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DIREITO DA ENERGIA
n.º 5 . 2016
C OO R D EN AÇÃ O E DI TO R I A L
Dae D e | D e par ta m e n to de A lto s E s tu do s e m D i r ei t o d a E ner g i a
Fac uldade de Di re ito
Unive r sidade de C o im bra
C OO R D EN AÇÃ O C I E NT Í F I CA
Su zana Tavares da Silva
C ON CEPÇÃO G R Á F I CA | I NF O G R A F I A
Ana Paula Sil va
C ON TACTO S
d ae de @fd.uc.pt
ww w.fd.uc.pt/daede
Pátio da Unive r sidade | 3 0 0 4 - 5 2 8 C o im bra
ISBN
978 - 9 8 9 - 8 7 8 7 - 56- 9
© MARÇO 2016
Resumo: O processo de transição energética Abstract: The German energy transition pro-
alemão, o Energiewende, visa transformar o cess, the Energiewende, aims at transforming
país em uma nação hipocarbônica, com as the country into a low carbon nation, with
renováveis a configurar a matriz energética. the renewables setting up the energy matrix.
A Alemanha é um exemplo de sucesso, en- Germany is an example of success, intersper-
tremeado por percalços, mas que ainda não sed by mishaps, though still not a comple-
resultou em total sucesso frente às suas ainda te success due to still growing greenhouse
crescentes emissões de GEE. A insurgência gas emissions. The insurgency of a legal fra-
de normativas de efeito e alcance interseto- mework effective and intersectoral becomes
riais torna-se um exemplo a ser seguido, ao an example to be followed, though caution is
mesmo tempo em que cautela é indispensá- essential. The Energiewende is a mix of avant-
vel. O Energiewende é um misto de vanguar- -garde rules, political convergence, popular
da legislativa, convergência política, apoio support and economic and environmental
popular e pressões econômicas e ambientais ongoing external pressures. More than es-
externas dirigentes. Mais que material de es- sential study material, the reflections on the
tudo indispensável, as reflexões sobre o Ener- Energiewende clarify a direction of no return
giewende elucidam um direcionamento sem that all nations must overcome, even with
volta a que todas as nações devem transpor, bumps and intermittently. In addition to the
ainda que com sobressaltos e de maneira in- historical-normative context, the present stu-
termitente. Para além da contextualização dy seeks to expose the key role of Germany
histórico-normativa, o presente estudo bus- as an energy transition model, whether in a
ca expor o papel fulcral da Alemanha como domestic point of view, whether regarding to
modelo de transição energética, seja em its regional and global effects.
seu caráter doméstico, seja em seus efeitos
regionais e globais. Keywords: energy; Germany; Energiewende;
legislation; energy transition; normative evo-
Palavras-chaves: energia, Alemanha, Ener- lution; model; greenhouse gases; renewable
giewende, legislação, transição energética, energy.
evolução normativa, modelo, gases de efei-
to estufa, energias renováveis.
3
DAEDE | DEPARTAMENTO DE ALTOS ESTUDOS EM DIREITO DA ENERGIA
na competitividade das grandes empresas na- Não obstante as muitas críticas sobre o quão
cionais com atuação internacionalmente, pre- financeiramente custosa é a implementação
tendidos perante os tribunais superiores euro- maciça de energias renováveis numa matriz
peu e internacional, sob argumentos de incum- em grande parte fóssil (RES correspondem a
primento dos deveres de lealdade, justa con- aproximadamente 30%), principalmente mani-
corrência e ajuda estatal na forma de isenções festadas pelas críticas ao modelo de tarifação
ou descontos no pagamento da sobretaxa das feed-in6, por muitos, considerado subsídios in-
renováveis, cujos valores são em grande parte sustentáveis do governo, o que por si só gera
suportados pelos consumidores domésticos e duvidas quanto ao respeito às normativas eu-
pequenas e medias empresas, (c) da elevação ropeias, o Energiewende, corresponde atual-
dos custos da eletricidade no mercado ataca- mente a um mercado que vale 40bi euros/ano,
dista e no varejo, e do (d) suporte financeiro emprega 400.000 pessoas, os quais são tam-
diretamente advindo dos cofres públicos, estes bém contribuintes para o governo, e que injeta
também objeto de demanda perante o Tribu- bilhões de euros no Tesouro Nacional e no siste-
nal Europeu sob o argumento de que as tarifas ma de assistência Social. (ABOLHOSSEINI / HESHMATI,
de remuneração, ou “feed-in tariffs”, e as “tari- 2014; BLAZEJCZAK, et al., 2014).
fas premium” constituem, em verdade, ajudas
Também do ponto de vista tecnológico há
estatais desproporcionais5.
grandes desafios a serem superados, mormente
a (a) consecução da estabilidade de carga na
JACOBSSON (2015), “argues that deployment of renewables
rede elétrica, dado que as energias solar e do
creates an “existential threat” to the large utilities,stating that
the country’s biggest utility, E.ON, has seen its share price fall vento são intermitentes e com diferentes inten-
by three-quarters and its income from conventional power sidades ao longo do dia e do ano, contrariando
generation fall by more than a third since 2010. At the second
largest utility, RWE, net income has also fallen a third since a constância necessária à integração à rede,
2010. As the company’s chief financial officer laments, “con- e (b) a estocagem de energia, diretamente re-
ventional power generation, quite frankly, as a business unit
lacionada com a capacidade de manter um
is fighting for its economic survival”. Sobre contra argumen-
tações a essas alegações, aqueles interessados no maior fornecimento confiável de energia por longos
desenvolvimento das renováveis atestam que ao contabi- períodos e em horas de pico de demanda e,
lizarem os custos do Energiewende, o setor industrial fóssil e
nuclear não contabiliza os custos com as externalidades do por vezes, de baixa oferta (GRAICHEN et al., 2015;
uso dessas energias, nem os ganhos intergeracionais relati- GRAICHEN / PESCIA, 2015).
vos a suas evitações, além do fator de equidade inerente
ao direito a um ambiente saudável e sustentável, conforme
“...(i) misrepresents the impact of the EEG sur-charge on con-
sumer costs, (ii) exaggerates the “burden” by shifting focus
from total cost to consumer cost and (iii) ignores inter-gene-
3. Perspectivas
rational equity problems” (LAUBER / JACOBSSON, 2015).
5
Sobres estes pleitos junto ao Tribunal da União Europeia já Com fontes de energia intermitente a torna-
houve decisões aferindo a não inconformidade alemã em rem-se a matriz energética básica da Alema-
relação aos regramentos de ajuda estatal, ou “stat“ aid”,
nha muito tem que mudar, para além da ge-
uma vez que as tarifas de remuneração foram considera-
das advindas da receita auferida da recolha das sobretaxas ração de energia de reserva, quer seja essa
das renováveis. Acerca do desrespeito à concorrência justa. para abastecer efetivamente um mercado de
Ademais, a própria Comissão Europeia contra argumentou
a pertinência das politicas alemãs sobre tarifas de remune- capital futuro, quer seja para fins puramente de
ração, conforme LAUBER / JACOBSSON (2015), “...European Com- planejamento de capacidade7. Para tanto, a
mission attacks on feed-in tariffs have a long history: 1998
(failed), 2001 (failed), 2007 (failed), 2013 (Oet-tinger before
6
Embora essas críticas sejam respaldadas por argumentos
Council, 2013; failed), 2013 (Commission proposal for frame- de infringir regras europeias sobre concorrência, questiona-
work for renewables support) and 2014 (Commission guide- -se até que ponto esses argumentos puramente da lógica
lines on state aid for environmental purposes and energy) in mercadológica, amplamente utilizados pela Comissão
which it banned feed-in tariffs for most situations.” (State aid: Europeia, não são na verdade subterfúgios utilizados para
Commission opens in-depth inquiry into support for energy- forçar os Estados membros a convergir com suas politicas e
-intensive companies benefitting from a reduced renewa- instrumentos ligados aos setores de energia para uma politi-
bles surcharge, European Commission Press Release, de dez. ca comum de um mercado único da energia, regrado dos
2013) Entretanto, após emendas ao EEG, em 2014, a Comis- normativas supranacionais (TEWS, 2015).
são atesta sua concordância com as alterações ao afirmar 7
Acerca deste ponto vale precaver-se dos argumentos refe-
que estas estão de acordo com os regulamentos europeus rentes aos riscos no provimento seguro de energia pela RES,
sobre ajuda estatal, conforme “State aid: Commission ap- sustentados pelos grandes empresas fosseis e nucleares, que
6 proves amendments to German renewable energy law EEG ao utilizarem-se da insegurança quanto à intermitência para
2014”, publicado em boletim de março de 2015 (European tentarem minar o crescimento das RES (TEWS, 2015). Ademais,
Commission, 2015). Disponível em:< http://europa.eu/rapid/ o debate alemão sobre a necessidade (e design) de um
press-release_MEX-15-5059_en.htm>. mercado de capacidade ainda não tem consenso dentre
W O R K I N G PA P E R S D E D I R E I TO DA E N E R G I A
retarem maior eficiência no uso da energia. princípio da livre concorrência e lealdade nas
atividades privadas e estatais, prevalentes em
Desta equação, de efeitos colaterais inespera-
normativas de cunho comercial, de patentes,
dos e suscetíveis a flutuações externas, sucedeu-
de relações público-privadas, de urbanismo,
-se a reforma mais recente na politica de transi-
dentre outras.
ção energética alemã (MONSTADT / SCHEINER, 2014).
Em breve citação, ei-los os diplomas:
32
Act on Energy Services and Further Energy Efficiency Mea- 38
Electricity Plants Grid Access Ordinance. Disponível em: <
sures. Disponível em: < http://www.gesetze-im-internet.de/ http://faolex.fao.org/docs/pdf/ger148058.pdf>.
bundesrecht/edl-g/gesamt.pdf>. 39
Basic Electricity Supply Ordinance. Disponível em: < http://
33
Energy Savings Ordinance. Disponível em: < http:// faolex.fao.org/docs/pdf/ger149277.pdf>.
www.bbsr-energieeinsparung.de/EnEVPortal/DE/EnEV/ 40
Ordinance on General Terms Regulating Universal Service
EnEV2013/Download/BMVBS_AenderEnEV2013.pdf?__ for Household Customers and Replacement Supply with Gas
blob=publicationFile&v=3>. from the Low-Pressure Network. Disponível em: < http://www.
34
Act Ensuring the Safety of the Energy Supply. Disponível gesetze-im-internet.de/bundesrecht/gasgvv/gesamt.pdf>.
em: <http://www.gesetze-im-internet.de/bundesrecht/en- 41
Ordinance Regulating Concession Fees for Electricity and
sig_1975/gesamt.pdf>. Gas. Disponível em: < http://www.gesetze-im-internet.de/
35
Low Voltage Connection Ordinance. Disponível em: bundesrecht/kav/gesamt.pdf>.
<http://faolex.fao.org/docs/pdf/ger152237.pdf>. 42
Energy Industry Fees Ordinance. Disponível em: <http://
36
Low Pressure Connection Ordinance. Disponível em: www.gesetze-im-internet.de/bundesrecht/enwgkostv/gesa- 11
<http://faolex.fao.org/docs/pdf/ger150449.pdf>. mt.pdf>.
37
Meter Points Access Ordinance. Disponível em: < http:// 43
Interruptible Loads Ordinance. Disponível em: <http://www.
faolex.fao.org/docs/pdf/ger149402.pdf>. gesetze-im-internet.de/bundesrecht/ablav/gesamt.pdf>.
DAEDE | DEPARTAMENTO DE ALTOS ESTUDOS EM DIREITO DA ENERGIA
entrou para o EURATOM56, com concomitan- pequeno”, de Ernst Friedrich Schumacher, leva-
te lançamento do primeiro programa nuclear ram as autoridades alemãs a reavaliar as op-
nacional e com o início do primeiro reator ex- ções e, em 1980, o comitê especial para “Futu-
perimental, na Universidade de Munique. A to- ras Politicas Nucleares” apresentou um relatório
dos, em especial aos produtores de carvão na- atestando ser também viável um crescimento
cional, que estavam a enfrentar uma crise de econômico não baseado em energia nuclear.
competitividade devida aos baixos preços do
Por volta da mesma época, o governo havia
carvão importado, a energia nuclear pareceu
estabelecido a Lei sobre Economia de Energia,
a grande promessa energética do país.
em 1976, seguida dos regulamentos sobre isola-
Em 1960, entra em vigor a lei sobre a utilização mento térmico e aquecedores, em 1977 e 1978.
pacífica da energia atômica e proteção con- O panorama social já estava a mudar, conside-
tra perigos (AtG)57, constituindo a largada para rando-se o grande apoio popular ao estímulo
a construção de inúmeras usinas nucleares em de novas tecnologias, e o cenário politico es-
território alemão. Reflexamente, aumentam em tava a principiar mudanças, com representa-
número e intensidade as reivindicações acerca ção, agora parlamentar, de membros, como
da proteção ambiental e da saúde, de modo o Partido Verde, com intenções diversas dos lo-
que, em 1974, é fundada a Agência Federal do bbies fósseis e nucleares, à época, em grande
Ambiente. A partir daí, as mútuas influências e parte inerentes ao Partido Democrático Cristão
pressões advindas da seara energética e am- (PDC), Partido Social Cristão, Partido Social De-
biental tornaram-se cada vez mais adstritas e mocrata e Partido Liberal. Entretanto, após o
proeminentes, enquanto os lobbies de ambos acidente na usina de Chernobyl (1986), e pra-
os setores em muito contribuíram para alavan- ticamente concomitante a publicação de um
car seus interesses. estudo intitulado Energiewende, o painel poli-
tico efetivamente se alterou, com o governo,
Embora com a crise do petróleo, na década
mormente formado por membros do PDC/PSC,
de 70, o apoio à energia nuclear tenha cresci-
juntando as competências e criando o Ministé-
do muito, o acidente na cidade norte-america-
rio do Ambiente, Conservação da Natureza e
na de Harrisburg, com vazamento de material
Segurança Nuclear (BMU).
radioativo, juntamente com aumento da inse-
gurança na utilização desta fonte energética, A partir de então, em meados da década de
expressa nos protestos das cidades de Breiba- 1980, novas políticas ambientais foram sendo
ch, Wyhl, Brokdorf, Grohnde, Gorleben, Hanno- lançadas ou reformuladas, de forma a aumen-
ver e Bonn, foram responsáveis pela gestação tar a proteção das águas, florestas, biodiversida-
e nascimento de movimentos organizados não de, clima e recursos energéticos. Mas, ainda as-
governamentais de defesa do ambiente e saú- sim, a força política dos interessados na energia
de. Ademais, a efervescência e impacto de fóssil e nuclear compreendia aproximadamente
publicações ambientais “Limites do Crescimen- 95% dos representantes do parlamento alemão.
to”, de Dennis Meadows, e “O negócio é ser
Em 1991 é adotada a primeira lei sobre tarifas
56
Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo, Holanda. de remuneração58, as “feed-in tariffs”, como
Bulgária, a República Checa, o Reino da Dinamarca, a forma de estimular os investimentos na produ-
República da Estónia, a Irlanda, a República Helénica, o
Reino de Espanha, a República de Chipre, a República da ção de energia de fontes renováveis (RES). Pa-
Letónia, a República da Lituânia, a República da Hungria, a ralelamente a essas medidas incentivadoras, a
República de Malta, a República da Áustria, a República da
Polónia, a República Portuguesa, a Roménia, a República da
energia nuclear passou a não ser mais estimu-
Eslovénia, a República Eslovaca, a República da Finlândia, lada, com a determinação, através de emen-
o Reino da Suécia e o Reino Unido da Grã-Bretanha e da da à Lei de Energia Atômica, que não mais fos-
Irlanda do Norte tornaram-se posteriormente membros da
Comunidade Europeia da Energia Atómica. sem construídas novas usinas, apenas ficariam
Disponível em: <http://europa.eu/eu-law/decision-making/
em funcionamento aquelas que já estavam.
treaties/pdf/consolidated_version_of_the_treaty_esta- Não obstante, ainda eram fortes as pressões e
blishing_the_european_atomic_energy_community/conso- interesses econômicos para que a Alemanha
14 lidated_version_of_the_treaty_establishing_the_european_
atomic_energy_community_pt.pdf>. 58
Electricity Feed-In Law of 1991. Disponível em: <https://
57
Atomic Energy Act (AtG). Disponível em: <http://faolex. www.clearingstelle-eeg.de/files/1-Gesetzgebungsver-
fao.org/docs/pdf/ger50913E.pdf>. fahren-1990-Uebersicht.pdf>.
W O R K I N G PA P E R S D E D I R E I TO DA E N E R G I A
voltasse a estimular o uso da energia nuclear, ainda o melhor argumento utilizado pelo lobby
no que se apoiavam seus lobistas ao alarde dos nuclear, que foi definitivamente vencido ape-
projetos malogrados em RES. nas após o acidente em Fukushima, em 2011
(HAKE et al, 2015).
Mas o mundo estava mudando. As preocupa-
ções com as mudanças climáticas e os gases Após a diretiva europeia sobre o mercado da
de efeito estufa, estavam mais fortemente a eletricidade, em 1997, o governo alemão não
infligir seus reflexos nas políticas econômico- tardou a emendar a lei sobre a gestão da ener-
-energéticas dos países europeus, que preci- gia, em 1998, a EnWG59, que enfraqueceu os
savam agora reduzir suas emissões, sob pena grandes monopólios das industrias de energia
de incorrer, inclusive, em incongruências com ao proceder com o desmembramento dos se-
normativas de comércio exterior e da própria tores produtivos, de transporte e distribuição
União Europeia. Políticas precisavam dar con- e de comercialização (KUNGL, 2014). Acresci-
ta de alterações substanciais em domínios há do a isto, o fato da lei sobre o fornecimento
muito arraigados a grandes corporações, e se- de energia elétrica a partir de RES, a StrEG, ter
tores como do transporte, geração de energia, estimulado investimentos em renováveis, re-
agrícola e comercial, teriam que se adaptar a fletindo num aumento de produtores ligados
essas novas regras. a rede, o resultado verificado foi uma grande
queda no preço da eletricidade. A este efeito
Neste turbilhão enredado por interesses de co-
ainda se associam dois outros desdobramen-
lossais segmentos econômicos em contínuo e
tos, o aumento no montante total pago sob a
crescente contraste com os desejos sociais e
forma de “feed-in tariffs”, pois em maior núme-
necessidades climáticas, alinhavados por no-
ro são aqueles que os recebem, e o aumento
vas ideologias políticas a ganharem força, ex-
no valor das “premium tariffs”, calculadas a
ternalizadas pela edição de leis e regulamentos
partir da diferença entre o valor adquirido no
sobre o fornecimento de eletricidade a partir
mercado livre de energia e o valor estipulado
de fontes renováveis (StrEG), o programa dos
de remuneração pelo governo. O resultado
“telhados solares”, os incentivos as pesquisas
final foi uma estagnação do mercado das
com células fotovoltaicas e tecnologia eólica,
renováveis, e que, a propósito, acirrou os âni-
emergia, efetivamente, o novo conceito de
mos dos pró-nucleares.
energia alemão. Mas este era o contexto em
sua forma superficial. Em 2000 é definida a lei que estabeleceu a prio-
ridade de abastecimento na rede à energia
Nas camadas mais internas ao processo, prin-
provinda de fontes renováveis, o EEG, em meio
cipalmente referindo-se as catálises politicas,
a um contexto politico pacificado quanto a in-
a lei sobre o fornecimento de eletricidade a
centivar e diversificar a matriz energética ale-
partir das RES, apesar de fundamental, não
mã, mas não coeso acerca do abandono da
foi suficiente. O valor determinado a ser pago
utilização da energia nuclear. Mesmos os parti-
aos produtores de energia renovável, a titulo
dos que assiduamente colocavam-se contra as
de tarifa de remuneração, não era suficiente
renováveis (CDU e CSU), passam a admiti-las e
para tornar tais usinas viáveis em produção de
até creditá-las, embora exigissem alterações na
larga escala. Ademais, havia compensações
forma e nos instrumentos de incentivos. Em 2005
nas tarifas médias de eletricidade. Foi a partir
a União Europeia lança o sistema de mercado
de 1998 que se deu o ponto de virada, com a
de emissões, como instrumento essencial à re-
coalisão entre o Partido Verde e o Partido So-
dução das emissões de gases de efeito estufa
cial Democrata, a “coalisão vermelho-verde”,
de forma mais equalizada. Em 2007 a Alema-
que se chegou ao acordo de planejar norma-
nha define o Programa Integrado de Energia e
tivamente, e de forma gradual, o processo de
Clima, o IKEP, com os seguintes escopos: fomen-
encerramento das atividades nucleares para
tar a participação das renováveis, incrementar
produção de energia na Alemanha. Mas, a in-
a eficiência energética, modernizar as usinas,
certeza acerca da subida dos preços da ener-
que juntamente com emendas às Leis de Ges- 15
gia no mercado e o aumento do desemprego,
dada a saída dessa tecnologia energética, era Energy Industry Act. Disponível em: <http://faolex.fao.org/
59
docs/pdf/ger52893.pdf>.
DAEDE | DEPARTAMENTO DE ALTOS ESTUDOS EM DIREITO DA ENERGIA
tão de Energia e Eficiência Energética, impor- lões de energia. Todavia, o principio continua
taram num estímulo à cogeração, mormente o mesmo, isto é, somente a energia despacha-
no setor de aquecimento e arrefecimento, e da é comercializada diretamente. Agora, há
melhorias em eficiência energética no setor de de questionar-se a respeito da segurança no
construção. Em 2010 o governo lança o novo abastecimento energético em termos de apro-
“Conceito Energético”60, com diretrizes sobre a visionamento, distribuição, eficiência e reserva
redução da emissão de GEE, ampliação das de energia.
RES, maior exigência em eficiência energética
em prédios, no transporte e na rede de distribui-
ção, além de estímulos contínuos à cogeração, 6.1. E agora, EEG/201461?
a ampliação da rede e do armazenamento de Para além deste ponto, proceder-se-á a uma
energia. E, em 2012, a EEG é pela terceira vez guinada, conquanto sob a mesma perspectiva,
alterada, com substanciais efeitos imediatos, acerca dos detalhamentos das emendas à Lei
como: maior estímulo à direta comercialização de Prioridade de Acesso das Renováveis à Rede,
da energia renovável no mercado, ajustamen- a EEG, nomeadamente as de 2012 e 2014, suas
to de tarifas de remuneração e premiação, consequências benquistas e funestas.
submissão da energia fotovoltaica a um teto de
capacidade instalada, a fim de receber os be- Segundo publicação de 2015, do Instituto AGO-
nefícios, readequação das isenções e descon- RA, os principais desafios a serem enfrentados
tos na sobretaxa das renováveis, sendo que, pela Alemanha para a continuidade do sucesso
agora, quem não usasse a rede para adicionar do Energiewende estão, atualmente, concen-
energia (fóssil ou renovável) e aqueles grandes trados em basicamente quatro aspectos mais
consumidores (industrias, grosso modo) esta- relevantes. A esses aspectos devem relacionar-
riam isentos, e aqueles fornecedores em cujo -se normativas de eficácia já validadas ou ainda
portfolio houvesse pelo menos 50% de energia em fase de elaboração (PESCIA et al., 2015).
proveniente de renováveis, teriam descontos
na sobretaxa (STRUNZ, 2014).
6.1.1. Superação da ausência da energia nu-
clear na matriz energética alemã, com o des-
6. Desfecho sem Fim comissionamento das usinas instaladas até o
ano de 2022. Por este desmantelamento, que
Visto todo o histórico supra descrito, ainda que pode durar décadas, há de se enfrentar duas
com o desfecho hodierno em aberto, há que situações preocupantes. Uma é a perda da
deitar-se nos mais recentes enfrentamentos, e energia que ainda é (e não mais o será) despa-
decorrentes mudanças, que a Energiewende chada por estas usinas em via de fechamento.
vem sofrendo. E, pelo exposto, observa-se que Outra questão é a busca por regenerar o am-
tais alterações no quadro normativo energéti- biente às condições naturais antes da instala-
co alemão verteram de iniciais mudanças para ção do reator. Atenta-se para o fato de que
fortalecer a legislação e o investimento em re- mesmo após seu descomissionamento, o lixo
nováveis, passando a alterações para corrigir gerado pela usina e suas instalações permane-
excessos de apoios, vez que o mercado foi su- cem perigosos, demandando gastos e atenção
bitamente inundado por produtores de energia por milhares de anos, o que acarreta concomi-
advinda de fontes renováveis, especialmente tantes impactos de ordem econômica, social e
quando as tecnologias para turbinas eólicas e ambiental, que tem que ser bem considerados
painéis fotovoltaicos tiveram quedas significa- durante o processo de desmonte (GOLDEMBERG,
tivas nos preços. As emendas mais recentes à 2011; VON HIRSCHHAUSEN et al., 2015).
legislação EEG, em 2012 e 2014, relacionam-
-se ao direcionamento, principalmente dos Apesar das idas e vindas na regulamentação
produtores maiores de RES, diretamente para sobre energia nuclear, após o incidente em
o mercado competitivo, integrando-os aos lei-
16 61
Renewable Energy Sources Act – RES Act 2014. Disponível
Energy Concept. Disponível em:
60
em: <http://www.bmwi.de/English/Redaktion/Pdf/renewa-
<http://www.bmwi.de/English/Redaktion/Pdf/energy-conc ble-energy-sources-act-eeg-2014,property=pdf,bereich=bm
ept,property=pdf,bereich=bmwi,sprache=en,rwb=true.pdf>. wi2012,sprache=en,rwb=true.pdf>.
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Fukushima, o governo alemão definitivamen- plamento com outros setores de energia, como
te decidiu por bani-la do portfolio energético. calor (CPH), mobilidade e dessalinização, em
Apesar de elogiada por prover um abasteci- um cenário que ultrapassa o modelo de “smart
mento fiável e livre de emissões de gases de grid” pensado para o setor elétrico e passa a
efeito estufa (GEE), portanto, uma energia con- constituir um “smart energy system”, com a in-
fiável e limpa, a energia nuclear é qualquer coi- tegração de âmbitos diversos, fundindo setores
sa menos inócua. Se considerado todo o ciclo da eletricidade, aquecimento e transportes, em
de vida de sua principal matéria prima, o urâ- combinação com várias combinações de arma-
nio, constata-se que tanto a produção quanto zenagem intra-hora, por hora, diárias, sazonais e
o transporte geram GEE, além dos profundos semestrais, para criar a flexibilidade necessária
danos ao ecossistema causados diretamente para integrar grandes injeções de energia reno-
pela extração do mesmo durante o processo vável flutuante. (PLESSMANN et al., 2014; MATHIESEN
de mineração. Ademais, mesmo do ponto de et al., 2015; BRUNNENGRÄBER / SCHREURS, 2015).
vista econômico, ao contrário do que afirmam
Outra contenda enfrentada refere-se às recen-
os lobbies pro-nuclear sobre as benesses de seu
tes taxações incidentes sobre a energia nucle-
custo-benefício, a instalação e manutenção
ar, vistas como instrumentos para reequilibrar
de uma usina nuclear requer vultosos montan-
finanças públicas, mormente para custear a
tes de capital e fartos subsídios, uma vez que
transição energética, que além de afetarem
a taxa de retorno do investimento é a longín-
os grandes fornecedores de energia elétrica
quo prazo. Os custos de extração, disposição,
na Alemanha, sobretudo E.ON, RWE e EnBW,
segurança, seguro, prevenção e recuperação
também tornaram-se objeto de demanda jun-
das externalidades associadas com a energia
tos aos tribunais superiores nacional e regional.
nuclear também são sopesáveis, além de por
Os pleitos foram intentados pelas grandes ope-
vezes irrecuperáveis (ARNOLD, 2015).
radoras de energia junto ao Tribunal Federal
Outro grande desafio da eliminação do uso Constitucional (Bundesverfassungsgericht) sob
da energia atômica que a Alemanha enfren- o argumento de tratar-se esta taxa especial
tará está relacionado com o consequente au- de consumo inconstitucional, e, perante o Tri-
mento na produção energética advinda das bunal da União Europeia62 sob o argumento de
usinas movidas a carvão e gás, principalmente ser esta taxa especial incompatível com a re-
a carvão, cujos preços no atacado são ainda gulação europeia acerca de “taxas especiais
os mais baixos do mercado. Para tal mitigação, de consumo”, normatizadas segundo a Direti-
a Alemanha busca, dentro do escopo da sua va 2008/118/EC. Consta, pois, que este último
politica energética, estimular as renováveis, tribunal acabou por não considerar a taxa de
tornando-as competitivas, pensar mecanismos energia nuclear alemã uma taxação especial
de sobretaxar as fontes hipercarbônicas e re- de consumo, sendo, então, compatível com a
duzir o consumo energético, aliado a novas regulação regional, pois, segundo adstrito en-
tecnologias de armazenamento de energia e tendimento, tal taxa não é repassada aos con-
eficiência de uso. Numa perspectiva acalenta- sumidores, não ferindo, portanto o equilíbrio da
dora, estudos como de PLESSMANN et al. (2014) precificação desse bem. No Tribunal Constitu-
e MATHIESEN et al. (2015) demonstram ser possí- cional a demanda ainda está a ser analisada,
vel também em termos de custo-benefício mas certamente trará consequências capcio-
uma economia saudável baseada em ener- sas, vez que se considerada taxa especial de
gias renováveis, ainda que atreladas a meca- consumo verterá contra o entendimento do Tri-
nismos de distribuição inteligente de resposta bunal Europeu, embora internamente confirme
à demanda, baterias potentes e diversificadas a constitucionalidade da taxa, em concordân-
fontes de armazenamento de energia, como cia com o disposto no diploma constitucional,
combinações entre reservatórios de águas tér- no artigo 106, o qual regra a competência do
micas associadas à turbinas e produção de gás governo federal para legislar tão somente sobre
metano associada a aerogeradores. Ademais, 62
Court of Justice of the European Union PRESS RELEASE No
pressupõe-se incrementos nos aportes energé- 62/15 Luxembourg, 4 June 2015. German duty on nuclear 17
fuel is compatible with EU law. Disponível em: <http://curia.
ticos advindos das interligações de rede e aco- europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2015-06/
cp150062en.pdf>.
DAEDE | DEPARTAMENTO DE ALTOS ESTUDOS EM DIREITO DA ENERGIA
taxas especiais de consumo. Se, perante a Corte mente a carvão e lenha. Nessa perspectiva,
Federal Constitucional (Bundesverfassungsgericht) e dado o conjunto de efeitos negativos para
a taxação sobre energia nuclear for considerada o ambiente e para a saúde humana se com-
inconstitucional, estará em concordância com paradas com outras fontes energéticas, países
a regra da União Europeia, mas perderá desde como a Alemanha jamais deveriam descartar
logo a validade e terá seus efeitos retroagidos, essa fonte de maneira tão imediata.
de forma que o governo não somente perde tal
Ainda na busca por opções que legitimem as
receita como deverá restituir os valores (de mi-
politicas engendradas pela EEG 2014, há que
lhões de euros) às empresas de energia elétrica
se considerar as diversas alternativas, visto que
(LEIDINGER, 2015). Mas estas ainda são cenas dos
assim como na avaliação dos custos benefícios
próximos capítulos.
sociais e econômicos das fosseis, há também
que se ponderar as melhores escolhas para al-
cançar metas tão ambiciosas quanto as defini-
6.1.2. Redução da emissão de gases de efeito
das na lei.
estufa, cujas metas são de redução de 40% até
2020, 55% em 2030, 70% em 2040 e de 80% a 95% 6.1.3. Expansão da rede rapidamente, e de for-
até 2050. ma orientada para o cidadão; Gestão de Re-
serva de Capacidade; e Mecanismos de Ges-
Embora advinda de um longo histórico politico
tão de Demanda.
e social, paralelamente impactado por acon-
tecimentos e crises exógenas, a política de re- O desafio de integrar de forma segura as di-
dução da poluição atmosférica ganhou força ferentes energias intermitentes advindas de
a partir de 1990 com a publicação do Relatório fontes renováveis perpassa novos instrumentos
da Comissão de Inquérito sobre “Medidas pre- e medidas para o equilíbrio entre oferta e de-
ventivas para proteger a Atmosfera da Terra”, manda, mas também a superação dos gran-
que propôs metas para a redução de CO² pro- des entraves à distribuição, comercialização e
veniente do setor energético. Este documento transmissão dessa energia pela rede. Ademais,
foi considerado a primeira base para as políticas já se percebeu que em países como Dinamar-
alemãs de proteção ao clima. À época, as me- ca, Irlanda e Alemanha, onde os aportes vari-
tas de redução alemãs foram consideradas am- áveis de RES constituem grande parte da ofer-
biciosas e abrangentes, pois diziam respeito ta- ta energética, além da problemática técnica
xas globais de emissões, definindo que até 2005, quanto à integração à rede, há também me-
as emissões globais deveriam diminuir em 5%, as canismos de mercado fortemente impactados
emissões da UE em 20% e as emissões em países por estas inserções que devem ser repensados.
ocidentais industrializados ocidentais em 30%.
A expansão da rede elétrica na Alemanha é
Entretanto, mais ambiciosas são as metas atuais.
fator primordial não somente para a melhor dis-
Vale lembrar que não apenas a necessidade tribuição e acesso a energia pelo território, re-
climática é vetor de mudanças, mas que a fletindo um maior equilíbrio entre produção eó-
preocupação com a segurança no abasteci- lica ao norte e produção solar mais ao sul, mas
mento de energia, em caso de crises energéti- também configura medida essencial para que
cas causadas pela escassez ou alto preço dos regulamentações sobre os corredores de cres-
combustíveis fosseis, é também estopim para a cimento sejam mais bem aceitos e integrados
virada alemã em sua politica para o setor. nacionalmente, visto que impõem limitações a
instalação de capacidade. Também importan-
Entretanto, essa mesma preocupação com a
te o crescimento das redes de conexão para
redução dos GEE e segurança no abasteci-
melhorar a eficácia de sistemas de reserva de
mento energético configuram-se também nos
capacidade e de gestão de demanda63, pe-
grandes argumentos da indústria nuclear a fa-
vor do não radicalismo na política de “phase 63
Reserva de Capacidade: tem por objetivo garantir a ca-
pacidade adequada dentro de um sistema de eletricidade
18 out”. Segundo argumentam especialistas nesse flutuante. Grosso modo pode ser entendido como um me-
setor será certo o aumento no uso da energia canismo que garante pagamentos certos aos produtores
advinda das usinas termoelétricas, principal- de energia para que mantenham ou invistam em novas
instalações, com o intuito de garantir um aprovisionamento
W O R K I N G PA P E R S D E D I R E I TO DA E N E R G I A
los quais os sítios de maior produção em deter- redes eléctricas inteligentes, redes térmicas in-
minado momento possam verter o excedente teligentes (aquecimento e arrefecimento urba-
energético para os locais de maiores deman- no), redes de gestão de demanda inteligente
das (LUND et al., 2015). e de combustível. A tecnologia desenvolvida,
quando suportada por um sistema normativo
Portanto, a flexibilidade do sistema energéti-
estável quanto aos objetivos finais, como dispo-
co, que pode variar da regulação da oferta à
nibilização de energia renovável a preços aces-
gestão da demanda, deve prever incrementos
síveis (atacado e varejo), e proporcionalmente
não apenas às redes elétricas inteligentes, mas
flexível quanto às intempéries inerentes às varia-
também a integração inteligente de todo setor
ções e evoluções da própria tecnologia da in-
da energia. Incorporar adequações no trans-
formação, permite que a energia renovável flu-
porte, armazenamento, comercialização e dis-
tuante (como eólica, solar, energia das ondas e
tribuição, vai muito além de simples expansão
de calor) possa ser reservada e posteriormente
física da rede elétrica, engloba melhores siste-
gerida com o armazenamento de combustível
mas de mercado, tecnologias da informação e
sólido, gás e líquido, bombas de calor e arma-
processos de reserva, em particular do lado do
zenamento térmico, bateria veículos elétricos e
usuário final. Todos regulados por normativas
demais sistemas de compartilhamento peer-to-
claras e estáveis em coevolução com institui-
-peer (P2P)65 (KOESLER et al., 2016).
ções socioeconômicas, atores e normas sociais
agregadas. Mas, associado a este objetivo a Alemanha en-
frenta o desafio de regular os efeitos e reper-
O desafio energético requer também soluções
cussões que tais alterações tecnológicas pro-
em múltiplas escalas e meios de pensar os pro-
movem, mormente, no setor do mercado de
blemas de maneira alargada e multifocal, inse-
energia, tanto em ambiente domestico quanto
rindo a governança energética em perspectiva
internacionalmente. E esta é também uma pre-
policêntrica e multinível. Isto permite a contextu-
ocupação pulsante dentro da União Europeia,
alização, a experimentação e inovação técni-
quando está a visar um mercado único de
ca e regulatória (KONDZIELLA / BRUCKNER, 2016).
energia (EUa, 2016). Desde que os planos são
6.1.4. Criação de um mercado de eletricidade transfronteiriços e intersetoriais, a União Energé-
viável, levando em consideração as dinâmicas tica perpassará diversas áreas, como energia,
inter-relações com o mercado internacional transporte, pesquisa e desenvolvimento, poli-
e, por ventura, em coerência com o Pacote tica externa e regional, comercio e agricultu-
“União da Energia”.64 ra. E, para além dos setores abordados e, de
certa forma, anterior a eles discute-se as cinco
Para que tal ocorra, conforme se observa do já dimensões consideradas pela política da União
exposto, é preciso coerência fática e regulató- Europeia, tais quais normativas que assegurem
ria a permitir que todo um Sistema de Energia a segurança de abastecimento, um mercado
Inteligente tenha um número de infraestruturas interno totalmente integrado, a eficiência ener-
adequadas para os diferentes setores produ- gética redução das emissões e as pesquisas e
tores e consumidores energéticos, assim como desenvolvimentos (EUb, 2016).
energético quando necessário. A obrigação de capacida-
de significa que eles devem estar disponíveis para fornecer No que tange ao papel alemão nesta emprei-
energia quando necessário ou enfrentam sanções. Disponí- tada, alguns dados são importantes para situá-
vel em: <http://www.nationalgridconnecting.com/keeping-
-the-lights-on/>. -la ainda que na vanguarda, mas de forma
Gestão da Demanda: é um mecanismo de gestão da pro-
acautelada frente às compatibilidades exter-
cura que tradicionalmente serve para reduzir os picos de nas. A Alemanha importa combustíveis fósseis
consumo de eletricidade, ajudando a prevenir apagões acima da média da EU, embora em termos
e mitigando situações de emergência. Disponível em: <ht-
tps://www.unido.org/fileadmin/media/documents/pdf/EEU_ 65
Sistemas de computação ou de redes nas quais a arqui-
Training_Package/Module14.pdf>. tetura do sistema proporciona distribuição de aplicativos,
64
Mercado único da energia na Europa, planejado pela tarefas ou cargas. Desta forma, torna-se possível o trabalho
União Europeia, com escopo de modernizar a infraestrutura, entre pares em concomitância de ações. Atualmente este
integrar os mercados, coordenar as politicas e tornar a ener- termo também é utilizado para designar sistemas inteligen- 19
gia disponível para todos e a preços acessíveis (EU, 2015). tes que gerem e dão a base da economia colaborativa,
<http://ec.europa.eu/priorities/energy-union/docs/benefits- como no caso do uso compartilhado de energia e itens ge-
-of-the-energy-union-germany_en.pdf>. radores, armazenadores e/ou consumidores de energia.
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absolutos não seja alarmante. A integração da des CHP, embora eficientes (acima de 90%),
rede elétrica era de 10% em 2014, havendo ain- ainda exploraram combustíveis fósseis para a
da grande necessidade de expansão, a qual produção de calor e energia, estocando aque-
urge necessária não apenas para que norte le em sistemas de caldeiras, a serem acionadas
(grandes produtores) e sul (grandes consumi- (liberando o calor) quando da necessidade.
dores) equilibrem oferta e demanda, mas para
As CHP têm sido consideradas pelo governo
evitar complicações com países vizinhos, dada
alemão como um dos eficazes elementos para
as constantes sobrecargas de despachos nas
a redução das emissões de GEE, uma vez que
redes da Polônia e Republica Checa, e os im-
há uma maior eficiência energética na pro-
pactos que tais gargalos causam na econo-
dução. Dados apontam para uma redução
mia alemã, que precisa estar sempre a realizar
de 40-56 milhões de toneladas de CO2 emiti-
ajustes dispendiosos. Quanto à interconexão
do em 2012, quando comparadas as emissões
de gasodutos, a Alemanha possui uma extensa
por sistemas não combinados66. Neste ensejo,
rede de distribuição por todo território.
a principal normativa a regular essas unidades
Outras questões arguidas pela EU quanto ao sofreu alteração, destacada pela nova lei de
estado da Alemanha frente ao projeto que se cogeração, ou em inglês, Combined Heat and
almeja é exposto ao tratar dos preços do gás Power Act (KWKG 2016)67, que entrou em vigor
e eletricidade tanto em varejo como ataca- em janeiro de 2016.
do. Os preços no atacado estão ligeiramente
O legislador permitiu que os produtores de
abaixo da média da EU. O mercado de gás, no
energia por cogeração optem por receberem
varejo é considerado competitivo, enquanto
os subsídios ao abrigo do anterior CHP Act 2012
que o mercado da eletricidade é considera-
ou os oferecidos no âmbito do CHP Act 2016,
do apenas razoavelmente competitivo graças
se os pedidos para recebimento foram proto-
à participação (45% do mercado) das quatro
colados até 31 de dezembro de 2015 e estes
maiores empresas. Já a eletricidade que che-
sistemas estão online até 31 de Dezembro de
ga aos consumidores domésticos é uma das
2016. Com esta lei o governo, que aumentou
mais caras da região.
a verba destinada ao setor da cogeração de
Diversas outras questões e dados acerca do €750 milhões para €1,5 bilhões, busca melhorar
panorama energético alemão são discutidos as perspectivas para a manutenção e expan-
em sede da Comissão Europeia, como a efici- são das unidades geradoras de energia, orien-
ência energética e moderação da demanda tada para promover a substituição do carvão
de energia, descarbonização da economia, para o gás, bem como a coerência com outras
investigação, inovação e competitividade, po- metas e medidas no âmbito do Energiewende,
litica climática-energética, cooperação regio- prevendo para o setor elétrico um acréscimo
nal e contribuições para a política de coesão de 110 TWh por ano até 2020 e de 120 TWh por
do mercado energético europeu (EUc, 2016; ano até 2025.68
SZULECKI et al., 2016).
Segundo a KWKG 2016, a elegibilidade para re-
6.1.5. Implementação e perspectivas claras ceber o bônus das centrais de cogeração com
para o setor de cogeração (CHP). mais de 50 kW com 30.000 horas de carga to-
tal não mudou, já para as miniCHP até 50 kW, pela nova lei, desde que preencham determi-
este montante foi ajustado para 60.000 horas nados requisites e condições.
de carga total. Ademais, apenas a eletricida-
A intenção do legislador alemão é de capaci-
de produzida em cogeração e injetada na rede
tar as usinas de cogeração a fim de que sejam
pública tem direito ao recebimento dos valores,
capazes de, em cenários futuros, competir em
ainda que haja exceções como para pequenas
um mercado de energia onde preço, deman-
instalações de cogeração com uma capaci-
da e oferta são flutuantes. Para tal, maiores in-
dade de até 100 kW, e para as instalações de
vestimentos em medição, tecnologias de trans-
cogeração usada por empresas grandes consu-
porte e distribuição, gerenciamento localizado
midoras de energia elétrica. Aqueles geradores
e com vendas diretas serão os próximos desa-
de energia por cogeração que disponibilizam
fios previstos pelo setor energético da geração
tal energia diretamente aos consumidores finais,
combinada (GAILFUSS, 2016).
sem a utilização da rede de transmissão públi-
ca, e pagam integralmente a sobretaxa das RES 6.1.6. Proporcionar a salvaguarda da inovação
também recebem o suporte financeiro. e da concorrência, equilibrando a exigência
de seguro fornecimento de energia pelo pro-
Para além dessas alterações, e dentre outras,
dutor, ao mesmo tempo em que se estabelece
a nova lei de cogeração também estabelece
para o mesmo um ambiente o mais seguro pos-
que incentivos adicionais podem ser concedi-
sível de rentabilidade e retorno dos investimen-
dos para as plantas de cogeração sujeitos às
tos – The EOM project71
condições do Greenhouse Gas Emission Trading
Law (TEHG), bem como aos proprietários das Grosso modo, visto não ser o escopo do presen-
usinas de cogeração que substituam o carvão te estudo, pode-se dizer que os países que bus-
como a matéria-prima por outra, como gás. As cam a transição energética se deparam com
unidades de combustível também foram afeta- a crescente necessidade de compatibilizar o
das pela nova lei, que restringiu os benefícios a imperativo de manter os investimentos em tec-
esse setor, que agora são classificados da mes- nologias renováveis interessantes e rentáveis
ma forma que outras tecnologias. para os investidores, ao mesmo tempo em que
proporcionar modernizações na rede para que
Apesar das normativas do setor exigirem uma
os consumidores sejam devidamente satisfeitos
autorização do Federal Office of Economics
com energia segura e fiável, o que se torna um
and Export Control (BAFA)69 para que as usi-
ponto nevrálgico quando se trata de energias
nas recebam o suporte financeiro, em princi-
intermitentes, assim como também é preciso
pio apenas possível após a unidade entrar em
garantir que o custo e preço da energia no
funcionamento, para evitar os danos causados
atacado e varejo sejam baixas e competitivas.
pela mudanças nas regras pela nova lei das
CHP, a mesma definiu regras de transição, que Relativamente às estratégias de mercado, o
acalentam os ânimos, mormente das grandes Energiewende proporcionou mudanças em ní-
CCPP70, cujos prazos para construção são ge- vel de produtores, pequenos e grandes, con-
ralmente mais longos e, portanto, precisam de sumidores e instrumentos de mercado. Acerca
maior segurança jurídica quanto ao apoio a dos produtores, estes, conforme dito em seções
que tem direito. anteriores, estão cada vez mais direcionados
para o mercado, transitando de suportes via
A normativa ainda estabelece regras pelas
“feed-in tariff” para contratos por diferença.
quais os países da União Europeia também
poderão se beneficiar das vantagens trazidas Os mecanismos de mercado mais suscitados
69
Federal Office of Economics and Export Control – BAFA por estes países para buscar garantir o melhor
Disponível em: <http://www.bafa.de/bafa/en/>.
70
Combined Cycle Power Plant: usina de energia que com- 71
Documento oficial divulgado pelo governo alemão acer-
bina o ciclo de dois tipos diferentes de turbina para a produ- ca do mercado da energia elétrica. Federal Ministry for
ção de eletricidade. Uma turbina é movida a gás e a outra Economic Affairs and Energy (BMWi). An electricity market
a vapor. As CCPP podem ser usadas para produzir apenas for Germany’s energy transition: White Paper by the Feder-
eletricidade ou podem ser ainda interligadas a uma CHP al Ministry for Economic Affairs and Energy. Disponível em: 21
para produzir eletricidade e calor. <http://www.bmwi.de/English/Redaktion/Pdf/weissbuch-en-
Disponível em: <http://www.eolss.net/sample-chapters/c18/ glisch,property=pdf,bereich=bmwi2012,sprache=en,rwb=tr
e6-43-33-06.pdf>. ue.pdf>.
DAEDE | DEPARTAMENTO DE ALTOS ESTUDOS EM DIREITO DA ENERGIA
grandes consumidores e produtores de ener- guir atingir a meta almejada para 2020; (e) do
gia, e para além de 2020, deverão também ser aumento das exportações de energia que gra-
adquiridos por qualquer um que consuma mais ças ao preço competitivo da Alemanha, fluem,
de 6.000 kWh por ano. A importância de nor- mormente, para a Holanda, França e Áustria; (f)
mativas claras e concisa está em estabelecer da queda nos preços da energia, tanto no mer-
valores para esses medidores que sejam altos o cado corrente como no de futuro, sendo que
suficiente para garantir os ganhos no mercado neste ultimo a energia negociada para 2016 e
produtor dos mesmos, mas baixos o bastante 2017 não atingiu nem 30 euros por megawatt-
para garantir a compra desses medidores pelos -hora; (g) da controversa flexibilidade no mer-
consumidores de forma que o valor desembol- cado energético, com maior número de horas
sado para tal instalação não ultrapasse o valor com preços da energia negativos75, porém com
da economia a ser gerada pelo uso desses. Já valores em torno de nove euros por megawatt-
o segundo aspecto de suma importância a ser -hora; (h) do ainda inabalável apoio popular ao
estabelecidos por regras legais diz respeito à Energiewende, embora tenha aumentado a in-
utilização e gerenciamento dos dados pessoais satisfação popular com o acréscimo no preço
coletados por todo esse sistema tecnológico de da energia para o consumidor doméstico; e (i)
informação. Deverá haver prescrições claras das expectativas para 2016 acerca da redução
de atos, omissões e sanções para o manuseio na participação das nucleares no abastecimen-
dessas informações de modo a garantir a to energético alemão e suas implicações para o
segurança e privacidade individual, valores de setor (GRAICHEN et al., 2016).
incontestável importância e sensibilidade (AME-
Já no cenário internacional, a Alemanha es-
LANG / APPUNN, 2015).
pera conectar-se aos mercados globais, mor-
mente aqueles que a avizinham, em favor de
uma segurança no abastecimento energéti-
7. Estado da Arte e Perspectivas Futuras:
co. Mas, para que estas conexões e intercâm-
Energiewende 2016
bios de energia se concretizem, solidifiquem e
Segundo o maior fórum de discussão sobre o harmonizem, o maior desafio será acomodar e
Energiewende e instituto que auxilia o governo compatibilizar os diferentes modelos de merca-
alemão com dados e pesquisas, o AGORA74, do da energia de cada país, e que trazem con-
os dez pontos mais marcantes do mercado da sigo suas inerentes vantagens, desvantagens e
energia na Alemanha, em 2015, orbitou em tor- reflexos, de forma a que, em nível regional, seja
no (a) do aumento da participação das reno- possível uma troca equilibrada e sem grades
váveis, com destaque para a energia eólica; prejuízos para uma parte ou outra. Neste sentido
(b) do aumento no consumo de energia que, a governança politico e normativa da União Eu-
embora não tenha correspondido ao aumento ropeia há que se fortalecer e normatizar setores
do crescimento econômico, não sinalizou um do comércio e da energia que estão com vín-
efetivo avanço no desacoplamento do con- culos voluntários ou mesmo nem sequer seguem
sumo energético do crescimento econômico, orientações normativas (SZULECKI et al., 2016; EURO-
ficando os resultados aquém das expectativas PEAN ECONOMIC AND SOCIAL COMMITTEE, 2016).
As informações mais recentes que se têm do encontra-se muito aquém de suas metas. Este
Ministério dos Assuntos Econômicos e Energia insucesso para a consecução da transição
(Ministry for Economic Affairs and Energy) tra- energética no setor dos transportes se deve,
tam da nova reforma do EEG, chamado de em muito, ao fraco arcabouço legal que re-
EEG 3.0, planejada para 3ntrar em vigor em gula o setor. Tais normativas podem e devem
2017. Embora, ainda em sede administrativa, promover o uso mais eficiente dos transportes
as emendas à lei das energias renováveis ten- públicos e privados, incentivar e proporcionar
cionarão a integrar cada vez mais as renová- o acesso de tecnologias de baixo carbono ao
veis ao mercado direto, através de leilões, sal- mercado e integrar a rede de mobilidade inter-
vaguardando alguns elementos-chaves como, municipal através de ferramentas mais ágeis e
a manutenção dos corredores de crescimento, disponíveis aos consumidores desses serviços.
decréscimo contínuo dos apoios financeiros Para além desses objetivos, as normas jurídicas a
às novas tecnologias e a participação equita- regular o setor devem torna-se mais intercomu-
tiva de todos os interessados. Para tal, atesta nicantes com as normativas e mecanismos utili-
o governo que serão necessárias normativas zados para a promoção da gestão da deman-
que definam, limitem e avaliem esses leilões, os da e armazenamento de energia, uma vez que
quais deverão ser simples e transparentes. Algu- a necessidade de ferramentas e elementos de
mas emendas legais já estão com as propostas suporte, que congreguem flexibilidade e segu-
em finalização e, respectivamente aos leilões, a rança para o abastecimento energético, está
serem conduzidos pelo Federal Network Agency em sincronia com o futuro papel dos transportes
(BNetzA), algumas regras já são suscitadas como em sede de gestão hipocarbônica (CANZLER / WIT-
(a) no caso onde os leilões serão compulsórios e TOWSKY, 2016).
o financiamento verterão apenas para aqueles
que saírem vencedores, (b) as rodadas serão
abertas para propostas individuais e seladas, (c) 8. Finalização
todo ano espera-se conduzir de três a quatro
rodadas de leilões de energia eólica onshore e De maneira a aproximar-se do fim do presente
fotovoltaicas, cada qual com quantidades pre- trabalho conclui-se que, embora não imune a
definidas de energia, (d) serão exigidas garan- percalços, dificuldades e erros, o processo de
tias para que sejam permitidas as participações transição energética na Alemanha é robusto,
com seriedade, (e) as propostas serão depo- congruente, ainda que intermitente em seus pri-
sitadas somente para o mercado flutuante de mórdios, e dispõe de constantes elaborações e
prêmio e com base no “valor a ser aplicado”, avaliações do arcabouço normativo, como se
sendo este definido pela soma do valor que a nota pela sequência de reformas sofridas pelo
eletricidade atingiria no mercado direto e no quadro legal do setor energético. Agregado e
mercado de prêmio, dentre outras inovações esteando todos esses movimentos legislativos
(MINISTRY FOR ECONOMIC AFFAIRS AND ENERGY, 2015). visualiza-se o poder das manobras politicas e
apoio ou rejeição popular ao Energiewende
Para já, as repercussões dessa proposta de como sustentáculos para a consecução do
emendas a lei EEG/2014 já esquentam o deba- mesmo. Ademais, fatores históricos, domésti-
te, principalmente no que tange a real viabili- cos ou internacionais, conjeturas econômicas
dade de participação igualitária dos pequenos e ambientais ressoantes, questões culturais e
produtores e cooperativas locais nos leilões, de equalização, são ingredientes primordiais
sobre o prejuízo de se continuar com os corre- no caldo multifatorial que levou e pavimenta a
dores de crescimento, mormente por aqueles transição alemã, quer em seu aspecto econô-
que estarão sujeitos a limitação, e pelo setor mico, de eficiência ou eficácia do uso da ener-
industrial que alega que as incertezas no abas- gia extraída no território.
tecimento tenderão a crescer com as reformas
planejadas (AMELANG / APPUNN, 2016). Entretanto, a par de contribuírem para um ce-
nário de loucos ou uma verdadeira tragédia,
24 No setor de mobilidade sustentável, apesar todos aqueles ingredientes necessários para o
de inerente ao Energiewende e ao plano de Energiewende, de nada serviriam não fosse o
redução das emissões de GEE, a Alemanha poder organizacional, quer por via da adesão
W O R K I N G PA P E R S D E D I R E I TO DA E N E R G I A
voluntária quer pela via coercitiva, de um ar- liable and Affordable Energy Supply. Setembro
2010. Disponível em: <http://www.bmwi.de/En-
cabouço jurídico claro, transparente, interse-
glish/Redaktion/Pdf/energyconcept,property=pd-
torial, multinível e multiparticipativo, mormente f,bereich=bmwi,sprache=en,rwb=true.pdf>.
no quesito de acolhimento das pretensões po- BRUNNENGRÄBER, A. / SCHREURS, M. “Nuclear Energy and
pulares e de mercado. Nuclear Waste Governance Perspectives after
the Fukushima Nuclear Disaster”. In Nuclear Waste
Governance. Wiesbaden: Springer Fachmedien
Espera-se, pois, que o presente estudo tenha 2015. 47-78.
favorecido o entendimento do processo a que CANZLER, W. / WITTOWSKY, D. “The impact of Germany’s
a Alemanha se submete para tornar-se livre “Energiewende” on the transport sector–Unsolved
problems and conflicts”. Utilities Policy, 2016.
e contribuir para a redução dos impactos no
DAtF. DEUTSCHES ATOMFORUM. History of Nuclear Power.
planeta das danosas consequências do uso da Disponível em <http://www.kernenergie.de/kern-
energia advinda de fontes fósseis. Para além energie-en/history/index.php>. 2015.
dessa pretensão, espera-se que a exposição DNV GL. “Potential interactions between capacity
mechanisms in France and Germany. Descriptive
dos fatores que influenciam tal guinada ener- overview, cross-border impacts and challenges.
gética também tenham sido suficientemente Study on behalf of Agora Energiewende”, publi-
expostos e comentados a fim de demonstrar cation number 061/02-S-2015/EN, p.64. 2015.
EUROPEAN ECONOMIC AND SOCIAL COMMITTEE. Opinion of the
que reformar normativas eficazes e eficientes European Economic and Social Committee on
nunca irão prescindir da condução de ade- the Communication from the Commission to the
quados processos participativos e dinâmicos European Parliament, the Council, the European
Economic and Social Committee and the Com-
processos avaliativos para que o escopo de mittee of the Regions – Launching the public
seus delineamentos legais repercutam em efe- consultation process on a new energy market
design (COM(2015) 340 final). Brussels, 20 January
tivas mudanças na rota energética de um país, 2016. Disponível em: <http://www.eesc.europa.
que longe de estar isolado por meros limites po- eu/?i=portal.en.ten-opinions.36786>.
líticos, pelo contrário, compartilha o mundo fí- EUROPEAN UNION (a). Commission launches plan for En-
sico e biológico, com todos os seus interligados ergy Union. Disponível em: https://ec.europa.
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