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Classificação de transformadores de potência baseado na análise dos

gases dissolvidos no óleo isolante


Armando Diniz Neto
UFSJ - Universidade Federal de São João del Rei – MG
Curso de Engenharia Elétrica
Campus Santo Antônio - Praça Frei Orlando, 170 Centro.
CEP: 36.307-352 São João del-Rei
Email: armandodiniz@gmail.com

Tereza Cristina Bessa Nogueira Assunção


UFSJ - Universidade Federal de São João del Rei – MG
Departamento de Engenharia Elétrica
Campus Santo Antônio - Praça Frei Orlando, 170 Centro.
CEP: 36.307-352 São João del-Rei
Email: bessa@ufsj.edu.br

José Tarcísio Assunção


UFSJ - Universidade Federal de São João del Rei – MG
Departamento de Engenharia Elétrica
Campus Santo Antônio - Praça Frei Orlando, 170 Centro.
CEP: 36.307-352 São João del-Rei
Email: tarcisio@ufsj.edu.br

Resumo.
Transformadores são equipamentos de grande importância em sistemas elétricos de potência, e que são submetidos
à stresses térmico e elétrico, os quais podem provocar falhas no sistema de isolação óleo/papel, com a produção de
gases dissolvidos no óleo isolante. A análise da natureza e da quantidade relativa desses gases pode ser usada para
diagnosticar a fonte de defeito nos transformadores. Esta análise tem como premissa uma avaliação quantitativa e
qualitativa dos produtos de degradação, presentes no óleo, e dos processos que aceleram o seu envelhecimento. A
separação e a identificação dos gases são feitas através da análise dos gases dissolvidos (AGD) ou análise
cromatográfica do óleo isolante. Existem métodos clássicos para classificação de transformadores a partir das
quantidades e da natureza dos gases encontrados no óleo isolante. Os métodos mais comuns são: método de Rogers,
método de Doernenburg, triângulo de Duval e da NBR 7274. Neste trabalho é feita a classificação de
transformadores utilizando os métodos clássicos, redes neurais artificiais e a LS-Máquinas de Vetores Suporte.
Finalmente, é feita uma comparação entre os três métodos, e verificou-se que os sistemas inteligentes se mostraram
mais eficazes do que os métodos clássicos na classificação de transformadores em relação às falhas incipientes.

Palavras chave: transformadores, redes neurais artificiais, óleo isolante, Ls-máquina de vetores suporte

1. Introdução

Os transformadores são uns dos equipamentos mais caros e vitais de um sistema elétrico de
potência. Faltas em transformadores podem resultar em interrupções da transmissão de energia,
ocasionando assim prejuízos financeiros para diversos setores da economia. Por isso um grande esforço
vem sendo empregado a fim de se prever e corrigir possíveis falhas nestes equipamentos, antes da
ocorrência de uma falta que o retire de operação.
O transformador é basicamente composto por material ferromagnético laminado envolvido por
bobinas de cobre isoladas com celulose e toda essa estrutura está imersa em óleo mineral, que tem a
função de resfriar e isolar o sistema.
Não existem dúvidas, de que o envelhecimento da isolação é considerado uma ameaça em
potencial à segurança operacional dos transformadores, principalmente para as unidades submetidas a
elevados gradientes de tensão. A gradual deterioração da pureza do óleo tem um importante papel no
sistema de isolação destes equipamentos.
A presença de gases no óleo isolante foi detectada graças ao emprego de técnicas de
cromatografia de gases, que separa e identifica os gases dissolvidos no óleo. A cromatografia começou a
ser estudada por M. S. Tsvet, um botanista russo, que analisava a mistura de pigmentos de plantas. Ele
separou esta mistura em faixas coloridas em uma coluna cromatográfica. Com o aperfeiçoamento deste
método de separação da mistura de líquidos, por volta dos anos 50, foi possível separar uma mistura de
gases. Nos anos 60, foi empregada a cromatografia do gás, o que veio ajudar muito os engenheiros
elétricos, pois empregando esta técnica foi possível a identificação dos gases dissolvidos no óleo do
transformador (Assunção, 2007).
As técnicas convencionais de manutenção de transformadores requerem que estes sejam tirados
de operação. Mas, com a evolução da tecnologia têm sido desenvolvidos diversos sistemas de
monitoramento on-line, através de sensores e sistemas de aquisição de dados, que possibilitam que os
transformadores não tenham que ser retirados de operação, para que seja feito um diagnóstico sobre
possíveis falhas incipientes em função da análise do óleo isolante. Falhas incipientes são aquelas que
estão em um estágio inicial e promovem a decomposição do material isolante e, portanto, estão associadas
às concentrações de gases formados no interior do transformador.
Um problema associado ao método convencional de análise dos gases dissolvidos é a
dependência da decisão final por parte de um especialista. Pois, transformadores de diferentes fabricantes,
nível de tensão e potência, estrutura, material utilizado no sistema de isolamento, tipo de carregamento e
histórico de manutenção podem apresentar diferentes características quanto à produção de gases e,
portanto necessitam, na maioria dos casos, serem considerados de forma particular. Observa-se ainda que
o nível e período de formação dos gases dependem da idade dos transformadores e também da
localização, natureza e severidade das falhas a que são submetidos.
Todos os fenômenos relacionados à formação de gases em transformadores e sua correlação com
as falhas incipientes são caracterizados por imprecisões, incertezas nas medidas e não-linearidades não
modeladas. Portanto, métodos convencionais de interpretação da análise dos gases combinados com
métodos baseados em inteligência computacional, em especial as redes neurais (Haykin, 1999), como
apresentado por Zhang (Zhang, 1996) e Dong (Dong, 2004), podem ser empregados de forma eficiente
para o diagnóstico automático de falhas incipientes, e conseqüentemente na classificação dos
transformadores em relação ao seu envelhecimento.
Dessa forma, as redes podem ser vistas como uma ferramenta que fornece alternativas às
metodologias convencionais de ensaios, produzindo resultados motivadores, principalmente devido às
características intrínsecas da técnica, tais como a capacidade de generalização e a facilidade de integração
com outras ferramentas computacionais.
A aplicação dos sistemas inteligentes para o diagnóstico de falhas incipientes em
transformadores e conseqüentemente na classificação dos transformadores é particularmente interessante,
pois, os sistemas inteligentes são capazes de adquirir conhecimento diretamente dos dados e assim revelar
relações não-lineares entre as entradas e saídas que ainda são desconhecidas pelos especialistas.
O objetivo deste trabalho é fazer uma comparação dos métodos clássicos usados para o
diagnóstico de falhas usando a análise dos gases dissolvidos no óleo isolante, com as ferramentas
inteligentes (Redes Neurais Artificiais e Máquina de Vetores Suporte baseada nos mínimos quadrados),
utilizando bancos de dados de ensaios cromatográficos dos gases dissolvidos em óleo isolante de diversos
transformadores.

2. Diagnóstico de falhas incipientes

Falhas em transformadores são de aspecto negativo e de grande preocupação para as


concessionárias de energia elétrica, principalmente aquelas que ocorrem sem nenhum conhecimento
prévio e que, por causarem interrupções abruptas no fornecimento de energia, têm conotações econômicas
diretas. Portanto, é muito importante monitorar o comportamento dos equipamentos em serviço para
evitar falhas catastróficas, interrupções de serviço e perdas de produção.
No Brasil, mais especificamente, o interesse por esta área tem sido acelerado nos últimos anos
devido às mudanças estruturais no setor de energia elétrica que promovem a competição em todos os
níveis e estabelecem índices mais rigorosos de qualidade técnica e de serviço. Neste ambiente altamente
regulado faz-se necessário melhorar o desempenho operacional e a confiabilidade dos transformadores,
principalmente porque tais equipamentos operam atualmente sob condições muito mais severas do que à
época de suas instalações, seja por razões técnicas associadas ao envelhecimento natural, regimes de
carregamento ou desgastes promovidos por esforços elétricos e mecânicos. Muitos sistemas de
monitoramento utilizam tanto a realização de diversos ensaios elétricos quanto o acompanhamento do
estado do óleo isolante através de análise físico-química e cromatográfica.
As técnicas que utilizam a análise do óleo isolante são capazes de prover uma perspectiva única
da condição atual do sistema de isolamento de transformadores. Tais informações são de importância
fundamental para que os engenheiros possam tomar decisões quanto ao planejamento da operação e
manutenção de tais equipamentos. O emprego do óleo isolante tem suas vantagens, pois podem ser
realizados com o transformador em operação.
Os gases mais comumente encontrados no óleo de transformadores em operação são: oxigênio,
hidrogênio, monóxido de carbono, metano, etano, etileno, acetileno, chamados de gases chaves; e a sua
presença pode indicar; segundo Duval (Duval, 2002):
• Hidrogênio (H2): grandes quantidades são relacionadas ao efeito corona;

2
• Hidrogênio, Metano (CH4), Etano (C2H6), e Etileno (C2H4): são resultantes da decomposição
térmica do óleo;
• Monóxido (CO) e Dióxido de Carbono (CO2): produzidos pelo envelhecimento térmico do papel;
• Acetileno (C2H2): associados à arcos elétricos no óleo.
Vários métodos foram desenvolvidos para análise destes gases de modo a obter a indicar a sua
real condição de operação.
A natureza e a concentração dos gases indicam o tipo e a severidade da falta no transformador.
As mudanças verificadas na produção de cada gás e a sua taxa de produção são fatores importantes na
determinação do tipo e evolução de faltas nos transformadores.
Os métodos mais comuns de diagnóstico de gases no óleo são os seguintes: IEEE C57.104-1991,
Método de Doernenburg, Método de Rogers, IEC 60599, Triângulo de Duval e Método dos gases chaves,
referenciados por Duval (Assunção 2007), que serão descritos, resumidamente, a seguir.

2.1. Método de Rogers

O método de Rogers utiliza quatro relações dos cinco gases envolvidos no processo da
deterioração do material isolante para determinar a condição do transformador. Primeiro é feito uma
codificação das relações e para cada seqüência de código é associado um tipo de falha. Na Tab. 1 é
mostrada como é gerada a codificação do método de Rogers.

Tabela 1. Geração de códigos do método de Rogers.

RELAÇÃO DE GASES FAIXA DE VARIAÇÃO CÓDIGO


<= 0,1 5
>=0,1<1 0
CH4/H2 >=1<3 1
>=3 2
<1 0
C2H6/CH4 >=1 1
<1 0
>=1<3 1
C2H6/CH4 >=3 2
<0,5 0
C2H2/C2H4 >=0,5<3 1
>=3 2

A seguir, na Tab. 2, é mostrada a codificação das relações com as falhas que os transformadores
podem estar sujeitos.

Tabela 2. Tabela de diagnóstico do método de Rogers.

CH4/H2 C2H6/CH4 C2H6/CH4 C2H2/C2H4 Diagnóstico


0 0 0 0 Normal
5 0 0 0 Descargas parciais
½ 0 0 0 Sobre aquecimento abaixo de 150 ºC
½ 1 0 0 Sobre aquecimento 150 °C – 200 °C
0 1 0 0 Sobre aquecimento 200 °C – 300 °C
0 0 1 0 Sobre aquecimento de condutores
1 0 1 0 Corrente de circulação nos enrolamentos
1 0 2 0 Corrente de circulação no tanque e no
núcleo e conexões
0 0 0 1 Descargas contínuas
0 0 1/2 1/2 Arco com alta energia
0 0 2 2 Descarga contínua de baixa potência
5 0 0 1/2 Descarga parcial envolvendo o papel

3
2.2. Método de Doernenburg

O método de Doernenburg também se baseia em relações entre os gases, porém, diferentemente


do método de Rogers, o de Doernenburg não codifica as relações, ou seja, ele associa diretamente os
valores relativos dos gases com condições de falta dos transformadores. Este método não prevê
funcionamento normal do transformador, porém ele estabelece certas condições para a validade do
método.
O critério que o método de Doernenburg emprega para a identificação de falhas é descrito na
Tab. 3.

Tabela 3. Tabela de diagnóstico do método de Doernenburg.

Relações entre concentrações de gases


Tipo de falha Relações principais Relações Auxiliares
CH4/H2 C2H2/C2H4 C2H6/C2H4 C2H6/CH4
Ponto quente >1 <0,75 >0,4 <0,3
Descarga parcial <0,1 Não significativo >0,4 <0,3
Outros tipos de descarga <1 e >0,1 >0,75 <0,4 >0,3
Tab. 4 são apresentados os valores individuais dos gases, para que o método de Doernenburg
seja aplicado. De acordo com a norma IEEE C57.104 (IEEE Std C57.104-1991, 1991), o método só é
válido quando, no mínimo um dos gases que compõem as relações principais, possuir uma concentração
superior ao dobro do valor apresentado na Tab. 4, e pelo menos um dos gases em cada relação auxiliar
possuir valor de concentração superior ao valor dado na Tab. 4.

Tabela 4. Tabela para validação para o método de Doernenburg.

Tipo de gás H2 C2H4 C2H6 C2H4 C2H2


Concentração [ppm] 100 120 65 50 35

2.3. Triângulo de Duval

O método desenvolvido por Duval leva em conta as quantidades percentuais relativas de três
gases: acetileno, metano e etano. A relação entre as quantidades relativas dos gases e as falhas a elas
associadas, é descrita através de um triângulo, mostrado na Fig. 1.

Figura 1. Triângulo de Duval

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2.4. Método do gás chave

Este método identifica o gás chave para cada tipo de falta e usa o percentual deste gás para a sua
identificação. A interpretação da análise de gases dissolvidos no óleo é baseada em um conjunto simples
de fatos. Por exemplo, as descargas parciais ou produção de corona são devidas principalmente ao H2
com alguns traços de gases derivados de hidrocarbonetos, portanto, o gás chave para descargas parciais
ou corona é o H2, ou seja, a descarga parcial e o corona podem ser detectados se o percentual da
quantidade de H2 for bem significativa em uma amostra de óleo.
Baseado no padrão IEEE C57. 104 (IEEE Std C57.104-1991, 1991), a Tab. 5 resume o critério
de diagnóstico do método do gás chave. O percentual do gás é baseado no total de gases combustíveis
dissolvidos (TDCG) no óleo isolante.

2.5 Normas do IEEE, IEC e ABNT

Os métodos convencionais, apresentados anteriormente, são aqueles cujo diagnóstico está


associado a intervalos para concentrações dos gases e/ou das razões entre estas. Tais métodos formam a
base para padronização realizada pelo IEEE, IEC e ABNT. A IEEE C57. 104 (IEEE Std C57. 104-1991,
1991), o IEC 599 e a ABNT NBR-7274 (NBR 7274, 1982)., e apresentam uma revisão do método das
razões de Rogers. Ao aperfeiçoar o método de Rogers, o IEEE/IEC/ABNT excluiu a utilização da razão
C2H6/CH4, pois, esta razão não era utilizada para identificação da falha, mas somente para indicar o
intervalo de temperatura da decomposição. Dessa forma, com a revisão do método de Rogers, são
utilizadas as razões R1, R2 e R5, descritas na Tab. 6.

Tabela 5. Critério de Diagnóstico do Método do Gás Chave.

Falta Gás Critério Percentual do


Chave gás
Arco C2H2 Grande quantidade de H2 e C2H2 e menor quantidade de CH4 e H2: 60%
C2H4, presença de CO e CO2 indicam que a celulose pode estar C2H2: 30%
envolvida.
Corona H2 Grande quantidade de H2, traço de CH4, com pequena H2: 85%
quantidade de C2H6 e C2H. CO e CO2 podem ser comparados se CH4: 13%
a celulose estiver envolvida.
Sobreaqueci- Grande quantidade de C2H4, menor quantidade de C2H6, traço C2H4: 63%
mento do óleo C2H4 de C2H4 e H2. traços de CO e CO2. C2H6: 20%
Sobreaqueci- CO Grande quantidade de CO e CO2. Gases hidrocarbonetos CO: 92%
mento da podem existir.
celulose

Tabela 6. Tabela de geração dos códigos da NBR7274, IEEE e IEC.

Intervalo das razões Códigos


R2 = C2H2 /C2H4 R1= CH4/H2 R5 = C2H4 /C2H6
< 0,1 0 1 0
0,1 - 1 1 0 0
1-3 1 2 1
>3 2 2 2

Na Tab. 7, é apresentada como a codificação das relações empregadas nos métodos NBR7274,
IEEE e IEC, é associada à falhas incipientes nos transformadores elétricos.

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Tabela 7. Tabela de diagnóstico previsto na NBR7274, IEEE e IEC.
C2H2 /C2H4 CH4/H2 C2H4 /C2H6 Diagnósticos
0 0 0 Sem falha
Não significativo 1 0 Descargas parciais de pequena densidade de energia
1 1 0 Descargas parciais de alta densidade de energia
1-2 0 1-2 Descargas de energia reduzida
1 0 2 Descargas de alta energia
0 0 1 Falha térmica de baixa temperatura
0 2 0 Falha térmica de baixa temperatura
0 2 1 Falha térmica de média temperatura
0 2 2 Falha térmica de alta temperatura

2.6. Sistemas inteligentes usados na detecção de faltas incipientes

Os métodos do gás chave, de Rogers e de Dornenburg são facilmente implementados e dão bons
resultados para o diagnóstico para a prevenção ou após a ocorrência de faltas severas em transformadores,
mas podem ser pouco sensíveis na detecção de faltas. Entretanto, podem ser usados como guias para os
sistemas inteligentes baseados em inteligência Artificial.
A aplicação dos sistemas inteligentes para o diagnóstico de falhas incipientes em
transformadores, e conseqüentemente, para a classificação dos transformadores em relação ao seu
envelhecimento é particularmente interessante, pois, os sistemas inteligentes são capazes de adquirir
conhecimento diretamente dos dados e assim revelar relações não-lineares entre as entradas e saídas, que
ainda são desconhecidas pelos especialistas (Zhang, 1996).

2.6.1. Redes Neurais Artificiais

A Rede Neural Artificial (RNA) é um modelo matemático computacional que tem como base as
redes neurais biológicas. Seu funcionamento pode ser descrito da seguinte forma (Haykin, 1999):
1- A RNA processa a informação em várias unidades denominadas neurônios.
2- A informação é transmitida de neurônio a neurônio através de um elo de conexão.
3- Cada conexão tem um peso associado a ela.
4- Cada Neurônio aplica uma função de ativação ao seu sinal de entrada (soma dos pesos
multiplicados pelos sinais de cada elo) e em seguida acrescenta uma constante no seu valor de saída
(bias).
A RNA é caracterizada, basicamente, pela sua arquitetura (padrão de conexão entre os
neurônios), método de determinação dos seus pesos e bias (tipo treinamento) e pela função de ativação
presente em cada camada.
A seleção das características de entrada é o primeiro passo essencial para a configuração de uma
RNA. Deve ser uma escolha muito cuidadosa,, de modo que as entradas reflitam as características do
problema a ser modelado. Outra tarefa importante no projeto de uma RNA é a escolha da topologia da
rede. Isto é feito, experimentalmente, através de processos repetitivos para aperfeiçoar o número de nós e
de camadas escondidas, de acordo com o processo de treinamento e a precisão desejada. O número de
neurônios da camada de entrada deve ser igual ao número de entradas, e o número de neurônios da
camada de saída é normalmente definido em função do número das variáveis de controle.
A Rede Neural Artificial é treinada com um conjunto de dados de entradas e saídas, para que
possa reconhecer seu padrão e assim, ao se aplicar uma entrada que não participou de seu treinamento, ela
possa gerar uma saída que obedeça ao padrão do conjunto de dados do qual foi treinada.

2.6.2. LS-Máquinas de Vetores Suporte (LS-SVM)

A máquina de vetores suporte baseada nos mínimos quadrados (LS-SVM) é uma ferramenta que
foi desenvolvida recentemente por Suykens (Suykens, 1999) e vem sendo usada para em diversas
aplicações, principalmente para a classificação de sistemas dinâmicos lineares e não lineares.
Esta ferramenta possui grande semelhança com a Máquina de Vetores Suporte, porém tem um
custo computacional menor. As suas vantagens são:

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1. Boa capacidade de generalização: os classificadores gerados por uma SVM em geral alcançam
bons resultados de generalização. A capacidade de generalização de um classificador é medida
por sua eficiência na classificação de dados que não pertençam ao conjunto utilizado em seu
treinamento.
2. Robustez em grandes dimensões: as SVM são robustas diante de objetos de grandes dimensões,
como, por exemplo, imagens.
3. Convexidade da função objetivo: a aplicação das SVM implica na otimização de uma função
quadrática, que possui apenas um mínimo global. Esta é uma vantagem sobre, por exemplo, as
Redes Neurais Artificiais, em que há a presença de mínimos locais na função objetivo a ser
minimizada.
4. Teoria bem definida: as SVM possuem uma base teórica bem estabelecida dentro da Matemática
e Estatística.

3. Metodologia

A proposta deste trabalho é o desenvolvimento de uma ferramenta para a classificação dos


transformadores, usando a análise dos gases dissolvidos no óleo isolante. Para tanto foram estudados e
implementados os métodos clássicos, as redes neurais artificiais e a LS Máquinas de Vetores Suporte,
utilizando bancos de dados de ensaios cromatográficos dos gases dissolvidos em óleo isolante de diversos
transformadores.
Dessa forma, tanto as RNA’s quanto a LS-SVM podem ser vistas como ferramentas que fornecem
alternativas às metodologias convencionais de ensaios, produzindo resultados motivadores,
principalmente devido às características intrínsecas de tais técnicas, como a capacidade de generalização
e a facilidade de integração com outras ferramentas computacionais.

3.1 Implementação da RNA.


A rede MLP (Perceptron de multicamadas) utilizada apresentava cinco neurônios na camada de
entrada, doze neurônios na camada intermediária e três neurônios na camada de saída. As funções de
ativação utilizadas em cada camada foram, respectivamente, tangente sigmóide, tangente sigmóide e
logaritmo sigmóide. O algoritmo de treinamento utilizado foi trainlm, e o de aprendizado e o leaergd,
para 150 épocas e limite de erro igual a 0,005.
Como a MLP não apresenta saída binária foi utilizada a estratégia do neurônio vencedor para se
fazer a classificação. Como a rede apresenta três neurônios de saída, ao neurônio que apresenta o maior é
arbitrado1como valor de saída, e aos outros dois neurônios é arbitrado 0 como valor de saída.

3.2 Implementação da LS-SVM.

A LS-SVM foi implementada com as rotinas do LS-SVMlab Toolbox


Versão 1.5 (Pelckmans, K et. al., 2003). Neste toolbox é empregado um algoritmo de
otimização para regular os hiperparâmetros sigma2 e gama do modelo LS-SVM com relação a
um determinado desempenho.
Para a classificação usando a LS-SVM foram utilizadas duas redes, uma para determinar se os
transformadores estavam funcionando em condição de falta ou de normalidade e outra para determinar se
os transformadores estivessem em condição de falta, apresentavam e sobreaquecimento ou falhas
elétricas. Para as redes foi usada a função de base radial como função Kernel e o parâmetro gama igual a
dez. Porém para a primeira rede foi utilizado o parâmetro sigma2 igual a 1500 e para a segunda rede foi
utilizado sigma2 igual a 3300. Os resultados obtidos com a LS-SVM serão apresentados a seguir. Os
parâmetros gama e sigma2 são os parâmetros da rede LS-SVM usada para classificação de sistemas.

4. Apresentação e análise dos resultados

A rede neural artificial usada neste trabalho, a Perceptron de Multicamadas (MLP), bem como a
LS-Máquinas deVetores Suporte, foram treinadas com um conjunto de 246 dados e testadas com os
dados de 30 transformadores. Para efeito de comparação, os métodos clássicos, a RNA e a LS-SVM
foram testados com o mesmo conjunto de dados.
As entradas da rede foram as concentrações de H2, CH4, C2H2, C2H4 e C2H6 em ppm (partes por
milhão). As saídas são faltas térmicas ou sobre aquecimento, falhas elétricas ou ainda a condição de
normalidade, caso os dados de entrada não impliquem em falha no transformador.

7
Na Tab. 8, são apresentados os valores das concentrações de gases usados para a aplicação dos
métodos convencionais, da RNA e da LS-SVM utilizadas para a classificação dos transformadores em
relação a sua condição de operação.

Tabela 8. Concentração de gases dos transformadores selecionados para análise.


Trafo Concentração dos gases (ppm)
Hidrogênio Metano Etileno Acetileno Etano
1 40 62 11 1 51
2 600 1800 3800 130 520
3 6 2 7 0.4 5
4 1230 163 233 692 27
5 630 670 1100 1700 81
6 20 3 5 0.4 2
7 24 3 8 0.4 4
8 30 520 1000 0.4 310
9 645 86 110 317 13
10 110 860 1500 1800 300
11 19 9 7 0.4 20
12 16 1 1 0.4 1
13 1600 55000 74000 9300 42000
14 95 10 11 39 0.4
15 200 110 150 230 12
16 13 10 55 0.4 3
17 48 12 18 0.4 14
18 44 95 13 0.4 33
19 595 80 89 244 9
20 94 5 25 20 4
21 290 16 12 0.4 24
22 56 6 7 10 5
23 420 1400 1500 7 640
24 1790 580 336 619 321
25 0 1200 1900 4400 130
26 14 3 12 0.4 3
27 8800 64064 9565 0.4 72128
28 34 41 5 0.4 69
29 1330 10 66 182 20
30 230 120 220 740 14

Pela Tab. 9 tem-se que o método de Rogers apresentou 33,33% de acertos, o método de Duval
apresentou 40%, o método de Doernenburg apresentou 50%, e o método previsto na NBR7274
apresentou 50% de acertos. Estes índices de acertos estão bem abaixo do apresentado pela rede neural
perceptron multicamadas, que apresentou 83,33% de acertos e com a LS-SVM que apresentou 70% de
acertos, como mostrado na Tab.10. Estes resultados mostram que as ferramentas inteligentes são
promissoras na detecção de falhas incipientes em transformadores de potência.
Como os dados reais de concentração dos gases dissolvidos no óleo isolante eram poucos, foi
usada outra estratégia para uma melhor comparação entre os desempenhos da MLP e da LS-SVM em
problemas de classificação. Foi gerado um banco de dados, a partir dos critérios previstos no método de
Doernenburg, com um número de dados bem maior que o banco de dados original.
Foram geradas concentrações de gases para 900 transformadores, onde 301 correspondiam à
condição normal de funcionamento, 295 apresentavam falhas elétricas e 305 apresentavam problemas de
sobreaquecimento.
Destes 901 transformadores 630 foram usados para treinamento da RNA e da LS-SVM e 271
foram usados para validação dos modelos. A MLP apresentou 92,99% de acertos com os dados de teste,
com 252 diagnósticos certos e 19 diagnósticos errados. A LS-SVM apresentou 90,04% de acertos com os
dados de teste, com 244 diagnósticos corretos e 27 diagnósticos errados.
Com estes resultados fica comprovada a eficiência tanto da MLP quanto da LS-SVM em
problemas de classificação, porém não se pode afirmar com certeza qual das duas é mais eficiente já que
ambas apresentaram desempenhos bem parecidos.

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Tabela 9.Resultados dos métodos clássicos usados para a classificação.

Trafo Diagnóstico Método de análise


Rogers Duval Doernenburg NBR 7274
1 Normalidade Sobre Não prevê Normalidade Sobre
aquecimento aquecimento
2 Normalidade Não prevê Não prevê Sobre Sobre
aquecimento aquecimento
3 Sobre Não prevê Falha elétrica Normalidade Sobre
aquecimento aquecimento
4 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica
5 Falha elétrica Não prevê Falha elétrica Não prevê Não prevê
6 Normalidade Sobre Falha elétrica Normalidade Sobre
aquecimento aquecimento
7 Normalidade Não prevê Falha elétrica Normalidade Sobre
aquecimento
8 Sobre Não prevê Falha elétrica Sobre Sobre
aquecimento aquecimento aquecimento
9 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica
10 Falha elétrica Não prevê Falha elétrica Não prevê Não prevê
11 Normalidade Sobre Falha elétrica Normalidade Normalidade
aquecimento
12 Normalidade Não prevê Falha elétrica Normalidade Não prevê
13 Sobre Não prevê Falha elétrica Sobre Não prevê
aquecimento aquecimento
14 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Normalidade Falha elétrica
15 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica
16 Normalidade Não prevê Falha elétrica Normalidade Não prevê
17 Normalidade Não prevê Falha elétrica Normalidade Sobre
aquecimento
18 Sobre Sobre Falha elétrica Normalidade Sobre
aquecimento aquecimento aquecimento
19 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica
20 Falha elétrica Não prevê Falha elétrica Normalidade Não prevê
21 Normalidade Não prevê Falha elétrica Normalidade Falha elétrica
22 Normalidade Falha elétrica Falha elétrica Normalidade Falha elétrica
23 Sobre Não prevê Falha elétrica Sobre Sobre
aquecimento aquecimento aquecimento
24 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica
25 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica
26 Normalidade Não prevê Falha elétrica Normalidade Não prevê
27 Sobre Não prevê Falha elétrica Sobre Sobre
aquecimento aquecimento aquecimento
28 Sobre Sobre Falha elétrica Normalidade Sobre
aquecimento aquecimento aquecimento
29 Falha elétrica Não prevê Falha elétrica Falha elétrica Não prevê
30 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica Não prevê Falha elétrica

5. Conclusão

Neste trabalho implementou-se os métodos de diagnósticos baseados na análise dos gases


dissolvidos no óleo isolante. A proposta reúne em um único sistema a possibilidade da realização do
diagnóstico de falhas incipientes utilizando diversos métodos e o acompanhamento do histórico da análise
cromatográfica dos gases.
Para a implementação das redes foram usados o Neural Toolbox (Demuth, M. B. 2007) e o LS-
SVMLAB Toolbox 1.5 (Pelckmans, K et. al., 2003), ambos para MATLAB, pois o desenvolvimento de
rotinas inovadoras de aprendizagem para as redes foge ao objetivo deste trabalho
A utilização do diagnóstico baseado em métodos convencionais é importante, pois, a grande
maioria dos especialistas, utiliza esses métodos para elaboração de laudos, entretanto o diagnóstico
realizado desta forma é resultado da análise baseada no conhecimento empírico do especialista,
principalmente no que diz respeito a solucionar as inconsistências (problemas de não-decisão) e conflitos
entre métodos de diagnóstico. As redes neurais acrescentam aos métodos uma característica fundamental

9
Tabela 10. Resultados das RNA e LS-SVM usadas para a classificação.

Trafo Diagnóstico Método de Análise


RNA LS-SVM
1 Normalidade Sobre aquecimento Sobre aquecimento
2 Normalidade Sobre aquecimento Falha elétrica
3 Sobre aquecimento Normalidade Normalidade
4 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
5 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
6 Normalidade Normalidade Normalidade
7 Normalidade Normalidade Normalidade
8 Sobre aquecimento Sobre aquecimento Falha elétrica
9 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
10 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
11 Normalidade Normalidade Normalidade
12 Normalidade Normalidade Normalidade
13 Sobre aquecimento Sobre aquecimento Falha elétrica
14 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
15 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
16 Normalidade Normalidade Normalidade
17 Normalidade Normalidade Normalidade
18 Sobre aquecimento Normalidade Sobre aquecimento
19 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
20 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
21 Normalidade Normalidade Falha elétrica
22 Normalidade Falha elétrica Falha elétrica
23 Sobre aquecimento Sobre aquecimento Falha elétrica
24 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
25 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
26 Normalidade Normalidade Normalidade
27 Sobre aquecimento Sobre aquecimento Falha elétrica
28 Sobre aquecimento Sobre aquecimento Sobre aquecimento
29 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica
30 Falha elétrica Falha elétrica Falha elétrica

para resolver os problemas de conflitos entre os diferentes métodos, devido à sua capacidade de
generalização. Os resultados apresentados demonstram a capacidade dos sistemas inteligentes no
diagnóstico de falhas incipientes em transformadores de potência, e na solução de inconsistências
normativas. A LS-SVM também se mostrou bem superior aos métodos clássicos no diagnóstico de falhas
incipientes em transformadores de potência. Quando treinada e testada com um número mais significativo
de dados a rede LS-SVM apresentou índice de acertos bem próximo ao apresentado pelas redes neurais,
porém tendo como vantagem que sua implementação é bem mais simples que a da MLP.

7. Agradecimentos

Agradecimentos ao CNPq/UFSJ pelo suporte financeiro deste trabalho.

8. Referências bibliográficas
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Federal de Minas Gerais, maio de 2007.
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10
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ARTMED Editora S. A., Bookman.
7. IEEE Std C57.104-1991 (1991). “IEEE Guide for the Interpretation of Gases Generated in Oil-
Immersed Transformers”, 1991.
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9. Norma BS 5800 IEC 599, (). “Guide for the interpretation of the analysis of gases in transformers
and other oil-filled electrical equipment in service”.
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Vanderwalle, J., (2003). “LS-SVMlab Toolbox, Version 1.5”. Katholieke Universiteit
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11. Suykens, J. A. K.; Lukas, L.; Doren, P. V.; Moorand, B., Vandewalle, J., (1999). “Least Squares
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