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Maria Gabriela Secco Cavicchioli

Educação em diabetes: capacidade e ação para o


autocuidado

Tese apresentada à Universidade Federal de


São Paulo, para obtenção de Título de
Mestre em Ciências.

São Paulo

2010
Maria Gabriela Secco Cavicchioli

Educação em diabetes: capacidade e ação para o


autocuidado

Tese apresentada à Universidade Federal de


São Paulo, para obtenção de Título de Mestre
em Ciências.

Orientador: Prof. Dra. Monica Antar Gamba

Co-orientadora: Prof. Dra. Odete de Oliveira

São Paulo

2010
Dedicatória

A Deus, meu melhor amigo, que sempre está ao meu lado.

A todas as pessoas com diabetes que passaram em minha vida, quer como
pacientes ou amigos e que, muitas vezes, se tornaram “amigos-pacientes”,
despertando em mim o interesse em buscar formas de prevenção das
complicações e, consequentemente, me levaram ao encontro da arte de educar.

Aos meus pais, Maria Cristina Secco Cavicchioli e Antonio Fernando


Cavicchioli e ao meu irmão João Gabriel Secco Cavicchioli, meus pilares, que
me ensinaram a sempre ultrapassar os desafios impostos pela vida e que
estiveram ao meu lado nos momentos de conquistas e de frustações durante
todo o processo do Mestrado, e que não me deixaram desistir deste sonho.

Ao meu amor, Gustavo, que em pouco tempo tem me ajudado a ser um ser
humano melhor e que compartilhou comigo o seu conhecimento e experiência,
contribuindo muito na construção desta tese.
Agradecimentos

Aos meus avós Suzana Leite Secco (in memorian) e Orlando Secco (in memorian)
e Nair Cavicchioli (in memorian) e Hugo Cavicchioli que me ensinaram a
importância da família e do amor.

Ao meu irmão, João Gabriel Secco Cavicchioli e a minha cunhada Tatiana


Orofino, que tentou exaustivamente me ensinar estatística (inclusive aos
sábados à noite!).

Ao meu pai, Antonio Fernando Cavicchioli, que com simples gestos como a
preparação do café da manhã, tornou possível esta jornada e demonstrou o seu
carinho e apoio diariamente.

A minha mãe, Maria Cristina Secco Cavicchioli, que me apoiou emocionalmente


e me deu suporte prático (em especial com o banco de dados) e, sem a qual esta
tese nunca teria ficado pronta.

A minha orientadora, Prof. Dra. Mônica Antar Gamba, que desde a graduação
acreditou em mim, me deu a oportunidade de crescer pessoalmente e
profissionalmente e que, principalmente, me ensinou a ser uma pessoa mais
humana.

A minha co-orientadora, Prof. Dra.Odete de Oliveira, que me introduziu nesta


área no meu segundo ano de faculdade.

A toda a equipe da Bio Sana´s- Serviços de Saúde: Tarcila , Camila, Marcia,


Telminha, Marisa e Solange, que me ajudaram na coleta de dados e na parte
organizacional. Em especial a Enfermeira Lina Monetta, que acreditou na minha
idéia e que permitiu que este Mestrado se tornasse realidade; obrigada por todo
aprendizado profissional e pessoal!

A todos os integrantes do Cuidiabet que me permitiram usufruir de seus dados


pessoais para este estudo, colaborando assim com a melhoria da educação em
diabetes.

A toda equipe do Grupo de Educação em Diabetes do Hospital do Rim e


Hipertensão que durante todo este tempo de estágio me ajudaram a crescer
como profissional, como líder e, em especial, como pessoa. Em especial ao Dr.
Pimazoni, que compartilhou o seu conhecimento e experiência com todo o
grupo, nos capacitando no conhecimento do diabetes.

Ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz que me permitiu realizar este sonho. Em


especial aos meus companheiros de sala: Genova Principe, Karin Gonçalves,
Valéria Rodrigues e Luis Gustavo Garavelli, pessoas sem as quais eu nunca
teria sido capaz de cumprir todas as obrigações do Mestrado e do HAOC;
obrigada também pelos momentos de descontração!

A equipe do Centro de Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Graça


Camara, Tarcila Campos, Irma Cianfrone, Amanda Lobo, Dr. Pimazoni e Dr.
Betti, por todo apoio.

A ABET, representada principalmente pela Katia, Neusa e Núbia, que também


acreditaram na essência do Programa de Educação Cuidiabet, permitindo sua
realização.

A Professora Ana Cristina Passarella Bretas e ao Anderson da Silva Rosa, que


me ensinaram a não estar sempre debaixo do lustre, mas subir às vezes e
acreditar que nós somos capazes de realizar os nossos sonhos e que devemos
sempre defender as nossas idéias, mesmo quando elas saem do tradicional.
Agradeço também pelo aprendizado da forma de educar de Paulo Freire, que
fundamentou as atividades educativas desta tese.

A Tarcila Beatriz Ferraz de Campos, minha grande amiga, que também


acreditou na minha idéia e que esteve sempre ao meu lado compartilhando os
momentos de alegria e de frustração no decorrer de todo Cuidiabet.

As minhas amigas Júlia Guimarães e Luciana Berlofi pela amizade e


companheirismo desde a época da faculdade.
Lista de abreviaturas

A Ação

AADE American Association of Diabetes Educators

ADA Associação Americana de Diabetes

ADJ Associação de Diabetes Juvenil

ADO Antidiabético oral

C Capacidade

DCCT Diabetes Control Complications Trial

DCV Doença cardiovascular

DM Diabetes Mellitus

DM2 /DM1 Diabetes Mellitus tipo2 / tipo 1

EAAD Escala para Avaliar as Ações de Autocuidado da Pessoa


Portadora de Diabetes

ECAD Escala para Avaliar as Capacidades de Autocuidado da Pessoa


Portadora de Diabetes

GM Glicemia Média (GM)

HAS Hipertensão arterial sistêmica

HbA1C hemoglobina glicada

IDF Federação Internacional de Diabetes

IMC índice de Massa Corpórea

ITB Índice Tornozelo Braço

OMS Organização Mundial de Saúde

PED Programa de Educação em Diabetes

SBD Sociedade Brasileira de Diabetes

SUS Sistema Único de Saúde

UNIFESP Universidade Federal de São Paulo

VG Variabilidade Glicêmica
Resumo

Introdução: Existem no mundo cerca de 240 milhões de pessoas com


diabetes mellitus (DM). A educação em diabetes tem sido vista como um
dos principais pilares do tratamento. Objetivo:Identificar a capacidade
(conhecimento) e a ação para o autocuidado em diabetes por meio da
aplicação de uma escala antes e após uma intervenção educativa e
relacionar esta com os sete comportamentos para a educação em
diabetes. Método: trata-se de um estudo correlacional com intervenção
educativa. Foi realizado um Programa de educação em diabetes (PED)
por 12 meses com 41 pessoas do sistema privado de saúde e aplicada a
Escala para Avaliar as Capacidades de Autocuidado da Pessoa Portadora
de Diabetes (ECAD) e a Escala para Avaliar as Ações de Autocuidado da
Pessoa Portadora de Diabetes (EAAD) no início e final do programa.
Resultados: Verificou-se melhora estatisticamente significativa dos
valores de hemoglobina glicada, variabilidade glicêmica e variação
diastólica da pressão arterial. Não houve melhora significativa no perfil
lipídico e na composição corporal dos indivíduos. Em relação às escalas,
verificou-se uma melhora significativa na comparação inicial e final dos
escores da EAAD e ECAD. No período igual ou superior a cinco anos de
diagnóstico, as capacidades foram superiores às ações para o
autocuidado, tanto na fase inicial como na final do programa. Em relação
aos sete comportamentos, verificou-se que o item enfrentamento
saudável não foi contemplado na escala e que os outros, apesar de
presentes, necessitariam ser mais amplos. Conclusão: Programas de
educação são essenciais para a capacitação da pessoa com diabetes para
manejar a sua doença. Acredita-se que, apesar da ECAD e EAAD terem
apresentado diferença estatisticamente significativa entre as duas etapas
do programa, estas não contemplam todas as ações necessárias para o
controle do DM e a prevenção de complicações agudas e crônicas.
Summary

Introduction: The world has about 240 million people with diabetes
mellitus (DM).The diabetes education has been seen as one of the
mainstays of treatment. Objective: Identify the capacity (knowledge) and
action for self-care in diabetes, through the application of a scale before
and after an educational intervention and its relationship with the seven
behaviors for diabetes education. Method: This is a correlational study
with an educational intervention. We conducted a program of diabetes
education (PED) during 12 months with 41 people from the private
health care system and applied the Scale for Assessing Self-Care
Capabilities of Persons with Diabetes (ECAD) and the Scale for Assessing
the Actions of Self-Care of the Person with Diabetes (EAAD) at the
beginning and end of the program. Results: There was significant
improvement in glycated hemoglobin levels, glucose variability and
change in diastolic blood pressure. No significant improvement was seen
in lipid profile and body composition of individuals. In relation to the
scales, there a significant improvement was seen in the comparison with
the initial and final scores EAAD and ECAD. In the period of five years
or more of diagnosis, the capacities were higher than for self-care actions,
both in the initial and the final program. Regarding the seven behaviors,
it was found that the healthy coping item was not included in the scale
and the others, although present, would need to be broader. Conclusion:
Education programs are essential to the empowerment of people with
diabetes to manage their disease. It is believed that, despite the ECAD
and EAAD have shown statistically significant difference between the
two stages of the program, they do not include all actions necessary for
the control of diabetes and prevention of acute and chronic
complications.
Sumário

Dedicatória

Agradecimentos

Listas

Resumo

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 A opção da temática 2

1.2 Objetivos 4

1.2a Objetivo geral 4

1.2b Objetivos específicos 4

2 REVISÃO DE LITERATURA 5

2.1 Diabetes mellitus: aspectos clínicos 5

2.2 Diretrizes para a educação em diabetes 9

2.3 Educação e autocuidado em diabetes 17

2.3a Empoderamento e o autocuidado 18

2.3b Educador 20

2.3c Educando: a pessoa a ser cuidada 23

2.4 Escalas de avaliação 24

3 METODO 26

3.1 Tipo de estudo 26

3.2 Local 26

3.3 Período 27

3.4 Seleção da amostra 27


3.4.1 Etapas da amostragem 27

3.5 Etapas do processo educativo 29

3.5a Descrição das atividades de educação 30

3.6 Variáveis do estudo 33

3.6.1 Variáveis demográficas 33

3.6.2 Variáveis socioeconômicas 33

3.6.3 Variáveis relativas ao estilo de vida 34

3.6.4 Variáveis clínicas 34

3.7 Aplicação das escalas 37

3.8 Aspectos éticos 37

3.9 Análise estatística 38

4 RESULTADOS 39

4.1 Análise descritiva 39

4.2 Análise dos escores das Escalas de Capacidade e Ação para 50


o autocuidado da pessoa com diabetes

5 DISCUSSÃO 57

6 IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA 74

7 CONCLUSÃO 76

8 REFERÊNCIAS 77

9 ANEXOS 86
INTRODUÇÃO
REVISÃO DE LITERATURA
MÉTODO
RESULTADOS
DISCUSSÃO
IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANEXOS
Cavicchioli, Maria Gabriela Secco

Educação em diabetes: capacidade e ação para o autocuidado. /Maria


Gabriela Secco Cavicchioli.—São Paulo, 2010.

116f. x

Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista


de Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.

Título em inglês:

1. Enfermagem 2. Diabetes 3. Educação


1
Introdução

INTRODUÇÃO

Estima-se que, atualmente, existam no mundo cerca de 240 milhões


de pessoas com diabetes mellitus (DM), 6% da população e que, em 2025 esse
número chegue a 350 milhões1.

ALLEYNE afirma que a ausência ou insuficiência de informações é a


causa das complicações e mortes pela doença. Para que essa informação seja
assegurada é fundamental o desenvolvimento da educação para o cuidado
com o diabetes mellitus. A frase de Elliot P. Joslin é usada pela Organização
Panamericana de Saúde (1996) para definir a importância da educação em
diabetes: “educação em diabetes se tornou não só em um elemento do
tratamento, mas o próprio tratamento dessa condição2”.

As sociedades mundialmente envolvidas com a temática vêm, ao


longo dos anos, buscando, por meio de estudos, determinar diretrizes para
nortear a realização da educação em diabetes. A forma de analisar os
resultados a curto, médio e longo prazo tem sido uma das estratégias
discutidas.

Na maior parte das vezes, a avaliação dos resultados dos programas


de educação tem sido mensurada por meio de parâmetros clínicos, porém a
busca por formas específicas de identificação desses resultados é um desafio
para muitos profissionais que atuam na área de educação em diabetes. As
escalas de avaliação, que são utilizadas em diversas áreas, surgem como uma
das opções objetivas. A idéia do uso desse instrumento antes da intervenção
educativa, como norteador para o planejamento das ações de intervenção e
após o término do programa, pode auxiliar o entendimento dessa intervenção,
colaborando para o reconhecimento das necessidades e lacunas para o
comportamento do autocuidado para o controle da doença.
2
Introdução

A hipótese do presente estudo consiste na idéia de que os


programas educativos que conferem autonomia para as pessoas com diabetes
podem capacitá-los para o automanejo de sua doença. A Escala para Avaliar
as Capacidades de Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes (ECAD) e
Escala para Avaliar as Ações de Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes
(EAAD), traduzida por Silva foi um instrumento identificado que pudesse
mensurar os resultados de programas de educação. Essa escala abrange não
apenas o conhecimento para o controle da doença mas também a capacidade
e a ação para esse controle3.

1.1 A opção da temática

O diabetes mellitus permeou o meu processo de formação


profissional desde o início da graduação, quando participei do XXII
Acampamento para crianças com diabetes, uma parceria da UNIFESP com a
Associação de Diabetes Juvenil (ADJ). O que me chamou atenção no primeiro
momento foi o fato de ser um acampamento, atividade que eu já desenvolvia
desde a minha infância. Após uma semana de atividades, encantei-me com a
importância do papel do enfermeiro na educação das pessoas com diabetes.
Participei da Liga de Diabetes, iniciei um trabalho voluntário na ADJ, ou seja,
optei pela minha área de atuação. A partir daí, participei de muitas
atividades na área, realizei muitos trabalhos, que permitiram muita
aprendizagem e conseqüente desenvolvimento profissional. Não há dúvidas de
que fiz a opção correta.

Dentre as atividades que desenvolvi ao longo dos últimos anos, a


participação em programas de educação em diabetes ganhou destaque. Nesse
processo dois aspectos sempre me chamaram a atenção:
3
Introdução

- Existem inúmeros programas para pessoas que utilizam o Sistema


Único de Saúde (SUS), porém pouco se encontra direcionado à população que
usufrui do sistema privado para o cuidado de sua saúde. Será que essas
pessoas se beneficiariam de um programa de educação em diabetes?

- Como conhecer as necessidades da pessoa com diabetes para


desenvolver um programa individualizado e conseguir avaliá-lo ao término,
visando conhecer os seus resultados com o intuito de aperfeiçoá-lo? A busca
por uma forma de avaliação me remeteu à utilização de uma Escala para
Avaliar as Capacidades de Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes e
Escala para Avaliar as Ações de Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes.

Dessa forma, a opção dessa temática constituiu da escolha para o


desenvolvimento do Mestrado.
4
Introdução

1.2 Objetivos

1.2a Objetivo geral

- Identificar a capacidade e a ação para o autocuidado em diabetes


por meio da aplicação de uma escala antes e após uma intervenção educativa.

1.2b Objetivos específicos

- Caracterizar as variáveis sóciodemográficas, clínicas,


características da pele e de hábitos pessoais da população do estudo.
- Comparar a variação de indicadores clínicos, tais como: índice de
massa corpórea, circunferência abdominal, hemoglobina glicada, glicemia
média, variabilidade glicêmica, pressão arterial, colesterol total e frações,
triglicérides, glicemia de jejum e a prática de atividade física, antes e após a
intervenção educativa.
- Comparar os escores obtidos pelos participantes do estudo
mediante aplicação da Escala para Avaliar as Capacidades de Autocuidado da
Pessoa Portadora de Diabetes (ECAD) e Escala para Avaliar as Ações de
Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes (EAAD), antes e após a
intervenção educativa.
- Relacionar as questões da Escala para Avaliar as Capacidades de
Autocuidado e Escala para Avaliar as Ações de Autocuidado da Pessoa
Portadora de Diabetes, aos sete comportamentos de autocuidado
preconizados como padrão para o “Diabetes Self management education” pela
Associação Americana de Educadores em Diabetes (AADE)4.
5
Revisão de Literatura

2 REVISÃO DE LITERATURA

Na concepção do modelo teórico de educação para o controle do


diabetes, vivenciou-se um momento difícil, já que precisamos dar significado
aos nossos pensamentos, crenças e práxis. Buscou-se modelos nas diretrizes
ditadas pelas sociedades especializadas na educação em diabetes, porém
apenas se identificaram os pontos importantes para a construção de um
programa de educação e não a forma pedagógica de interagir com o ser
humano, no caso, a pessoa com diabetes. Foi assim que voltei a estudar
aquilo que aprendi durante a Graduação, mais especificamente nos projetos
de extensão da Universidade. Uma grande professora me disse em um dia de
angústia em busca da teorização de conceitos: “você já chegou à Universidade
fazendo educação baseada nos conceitos de Freire, só não sabia que alguém
já tinha escrito essa forma de educar”. Em vista disso, não pude fazer outra
opção a não ser basear os preceitos educativos do meu projeto nos estudos de
Paulo Freire.

2.1 Diabetes mellitus: aspectos clínicos

O diabetes mellitus compreende uma síndrome de etiologia


múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina
exercer adequadamente seu efeito. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica
acompanhada de alterações no metabolismo dos carboidratos, lipídeos e
proteínas5.

A classificação atualmente recomendada é baseada na etiologia da


doença e não mais no tipo de tratamento recomendado. Pode-se então
classificar DM em quatro classes clínicas: tipo 1, tipo 2, diabetes gestacional
e outros tipos específicos. Além dessas existem duas categorias definidas
6
Revisão de Literatura

como pré-diabetes: glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose


5,6,7
diminuída .

Caracterizado por defeitos na ação e/ou secreção da insulina pela


célula beta e associado geralmente ao sobrepeso ou obesidade, o diabetes
tipo 2 está presente na grande maioria dos casos (90-95%). Usualmente,
ambos os efeitos estão associados à hiperglicemia, porém pode haver
predomínio de um deles. O DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas
geralmente é diagnosticado após os 40 anos. Destacamos, porém, que, nas
últimas décadas, a incidência de DM2 em jovens tem aumentado
gradativamente6.

A Federação Internacional de Diabetes (IDF) estima que,


atualmente, existam no mundo cerca de 240 milhões de pessoas com
diagnóstico da doença (6% da população) e que em 2025, esse número chegue
em 350 milhões. Estima-se que, em 2007, o DM foi responsável por 3,5
milhões de mortes globais. O Censo Nacional de Diabetes (1988) constatou que
a prevalência média de portadores do diabetes era de 7,6% na população
urbana entre 30 e 69 anos e que 7,8%, nessa mesma faixa etária,
apresentaram tolerância diminuída à glicose. Em 2001, baseado em estudo
desenvolvido na cidade de Ribeirão Preto- SP, estimou-se a existência de 10,3
1,8,9
milhões de brasileiros com DM .

O DM mal controlado resulta em hiperglicemia prolongada, que é


responsável pelo desenvolvimento de lesões em alguns órgãos do corpo
humano, como olhos, rins, nervos e vasos sanguíneos. Esse mecanismo ocorre
em função da toxicidade da glicose: promoção da glicação de proteínas,
hiperosmolaridade e aumento dos níveis de sorbitol dentro da célula10.

O DM2 também tem tido destaque nos últimos anos por ser um dos
tripés da mais comum doença metabólica da atualidade. A síndrome
metabólica caracteriza-se pela associação de dislipidemia, diabetes mellitus
do tipo 2 ou intolerância à glicose, hipertensão arterial e excesso de peso ou
obesidade. O aumento do número de pessoas com essa síndrome e os elevados
7
Revisão de Literatura

fatores de risco mostram a necessidade da identificação da doença e


implementação de estratégias de prevenção11,12.

O DM é considerado um importante problema de saúde pública pela


sua magnitude, por estar associado a complicações crônicas que
comprometem a qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos, além dos altos
custos que envolvem seu tratamento adequado 5.

A avaliação do controle glicêmico é essencial para o


acompanhamento do diabetes e, conseqüentemente, é a melhor ferramenta
para a prevenção das complicações agudas e crônicas. Esse controle pode ser
feito de duas maneiras: testes de glicemia e de hemoglobina glicada. O
primeiro teste reflete o valor glicêmico do momento da coleta, enquanto o
segundo demonstra uma glicemia média pregressa dos últimos dois a quatro
meses7.

O estudo Diabetes Control Complications Trial (DCCT) foi o


primeiro trabalho que demonstrou à sociedade científica a correspondência da
relação entre os níveis de hemoglobina glicada (A1C) e os respectivos níveis
médios de glicemia (GM). Em 2008, essa relação foi reavaliada por um grupo
de pesquisadores e novos valores foram apresentados. Atualmente, os valores
recomendados são: A1C de 6,5% que corresponde a uma GM de 140 mg/dl
(meta da Sociedade Brasileira de Diabetes-SBD) e 7%, que corresponde a uma
GM de 154 mg/dl (meta da American Diabetes Association- ADA)13,14.

As diretrizes da SBD recomendam que os testes de hemoglobina


glicada devem ser realizados pelo menos duas vezes ao ano para todas as
pessoas com diabetes e a cada três meses para aquelas que estão sendo
submetidas a alterações do esquema terapêutico ou que não estejam
atingindo os objetivos recomendados com o tratamento vigente11.

Atualmente, dois outros parâmetros de avaliação do controle


glicêmico têm sido utilizados: glicemia média (GM) e variabilidade glicêmica
(VG). Estudo realizado com DM1 demonstrou que a GM se mostrou melhor
preditor de complicações macrovasculares em comparação à HbA1C. Destaca-
8
Revisão de Literatura

se ainda que a VG vem sendo considerada como um fator de risco isolado para
as complicações do diabetes, independente dos valores elevados de GM15,16,17.

A recomendação de freqüência da realização da monitorização


glicêmica deve ser adaptada às necessidades de cada pessoa e revistas sempre
que necessário. Pontos como grau de estabilidade glicêmica, condição clínica
e alteração de tratamento devem ser considerados. O objetivo principal da
glicemia capilar é proporcionar uma visão realista do nível glicêmico durante
todo o dia. O posicionamento oficial da SBD, que enfatiza os horários para o
controle glicêmico, foi publicado em 2006 e recomenda os seguintes horários
para realização da glicemia capilar: três testes pré-prandiais, três testes pós-
prandiais (2 horas após o início das refeições) e um teste de madrugada
(apenas para pessoas insulinizadas)18.

A frequência mínima de testes sugerida é:

• tipo 1- três testes ou mais /dia;

• tipo 2 insulinizado – três testes/dia;

• tipo 2 não insulinizado – um ou dois testes/semana.

As diretrizes da SBD (2008) destacam a necessidade de métodos


“confiáveis e de fácil implementação e utilização e de baixo custo para
avaliação em curto prazo do controle glicêmico e da adequação da conduta
terapêutica”. Como exemplo cita o método experimental de glicemia média
semanal (GMS), que foi desenvolvido pelo Grupo de Educação e Controle do
Diabetes do Centro de Hipertensão e Metabologia Cardiovascular do Hospital
do Rim da Universidade Federal de São Paulo, do qual a autora do presente
estudo é uma das integrantes11.

De acordo com as diretrizes para o controle de eventos crônicos, a


qualidade de vida da pessoa com doença crônica e de sua família é
extremamente importante, destacando-se o papel da família para a
consecução desse objetivo. A pessoa não é um participante passivo no
tratamento; pelo contrário, é considerado um “produtor de saúde”19.
9
Revisão de Literatura

Para controlar e prevenir o DM, entre outras condições crônicas, os


indivíduos precisam estar:

• informados sobre o DM, incluindo seu ciclo, as complicações


esperadas e as estratégias eficazes para prevenir as complicações e
administrar os sintomas;

• motivados para mudar seus comportamentos visando assegurar


um estilo de vida saudável, aderir a tratamentos de longo-prazo e
autogerenciar o DM;

• preparados para manejar o diabetes em casa. Isso inclui a


disponibilidade de medicamentos, instrumentos de automonitoramento e
habilidades de autogerenciamento20.

Sendo assim, destaca-se a importância da educação da pessoa com


diabetes como elemento fundamental para a prevenção das complicações da
doença 2.

2.2 Diretrizes para educação em diabetes

2.2 Diretrizes para educação em diabetes

Atualmente o mundo possui federações/associações que produzem


diretrizes para orientação do desenvolvimento de programas educativos em
diabetes mellitus, baseados na literatura científica. Destacaremos abaixo os
pontos mais importantes dos documentos publicados pelos principais órgãos
internacionais.

A educação em diabetes teve o seu inicio formal em meados de 1930


com os programas desenvolvidos na Clinica de Joslin (EUA). Desde então, este
tem sido tema de muitas discussões entre os profissionais envolvidos com a
questão. Em 1983, nos Estados Unidos, em função da crescente prática da
educação em diabetes no país, foi desenvolvido, com o intuito de melhorar a
10
Revisão de Literatura

qualidade, disponibilidade e efetividade dos programas de educação, o


primeiro documento oficial denominado: Padrões Nacionais para Programas de
Educação em Diabetes. Destaca-se que estes padrões foram desenvolvidos
genericamente para serem implementados e adequados a realidade e
necessidade das mais diversas localidades. Em 1986 foi implementado pela
ADA um processo para certificação dos programas que estavam dentro dos
padrões estabelecidos21.

No documento revisado em 1993 por este grupo de especialistas, iniciou-se


a alteração da nomenclatura de Programas de Educação em Diabetes para
Programas de Automanejo do Diabetes (Diabetes Self- Management
Education- DSME) pois desde então passou-se a compreender a necessidade da
pessoa com diabetes manejar a sua doença. Em função de alguns dos
resultados do DCCT como importância da atividade física, automonitorização
e re-educação alimentar, a mudança de comportamento na educação em
diabetes passou a ser peça fundamental para a aquisição de um bom controle
da doença14,21.

O DSME tem como objetivo auxiliar as pessoas com diabetes a


adquirirem conhecimentos, habilidades e comportamentos necessários para
aperfeiçoarem o autocontrole do diabetes e sua qualidade de vida por meio
da mudança de comportamento. Destaca-se que a aquisição de conhecimento
não significa a aquisição de novos hábitos. Sendo assim, internalizar os novos
conceitos e transformá-los em novos comportamentos é o maior desafio22.

Em relação ao currículo que deve ser oferecido a pessoa com diabetes


descrito neste ano (1993), foi determinada a necessidade de 15 áreas focos
que, teoricamente, abordariam todos os conceitos importantes para o
automanejo do diabetes. Destaca-se que o conteúdo deve ser abordado
conforme a necessidade de cada pessoa. Seguem as áreas: Visão geral do
diabetes; Adequação psicossocial e do stress; Envolvimento familiar e suporte
social; Nutrição; Exercício e atividade física; Medicação; Monitorização e
aplicação dos resultados; Relação entre nutrição, exercício, medicação e nível
11
Revisão de Literatura

da glicose sanguínea; Prevenção, detecção e tratamento das complicações


agudas; Prevenção, detecção e tratamento das complicações crônicas;
Cuidados com os pés, pele e dentes; Estratégias de mudança de
comportamento, metas estabelecidas, redução de fatores de risco e solução
de problemas; Benefícios, riscos e opções de manejo para melhorar o controle
glicêmico ; Cuidados pré-concepção, gravidez e diabetes gestacional; Uso do
sistema de saúde e recursos da comunidade21.

Novas revisões deste documento foram feitas periodicamente por


especialistas da área. No ano de 2003, em novo documento publicado, a
American Association of Diabetes Educators (AADE) estabeleceu sete medidas
de avaliação comportamental como parâmetros de qualidade dos resultados
obtidos em um programa de educação, tais como:

• atividade (incorporação de atividade física no estilo de vida);

• alimentação saudável (incorporação do manejo nutricional no


estilo de vida);

• monitorização (monitorizar e interpretar a glicemia e outros


parâmetros, além de usar os resultados obtidos na tomada de
decisão);

• medicação (usar a medicação com segurança e para a máxima


efetividade terapêutica);

• resolução de problemas (prevenir, detectar e tratar


complicações agudas);

• enfrentamento saudável (desenvolver estratégias personalizadas


para acessar problemas psicossociais;

• redução de riscos (prevenir, detectar e tratar complicações


crônicas)4,23.
12
Revisão de Literatura

O sucesso da proposta foi baseado ainda em um processo de consistente


medida de indicadores específicos (medidas de resultados), a frequência e o
intervalo de medida desses indicadores (resultados monitorados) e como esses
resultados são usados para a tomada de decisões clínicas e educacionais
(gerenciamento de resultados). O objetivo principal desses indicadores é um
melhor entendimento de quais intervenções são mais apropriadas para
determinada população sempre tendo como base as sete medidas
anteriormente citadas4.

As medidas desses resultados devem ser mensuradas por meio do


registro das atividades realizadas e apresentam como vantagens: verificar a
efetividade da intervenção específica, registrar a evolução do paciente e
identificar os de alto-risco, identificar processos e práticas do cuidado do
paciente e registrar informações econômicas para o sistema de saúde.

A monitorização de resultados foi dividida em quatro categorias:

• imediatos: mensurados no momento da intervenção e verificados por


testes ou observação direta, visam aumentar o conhecimento do
paciente;

• intermediários: visam desenvolver atitudes que levam à mudança de


comportamento (sete comportamentos) e podem ser mensuradas por
meio de relato pessoal;

• pós-intermediários: mensurados após algum tempo, requerem mais de


uma medida e podem mostrar mudanças estatísticas. A melhora clínica
resulta da interação do automanejo do participante, associado ao
manejo clínico. São considerados diversos fatores: indicadores clínicos-
HbA1c, pressão arterial, lipídeos e peso; medidas de evolução- exame
dos olhos e dos pés; outras medidas - cessação do hábito de fumar, uso
de aspirina e aconselhamento pré-gestacional;
13
Revisão de Literatura

• a longo prazo: resultados após um longo período. Dessa forma o


educador trabalha em conjunto com o participante para manutenção
de atitudes de automanejo da saúde (estado geral da saúde, qualidade
de vida, dias de trabalho ou escola perdidos, complicações do diabetes
4,6,24
e custos com cuidados de saúde) .

A AADE coloca ainda que um dos principais objetivos da educação em


diabetes é melhorar os resultados por meio do empoderamento da pessoa com
diabetes com: aquisição de conhecimento (o que fazer), aquisição de
habilidades (como fazer), desenvolver confiança e motivação para realizar as
atitudes adequadas para o autocuidado (posso fazer isso) e desenvolver a
resolutividade e habilidade de superar qualquer barreira que venha a aparecer
em relação às atitudes do autocuidado. O objetivo principal do
empoderamento é possibilitar aos indivíduos e coletivos o aprendizado que os
torne capazes de viver a vida em suas distintas etapas e de lidar com as
4,25,26
limitações impostas por eventuais enfermidades .

O direcionamento proposto pela AADE ainda faz uso do conceito de


processo de melhoria continua da qualidade para verificar a efetividade das
ações realizadas; refere, porém, que existem inúmeras formas de fazê-lo.
Deixa como passos:

1. identificar o problema/oportunidade;

2. coletar os dados (necessita determinar os indicadores);

3. analisar os dados;

4.identificar as soluções alternativas;

5. desenvolver um plano de implementação;

6. implementar o plano;

7.avaliar as ações ;

8. continuar o aprimoramento4.
14
Revisão de Literatura

Como o aprendizado ativo é prioritário ao passivo, é recomendado que


as necessidades individuais/grupo sejam definidas antes do início do processo
educativo. O “gold standard” da educação é reconhecido quando a pessoa
com diabetes antecipa um problema relativo ao autocuidado e realiza ações
como contatar o educador e discutir o problema para que, juntos, consigam
resolvê-lo. No geral, os resultados esperados da educação em diabetes são:
aumentar o conhecimento, construir habilidades, desenvolver atitudes que
geram melhora no controle metabólico e na qualidade de vida, prevenir as
complicações e facilitar as tomadas de decisão para o autocuidado em DM27.

No período de cada cinco anos, os maiores especialistas em educação


em diabetes dos Estados Unidos se reúnem para revisar os Padrões Nacionais
para o Automanejo da Educação em Diabetes (National Standards for Diabetes
Self-Management Education), que são baseados nos trabalhos científicos
publicados nesse período. Em 2008, foi publicado no periódico “Diabetes
Care” o mais recente documento com os padrões americanos, no qual os sete
comportamentos para o autocuidado do diabetes, entre outros conceitos
desenvolvidos pela AADE, foram incorporados entre os Padrões Nacionais para
o Automanejo da Educação em Diabetes propostos28.

A Sociedade Brasileira de Diabetes, órgão referência tanto para os


profissionais envolvidos com o diabetes como para as pessoas com diabetes,
baseou-se nos padrões acima citados adaptados à realidade do país e, em
2007, publicou, dentro de um documento denominado Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Diabetes, um capítulo chamado Educação do Paciente com
Diabetes Mellitus, no qual estabelece as seguintes diretrizes6:

• o aprendizado ativo é colocado como a melhor opção para a


educação, sendo assim o educador deve conhecer as
necessidades individuais antes de iniciar o processo educativo;

• a prática da educação em diabetes deve integrar atendimento


clínico, promoção de saúde, aconselhamento, manejo e
pesquisa;
15
Revisão de Literatura

• a educação deve ser multidisciplinar, constituída no mínimo por


um enfermeiro e um nutricionista, podendo também dela
participar especialistas de exercício, psicólogas, farmacêuticos e
médicos coletivamente qualificados para ensinar;

• o programa deve conter a documentação dos objetivos e a


avaliação dos resultados obtidos, de acordo com as seguintes
categorias:

- imediatos: aumentar o conhecimento;

-intermediários: desenvolver atitudes que levam à


mudança de comportamento;

- pós-intermediários: melhora clínica e metabólica;

- longo prazo: melhora do estado de saúde e da qualidade


de vida, reduzindo ou prevenindo as complicações crônicas.

• o processo deve ser contínuo para atingir todas as


categorias de resultados6.

No ano de 2008, com o intuito de aprimorar os serviços de atenção à


pessoa com diabetes, a SBD incluiu novo capítulo nas diretrizes publicadas,
cujo objetivo foi definir os indicadores básicos na avaliação da qualidade do
atendimento das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial,
por meio de auditoria de prontuários e com o foco principal de viabilizar a
comparação de serviços médicos e propor cursos de capacitação para melhora
dos indicadores brasileiros. Apesar de o objetivo não ser verificar a parte
educacional desses serviços, os dados selecionados pela SBD para avaliação
são os indicadores reconhecidos mundialmente com o poder de avaliar os
conteúdos do atendimento em relação às medidas de processos e indicadores
de desfechos/resultados11,7.

Dessa forma foram analisados os seguintes itens: pressão arterial


sistólica e diastólica, medida de circunferência abdominal, hemoglobina
16
Revisão de Literatura

glicada, LDL/HDL colesterol, fundoscopia, exame/avaliação da função renal,


atividades educacionais relacionadas ao fumo, prescrição de aspirina,
prescrição de uso de inibidores de ECA. Além desses, foram destacados outros
indicadores mais específicos: educação nutricional, prática de educação
física, automonitoramento glicêmico e indicadores de satisfação do cliente
com o serviço11.

Sendo assim, julga-se oportuno utilizar alguns desses indicadores para


avaliação da educação em diabetes como medida para a garantia de um
programa educacional de qualidade.

2.3 Educação e autocuidado em diabetes

(Cavicchioli MGS; Gamba MA in Batista F. Pé diabético: abordagem pela


equipe multidisciplinar. Editora Livraria Andreoli.)

Corroborando com a idéia de que a reflexão crítica sobre a prática


se torna uma exigência da relação Teoria/Prática, discorre-se a seguir sobre
os preceitos teóricos que fundamentaram a construção do Programa de
Educação em Diabetes (PED)29.

O Ministério da Saúde, em documento desenvolvido pela diretoria


de programas de educação em saúde, define a educação como um processo
representado por toda e qualquer influência sofrida pelo individuo capaz de
modificar-lhe o comportamento. Classifica-a em dois tipos: heteroeducação e
autoeducação. Entende-se por heteroeducação o processo no qual as
influências incidem sobre o individuo independentemente da sua vontade,
enquanto no segundo tipo ocorre a participação intencional do educando em
procurar influências capazes de lhe modificar o comportamento. Segundo o
documento acima citado, o Ministério tem por pressuposto estimular a
autoeducação em todos os seus processos de Educação em Saúde30.

A Promoção à Saúde, em sua abordagem socioambiental, constitui


atualmente um dos principais modelos teórico-conceituais que subsidiam as
políticas de saúde mundiais, entre elas o Sistema Único de Saúde (SUS).
Inúmeras estratégias são priorizadas, entre elas podemos citar a criação de
17
Revisão de Literatura

ambientes sustentáveis, a reorientação dos serviços de saúde, o


desenvolvimento da capacidade dos sujeitos individuais e o fortalecimento de
ações comunitárias. Baseado nessas estratégias, alguns princípios se têm
destacado: a importância de se atuar nos determinantes e causas da saúde e
da necessidade de elaboração de alternativas às práticas educativas25.

Baseando-se nesses princípios, entende-se que a educação em


saúde passa a ter um papel fundamental para que a promoção à saúde
populacional seja alcançada. Educar com o intuito de prevenir doenças ou
seus agravos garante melhor qualidade de vida às pessoas.

Paulo Freire, no início da sua exposição de seu livro Pedagogia da


Autonomia, coloca que o ser humano se tornou uma “... presença no mundo,
uma presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém
que transforma, que fala do que faz, mas também do que sonha, que
constata, compara, avalia,valora, que decide, que rompe”1. Respeitando o ser
humano como um ser individual e único e responsável por sua autoeducação,
desenvolvemos um programa educativo para pessoas com diabetes, baseado
no trabalho de Paulo Freire1 e no conceito de empoderamento 25,29
.

O foco principal do trabalho de Freire é a formação didático-


pedagógica dos docentes. Notamos, porém, que os fundamentos educativos
usados por ele são essenciais à prática educativa, seja ela na relação
educando/educador, ou na interrelação dos profissionais de saúde com seus
pacientes. O processo educativo proposto corrobora com a prática
pedagógico-progressista vivenciada pelo autor. Nesse modelo, o educador
conhece a leitura de mundo do educando por meio do ouvir e a respeita,
reconhece a historicidade do saber e desperta a curiosidade, recusando, dessa
forma, a arrogância cientificista e trabalhando os conceitos por meio da
problematização, o que envolve diretamente educando e educador no
processo educativo. Segundo Freire, educar é impregnar de sentido cada ato
cotidiano, entendendo que o educando necessita descobrir o sentido daquele
conhecimento para a sua vida para assim poder colocá-lo em prática29.
18
Revisão de Literatura

2.3a Empoderamento e o autocuidado

Uma das estratégias-chave do movimento de Promoção à Saúde,


conforme tratado anteriormente, é o conceito de empowerment ou, em
português, empoderamento. O objetivo principal é possibilitar aos indivíduos
o aprendizado que os torne capazes de viver a vida em suas distintas etapas e
de lidar com as limitações impostas por eventuais enfermidades25,26,31.

O conceito de empoderamento nos remete a refletir sobre a nossa


prática na Educação em Saúde em função da relação de poder estabelecida
entre o profissional de saúde e o paciente. A “educação empoderadora”,
conceito trazido por Wallerstein e Bernstein, lembra-nos que, nas ações
educativas, temos também que superar o exercício de poder-sobre-o-outro
(power-over) e exercitar a relação de poder com o outro (power-with). Nós,
profissionais de saúde, devemos educar o outro empoderando-o, porém sem
impor aquilo que julgamos ser o melhor32.

Um grupo de educadores em diabetes desenvolveu um programa


educacional específico para 239 afro-americanos, no qual foram realizados
seis encontros de duas horas sem temas pré definidos e um telefonema
mensal de acompanhamento por um ano. Baseado no conceito da
problematização, cada encontro foi conduzido pelas questões e dúvidas dos
participantes. O conceito teórico do programa foi o empoderamento do
participante para mudança de atitudes. O autor descreve que o programa
auxilia o paciente a descobrir e usar suas próprias habilidades para ganhar
autoridade sobre o diabetes. No final de todas as sessões, cada participante
determinava uma meta a ser alcançada. A conclusão do estudo remete a que
estratégia utilizada foi bem aceita pelos participantes e pelos educadores e
teve ainda reflexo positivo nos valores da hemoglobina glicada4.

O empoderamento do participante deve estar baseado no conceito


de autocuidado desenvolvido por Orem: entende-se por autocuidado a prática
19
Revisão de Literatura

de atividades que o indivíduo inicia e executa em seu próprio benefício, na


manutenção da vida, da saúde e do bem-estar. Tem como propósito contribuir
de maneira específica, na integridade, nas funções e no desenvolvimento
humano. Luce afirma que a equipe de saúde tem o papel de desenvolver as
habilidades nos sujeitos para o manejo das atividades diárias para o
tratamento do DM, deixando-lhes o direito de decidir sobre a mudança de
comportamento. Considera a maior vantagem do autocuidado a independência
do sujeito, melhor aderência ao tratamento clínico e otimização da relação
33,34
custo benefício da terapia .

A Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado, de autoria de


Dorothea Orem, é composta por três construtos teóricos35:

1) teoria do autocuidado: descreve a prática de cuidados


executados pela pessoa portadora de uma necessidade, para manter a saúde e
o bem-estar;

2) teoria do déficit de autocuidado: delineia a necessidade da


assistência de enfermagem;

3) teoria de sistema de enfermagem: descreve como as pessoas são


auxiliadas por meio da enfermagem.

Essa teoria se fundamenta em cinco conceitos principais: ação do


autocuidado, capacidade de autocuidado, demanda de autocuidado
terapêutico, déficit de autocuidado e a agência de enfermagem.
Descreveremos abaixo apenas os dois primeiros, uma vez que o objetivo do
presente estudo é trabalhar com indivíduos capazes de realizar o seu
autocuidado, não necessitando, assim, de auxílio de terceiros35.

A ação do autocuidado é a prática de atividades que os indivíduos


desempenham de forma deliberada, em seu próprio benefício, para a
manutenção de sua vida, saúde e bem-estar, enquanto a capacidade de
autocuidado é a possibilidade de desempenho adquirido pelo indivíduo para
efetuar, de modo satisfatório, as atividades relativas ao cuidado de si
próprio.Transportando esse conceito para a pessoa com diabetes, Silva cita
20
Revisão de Literatura

que se refere ao conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências,


adquiridos por meio da educação e autotreinamento, que a pessoa portadora
de DM precisa ter para controlar-se adequadamente e assegurar o seu bem-
3,35
estar, sendo assim capaz de manejar a sua doença .

Durante o processo educativo, o educador tem o papel de


identificar a capacidade e ação para o autocuidado de cada indivíduo,
instrumentalizando-o para realizá-lo caso esse tenha condições de saúde para
isso. Não sendo possível, cabe ao educador identificar na família um cuidador
para assumir os cuidados ou lançar mão das agências de enfermagem.

A educação proposta pelo programa procurou fundamentar-se nos


conceitos acima descritos, respeitando a individualidade do educando e sua
relação com o educador. Está descrito abaixo o perfil do educador e as
características a serem desenvolvidas no educando no decorrer do processo
educativo, para que as metas sejam alcançadas.

2.3b Educador

A educação em saúde, segundo o Scientific Group on Research in


Health Education da OMS, tem por objetivo “desenvolver nas pessoas o senso
de responsabilidade pela sua própria saúde...”. Segundo Freire, ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a
sua construção. Sendo assim, as pessoas com diabetes só conseguirão
desenvolver esse senso colocado pela OMS se construírem um conhecimento
sobre a sua saúde/doença. A pessoa com diabetes, que necessita realizar
diversas modificações no seu estilo de vida, precisa ser capacitada para fazer
as escolhas para a sua vida, a partir dos preceitos para o bom controle. Seguir
ou não as recomendações prescritas deve ser uma escolha consciente das
vantagens e desvantagens a curto, médio e longo prazo. Durante o processo
educativo na área da saúde, o educador deve aprender a respeitar as escolhas
dos seus pacientes. O educador deve ter a tranquilidade de que ofereceu todo
21
Revisão de Literatura

o subsidio técnico/cientifico para o paciente fazer as escolhas do dia-a-dia,


referentes ao manejo da doença e, paralelamente a isso deve saber
compreender as decisões de não seguimento das recomendações (e não
29,30
necessariamente concordar com elas) .

Outro aspecto a ser considerado é respeitar as crenças populares


(desde que não sejam diretamente prejudiciais) e até associá-las à
terapêutica proposta, garantindo ao educador uma maior proximidade do
educando e, consequentemente, uma maior proximidade para conquistas dos
objetivos propostos. A aceitação do novo deve ser introduzida aos poucos,
explicada detalhadamente e sempre bem fundamentada nos conceitos
técnico-cientificos já conhecidos 36.

Destacando os objetivos da educação para o autocuidado, deve


permitir que os objetivos/metas sejam discutidos e definidos em conjunto:
educando e educador. As metas devem sempre ser alcançáveis para que não
haja frustração de ambas as partes.

Paulo Freire atribui propiciar aos educandos, em suas relações uns


com os outros e todos com os educadores, condições de ensaiar a experiência
de assumir-se, uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica.
Atribui à palavra assumir-se o fato da demonstração do que se é como ser
social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,
realizador de sonhos, capaz de ter raiva, porque capaz de amar. O sucesso do
processo educativo depende diretamente da relação do educando e do
educador. Assumir-se nesse processo garante a exposição das facilidades e
dificuldades de enfrentamento das mais diversas situações, o que auxilia no
desenvolvimento de estratégias para que o objetivo final seja alcançado e
mantido no decorrer da doença29.

Para que o processo educativo se desenvolva de maneira eficaz, o


educador deve ter algumas características. Devemos conseguir aprender e,
principalmente, apreender o objeto aprendido. Entende-se por apreender:
construir, reconstruir, constatar para mudar. Com isso, podemos construir e
22
Revisão de Literatura

reconstruir. Respeitar a autonomia do ser educando: os pensamentos, idéias,


desejos, a sua identidade formando-se a partir dos conteúdos abordados no
dia-a-dia. Cabe ao educador introduzir conteúdos, discutir idéias, colocar
pontos de vista, embasar conhecimento, porém sempre respeitando as visões
do educando que são baseadas nos conhecimentos já adquiridos. Devemos
fornecer conhecimento enquanto o educando terá autonomia de aprender,
apreender ou rejeitar o conteúdo, formando assim sua opinião de “educado”
naquele assunto29.

O educador em saúde necessita conhecer a pessoa com DM. Saber


ouvi-lo é uma das melhores estratégias para isso, ou seja, uma virtude
importante do educador é saber ouvir. A problematização depende desse
entendimento sobre seus questionamentos pessoais, atividades diárias e
contextualizar assim a realidade do educando com as mudanças necessárias
para um bom controle da doença e convivência com o diabetes. O educador
não deve impor conceitos e rotinas, mas sim ouvir o educando e juntos decidir
qual é a melhor forma de introduzir hábitos saudáveis, realizar os cuidados
básicos do diabetes e implantar terapêuticas, sempre respeitando a gravidade
do caso4,29.

O educador em diabetes deve despertar na pessoa com diabetes a


curiosidade sobre sua doença e, usando sua inteligência, a compreensão de
que o conhecimento gera cuidado que, conseqüentemente, gera prevenção de
complicações e melhora da qualidade e longevidade da vida. Sendo assim
reforçamos o conceito de que ensinar não é transferir conteúdo a ninguém. O
educador com o educando e não sobre o educando deve ajudá-lo a superar
suas dificuldades e adaptar os novos conceitos propostos29.

As estratégias educativas, porém, devem ser estudadas e adaptadas


conforme a população a ser trabalhada. Portanto, a individualização do
cuidado, não compreendendo como o cuidar de alguém doente, mas sim o
cuidar para promover a saúde de todos, é essencial para o alcance dos
objetivos e metas estabelecidos.
23
Revisão de Literatura

A individualização da educação deve, em primeiro lugar, estar


baseada no ouvir o sujeito. Ouvindo, conseguimos conhecê-lo como pessoa
que vive em determinado contexto com preceitos e preconceitos já
estabelecidos e que devem ser respeitados durante o processo educativo.
Conhecendo-o como ser humano, temos os subsídios necessários para expor
conceitos, problematizar as situações e definir conjuntamente mudanças.

2.3c Educando: a pessoa a ser cuidada

Acreditamos que o objetivo principal de um programa educativo na


área de saúde é de dar autonomia aos educandos. A autonomia para o manejo
da saúde vai se constituindo na experiência de inúmeras decisões que vão
sendo tomadas no dia-a-dia, baseadas nas experiências de diversas situações.
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. O educador instrumentaliza
para que o educando desenvolva sua autonomia. Autonomia, enquanto
amadurecimento do ser para si. É nesse sentido que uma pedagogia da
autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e
da responsabilidade29.

Da mesma forma que cabe ao educador saber ouvir é atribuído ao


educando o saber falar. Expressar suas dúvidas, emoções, anseios e,
principalmente, opiniões facilitam o processo educativo. A confiança entre as
duas partes é também elemento essencial.

Entendendo curiosidade como inquietação indagadora, como


inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como
procura de esclarecimento, acreditamos que o despertar da curiosidade no
educando durante o processo educativo auxilia o envolvimento participativo
desse educando. Sendo assim, incentivamos durante todo o processo a busca
de novas informações por meio de sites, livros, discussão com outras pessoas e
profissionais, visando envolver o paciente no encontro de novos conceitos e
possibilidades e também no reforço dos conceitos clássicos abordados e
24
Revisão de Literatura

reafirmados nessas buscas. Essa estratégia auxilia na credibilidade da


informação fornecida pelos profissionais durante o programa29.

Relembrando o conceito de autoeducação, tratado inicialmente,


destacamos que é essencial que a participação do educando seja intencional.
Sendo assim, o primeiro passo para que o educando seja aderente ao
programa proposto é que ele queira participar.

Educar pessoas com diabetes é um processo ativo por meio do qual


as pessoas necessitam aprender sobre diabetes para sua sobrevivência e
qualidade de vida. A compreensão dessa necessidade é o primeiro passo para
o sucesso desse processo. Associada a essa compreensão, a técnica educativa
deve propiciar um envolvimento do educador e do educando, o que propiciará
melhor adesão às orientações27.

2.4 Escalas de avaliação

A avaliação do processo educativo ainda é um desafio no meio


científico. Algumas propostas elaboradas por órgãos internacionais foram
citadas anteriormente, porém consideradas subjetivas. Após revisão
bibliográfica, verificou-se que instrumentos de avaliação do processo
educativo são escassos na literatura em especial traduzidos e validados para a
nossa língua portuguesa.

Em 1997, Silva, na ocasião de seu Mestrado desenvolvido no México,


utilizou duas escalas, baseando-se no trabalho de Backscheider, que
documentou as capacidades e ações de autocuidado do paciente portador de
diabetes controlado em nível ambulatorial. Silva adaptou e validou essas
escalas para a cultura brasileira (Escala para Avaliar as Capacidades de
Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes - alfa de Cronbach = 0,8513 e
EAAD e Escala para Avaliar as Ações de Autocuidado da Pessoa Portadora de
Diabetes-alfa de Cronbach = 0,8016). Sua contribuição foi fundamentada nos
25
Revisão de Literatura

conceitos básicos da fisiopatologia do diabetes mellitus tipo 2 e na Teoria de


Enfermagem do Déficit de Autocuidado de D.Orem. As escalas têm como
enfoque principal os requisitos de desvios da saúde, especificamente para
pessoas adultas e idosas, portadoras de diabetes mellitus tipo 2. Os itens da
escala enfatizam os conhecimentos, as habilidades e as experiências da
3,37,38
pessoa em relação ao seu diabetes .
26
Método

3 MÉTODO

3.1 Tipo de estudo

Estudo correlacional com intervenção educativa.

Os estudos quantitativos correlacionais medem o grau de relação


entre duas ou mais variáveis (quantificam as relações), ou seja, medem cada
variável presumidamente relacionada e depois também medem e analisam a
correlação. Nesse caso, a aplicação da “Escala para Avaliar as Capacidades de
Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes” e da “Escala para Avaliar as
Ações de Autocuidado da Pessoa Portadora de Diabetes” avaliará se a
intervenção educativa ofereceu diferença de escores entre o início e o final
do Programa de Educação em Diabetes e a sua relação com o automanejo do
diabetes39.

A proposta de ensino para a consecução do Programa de Educação


em Diabetes (PED), foi baseada na metodologia de Paulo Freire, pedagogia
problematizadora, dialógica e emancipadora, associada ao conceito de
empoderamento, que tem por objetivo possibilitar aos indivíduos e coletivo o
aprendizado que os torne capazes de viver a vida em suas distintas etapas e
de lidar com as limitações impostas por eventuais enfermidades 25,26,29.

3.2 Local

Esse estudo foi desenvolvido em uma empresa do sistema privado


de serviços de saúde, gerenciada por enfermeira, que foi contratada para
desenvolver um Programa de Educação em Diabetes (PED) para um convênio
do tipo autogestão.
27
Método

3.3 Período

O período do estudo compreendeu os meses referentes a maio de


2008 a maio de 2009, perfazendo 12 meses.

3.4 Seleção da amostra

A amostra do estudo se constituiu por uma escolha não


probabilística, à medida que os indivíduos procuraram pelo programa por
demanda espontânea, ou seja, desejavam participar de um programa de
educação para o controle do DM.

3.4.1 Etapas da amostragem

Na primeira fase do projeto, identificaram-se 500 pessoas com


diabetes, das quais 400 não faziam parte de nenhum programa dessa
natureza. A seleção dessa população ocorreu em um evento aberto para 200
pessoas que deveriam inscrever-se previamente por telefone. O critério de
escolha dessa amostra foi a ordem de inscrição, porém houve apenas 80
pessoas inscritas. O evento foi composto por quatro momentos: triagem
inicial, café da manhã, palestras educativas e um momento de explicação
sobre os detalhes do PED.

A triagem inicial foi composta pelo preenchimento de um


questionário (Anexo 1) com dados gerais dos participantes e exames
anteriores, seguidos da mensuração da glicemia capilar de jejum e pressão
arterial. Todos os participantes receberam um folder educacional (Anexo 2).
28
Método

Após essa etapa, houve três palestras ministradas pela equipe


interdisciplinar do programa sobre hábitos saudáveis de vida e diabetes
mellitus com os seguintes temas: diabetes e o autocuidado; comer ou não
comer.... eis a questão!!! e a atividade física e o diabetes.

No final dessas palestras, o PED foi apresentado e todos os


participantes receberam uma ficha de pré-inscrição na qual preenchiam os
seus dados de identificação, o interesse em participar do PED e o motivo
dessa participação. Foram informados que haveria uma seleção dos
participantes conforme alguns critérios pré-estabelecidos.

Critérios de inclusão

Todos os dados da triagem inicial foram analisados, sendo


selecionados apenas os participantes que preenchiam os seguintes critérios de
inclusão:

• idade ≥ 18 anos;

• ter diabetes mellitus tipo 2;

• aceitar a participar do programa;

• ser associado do convênio há mais de um ano;

• assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

• ter um médico, clínico geral ou endocrinologista,


responsável pelo tratamento medicamentoso.
29
Método

Critérios de exclusão:

Foram excluídos do grupo todas as pessoas com:

- doenças diagnosticadas previamente e que comprometessem a


cognição tais como: Alzheimer, quadros demenciais, doenças psiquiátricas,
depressão autoreferida, entre outras;

- dependência química que comprometesse o estado cognitivo.

Normas operacionais da instituição empregadora estabeleceram


que, em um projeto piloto, seriam selecionadas 50 pessoas, sendo que estas
constituíram, inicialmente, a população de estudo. Destaca-se que o custo
operacional individual foi arcado em 80% contratante e uma contribuição de
20%, apenas como uma forma de assegurar que o trabalhador se
comprometesse com as atividades educacionais.

3.5 Etapas do processo educativo

O Programa de Educação em Diabetes teve duração de 12 meses e


proporcionou a cada um dos participantes duas atividades ao mês, no mínimo,
consultas de enfermagem, nutrição, com o educador físico, podologia,
dinâmicas de grupo, palestras e caminhadas constituíram as atividades
realizadas durante todo o programa e serão descritas minuciosamente a seguir
(Anexo 3).

A estrutura física designada para o desenvolvimento do PED teve


como sede uma clínica de serviços de saúde composta por consultórios
apropriados para o atendimento de pessoas com diabetes e seus familiares,
consultório podológico para atendimento específico e anfiteatro equipado
com cadeiras móveis e datashow para realização das dinâmicas de grupo e
palestras.
30
Método

3.5a Descrição das atividades de educação

Os sujeitos selecionados foram convocados a participar do primeiro


encontro em grupo do PED, no qual foi realizado um grande círculo com todos
os participantes, solicitado que cada um se apresentasse, dizendo: nome,
tempo de diabetes, o que significa ter diabetes, preferências e aversões, e
expectativas para participação do grupo educativo. Essa etapa Freire aponta
como fundamental e que constitui a problematização em que os participantes
interagem e temas geradores apontarão para as necessidades e dúvidas dos
participantes do grupo. Após essa etapa, os participantes preencheram as
escalas de capacidade e ação para o autocuidado. A necessidade de
instrumentalizá-los para o automanejo conduziu inicialmente para o tema
sobre automonitorização.

Nessa dinâmica, os participantes foram divididos em grupos e


receberam placas com frases importantes sobre a monitorização. Cada grupo
escolheu as ações que julgavam essenciais e colocou-as em ordem. Em uma
segunda fase, um representante de cada grupo, após discutir com os outros
membros, foi ao quadro e colocou as ações escolhidas em ordem,
apresentando-as aos restantes dos participantes. Em seguida, cada um dos
grupos avaliou o plano de ação apresentado pelo grupo oponente e os
profissionais de saúde encerraram a dinâmica, orientando sobre a importância
do monitoramento de glicemia, a forma correta de realizá-lo e como realizar
o monitoramento de três dias para determinação do perfil glicêmico.

Cada participante recebeu um aparelho de glicemia, 21 tiras


reagentes, uma planilha de monitoramento de glicemia de três dias e um
recordatório alimentar (Anexo 4).

As consultas individuais foram realizadas periodicamente com um


ou mais dos seguintes profissionais de saúde: enfermeiro, educador físico,
nutricionista e podólogo. Cada profissional elaborou um plano de consultas
individualizado, dependendo das necessidades levantadas na consulta inicial,
31
Método

e discutido pela equipe. Cada profissional desenvolveu uma ficha de avaliação


inicial e outra de evolução e acompanhamento de parâmetros pré-
selecionados como critérios de avaliação do programa (Anexo 5).

Nas consultas de enfermagem, foram tratados os seguintes temas:


automonitorização, cuidado com os pés, conceitos do diabetes, complicações
agudas e crônicas, definição de hemoglobina glicada e glicemia média
semanal e suas correlações, além de discussão sobre os resultados
apresentados no perfil glicêmico. Ressalta-se que a abordagem dos temas não
ocorreu em uma ordem pré-estabelecida, mas sim, de acordo com as
necessidades individuais.

Um software (Onetouch® Diabetes Management Software) auxiliou


a determinação desse perfil glicêmico e a verificação da glicemia média do
período. Esse recurso permite a verificação dos déficits do controle do
paciente, possibilitando à equipe adequar condutas.

Nas consultas de nutrição, foram abordados diversos aspectos de


como ter uma alimentação saudável, fracionada e adequada para a
manutenção de um bom controle glicêmico. Em todas as consultas, o
participante trazia um recordatório alimentar de três dias ou a nutricionista
realizava um recordatório de 24 horas e as orientações eram dadas baseadas
no cardápio bem como nas dificuldades que cada um dos pacientes expressou.
Alguns temas foram tratados com todos: fracionamento da dieta, lista de
substituições de alimentos, interpretação de rótulos, a importância do
consumo de fibras, entre outros.

Periodicamente os sujeitos da pesquisa passavam eram


atendimentos por uma podóloga especializada, a qual, além de realizar o
corte das unhas, realizava orientações sobre os cuidados necessários.

A primeira consulta com o educador físico teve como objetivo


conhecer o nível de atividade física que cada um dos participantes e realizar
um plano de ação adequado, respeitando as características individuais. Além
dessa, foram orientados quanto ao tipo de calçado, entre outros cuidados pré
32
Método

e pós atividade. Durante o programa, foram oferecidos pontos de


treinamentos em diversos parques de São Paulo, com acompanhamento de um
educador físico. Os sujeitos que já tinham alguma prática específica foram
incentivados a mantê-la. Todos os participantes foram orientados a passar por
avaliação médica para recomendação da prática da atividade física. O
acompanhamento de educador físico após a primeira consulta foi feito
diariamente nos parques para os que aderiram a essa atividade e por telefone
para os outros. Foram ainda realizadas duas caminhadas com todos os
integrantes do PED, no Parque do Ibirapuera.

Durante todo o processo, o médico responsável pelo paciente foi


contatado por meio de telefonemas, e-mails e/ou encaminhamento de
relatórios.

Todos os participantes receberam um manual educativo para


acompanhamento dos conteúdos abordados durante as atividades.

A atividade educativa relativa ao cuidado com os pés foi oferecida


pela enfermeira do programa, que iniciou com uma parte expositiva, e outra
prática, de como prevenir as complicações no dia-a-dia. A avaliação das
extremidades inferiores era realizada durante a primeira consulta.

A nutricionista do PED realizou duas dinâmicas com os seguintes


temas: diet X light, rotulagem nutricional e como combinar e escolher os
alimentos e férias e festas: como devo me comportar? No final do último
encontro, os participantes receberam um folder contendo os principais pontos
tratados na palestra e um exemplo de cardápio para uma ceia saudável
(Anexo 6).

Um odontologista especializado no cuidado de pessoas com


diabetes ministrou uma palestra com o seguinte tema: “Cuidados especiais
com a Boca para as pessoas com Diabetes”. Após essa apresentação, o
dentista avaliou a boca dos participantes.

No último mês do programa, também foi oferecido o tema sobre


cuidados com a pele. Para o encerramento foi elaborado um jogo de revisão
33
Método

dos temas geradores, em que os participantes foram divididos em dois grupos


que sorteavam papéis com números que indicavam questões pré-elaboradas.
Cada grupo tinha a oportunidade de responder à questão, passá-la ou repassá-
la. Caso a resposta estivesse errada ou a questão não tivesse resposta, o grupo
recebia um “castigo simbólico, jocoso”, para que fosse possível elucidar
dúvidas. Após essa fase aplicaram-se novamente as escalas EACD e EAAD,
além de um questionário para avaliação do PED (Anexo 7).

3.6 Variáveis do estudo

3.6.1 Variáveis demográficas:

• sexo: feminino e masculino;


• idade: a idade foi considerada em anos completos,
calculada a partir da data de nascimento e considerando a
data do início do PED. Quando analisada de forma
agrupada, em grupos decenais, a saber: 30 a 39 anos, 40 a
49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69 anos e 70 anos ou mais;
40,41
• raça/cor: branca , preta, parda, amarela e indígena .

3.6.2 Variáveis socioeconômicas:

• escolaridade: foi registrada em ensino fundamental incompleto,


fundamental completo, médio incompleto, médio completo,
superior incompleto e superior completo. Para a análise,
porém, foi categorizada em ensino médio completo/incompleto
e superior completo 41;
• ocupação: foi registrada em população economicamente ativa,
sendo que nessa categoria são englobadas as pessoas ocupadas
e pessoas desocupadas, ou seja, aquelas pessoas que não
34
Método

tinham trabalho, mas estavam dispostas a trabalhar, e que,


para isso, tomaram alguma providência efetiva (consultando
pessoas, jornais,etc.). E população não economicamente ativa,
aquelas não classificadas como ocupadas ou desocupadas,
incluindo aqui, por exemplo, os aposentados e profissionais do
41
lar ;
• naturalidade: brasileiro e outros;
• estado civil: foi registrado em solteiro, casado e separado
ou divorciado41.

3.6.3 Variáveis relativas ao estilo de vida:

• tabagismo: os participantes foram categorizados em fumantes


atuais e no passado e não fumantes. Como fumantes atuais,
foram classificados os que declararam fumar cigarros no inicio e
término do PED, citando qualquer quantidade de cigarros por
dia; como fumantes no passado, os que referiram já ter feito uso
de cigarro regularmente em algum momento na vida, mas que
pararam de fumar e, como não fumantes, aqueles que nunca
fumaram regularmente;
• etilismo: foi avaliada de forma aleatória a presença do consumo
de bebida alcoólica, o tipo e a quantidade consumida.

3.6.4 Variáveis clínicas

Ressalta-se que todos os antecedentes pessoais abaixo relacionados


foram considerados conforme relato do paciente (variável autoreferida) e
foram solicitados exames realizados anteriormente ou laudo médico para
confirmação dos resultados.
35
Método

• diabetes: foi verificado o tempo desde o diagnóstico em anos.


Para a análise foi categorizado em grupos a cada cinco anos, a
saber: 0- 5 anos, 5,1 – 10 anos, 10,1 -15 anos , 15,1 – 20 anos ou
> 20,1 anos;
As seguintes variáveis foram codificadas dicotomicamente:
• hipertensão arterial;
• hipercolesterolemia;
• nefropatia;
• neuropatia periférica.

Além dessas, foi verificada a presença de:


• retinopatia: foi registrado se a pessoa realizou fundoscopia no
último ano e se o resultado estava alterado ou não;
• vasculopatia: foi registrado se a pessoa tinha diagnóstico anterior
de insuficiência vascular periférica arterial e/ou venosa;
• outros antecedentes pessoais: descrição.
• medicações em uso para o controle do DM: foi registrado se a
pessoa fazia uso de antidiabéticos orais, insulina ou ambos.

As variáveis clínicas descritas seguiram as Diretrizes da Sociedade


Brasileira de Diabetes 6,11:
• avaliação clinica e exames de laboratório: foram
solicitados/verificados de todos os participantes e registrados no
início e término do programa, os seguintes exames: hemoglobina
glicada (HbA1C), microalbuminúria, colesterol total e frações,
triglicérides, glicemia média semanal/variabilidade glicêmica,
índice de massa corpórea (IMC), porcentagem de gordura,
circunferência abdominal e pressão arterial (em todas as
consultas foi verificada a pressão arterial dos integrantes do
grupo segundo critério estabelecido pela Sociedade Brasileira de
42
Cardiologia) ;
36
Método

• característica da pele, anexos, extremidades inferiores: a


avaliação clinica relacionada à detecção de sinais e sintomas de
anormalidade nesse sistema seguiu recomendações do Manual de
Enfermagem da SBD e do Consenso Internacional do Pé
diabético: ausência de anormalidades da pele e presença de:
edema, hiperemia, ressecamento, maceração, fissura e micose
interdigital, calosidade, varizes, cicatriz de ferida anterior,
úlcera ativa, dedos em garra, neuroartropatia de Charcot, hálux
valgus e amputação. Condições de higiene: alterada e adequada
e característica ungueal: corte das unhas adequado, inadequado;
e a presença de onicodistrofia.Utilização de meias: sim ou não;
se sim, o tipo: algodão ou sintética. Calçados: ortopédico,
43
comum, preventivo e/ou órtese .
• avaliação vascular: foi realizada a palpação do pulso tibial
posterior e do pulso pedioso, sendo classificados em presente,
filiforme ou não palpável.
• avaliação de neuropatia periférica:

- sensibilidade térmica avaliada por meio de dois tubos de ensaio


com água fria e com água quente e testada na região plantar
(preservada ou alterada);

- sensibilidade vibratória avaliada com o auxílio do diapasão de


128 Hz no hálux (preservada ou alterada);

- sensibilidade protetora avaliada por meio do monofilamento de


Semmes-Weisntein de 10g na região do hálux, 1º , 3º e 5º
metatarso (preservada ou alterada).

• classificação de risco :0, 1, 2 ou 3.

• atividade física: sim ou não, considerando prática de atividade


física no mínimo três vezes por semana por 30 minutos em cada
sessão (Anexo 5)44.
37
Método

3.7 Aplicação das escalas

Além das variáveis descritas acima, foram aplicadas as seguintes


escalas: “Escala de avaliação das capacidades de autocuidado da pessoa
portadora de diabetes” e “Escala de avaliação das ações de autocuidado da
pessoa portadora de diabetes” (Anexo 8).

Cada uma das escalas inclui 30 itens, aos quais são atribuídos os
valores em uma escala Likert, que vai de um a cinco pontos. As opções de
escolha são: discordo totalmente, discordo, nem concordo nem discordo,
concordo e concordo totalmente. As respostas têm um valor mínimo de 30
pontos e máximo de 150 pontos. Quanto maiores os escores, melhor a
capacidade e ação para o autocuidado da pessoa com diabetes.

Para auxiliar na análise da escala, as questões foram agrupadas


segundo as sete medidas de avaliação comportamental, descritos como os
sete comportamentos, usados como parâmetro de qualidade dos resultados
obtidos em um programa de educação em diabetes estabelecidos pela AADE, a
saber: atividade, alimentação saudável, monitorização, medicação, resolução
de problemas, enfrentamento saudável e redução de riscos, ou seja, cada
uma das 30 questões de cada escala foi relacionada a um dos sete
comportamentos 4,21.

3.8 Aspectos éticos

O projeto de pesquisa foi submetido à Comissão de Ética em


Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CEP No 0652/08)e aprovado.
Todos os sujeitos do estudo preencheram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido após as devidas orientações e esclarecimentos sobre o projeto
(Anexo 9).
38
Método

3.9 Análise estatística

Para a análise estatística, a pesquisadora realizou o banco de dados


com dupla digitação e avaliação de expertise em programa de software Excel
(Microsoft Office Excel 2007), enumerando as variáveis contínuas e
qualitativas.
A análise descritiva foi realizada mediante a construção de tabelas
com freqüências simples e percentuais, estimando-se em quartis as médias,
medianas e respectivos desvios padrão, além do cálculo do teste t de Student,
que é um teste para comparação de médias, com distribuição normal, ao se
trabalhar com duas amostras. O intervalo de confiança utilizado foi ao nível
de 95%. Assim, todo valor de p inferior a 0,05 indicava significância.
Realizou-se ainda uma única análise de contingência, apresentada
com um gráfico em mosaico 45.
Para a comparação das escalas EACD e EAAD, antes e após a
intervenção educativa, utilizaram-se o teste estatístico alfa de Cronbach para
avaliação da variabilidade.
Os programas utilizados para análise foram: SPSS versão 17, JMP
versão 8.02, Epi info versão 3.5.1.
39
Resultados

4 RESULTADOS

4.1 Análise descritiva

Como descrito anteriormente, dos 400 indivíduos com diabetes e


que não participavam de nenhum programa de educação, 80 pessoas se
inscreveram no evento inicial, das quais 50 foram elegíveis para o estudo.
Destas, 41 se propuseram a participar do seguimento dessa investigação. Os
motivos mencionados para a não participação do PED foram: realização de
atividade física regular, existência de orientação médica de outro serviço,
falta de interesse e custo do programa.

Infelizmente, os programas de educação requerem de seus


integrantes uma participação ativa e engajada. Neste estudo, observou-se um
alto percentual de perdas (44%). As causas dessas perdas foram determinadas
por: três (7,3%) por desligamentos da empresa; três (7,3%) por outros
problemas de saúde: infarto agudo do miocárdio, insuficiência hepática e
diagnóstico de linfoma; um (2,4%) por estar inscrito em outro programa de
qualidade de vida; cinco (13,0%) por dificuldades para comparecer às
consultas em decorrência do trabalho; três (7,3%) em função de problemas
pessoais; um (2,4%) devido à distância de sua casa e dois (4,3%) por
declararem ter dificuldade de cumprir as recomendações (Tabela 1).

Tabela 1- Número e porcentagem da população do estudo. São Paulo, 2009.


População do estudo Número (n) Porcentagem (%)

Perdas 18 44%

Participantes 23 56%

Total 41 100%

Fonte: Dados primários do PED


40
Resultados

Na Tabela 2, estão descritas as variáveis sóciodemográficas em


frequências absolutas e relativas, com respectivas médias e medianas para a
idade de 57,7 e 57 anos respectivamente; nesta tabela se observa que a
maioria da população estudada foi do sexo masculino, com idade inferior a 60
anos, com ensino superior completo, aposentados, de cor branca e brasileiros.

Tabela 2- Características sociodemográficas de pessoas com DM, integrantes


do PED. São Paulo, 2009

Características Frequência Frequência Média Mediana Desvio


Absoluta Relativa Padrão
(%)
Sexo
masculino 17 74
feminino 06 26
Idade 57,7 57 10,8
30---39 01 04
40---49 03 13
50---59 11 48
60---69 05 22
70 ou mais 03 13
Escolaridade
médio 03 13
incompleto/completo
superior completo 20 87
Ocupação
aposentados 14 61
ocupados 07 31
licença médica 01 04
do lar 01 04
Cor
Brancos 19 83
pardo/amarelo 04 17
Nacionalidade
brasileiro 21 91
Outras 02 09
Essado civil
Casado 21 92
divorciados 02 08
Fonte: Dados primários do PED
41
Resultados

Quanto às características clínicas descritas na tabela 3, os


participantes do PED tinham diabetes do tipo 2 com diagnóstico inferior a 10
anos e comorbidades associadas, sendo a principal a hipertensão arterial.

Tabela 3 – Características clínicas e de hábitos pessoais de pessoas com DM,


integrantes do PED (n e %). São Paulo, 2009.

Variáveis Freqüência Freqüência


Absoluta Relativa
(%)
Tipo de diabetes
tipo 2 23 100
Tempo de diagnóstico
< 10 anos 16 70
≥ 10 anos 07 30
Co-morbidades
tabagismo 04 17
hipertensão 15 65
cardiopatia 05 21
outros 12 52
Fonte: Dados primários do PED

Em relação à via de administração da medicação, verificaram-se


entre o início e fim do programa as mesmas proporções: antidiabético oral foi
usado por 19 pessoas (83%), insulina por três (13%) e ambos por uma (4%),
porém constatou-se que 16 (70%) dos sujeitos tiveram acréscimo, alteração no
tipo ou dosagem da medicação quando comparados o tratamento inicial e o
final.
Na análise das pessoas em dois momentos, observa-se, em relação
ao controle metabólico, que a hemoglobina glicada e a variabilidade glicêmica
tiveram uma diferença estatisticamente significativa entre o início e o final do
programa. Esses dados são apresentados graficamente a seguir.
42
Resultados

Tabela 4- Valores médios e respectivos desvios padrão relacionados ao


controle glicêmico de pessoas com DM, integrantes do PED. São Paulo, 2009.

Variáveis Média Desvio padrão Valor de P


Hemoglobina Glicada (%) 0,0293*
Inicial 7,6 1,6
Final 6,7 1,2
Glicemia média (mg/dl) 0,0518
Inicial 165 54
Final 137 38
Variabilidade Glicêmica 0,0313*
Inicial 39 17
Final 29
Glicemia de jejum(mg/dl) 0,0635
Inicial 141 37
Final 122 27
Fonte: Dados primários do PED

Gráfico 1 Valores medianos de hemoglobina glicada de pessoas com DM,


integrantes do PED, entre a fase inicial e final do programa. São Paulo, 2009.
43
Resultados

Gráfico 2 Valores medianos de variabilidade glicêmica de pessoas com DM,


integrantes do PED, entre a fase inicial e final do programa. São Paulo, 2009.

Quanto às variáveis clínicas, os parâmetros laboratoriais utilizados,


como: colesterol total e frações e triglicérides, não demonstraram diferença
estatisticamente significativa quando comparados no início e após um ano de
seguimento. Em relação ao controle da função renal avaliada pelo marcador
da nível de albumina na urina e mensurado pelos valores da microalbuminúria,
nesse estudo os parâmetros encontrados indicaram taxas normais.
44
Resultados

Tabela 5 – Parâmetros clínicos de pessoas com DM, integrantes do PED, no


início e fim do programa. São Paulo, 2009.

Exames laboratoriais Média Desvio padrão Valor de P


Colesterol total (mg/dl) 0,9547
Inicial 182 34
Final 181 33
LDL (mg/dl) 0,6374
Inicial 101 29
Final 105 30
HDL (mg/dl) 0,5011
Inicial 44 07
Final 45 09
Triglicérides(mg/dl) 0,8719
Inicial 154 64
Final 151 76
Fonte: Dados primários do PED.

No momento inicial de avaliação, quatro (17%) dos participantes do


estudo não haviam realizado o exame para a detecção precoce da retinopatia
diabética. Ao término do programa, todos os integrantes do grupo haviam sido
submetidos à avaliação do fundo de olho, cujo resultado se encontrava
compatível com os parâmetros da normalidade, ou seja, a ausência de
retinopatia.

O controle da pressão arterial, importante avaliação clínica na área


do diabetes, nesse grupo foi avaliada a cada consulta. Destaca-se que a
variação da pressão diastólica foi estatisticamente significativa entre os
períodos de observação. Os resultados das médias e desvios padrão são
apresentados abaixo (Tabela 6 e Gráfico 3).
45
Resultados

Tabela 6– Pressão arterial sistólica e diastólica de pessoas com DM,


integrantes do PED. São Paulo, 2009.

Pressão arterial Média Desvio padrão Valor de P


Sistólica (mmHg) 0,28
Inicial 135 16
Final 130 17
Diastólica (mmHg) 0,0077*
Inicial 84 08
Final 76 10
Fonte: Dados primários do PED.

Gráfico 3 Pressão arterial diastólica de pessoas com DM, integrantes do PED.


São Paulo, 2009.
46
Resultados

Outro indicador fundamental para a avaliação do risco de


complicações crônicas no controle do DM é a inspeção sistemática da pele,
anexos e membros inferiores. Essa medida revelou que 17 dos participantes
(74%), no início, e 19 (83%), no final, não apresentaram alterações na pele e
extremidades inferiores.

Tabela 7– Alterações identificadas na pele e anexos dos membros inferiores de


pessoas com DM, integrantes do PED. São Paulo, 2009.

Características da pele Freqüência Freqüência


absoluta Relativa (%)
Edema
Inicial 05 21
Final 03 13
Ressecamento
Inicial 06 26
Final 04 17
Maceração
Inicial 02 08
Final 00 00
Fissura interdigital
Inicial 03 13
Final 01 04
Calosidade
Inicial 08 34
Final 02 08
Espessamento ungueal
Inicial 05 21
Final 03 13
Hiperemia
Inicial 00 00
Final 01 04
Fonte: Dados primários do PED.

Além das características acima citadas, foram investigadas também


a presença de cicatrizes de feridas anteriores, úlceras, neuroartropatia de
Charcot, hálux valgus e amputação e nenhuma dessas alterações foi
identificada nesse grupo. Alterações vasculares sugestivas de microvarizes
foram identificadas em cinco (21%) dos participantes e deformidades como
dedos em garra em dois deles (8%). Durante a palpação do pulso tibial
47
Resultados

posterior, observaram-se características normais em 21 (92%), característica


filiforme em um (4%) e um não foi identificado (4%); quanto ao pulso pedioso,
foi presente em 21 (92%) e com característica filiforme em dois (8%) dos
casos.

Na avaliação dos pés, algumas ações para o autocuidado foram


observadas. A higiene, aspecto fundamental para os cuidados da pele, foi
regularmente observada entre os integrantes, reconhecendo-se incrementada
durante o processo de educação. O corte das unhas foi considerado
inadequado em 13 (57%), e essa taxa declinou para três (13%) no final do
PED. O uso de calçado especial, prática recomendada no Consenso
Internacional do Pé Diabético, não foi observado em nenhum dos integrantes
do grupo, no início, porém no final um dos participantes passou a utilizar
calçado recomendado. Quanto ao uso regular de meias, 14 (60%) não
calçavam meias de algodão e no final esse número diminuiu para seis (26%); o
o uso de meias de fibras sintéticas, hábito prejudicial para a saúde dos pés, foi
observado no início e no final 43.

Quanto à avaliação da sensibilidade nas extremidades inferiores,


avaliou-se que sete (30%) tinham alterada a sensibilidade térmica, dois (8%) a
vibratória e um (4%) a protetora.

O gráfico abaixo demonstra que, inicialmente, 12 (53%) pessoas


praticavam atividade física e no final esse número subiu para 19 (83%).
48
Resultados

Fonte: Dados primários do PED.

Gráfico 4 – Informações quanto à realização de atividades físicas de pessoas


com DM, integrantes do PED. São Paulo, 2009.

Os dados a seguir demonstram que as variáveis relacionadas aos dados


antropométricos não obtiveram diferenças estatisticamente significativas.

Tabela 8. Dados antropométricos de pessoas com DM, integrantes do PED. São


Paulo, 2009.

Variáveis Média Desvio padrão Valor de P


2
Índice de Massa Corpórea (kg/m ) 0,7193
Inicial 28 04
Final 28 04
Circunferência Abdominal (cm) 0,6534
Inicial 101 12
Final 99 11
Fonte: Dados primários do PED.
49
Resultados

Porém, se esses dados forem analisados quanto à porcentagem de


participantes em relação ao IMC, observa-se uma migração de classe desse
parâmetro importante. Isso pode ser visualizado no gráfico 5:

Fonte: Dados primários do PED

Gráfico 5. Classificação do IMC de pessoas com DM, integrantes do PED. São


Paulo, 2009.

Na avaliação do programa, o número de consultas de educação


realizadas foi em média de 7 consultas (DP= ±2,00) por paciente. Foram
comparados o número de consultas realizadas, os resultados de parâmetros
clínicos, como hemoglobina glicada, glicemia média, variabilidade glicêmica,
triglicérides, colesterol total e frações, IMC e circunferência abdominal e não
foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre essas
variáveis.

Esses dados se referem à análise descritiva das variáveis


investigadas ao aspecto fundamental para avaliação do impacto do programa.
50
Resultados

4.2 Análise dos escores das Escalas de Capacidade e Ação para o


autocuidado da pessoa com diabetes

A medida para as avaliações do impacto das ações de educação em


diabetes foram testadas por meio da aplicação das Escalas de Capacidade e
Ação para o autocuidado da pessoa portadora de diabetes, cujos escores
foram analisados no início e no final do programa. Observou-se que houve um
incremento tanto da ação quanto da capacidade, ou seja, um aumento de
ambos os escores, com significância estatística (p= 0,0000; teste de Alfa de
Cronbach, 0,895 e 0,938;0,907, 0,935), ou seja, esse tesse atingiu maiores
valores estimados tanto nas capacidades como nas ações de autocuidado no
final do programa, conforme demonstrado na tabela 9 abaixo.

Tabela 9. Escores das Capacidades e Ações de autocuidado de pessoas com


DM, integrantes do PED. São Paulo, 2009.

Variáveis Média Desvio padrão Valor de P Alpha de


Cronbach
Capacidade 0,0000*
Inicial 125,61 12 0,895
Final 140,65 10 0,938
Ação 0,0000*
Inicial 108,61 16 0,907
Final 133,35 13 0,935
Fonte: Dados primários do PED.

Em relação aos questionários de capacidade e ação para o


autocuidado, observou-se que ambos obtiveram resultados estatisticamente
significativos. Analisando detalhadamente os questionários, verifica-se uma
melhora nos escores da escala de capacidade em 53% das pessoas quando
comparados os resultados obtidos no início e no fim do programa. Destaca-se,
51
Resultados

no entanto, que, na escala que mensurou a ação para o autocuidado, essa


melhora foi de 73% (Tabela 10).

Tabela 10. Análise dos resultados das questões das Escalas de Capacidade e
Ação de autocuidado de pessoas com DM, quanto à manutenção ou melhora
dos escores obtidos. São Paulo, 2009.

Variáveis Resultados Porcentagem Resultados Porcentagem


mantidos melhorados
(%) (%)
(escores)
(escore)
Capacidade 14 47% 16 53%
Ação 08 27% 22 73%
Fonte: Dados primários do PED.

Os dados apontam uma diferença estatisticamente significativa


entre capacidade e ação inicial e final do programa (p= 0,0002; média = 108,6
para ações e 125,6 para capacidade; (p= 0,0389; média = 133,3 para ações e
140,7 para capacidade, respectivamente). Comparando-se os valores entre a
capacidade e ação no início e no final, verificou-se que há uma diferença de
17 pontos (11%) no início e de 7,4 pontos (5%) no final, o que demonstra uma
melhora da capacidade e ação isoladamente, ou seja, um aumento do escore
de 6% da execução daquilo que a pessoa é capaz de realizar.

Na tabela 11, analisaram-se as questões das Escalas de Capacidade


e Ação antes e após intervenção educativa, sendo que as pontuações
registradas foram estatisticamente diferentes em 20 questões na EACD e 26
questões na EAAD. Ressalta-se que a pontuação, após a intervenção
educativa, foi maior em todas as questões.
52
Resultados

Tabela 11. Análise das questões das Escalas de Capacidades e Ações de


autocuidado de pessoas com DM antes e após intervenção educativa. São Paulo,
2009.

Questão Inicial Final Valor de P Questão Inicial Final Valor de P


EACD EAAD
Q1 4,39 4,39 0,5000 Q1 4,48 4,83 0,0145*
Q2 4,78 4,74 0,8359 Q2 3,30 4,35 <0,0001*
Q3 4,61 4,74 0,0928 Q3 3,48 4,78 <0,0001*
Q4 3,70 4,78 <0,0001* Q4 3,26 4,30 <0,0001*
Q5 4,22 4,56 0,0145* Q5 3,74 4,70 <0,0001*
Q6 3,26 4,30 <0,0001* Q6 4,35 4,61 0,0152*
Q7 3,30 4,39 <0,0001* Q7 4,65 4,70 0,1641
Q8 3,61 4,48 <0,0001* Q8 3,17 4,22 <0,0001*
Q9 4,17 4,61 0,0023* Q9 3,52 4,17 0,0030*
Q10 4,22 4,61 0,0046* Q10 4,00 4,52 0,0223*
Q11 3,74 4,43 0,0005* Q11 3,83 4,48 0,0015*
Q12 4,30 4,83 0,0213* Q12 4,35 4,65 0,0026*
Q13 4,78 4,83 0,2876 Q13 3,22 4,43 <0,0001*
Q14 4,61 4,70 0,1641 Q14 4,39 4,48 0,1641
Q15 3,96 4,74 0,0011* Q15 3,78 4,26 0,0024*
Q16 4,00 4,83 0,0003* Q16 3,30 4,56 <0,0001*
Q17 4,74 4,91 0,0809 Q17 3,17 4,61 <0,0001*
Q18 3,74 4,35 0,0049* Q18 3,65 4,70 <0,0001*
Q19 3,39 4,52 <0,0001* Q19 4,13 4,70 0,0002*
Q20 4,65 4,70 0,2876 Q20 3,00 3,87 <0,0001*
Q21 4,48 4,70 0,0481* Q21 3,00 4,39 <0,0001*
Q22 4,70 4,91 0,0284* Q22 3,78 4,48 0,0003*
Q23 4,83 4,91 0,2132 Q23 3,96 4,56 0,0006*
Q24 4,83 4,96 0,0928 Q24 2,70 3,96 <0,0001*
Q25 4,04 4,78 0,0014* Q25 2,83 4,48 <0,0001*
Q26 4,70 4,87 0,0517 Q26 4,61 4,56 0,6148
Q27 4,00 4,91 <0,0001* Q27 4,04 4,04 0,5000
Q28 4,13 4,87 0,0002* Q28 2,74 4,43 <0,0001*
Q29 3,56 4,61 0,0010* Q29 2,74 4,48 <0,0001*
Q30 4,17 4,70 0,0005* Q30 3,48 4,04 0,0045*
Fonte: Dados primários do PED.

Quando relacionados os escores iniciais e finais das capacidades e


ações para o autocuidado e as variáveis sóciodemográficas, não foram
observadas diferenças significativas.
53
Resultados

Em relação ao tempo de diagnóstico do diabetes, verificou-se que,


quando o corte foi de 10 anos, não se observou nenhuma diferença de
capacidade/ação, porém, quando a variável foi categorizada para cinco anos
do diagnóstico, os escores relacionados às ações para o autocuidado
apresentaram diferenças significativas, ou seja, observou-se um aumento das
ações maior do que o das capacidades para o autocuidado, na fase final do
programa em 1,7 ponto (p=0,0146;Tabela 12).

Tabela 12. Capacidades e ações de autocuidado na fase inicial e final do


programa comparadas com o tempo de diagnóstico de pessoas com DM,
integrantes do PED. São Paulo, 2009.

Escala Média Média Valor de P


(diagnóstico (diagnóstico
≤ 5 anos)
> 5 anos)
Capacidade
Inicial 133,5 122,8 0,0627
Final 145,5 138,9 0,1937
Ação
Inicial 123,8 103,2 0,0036*
Final 143,8 129,6 0,0146*
Fonte: Dados primários do PED.

No quadro abaixo, foram agrupadas as questões das escalas ECAD e


EAAD segundo as sete medidas de avaliação comportamental estabelecidas
pela AADE. Nota-se que, no item de resolução de problemas, as atitudes que
devem ser tomadas no momento da identificação da complicação aguda não
são descritas. No quesito monitorização, percebe-se que a técnica do uso do
aparelho, bem como os horários corretos de mensuração da glicemia, não
foram contemplados. No parâmetro redução de riscos observa-se um número
expressivamente maior de questões associadas às complicações crônicas
54
Resultados

relacionadas ao pé. Ressalta-se ainda que a medida de enfrentamento


saudável não foi mencionada em ambas as escalas4.

Quadro 1- Agrupamento das questões das Escalas validadas para avaliar as


capacidades (C) e ações (A) para o autocuidado da pessoa com diabetes
conforme sete comportamentos. São Paulo, 2009.

COMPORTAMENTO QUESTÃO
Atividade 22 Devo realizar atividades físicas regulares para controlar o
diabetes (C).
8 Regularmente faço caminhadas ou exercícios físicos (A).
Alimentação 4 Sei quais são os alimentos que posso comer para controlar meu
saudável diabetes (C). 8 Sou capaz de fazer o tratamento para o diabetes no
que se refere a seguir dieta (C). 15 Sou capaz de fazer mudança na
minha dieta para controlar o diabetes (C). 24 Sei que devo
controlar o meu peso corporal (C). 30 Sei que devo tomar, em
média, 10 copos com água por dia(C).
1 Sigo (faço) a dieta para o diabetes (A). 4 Controlo meu peso
corporal (A). 30 Em média, tomo diariamente 10 copos com água
(A).
Monitorização 11 Sou capaz de realizar as atividades da vida diária e controlar
meu diabetes (C).
5 Periodicamente faço controle da minha glicemia (A).
Medicação 3 Consigo lembrar o horário indicado para tomar meu remédio
para diabetes (C) . 21 Consigo ler ou identificar as características
do rótulo do frasco ou da embalagem dos meus remédios. (C)
2 Tomo a (s) medicação (ões) para diabetes de acordo com a
quantidade e horário (A). 7- Quando tenho pouca quantidade de
medicamento para diabetes, já providencio mais para que não me
falte (A).
Resolução 5- Sou capaz de saber quando me sinto confuso e com tonturas. (C)
de problemas 6- Sou capaz de saber quando o meu açúcar no sangue está muito
alto. (C) 7- Sou capaz de saber quando o meu açúcar no sangue
está muito baixo(C) . 14- Sou capaz de procurar os recursos
(atendimentos) de saúde quando o açúcar no sangue está
descontrolado. (C) 18- Sou capaz de saber quando o meu diabetes
está descontrolado. (C) 19- Sei o que devo fazer quando estou
com alguma infecção, diarréia ou ressaca de festa. (C)
11- Procuro os recursos (atendimentos) de saúde quando sinto
que o diabetes está descontrolado (A).
Enfrentamento Não existe questão relacionada
saudável
Redução de riscos 1-Consigo sentir a temperatura da água em meus pés, quando
tomo banho(C) . 2- Sinto quando meu pé tropeça em um objeto(C)
55
Resultados

. 9- Sou capaz de identificar algum tipo de alteração nos meus pés,


como: calos, rachaduras, alterações de cor e úlceras(C) . 10- Sei
identificar se minha pele está seca(C) . 12- Sei quais são as
complicações que posso ter, se deixo de controlar meu diabetes(C)
. 13- Sou capaz de fazer minha higiene corporal diária, como tomar
banho e escovar os dentes. (C) 16- Tenho conhecimento sobre o
que é diabetes. (C) 17- Considero normal o resultado do exame,
se o valor do açúcar for igual a 90mg%.(C) 20- Consigo ver objetos
pequenos, como o tamanho dos comprimidos dos frascos ou das
embalagens(C) . 23- Sei que o cigarro prejudica o tratamento do
diabetes(C) . 25- Sei que devo procurar imediatamente o serviço
de saúde quando observo alguma lesão nos meus pés, ainda que
pequena. (C) 26- Tenho conhecimento de que o alcoolismo
prejudica o tratamento do diabetes. (C) 27- Sei que devo examinar
diariamente, os meus pés. (C) 28- Sei que devo procurar o serviço
de saúde se observo alteração de cor e lesões nos meus pés. (C)
29- Sei que devo usar lixas em vez de tesoura e alicates para aparar
unhas (C) .
3- Examino os meus pés e observo se existe neles algum tipo de
alteração (A). 6- Periodicamente vou ao médico para controlar o
diabetes (A). 9- Regularmente participo de palestras, orientações e
do programa de saúde sobre diabetes (A). 10- Periodicamente vou
ao dentista (A). 12- Periodicamente vou ao oftalmologista para
controle de minha visão (A).13- Procuro imediatamente o serviço
de saúde quando observo alguma lesão nos meus pés, ainda que
pequena(A). 14- Periodicamente faço controle da pressão arterial
(A). 15- Periodicamente vou ao cardiologista (A). 16- Verifico se há
presença de calos, rachaduras, alterações de cor e úlceras nos
meus pés (A). 17- Evito corrigir unhas encravadas e remover calos
em casa (A). 18- Quando tomo banho, seco bem os pés,
especialmente entre os dedos (A). 19- Calço apenas sapatos que
não apertam, preferencialmente de couro macio ou de tecido (A).
20- Uso sapatos novos aos poucos. Nos primeiros dias uso-os
apenas em casa (A). 21- Procuro o serviço de saúde quando
observo a presença de calos, rachaduras, alterações de cor e lesões
nos meus pés (A). 22- Calço sempre meias limpas,
preferencialmente de lã ou algodão e sem elástico (A). 23- Evito
andar descalço mesmo em casa (A). 24- Após o banho ou após
lavar os meus pés, uso um creme hidratante nos mesmos (A). 25-
Examino os meus pés diariamente, se necessário, peço ajuda a um
familiar ou uso um espelho (A). 26- Rejeito o hábito de fumar (A).
27- Recuso a ingestão de bebidas alcoólicas (A). 28- Faço uso de
lixas em vez de alicates tesoura para aparar as unhas (A) . 29- Lixo
as unhas de forma reta e horizontalmente (A).
*(C) = ESCALA DE CAPACIDADE (A) = ESCALA DE AÇÃO
56
Resultados

A tabela 13 demonstra que os comportamentos redução de risco,


resolução de problemas e medicação apresentaram diferença estatisticamente
significativa quando analisados conforme agrupamento acima descrito.

Tabela 13. Análise estatística do agrupamento das questões das Escalas


validadas para avaliar as capacidades (C) e ações (A) para o autocuidado da
pessoa com diabetes conforme sete comportamentos. São Paulo, 2009.

Comportamento F estatístico Valor de P


Atividade 2,87 0,096
Alimentação 3,22 0,0819
Monitorização 3,21 0,0816
Medicação 4,43 0,0405*
Resolução de problemas 8,60 0,0051*
Enfrentamento saudável - -
Redução de riscos 24,24 0,0000*
Fonte: Dados primários do PED.

Ao término do PED, foi realizada uma avaliação desse programa, com


escores de zero a dez . A média final de avaliação do programa foi 9,6 pontos.
No anexo 11, estão descritas as principais respostas encontradas em cada uma
das questões.
57
Discussão

5 DISCUSSÃO

A avaliação de estudos sobre a intervenção da educação no controle


de doenças crônicas tem sido objeto de inúmeras investigações. Lacunas
epistemiológicas são frequentes em função da multifatoriedade de fenômenos
que envolvem o comportamento humano. Nesse estudo serão apresentados os
achados relevantes, aspectos facilitadores, dificultadores e a aprendizagem
que o desenvolvimento deste estudo permitiu apreender 46.

O número reduzido de indivíduos que se inscreveram para


participar do programa de educação e a considerável perda de participantes
durante o processo da investigação, remeteu ao desafio de compreender
sobre o interesse das pessoas com diabetes pelos programas de educação. Um
estudo realizado no Ambulatório de Endocrinologia e Metabologia do HCFMRP-
USP, em 2002, descreveu que 60,6% das pessoas sabiam da existência de
alguma atividade educativa no hospital e apenas 21% participaram dessa
atividade. Os motivos mencionados para a não participação foram: falta de
interesse, horário inadequado e dificuldade de transporte. Outro estudo
apontou que foram convidadas para participar de um programa educacional
160 pessoas, das quais apenas 53 se dispuseram a executá-lo. Foram descritas
como as principais barreiras a falta de tempo e o excesso de trabalho.
Observa-se que a falta de tempo/interesse é fator de maior destaque nesse
contexto e um desafio para os profissionais de saúde. O questionamento que
se faz presente é identificar se a educação na área é reconhecida, entre os
usuários, como uma etapa terapêutica primordial para o controle e manejo da
doença. Destaca-se aqui o modelo de atenção à saúde centrada na abordagem
biológica, medicalizada e não incorporando a educação como parte integrante
do processo terapêutico47,48,49,50,51 .

O alto índice de desistências nesse estudo (44%) foi um dado que


provocou grande indagação. Leite e colaboradores descrevem sobre a não
aderência a programas de educação realizados por equipe multiprofissional,
58
Discussão

apontando que 13,7% não aderiram ao Staged Diabetes Management. Em


outro estudo, Torres e colaboradores acompanharam 104 pacientes que
iniciaram o processo de educação em DM: 76 (73,1%) participaram até três
meses do programa e 57 (54,8%) completaram o processo educativo
desenvolvido por seis meses. A perda total após esse período foi de
52,53
aproximadamente 45% .

A perda de participantes dessa investigação remeteu a avaliação de


três aspectos a serem destacados: variáveis sociodemográficas,
principalmente o sexo e escolaridade; o custo pessoal para a participação em
programas de educação e as dificuldades de aderir às recomendações
propostas para o controle das doenças crônicas.

Essa análise deve ser realizada segundo concepções teóricas do


modelo de saúde-doença-cuidado e a educação como integrante desse
processo e que possibilite uma práxis- prática teorizada, reflexiva e
empoderada. Destaca-se que a informação transmitida não é suficiente para
predizer a efetiva prática do autocuidado. O empoderamento do outro, no
caso, da pessoa com diabetes, tem sido definido como a descoberta e o
desenvolvimento de uma capacidade inerente ao indivíduo, a de ser
responsável por sua própria vida. O aumento da capacidade de compreensão
dos fenômenos observados e da doença empodera o sujeito a se compreender
e cuidar da própria vida, ou seja, tomar decisões racionais, ser capaz de se
automanejar, implementar as atividades de sua vida diária e oferecer
autonomia para as suas escolhas e mudanças de hábitos46,54,55.

Outro aspecto a ser analisado é o fato de cada pessoa inscrita no


programa manter o acompanhamento com o seu médico de escolha, ou seja, a
participação do programa de educação é independente da consulta médica,
fato que pode ter dificultado a adesão. Trabalho analisado, que também foi
realizado em uma instituição particular, teve um índice de desistência de
13,7% porém, as características sociodemográficas da população eram
diferentes e havia a participação do médico como integrante da equipe. A
adesão nesse caso pode ser compreendida como aprovação, aceitação ou
59
Discussão

admiração por algo e, historicamente, sabemos do conceito hegemônico


atribuído à consulta médica em detrimento da consulta realizada por outros
52,55,56
profissionais e esse resultado pode estar inferido nessa concepção .

As diretrizes da SBD postulam, em relação à educação, que, para


adultos com diabetes do tipo 2 ela é efetiva para melhorar os resultados
clínicos e a qualidade de vida de seus participantes quando avaliada em curto
prazo; que é fundamental para o sucesso do manejo do diabetes e maximiza a
efetividade do tratamento com tecnologia avançada (incluindo
automonitorização da glicemia, análogos de insulina e bomba com sistema de
infusão contínua de insulina subcutânea); e é aconselhável ter disponível uma
estrutura de educação para as pessoas com diabetes e seus cuidadores6.

Dessa forma, a educação atualmente é integrante do tratamento da


doença e deve ser implementada por uma equipe multiprofissional6.

Os motivos apresentados na desistência da participação do PED


mostraram-se relacionados à: motivação pessoal, problemas de saúde e
dificuldades para cumprir as recomendações propostas. A explicação da
polaridade e da subjetividade que envolve a educação pode estar presa a
circunstâncias e fatos do comportamento humano. O ser humano não é inerte
e tem um grau de autonomia que é baseado no trabalho, na vida e nas
relações e práticas cotidianas. Dessa forma, o educando tem que ter a
liberdade para decidir o momento em que pretende ampliar o seu
conhecimento e sua ação frente à doença/vida. Considerando que a saúde é
classicamente definida por alguns autores como a vida no silêncio dos órgãos,
ressalta-se que, durante o processo educativo, o indivíduo percebe suas
alterações glicêmicas, e o diabetes silencioso se transforma em um
desconforto. Sendo assim, faz-se a opção de não participação, pelas
dificuldades inerentes ao ser para o enfrentamento da doença. Respeitar o
momento do educando é uma tarefa importante do educador sem deixar de
estimular e de demonstrar a importância da educação como um desafio a ser
enfrentado por todos os profissionais de saúde. O desafio dos profissionais de
60
Discussão

saúde é compreender a macrodimensão que envolve o comportamento


humano e sua relação com a educação29,57,58,59.
Se remetermos ao conceito de educação anteriormente tratado, no
qual se tem por objetivo desenvolver no indivíduo, o senso de
responsabilidade pela sua própria saúde, concluímos que a educação deve
fazer parte dos modelos de atenção à saúde e constituir-se da função dos
profissionais da área. Se a educação fosse parte integrante dos modelos
assistenciais, não seria necessária a implementação dos programas de
educação específicos, pois isso já faria parte do tratamento desde o
diagnóstico da doença. Há a necessidade de avaliar a relação do custo
benefício dessas atividades e, dessa maneira, as escalas de avaliação de
resultados de programas de educação constituem ferramentas que mensuram
3,29,30
tais resultados e as metas atingidas .
A abordagem com técnica educativa problematizadora permite a
troca de experiências entre os participantes do grupo e essa possibilidade
amplia o impacto da educação, a maior aceitação da doença, o
enfrentamento de situações problema e a mudança do estilo de vida. A
construção do programa baseou-se nos temas geradores destacados pelas
necessidades do grupo durante o ano. Esses participantes, no decorrer da
primeira atividade em grupo, expuseram o interesse de que mais encontros
nesse modelo acontecessem, pois acreditavam que a experiência
compartilhada pudesse auxiliar no manejo da doença29.

A temática que mais se destacou no grupo foi a aceitação da


doença, tema esse que surgiu em função das falas durante a apresentação
inicial. Dessa forma, como a educação compreende uma rede de saberes, foi
destacado um profissional da Psicologia para a abordagem do assunto.
Sentimentos gerados pelo diabetes, desmistificação da doença como
impeditiva e as fases do processo da doença crônica foram os principais
aspectos trabalhados e fundamentais para a continuidade do processo
educativo. Notou-se, no decorrer dos encontros, uma queda no número de
participantes. Durante a avaliação final, constatou-se que parte dos
61
Discussão

integrantes do PED apreciou a dinâmica, ressaltando, porém, a importância do


acompanhamento individual para o aprofundamento de sentimentos e
emoções relacionados à doença crônica.

Na análise das variáveis sóciodemográficas, a população investigada


foi composta na maior parte por homens, com idade entre 50 a 60 anos,
brancos, com ensino superior completo, aposentados, casados e brasileiros.
Estudos populacionais que caracterizam pessoas com diabetes apontam um
estado epidêmico em curso da doença, no final da década de 80 estimou-se
uma população de 7,6% e dados mais recentes apontam para taxas mais
elevadas, como 12,1% em estudo de Ribeirão Preto-SP e 13,5% em São Carlos -
SP, com predominância em idades mais elevadas e sexo feminino. Em relação
à demanda por educação, não foram encontrados estudos epidemiológicos que
caracterizem essa questão. Observa-se que o sexo, nesse estudo, não
corrobora com outros trabalhos semelhantes que obtiveram um número maior
de mulheres na amostra. Esse fato pode ser explicado pelo tipo de atividade
ocupacional do ramo da telefonia. Quanto à idade, os dados corroboraram
com outros estudos analisados, ou seja, idade média entre 50 e 60 anos,
explicado pelo envelhecimento populacional e pela caracterização das
47,48,52,56,60,61
doenças crônicas nessa faixa etária .
Diferentemente de outros estudos analisados, observa-se na
população um número significativo de pessoas com formação superior,
acredita-se que esse dado tem relação direta com o fato de que essa
investigação ocorreu com a população de uma associação particular. A escolha
desse grupo em específico foi um diferencial do estudo, pois permitiu
conhecer a realidade de um programa educacional direcionado ao público
privado. O papel que a escolaridade desempenha nos determinantes do
processo saúde-doença é bem evidenciado. No Brasil, a prevalência do DM é
maior no grupo que apresenta primeiro grau completo e menor no grupo de
maior escolaridade. Nesse caso não é possível verificar o impacto dessa
variável, pois esse grupo não foi comparado a grupo controle. Estudos
realizados em populações com menor escolaridade também apresentam
62
Discussão

resultados semelhantes, ou seja, a educação em saúde é uma prática que


colabora para o controle das doenças crônicas47,48,52,56,60,61,.
Quanto à demanda por atividades educacionais, observou-se, em
relação a atividade ocupacional, que a maioria era de aposentados (61%), o
que pode estar relacionada a faixa etária, período no qual há mudanças no
comportamento, na visão de mundo e de hábitos, ou seja, na necessidade de
gregária, de troca de experiências, no tempo livre e de gastar a própria vida.
Dados semelhantes são descritos em outros estudos, ou seja, os aposentados
(33% e 42,6% respectivamente) são mais frequentes, seguidos dos profissionais
do lar (30% e 33,3%, respectivamente). Porém, nesse estudo, pessoas
ocupadas mantiveram-se em segunda posição (31%). Essa diferença pode ser
explicada em função de a maior parte ser composta por homens47,52,57.
O DM está associado às comorbidades, como a hipertensão arterial
sistêmica (HAS), obesidade, dislipidemia, entre outras, que são importantes
fatores de risco para a morbidade e mortalidade decorrentes do diabetes mal
controlado. Nesse caso, a HAS foi a mais frequente (65%), dado esse
comumente encontrado na literatura. Os artigos mostram que cerca de 40%
das pessoas que fazem o diagnóstico de diabetes tipo 2 já são hipertensos.
Estudos recentes demonstram os benefícios da redução desses fatores de risco
para os eventos cardiovasculares e complicações recorrentes. Um estudo
realizado por Leite e colaboradores observou melhora nos níveis pressóricos da
população estudada após intervenção educativa. O acompanhamento dos
níveis pressóricos é de extrema importância, uma vez que ajudam a prevenir
a doença cardiovascular (DCV), bem como a progressão da doença renal e da
retinopatia diabética. Em função do alto risco de desenvolvimento da DCV,
recomenda-se que todos as pessoas com diabetes, com pressão arterial maior
que 130x80 mmHg, devem iniciar o tratamento para hipertensão. No presente
estudo, a melhora da pressão diastólica do grupo foi estatisticamente
significativa, sendo a média final de 130 x 76 mmHg, mantendo-se dentro das
recomendações da ADA e SBD6,7,47,52,61,62,63,64.
Outro aspecto importante para a diminuição do risco do
desenvolvimento de complicações do DM e que necessita ser mais elucidado
63
Discussão

quando associado à hipertensão arterial, são os hábitos de fumar e ingerir


bebida alcoólica. Durante a fase inicial do estudo, esses aspectos não
enunciaram forte impacto na população investigada65.

O padrão para a terapia medicamentosa para o controle do


diabetes tipo 2 segue as recomendações especificas de mudanças no estilo de
vida, tratamento medicamentoso simples ou combinado, ou seja, ADO e
insulina. A terapêutica adotada para esse grupo seguiu as prescrições médicas
individuais. Nesse programa, o médico não estava diretamente relacionado ao
PED. A compreensão da essência transversal do processo de avaliação é uma
exigência contemporânea, mas é também uma exigência no caminho de
tentar alcançar a complexidade que é avaliar serviços, práticas e ações
desenvolvidos no campo da saúde. O trabalho da equipe multiprofissional
possibilitou o desenvolvimento integrado de ações transdisciplinares, ou seja,
a comunhão de saberes e fazeres, respeitando-se as especificidades técnicas
com o objetivo do bem comum, a melhoria da qualidade de vida, fundamento
essencial para o processo educativo e para a promoção da saúde66.

A cada consulta os pacientes traziam o perfil glicêmico que era


impresso e discutido com cada um deles visando auxiliar na compreensão da
variação glicêmica e sinais e sintomas de complicações agudas. Medidas de
mudanças do estilo de vida como atividade física e alimentação eram
adequados individualmente. Uma vez que fosse detectado que essas
medidas não eram suficientes para a correção de um pico pós prandial, por
exemplo, o gráfico era encaminhado ao médico. Com isso, as metas para o
controle glicêmico foram atingidas, a automonitorização foi incorporada e
observou-se uma adequação das prescrições clínicas em 70%. Aqui reside
uma etapa fundamental para a educação em diabetes, descrita pela atuação
das enfermagens britânica e americana, precursoras dos conceitos de
automanejo, automonitorização e autocontrole da doença. A compreensão
dessas ações possibilita a manifestação de comportamentos positivos,
reconhecimento de sinais e sintomas da doença, atualização terapêutica e
melhor aderência ao tratamento clínico56,67 .
64
Discussão

Segundo indicadores nacionais e internacionais (ADA e SBD), os


valores de hemoglobina glicada para pessoas com diabetes são de 6,5%, que
corresponde a uma GM de 140 mg/dl e 7%, que corresponde a uma GM de 154
mg/dl, respectivamente. No presente estudo, constatou-se uma média inicial
de A1C de 7,6%, portanto acima da média das duas metas propostas. No final
do programa, esse valor declinou para 6,7%, ou seja, abaixo da meta
estabelecida pela ADA (p=0,0293). Considerando o resultado de estudo
internacional, o UKPDS mostrou uma redução de 25% das mortes associadas
com o DM2 para cada redução de um ponto percentual da hemoglobina
glicada. A redução dos valores de hemoglobina glicada em pessoas que
participam de programas de educação tem sido evidenciada em outros
estudos. Esse pode e deve se constituir em um indicador de excelência dos
programas de educação e ainda um marcador negligenciado em alguns níveis
locais, tanto nas esferas públicas, quanto nas privadas 13,47,52,63.

Os valores das glicemias médias mensuradas foi inicialmente de 165


mg/dl, com uma redução para 137 mg/dl no final do programa. Observou-se
que esse valor foi compatível com os parâmetros estabelecidos pela ADA e
SBD, porém esses resultados não apresentaram significância estatística,
provavelmente em função do número reduzido de observações. Estudo
realizado com pessoas com diagnóstico de diabetes do tipo 1 apontou que a
GM constituiu importante preditor de complicações macrovasculares em
comparação à A1C. Monnie & Collette e Holman & Lorig destacaram que a
variabilidade glicêmica é considerada um fator de risco isolado para as
complicações do diabetes, independente dos valores elevados de GM. No
presente estudo, os valores de VG encontrados obtiveram uma melhora clinica
evidente (p=0,0313)15,16,17.

Os outros exames clínicos analisados, como glicemia de jejum,


triglicérides, colesterol total e HDL, não obtiveram diferenças significativas,
provavelmente pelo tamanho da amostra, cofatores associados, como
medicações em uso e o tempo de observação dos participantes. A fração LDL
apresentou valores médios iniciais e finais recomendados pela Sociedade
65
Discussão

Brasileira de Cardiologia. Leite e colaboradores demonstraram resultados


semelhantes aos do presente estudo. Outro estudo correlacionou à prática de
atividade física e o controle do diabetes, demonstrando que, com 10 semanas
de exercícios, houve uma redução da taxa de triglicérides e aumento do HDL.
No PED não houve adesão total dos participantes quanto à prática de
atividade física, sendo esse fator limitante para uma análise isolada desse
42,52,68
parâmetro .

A retinopatia, uma complicação comum e incapacitante,


decorrente do mau controle metabólico, é encontrada após 20 anos do
diagnóstico, em mais de 90% das pessoas com DM1 e em 60% no DM2. O risco
de perda visual e cegueira são substancialmente reduzidos com a detecção
precoce que é realizada pelo exame de fundoscopia e deve ser realizada
anualmente após o diagnóstico de diabetes tipo 2, com o intuito de prevenir
sua evolução. Neste estudo todos os participantes realizaram o exame, fato
esse determinante como importante marcador de qualidade do PED. A
realização desse exame por todo o grupo ainda demonstrou um importante
passo em relação à adesão às orientações dadas quanto à prevenção das
complicações crônicas6.
Dentre as complicações do diabetes, é importante destacar as
alterações na integridade cutaneomucosa, ou seja, as úlceras diabéticas ou
“pé diabético”. Aproximadamente, 15% das pessoas com DM serão afetadas
por úlceras que, se não forem tratadas adequadamente, podem levar à
amputação de membros inferiores. A neuropatia e a doença vascular
periférica, associadas à presença de deformidades e ocorrência de trauma,
são as principais causas da formação da úlcera. Sendo assim, a avaliação das
características da pele, a sensação protetora e a palpação dos pulsos
periféricos, bem como as orientações sistemáticas para os cuidados com os
6,49,69,43,70
pés, auxiliam na prevenção dessa complicação .
Quanto à avaliação da pele e anexos, constatou-se uma melhora
nos cuidados com a higiene, pés, utilização de meias e calçados. Quando a
pessoa observa os cuidados com a pele e com os pés, ela compreende a
66
Discussão

importância da prevenção. Relatos durante o grupo apontaram essa


característica: “...eu não tinha idéia da importância de cuidar dos meus
pés!”. Pace e colaboradores, acompanhando 84 pessoas, identificaram
complicações microvasculares, hipertensão arterial, nível glicêmico
inadequado, sedentarismo, uso de sapatos inapropriados, os quais, associados
às alterações dermatológicas e estruturais, constituíram fatores de risco para
as complicações em extremidades inferiores. Os dados do estudo reforçaram a
necessidade do atendimento primário com ênfase na avaliação de riscos e
educação do paciente 71,72.
Durante o acompanhamento, observou-se que os participantes não
tinham o hábito de examinar os pés ou ser acompanhados por profissionais
capacitados para um exame sistemático. A prática podiátrica melhorou o
corte das unhas, a higiene e as manifestações de onicodistrofias. A
podoprofilaxia possibilitou o conhecimento e ação dos cuidados básicos com
os pés. Na avaliação de risco de ulceração, segundo os critérios estabelecidos
do Consenso Internacional do Pé Diabético, observou-se que os riscos se
mantiveram inalterados no decorrer do programa43.
A propedêutica vascular é um dos itens importantes a serem
realizados nos pés, em função de a doença arterial periférica ser uma das
causas de aproximadamente 1/3 das ulcerações no pé da pessoa com
diabetes. Conforme uma revisão de literatura de Boulton e colaboradores, a
avaliação vascular inicial para verificação do risco de ulceração deve ser a
palpação de pulsos e, caso esses estejam alterados, deve-se realizar o índice
tornozelo braço (ITB). No presente estudo, observou-se alteração na palpação
do pulso em dois pacientes e como o ITB não foi realizado, os participantes
foram encaminhados a um cirurgião vascular 69,73.

Os benefícios da atividade física para a pessoa com diabetes tipo 2


é bem conhecido por: melhorar a sensibilidade à ação da insulina, auxiliar na
redução e manutenção do peso corporal. O exercício, associado à reeducação
alimentar e ao tratamento farmacológico, é essencial para a melhoria do
controle glicêmico e redução dos riscos cardiovasculares. Porém, o exercício,
67
Discussão

quando mal orientado, pode causar riscos para a pessoa com diabetes, como
hipoglicemia, alterações cardíacas, lesão das articulações, entre outras49.

Lima e Silva analisaram o efeito do exercício físico no diabetes tipo


2, verificando uma melhora estatisticamente significativa no controle
glicêmico (redução de HbA1C de 9,5% para 8,5%), nos níveis de lipídios
plasmáticos (redução de triglicerídeos, aumento do HDL) e na frequência
cardíaca. Outro estudo analisado também constatou melhora do controle
glicêmico, associado à realização de atividade física regular. Sendo assim, a
adesão dos participantes do PED à prática de atividade física supervisionada
foi uma ação que colaborou para os resultados desse estudo68,74.

Quanto à composição corporal, houve uma diminuição não


significativa da média de circunferência abdominal e manutenção da média de
IMC. Entretanto, ao analisar as faixas de classificação do IMC, observou-se
uma transição dos participantes interclasses desse índice, demonstrando
redução de gordura corporal ao longo do período de acompanhamento. A
diminuição da gordura corporal está diretamente relacionada ao melhor
controle clinico e metabólico do diabetes. Em estudo realizado por Torres e
colaboradores, não foi encontrada diferença estatística no peso e IMC após 3 e
6 semanas de intervenção educacional e para o autor tais medidas só
apresentam melhora significativa após um período mais prolongado do
53,75
processo educativo .

Para que fosse possível avaliar o impacto da ação educativa do PED,


foi necessário aplicação de um instrumento adaptado, validado e traduzido
para a língua portuguesa para pessoas com diabetes tipo 2. Baseando-se nos
pressupostos teóricos apresentados e compreendendo que capacidade
significa “Poder, aptidão ou possibilidade de fazer ou produzir qualquer coisa”
e ação “modo de proceder”, utilizaram-se antes e após o PED as “Escalas para
Avaliar as Capacidades e Ações de Autocuidado da Pessoa Portadora de
Diabetes”; compreendendo que a adesão dos participantes do programa
deveria englobar tanto a possibilidade de fazer algo (ter conhecimento sobre
determinado assunto, no caso, os cuidados com o diabetes) como o modo de
68
Discussão

proceder, pois isso é o que garante a mudança de atitude e a incorporação do


conceito, bem como de determinado hábito de vida. O objetivo do PED foi
ampliar o conhecimento dos integrantes, fornecendo assim a capacidade de
eles desenvolverem ações para melhora do manejo do diabetes 76,3.

Os resultados das escalas evidenciaram o aumento da capacidade


dos integrantes para o autocuidado no diabetes e uma implementação das
ações para o autocuidado. Contudo, observou-se que algumas temáticas que
já eram conhecidas pelos integrantes no início, tornaram-se ações praticadas
no final do PED. A análise da variabilidade entre as escalas e o grau de
“concordância” medido pelos coeficientes do alfa de Cronbach apontou
impacto nas mudanças de conhecimento e nas ações para o autocuidado após
intervenção educativa (alfa de Cronbach, capacidade = 0,895 e 0,938 ; final =
0,907 e 0,935).Essa análise permitiu identificar a confiabilidade e a
consistência interna das escalas empregadas, detectando que o incremento da
capacidade para o controle do diabetes, ou seja, o conhecimento da doença,
conduziu o sujeito para melhoria das ações para o autocuidado.

Vale ressaltar que essas capacidades não estão diretamente


relacionadas com as mudanças de comportamento. A educação
problematizadora permite que o educando exerça autonomia de transformar
ou não seu comportamento. O profissional deve saber reconhecer o direito e a
responsabilidade da pessoa com diabetes no tratamento e respeitar essa na
tomada de decisão. É necessário considerar situações especiais de quadros
depressivos e demenciais, neste caso, a participação de um cuidador ou
familiar é de fundamental relevância para o acompanhamento clínico da
doença24.

Destaca-se que não foi realizada a análise entre itens das Escalas
de Capacidade e Ação pois parte das questões não são correspondentes.

Na análise de comparação das escalas com as variáveis


independentes para a avaliação do aprendizado, é possível identificar autores
que corroboram ou não com os resultados encontrados.
69
Discussão

Um estudo realizado entre pessoas com DM2 e que teve por


objetivo descrever fatores clínicos, psicológicos e sociais que interferem no
conhecimento do diabetes, identificou compreensão insatisfatória sobre a
doença, que esteve altamente influenciado pela idade: quanto maior a idade,
pior o escore; e anos de escolaridade: quanto menor a escolaridade, pior o
escore, tempo de tratamento, função cognitiva, sexo e nível de depressão.
Outros aspectos que precisam ser considerados no processo de educação é a
relação dos quadros depressivos, hiperglicemia crônica, hipoglicemia e
77,78
demenciamento com a aprendizagem .

Outro estudo realizado por Pace e colaboradores, cujo objetivo foi


verificar o conhecimento de 84 pessoas com diabetes mellitus em relação à
doença, causas e complicações advindas, destacou a importância do
autocuidado em diabetes. A escolaridade foi um fator limitante ao acesso de
oportunidades de aprendizagem relacionadas aos cuidados com a saúde79.

Neste estudo não foram identificadas correlações entre o avanço da


idade e a escolaridade. Em relação à escolaridade, um aspecto que remete
à reflexão é a escassez de estudos com populações com nível socioeconômico
diferenciado, questão que despertou o interesse na pesquisadora. Ao
comparar o estado civil com a outra investigação, não houve correlação dessa
variável no presente estudo77.

Murata e colaboradores não demonstraram correlação entre o


tempo de diagnóstico e o conhecimento do diabetes. O estudo de Pace e
colaboradores associou o tempo de doença com à escassez do conhecimento
do diabetes. O presente estudo, em relação a essas variáveis, verificou que
com 10 anos de diagnóstico não houve relação, porém, com duração de até
cinco anos houve diferença entre os escores das ações e capacidade para o
autocuidado77,79.

Sendo assim, pode-se considerar que, quanto maior o tempo da


doença, menor o conhecimento sobre ela, fato esse que merece atenção.
Indaga-se se, no início do diagnóstico, as pessoas se interessam mais e por isso
70
Discussão

retêm maior conhecimento e com o tempo, pelo fato de o diabetes ser


silencioso, param de dar importância a isto? Ou, em função da idade as
pessoas retêm menor número de informações? Ou, em função da negação da
doença crônica, com o tempo as pessoas tendem a não conferir a importância
que a mesma determina? Com certeza, são necessários mais estudos para
elucidar essas questões.

As diretrizes da SBD e da AADE nortearam a escolha das escalas


aplicadas na população do presente estudo. A avaliação continua dos
resultados dos programas de educação tem a finalidade de direcionar as
intervenções e, consequentemente, melhorar o cuidado. Esses resultados são
divididos em imediatos, intermediários, pós-intermediários e a longo prazo,
4,21,24
conforme descrito anteriormente .

A escala de capacidade teve por objetivo avaliar o conhecimento


dos indivíduos sobre o diabetes, verificando assim os resultados imediatos que
são baseados na aprendizagem do indivíduo. Observou-se, na comparação
entre os resultados iniciais e finais, uma melhora da capacidade e ação para o
autocuidado estatisticamente significativo.

A escala de ação para o autocuidado representou a análise dos


resultados intermediários, ou seja, da mudança comportamental. Essa escala
também apresentou melhora significativa entre o início e fim do PED. Baseada
nos trabalhos de Peeples e colaboradores e Mulkahy e colaboradores, Grossi
descreveu no Manual de Enfermagem da Sociedade Brasileira de Diabetes que
a avaliação dos resultados intermediários deve ser baseada na mudança
comportamental. Em função da distribuição de temas/ações não ser agrupada
em domínios ou temáticas e para maior facilidade na análise dos resultados
das escalas, optou-se por agrupá-las segundo os sete comportamentos
estabelecidos pela AADE, a saber: atividade, alimentação saudável,
monitorização, medicação, resolução de problemas, enfrentamento saudável
e redução de riscos 24.
71
Discussão

O reconhecimento das complicações agudas do diabetes, hipo e


hiperglicemia, são de extrema importância, uma vez que podem causar desde
tremores e sudorese até evoluir para o estado comatoso, se não forem
identificadas e tratadas rapidamente. O item da escala referente à resolução
de problemas e que deveria abordar esse assunto, foi muito bem explorado
em relação à identificação da hipo e hiperglicemia. No entanto, as atitudes
para as correções com medidas como ingestão de carboidrato simples,
deveriam também ser contempladas. Destaca-se que quando realizado o
agrupamento das questões das escalas relacionadas a este comportamento
verificou-se diferença estatisticamente significativa 24,56.

A monitorização no autocuidado do diabetes é um artifício essencial


para a manutenção de um bom controle glicêmico, pois é a única maneira de
a pessoa com diabetes compreender o seu organismo. A utilização da técnica
adequada para a realização da automonitorização garante um resultado
acurado. Na análise das escalas, observa-se que o item monitorização não é
amplamente tratado. Acredita-se que a técnica da automonitorização, os
horários para realização dos testes e a tomada de decisão em relação à
medicação conforme as recomendações médicas também deveriam ser
contempladas 28,80.

A SBD recomenda em suas diretrizes tanto a prescrição de ADO


como de insulina ou ambos, para o DM2. O uso correto das medicações, o que
contempla dose, horário e técnica de aplicação, bem como o conhecimento
de seu mecanismo de ação, garante a eficácia dos medicamentos. Na análise
pormenorizada das escalas, observou-se que esses temas não são tratados
apesar das questões das escalas relacionadas a este comportamento
apresentaram diferença estatisticamente significativa. Destaca-se que esse é
um ponto que merece atenção11,80.

Há um predomínio de questões referentes aos cuidados com os pés


em detrimento de outras complicações crônicas. Além disso, a maneira como
as questões foram formuladas difere das demais, já que foram tratadas ações
específicas, como o corte de unhas e a temperatura da água, por exemplo,
72
Discussão

enquanto as outras questões são mais genéricas. Destaca-se que as questões


relacionadas ao item redução de riscos apresentaram diferença
estatisticamente significativa. O conhecimento das complicações crônicas
bem como das ações para a sua prevenção e controle são essenciais para a
garantia da qualidade de vida das pessoas com diabetes11,80.
A abordagem psicossocial é de extrema importância para o
automanejo do diabetes. Compreender o seu significado, saber lidar com a
doença e suas dificuldades no dia-a-dia auxiliam a pessoa a conviver melhor
com a disfunção. Portanto, destaca-se que a medida de enfrentamento
saudável deveria ser incluída em ambas as escalas. O educador em diabetes
necessita conhecer o educando para planejar de modo individualizado a
educação. Remetendo mais uma vez aos conceitos de Paulo Freire, a
educação deve ser problematizadora e, sendo assim, a aceitação da doença
passa a ser o primeiro passo para uma abordagem de qualidade, pois somente
conceitos não garantem um autocuidado eficaz29.

Sendo assim, a estratégia de ter duas escalas complementares,


uma abordando o conhecimento sobre o diabetes, seus cuidados e
complicações, permitindo analisar os resultados imediatos de aprendizagem, e
outra de ação, ou seja, verificando a mudança comportamental do indivíduo,
baseada nos sete comportamentos descritos, seria ideal para a avaliação
continua dos resultados da educação em diabetes. Dessa forma, seria possível
diferenciar o que a pessoa sabe sobre a doença e o que ela efetivamente faz
diariamente. Destaca-se, no entanto, a necessidade de revisar as escalas
utilizadas para que essas possam englobar todos os aspectos dos sete
comportamentos essenciais para o cuidado do diabetes.

A análise das escalas permitiu verificar que não são descritos os


parâmetros objetivos para avaliação do automanejo do diabetes. Sugere-se,
portanto, que, para melhor utilização desse instrumento, o educador deve
estabelecer os parâmetros conforme as diretrizes estabelecidas em seu
serviço e aplicar a escala associada à demonstração prática de condutas, por
exemplo, o uso do aparelho de glicemia ou o que comer em caso de
73
Discussão

hipoglicemia. Essa seria uma forma de potencializar o uso do instrumento


como subsidio da educação em diabetes.

A educação em diabetes, apesar de ser um tema conhecido e


estudado há alguns anos, ainda necessita de muitas pesquisas que norteiem
uma prática consolidada com embasamento técnico cientifico visando,
principalmente, ao aprimoramento do manejo do diabetes e à consequente
melhora da qualidade de vida a curto, médio e longo prazo.

Infelizmente a educação em saúde na área do diabetes ainda não


constitui uma prática integrada aos modelos assistenciais. Nesse caso, em
especial, aos cuidados de enfermagem. Escalas de avaliação validadas e
adaptadas à realidade brasileira além de parâmetros nacionais para avaliar
indicadores da educação em saúde devem ser investigadas e melhor
elucidadas.
74
Implicações para a prática

6 IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

O acompanhamento do PED, bem como da literatura específica,


permitiu à pesquisadora vivenciar a carência de informações direcionadas à
educação para o público privado, reforçando sua hipótese da necessidade do
desenvolvimento de programas educacionais voltados a essa população.

Alguns aspectos devem ser considerados para a implantação dessa


atividade nas ações de saúde. A decisão de participar de um programa de
educação requer da pessoa com diabetes um planejamento prévio para
adequação de suas atividades. Sugere-se que seja entregue um cronograma
das atividades desde o início do programa, visando facilitar a organização dos
participantes e, consequentemente, a adesão desses.

O acompanhamento da atividade física deve ser mais


individualizado, em especial para as pessoas que não conseguem comparecer
às atividades propostas para o grupo. Consulta individual inicial com retorno
e final, associadas a telefonemas mensais do educador físico, pode auxiliar
na adesão da atividade.

A abordagem psicológica deve ser feita prioritariamente em


consultas individuais, podendo ser complementada por atividades em grupo.
Deve-se ter um psicólogo de referência para os casos necessários.

A escala utilizada no estudo possui aspectos facilitadores e


dificultadores, sendo necessária uma nova revisão desta, em especial pela não
contemplação de todos os aspectos, hoje reconhecidos como essenciais para
avaliação de um programa de educação em diabetes, principalmente os
relacionados aos sete comportamentos.

Ressalta-se, porém, que o uso de duas escalas que podem ser


comparadas entre si e que mensuram não apenas o conhecimento
(capacidade), mas sim a ação da pessoa com diabetes, são instrumentos
75
Implicações para a prática

válidos para avaliar os resultados imediatos e intermediários de um programa


de educação, conforme recomendação da AADE.

Floresceu ainda, após essa experiência, o desejo de desenvolver um


instrumento capaz de avaliar resultados desses programas e que auxilie na
melhora constante da educação, para que as pessoas com diabetes possam
sentir-se cada vez mais capacitadas para o manejo de sua doença e,
consequentemente, vivam por muitos anos com um diabetes silencioso, ou
seja, sem que tenha que ser lembrado em função de uma de suas
complicações decorrentes do mau controle clínico. Reitero a frase de Elliot P.
Joslin: “educação em diabetes se tornou não só um elemento do tratamento,
mas o próprio tratamento dessa condição2”.

Mensurar comportamentos pode tornar a pesquisa uma atividade


insana, recomendar padrões de conduta requer antes de tudo compreender a
dimensão do ser humano e da saúde na multifatoriedade. Tornar-se um
profissional de educação exige competência cientifica, técnica e engajamento
político e ético.
76
Conclusão

7 CONCLUSÃO

O Programa de Educação em Diabetes (PED), desenvolvido para o


presente estudo, possibilitou a melhora estatisticamente significativa dos
valores de hemoglobina glicada, variabilidade glicêmica e variação diastólica
da pressão arterial dos seus integrantes.

Não houve melhora significativa no perfil lipídico e na composição


corporal dos indivíduos. Destaca-se, porém, que houve uma migração
importante entre as classes do IMC.

O uso das Escalas para avaliar as capacidades e ações de


autocuidado da pessoa com diabetes é válido para a mensuração de
resultados. Ao comparar os seus escores, verificou-se uma melhora
significativa em ambas. Destaca-se que, no período igual ou superior a cinco
anos de diagnóstico, as capacidades foram superiores às ações para o
autocuidado, tanto na fase inicial como na final do programa.

A mensuração de resultados de programas de educação é essencial


para a análise destes e proposição de melhorias. No entanto, acredita-se que
as escalas utilizadas no presente estudo não contemplam todas as ações
necessárias para o controle do DM e a prevenção de complicações agudas e
crônicas. Dessa forma, são necessários estudos de validação que analisem as
etapas para uma revisão da mesma ou o desenvolvimento de outro
instrumento que contemple todas as temáticas.

Conclui-se, portanto, que programas de educação são essenciais para a


capacitação de pessoa com diabetes para manejar a sua doença no dia-a-dia e
deve ser exercida com metodologia que permita tratar os participantes como
sujeitos do processo para que adquiram autonomia para as ações do
autocuidado. Esse processo se mostrou eficaz para os usuários do sistema
privado.
77
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Mellitus. Departamento de Enfermagem da Sociedade Brasileira de
Diabetes. Disponível em URL: http://www.diabetes.org
86
Anexos

8 ANEXOS

ANEXO 1

FICHA DE TRIAGEM

IDENTIFICAÇÃO:

NOME: _____________________________________

DATA NASCIMENTO:___/___

PROFISSÃO:__________________ ( ) ATIVO ( ) NÃO ATIVO

TEL: _____-_____( res) _____- _____(cel) E-mail:________________________

DADOS GERAIS:

Peso :________kg Altura: _______cm Índice de Massa Corpórea: ________kg/cm2

Glicemia de jejum:_____ mg/dl jejum: ( ) sim ( ) não

Pressão Arterial: _________ mmHg

Hemoglobina glicada: ______ ( ) não trouxe ( ) não sei ( ) nunca fez data:__/__/__

Colesterol total:___ LDL:___ HDL___ ( ) não trouxe ( ) nunca fez data: __/__/__

POR FAVOR RESPONDA AS QUESTÕES ABAIXO:

1-) Você tem:

Diabetes ( ) não ( ) não sei ( ) sim Há quanto tempo? __ anos

Pressão Alta ( ) não ( ) não sei ( ) sim

Problema de coração ( ) não ( ) não sei ( ) sim Qual?___________________

Colesterol alto ( ) não ( ) não sei ( ) sim

Problema nos rins ( ) não ( ) não sei ( ) sim Qual?___________________


87
Anexos

Problema nos olhos ( ) não ( ) não sei ( ) sim Qual?___________________

Problema de circulação ( ) não ( ) não sei ( ) sim Qual?___________________

Varizes ( ) não ( ) não sei ( ) sim

Formigamento nas pernas ( ) não ( ) não sei ( ) sim

Dor nas pernas ( ) não ( ) não sei ( ) sim

Inchaço nas pernas ( ) não ( ) não sei ( ) sim

Amputação ( ) não ( ) sim Local: _______________

Há quanto tempo?__________ Causa: ________________

Cicatriz de ferida anterior ( ) não ( ) sim Local:_______ Causa:_____________

Ferida atual ( ) não ( ) sim Local: _______ Causa:____________

Há quanto tempo?__________

Alguma outra doença como?

( ) Alzheimer

( ) Demência senil

( ) Outros: ___________________________

2-) Você é fumante?

( ) não ( ) sim Quantos cigarros você fuma por dia? _____________

Há quanto tempo?_____________________________

( ) Ex-fumante Parou há quanto tempo?___________

3-) Você bebe regularmente?

( ) não ( ) sim Que tipo de bebida você costuma tomar? ______________

Quantos copos você bebe por dia/semana? _____________

Há quanto tempo?_____________________________

( ) Ex- alcoólatra Parou há quanto tempo?___________

4-) Algum médico acompanha o seu diabetes?

( ) não ( ) sim
88
Anexos

4a-) Qual a sua especialidade? ________________________________

4b-) Qual o seu nome?_____________________________________________

4c-) Com que freqüência você retorna a esse médico?

( ) 1x mês ( ) 2x ano ( ) 1x ano ( ) outra ____________

5-) Quais os remédios que você toma todos os dias?

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________

6-) Você faz atividade física?

( ) não

( ) sim Tipo:_______________________________________

Frequência: ( ) 1x semana ( ) 2x semana ( ) 3x semana ( ) outra _________

6a-)Você estaria disposto a realizar atividade física?

( ) não Porque?____________________ ( ) sim

7-) Você faz dieta para o diabetes? ( ) sim ( ) não

8-) Você possui um aparelho para medir glicemia em casa?

( ) não ( ) sim

8.a-) Com que freqüência você faz o teste? ____________ Onde?______________


89
Anexos

ANEXO 2
90
Anexos
91
Anexos
92
Anexos

Anexo 3

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES CUIDIABET 1


ATIVIDADE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Caminhada* X X

Consulta** Enf Enf Enf Enf Enf Enf Enf Enf

+ + + + + + + +

Nutri Nutri Nutri Nutri Nutri Nutri Nutri Nutri

Educador
Físico

Dinâmica Monito- Psicologia Psicologia Psicologia Encerra-


rização
mento

Palestra Enfer- Nutrição Nutrição Médico Odonto- Enfer-

(área magem logia magem


responsável)

Atividade X X X X X X X X X X X X
fisica

Obs: * as caminhadas aconteceram sempre aos sábados às 9hs30 no Parque do Ibirapuera (portão 7)
** as consultas com a podóloga foram marcadas a cada 30 ou 40 dias conforme necessário
93
Anexos

ANEXO 4
PLANILHA MONITORAMENTO

NOME:______________________________________________________________

ORIENTAÇÕES:

1) Realizar os testes de glicemia três dias seguidos nos horários determinados


2) Anotar o horário e o resultado
3) Tomar suas medicações normalmente
4) Em caso de dúvidas falar com: Enf. Gabriela tel: 5904-1199 ou 8267-7621

DATA

HORA RESULTADO HORA RESULTADO HORA RESULTADO

ANTES CAFÉ

2 HORAS APÓS*

ANTES ALMOÇO

2 HORAS APÓS*

ANTES JANTAR

2 HORAS APÓS*

MADRUGADA**

*os testes pós-refeição devem ser feitos 2 horas após o início da refeição

** o teste da madrugada deve ser feito apenas por quem faz uso de insulina e por
volta das 03hs da manhã.

Observações:_____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
94
Anexos

RECORDATÓRIO ALIMENTAR

ORIENTAÇÕES:

1) Preencha abaixo o que, qual a quantidade em medida caseira (xícara ou colheres) e


que horas você comeu nos dias que fizer os testes.

Dia/Hora Alimento e Quantidade Medida Caseira


95
Anexos

Anexo 5

PRONTUÁRIO CUIDIABET

1. DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
NOME:____________________________________________________________

TELEFONE RES:____________________ CEL:________________________

ENDEREÇO: ___________________________________________________________

E-MAIL: ______________________________________________________________

ACOMPANHANTE:_____________________________________________________

DATA DE NASCIMENTO:___/___/___

ESCOLARIDADE: ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo ( ) ensino


médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior
completo

OCUPAÇÃO: ( ) Aposentado. Qual a profissão que exercia?_________________

( ) Licença médica. Causa:________________________

( ) Do lar

( ) Ocupado: Tipo ___________________

( ) Desempregado Qual a profissão que exercia? ________________________

COR: ( ) Branca ( ) Negra ( )Parda ( ) Amarela ( ) Outras________________

NATURALIDADE: País_________ Estado___ Cidade_________ ( ) não sabe

PROCEDÊNCIA: País______________ Estado___ Cidade _________ ( ) não sabe

2. ANTECEDENTES PESSOAIS
96
Anexos

( ) DIABETES Tipo: ( ) 1 ( ) 2 Há quanto tempo? ____________

( ) HAS

( ) TABAGISMO Há quanto tempo? _______ Quantos cigarro/dia?_________

Parou há quanto tempo?_______

( ) ETILISMO Que tipo de bebida você costuma tomar? ______________

Quantos copos você bebe por dia/semana? _____________

Há quanto tempo?_____________________________

Parou há quanto tempo?___________

( ) CARDIOPATIA:______________________________

( ) INSUFICIÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA

( ) arterial

( ) venosa - Meia elástica? ( ) não ( ) sim _____________________

Exame confirmatório: ( ) não ( ) sim __________________________

( ) HIPERCOLESSEROLEMIA

( ) RETINOPATIA

( ) VASCULOPATIA

( ) NEUROPATIA

( ) NEFROPATIA

( ) OUTROS_________________________________________________________________________

( ) CIRURGIAS/INTERNAÇÕES :
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________

MEDICAÇÕES DE USO HABITUAL:

NOME DOSAGEM FREQUÊNCIA/HORA NOME DOSAGEM FREQUÊNCIA/HORA


97
Anexos

ALTERAÇÃO DAS MEDICAÇÕES

DATA ALT. NOME DOSAGEM FREQ/HORA DATA ALT. NOME DOSAGEM FREQ/HOR

3.EXAMES

ABRIL MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR

HbA1C

Glicemia média

Glicemia de jejum*

Micro

albuminúria

Colesterol total

LDL

HDL

Triglicérides

*GL = glicemia laboratorial GD = glicemia domiciliar

OUTROS EXAMES

FUNDO DE OLHO: ( ) não ( ) sim

Data: __/__/__

Resultado:
___________________________________________________________________________

Data: __/__/__

Resultado:_________________________________________________________________________
98
Anexos

4. EXAME FÍSICO

CARDIOPULMONAR:

( ) sem alteração

( ) alterado: ____________________________________________________________

PA:_______ mmHg

Pulso: _____bpm ( ) rítmico ( ) arrítmico

( ) fino ( ) cheio

DATA

PA

PULSO

NEUROVASCULAR:

Pulso :

Tibial posterior ( ) Filiforme ( ) cheio ( ) ausente

Pedioso ( ) Filiforme ( ) cheio ( ) ausente

CARACTERÍSTICA DA PELE/ ANEXOS / DEFORMIDADES

FASE INICIAL FASE FINAL

E D E D

( ) ( ) ( ) ( ) Sem Alteração

( ) ( ) ( ) ( ) Edema local:_______ ___/4+ local:________ ___/4+

( ) ( ) ( ) ( ) Hiperemia local:_______ ___/4+ local:________ ___/4+

( ) ( ) ( ) ( ) Ressecada

( ) ( ) ( ) ( ) Macerada

( ) ( ) ( ) ( ) Fissura Interdigital local:_____________ local:_____________


( ) ( ) ( ) ( ) Calosidade local:_____________ local:_____________
99
Anexos

( ) ( ) ( ) ( ) Micose Interdigital local:_____________ local:_____________

( ) ( ) ( ) ( ) Varizes

( ) ( ) ( ) ( ) Cicatriz de ferida anterior Local: _____________________

Há quanto tempo?____________ Tipo de lesão: _______________

( ) ( ) ( ) ( ) Úlcera Local: __________________

Característica: _________________________________________________

Tratamento atual:________________________________________________

( ) ( ) ( ) ( ) Dedos em Garra

( ) ( ) ( ) ( ) Charcot

( ) ( ) ( ) ( ) Joanete

( ) ( ) ( ) ( ) Amputação Local: _________ Causa:_________________

( ) ( ) ( ) ( ) Outros ______________________________________

Tipo de Calçado:

FASE INICIAL FASE FINAL

Especial ( ) ( )

Preventivo ( ) ( )

Comum tipo:________________ ( ) ( )

Palmilha tipo: _______________ ( ) ( )

Tipo de Meia:

FASE INICIAL FASE FINAL

Algodão ( ) ( )

Sintética ( ) ( )

Não Usa ( ) ( )
100
Anexos

Condições de Higiene:

FASE INICIAL FASE FINAL

Boa ( ) ( )

Regular ( ) ( )

Ruim ( ) ( )

Característica Ungueal

FASE INICIAL FASE FINAL

Corte das unhas ( ) adequado ( ) inadequado ( ) adequado ( ) inadequado

Onicomicose ( ) não ( ) sim ( ) não ( ) sim

FASE INICIAL FASE FINAL

Sensibilidade térmica: ( ) preservada ( ) alterada ( ) preservada ( ) alterada

Sensibilidade vibratória: ( ) preservada ( ) alterada ( ) preservada ( ) alterada

Sensibilidade táctil: ( ) preservada ( ) alterada ( ) preservada ( ) alterada

Classificação de Risco: ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )0 ( )1 ( )2 ( )3

5. NUTRIÇÃO

- Ingestão de álcool: ________________________________________________________________

- Função Intestinal:_________________________________________________________________

- Ingestão Hídrica:_________________________________________________________________

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