se um conflito entre particulares e missionários no que “modernidade”, representando a educação nesse processo
diz respeito ao controle e formas de utilização da mão-de- um importante papel.
obra indígena. O Projeto da Regeneração de Portugal construído
por elementos da elite luso-brasileira, além desses princípios,
centrava-se na necessidade de reavaliar e modificar as
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relações Metrópole-Colônia, já que o Brasil começava a ser • Cabe ressaltar que quando Pombal assumiu o governo de
colocado como o centro em torno do qual esse projeto se Portugal na condição de Ministro de D. José I, em 1750, a
efetivaria, na medida em que tal elite constatava o sub- economia açucareira do Nordeste já se encontrava
aproveitamento e/ou desperdício das suas potencialidades decadente há muito tempo, devido à concorrência do
econômicas, devido à completa ausência de um projeto açúcar holandês das Antilhas, e as minas do Centro-Sul
político de base científica. Isto justifica o grande interesse de já estavam em fase de esgotamento, o que fazia com que
Pombal pelo Brasil e, particularmente, pela Amazônia, e as cada vez menos metais preciosos chegassem a Portugal.
reformas realizadas em múltiplos setores das sociedades • Assim, havia necessidade de se encontrar outra
metropolitana e colonial, como forma de viabilizar o projeto alternativa econômica na Colônia, que para Pombal
regenerador. estava na Amazônia, onde pretendia desenvolver um
Não bastava apenas racionalizar a exploração da sistema de produção agrícola de base capitalista,
Colônia para torná-la mais eficiente. Havia a premente assentado no latifúndio, na monocultura do cacau e no
necessidade de defendê-la da cobiça de estrangeiros, ainda trabalho assalariado indígena.
mais depois da assinatura do Tratado de Madri com a
Espanha, em 1750, que incorporou cerca de 3000 km2 de A lei de 6 de junho de 1755:
território ao Brasil, na sua maior parte ao Norte do Brasil. A A referida lei trazia como principais determinações
defesa eficaz de tão vasto território dependia da sua efetiva as seguintes:
ocupação, coisa que na Amazônia estava muito distante de
ser real. Havia, pois, urgente necessidade de promover a • A completa abolição da escravidão indígena, eliminando
imediata demarcação das fronteiras estabelecidas pelo quaisquer exceções previstas na legislação anterior como
Tratado de Madri e de efetivar a ocupação do território, “guerra justa” e “resgate”;
principalmente no Norte, onde a presença de colonos • A extinção do poder temporal das ordens religiosas sobre
portugueses era pouco significativa. Foi nesse contexto que as aldeias e a completa liberdade de todos os índios,
a ideia de transformar o índio em colono, há muito perseguida mesmos daqueles que se encontrassem escravizados por
pelos sucessivos governos metropolitanos, ganhou qualquer pretexto que fosse;
intensidade, pois se mostrava como a única alternativa viável, • A imediata prisão de todos aqueles que teimassem em
mais ainda depois de terremoto de 1755, que arrasou Lisboa fazer índios cativos;
e produziu um grande número de mortos. • A obrigatoriedade do pagamento de salários aos
Transformar o índio em colono implicava em trabalhadores indígenas correspondentes aos que se
reconhecer-lhe a condição de pessoa, logo vê-lo como pagava aos artífices em Portugal;
portador de direitos naturais, situação esta incompatível com • O reconhecimento de serem os índios senhores de suas
a condição de escravo. Por isso, o primeiro passo seria terras, mesmo daquelas que estivessem em poder de
transformá-lo em homem livre, estabelecendo proibições particulares na forma de sesmarias, isentando-as de
legais à sua escravização pelos colonos ou por quem quer pagar foro ou tributo algum pelas mesmas, pois seriam os
que fosse. Além disso, o índio-colono deveria estar isento da “primarios, e naturaes senhores dellas”;
tutela das ordens religiosas que os aldeavam em missões,
• A transformação das aldeias mais populosas em vilas e a
para que pudesse ser deslocado para outras áreas que não o
repartição das terras adjacentes às mesmas aos índios
seu local de origem. Todos estes fatores fizeram com que
que a habitavam, garantindo o domínio e a posse
Pombal formalizasse uma política indigenista para a
hereditária das referidas terras;
Amazônia, estendida depois para todo o Brasil, que implicava
• A construção de igrejas e a convocação de missionários
em reconhecer aos indígenas os direitos pertinentes a
para o trabalho de descimento e conversão dos índios.
cidadãos portugueses, transformando-os em trabalhadores
(Apesar de afastar os missionários da administração dos
assalariados e colonos, e desenvolvendo estratégias para
aldeamentos indígenas, Pombal reconhecia a habilidade
levá-los a interiorizar os interesses portugueses, no sentido
dos mesmos em tratar com os índios).
de vê-los como os seus próprios interesses, sendo que uma
dessas estratégias foi a de tornar obrigatório o ensino da
O regime do Diretório (1757-1798)
língua portuguesa nas aldeias, pois os jesuítas mantinham o
Ponto culminante da política pombalina, a instituição
uso da língua geral indígena - o nheengatu - inclusive na
do Regime do Diretório buscava atingir três objetivos: a
celebração de missas, procurando, assim, dificultar o contato
imposição da Língua Portuguesa como a única falada pelos
dos colonos portugueses com os índios.
indígenas, a efetivação da reforma dos costumes, levando os
índios a interiorizarem os valores da cultura portuguesa, e a
A política indigenista pombalina
promoção do desenvolvimento econômico da Amazônia, em
bases capitalistas.
Objetivos
Partia do reconhecimento da incapacidade dos
A preocupação com a incorporação do trabalho
próprios índios de gerirem seus próprios interesses, devido à
indígena ao projeto colonial português era muito antiga,
rusticidade e ignorância de que são portadores, havendo por
sendo alvo de uma extensa legislação, que vinha sendo
isso necessidade da presença em cada povoação de diretor
colocada em vigor desde 1570, ainda no Reinado de D.
branco e leigo, que passaria a ser responsável pelo governo
Sebastião.
dos índios.
No entanto, o esforço mais significativo nesse
Ao implantar o Diretório nos aldeamentos indígenas,
sentido foi feito pelo Marquês de Pombal, cuja política
Pombal objetivava promover sua completa emancipação,
indigenista buscava atingir dois objetivos:
desvinculando-os definitivamente da tutela dos missionários,
o que faria com que os índios pudessem ser deslocados para
• A criação de uma camada camponesa ameríndia,
áreas distantes dos seus aldeamentos, na condição de
integrada ao mercado como trabalhadores assalariados;
colonos, passando a ocupar e a defender o território
• A transformação do índio em veículo da colonização amazônico da cobiça estrangeira.
portuguesa no Norte do Brasil.
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Nos seus 99 artigos, o Regimento do Diretório era
minucioso em suas determinações no sentido de levar os
índios a se pensarem como portugueses e a defenderem os
interesses dos mesmos como se fossem seus. Assim, tal
regimento, entre outras, estabelecia as seguintes orientações
que deveriam ser seguidas pelos diretores (portugueses) dos
aldeamentos:

• A disseminação da língua portuguesa entre os índios.


Afirmava o estatuto do Diretório que a introdução da
língua dos conquistadores entre os povos conquistados
tem sido um dos meios mais eficazes de consolidação das
conquistas, na medida em que possibilita aos dominados
interiorizarem os valores dos dominantes, reduzindo-se,
assim, a resistência à dominação;
• A proibição da utilização do tratamento de pretos ou
negros aos índios, tanto pelos colonos portugueses como
entre eles mesmos, com o objetivo de fazer com que eles
se sentissem diferentes dos outros trabalhadores
escravos com quem sempre conviveram, os africanos, e
passassem a se identificar com os portugueses;
• A aposição aos nomes dos índios dos mesmos
sobrenomes usados pelos portugueses e demais pessoas
civilizadas;
• O fim das habitações coletivas, consideradas promíscuas,
que deveriam ser substituídas por casas onde habite
apenas uma família, a semelhança do que fazem os
brancos;
• Estimular os índios a trabalharem em suas lavouras,
demonstrando-lhes “o quanto lhes será útil o honrado
exercício de cultivarem as suas terras...”;
• A introdução de brancos nos aldeamentos indígenas, com
a finalidade de acabar com o apartheid dos índios do
convívio com os portugueses imposto pelo jesuítas,
quando tinham o controle da administração dos referidos
aldeamentos;
• Estimular o casamento entre colonos e índios, para que
os portugueses os vissem de forma diferente e deixassem
de tratá-los como seres inferiores, desprovidos de
humanidade e, consequentemente, de direitos e vontade
própria.

Consequências do Regime do Diretório para os Indígenas


• A intensificação da escravização dos índios, já que os
diretores, recorrendo a velha prática de associar cargo-
poder-negócios, passaram a intermediar a aquisição da
mão-de-obra indígena pelos colonos, obtendo dessa
forma grandes vantagens econômicas;
• A completa laicização ou secularização dos aldeamentos
indígenas, na medida em que os índios foram colocados
sob a tutela de diretores brancos e leigos;
• O esvaziamento dos aldeamentos, devido a fuga em
massa dos índios ao perceberem que agora estavam
muito mais a mercê dos colonos;
• A intensificação das rebeliões indígenas, o que deixava
clara a feroz resistência dos índios à escravidão e ao
projeto colonial português;
• A aceleração do processo de destruição do modo de vida
tradicional indígena, devido à intensificação da
destribalização iniciada pelos missionários.

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