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Fui surpreendido com o presente enviado pelo Rafael, queria pedir a você que

transmitisse a ele meus agradecimentos por essa gentileza e dizer da alegria que
subitamente me invadiu ao folhear esse belo álbum. Num tempo em que as alegrias são
escassas e, quase sempre, artificiais, vi-me de novo diante da cidade, da Cidade,
contemplando-a através do olhar jovem de um jovem fotógrafo. Então, não é
simplesmente, rever, reconhecer, mas ver além do visto, do já visto, do extraordinário –
que sempre extasia ao ser visto – e do enfadonho – que sempre precipita a gota d’água
fatal.

É um livro de arte! Uma só vista não o esgota nem descerra todos os encantos
que saltam de suas belas páginas. Contraditoriamente, é e não é a nossa cidade, a que
vivemos na juventude, no seu ápice de sentimentos exaltados, no seu fervor de ideais
inabaláveis. Admiro, agora, novas imagens “criadas” pelo fotógrafo, arrancados pelo
seu talento, pela força de sua juventude, de um espaço urbano radicalmente
contemporâneo, sem raízes, sem vínculos históricos.

Os grafites enfeitam, enfeiam, embalam a paisagem urbana com cores e formas


inolvidáveis, misto de ousadia e refiguração artística.

Os recortes de edificações, aqui e ali, dão um cunho realista à metrópole, afiançando sua
natureza concreta, de pedra e cal, fachadas, janelas, portões, ornamentos arquitetônicos.

As imagens do cotidiano, praças, jardins, uma criança, um pipoqueiro, um circo, uma


banca de flores, uma Kombi estacionada, gente na praia, torcedores do futebol, dão vida
ao conjunto, falam e expressam um som de vozes que não ouvimos, mas lá estão no
burburinho citadino.

A natureza exuberante desponta em fotografias preciosas, nas quais se destaca o


contrate de luzes e cores, limites do dia ou da noite, quando tudo se exacerba, num
paroxismo aterrador e deslumbrante: o mar, o céu, as densas potestades de granito.

Encantam, também, as imagens experimentais, surreais, a cidade está nelas ou elas estão
na cidade, uma alma oculta, mas luminosa.

Por fim, penso, sinto profundamente, nesse belo livro, que tudo é luz, e o fotógrafo
alcançou o impossível: fundir, confundir, o artificial e o natural, a obra humana
abraçada aos caprichos da natureza formidável.

Parabéns a ele por essa requintada criação, olhar poético, criador e revelador!

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