Incialmente, obrigado, Marisa, pela oportunidade de falar sobre meu livro “O
Cravo Peregrino”. Assim que possível, quero ter a satisfação de oferecer a você um exemplar do meu romance “O Mar no Vidro”, sabendo que é uma leitora apaixonada pela literatura. A seguir, as respostas às perguntas que me enviou. Com abraços, Luiz Almeida. 1) O Cravo evoca, por um lado, a flor que representa, nas mitologias grega e romana, Zeus e Júpiter, deuses supremos, de cujo poder somos herdeiros mortais. Sob um segundo aspecto, me recorda os astros da Hollywood dos anos dourados, especialmente nos filmes “noir”, atores — heróis ou vilões — que traziam sempre, na lapela, um cravo branco, símbolo de poder e riqueza. No título do livro, a flor como peregrina ambiciona transmitir algo de encantamento e magia aos leitores. 2) Fico feliz ao ler o nome do escritor gaúcho Sérgio Faraco, pois sou um admirador apaixonado por sua escrita, um dos contistas brasileiros de quem mais me sinto próximo. Penso que o escritor é autor de um livro, “a priori”, fechado, inerte e silencioso. Quem virá abrir o mundo ficcional, dar-lhe vida e voz, é o leitor. Somos todos, escritores, meros artífices de uma possibilidade, que se converterá em chama viva aos olhos dos que vierem, muitas vezes de longe, aventurar-se nas linhas que traçamos, nos caminhos que desenhamos, nos horizontes que imaginamos. 3) Esse conto representa uma síntese da longa história de vida de um homem que tive a felicidade de conhecer. Como não raro acontece, ele, recém-nascido perdeu o pai. Mas essa fatalidade, resultou, no caso dele, numa trajetória de vida verdadeiramente singular. Sua mãe não o queria órfão, órfão de pai, um menino desamparado e desafortunado pela cruel impossibilidade de ter um ideal, um protetor, em quem se inspirar e com quem se proteger. Assim, a mãe engendra um ambiente emocional que faz do menino um espelho do pai, que virá incorporar as virtudes paternas, que será um filho-pai, forte, alegre, trabalhador. Há, digamos, um cristal mágico a partir do qual ela põe em marcha a edificação dessa obra humana, qual sejam as últimas palavras do pai quando se despediu da mãe com o filho: “Logo estaremos todos juntos de novo!”. Ela repete, para a criança, desde sempre, essas palavras-promessa como um mantra, um mandamento que esmaece a trágica perda, convertendo-a numa aposta de união familiar. Ela o incentiva a acreditar, a ter fé num pai, ainda que ausente e irresgatável. Assim, ela cria o filho à imagem do pai. Como se ela nem precisasse se esforçar muito para essa realização: o menino descortina seu ideal, investe seus dons emocionais nessa trajetória de reanimar, reviver a vida do pai perdido. Segue, com determinação e entusiasmo, a modesta profissão paterna. A chuva, o sol, o frio, o calor, nada o abate, como, ele imagina, aconteceria com o pai-herói. Ao final, num plano transcendental, estarão os três juntos novamente, e a vida foi, apenas, a travessia para a outra margem que haveria de os reunir para sempre.