Você está na página 1de 130

ROCHA LIMA

Uma
Preposição
Portuguesa

Rio de Janeiro, 2010


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Carlos Henrique da Rocha Lima


Professor catedrático de Português
do Colégio Pedro II

Uma Preposição
Portuguesa
(Aspectos do uso da preposição a
na língua literária moderna)

Tese de concurso para uma das cadeiras de Português


do Colégio Pedro II

Rio de Janeiro
1954

2 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

À memória do meu querido mestre


e amigo
QUINTINO DO VALLE,
o professor perfeito de Português.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 3


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Ao ilustre amigo

Professor ROBERTO ACCIOLI,

Secretário-Geral de Educação e Cultura do


Distrito Federal, em sinal de gratidão pelas
constantes provas de confiança que me tem
dado, desde que me concedeu a oportunidade
honrosa de colaborar em sua magnífica obra de
dignificação do ensino na Capital da República.

4 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

CAPÍTULO I

A PREPOSIÇÃO A

São tão variados os empregos da preposição a em por-


tuguês e confinam, com matizes tão tênues, suas acepções, que
se afigura empresa sobremodo árdua surpreender-lhe e delimi-
tar-lhe os mal definidos contornos semânticos.

A partir do sentido fundamental de movimento dirigido


a um termo, “como o da seta arremessada ao alvo” (LEÔNI,
1858, II, p. 7), passou a preposição a (< ad) por longa e aci-
dentada evolução, entrecruzando-se associações de ideias que
lhe foram ampliando, em progressivo enriquecimento, a área

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 5


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

significativa, até torná-la, pela frequência e abundância do seu


uso, equivalente a quase todas as outras preposições portugue-
sas (cf. MAGNE, 1950, v/a, VIII, p. 28-31).

Ao tentarmos classificar-lhe as mais importantes aplica-


ções, situá-la-emos em dois grandes grupos, conforme indique
ela movimento, ou repouso.

“Al considerar el desenvolvimiento de las acepciones”,


adverte Cuervo no seu monumental Diccionario de Construc-
ción y Régimen de la Lengua Castellana,

conviene, eso sí tener presente que, lo mismo que sucede en


otras palabras, su enumeración no presupone un orden recto
ascendente ó descendente, pues las hay que son colaterales. (v./a,
p. 1).

O primeiro grupo tem por base a ideia de movimento,


que implica necessariamente a de direção e sugere a de limite
e termo, a qual, por sua vez, conduz à de lugar onde. Da ideia
central com suas ramificações podem inferir-se, em sequência,
no sentido próprio e no figurado, as seguintes séries principais:
extensão, distância, duração, prazo; tendência, destinação, fim;
ponto onde termina uma atividade, convertendo-se, então, a
partícula em sinal do objeto indireto (e, em certos casos, do

6 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

objeto direto, para ficar bem sublinhado o elemento atingido


pela ação verbal).

Ao segundo grupo serve de núcleo a ideia de proximi-


dade com repouso, como também acontecia em latim:

Bien que ad, dans la plupart de ses emplois, implique une idée
de mouvement, cette notion ne lui était pas nécessairement
attachée, et il lui arrive de marquer la proximité avec repos.
(ERNOUT, 1951, § 46).

Daí se passa facilmente para o sentido de situação em geral no


espaço e no tempo. A ideia de aproximação no tempo provoca
a de concomitância, de onde se transita para a de condição e
causa; enquanto a noção de proximidade no espaço, gerando a
de conformidade, faz que desta se desentranhe a relação de
modo, que sempre se liga à de meio e instrumento, e, mais re-
motamente, à de quantidade, medida e preço.

Tais valores, em sua maioria – porventura em sua totali-


dade –, já estavam estabilizados na Península Ibérica desde
época muito remota.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 7


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Capítulo II

OBJETO INDIRETO

O principal papel de preposição a é introduzir o objeto


indireto, correspondente, portanto, o seu emprego ao emprego
normal do dativo latino.

Já ao tempo de Plauto (GRANDGENT, 1928, § 90),


tendia o dativo a expressar-se pelo acusativo com ad. Nasceu
essa construção, como assinala Bourciez (1946, §§ 116 e 31),
não só do fato de ter desaparecido toda a diferença entre frases
como dare alicui litteras e dare litteras ad aliquem, senão

8 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

também do cruzamento analógico de frases como misit ad pa-


trem e dedit patri, de que surgiria o tipo dedit ad patrem.

Dans bien des cas, l’emploi de ad et de l’accusatif était voisin de


l’emploi du datif; et dès le début de la tradition, des verbes
marquant les mouvements, tels que mittere, adferre, etc., se
contruisent des deux façons, suivant que l’on considérait soit à
l’intention de qui l’action était faite (datif), soit vers qui elle était
dirigée (ad et accusatif). Souvent la distinction était fuyante.
(ERNOUT-MEILLET, 1932, v./ad., p. 12).

A substituição do dativo pelo acusativo com ad se tor-


nou geral em quase todo o Império: das línguas românticas
somente o romero conversou o dativo, já com o valor próprio,
já com o do genitivo possessivo latino (MEYER-LUBKE,
1923, §§ 39).

O objeto indireto representa “la persona o cosa a que se


dirige o destina la acción, o, también, en cuyo provecho o
daño se hace.” (ALONSO-UREÑA, 1943, I, p. 77).

Nesta definição englobam-se os casos do dativo de atri-


buição e do dativo de interesse, cujos limites, aliás, são pouco
nítidos; conforme muito bem acentua Ernout (1951, § 76), este
não é senão uma categoria daquele.

São várias as construções do objeto indireto:

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 9


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

1) Serve de complemento a verbos acompanhados


de objeto direto, representando o elemento onde termina
a ação. Neste grupo incluem-se verbos que correspon-
dem, ou etimologicamente ou na significação, a verbos
latinos que regiam dativo ou ad, e, também, alguns ou-
tros que em latim se empregavam com duplo acusativo.

Exemplos:

senhora, vós sois senhora


emperadora,
não deveis a ninguém nada,
sede isenta.

(VICENTE, 1945, vs. 195-198).

Novos mundos ao mundo irão mostrando.

(CAMÕES, 1943, II, 45).

O Capitão que a tudo estava atento,


Tanto com estas novas se alegrou,
Que com dádivas grandes lhe rogava
Que o leve à terra onde esta gente estava”.

(CAMÕES, 1943, I, 98).

Agora tu Calíope me ensina,


O que contou ao Rei, o ilustre Gama...

(CAMÕES, 1943, III, 1).

10 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Deu a Costança a mão, mas a alma livre,


Amor, desejo, e fé me guardou sempre.

(FERREIRA, 1945, vs. 64-65).

Pediu o filho pródigo a seu pai, que lhe desse em vida a parte da
herança, que lhe pertencia.

(VIEIRA, s/d., II, p. 106)

Negou Labão a Jacó o prêmio de sete anos de serviço, em que se


concertaram...

(VIEIRA, s/d., II, p. 116).

Este homem acusado de se fazer Rei, deu olhos a cegos, ouvidos


a surdos, pés a mancos, fala a mudos...

(VIEIRA, s/d., II, p. 18).

... foge depressa Ermelinde, e guarda a virgindade, que a Deos


dedicaste.

(BERNARDES, 1945, I, p. 3).

Às Náiadas piedosas
Minhas queixas magoadas
Irei contar...

(ELÍSIO, 1941, p. 194).

Dar meia cidade aos monges


queria o Rei liberal,
mas os monges só quiseram
uma casa monacal;
contentes com Lorvão santo,
seu paraíso terreal.

(CASTILHO, 1863, p. 251)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 11


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Iracema, depois que ofereceu aos chefes o licor de Tupã, saiu do


bosque.

(ALENCAR, 1948, p. 65).

Calisto escreveu numa página rasgada da carteira, e perguntou


ao criado se sabia ler.

(BRANCO, 1953, p. 70).

Alguém disse a Castilho Elói que o circunspeto Vasco da Cunha


não era estranho ao coração de Adelaide.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 91).

Talvez eu exponha ao leitor, em algum canto deste livro, a minha


teoria das edições humanas.

(ASSIS, s/d.5, p. 15).

O oficial que entregou ao inimigo os planos de defesa da pátria,


emparelha com o que vende ao inimigo a vida dos seus camaradas.

(BARBOSA, 1946, p. 25)

A respeito de alguns verbos portugueses que em latim se


construíam com duplo acusativo escreveu Said Ali, com a se-
gurança de sempre, excelente lição na Revista de Língua Por-
tuguesa (n° 11, maio, 1921, p. 67-69).

2) junta-se à unidade semântica formada de verbo +


objeto direto, indicando o possuidor de alguma coisa.

12 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Neste caso, pode a preposição a ser substituída por de.

Prender-se-á, talvez, esta sintaxe ao dativo simpatético –


o qual, nas línguas clássicas, concorria com o genitivo. (Juret,
1926, p. 214; e Tovar, 1946, § 66).

Exemplos:

Vêm todos os cupidos servidores,


Beijar a mão à Deusa dos amores.

(CAMÕES, 1943, IX, 36)

Mas a graça desse verde


Tira a graça a toda cor.

(CAMÕES, 1932, p. 7)

De sorte que o fel daquele Peixe tirou a cegueira a Tobias o


velho, e lançou os Demônios de casa a Tobias o moço.

(VIEIRA, s/d., II, p. 318)

... mandou cortar a cabeça a Adonias.

(VIEIRA, s/d., II, p. 100)

... porque basta que ele mude os nomes às cousas, para que elas
mudem a natureza, e o que era, deixe de ser, e o que não era,
seja.

(VIEIRA, s/d., II, p. 100)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 13


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

E quem queres tu que tape a boa aos namorados ou lhes acerte


com a vontade, com que o mesmo Amor não atina?

(MELO, 1943, p. 3)

Do filho do Trovão denominado,


Que o peito domar soube à fera gente;
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço Herói quem nela é forte.

(DURÃO, 1791, I, 1)

Gonçalo Lourenço entendeu-o. Beijou a não a el-rei e saiu.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 28)

... e, cheia de júbilo, mata a fome ao filho.

(ALENCAR, 1948, p. 123)

Sendo caso, porém que o teu enxame ignavo,


lasso de fazer mel, farto do lar sombrio,
só quis espairecer-se e errar pelo ar vazio,
tolhe esse brinco vão; prende-as nas próprias casas;
é facílima empresa: arranca à mestra as asas.

(CASTILHO, 1867, p. 237)

E com os dedos hábeis e leves consertou a gravata ao marido...

(ASSIS, 1923, p. 142)

Mas, como, naquela época, os legisladores sabiam melhor os


segredos à língua, em que falavam, natural havia de ser que os
aproveitassem na contextura dos atos legislativos.

(BARBOSA, 1949, p. 17)

14 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

3) Acompanha certos conglomerados constituídos de


verbo + objeto direto, de que depende o indireto. Tais con-
glomerados, que em latim regiam dativo (ERNOUT, 1951, §
80), formam uma massa verbal de significação indissolúvel, e
muitas vezes equivalem a verbos simples: pôr grosa a (dificul-
tar), pôr nome a (nomear, apelidar), pôr fim a, pôr termo a
(terminar), pôr cerco a (cercar), pôr freio a (refrear); ter medo
a, ter receio a (temer, recear); ter amor a (amar), ter ódio a
(odiar), ter inveja a (invejar), ter respeito a (respeitar); fazer
guerra a (guerrear), fazer frente a (enfrentar) etc...

Alguns exemplos:

Andemos a estrada nossa,


olhai não torneis atrás,
que o imigo
à vossa vida gloriosa
porá grosa...

(VICENTE, 1945, vs. 120-124)

Já que a bruta crueza e feridade


Puseste nome esforço e valentia...

(CAMÕES, 1943, IV, 99)

De sorte que Alexandro em vós se veja,


Sem à dita de Aquiles ter enveja.

(CAMÕES, 1943, X, 156)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 15


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Já não fareis docemente


Em rosas tornar abrolhos
Na ribeira florescente;
Nem poreis freio à corrente,
E mais se for dos meus olhos.

(CAMÕES, 1932, p. 43)

Que, se o fino pensamento


Só na tristeza consistente,
Não tenho medo ao tormento:
Que morrer de puro triste,
Que maior contentamento?

(CAMÕES, 1932, p. 45)

E porque não pôs Deus os nomes aos animais, e quis que lhos
pusesse Adão?

(VIEIRA, s/d., II, p. 23)

Se for para a guerra, poderá voltar coronel, tomar gosto às armas,


segui-las e honrar assim o nome de seu pai.

(ASSIS, s/d.3, p. 20)

Não desconhecia o moço que a empresa a que metia ombros era


crespa de dificuldades.

(ASSIS, s/d.3, p. 35)

Também outro tipo de conglomerado – formado de ver-


bo + predicativo – aceita complemento com a para designar a
pessoa ou coisa à qual vai o conjunto referir-se como útil ou
prejudicial, ou, ainda, “em que relação está uma pessoa com
outra.” (MADVIG, 1872, § 241, Obs. 4)

16 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

...servi olhos a um cego.

(SOUSA, 1946, I, p. 14)

... e o rei dos bosques


serviu de pasto aos tragadores vermes.

(HERCULANO, 1878, p. 31)

sê mãe, conforto, providência, filha


ao velho mártir que não tem ventura.

(RIBEIRO, 1943, p. 112)

Observações: Talvez se possa incluir nesta categoria o


caso em que a preposição a (ou pronome pessoal na forma á-
tona correspondente) “entra em certas combinações com o
sentido de com relação a alguém, considerado agente, a ori-
gem, etc.” (DIAS, 1933, § 151).

Exemplos:

Ouvido tinha aos Fados que viria


Uma gente fortíssima de Espanha,
Pelo alto mar, a qual sujeitaria
Da Índia, tudo quanto Dóris banha...

(CAMÕES, 1943, I, 31)

E se vires que pode merecer-te


Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te...

(CAMÕES, 1932, p. 153)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 17


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

os cantares que ouvira aos bisavós incultos,


torne-os a ouvir de nós...

(CASTILHO, 1867, p. 115)

Se alguma cousa lhe mereço... peço-lhe me ajude francamente


neste empenho, com a autoridade de sua pessoa.

(ASSIS, s/d.3, p. 23-24)

4) Figura num tipo especial de construção, na qual os


verbos fazer, deixar, mandar, ouvir, e ver se combinam a infi-
nitivo acompanhado de objeto direto, ou a verbo de ligação+
predicativo.

Trata-se da contravertida estrutura “faire faire quelque


chose à quelqu’un”, em cuja exegese se têm afadigado alguns
mestres da filologia romântica, sem que até agora, nenhuma
das teorias apresentadas haja alcançado aprovação geral.

Exemplos:

Três cousas acho que fazem


ao douto ser sandeu...

(VICENTE, 1953, vs. 1-2)

Dali os pães semeados


Ver a meus olhos deixárom,
Que por não grados julgárom...

(FALCÃO, 1945, vs. 366-368)

18 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Até que na cerviz seu jugo meta


Dos soberba Tuí, que a mesma sorte
Viu ter a muitas vilas suas vizinhas,
Que por armas tu Sancho humildes tinhas.

(CAMÕES, 1943, III, 89)

Não matou a quarta parte o forte Mário,


Dos que morreram neste vencimento,
Quando as águas co sangue do adversário,
Fez beber ao exército sedento...

(CAMÕES, 1943, III, 116)

Este a mais nobres faz fazer vilezas...

(CAMÕES, 1943, VIII, 98)

Divino, almo pastor, Délio dourado,


A quem de Anfriso já viram os prados
Guardar formoso, rico e branco gado...

(CAMÕES, 1932, p. 320)

– Assim é (disse Solino) que até óculos, que se inventaram para


remediar defeitos da natureza, vi eu já trazer a alguns por galan-
taria.

(LOBO, 1941, p. 39)

Apareceu Deus na Sarça a Moisés e mandou-lhe descalçar os sa-


patos...

(VIEIRA, s/d., II, p. 380)

Antes já ouvi dizer a um pregador na minha igreja que cada um é


obrigado a conhecer-se.

(MELO, 1943, p. 2)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 19


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Mas observando, sem que o lenho o ajude,


Em menos de um momento o fogo feito;
O mesmo imaginou, que a Grécia creu,
Quando viu ferir fogo a Prometeu.

(DURÃO, 1791, II, p. 25)

– Minha querida filha, tu dizes coisas! Pois? não tens ouvido, a


teu tio Frei Jorge e a teu tio Lopo de Souza, contar tantas vezes
como aquilo foi?

(GARRETT, 1943, p. 38)

Ribeiros, fazia-os galgar de um pulo ao meu ginete...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 16)

O comendador fez-lhes saber que compraria as terras oferecidas;


mas pelo preço por que as tinham adquirido.

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 42)

Onde li eu que uma tradição antiga fazia esperar a uma virgem


de Israel, durante certa noite do ano, a concepção divina?

(ASSIS, 1923, p. 73)

Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de


menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam
crer nela aos outros...

(ASSIS, s/d.5, p. 4-5)

Vi-lhe fazer um gesto...

(ASSIS, s/d.5, p. 1)

Em lugar do infinitivo pode vir uma oração de modo

20 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

finito.

Exemplos:

Quisera-o eu consolar,
Mas em cujo poder ia
Não me deu a mais lugar
Que ouvir-lhe que dezia:
Ó Guiomar, Guiomar,
Em vós pus minha esperança...

(FALCÃO, 1945, vs. 331-336)

Mandou Cristo a S. Pedro, que fosse pescar...

(VIEIRA, s/d., II, p. 342)

Já o jurista começava a olhar com os primeiros toques de


saudade para o instrumento, que, há dez lustros, lhe vibra entre
dedos, lidando pelo direito, quando a consciência lhe mandou
que despisse as modestas armas da sua luta...

(BARBOSA, 1921, p. 16)

Tem-se afirmado que, nas construções dos verbos fazer,


deixar, mandar, ouvir e ver ligados a infinitivo, só tem cabi-
mento junto a eles o pronome lhe(s), no caso de ser o infinitivo
acompanhado de objeto direto.

Entretanto, o exemplaríssimo Castilho, em harmoniosa


passagem do Tratado de Metrificação Portuguesa (p. 48), a-
bona o emprego da forma lhes, pertencente para mandar, não
obstante ser destituído de objeto direto o infinitivo seguinte;

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 21


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

fê-lo, possivelmente, para guardar simetria com os outros dati-


vos não pronominais que dependem do mesmo verbo:

Primeiro aprendeu a dar com um pobre lápis algumas retas e


curvas sem significação; bosquejou parte por parte, mas
desconexas e mortas as feições humanas, depois compôs a
cabeça, nela veio alvorecendo a vida; juntou o corpo e a atitude,
compôs os grupos, mandou-lhes sentir, e falar; às plantas, que
vegetassem; ao céu, que resplandecesse; às correntes, que
fugissem; à natureza inteira, que saísse do nada!

5) Liga-se a verbos intransitivos unipessoais, designan-


do a pessoa em quem se manifesta a ação.

Tal ocorre com verbos de efeito moral (pesa, dói, a-


praz), de conveniência (convém, cumpre, importa), de dúvida
(parece, consta), de fenômeno psicológico (lembra, esquece,
admira, custa) etc.

Exemplos:

Prouvera a Deus, disse o ermitão, que tivéreis vós desimpedidos


e alumiados os olhos do entendimento...

(PINTO, 1940, I, p. 15)

Os cortesãos a quem tão pouco pesa


Soltar palavras graves de ousadia
Dizem que provarão, que honras e famas
Em tais damas não há, pera ser damas.

(CAMÕES, 1943, VI, 44)

22 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Altamente lhe dói perder a glória,


De que Nisa celebra inda a memória.

(CAMÕES, 1943, I, 31)

Pareceu a El-rei e aos seus que lhes acudia o Céu com socorro.

(SOUSA, 1946, I, p. 10)

...e me admirou, que se houvesse estendido esta ronha, e pegado


também aos peixes.

(VIEIRA, s/d., II, p. 335)

Ao sacerdote cumpre aceitar esta [vida] por verdadeiro dester-


ro...

(HERCULANO, s/d.2, p. IX)

Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho


Novo a casa em que me criei...

(ASSIS, s/d.5, p. 6)

... comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro,


que nunca me esqueceu.

(ASSIS, s/d.5, p. 6)

Capitu propôs metê-lo em um colégio, donde só viesse aos sába-


dos; custou muito ao menino aceitar esta situação.

(ASSIS, s/d.5, p. 361)

Observação: Alguns desses verbos, e ainda outros, po-


dem ter o sujeito precedido de preposição.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 23


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Exemplos:

Por isso sam, e a isso vim;


mas em fim
cumpre-vos de me ajudar
a resistir.

(VICENTE, 1945, vs. 88-91)

Da cavalgada ao Mouro já lhe pesa,


Que bem cuidou comprá-la mais barata.

(CAMÕES, 1943, V, 49)

A boca e os olhos negros retorcendo,


E dando um espantoso e grande brado,
Me respondeu, com voz pesada e amara
Como quem da pregunta lhe pesara.

(CAMÕES, 1943, V, 49)

– A noite passa. Horas são estas


Impróprias de ir buscar outra pousada.
Se vos não peja de aceitar a minha,
Vinde.

(GARRETT, 1844, canto I, p. XXI)

O conde, olhando então para o topo da mesa, deu de rosto com


licenciado e custou-lhe igualmente a conter-se.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 202)

– Que novos males


Nos resta de sofrer?

(DIAS, 1937, p. 77)

24 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Dói-me também, senhor conde – acrescentou o cavaleiro – de ser


eu quem vos houvesse de trazer tão desagradável mensagem.

(HERCULANO, s/d.3, p. 227)

É propriamente como sujeito de convir que o infinitivo


precedido de a funciona na locução convém a saber, usada nos
apostos explicativos e enumerativos:

...porém lembro-vos que são duas matérias as que tocou o senhor


D. Júlio, convém a saber: a graça e composição do rosto e corpo
no falar, e o concerto das palavras e descrição das razões.

(LOBO, 1941, p. 158)

6) Une-se a verbos intransitivos pessoais, caso em que é


necessário distinguir, pelo menos, dois importantes grupos:

a) O primeiro, integram-no verbos com os quais, por


ser óbvio, se pode omitir o objeto direto, figurando então so-
mente o indireto: escrever (uma carta) ao pai.

O mesmo ocorre em espanhol, onde o fato, já apontado


por Cuervo (1886, v/a, p. 8, 2ª col.), é assim explicado pelo
professor da Universidade de Chicago Hayward Keniston:

With one group of verbs, those expressing communication bet-


ween one person and another, such as escribir, hablar, and res-
ponder, the use of an indirect object is clearly a development of
an original use in which there was a direct indicating the person
to whom the communication was addressed. With the omission

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 25


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

of thedirect object of the thing, the indirect remains as though


the verbs were intransitive. (1937, p. 20-21).

Exemplos:

Falar ao Rei Gentio determina;


Porque com seu despacho se tornasse,
Que já sentia em tudo da malina
Gente impedir-se quanto desejasse...”

(CAMÕES, 1943, VIII, 58)

Destarte as aconselha o Duque experto,


E logo lhe nomea doze fortes,
E porque cada dama um tenha certo,
Lhe manda que sobre eles lancem sortes,
Que elas só doze são: e descoberto
Qual a qual tem caído das consortes,
Cada uma escreve ao seu por vários modos,
E todas a seu Rei, e o Duque a todos.

(CAMÕES, 1943, VI, 50)

Ao mensageiro o Capitão responde,


As palavras do Rei agradecendo,
E diz...

(CAMÕES, 1943, II, 5)

Não vejo, nem escrevo a ninguém; mas enquanto me trago e me


sofro, não me faltam cuidados nem pesares.

(MELO, 1937, p. 45)

D. Plácida foi buscar um espelho, abriu-o diante dela, Virgínia


punha o chapéu, atava as fitas, arranjava os cabelos, falando ao
marido, que não respondia nada.

(ASSIS, s/d.5, p. 273)

26 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Escrevi imediatamente a Virgília, e segui duas horas depois para


a Gamboa.

(ASSIS, s/d.5, p. 225)

A certa altura do famoso “Sermão de Santo Antônio”,


recitado, em 1654, na cidade de São Luís do Maranhão, usou
Vieira, na mesma página, do verbo pregar com a dupla sintaxe:
pregar alguma coisa a alguém e pregar a alguém.

Eis os lugares:

Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?

(VIEIRA, s/d., II, p. 312)

Isto suposto, quero hoje à imitação de S. Antônio voltar-me da


terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos
peixes.

(VIEIRA, s/d., II, p. 312)

b) no segundo grupo reúnem-se verbos correspondentes


a verbos latinos que exigiam, por sua própria significação, a-
quele “complément de valeur au datif”, de que nos fala Juret
(1926, p. 207), e ainda outros que não se construindo em latim
com dativo, tiveram alargado em português o campo semânti-
co, bifurcando-se-lhes o regime paralelamente aos novos sen-
tidos que adquiriram.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 27


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Torna-se extremamente difícil, se não impossível, expli-


car à luz da sintaxe latina a construção de muitos desses ver-
bos, não só porque alguns deles já foram transitivos em portu-
guês, senão porque outros ainda hoje se podem aplicar transi-
tiva ou intransitivamente, com diferenciação de sentido ou sem
ela.

Obedecer e resistir, por exemplo, que em nossos dias


somente se usam com objetivo indireto, tinham dupla regência
(obedecer-lhe e obedecê-lo; resistir-lhe e resisti-lo) na lingua-
gem dos séculos XVI e XVII:

Assi foi, porque tanto que chegaram


A vista delas, logo lhe falecem
As forças com que dantes pelejaram,
E já como rendidos lhe obedecem.

(CAMÕES, 1943, VI, 88)

...não só ofendiam a Antônio, mas o obedeciam, e reverenci-


avam.

(VIEIRA, s/d., III, p. 193)

Atai as mãos a vosso vão receio,


Que eu só resistirei ao jugo alheio.

(CAMÕES, 1943, IV, 18)

Olha um Mestre que desce de Castela,


português de nação, como conquista
A terra dos Algarves, e já nela

28 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Não acha que[m] por armas lhe resista...

(CAMÕES, 1943, VIII, 25)

Crês tu que já não foram levantados


Contra seu capitão se os resistira,
Fazendo-se Pirtas, obrigados
De desesperação, de fome, de ira?

(CAMÕES, 1943, V, 72)

Servire (> servir), que trazia habitualmente o comple-


mento em dativo, apresenta especializações de sentido em por-
tuguês, as quais se podem exprimir por construções diferentes
(servir-lhe e servi-lo), sem que, todavia, sejam nítidas, em cer-
tos casos, as fronteiras semânticas do verbo.

Mais complexo é quaerere (> querer), com a dupla sig-


nificação usurpada parte a velle e parte a amare (querer + acu-
sativo da coisa = velle; querer + dativo da pessoa = amare),
por isso que não se construía com dativo em nenhuma daque-
las acepções.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 29


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

CAPÍTULO III

OBJETO DIRETO PREPOSICIONAL

Ainda está por estudar a extensão do uso do objeto dire-


to preposicional em português.

Aliás, este curioso fenômeno, inexistente em algumas


línguas românticas e comuníssimo em outras, não mereceu até
agora da parte dos romanistas nenhum exame sério de conjun-
to que lhe aprofundasse os aspectos funcionais, estilísticos e
históricos.

Meyer-Lübke, sempre tão minucioso, dedicou a tal as-


sunto quatro cautelosas páginas (1923, §§ 350-351).

30 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Na Península Ibérica, os primeiros exemplos de ad a


preceder o objeto direto que designa ser animado aparecem
nos princípios do século XI, fase a que pertence a passagem
“Decepit ad sua germano”, da Esp. Sagr., XXXVI, p. XXXIX,
ano 1032 (BOURCIEZ, 1946, § 236 a).

Das línguas nacionais são o espanhol e o romeno, este


com a preposição pe (> per), as que lhe cultivam mais ampla-
mente o emprego, o qual já se encontra satisfatoriamente sis-
tematizado nos tratados de sintaxe e nas boas gramáticas nor-
mativas de um e outro idioma. Descrições mais ou menos de-
senvolvidas podem ler-se, por exemplo, sobre o espanhol, em
Cuervo (1886, v. /a, 10), Keniston (1937, p. 7-18), Bello y Cu-
ervo (1945, §§ 889-900), Hanssen (1945, § 692); e na Gramá-
tica da Real Academia (§§ 240-242); e a respeito do romeno,
em recente trabalho de Alain Guillermou (1953, § 143).

São geralmente omissas, ou muito pobres de informa-


ções, as gramáticas do português. Epifânio da Silva Dias
(1933, § 27) apenas aflora o problema, e, no curto parágrafo
em que o faz, reúne casos muito heterogêneos, que cumpria
ordenar segundo um critério mais lógico.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 31


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

No substancioso artigo de Harri Meier intitulado “Sobre


as Origens do Acusativo Preposicional nas Línguas Românti-
cas” (1948, p.115-164), vem a matéria debatida com certa am-
plitude e profundidade. Todavia, não teve o autor propriamente
em vista estudar, em si mesmo, este difícil ponto da sintaxe
portuguesa; examinou-o tão somente na medida em que o con-
fronto com o espanhol lhe poderia ser útil ao objetivo de pes-
quisar as raízes linguísticas e a evolução histórico-geográfica
do fenômeno.

Em português, a preposição tem, amiúdem papel distin-


tivo evidente: serve de impedir que se tome por sujeito o obje-
to direto, sempre que o contexto não excluir, de pronto, tal in-
certeza. Apossando-se desse recurso, estenderam-na os escrito-
res a outras construções em que a partícula não apresenta por
exigência da clareza, senão que figura arbitrariamente, a título
de mero ornamento, com frequência variável de época para
época, ao sabor do gosto de cada um.

Passemos a apontar, com preocupação meramente expo-


sitiva, os principais usos do objeto direto com a em português.

Emprega-se, ou pode empregar-se, a preposição:

32 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

1) – com as formas tônicas dos pronomes pessoais:

Que direi, Prudência minha?


A vós quero por espelho.

(VICENTE, 1953, vs. 25-256)

Tudo me é contrairo assi:


descuido matou meu gado,
cuidado matou a mim.

(FALCÃO, 1945, vs. 218-220)

A vós, e a mi, e o mundo todo doma...

(CAMÕES, 1943, VI, 30)

Júlio César conquistou


O mundo com fortaleza;
Vós a mim com gentileza.

(CAMÕES, 1932, p. 75)

Não culpamos a ti: nem desculpamos


As descorteses mãos de teus ministros,
Constantes no conselho, crus na obra.

(FERREIRA, 1945, vs. 1514-1516)

Igualmente trocamos nossas almas,


Esta que te ora fala, é de teu filho,
Em mim matas a ele...

(FERREIRA, 1945, vs. 1379-1381)


Mor alteza, e mor ânimo é as grandezas
Desprezar, que aceitar: e mais seguro
A si cada um reger, que o mundo todo.
(FERREIRA, 1945, vs. 605-607)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 33


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Um coração que, frouxo,


a grata posse de seu bem difere,
a si, Marília, a si próprio rouba,
e a si próprio fere.

(GONZAGA, 1942, p. 36)

romper a nuvem que os meus olhos cerra,


amar no céu a Jove e a ti na terra!

(GONZAGA, 1942, p. 102)

Rubião viu em duas rosas vulgares uma festa imperial, e es-


queceu a sala, a mulher e a si.

(ASSIS, 1923, p. 264)

Quem sabe se o destino marcara justamente a ela como a eleita?

(LOBATO, 1943, p. 454)

Na linguagem arcaica, como é sabido, não havia tal exi-


gência. E mesmo na linguagem moderna, e, até na de nossos
dias, não é raro aparecer um ou outro giro, às vezes determi-
nado pela construção especial que o escritor dá à frase, no qual
formas tônicas se empregam, desacompanhadas de proposição,
como objeto direto.

Em artigo publicado na Revista de Cultura (n.º 199, ju-


lho, 1943, p. 5-8), estuda Souza da Silveira esse interessante
fato, e cita numerosos exemplos, alguns dos quais transcreve-
mos a seguir:

34 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

ANTÔNIO FERREIRA:

Eles falem por mim, eles sós ouve:


Mas não te falarão, Senhor, com língua,
Que inda não podem...

(Castro, f. 226 [está por erro 225]


dos “Poemas Lusitanos, ed. de 1598).

CORTE REAL:

E quando mais fortuna s'esforçava


Com ímpeto cruel, e brava fúria,
Supitamente viu num mesmo ponto
As ondas aplacadas, e ele salvo.

(Naufrágio de Sepúlveda, I, p. 51)

JOÃO DE DEUS:

Ricas prendas! Todas elas


Me deu ele; sim, donzelas,
Que não vo-lo negarei!
Ah meu cinto de fivelas,
Nunca mais te cingirei!

(Campo de Flores, 5ª ed., I, p. 63)

GONÇALVES DIAS:

Subiu! – e viu como seus olhos


Ela a rir-se que dançava,
Folgando, infame! nos braços
Por que assim o assassinava.

(Poesias, ed. de Said Ali, I, p. 115)

Além de se prenderem diretamente ao verbo, podem as


formas tônicas antecedidas pela preposição acompanhar, ou

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 35


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

por amor da clareza, ou por servir à ênfase, ao objeto direto


expresso por formas átonas. É um pleonasmo literário muito
aceito aos escritores de todas as épocas:

Isabel não buscava coroas, antes as coroas a buscavam a ela...

(VIEIRA, s/d., II, p. 17)

...mudou o Hábito, mudou o nome, e até a si mesmo se mudou...

(VIEIRA, s/d., II, p. 317)

Porque está longe, julgas que não pode


Castigar-vos a vós, e castiga-los?

(GAMA, 1941, II, 32)

Assinar uma fraca mulher?! E ela não me assassinou a mim?

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 5)

Exultarão do abismo os moradores,


Vendo o hipócrita vil, mais ímpio que eles,
Que escarnece do Eterno, e a si se engana...

(HERCULANO, 1878, p. 13)

Se os deixarmos a eles jurar e mentir à sua vontade, a monarquia


portuguesa daqui a pouco não terá mais realidade no mapa-
múndi que a ilha Baratária do Miguel Cervantes, ou as ilhas bea-
tas do poeta Alceu!

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 33)

Quem me pôs no coração este amor da vida, senão tu? e, se eu


amo a vida, porque te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
(CASTELO BRANCO, s/d., p. 23)

36 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus


mortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os
alcança a eles mesmos.

(ASSIS, s/d.5, p. 365)

Algumas pessoas começaram a mofar do Rubião e da singular


incumbência de guardar um cão em vez de ser o cão que o
guardasse a ele.

(ASSIS, 1923, p. 18)

2) com outros pronomes referentes a pessoa:

Nunca esta moça sessega


nem samica quer fortuna:
anda em saltos com pega,
tanto faz, tanto trasfega,
que a muitos emportuna.

(VICENTE, 1953, vs. 340-344)

Que vença o sogro a ti, e o genro a este.

(CAMÕES, 1943, III, 73)

A grita se alevanta ao Céu, da gente,


O mar se via em gogos acendido:
E não menos a terra, e assi festeja
Um ao outro a maneira de peleja.

(CAMÕES, 1943, II, 91)

A todos encanta
Tua parvoíce...

(CAMÕES, 1932, p. 91)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 37


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Dura jurisdição, por não dizer tirania, exercitam hoje muitos pais
sobre as condições, e a natureza dos filhos. Em nascendo, já fa-
zem a um, clérigo, a outro frade, a outro soldado; de espreitar a
inclinação e jeito que cada um tem pera as cousas, não há tratar.

(SOUSA, 1946, I, p. 16-17)

Desejava o arcebispo doutrinar a todos, repartir-se por todos e


ser tudo a todos, como outro Paulo. Não podia um só corpo a-
branger a tantos...

(SOUSA, 1946, I, p. 112)

...a uns granjeava com favores, e mercês, como Rei, a outros so-
jeitava com rigores, e castigos, como tirano. E por este modo
dominava de tal sorte a todos, que não havia no seu Reino, mais
que uma só vontade, que era a sua.

(VIEIRA, s/d., II, p. 413)

...para que não suceda, que assi como hoje vemos a muitos de
vós tão diminuídos, vos venhais a consumir de todos.

(VIEIRA, s/d., II, p. 329)

...é ambição, de que a Natureza, ou a Fortuna tem excluído a


muitos...

(VIEIRA, s/d., II, p. 254)

Diz Cristo universalmente sem excluir a ninguém, que ninguém


pode servir a dous Senhores...

(VIEIRA, s/d., II, p. 254)

...se torno a ouvir de vós queixa algũa, juro pela fé, que devo a
Balduíno meu predecessor, que vos hei de coser vivo em ũa cal-
deira,como ele coseu a outro, que roubou ũa viúva pobre.

(BERNARDES, 1945, I, 70A)

38 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

E já que o Emperador admirava a austeridade de sua vida naque-


le retiro, procurasse imitá-la no seu tanto: pois a ambos esperava
a mesma conta diante do Juiz supremo...

(BERNARDES, 1945, I, 79C)

Correm anos, torno a vê-la, damos três ou quatro giros de valsa,


e eis-nos a amar um ao outro com delírio.

(CASTELO BRANCO, s/d., p. 158)

Não é que os óbolos enriqueçam a ninguém, mas há outras moe-


das de maior valia.

(ASSIS, 1923, p. 296)

A noite, mãe caritativa, encarregava-se de velar a todos.

(ASSIS, 1923, p. 64)

A viúva chorou como mamoeiro lanhado – fosse de sentimento,


de remorso ou para iludir aos outros.

(LOBATO, 1943, p. 81)

Até me espanta que tão grosseiramente pudesse o tal Lorena ilu-


dir a todos com esse pilhéria...

(LOBATO, 1943, p. 495)

Nas construções deste tipo, exceto com um... outro a


denotar reciprocidade, também se pode omitir a preposição:

E consiste ela (a humildade) em quatro cousas, a primeira é em


desprezar a si, a segunda em não desprezar ninguém, a terceira
em desprezar o mundo, a quarta em desprezar os desprezos...

(PINTO, 1940, I, p. 54)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 39


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Assi o tinha dito muito antes falando de Jacó e seu irmão, que
amara um e aborrecera outro.

(SOUSA, 1946, I, p. 6)

A toda parte voa o Grão Barreto,


E um anima, outro ajuda, outros exorta...

(DURÃO, 1791, IX, 70)

Mil amazonas mais à guerra manda:


Paraguaçu gentil todas comanda.

(DURÃO, 1791, IV, 45)

Perguntar não ofende ninguém.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 106)

...chumbava no pavimento os pés do fugitivo. Fazia horror ver


este.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 289)

Quando funcionam como aposto de objeto direto ex-


presso por pronomes pessoais átonos, tais formas costumam
ser usadas com preposição:

...já nos tendes a todos por filhos.

(GARRETT, 1846, Alfageme, ato I, cena VII)

...foi uma inspiração divina que os iluminou a ambos.

(GARRETT, 1943, p. 110)

40 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

O bravo Caubi os afrontava a todos.

(ALENCAR, 1948, p. 39)

Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero


era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora de-
vagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida
embaçada e agoniada.

(ASSIS, s/d.5, p. 360)

Não obedece a qualquer regra de emprego da preposição


junto aos pronomes de tratamento (V. Ex.ª, V. S.ª etc.)

Em Meier (1948, p. 161) leem-se numerosos exemplos,


os mais deles com preposição, colhidos na prosa epistolar de
Vieira, autor no qual, talvez por influência espanhola, quase
chega a ser um cacoete de estilo a preferência das formas pre-
posicionais.

Às abonações do distinto romanista ajunto as seguintes,


de dois escritores mais próximos de nós:

Não atribuo isto a falta de equidade de V. Ex.ª, porque reconheço


a retidão da sua alma, e que nem ódio nem afeição seriam capa-
zes de torcer os princípios de V. Ex.ª; antes o lanço à conta dos
muitos cuidados e negócios que cercam a V. Exª no alto cargo
em que o colocou o voto unânime da Nação e a livre escolha de
S. M. a Rainha.

(HERCULANO, s/d.1, I, p. 176)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 41


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Procurarei oportunamente a V. Exª para saber o resultado de uma


pretensão em que estou certo V. Exª já de interessar-se.

(HERCULANO, s/d.1, I, p. 161)

...colocaram a V. Exª na desgraçada situação de mentir na sua


carta narrativa dos Atos dos Apóstolos.

(HERCULANO, s/d.1, I, p. 78)

Eu já tive a honra de cumprimentar a V. Ex.ª...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 71)

Sem preposição:

Respeito tanto V. Exª quanto estimulo seu venerando pai.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 69)

Calar-me-ei, se estou magoando V. Ex.ª.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 97)

3) com pronome quem, de antecedente expresso:

Qual vai dizendo: Ó filho a quem eu tinha


Só pera refrigério, e doce emparo
Desta cansada já velhice minha...

(CAMÕES, 1943, IV, 90)

... perdi meu pai e senhor, a quem muito amava...

(LOBO, 1941, p. 119)

42 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

S. Pedro, a quem muito bem conheceram vossos antepassados,


tinha tão boa espada, que ele só avançou contra um exército in-
teiro de soldados Romanos...

(VIEIRA, s/d., II, p. 333)

Eu sou Daniel, e aquele Eremita, a quem tal ano, e dia hospedas-


te em tua casa...

(BERNARDES, 1945, I, 129A)

... espalhando-se vários por várias partes, como gado a quem a-


çouta o furor da tempestade...

(BERNARDES, 1945, I, 52A)

Outra segue o Consorte, a quem namora...

(DURÃO, 1791, III, 35)

Ungi as mãos e a face com o nardo


Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Misteriosa visita a quem aguardo.

(QUENTAL, 1943, I, p. 87)

Tão confusa ficou, tão desorientada com a presença de um ho-


mem que conhecera em especiais circunstâncias, e a quem não
vira desde 1877, que não pôde reparar em nada.

(ASSIS, s/d.2, p. 82)

Na linguagem de nossos dias, o pronome quem, prepo-


sicionado e com antecedente expresso, reserva-se para entes
animados (de um ou outro sexo, no singular e no plural) e mais
propriamente para seres humanos. Outrora, porém, podia ter

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 43


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

antecedente a seres não animados. Em Os Lusíadas é tão ami-


udado este último uso, que nos fica “a impressão de que o poe-
ta quis dar vida e personalidade ainda às cousas mortas.”
(SAID ALI, 1931, 1ª parte, p. 114).

Exemplos:

Entre a Zona que o Cancro senhorea,


Meta Septentrional do Sol luzente,
E aquela, que por fria se arracea
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodea,
Pela parte do Arcturo, e do Ocidente:
Com suas salsas ondas o Oceano,
E pela Austral, o Mar Mediterrano.

(CAMÕES, 1943, III, 6)

Cidade nobre e antiga, a quem cercando


O Tejo em torno vai suave e ledo...

(CAMÕES, 1943, IV, 10)

Ó glória de mandar, ó vã cobiça


Desta vaidade, a quem chamamos Fama...

(CAMÕES, 1943, IV, 95)

Vindo o antecedente envolto (cf. BELLO-CUERVO,


1945, §§ 332 e 1042; e REAL ACADEMIA, Gram., § 367) na
própria palavra quem, é facultativa a preposição:

44 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

a)

Assim como a própria sombra foge de quem corre após ela, e vai
após quem dela foge, assim a verdadeira glória desta vida foge a
quem a busca e busca a quem a foge, quere a quem a não quere,
dá a quem lhe não pede, despede-se de quem a tem em muito,
segue a quem a tem em pouco, esquece-se de quem a traz escrita
na lembrança, e lembra-se de quem a traz riscada do livro da
memória.

(PINTO, 1940, I, p. 56)

Não me tenha amor ninguém


Para obrigar meu querer,
Que aborreço a quem me quer.

(LOBO, 1940, p. 149)

Como não havemos de amar muito, a quem nos amou tanto, que
jamais poderemos alcançar, nem conhecer?

(VIEIRA, s/d., II, p. 400)

Nos brutos para doutrina dos homens parece que imprimiu o Au-
tor da Natureza particular instinto de amarem a quem os ama.

(BERNARDES, 1946, II, 158A)

Mas, grande Deus, que vês nossa fraqueza


No duro transe desta cruel hora,
Não sofras quem essas feras com crueza
Hajam de devorar a quem te devora...

(DURÃO, 1791, I, 87)


A quem não tem virtudes, nem talentos,
ela, Marília, faz de um cetro dono;
cria num pobre berço uma alma digna
de se sentar num trono.
(GONZAGA, 1942, p. 122)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 45


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

b)

Daqui me parto irado, e quase insano


Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro mundo, onde não visse
Quem meu pranto, e de meu mal se risse.

(CAMÕES, 1943, V. 57)

Eu, disse o Americano, antes de tudo


Amei do coração quem ser me dera...

(DURÃO, 1791, I, 56)

Era uma daquelas trovoadas do estio que arrebatam com a sua


solene terribilidade quem as contempla.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 227)

Eu, para a outra vez, elegerei deputado quem me arranje o hábito


de Cristo.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 147)

Responde que quer enganar quem lhe roubou seu marido.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 167)

Nas frases acima transcritas, o pronome quem se des-


mancha em antecedente + que, servindo o antecedente de ob-
jeto direto à oração principal, e o que de sujeito à subordinada.

Ainda se podem apresentar os seguintes casos:

a) o antecedente é objeto direto da oração principal, e o


46 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA
Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

pronome que, também objeto direto da subordinada:

Com um temeroso prazer


que sói ter quem recea,
desejava eu de ver
a quem eu ainda veja
antes da vida perder.

(FALCÃO, 1945, vs. 636-640)

E assi não tendo a quem vencer na terra


Vai cometer as ondas do Oceano.

(CAMÕES, 1943, IV, 48)

b) o antecedente é predicativo da oração principal, e o


pronome que, o objeto direto da subordinada:

Muito a vi eu mudada;
mas, com tudo, conheci
ser a minha desejada
a quem, assi vendo, vi,
a vista no chão pregada
com o seu cantar pensoso
e passadas esquecidas...

(FALCÃO, 1945, vs. 646-652)

Precedido de a, o pronome quem ainda pode ter os se-


guintes valores:

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 47


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

a) aquele a quem:

Ao vento estou palavras espalhando;


A quem as digo, corre mais que o vento.

(CAMÕES, 1932, p. 232)

b) àquele a quem:

Não receo, Senhor, que a fé tam firme


Queiras quebrar a quem tua alma deste...

(FERREIRA, 1945, vs. 133-134)

c) àquele que:

O sprito deu a quem lho tinha dado...

(CAMÕES, 1943, III, 28)

4) com o nome de Deus:

Nós não nascemos para conhecer o Sol, senão para conhecer a


Deus...

(PINTO, 1940, I, p. 35)

A Deus temo.
Tu no corpo só podes, ele n’alma.

(FERREIRA, 1945, vs. 418-419)

48 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

...todo seu cuidado era trazer sempre a Deus diante dos olhos da
alma...

(SOUSA, 1946, I, p. 25)

Os Reis também arremedam, ou querem arremedar a Deus na


soberania deste poder.

(VIEIRA, s/d., II, p. 23)

...que quanto mais buscava a Deus, tanto mais fugia dos homens.

(VIEIRA, s/d., II, p. 317)

Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas mãos, que tomá-lo
tão indignamente!

(VIEIRA, s/d., II, p. 344)

Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras...

(VIEIRA, s/d., II, p. 344)

Vós não haveis de ver a Deus, e podereis aparecer diante dele


muito confiadamente, porque o não ofendeste...

(VIEIRA, s/d., II, p. 344)

Não há cousa mais vil, nem mais cara que o pecado mortal; mais
vil, pois é desonrar a criatura a Deus; mais cara, por tem pena de
morte eterna.

(BERNARDES, 1945, I, 89A)

Que muito fazes em louvar a Deus, quando vives em prosperida-


de, quando em abundância, quando sem vexação nem injúria de
alguém?

(BERNARDES, 1945, I, 33C)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 49


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

...com que um se faz indigno de conhecer a Deus.

(BERNARDES, 1945, I, 64C)

Eu sou relógio cristão, e louvo a Deus por tão grande mercê...

(MELO, 1943, p. 51)

Que quem recorre ao Céu no mal que geme,


Logo que teme a Deus, nada mais teme.

(DURÃO, 1791, I, 83)

já nada vos dê cuidado,


que a Deus levamos por guia.

(CASTILHO, 1863, p. 158)

Só há uma coisa necessária: possuir a Deus.

(BARBOSA, 1950, p. 74)

É raro omitir-se a preposição, como fez Herculano nos


passos seguintes:

Louvava Deus somente, á luz da aurora,


E ao esconder-se o sol entre as montanhas
De Betoron...

(HERCULANO, 1878, p. 23)

Bem negra avulta aqui, na paz do vale,


A imagem desse povo, que reflui
Das moradas à rua, à praça, ao templo;
Que ri, e chora, e folga, e geme, e morre,
Que adora Deus, e que o pragueja, e o teme...

(HERCULANO, 1878, p. 59)

50 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Especialmente com verbos que indicam reverência e


adoração, destoa da índole da língua o suprimi-la. “Diz-se
sempre: Amar a Deus como tradição da sintaxe antiga conser-
vada no catolicismo, e temente a Deus.” (DIAS, 1933, § 27).

Esta é, aliás, a construção generalizada nas línguas ro-


mânicas.

5) com nomes próprios ou comuns – para evitar a ambi-


guidade, ou por fatores outros (não bem caracterizados) que se
condicionam ao sentimento de certas épocas ou de certos es-
critores:

a) por necessidade de clareza:

Lia Alexandro a Homero de maneira


Que sempre se lhe sabe à cabeceira.

(CAMÕES, 1943, V, 96)

Em prática o Mouro diferentes,


Se deleitava, perguntando agora,
Pelas guerras famosas e excelentes,
Co povo havidas, que a Mofoma adora.

(CAMÕES, 1943, II, 108)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 51


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Dai-me igual canto aos feitos da famosa


Gente vossa, que a Marte tanto ajuda...

(CAMÕES, 1943, I, 5)

Este é o primeiro Rei que se desterra


Da pátria, por fazer que o Africano
Conheça polas armas, quanto excede
A lei de Cristo à lei de Mafamede.

(CAMÕES, 1943, I, 5)

A mãe ao próprio filho não conheça.

(CAMÕES, 1932, p. 170)

Uma, porque fugia ao deus do mar;


Outra, porque temera o pátrio leito;
E Cila, que a seu pai pôs em perigo,
Só por ser muito amiga do inimigo.

(CAMÕES, 1932, p. 229)

Vence o mal ao remédio. Vejo o ifante


De todo contra mim determinado,
Duro a meus rogos, mais duro aos mandados.

(FERREIRA, 1945, vs. 642-644)

Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam...

(VIEIRA, s/d., II, p. 341)

De alguns animais de menos força, e indústria se conta, que vão


seguindo aos Leões na caça; para se sustentarem do que a eles
sobeja.

(VIEIRA, s/d., II, p. 335)

52 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Tal havia que ao meu consertador julgava digno de um hábito de


Cristo.

(MELO, 1943, p. 23)

b) por fatores não bem caracterizados:

Louvai, anjos do Senhor,


ao Senhor das altezas...

(VICENTE, 1953, vs. 549-550)

Nas alparcas dos pés, enfim de tudo,


Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.

(CAMÕES, 1943, II, 95)

Benza Deus aos teus cordeiros.

(LOBO, 1928, p. 54)

...pois só a perla com que conquistou a Servília, mão de Bruto,


lhe custou seiscentos sestércios.

(LOBO, 1941, p. 144)

Festejaram todos a Solino.

(LOBO, 1941, p. 50)

O trabalho era contentar aos sátrapas, queria dizer, que parecesse


bem a eleição aos senhores e aos nobres da Corte.

(SOUSA, 1946, I, p. 43)

... o verdadeiro conselho é calar, e limitar a S. Antônio.

(VIEIRA, s/d., II, p. 334)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 53


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Os homens perseguindo a Antônio, querendo-o lançar da terra...

(VIEIRA, s/d., II, p. 314)

Tu, que foste o terror da índica gente,


Que da Lísia humilhaste aos Reis Augustos;
Lá estava entanto a tua sorte escrita
De vires a acabar nesta desdita.

(DURÃO, 1791, X, 36)

Se o mundo conhece males,


tu os maiores fizeste;
sim, tu a Troia queimaste,
tu a Cartago abrasaste,
e tu a Antônio perdeste.

(GONZAGA, 1942, p. 64)

Eu estimei e respeitei sempre a D. João de Portugal...

(GARRETT, 1943, p. 54)

à justiça dos céus!, insondável!, terrível!,


seguiu logo a da terra; a da terra; a falível;
a que esgrime sem ver; a que pregou na cruz
ao bom e ao mau ladrão, e entre ambos a Jesus...

(CASTILHO, 1863, p. 38)

Não culpo ao homem; para ele, a cousa mais importante do mo-


mento era o filho.

(ASSIS, s/d.5, p. 243)

Apenas executo exíguo número, e pode ser que, unicamente, a


Péricles, teu tutor; porque tem cursado os filósofos.

(BARBOSA, 1921, p. 34)

54 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigual-


mente, aos desiguais, na medida em que se desigualam.

(BARBOSA, 1921, p. 25)

Amara uma dúzia de meninas em duas centenas de sonetos par-


nasianos, e por fim elegeu como diva à Nonoca Fagundes, uma
loura translúcida, magrinha, de falas melífluas – Botticelli tem-
perado à moderna, dizia ele.

(LOBATO, 1943, p. 182)

De Lobo (1941, p. 19) é este magnífico exemplo, que


atesta aquela arbitrariedade a que aludimos (p. 43), variável ao
sabor do gosto do escritor:

... que a história verdadeira apascenta os doutos, adelgaça os


grosseiros, encaminha os moços, insina os mancebos, recreia os
velhos, anima aos baixos, sustenta os bons, castiga aos maus,
ressuscita aos mortos, e a todos dá fruito a sua lição.

6) quando se coordenam pronome átono e substantivo:

“É este um fato” – diz Mário Barreto (1916, p. 95) – “de


que não tratam os que se têm ocupado do emprego da preposi-
ção a no acusativo”. E arrola os seguintes exemplos:

O nobre barão satisfez essa curiosidade, narrando, não só o que


se passara no ajuntamento da cúria, mas tudo o que depois suce-
dera, e como o bobo o salvara e a Fr. Hilarião.

(HERCULANO, s/d.3, cap. XII, p. 212)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 55


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Sabes, acaso, a quem os homens das trevas pretendem submeter-


te e a teus filhos e netos? (Id., 1873, t. I, p. 107).

D. Henrique, não podendo conter mais a cólera, despediu-o e aos


colegas. (SILVA, 1860-1871, t. I, p. 524).

Diogo de Melo suplicara ao corregedor que o salvasse e aos seus


inocentes companheiros das iras do povo, já sabedor do engano.
(CASTELO BRANCO, Sentimentalismo e História, I, p. 20, ed.
de 1879).

Minha irmã então conta-me que toda a gente em Viseu sabia que
meu marido vivia em Lisboa ligado publicamente com uma mu-
lher muito conhecida, e em breve me reduziria e aos filhos a es-
molar o pão dos parentes. (CASTELO BRANCO, A mulher fa-
tal, cap. X, p. 203).

Ora, ao depois, quando eu voltara de Alijó de lhe ir chamar o ci-


rurgião, tornei a topar os tais homens a irem já para casa; e, as-
sim eu me viram a mais ao cirurgião, aperraram as clavinas e
meteram-nos a cara para nos conhecerem. (CASTELO BRAN-
CO, O santo da montanha, cap. XXII, p. 203)

Por furtá-la a olhos pagãos, envolveu-a numa nuvem, e a Doro-


teu também. (CASTELO BRANCO, Os mártires, v. II, p. 218,
ed. de 1865).

Que pena a que temos de não poder recebê-la e aos seus no dia
marcado! (LAET, Jornal do Brasil, 11 de julho de 1915).

Conforme se vê, dos oito exemplos citados por Mário


Barreto nenhum é anterior ao século XIX. Em nossas leituras,
por mais que diligenciássemos encontrá-la, jamais topamos tal
construção em escritores dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Com autores de quinhentos pode abonar-se facilmente a

56 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

coordenação de pronome átono e pronome tônico e substantivo:

Aqui os ponho todos juntos, e a mim com eles a este fogo que
em vós arde...

(JESUS, 1865, I, p. 59)

De um seiscentista é o exemplo seguinte, que, todavia,


hesitamos em pôr no mesmo plano dos outros:

Sabem todos quão grande vitória aquela é que V. S. de si mesmo


vai alcançando, conhecendo-se a si e ao mundo.

(MELO, 1937, p. 165)

Fundamenta-se nossa dúvida no fato de trazer o prono-


me átono o reforço de um pronome tônico precedido de prepo-
sição, o que teria, talvez, provocado insensivelmente o apare-
cimento da partícula no segundo membro da coordenação, sob
o império daquela “tendência paralelizante”, de que nos fala
Meier (1948, p. 163).

De qualquer forma, se não é privativa do português con-


temporâneo, é pelo menos um tanto rara antes do século XIX a
construção que estamos estudando.

Eis algumas passagens, que aditamos às do grande mes-


tre da sintaxe portuguesa:

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 57


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

... o reitor o esperava e aos seus respeitáveis hóspedes...

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 200)

Foi a comadre do Rubião, que o agasalhou e mais ao cachorro,


vendo-os passar defronte da porta.

(ASSIS, 1923, p. 357)

De resto, não pude mirá-lo por muito tempo, nem ao agregado,


que, paralelamente a mim, erguia a cabeça com o ar de se ele
próprio o Deus dos exércitos.

(ASSIS, s/d.5, p. 89)

7) quando vem o objeto direto acompanhado de aposto


predicativo:

A qual logo aquele dia


que soube de seus amores,
aos parentes de Maria
fez certos e sabedores
de tudo quanto sabia.

(FALCÃO, 1945, vs. 41-45)

A muitos tenho eu por inimigos...

(LOBO, 1941, p. 94)

Erotes, escravo de Marco Antônio, se matou de pesar de ver a


seu senhor vencido de Augusto.

(LOBO, 1941, p. 95)

58 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Pintaram pois ao Amor, minino, fermoso, com os olhos tapados,


despido, com asas nos ombros e armado de arco e setas...

(LOBO, 1941, p. 124)

Depois que Deus criou o mundo, e o povoou, e fez a Adam Rei,


e Senhor de todo ele, mandou que todos os animais viessem à
presença do mesmo Adam, para que ele lhe pusesse os nomes...

(VIEIRA, s/d., II, p. 23)

Posto que elegante, não é obrigatória a preposição:

Nem se pode esquecer aquele grande ânimo de Lázaro Cherdo,


escravo, de nação serviano, que, vendo seu senhor cativo de tur-
cos, e depois morto, desejando vingar-lhe a morte por preço de
sua vida, fingindo que vinha fugido dos húngaros entrou no
campo turquesco, e dizendo que queria falar a Amurates, primei-
ro emperador daquele Império, o matou a punhaladas...

(LOBO, 1941, p. 95)

Curioso caso é o desta passagem de D. Francisco Manu-


el de Melo, a qual teria sentido diferente do que tem, se o pre-
dicativo levasse preposição:

... sendo eu dos mais anciãos relógios da cidade, me deram por


aio um mentecapto.

(MELO, 1943, p. 5)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 59


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

8) com nomes antecedidos de como, nas comparações:

... e eu, com o resto que do meu dote ficara, aborrecendo a pátria
como a madrasta, determinei logo buscar em Reino alheio segura
morada.

(LOBO, 1941, p. 121)

É o que há poucos meses a teus pés e de joelhos, este pobre ve-


lho, que te ama como a filho, te pediu em nome de Deus: perdão!
perdão!

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 107)

Iracema saiu do banho; o aljôfar da água ainda a roreja, como à


doce mangaba que corou em manhã de chuva.

(ALENCAR, 1948, p. 11)

Isto causou estranheza e cuidados ao amorável Sarmento, que


prezava Calisto como a filho.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 80)

Cada um daqueles amigos do Rubião estava afeito a ver as pes-


soas do lugar, as caras da manhã e as tarde, alguns chegavam a
cumprimentá-las, como aos seus próprios vizinhos.

(ASSIS, 1923, p. 304)

Mas nada me entusiasma.


Olho-te como a um fantasma.

(OLIVEIRA, 1912, 1ª série, p. 348)

“Tal é a construção” – anota Mário Barreto – “pontual-


mente obervada pelos nossos escritores-modelos. Valem-se de

60 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

como para o referir ao nominativo, e dão-lhe a partícula a se o


referem a dativo ou acusativo.” (1911, p. 84; cf., também
1916, p. 184-185).

Não perigando a clareza, pode ir o complemento com


preposição ou sem ela. No seguinte trecho de Camilo Castelo
Branco (1947, p. 129), dispensou-se o a depois do segundo
como por não haver nenhum risco de anfibologia:

– Maridos dignos são unicamente aqueles que afagam como a fi-


lhas as mulheres estremecem como pais...

Ou não terá Camilo, que possuía como poucos o senti-


mento da língua, buscado aí uma leve matização de sentido, ao
pôr em contraste as duas construções?

Com efeito, houve quem estabelecesse sutil diferença


entre frases dos tipos “tratavam-no como pai” e “tratavam-no
como a pai”. Na primeira, pai figuraria à guisa de um predica-
do, um modo de ser atribuído a o (no); assim se diria de algu-
ma pessoa a quem se olhasse como se fora pai, sem que de fa-
to o fosse. Na segunda, ao contrário, pai denotaria um “entre”
com todas as qualidades de pai.

Os exemplos seguintes parece confirmarem a observação:

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 61


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Não ando gente estes dias; porém nem por isso deixam os des-
gostos de me tratar muito como a gente.

(MELO, 1937, p. 131)

... e nós habituamos-nos a tê-la em conta de segunda mãe: tam-


bém ela nos amava como filhos.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 21)

9) quando o objeto direto antecede ao verbo:

Ao vão, nem o gavo, nem o repreendo.

(LOBO, 1721, p. 22)

... enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem


comido toda a terra.

(VIEIRA, s/d., II, p. 326)

... aos ministros todos os adoram, mas ninguém os crê.

(MELO, 1943, p. 8)

Não façais caso disso, que a relógios do chão ninguém os escu-


ta...

(MELO, 1943, p. 57)

Ao cristão infeliz acolhe no ermo,


E consolando-o, diz-lhe...

(HERCULANO, 1878, p. 64)

62 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Dali o nosso olhar vê tão estranhas


Cousas, por esse céu! e tão ardentes
Visões, lá nesse mar de ondas trementes!
E às estrelas, dali, vê-las tamanhas!

(QUENTAL, 1943, p. 73)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 63


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

CAPÍTULO IV

ADJETIVOS E SUBSTANTIVOS

1) Constroem-se com a os adjetivos (e os substantivos


tomados adjetivamente) que correspondem, ou etimologica-
mente ou na significação, a adjetivos latinos que se usavam
com dativo ou ad.

Tais são especialmente os que significam:

a) disposição de ânimo em relação a um objeto:


aceito, agradável, caro, grato, favorável, benigno, fiel, dócil,
propício, leal, amigo, contrário, hostil, traidor, avesso, adver-

64 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

so, rebelde, odioso, refratário, útil, nocivo, prejudicial, perni-


cioso, sensível, duro, surdo, cego, mudo, atento, alheio;

b) aproximação:
próximo, propínquo, vizinho, adstrito, comum;

c) semelhança:
semelhante, análogo, igual, idêntico, equivalente, conforme,
paralelo;

d) concomitância:
coevo, coetâneo, contemporâneo.

Além desses:

e) os adjetivos em – nte, derivados de verbos que se


constroem com a (sobrevivência, correspondente);

f) os particípios passivos de verbos reflexos que se


constroem com a (afeiçoado, acostumado, parecido);

g) os comparativos formais anterior, posterior, superi-


or e inferior.

Alguns desses adjetivos também se empregam com de,


fundamentando-se tal duplicidade na sintaxe latina.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 65


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

aceito:

O sacrefício a Deus aceito


É o spírito atribulado
Polos males que tem feito...

(VICENTE, 1928, fls. CCLI)

Trabalhos, que vos façam ser aceitos


Às eternas esposas, e formosas,
Que coroas vos tecem gloriosas.

(CAMÕES, 1943, X, 142)

Pera servir-vos braço às armas feito,


Pera cantar-vos mente às Musas dada,
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada...

(CAMÕES, 1943, X, 155)

Aos padres mais graves da Província, foi em especial aceita a e-


leição, entre os quais o mestre frei Luís de Granada, que então
era provincial, foi o que mais a festejou...

(SOUSA, 1946, I, p. 34)

...que por suas grandes partes e provada virtude, foi sempre acei-
to aos príncipes deste Reino...

(SOUSA, 1946, I, p. 41)

... fundavam a esperança no valimento de João conhecidamente


o mais aceito a Cristo...

(VIEIRA, s/d., II, p. 87)

66 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Os Nigromantes, que o Brasil respeita,


Um marraque descobrem venerado;
Insígnia na Nação, que ao povo aceita,
Consideram por Símbolo Sagrado...

(DURÃO, 1791, V, 75)

Sim, que estudo e razão lhe persuadiram


Que ao vate aceito a Apolo, aceito às Musas,
Cabe espertar no ouvinte imagens vivas...

(ELÍSIO, 1941, p. 26)

O pai destes fidalgos, tão aceitos a D. João IV, foi D. João da


Silva, conde de Portalegre...

(CASTELO BRANCO, 1874, p. 16, nota)

Pois eu digo que este é o templo aceito a Deus...

(BARBOSA, 1949, p. 17)

E a causa aceita aos deuses não pode ser mal vista a Catão.

(BARBOSA, 1949, p. 183)

É o particípio passivo acceptus, do verbo accipere = re-


ceber.

Também se pode dizer: aceito nos olhos de alguém ou


aceito diante dos olhos de alguém. Magne (1950, v/aceito) cita
dois exemplos de Bernardo de Brito:

não há diante dos olhos de Deus sacrifício mais aceito que a


obediência.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 67


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

as obras eram aceitas nos olhos de Deus.

fiel:

Mas não posso convir no exposto rogo,


Sendo fiel ao Rei, português sendo...

(DURÃO, 1791, VIII, 8)

E foi fiel ao juramento santo...

(ELÍSIO, 1941, p. 202)

...ficando eu viúva aos trinta e nove anos, fui, sou e serei fiel à
sua memória.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 119)

contrário:

Vencerei (não só estes adversários:)


Mas quantos a meu Rei forem contrários.

(CAMÕES, 1943, IV, 19)

Julgaram nossos Pais na antiga idade,


Que se ofende no incesto o impresso lime,
Como contrário à paz da sociedade...

(DURÃO, 1791, III, 77)

avesso:

... convém não esquecer que essas qualidades eram justamente as


mais avessas à índole do filho de Valéria.

(ASSIS, s/d.3, p. 42)

68 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

caro:

noite cara a amor e aos cantos...

(CASTILHO, 1863, p. 23)

traidor:

traidor foi seu padre ao reino...

(CASTILHO, 1863, p. 160)

rebelde:

Rebelde às admoestações sisudas de amigos...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 48)

surdo:

O pranto dos hebreus não Te comove?


És surdo a seus lamentos?

(HERCULANO, 1878, p. 29)

duro:

Seu cepticismo não o fazia duro aos males alheios...”

(ASSIS, s/d.3, p. 22)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 69


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

semelhante:

Andavam com mantos algum tanto semelhantes aos das mulhe-


res...

(BERNARDES, 1945, I, 4C)

vizinho:

Uma, que às mais precede em gentileza,


Não vinha menos bela, do que irada:
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.

(DURÃO, 1791, VI, 37)

igual:

Dai-me igual canto aos feitos da famosa


Gente vossa, que a Marte tanto ajuda...

(CAMÕES, 1943, I, 5)

conforme:

E mais lhe diz também, que ver deseja


Os livros de as lei, preceito, ou fé,
Pera ver se conforme à sua seja,
Ou se são dos de Cristo, como crê...

(CAMÕES, 1943, I, 63)

Este adjetivo aceita, inda, a preposição com, segundo se


lê neste lanço do elegantíssimo Frei Luís de Sousa:

70 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

A criação que nos tempos passados tinham os moços neste Rei-


no, era tão austera e tão conforme com as regras de prudência,
que daí nascia saírem na guerra valentes e animosos e na Religi-
ão sábios e penitentes.

(SOUSA, 1946, I, p. 19-20)

alheio:

Mas os Estados Unidos confiam nas vantagens da sua posição


privilegiada, soberana neste continente e alheia aos conflitos do
outro...

(BARBOSA, 1946, p. 162)

inferior:

Lembra-me agora o que vi suceder a um cágado com uma águia,


lá em certa lagoa da minha aldeia: veio a águia, e de repente o
levantou nas unhas, não com pequena inveja das rãs, e de outros
cágados, que o viram ir subindo vendo-se eles ficar tão inferiores
a seu parceiro.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 95)

anterior:

A noite em que me dizias – alma e corpo, dou-vos tudo – foi, se


bem me recordo, anterior a esta...

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 210)

superior:

Que motivo tão forte a obriga a exigir desse moço um sacrifício


superior a suas posses?
(ASSIS, s/d.3, p. 33)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 71


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

2) Alguns substantivos verbais, tal como em latim,


(ERNOUT, 1951, § 80), conservam o complemento com a do
verbo correspondente: obediência, submissão, sujeição, adap-
tação, adesão, alusão, assistência etc.

Exemplos:

...podia tanto comigo a consciência da sujeição ao dever, que...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 131)

Não conhecem a obediência aos superiores e a reverência aos


mestres.

(BARBOSA, 1924, p. 284)

De ordinário, o substantivo (como objeto direto) forma


corpo com o verbo, e o complemento se prende mais propria-
mente ao conjunto (fazer guerra a, ter horror a), conforme
vimos no Capítulo II, 3.

Terá sido por aparecerem com frequência em locuções


desse tipo que muitos substantivos abstratos, quando empre-
gados isoladamente, se passaram a construir com a:

Impediam-no o natural acanhamento de provinciano, e o afeto


entranhado aos seus clássicos...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 36)

72 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Eis aqui a razão do ódio de Calisto à raça do mau português.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 45)

...nestas cegas agitações de ódio a outros povos...

(BARBOSA, 1921, p. 52)

“No tocante a este ponto", diz Magne (1950, p. 24), “cu-


ja exposição exaustiva levaria muito longe, baste notar que,
em muitos casos, a par com a, podem ocorrer por, para, para
com, de, com”.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 73


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

CAPÍTULO V

COMPLEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS

I) Encabeçando complementos circunstanciais, a pre-


posição a exprime um sem número de relações:

1) termo de um movimento:

Tudo isso se descarrega


ao porto da sepultura.

(VICENTE, 1945, vs. 338-339)

Isto dizendo, o Mouro se tornou


A seus batéis com toda a companhia...

(CAMÕES, 1943, I, 56)

74 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Aqui se lhe apresenta que subia


Tão alto que tocava à prima Esfera...

(CAMÕES, 1943, IV, 69)

Não será assi, porque antes que chegado


Seja este Capitão, astutamente
Lhe será tanto engano fabricado,
Que nunca veja as partes do Oriente:
Eu descerei à terra; e o indignado
Peito, resolverei da maura gente...

(CAMÕES, 1943, I, 76)

Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar...

(VIEIRA, s/d., II, p. 311)

Os homens tinham entranhas para deitar Jonas ao mar...

(VIEIRA, s/d., II, p. 315)

É possível, que os peixes ajudam à salvação dos homens, e os


homens lançam ao mar os ministros da salvação?

(VIEIRA, s/d., II, p. 315)

... a transmigração das Almas de uns corpos em outros; crendo


que as dos maus ficavam no inferno, mas as dos bons tornavam a
este mundo.

(BERNARDES, 1945, I, 5B)

Até que entrando nas ardentes Zonas,


Chegamos à Região das Amazonas.

(DURÃO, 1791, VI, 28)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 75


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Lembrei-me umas poucas de vezes de atirar a minha alma ao in-


ferno, apunhalando-me...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 59)

Mas a nossa barca, ou antes a barca afretada por Fr. Lourenço,


abicou a Restelo.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 65)

Meu fado errante


de novo arremessa a longes plagas.

(CASTILHO, 1863, p. 121)

Pois que a tanta vileza chagaste,


Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.

(DIAS, 1937, p. 81)

Apenas alvorou o dia, ela moveu o passo rápido para a lagoa e


chegou à margem.

(ALENCAR, 1948, p. 105)

Venha jogo: os zagais provem qual tem mão destra, dardos vi-
brando ao olmo...

(CASTILHO, 1867, p. 133)

Recolhia ao casal já noite; e que riqueza


de iguarias de graça a assoberbar-lhe a mesa.

(CASTILHO, 1867, p. 241)


Como seus olhos baixassem ao chão não pôde ver no rosto da
viúva uma ligeira cor que avermelhou e desapareceu.
(ASSIS, s/d.3, p. 34)

76 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Recolhiam-se a casa os lavradores.


Dormiam virginais as coisas mansas:
Os rebanhos e as flores,
As aves e as crianças.

(JUNQUEIRO, 1946, p. 162)

2) termo de uma extensão, ou de um transcurso de


tempo:

Estas duras montanhas adversárias


De mais conversação, por si mostravam
Que des que Adão pecou aos nossos anos
Não as romperam nunca pés humanos.

(CAMÕES, 1943, IV, 70).

... parece que tinham algũa desculpa os Monarcas da terra, em


que entender a diferença, que há do aparente ao verdadeiro, do
Real, ou Imperial ao Santo, de ũa coroa a outra coroa, e de reinar
a reinar.

(VIEIRA, s/d., II, p. 5)

... a infinita diferença que vai da arte à natureza...

(BERNARDES, 1945, I, 6B)

Depois de ũa vida mortificada dormiu ũa morte preciosa: as An-


gélicas Ordens lhe assistiram com discantes, e lhe deram sepul-
tura: da qual, sendo dali a 48 anos conhecida e aberta por indício
da mesma celestial música, que ali soava, brotou ũa copiosa e
clara fonte de várias e notáveis milagres.

(BERNARDES, 1945, I, 3C)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 77


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Mas temos tempo: isto são oito horas, à meia-noite vão quatro...

(GARRETT, 1943, p. 50)

...era mancebo de vinte e dous a vinte e cinco anos...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 6)

...corre a emanação magnética desta extremidade à oposta.

(BARBOSA, 1921, p. 66)

Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real.

(BARBOSA, 1921, p. 33)

A ideia de termo tangencia a de lugar onde, e neste caso


entra a preposição a em contacto com em.

A distinção de ad e in, análoga à que contrapõe ab e ex,


já preocupava os gramáticos latinos. Diomedes, repetindo en-
sinamento de Varrão, assim se expressa:

Ad et in non unum idemque significant, quia in forum ire est in


ipsum forum intrare, ad forum autem ire, in locum foro proxi-
mum; ut in tribunal et ad tribunal venire non unum est, quia ad
tribunal venit litigator, in tribunal vero praetor aut iudex. (cf.
MAGNE, 1952, v/ad, p. 68).

A respeito do destino dessas preposições nas línguas ro-


mânicas pode ver-se o extenso estudo de Meyer-Lübke (1923,
§§ 433 a 438).

78 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Na sintaxe literária portuguesa de nossos dias é comum


encontrar-se em com verbos de movimento, a não ser em ex-
pressões feitas como ir de porta em porta, de casa em casa,
tornar em si, saltar em terra, cair no laço etc. No período an-
teclássico era, porém, frequente tal construção, de que não es-
casseiam exemplos também na linguagem renascentista. Do-
cumentemo-la com Camões:

Nalgum porto seguro de verdade:


Conduzir-nos já agora determina.

(CAMÕES, 1943, II, 32)

Triste ventura, e negro fado os chama


Neste terreno meu...

(CAMÕES, 1943, V, 46)

Os cabelos da barba, e os que devem


Da cabeça nos ombros, todos eram,
Ũs limos prenhes d’água, e bem parecem
Que nunca brando pentem conheceram...

(CAMÕES, 1943, VI, 17)

Enquanto Júlio Moreira (1907, p. 120-124) filia este uso


na tradição do emprego do in latino para exprimir o termo do
movimento, Epifânio Dias (1933, § 183, b) é de opinião que,
em casos assim, o termo do movimento se designa

não como tal, mas como lugar onde, sendo que se considera
prolepticamente, não o movimento a que se referem aqueles

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 79


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

verbos e locuções, mas o estado que se segue àquele movimento.

Observação: Em muitos casos, concorrem as preposi-


ções a e até na indicação da ideia de termo, empregando-se de
preferência a última quando se deseja acentuar bem a noção de
limite. E, a partir do século XVII (DIAS, 1933, § 211), come-
çou-se a usar também das duas preposições combinadas.

Eis alguns exemplos de Rui Barbosa, segundo parece,


inclinava deliberadamente para a conjugação delas:

... na região onde a consciência estende os seus pensamentos até


às plagas da outra vida...

(BARBOSA, 1948, p. 33)

... à custa de liberalidades infinitas, da gorjeta estendida como


sistema de governo a todas as classes, do dessangramento do
tesoiro até ao extremo da anemia.

(BARBOSA, 1946, p. 201)

... desde as porfias da escola até às meditações do gabinete.

(BARBOSA, 1924, p. 283)

... suas vaias sobem nas escolas até à cátedra dos professores.

(BARBOSA, 1924, p. 284)

não era porque requintasse o apuro da gramática até às mais


ligeiras minúcias da ortografia.

(BARBOSA, 1953, p. 17)

80 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Onde pretende gracejar, mergulha até ao topete na chocarreria


insulsa e grossa

(BARBOSA, 1953, nº 23, p. 76-77)

Descendo até aos pronomes e às partículas...

(BARBOSA, 1953, nº 31, p. 93)

... alteia o voo soberbo, além das regiões siderais, até aos
páramos indevassáveis do infinito.

(BARBOSA, 1921, p. 23)

...o segredo feliz, não só das minhas primeiras vitórias no traba-


lho, mas de quantas vantagens alcancei jamais levar aos meus
concorrentes, em todo o andar dos anos, até à velhice.

(BARBOSA, 1921, p. 32)

Na frase seguinte, aproveitam-se ambas as possibilida-


des que a língua oferece:

Tudo assim, desde os astros, no céu, até os micróbios no sangue,


desde as nebulosas no espaço, até aos aljôfares do rocio na relva
dos prados.

(BARBOSA, 1921, p. 25)

Ao rever, em 1921, para publicação em livro, o que es-


crevera, 32 anos antes, no Diário de Notícias, emendou Rui
“até o sangue” em “até ao sangue”, no artigo Nossos Ídolos:

... zurze, de quando em quando, o ministério até ao sangue...

(BARBOSA, 1947, I, p. 338, nota 7)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 81


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

3) proximidade, contiguidade:

Deixas criar às portas o inimigo


Por ires buscar outro de tão longe...

(CAMÕES, 1943, IV, 101)

... estando ainda Leonardo à mesa, porém no fim das iguarias,


bateram à porta Píndaro e Solino...

(LOBO, 1941, p. 6-7)

Um curioso em Itália (segundo um autor de crédito conta)


estando com sua mulher ao fogo lendo o Ariosto...

(LOBO, 1941, p. 17)

...se armou uma mesa e o arcebispo se assentou a ela em uma


cadeira...

(SOUSA, 1946, I, p. 92)

...começou o que depois usou por toda vida, que era ter uma es-
cudela de água à cabeceira, pera se servir dela contra a força do
sono.

(SOUZA, 1946, I, p. 20)

Pôs à porta do Paraíso um Querubim com ũa espada de fogo...

(VIEIRA, s/d., II, p. 104)

... a igreja estava fechada e o sacristão à porta com as chaves na


mão.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 17)

82 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

...assentai-vos aqui ao lar, bem juntos ao pé de mim, e contar-


vos-ei a história de D. Diego Lopes, senhor de Biscaia.

(HERCULANO, 1877, II, p. 7)

Luís Garcia esperava por eles, sentado à porta, ou encostado à


janela...

(ASSIS, 1923, p. 152)

Os Presos, às grades da triste cadeia,


Olhavam-me em face!

(NOBRE, 1898, p. 19)

Não a matei por não ter à mão ferro nem corda, pistola nem
punhal; mas os olhos que lhe deitei, se pudessem matar, teriam
suprido tudo.

(ASSIS, s/d.5, p. 235)

A esta categoria pertence a aplicação do a nos comple-


mentos que indicam “parte do corpo onde uma coisa está pos-
ta, presa, acomodada ou conchegada” (SILVEIRA, 1937, p.
296):

E as mães que o som terríbil escuitaram,


Aos peitos os filhinhos apertaram.

(CAMÕES, 1943, IV, 28)

Criava-o a mãe a seus peitos com cuidado de mãe, e mãe de


grande virtude.

(SOUSA, 1946, I, p. 13)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 83


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Dizendo isto, apertou ao peito o mancebo...

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 220)

Raimundo, nove anos mais velho que o senhor, carregava-o ao


colo, e amava-o como se fora seu filho.

(ASSIS, s/d.3, p. 5)

– Não gosto que um homem me aperte o corpo ao seu corpo, e


ande comigo, assim, à vista dos outros.

(ASSIS, 1923, p. 147)

... um cãozinho que tinham dado a Sofia, pequeno, delgado, leve,


buliçoso, olhos negros, com um guizo ao pescoço.

(ASSIS, 1923, p. 118)

E violetas e cravos quando passa,


Rosas, jasmins, rindo, com as mãos nervosas
Colhe. Volta, e ante o espelho às tranças pretas
Prende os jasmins, os cravos e as violetas
Prende à cintura, prende ao seio as rosas.

(OLIVEIRA, 1912, 2ª série, p. 139)

Com o verbo apertar e sinônimos também se usa, em


nossos dias, da preposição contra:

Apertei contra o coração o punho da espada.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 39)

O guerreiro parou, caiu nos braços


Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:

84 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

– Este, sim, que é meu filho muito amado!

(DIAS, 1937, p. 83)

Agarra o saco, e apalpa-o, e contra o peito o aperta,


Como para o enterrar dentro do coração.

(BILAC, 1935, p. 272)

Em Durão (1791, III, 88) depara-se-nos o emprego da


preposição em:

Às armas, grita, às armas, e o eco horrendo,


Retumbando nas árvores sombrias
Fez que as mães, escutando os murmurinhos,
Apertassem no peito os seus filhinhos.

Observação: A propósito da construção à mesa, escreve


Sousa da Silveira, em comentário a versos de Gonçalves de
Magalhães (1939, p. 121-122, nota 52):

É a a preposição que se costuma usar na língua literária, com


substantivo mesa, quando se denota a situação de alguém
junto à mesa para comer, escrever etc., ou o tempo que dura
a refeição:

“E estando ele à mesa com os ditos hóspedes”

(BERNARDES, 1945, I, 1706, p. 414).

“põe-se à mesa, e prepara-se para escrever”

(GARRETT, 1846, IV, p. 127)

Contudo, há exemplos de emprego da preposição em:

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 85


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

... mandou-se vir, assentou-os na cabeceira da mesa junto


consigo.

(SOUSA, 1763, I, p. 540)

Achara particular gosto naquele jantar, não só porque partia com


pobres, que esse era seu cotidiano exercício, mas porque via po-
bres na sua mesa, e com eles comia.

(SOUSA, 1763, I, p. 540)

Nos seguintes versos o nosso Alberto de Oliveira (1928,


3ª série, p. 52) mostra a diferença que geralmente se faz entre
na mesa (=em cima da mesa, sobre a mesa) e à mesa (= junto
à mesa, para nela fazer algo):

E na mesa a que escrevo, apenas fica


Sobre o papel – rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.

4) posição, situação:

Assi fomos abrindo aqueles mares


Que geração algũa não abriu,
As novas Ilhas vendo, e os novos ares,
Que o generoso Enrique descobriu:
De mauritânia os montes e lugares
Terra que Anteu num tempo possuiu,
Deixando à mão esquerda, que à direita
Não há certeza doutra, mas sospeita.

(CAMÕES, 1943, V, 4)

86 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Vi, diz Davi, uma Rainha colocada à destra de Deus, a qual esta-
va vestida com duas galas diferentes...

(VIEIRA, s/d., II, p. 15)

Aquela cinta azul, que o Céu estende


À nossa mão esquerda...

(COSTA, 1768, p. 10)

Imediatamente se abriu uma porta à esquerda, e os dous precipi-


taram-se numa espécie de vasto sótão...

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 119).

Cavaleiros, – disse o conde de Seia depois de escutar um instante


e aproximando-se da mesa – assentai-vos. Marechal, à cabeceira.
Que ninguém ocupe esse lugar junto a vós. E’ para o bom do vi-
lão.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 182)

e o povo, quase todo, é pária em toda a parte;


é Lázaro esfaimado aos pés do grão festim.

(CASTILHO, 1863, p. 46)

Têm zonas cinco os céus: a média, eternamente


coruscante de sol, e em fogo eterno ardente;
duas, as lá da extrema, à destra e sestra, imensas,
rijas de gelo azul, atrás de nuvens densas;
entre estas e a central, mais duas...

(CASTILHO, 1867, p. 31)

No regaço daquela dama alguns portugueses, ajoelhados, não à


rainha, mas ao anjo, depunham o produto das esmolas colhidas
em Portugal.

(CASTELO BRANCO, 1872, p. 85)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 87


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Ficou o padre um amor de reverendo, liso e bem amanhado co-


mo cônego de oleografia. Ele próprio o reconheceu ao espelho...

(LOBATO, 1935, p. 39)

5) direção:

Mas que lá donde sai o Sol, se abalam


Pera onde a costa ao Sul se alarga, e estende...

(CAMÕES, 1943, V, 77)

Mas não lhe sucedeu como cuidava,


Que nenhum deles há que lhe ensinasse
A que parte dos Céus a Índia estava.

(CAMÕES, 1943, II, 70)

Ao longo do canavial corria um regato...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 94-95)

– Como se chama? – perguntou-lhe o notário, fitando-a por cima


dos óculos, com a pena de pato apontada à página da nota.

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 43)

Eis-nos longe de tudo, em pleno Oceano. Ao Poente


E ao Levante o que vês são água e céus somente,
Oh! céus e água! e ao Norte, e ao Sul, por toda parte!

(OLIVEIRA, 1912, 2ª série, p. 192)


Já me não era pouco a graça (pela qual erguia as mãos ao céu) de
abrir os olhos à realidade evidente da minha impotência...
(BARBOSA, 1921, p. 17)

88 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

6) distância:

O mesmo fazem estes Pegadores, tão seguros ao perto, como a-


queles ao longe...

(VIEIRA, s/d., II, p. 335)

E quando a tiro de canhão se via,


Fez que se ouvisse a formidável tromba...

(DURÃO, 1791, VI, 21)

A um tiro de besta abria-se um vale entre dous montes, cujos ci-


mos se prolongavam para o norte.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 91)

Algumas [almas] não tornam. Outras param a meio caminho.

(ASSIS, 1923, p. 62)

Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: ao fundo


sobre o canapé, estava Rita morta e ensanguentada.

(ASSIS, 1903, p. 19)

7) tempo:

Mas logo ao outro dia seus parceiros


Todos nus, e da cor da escura treva,
Descendo pelos ásperos outeiros
As peças vêm buscar que estouro leva...

(CAMÕES, 1943, V, 30)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 89


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Tudo cabia na pessoa do provincial, o qual estava a este tempo


em Santarém...

(SOUSA, 1946, I, p. 42)

Aos 22 de setembro partiu de Lisboa.

(SOUSA, 1946, I, p. 66)

Levantava-se infalivelmente todos os dias às três horas da


manhã...

(SOUSA, 1946, I, p. 71)

Cinquenta açoutes num estrangeiro, ao meio-dia, na praça –


prosseguiu o chanceler esfregando as mãos, depois de breve pau-
sa. – Admirável!

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 29)

Beatriz apenas saíra do letargo em que ficara à partida do


monge...

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 174-175)

Adeus, rouxinol dos hortos,


Que às matinas acordavas.

(CASTILHO, 1863, p. 159)

Calisto, ao outro dia da primeira noite de esposo, por volta das


sete horas da manhã, já estava a ler a Viagem à Terra Santa, por
Frei Pantaleão de Aveiro; e, à mesma hora, a noiva andava de pé
sobre um catre de pau preto rendilhado, com uma vassoira de gi-
esta, a limpar teias de aranha de teto.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 62)

90 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Mais se afervorou a estima da prima Teodora, quando viu que


Lobo, na ausência de Caslisto, amiudava as visitas, e lhe fazia
companhia ao serão nas noites de inverno.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 149)

Abriam-se as aulas a 15 de fevereiro.

(POMPEIA, s/d., p. 27)

Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão


e à sobremesa...

(ASSIS, s/d.5, p. 15)

Tudo à sazão de amor deve cantar de amor.

(OLIVEIRA, 1912, 1ª série, p. 312)

Além de indicar o momento rigoroso como no último


exemplo, ainda pode a preposição a traduzir o tempo habitual:

...e jejuavam dous dias cada sábado; isto é, casa semana; que era
às segundas, e quintas-feiras...

(BERNARDES, 1945, I, 4C)

8) concomitância:

... cantando certas cantigas ao som de adufes e pandeiros, com


uma toada mui de folgar.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 83)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 91


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

...e recitava versos dele ao piano...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 25)

e a mulher ao tear, toda aguçosa em teias,


cantando engana o tempo, e alterna a lançadeira
ao compasso do canto, alegra tecedeira...

(CASTILHO, 1867, p. 39)

À mistura com as inversões, confusões e omissões, os equívocos,


as trocas, as alusões inexatas.

(BARBOSA, 1949, p. 13)

Em certas construções torna-se mais complexa a ideia


de simultaneidade: a preposição denota “fenômeno ou ação,
em concomitância como qual ou a qual, ou em consequência
ou por influência do qual ou da qual outro fenômeno ou ação
se produz” (SILVEIRA, 1937, p. 294):

Fechai logo esta porta por dentro, e não abrais se não à minha
voz.

(GARRETT, 1943, p. 116)

Que a teus passos a relva se torre...

(DIAS, 1937, p. 81)

Ao fresco arrepio dos ventos cortantes


Em musico estalo rangia o coqueiro.

(ALVES, 1876, p. 89)

92 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

O oceano impõe deveres. O mar é uma escola de resistência. Às


suas margens os invertebrados e os amorfos rolam nas ondas e
somem-se no lodo, enquanto os organismos poderosos endure-
cem às tempestades, levantam-se eretos nas rochas e criam, ao
ambiente puro das vagas imensas, a medula dos imortais.

(BARBOSA, 1946, p. 164)

Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado.

(ASSIS, 1903, p. 155)

Mas, a mau sonho, inquieta, Ema no leito move-se, grita...

(OLIVEIRA, 1912, 2ª série, p. 29)

Neste tópico, a nosso ver, cabe classificar os comple-


mentos que indicam o agente físico a que alguém ou alguma
coisa está exposta:

Lá, como é uso do país, roçando


Dous lenhos entre si, desperta a chama,
Que já se ateia nas ligeiras palhas,
E velozmente se propaga. Ao vento
Deixa Cacambo o resto...

(GAMA, 1941, III, 53)

Uma tarde a Brites tecedeira sentara-se em um toro de castanho


à porta do casebre, aquentando-se à réstia do sol...

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 28)

E não há neste labor nem dureza, nem arranque. Todo ele é feito
com mansidão com que o pão amadurece ao sol.
(QUEIRÓS, 1900, p. 209)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 93


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

9) motivo:

...à petição del-rei D. João, teve frei Bartolomeu conclusões de


Teologia.

(SOUSA, 1946, I, p. 27)

A pedido de Calisto Elói fora o abade de Estevães levar as


entradas ao magistrado...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 92)

...fora à terra a férias de Natal...

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 19)

Deixei-os, a pretexto de brincar...

(ASSIS, s/d.5, p. 110)

Então, a rogos, promessas e protestos dos companheiros, Francia


volta.

(BARBOSA, 1946, p. 196)

Admitido, todavia, a insistência suas, com a nota de “indiferen-


te”, embora primasse entre os mais aplicados, tudo lhe eram, no
estudo, espessas trevas.

(BARBOSA, 1921, p. 27)

10) fim:

Pera isso sam, e a isso vim...


(VICENTE, 1945, vs. 88)

94 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Chama o Rei is senhores a conselho...

(CAMÕES, 1943, IV, 76)

Porque o Piloto falso prometido,


Que toda a má tenção no peito encerra,
Pera os guiar à morte lhe mandava,
Como em sinal das pazes que tratava.

(CAMÕES, 1943, I, 94)

Ora, pois todos somos de campanário, será bom que nos vejamos
os jogos, como bons parceiros: a que vindes a esta casa?

(MELO, 1943, p. 5)

...era domingo: o sino tocava à missa...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 38)

...não seria ele que por si próprio se viesse oferecer ao castigo...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 54)

Pararam todos à escura...

(CASTILHO, 1863, p. 166)

Que desse dinheiro a juros. Asseverava-lhe que uma dúzia de


contos bem administrados, era obra para dar oitenta contos em
dous anos.

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 54)

Os sinos tocam a noivado


No Ar levado!

(NOBRE, 1898, p. 68)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 95


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

No sentir, por que assim digamos, unânime de Paris, Dreyfus


devia ter sido condenado à morte.

(BARBOSA, 1946, p. 25)

Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao


ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apóli-
ces, e deixou-se estar na casa de Matacavalos, onde vivera os
dous últimos anos de casada.

(ASSIS, s/d.5, p. 20)

O pai era comerciante de café, – comissário, – e andava então a


negócios por Minas...

(ASSIS, s/d.4, p. 31)

11) modo:

vivei à vossa vontade


e havei prazer.

(VICENTE, 1945, vs. 153-154)

Todos dormem a prazer


Sem lhes vir pela memória
que per força hão de morrer,
e não querem acender
a santa vela da glória.

(VICENTE, 1953, vs. 580-584)

E vão a seu prazer fazer aguada,


Sem achar resistência, nem defesa...

(CAMÕES, 1943, VI, 93)

96 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Amaina, disse o mestre a grandes brados


Amaina, disse, amaina a grande vela...

(CAMÕES, 1943, VI, p. 71)

...e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os


homens, ouçam-me os peixes.

(VIEIRA, s/d., II, p. 311)

... partiram a galope ambos para o mesmo lado...

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 120)

D. Cipriana refastelou-se mais a seu cômodo na poltrona, en-


quanto Briolanja tornava a persignar-se.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 168)

Dom Rodrigo rei dos godos


à rédea larga fugia.

(CASTILHO, 1863, p. 154)

Eu quero, com o Dr. Aires, que todo o preso seja de todo barbea-
do semanalmente, lave rosto e mãos duas vezes por dia, e tenha
o cabelo da cabeça cortado à escovinha.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 87)

Possuindo muitos bens, que lhe davam para viver à farta, empre-
gava uma partícula do tempo em advogar o menos que podia...

(ASSIS, s/d.3, p. 26)

Quincas Borba vai atrás dele pelo jardim fora, contorna a casa,
ora andando, ora aos saltos.

(ASSIS, 1923, p. 42)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 97


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Pode incluir-se nesta classe o emprego de preposição a


nos complementos que denotam o regímen de alimentação a
que alguém está sujeito ou se submete:

...jejuava quase todo anos a pão, e água...

(VIEIRA, s/d., II, p. 9)

Prometeu à virgem jejuar três dias a pão e água...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 5)

Dantes alimentara-se a leite e ovos...

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 55)

12) conformidade:

Ponde-vos a for da corte,


desta sorte
viva vosso parecer
que tal nasceu.

(VICENTE, 1945, vs. 291-294)

Sou ũa alma que pecou


culpas mortais
contra o Deus que me criou
à sua imagem.

(VICENTE, 1945, vs. 436-439)

98 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Senhora, a meu parecer,


pera esta escuridade
candea não há mester,
que o Senhor qu’há de nacer
é a mesma claridade...

(VICENTE, 1953, vs. 645-649)

Como a cantiga mostrava,


femenil, a meu cuidar,
era a voz de quem cantava
que, por mais de bem cantar,
eu ouvir me contentava...

(FALCÃO, 1945, vs. 626-630)

Bem junto dele um velho reverente,


Cos giolhos no chão, de quando em quando
Lhe dava a verde folha da erva ardente
Que a seu costume estava ruminando.

(CAMÕES, 1943, VII, 58)

Nós, que a teu parecer mal te matamos,


Não viveremos muito...

(FERREIRA, 1945, vs. 1345-1346)

...e como em tudo precedia com grande prudência e ânimo de


acertar, e era a primeira prelacia que lhe tocava prover, desejava
empregá-la em tal sujeito, que, a juízo de todos, fosse dela dig-
níssimo...

(SOUSA, 1946, I, p. 40-41)

Ao longo da parede umas estantes a uso fradesco que diziam


com a mesa na feição e pobreza.

(SOUSA, 1946, I, p. 70)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 99


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Isto suposto, quero hoje à imitação de S. Antônio voltar-me da


terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos
peixes.

(VIEIRA, s/d., II, p. 312)

Vedes vós? Pois, se olharmos bem a cousa, nenhum deles tem


grande culpa, a meu juízo...

(MELO, 1943, p. 39)

Os teólogos dir-vos-ão: Deus fez o homem à sua imagem e


semelhança...

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 144)

– Falou à portuguesa, Sr. morgado; mas extemporaneamente...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 35)

– Esse homem que aí está dá ares de criado?

– Não, senhor: é assim um jarreta vestido à antiga, com uma


gravata que parece um colete.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 71)

Aquilo, a meu ver, é que já o ouviu no parlamento, e apaixonou-


se. Há muitos casos assim cá em Lisboa de senhoras apaixonadas
pelos homens de talento.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 119)

As meninas pentearam-lhe os opulentos e negros cabelos à


Stuart...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 170)

100 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Sentia um não sei quê com aquele chim


De olhos cortados à feição de amêndoa.

(OLIVEIRA, 1912, 1ª série, p. 177)

E, ainda quando aos olhos do mundo, como aos do nosso juízo


descaminhado, tenham logrado a nossa desgraça, bem pode ser
que, aos olhos da filosofia, aos da crença e aos da verdade su-
prema, não nos hajam contribuído senão para a felicidade.

(BARBOSA, 1921, p. 23)

Financeiro, administrador, estadista, chefe de Estado, ou qual-


quer outro lugar de ingente situação e assustadoras responsabili-
dades, é, a pedir de boca, o que se diz mão de pronto desempe-
nho, fórmula viva a quaisquer dificuldades, chave de todos os
enigmas.

(BARBOSA, 1921, p. 33)

13) meio:

Uns vão nas almadias carregadas,


Um corta o mar a nado diligente,
Quem se afoga nas ondas encurvadas,
Quem bebe o mar, e o deita juntamente...

(CAMÕES, 1943, I, 92)

Quantos troféus alçados, quanto muros


Rotos a suas vitórias...

(FERREIRA, 1939-1940, I, p. 168)


Que às expensas do Rei seja educado
O Neófito, que abraça a Santa Igreja...
(DURÃO, 1791, X, 76)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 101


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

... deixa ainda ondulando o berço do filhinho, o qual adormeceu


a custo de muito embalar.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 96)

O lavor artístico demanda mais pausa, não se obtendo senão a


poder de tempo, estudo e mimo.

(BARBOSA, 1949, p. 3)

...a mãe era filha de Taubaté, S. Paulo, amiga de viajar a cavalo.

(ASSIS, s/d.4, p. 31)

14) causa:

Deus não desempara ao justo, nem o deixará parecer à fome.

(BERNARDES, 1946, II, p. 224)

Eu ainda tentei espaçar a cerimônia a ver se tio Cosme sucumbia


primeiro à doença, mas parece que esta era mais de aborrecer
que de matar.

(ASSIS, s/d.5, p. 307)

Não é raro também entrar o a, com valor causal, em lo-


cuções prepositivas; eis dois exemplos, ambos de João de Bar-
ros, dentre os que cita o Dicionário Brasileiro da Língua Por-
tuguesa (Boletim nº 1, v/a, 23), publicado pela Academia Bra-
sileira de Letras:

102 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

a cheiro de:

Os primeiros daquela costa, que vieram ter a esta terra de Sofola


a cheiro deste ouro, foram os moradores da Cidade de Magada-
ro...

à força de:

... o qual haverá quatro anos que anda embrulhado com uma má
mulher, a força dos feitiços que lhe tem feito.

15) instrumento:

Mas ele enfim com causa desonrado,


Diante dela a ferro frio morre,
De outros muitos na morte acompanhado...

(CAMÕES, 1943, IV, 5)

Enfim, enfim, às mãos dos teus morreste.

(CAMÕES, 1932, p. 285)

Que de cidades, povoados,


A ferro e fogo assolou?

(LOBO, 1928, p. 33)

Este brado, semelhante ao grito de homem que matam a ferro,


despedaçava o coração.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 58)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 103


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

D. Bruno releu a linha escrita a lápis, e disse entre si: – Que


Custódio é este!?

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 71)

Até, até se viram


terrenos a enxadão com agro afã rasgados,
os grãos da semeadura a unhas soterrados,
e entesando o pescoço os próprios lavradores
puxarem serra acima os carros gemedores.

(CASTILHO, 1867, p. 215)

De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a


picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adi-
ante faziam paralelepípedos a escopro e maceta.

(AZEVEDO, 1943, p. 61)

...e antes que ela raspasse o muro, li estes dous nomes, abertos
ao prego, e assim dispostos:
BENTO
CAPITOLINA

(ASSIS, s/d.5, p. 41)

16) quantidade, medida e preço:

Mais quis dizer, e não passou daqui,


Porque as lágrimas já corendo a pares
Lhe saltaram dos olhos...

(CAMÕES, 1943, VI, 34)

104 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Amostram-vos num momento


Favores assim a molhos;
Mas na mudança dos olhos
Se lhe muda o pensamento.

(CAMÕES, 1932, p. 10)

A um mesmo tempo começaram uns e outros a entender com o


que estava à sua conta: os frades com a crasta, os seculares com
a igreja; e foi cousa de ver a requestra e cobiça com que os secu-
lares a dividiram entre si às braças; e como eram muitos e cada
um, como em uma roca herança, desejava ser melhorado em
quinhão, foi a partilha quase aos palmos.

(SOUSA, 1946, III, p. 217)

... porque é loucura


Comprar a tanto preço as minhas dores...

(COSTA, 1768, p. 17)

Mas a noite ia cada vez mais fria: os trovões e os raios eram uns
atrás de outros: a chuva era aos cântaros.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 98)

As lágrimas escorregavam-lhe pelas faces a quatro e quatro.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 352)

Quando ela deu a alma a Nosso Senhor tínhamos 20 moedas de


ouro. Teve um ofício de 40 padres a doze vinténs a vela, e trinta
missas no dia.

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 31)

...declamavam enfaticamente versos a milhares...

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 70)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 105


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Que te valeram as máximas de boa vida colhidas a centenares


nos teus clássicos, e enceladas nessa alma...?

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 109)

E eu caía, único vencido! e o tropel, de volta, vinha sobre mim,


todos sobre mim! sopeavam-me, calcavam-me, pesados, carre-
gando prêmios, prêmios aos cestos!

(POMPEIA, s/d., p. 46)

...passar os dias fazendo barbas a vintém...

(CÂMARA, 1893, p. 10)

E erguem por vias enluaradas


Minhas sandálias chispas a flux...

(CORREIA, 1910, p. 111)

É uma voragem a minha casa. Quando entro numa sapateira é


para comprar doze, quatorze pares de sapatos! Das lojas nunca
trouxe fazenda aos metros, é às peças.

(LOBATO, 1935, p. 135)

17) referência “de uma cousa a outra que serve de


norma ou tipo” (DIAS, 1933, § 156, letra f):

Aborrecia aquele ânimo limpíssimo de cobiça toda a cousa que


cheirava a interesse...

(SOUSA, 1946, I, p. 96)

106 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Muito me retinis a letrado, relogiozinho de por aí além. Dizei


vosso dito!

(MELO, 1943, p. 12)

Que é isto? Assassinato é coisa que me não cheira a idioma de


Bernardes e Barros.

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 99)

– Abra aquela janela, disse esta ao criado; tudo cheira a mofo.

(ASSIS, 1923, p. 347)

II) Junto a verbo no infinitivo, forma a preposição a


orações reduzidas que expressam condição, tempo, fim etc.

Exemplos:

1) condição (equivale a se acompanhado do pretérito


ou do futuro do subjuntivo):

cada ovo dará um pato,


e cada pato um tostão,
que passará de um milhão
e meo, a vender barato.

(VICENTE, 1953, vs. 465-468)

A ser tal culpa sabida


sei certo que este desvairo
pagarei com minha vida...

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 107


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

(FALCÃO, 1945, vs 868-970)

Retrato, vós não sois meu;


Retratavam-vos mui mal;
Que, a serdes meu natural,
Fôreis mofino como eu.

(CAMÕES, 1932, p. 99)

Foi ventura, que houvesse no Evangelho outro Príncipe de san-


gue, para que nos fizesse exemplo nesta dúvida, porque a faltar
ele, ainda que na balança se pudessem todos os quatro metais da
Estátua de Nabuco... não pesaria um átomo.

(VIEIRA, s/d., II, p. 300)

Tristes! que a ver algum, qual fim o espera


Com quanta sede a morte não bebera!

(DURÃO, 1791, I, p. 13)

A ser a fama crida,


já se hão visto abelhais buscar por mais seguro
contra inclemências do ar, da terra o bojo escuro.

(CASTILHO, 1867, p. 229)

...mas tudo tão caro que, a não haver inconveniência, ousarei di-
zer que a comedela foi a maior fraude que se tem feito com san-
tos em Braga.

(CASTELO BRANCO, 1885, p. 23)

Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessa-


va que, a não sermos nós, já teria voltado para lá...

(ASSIS, s/d.1, p. 15)

108 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

2) tempo (vale por quando, e neste caso é o infinitivo


precedido de artigo):

...porque a natureza ao formar um corpo humano, começa do co-


ração, e mais entranhas, e acaba na pele; e a arte ao esculpir ũa
imagem, trata só do exterior, e nunca chega dentro...

(BERNARDES, 1945, I, 6B)

Invoca no perigo o Céu impiedoso;


Ao ver eu a fúria horrível da procela
Rompe a nau, quebra o leme, e arranca a vela.

(DURÃO, 1791, I, XI)

Ao entrar na câmara de sua irmã, o monge viu que Domingas o


enganara.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 178)

Casou o morgado, ao tocar pelos vinte anos, com sua segunda


prima...

(CASTELO BRANCO, 1953, p. 17)

Ao vir da primavera, a rosa lhe floria


mais cedi que a ninguém...

(CASTILHO, 1867, p. 241)

A natureza nos está mostrando com exemplos a verdade. Toda


ela, nos viventes, ao anoitecer, inclina para o sono.

(BARBOSA, 1921, p. 29)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 109


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

3) fim (concorrentemente com para):

Sairás ao campo mundano


a dar crua e nova guerra
aos imigos...

(VICENTE, 1953, vs. 515-517)

Que havendo tanto já que as partes vendo,


Onde o dia é comprido, e onde breve,
Inclinam seu propósito, e perfia
A ver os berços, onde nasce o dia.

(CAMÕES, 1943, I, 27)

Chegada a frota ao rico senhorio,


Um português mandado logo parte,
A fazer sabedor o Rei gentio
Da vinda sua a tão remota parte...

(CAMÕES, 1943, VII, 23)

... pranteara, a morte de Zerbino com tanto sentimento que lhe


acudiu a vezinhança a saber o que era.

(LOBO, 1941, p. 17)

...e logo se recolhia com um desembargador pera a câmara em


que dormia, a despachar as petições e papéis que havia...

(SOUSA, 1946, I, p. 72)

Perdoai-me Rainha Santa este discurso; mas não mo perdoeis;


porque todo ele foi ordenado a avaliar o preço, a encarecer a
singularidade, e a sublimar a grandeza de vossas glórias.

(VIEIRA, s//d., II, p. 8)

110 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

Que te conceda Deus, Ministro justo,


(Diz-lhe a Alma venturosa) o prêmio eterno;
Pois vens do antigo Mundo a tanto custo
A libertar-me do poder do Inferno.

(DURÃO, 1781, I, 62)

... pescadores que daí saíam em seus batéis a pescar no Tejo.

(HERCULANO, s/d.4, I, p. 74)

...corria uma rua escura e triste, como quase todas as de Lisboa:


era a rua de Mestre Gonçalo. Ao entrarem nela, o escudeiro e o
pajem pararam a examiná-la.

(HERCULANO, s/d.4, II, p. 119)

Às onze horas entrou na Câmara. Dir-se-ia que entrava Cícero a


delatar a conjuração de Catilina.

(CASTELO BRANCO, 1947, p. 37)

...sentia-se uma ressurreição de cavaleiro medievo, saindo a


combater por amor de sua dama...

(ASSIS, s/d.3, p. 37)

Pode dar-se, em frases deste gênero, que o infinitivo te-


nha passivo:

...come-o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que
cantando o levam a enterrar...

(VIEIRA, s/d., II, p. 326)


Saía a enterrar um moço, filho de sua mãe, a qual era viúva, e ia
grande multidão do povo com ela.
(VIEIRA, s/d., II, p. 417)

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 111


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

Então o imperador dava outra vez a mão a beijar, e saía, acom-


panhado de todos nós...

(ASSIS, s/d.5, p. 84)

Elegante construção, já pouco usada, é esta de Vieira


(s/d., II, p. 21), na qual a preposição a enceta oração final de
forma não reduzida:

Eu já quisera acabar, mas está-me chamando a nova Primavera,


que vemos, a que repare naquelas rosas.

4) concessão (corresponde a ainda que, e é construção


arcaizada):

Os perigosos, os casos singulares.


Que por mais de mil léguas toleramos,
Não contara, depois que no mar erro
A ter peito de aço, e a voz de ferro.

(DURÃO, 1781, VI, 26)

III) – Ainda que preceder o infinito, acerta a preposição


a de entrar em combinação com numerosos verbos. Anotemos
somente, como observação final, que, em frases como estas de
Machado de Assis:

Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e


escondi-me atrás da porta. (s/d.1, p. 7),

112 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

A mulher ia a sair, o marido deteve-se, ela estremeceu. (1923, p.


85),

a preposição parece denotar que já se encontra em início de


execução, e não apenas em pensamento, a ação expressa pelo
verbo.

Comentando duas passagens dos Contos Gauchescos (p.


48-49) de Simões Lopes Neto, o professor Aurélio Buarque
Holanda sente do mesmo modo o valor da preposição. Eis os
exemplos do regionalista gaúcho, citados por aquele professor:

Quando ia a entrar na venda, saiu-lhe o castelhano, pelo lado de


laçar... (p. 156).

Foi nesse apuro, que o touro carregou, e veio, de língua de fora,


berrando surdo... e entreparado, baixou a cabeça, retesando o co-
gote largo e ia a levantar a guampada, guampada, quando, meio
maneado no laço e ladeado por um sofrenaço de pulso, o bagual
planchou-se... (p. 232-233).

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 113


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

BIBLIOGRAFIA

ACADEMIA Brasileira de Letras. Dicionário brasileiro da


língua portuguesa, boletim nº 1, Rio de Janeiro, 1928.

ALENCAR, José de. Iracema. Reproduz a edição de 1878


com introdução, notas e apêndice por Gladstone Chaves de
Melo. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1948.

ALONSO, Amado; UREÑA, Pedro Henríquez. Gramática


castellana. 3. ed. Buenos Aires, 1943, 2 v.

ALVES, Castro. A cachoeira de Paulo Afonso. Bahia, 1876.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Garnier,


s/d.1

114 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

______. Histórias sem data. Rio de Janeiro: Garnier, s/d.2

______. Iaiá Garcia. Rio de Janeiro: Garnier, s/d.3

______. Memorial de Aires. Rio de Janeiro: Garnier, s/d.4

______. Memórias póstumas de Brás Cubas. 4. ed. Rio de Ja-


neiro: Garnier, s/d.5

______. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Garnier, [1923].

______. Várias histórias. Rio de Janeiro: Garnier, 1903.

AZEVEDO, Aluízio. O cortiço. 9. ed. Rio de Janeiro: Brigui-


et, 1943.

BARBOSA, Rui. Cartas de Inglaterra. Volume XXIII, 1896,


tomo I das “Obras Completas de Rui Barbosa”. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1946.

______. Elogios acadêmicos e orações de paraninfo. Rio de


Janeiro: Revista de Língua Portuguesa, 1924.

______. Ensaios literários. Seleção e prefácio de Américo Ja-


cobina Lacombe. Rio de Janeiro/São Paulo: Gráf. Ed. Brasilei-
ra, 1949.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 115


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

______. Oração aos moços. São Paulo: O Livro, 1921.

______. Palavras à juventude. Discurso de paraninfo dos ba-


charéis em Letras do Calégio Anchieta, em 1903. Rio de Ja-
neiro: Organização Simões, 1950.

______. Parecer sobre a redação do Código Civil, volume


XXIX, 1902, tomo I das “Obras Completas de Rui Barbosa”.
Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1949.

______. Queda do Império. Volume XVI, 1889, tomo I das


“Obras Completas de Rui Barbosa”. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1947.

______. Réplica. Volume XXIX, 1902, tomos II e III das “O-


bras Completas de Rui Barbosa”. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1953.

______. Visita à terra natal e discursos parlamentares. Volu-


me XX, 1893, tomo I das “Obras Completas de Rui Barbosa”.
Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948.

BARRETO, Mário. Através do dicionário e da gramática. Rio


de Janeiro: Livraria Quaresma, 1927.

116 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

______. Fatos da língua portuguesa. 1º milheiro. Rio de Ja-


neiro: Francisco Alves, 1916.

______. Novíssimos estudos da língua portuguesa. Rio de Ja-


neiro: Francisco Alves, 1911.

BELLO, Andrés; CUERVO, Rufino J. Gramática de la lengua


castellana. Com observações de Niceto Alcalá-Zamora y Tor-
res. Buenos Aires, [1945].

BERNARDES, Padre Manuel. Obras completas do Padre


Manuel Bernardes, volume I, Nova Floresta, tomo I. Reprodu-
ção fac-similada da edição de 1706. São Paulo: Anchietana,
1945.

______. Obras completas do Padre Manuel Bernardes, volu-


me II, Floresta, II: Reprodução fac-similada da edição de
1708. São Paulo: Anchietana, 1946.

BILAC, Olavo. Poesias. 16. ed. Rio de Janeiro: Francisco Al-


ves, 1935.

BLOCH, Oscar; WARTBURG, W. von. Dictionnaire étymo-


logique de la langue française. Préface d’A. Meillet. Paris:
Presses Universitaires de France, 1950.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 117


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

BOURCIEZ: Édouard. Éléments de linguistique romane. 4. éd.


Paris, 1946.

CÂMARA, João da. Os velhos. Comédia em três atos. Lisboa:


M. Gomes, MDCCCXCIII.

CAMÕES, Luís Vás de. Lírica de Camões. Edição crítica pelo


Dr. José Maria Rodrigues e Afonso Lopes Vieira. Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 1932.

______. Os lusíadas. Edição comentada por Epifânio Dias.


Porto, 1916-1918.

______. Os lusíadas. Lisboa, 1572.

______. Os lusíadas. Reprodução fac-similada da 1ª edição (o


pelicano da portada tem o bico voltado para a esquerda do lei-
tor), com prefácio e notas de Cláudio Basto. Lisboa: Revista
de Portugal, 1943.

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Edição que


reproduz a de 1887, última revista e corrigida pelo Autor. Com
proêmio e nótulas de linguagem do Professor Pedro A. Pinto,
Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.

118 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

______. Eusébio Macário Sentimentalismo e História I. Lis-


boa: Lello Editores, 1987 (Fac-símile da edição de 1789).

______. O carrasco de Vítor Hugo José Alves. Porto, 1872.

______. O regicida. Lisboa, 1874.

______. Serões de S. Miguel de Cleide. Porto, 1885.

CASTILHO, Antônio Feliciano de. As geórgicas de Virgílio,


Paris, 1867.

______. O outono. Lisboa: Imprensa Nacional, 1863.

CORREIA, Raimundo. Poesias. Edição portuguesa. Prólogo


de D. João da Câmara. Lisboa, 1910.

CORTESÃO, A. A. Nova gramática portuguesa. 7. ed. Coim-


bra, 1907.

COSTA, Cláudio Manuel da. Obras de Cláudio Manuel da


Costa. Coimbra, 1768.

CUERVO, R. J. Diccionario de construcción y régimen de la


lengua castellana, tomo I, a-b. Paris, 1886.

CUNHA: Celso Ferreira da. Cancioneiro de Joan Zorro. Rio

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 119


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

de Janeiro, 1949.

DIAS, Augusto Epifânio da Silva. Sintaxe histórica portugue-


sa. 2. ed. Lisboa, 1933.

DIAS, Gonçalves. I-Juca-Pirama. In: Antologia dos Poetas


Brasileiros da Fase Romântica por Manuel Bandeira. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1937.

DURÃO, José de Santa Rita. Caramuru. Lisboa, na Régia O-


ficina Tipográfica, ano M. DCC. LXXXI.

ELÍSIO, Filinto. Poesias. Seleção, prefácio e notas de José Pe-


reira Tavares. Lisboa: Sá da Costa, 1941.

ERNOUT, A.; MEILLET, A. Dictionnaire étymologique de la


langue latine. Paris, 1932.

ERNOUT, Alfred; THOMAS, François. Syntaxe latine. Paris,


1951.

FALCÃO, Cristóvão. Crisfal. In: SILVEIRA, A. F. Sousa da.


Textos quinhentistas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional/Fa-
culdade Nacional de Filosofia, 1945.

120 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

FERREIRA, Antônio. Castro. In: SILVEIRA, A. F. Sousa da.


Textos quinhentistas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional/Fa-
culdade Nacional de Filosofia, 1945.

FERREIRA, Antônio. Poemas lusitanos. Prefácio e notas de


Marques Braga. Lisboa: Sá da Costa, 1939-1940.

GAFFIOT, E. Dictionnaire illustré latin-français. Paris, [1934].

GAMA, José Basílio da. O Uraguai. Reprodução fac-similada


da edição de 1769. Publicação comemorativa do segundo cen-
tenário do Poeta, com anotações por Afrânio Peixoto, Rodolfo
Garcia e Osvaldo Braga. Rio de Janeiro: Academia Brasileira
de Letras, 1941.

GARRETT, J. B. de Almeida. Camões. 3. ed. Lisboa: Impren-


sa Nacional, 1844.

______. Frei Luís de Sousa. Edição crítica baseada nos ma-


nuscritos, por Rodrigues Lapa. Lisboa: Seara Nova, 1943.

______. Teatro IV. Lisboa: Imprensa Nacional, 1846.

GILI Y GAYA, Samuel. Curso superior de sintaxis española,


2. ed. Barcelona, 1948.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 121


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

GÓMEZ, D. Fernando Araújo. Gramática del poema del Cid.


Madri, 1897.

GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas de Tomás An-


tônio Gonzaga. Edição crítica de Rodrigues Lapa. Rio de Ja-
neiro: Cia. Ed. Nacional, 1942.

GRANDGENT, C. H. Introducción al latín vulgar. Tradução


espanhola de Francisco de B. Moll. Madri, 1928.

GUILLERMOU, Alain. Manuel de langue roumaine. Paris,


1953.

HANSSEN, Frederico. Gramática histórica de la lengua cas-


tellana. Buenos Aires, 1945.

HERCULANO, Alexandre. Cartas. Lisboa: Aillaud, Alves,


Bastos & Cia. s/d.1, 2 t.

______. Eurico, o presbítero. 24. ed. definitiva, conforme com


as edições da vida do Autor, dirigida por Davi Lopes. Paris-
Lisboa: Aillaud e Bertrand, s/d.2.

______. Lendas e narrativas, 4. ed. Lisboa, 1877.

122 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

______. O bobo. 18. ed. definitiva, conforme com as edições


da vida do Autor, dirigida por Davi Lopes. Lisboa: Bertrand;
Rio de Janeiro: Francisco Alves, s/d. 3.

______. O monge de Cister. Edição definitiva, conforme com


as edições da vida do Autor, dirigida por Davi Lopes. Lisboa,
s/d.4.

______. Opúsculos.Tomo I: Questões públicas. Lisboa: Em


casa da Viúva Bertrand & C.ª, 1873.

______. Poesias. 4. ed. Lisboa, 1878.

JESUS, Fr. Tomé de. Trabalhos de Jesus. Lisboa: Fernandes


Lopes, 1865.

JUCÁ (filho), Cândido. O fator psicológico na evolução sintá-


tica. 2. ed. Rio de Janeiro, 1953.

JUNQUEIRO, Guerra. A velhice do Padre Eterno. Edição ilus-


trada por Leal da Câmara. Porto: Lelo & Irmão, 1946.

JURET, A. C. Système de la syntaxe latine. Strasbourg, 1926.

KENISTON, Hayard. The syntax of castilian prose (The sixte-


enth Century). Chicago, [1937].

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 123


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

KRISCHEKE, Rev. George Upton. Do reto uso de preposi-


ções em língua portuguesa. Lisboa, 1858, 2 t.

LENZ, Rodolfo. La oración y sus partes. 3. ed. Madri, 1935.

LEÔNI, Francisco Evaristo. Gênio da língua portuguesa. Lis-


boa, 1858, 2 t.

LITTRÉ, E. Dictionnaire de la langue française. Paris, 1863.

LOBATO, Monteiro. Contos leves. São Paulo: Cia. Ed. Nacio-


nal, 1935.

______. Urupês. Edição comemorativa do 25º aniversário da


estreia do escritor, organizada e prefaciada por Artur Neves.
São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1943.

LOBO, Francisco Rodrigues. Corte na aldeia. Com prefácio e


notas de Afonso Lopes Vieira. Lisboa: Sá da Costa, 1941.

______. Églogas. Conforme a edição “princeps” (1605). In-


trodução e notas de José Pereira Tavares. Coimbra: Imprensa
da Universidade, 1928.

124 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

______. O pastor peregrino & desenganado. Lisboa Ociden-


tal, na Oficina de Matias Pereira da Silva & João Antunes Pe-
droso, M. DCC. XXI.

______. Poesias. Seleção, prefácio e notas de Afonso Lopes


Vieira. Lisboa: Sá da Costa, 1940.

LOPES NETO, J. Simões. Contos gauchescos e lendas do Sul.


Edição crítica de Aurélio Buarque de Holanda. Porto Alegre:
Globo, volume I da “Coleção Província”. [1950].

MADVIG, J. N. Gramática latina. Transladada do alemão pa-


ra o português por Augusto Epifânio da Silva Dias. Porto,
1872.

MAGALHÃES, D. J. G. de. Obras completas, v. II – Suspiros


Poéticos e Saudades. Edição anotada por Sousa da Silveira,
com prefácio literário por Sérgio Buarque de Holanda. Minis-
tério da Educação, 1939.

MAGNE, Augusto. Dicionário da língua portuguesa, especi-


almente dos períodos medieval e clássico, tomo I, A-AF. Rio
de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1950.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 125


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

______. Dicionário etimológico da língua latina, v. I, A-AP.


Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1952.

MEIER, Harri. Ensaios de filologia românica. Lisboa: Revista


de Portugal, 1948.

MELO, D. Francisco Manuel de. Cartas familiares. Seleção


(da 1ª edição – 1664) com prefácio e notas de M. Rodrigues
Lapa. Lisboa: Sá da Costa, 1937.

______. Relógios falantes. Com prefácio e notas da Rodrigues


Lapa. Coleção “Textos Literários”, Lisboa, 1943.

MEYER-LÜBKE: W. Grammaire des langues romanes: tome


troisième, Syntaxe. Traduction française par Auguste Doutre-
pont et Georges Doutrepont. New York-Leipzig-London-Paris:
G. E. Stechert & Co., 1923.

MONTEIRO, Clóvis. Português da Europa e português da


América. Rio, [1931].

MOREIRA, Júlio. Estudo da língua portuguesa. 1ª série. Lis-


boa, 1907.

126 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

NASCENTES, Antenor. O problema da regência: regência in-


tegral e viva. Rio de Janeiro / São Paulo: Freitas Bastos, 1944.

NOBRE, Antônio. Só. 2. ed. Lisboa: Tipografia de Guillard,


Aillaud & Cia., 1898.

OLIVEIRA, Alberto de. Poesias. Primeira série: Canções Ro-


mânticas, Meridionais, Sonetos e Poemas, Versos e Rimas, Por a-
mor de uma lágrima (1877-1895). Segunda série: Livro de Ema,
Alma Livre, Terra Natal, Alma em Flor, Flores da Serra, Ver-
sos de Saudade (1892-1903). Paris-Rio de Janeiro: Garnier,
1912.

PINTO, Frei Heitor. Imagem da vida cristã. Prefácio e notas


pelo Pe. M. Alves Correia. Lisboa: Sá da Costa, 1940, 4 v.

POMPEIA, Raul. O Ateneu. 5. ed. definitiva (conforme os ori-


ginais e os desenhos deixados pelo autor). Rio de Janeiro:
Francisco Alves, s/d.

QUEIRÓS, Eça de. A correspondência de Fradique Mendes.


Porto: Chardron, 1900.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 127


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

QUENTAL, Antero de. Obras de Antero de Quental. Edição


organizada, prefaciada e anotada por Antônio Sérgio, v. I, So-
netos. Lisboa, 1943.

RAIMUNDO, Jacques. O problema de linguagem portuguesa.


Rio de Janeiro, 1926.

REAL ACADEMIA Española. Gramática de la lengua


española. Nueva edición, reformada. Madri, 1931.

RIBEIRO, Tomás. D. Jaime ou A dominação de Castela. Com


uma conversação preambular por A. F. de Castilho. Lisboa,
1943.

SAID ALI, M. Dificuldades da língua portuguesa. 3. ed. Rio


de Janeiro: Francisco Alves, 1930.

______. Gramática histórica da língua portuguesa. 2. ed. me-


lhorada e aumentada de Lexeologia e Formação de Palavras e
Sintaxe do Português Histórico (1º prêmio Francisco Alves de
1921 e de 1927). São Paulo: Melhoramentos, 1931.

______. Revista de Língua Portuguesa, nº11, ano II, maio,


1921.

128 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA


Aspectos do uso da preposição a na língua literária moderna

SILVA, Luís Augusto Rebelo da. História de Portugal nos sé-


culos XVII e XVIII. Lisboa: Imprensa Nacional, 1860-1871, 5 v.

SILVEIRA, A. F. Sousa da. Lições de português. 3. ed. melh.


Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.

______. Revista de Cultura, nº 199, ano XVII, julho, 1943.

______. Sintaxe da preposição DE. Rio de Janeiro, 1951.

______. Textos quinhentistas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacio-


nal/Faculdade Nacional de Filosofia, 1945.

SOUSA, Frei Luís de. Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Már-
tires. Com prefácio e notas do prof. Augusto Reis Machado.
Lisboa: Sá da Costa, 1946. 3 v.

SOUSA LIMA, Mário Pereira de. Gramática portuguesa. Rio


de Janeiro: José Olympio, 1945.

TOVAR, Antônio. Gramática histórica latina: Sintaxis. Madri,


1946.

VASCONCELOS, Carolina Michaëllis de. Cancioneiro da A-


juda. Halle, 1904. 2 v.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 129


UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA

VICENTE, Gil. Auto da Alma. In: SILVEIRA, A. F. Sousa da.


Textos quinhentistas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacio-
nal/Faculdade Nacional de Filosofia, 1945.

______. Dois autos de Gil Vicente (o da Mofina Mendes e o


da Alma), explicados por Sousa da Silveira. Rio de Janeiro:
Centro de Estudos de Língua Portuguesa, 1953.

______. Obras completas. Reimpressão fac-similada da edição


de 1562. Lisboa, 1928.

VIEIRA, Padre Antônio. Sermões de padre Antônio Vieira.


Reprodução fac-similada da edição de 1682. São Paulo: An-
chieta, [s/d.]. V. II.

______. Sermões de padre Antônio Vieira. Reprodução fac-


similada da edição de 1683. São Paulo: Anchieta, [s/d.]. V. III.

VOLPI, Guglielmo. Vocabolario della lingua italiana. Firen-


za, [1945].

130 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

Você também pode gostar