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Felisbela Lopes
Os portugueses não têm uma boa expressão oral. Porque a escola não
desenvolve uma preparação adequada a esse nível. Porque os próprios
professores também apresentam aí sérias limitações. Eis um labirinto donde
parece impossível sair. Há formas de neutralizar esta enorme limitação.
Falemos então destas gerações mais novas que falam cada vez pior, porque
estão a perder hábitos de leitura e, consequentemente, diversidade de
vocabulário e estruturas sintáticas que sustentem construções frásicas bem
articuladas. Falemos também dos nossos jovens que ensaiam a entrada no
mercado laboral e que, à primeira entrevista, ficam excluídos de
oportunidades por não conseguirem explicar as habilitações para aquele
lugar ou as motivações que os levaram até ali. Falemos igualmente de nós
que, surpreendidos com uma entrevista de rua, mal conseguimos articular
duas ou três frases com uma opinião que se revele capaz de construir
argumentos válidos acerca daquilo que nos é perguntado. Ou, então, façamos
algum silêncio para escutar as conversas banais que se soltam pelo espaço
público. Resultado? Ficamos envergonhados com aquilo que ouvimos.
Quem fala bem tende a pensar bem. Quem fala bem tem uma enorme
vantagem num mercado laboral cada vez mais competitivo. Quem fala bem
consegue fazer valer os seus pontos de vista com mais facilidade. Quem fala
bem pode, na verdade, viver melhor, porque é mais capaz de neutralizar as
entropias que vão surgindo na vida de todos os dias. Ora, se todos nós
admitimos as vantagens de uma boa expressão oral, por que razão não
conseguimos fazer disto uma aposta do nosso ensino?
'1. O Homem está programado para falar, mas a activação desse potencial, inscrito no seu código
genético, não se manifesta numa situação de isolamento, antes se desenvolve espontaneamente numa
comunidade de falantes. A aptidão para a linguagem é um traço genético, mas a língua (materna) só se
adquire quando o indivíduo está inserido numa comunidade. Veja-se o caso das crianças selvagens (que
cresceram sem contacto humano): todas apresentam um atrofiamento da aptidão da linguagem.
2. O exercício linguístico é, por definição, interaccional: muito mais do que veicular informação, a fala
serve para exercer poder ou influência sobre os outros e é um meio de afirmação social.
3. A língua é uma marca forte de identidade de um povo, como prova o recente episódio ocorrido no
parlamento turco.
4. Para aprender uma segunda língua, não basta conhecer as regras de concordância, aplicar os tempos
verbais correctos ou reter o vocabulário. Ao fazer-se isso, está-se a aprender a gramática dessa língua.
Para verdadeiramente aprender uma língua estrangeira há que interagir com falantes nativos:
perguntar, responder, argumentar, ironizar, julgar, parabenizar, prometer, saudar, fazer declarações de
amor, enfim, entrar para aquela comunidade linguística.
É por estas quatro razões, pelo menos, que dizemos que a língua é um fenómeno social.'