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INTRODUÇÃO

O descobrimento do Brasil não despertou, pelo menos de imediato, grande entusiasmo


na metrópole portuguesa. As condições naturais adversas e a aparente inexistência de
gêneros comerciáveis desestimulavam qualquer interesse pela nova terra. 
De fato, o povoamento dos territórios americanos não entrava nos planos do
conquistador europeu. No início do século XVI, o termo colonização significava
somente a instalação de feitorias nas regiões do ultramar, encarregadas do comércio
com as populações nativas. Assim o interesse econômico da metrópole portuguesa
estava voltada para o comercio de especiarias nas Índias, e para a exploração da costa
africana ( ilhas de Açores, Cabo Verde e Madeira). No entanto, Portugal enviava ao
Brasil, expedições de Reconhecimento, que tinham como principal objetivo buscar
riquezas no território brasileiro. Umas das riquezas encontradas no litoral, na Mata
Atlântica, foi o pau-brasil, que era utilizado principalmente para pintar tecidos, pois dele
era extraída a cor vermelha.
A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA NA AMÉRICA
Para explorar a colônia americana, Portugal teve de montar aos poucos uma poderosa
estrutura administrativa. Em terras distantes e hostis, era difícil para qualquer colono se
fixar. Durante as primeiras décadas, foram inúmeros os núcleos coloniais destruídos
pelos indígenas. Muitos outros não vingaram pelo fato de o colonizador não conhecer a
terra: a maioria dos que se arriscavam pela América não sabia sequer onde procurar
comida, num mundo tropical muito diferente da Europa. No início, o governo português
acreditou que bastava incentivar nobres e aventureiros que fizeram parte das Grandes
Navegações a se fixarem na América, dando-lhes terras e poderes. Com o tempo,
entretanto, o governo percebeu que era necessário mais do que isso: era preciso manter
uma estrutura administrativa capaz de dar apoio aos colonos e também de retirar por
meio de impostos e monopólios as riquezas aqui produzidas. Com essas primeiras
iniciativas, a colônia portuguesa na América começou a assumir o seu formato

AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS (1534)


Nos primeiros trinta anos, Portugal pouco se interessou pelas terras americanas.
Limitou-se a manter o monopólio sobre o pau-brasil e enviou expedições para proteger
o território da ação de piratas, sobretudo franceses, que se interessavam também pelo
pau-brasil. A partir da década de 1530, essa situação se alterou. Interessado em
encontrar novas fontes de riquezas, Portugal resolveu ocupar as terras americanas com
lavouras de cana. Mas, para isso, era necessário transferir para a colônia uma grande
estrutura, inclusive administrativa. Entretanto, Portugal não tinha recursos nem o
dinheiro necessário para essa tarefa. O rei resolveu dividir então o território colonial em
quinze grandes faixas de terra, tendo cada uma de 100 a 650 quilômetros de largura.
Essas áreas, chamadas capitanias hereditárias, foram entregues a doze pessoas, que
deveriam tomar conta delas e fazê-las prosperar. Esse sistema já havia sido adotado em
ilhas do Atlântico, controladas por Portugal, como Madeira e Cabo Verde. Dessas ilhas
vinha também a experiência portuguesa com a lavoura de cana-de-açúcar. Quem recebia
a capitania era chamado de capitãodonatário; em caso de morte, a posse da capitania
passava para seu filho mais velho, como herança.
A vida dos portugueses que receberam as capitanias hereditárias não era nada fácil: sem
dinheiro, sem soldados, sem colonos em número suficiente, atacados por piratas
estrangeiros e por indígenas. Com tudo isso, a experiência das capitanias hereditárias
acabou fracassando. Um dos capitães-donatários foi morto pelos indígenas, outro
naufragou, outros simplesmente desistiram. Apesar de tudo, entre as quinze capitanias,
duas progrediram: Pernambuco e São Vicente. Nelas, seus donatários encontraram
condições mais favoráveis. São Vicente tornou-se ponto de penetração para o interior e
lá foram fundados núcleos que viriam a se tornar cidades importantes, como Santos e
São Paulo. Em Pernambuco, os donatários desenvolveram o cultivo da cana-de-açúcar
fazendo com que a capitania prosperasse até se tornar o principal centro econômico da
colônia
Quando a colônia foi dividida em capitanias hereditárias, suas terras eram quase
totalmente desconhecidas. Organizadas pelos portugueses, havia apenas algumas
feitorias e três povoados (São Vicente e Santos, no litoral, e Santo André da Borda do
Campo, no interior, todos no atual estado de São Paulo). Nesse cenário, não era fácil
encontrar pessoas dispostas a colonizar a América. O rei oferecia vantagens: o capitão-
donatário podia distribuir porções de terra (sesmarias), nomear autoridades, recolher
impostos, escravizar e comercializar indígenas, fundar vilas, controlar a navegação
pelos rios. O capitão tinha autoridade absoluta em sua capitania, prestava contas apenas
ao rei de Portugal. A tarefa do colonizador era arriscada. Muitos povos indígenas hostis
lutavam para defender suas terras. As enormes distâncias tornavam necessário grandes
somas de dinheiro para montar as lavouras e organizar a produção de açúcar. Diante
dessas dificuldades, alguns capitães-donatários nem vieram à América para tomar posse
de suas capitanias. Dos que vieram, quase todos fracassaram: perderam tudo o que
tinham — dinheiro, bens, família, escravos e nada conseguiram. Alguns perderam a
própria vida. Só dois capitães foram bem-sucedidos: o de São Vicente e o de
Pernambuco. Com a ajuda do rei de Portugal, eles conseguiram dinheiro emprestado dos
banqueiros. Além disso, São Vicente já contava com habitantes e recursos que não
existiam nas outras capitanias, e Pernambuco ficava mais próxima da Europa, o que
facilitava as comunicações e o comércio

O GOVERNO-GERAL (1548)
Como o sistema de capitanias não deu certo, foi preciso adotar um tipo de governo que
garantisse a ação dos colonizadores sobre as diversas regiões da colônia e facilitasse o
controle do rei de Portugal. Em 1548, o rei de Portugal nomeou então um governador-
geral para toda a colônia. O governador tinha ordens para defender a colônia contra o
ataque de inimigos, principalmente indígenas e franceses, e administrar as atividades
coloniais

A INSTALAÇÃO DO GOVERNO
O governo-geral foi instalado pelo rei de Portugal na capitania da Bahia de Todos os
Santos. Para isso, essa capitania foi comprada dos herdeiros do capitãodonatário, que
havia morrido. O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa (15491553). Ele trouxe
consigo padres jesuítas, comandados por Manuel da Nóbrega. Os jesuítas deveriam
construir escolas e ensinar a religião católica aos indígenas. Em terras americanas, Tomé
de Sousa fundou Salvador, o primeiro centro administrativo colonial, onde instalou seu
governo. Na mesma cidade, em 1552, foi estabelecido o primeiro bispado, ocupado por
D. Pero Fernandes Sardinha
Os outros governadores-gerais foram Duarte da Costa (1553-1558) e Mem de Sá (1558-
1572). Após a morte de Mem de Sá, o rei de Portugal decidiu dividir a colônia em dois
governos: um com sede em Salvador e o outro com sede no Rio de Janeiro. Com essa
medida, achava-se que seria mais fácil controlar o imenso território colonial. No
entanto, a divisão não surtiu os efeitos desejados e, em 1578, voltou-se ao sistema de
um só governo para a colônia inteira

OS FRANCESES NA AMÉRICA
Os franceses queriam também terras na América. Entre 1500 e 1530, levaram muito
pau-brasil. Em 1555, invadiram o Rio de Janeiro e fundaram uma colônia francesa — a
França Antártica — e só foram embora doze anos depois, em 1567, após muita luta
contra os portugueses
Expulsos do Rio de Janeiro, os franceses se apoderaram de vários pontos do litoral do
Nordeste e do Norte. Eles procuravam manter boas relações com a população indígena,
o que facilitava o seu comércio de madeiras, peles e outras especiarias americanas. Os
portugueses levaram mais de trinta anos para expulsar os franceses. Começaram
expulsando-os da Paraíba, em 1584. Depois derrotaram-nos em Sergipe, Rio Grande do
Norte, Ceará, Maranhão e Pará. Com a sua expulsão do Pará, em 1616, os franceses
desistiram da colônia portuguesa e foram estabelecer-se mais ao norte, na região que
hoje é conhecida como Guiana Francesa
No Norte e no Nordeste, o lugar onde os franceses ofereceram maior resistência foi no
Maranhão. Lá fundaram o forte de São Luís, a partir da qual pretendiam desenvolver
uma colônia chamada França Equinocial. Chegaram ao Maranhão em 1612 e só foram
expulsos três anos depois, em 1615

O PODER LOCAL DAS VILAS


Com o crescimento da colônia e o desenvolvimento de vilas e cidades, a administração
colonial tornou-se mais complexa. Era preciso estabelecer formas mais intensas de
controle e governo. Surgiram assim as câmaras municipais
As câmaras municipais, formadas por três ou quatro vereadores, foram instaladas nas
sedes das vilas. Os vereadores eram escolhidos entre os chamados homens bons do
lugar. De maneira geral, os homens bons estavam entre os grandes proprietários de
terras. Os degredados, os judeus, os estrangeiros e os escravizados, entre muitos outros,
por não serem considerados homens bons, não podiam ser vereadores. O juiz ordinário,
também escolhido pelos homens bons do lugar, dirigia a câmara municipal
O governador-geral deveria visitar as capitanias, procurando exercer um controle sobre
toda a colônia; nem sempre, porém, os donatários e as câmaras municipais se
submetiam à autoridade do governadorgeral. Quando havia choque de interesses, o rei
de Portugal intervinha de forma direta e muitas vezes repressiva

COMÉRCIO EXTERIOR, MONOPÓLIO PORTUGUÊS


Durante todo o período colonial, os produtos manufaturados vinham da Europa. Na
relação econômica entre colônia e metrópole, a colônia devia produzir gêneros tropicais
(açúcar, tabaco, algodão) e extrair metais preciosos a preços baixos e era obrigada a
comprar da metrópole escravos e objetos manufaturados (ferramentas, roupas, e até
alimentos) a preços elevados. Assim, a colônia só podia comercializar com a metrópole.
Portanto, Portugal detinha o monopólio do comércio com sua colônia americana
Da Europa os senhores de engenho compravam tecidos de vários tipos, linha, agulha,
papel e tinta para escrever, anzóis e linhas para pesca; pratos e jarros de estanho para
uso dos escravos; enxadas e foices para os trabalhos da lavoura; pregos, tijolos, cobre
para os tachos e ferro para os tambores das moendas; tábuas para as caixas de açúcar;
cestos para o transporte do bagaço; estopa, cordas e amarras para os barcos; copos de
vidro, louça; barris de azeite e de vinho; vinagre, sardinha, bacalhau, carne salgada de
vaca, de porco, de baleia; toucinho, presunto, queijo, pão, biscoito, sacos para a farinha
de mandioca; azeitonas e manteiga; pimenta e sal; óleos, coentro, salsa; marmelada;
ovos, galinha, frutas secas; etc
A estrutura administrativa montada por Portugal serviu, em grande parte, para manter
essa relação entre colônia e metrópole, chamada de pacto colonial

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