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Info 605 STJ PDF
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Informativo 605-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
SIGILO BANCÁRIO
Publicação no jornal dos nomes dos clientes que tinham contas de poupança no banco, em determinado período,
representa quebra do sigilo bancário.
DIREITO ADMINISTRATIVO
TARIFAS DE TRANSPORTE PÚBLICO
Decisão que suspende reajuste das tarifas de transporte público urbano viola a ordem pública.
DIREITO CIVIL
ARBITRAGEM
O STJ não irá homologar a sentença arbitral estrangeira se constatar que o árbitro que participou do procedimento
não gozava de imparcialidade.
CONTRATO DE LOCAÇÃO
É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente, o valor que pagou ao locador.
DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO
Fabricante de veículo tem o dever de indenizar danos muito graves decorrentes da abertura do air bag.
OFERTAS PUBLICITÁRIAS
A fonte utilizada nas ofertas publicitárias pode ser inferior ao tamanho 12.
CONTRATOS BANCÁRIOS
A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo devedor?
DIREITO EMPRESARIAL
CONTRATOS BANCÁRIOS
A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo devedor?
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas é físico no Tribunal, não se aplica a dispensa de juntada de
documentos prevista no art. 1.017, § 5º do CPC/2015.
DIREITO TRIBUTÁRIO
SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
Revogada a medida liminar que suspendia a exigibilidade do crédito tributário, volta a correr o prazo prescricional.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
DEVOLUÇÃO DE VALORES RECEBIDOS JUDICIALMENTE
O art. 115, II, da Lei 8.213/91 não pode ser aplicado para cobrança de valores pagos pelo INSS por força de decisão
judicial posteriormente revogada.
DIREITO CONSTITUCIONAL
SIGILO BANCÁRIO
Publicação no jornal dos nomes dos clientes que tinham contas de poupança
no banco, em determinado período, representa quebra do sigilo bancário
O contrato bancário está fundado numa operação de confiança entre banco e cliente, com a garantia do
sigilo prevista no art. 1º da Lei Complementar nº 105/2001: “as instituições financeiras conservarão sigilo
em suas operações ativas e passivas e serviços prestados”.
Os dados cadastrais dos correntistas estão inseridos na proteção do sigilo bancário, sendo que sua
relativização (“quebra”) ocorre apenas em caráter excepcional e nas hipóteses expressamente previstas
em LC 105/2001.
A existência de decisão favorável aos interesses dos correntistas de determinada instituição financeira não
autoriza que o Poder Judiciário torne públicos os dados cadastrais dos beneficiários, especialmente em
ação civil pública ajuizada por instituição de defesa do consumidor, cuja propositura pode ocorrer sem a
anuência da parte favorecida.
Deve-se buscar, portanto, a conciliação do direito dos beneficiários a receberem o crédito a que fazem jus
com o sigilo bancário dos poupadores que, além de não terem participado da lide, não podem ter seus
dados bancários tornados públicos, escancarados, sem sua expressa autorização.
A satisfação do crédito bancário, de cunho patrimonial, não pode se sobrepor ao sigilo bancário, instituto
que visa proteger o direito à intimidade das pessoas, que é direito intangível da personalidade.
O direito à intimidade é direito personalíssimo que tem por fundamento a defesa da privacidade humana,
além de ter a característica básica da não exposição de elementos ou informações da esfera íntima ou
reservada de seu titular.
O direito ao sigilo, por sua vez, impede terceiros de divulgarem dados personalíssimos do titular do direito.
No caso concreto, o juiz determinou ao banco que fornecesse a relação dos correntistas beneficiários da
ação para que ficasse disponível para consulta pública no cartório. Essa divulgação de elementos
cadastrais dos beneficiários configura quebra do sigilo bancário e do direito à intimidade, que não pode
ser violado sob o argumento de facilitação da defesa do consumidor em juízo.
Assim, os cadastros individuais devem permanecer em segredo de justiça, com acesso restrito ao Poder
Judiciário.
Foi correta a decisão do magistrado de determinar a publicação do edital de convocação pelos jornais
de grande circulação?
NÃO. O novo CPC estabeleceu que, como regra, os editais deverão ser publicados pela rede mundial de
computadores, constituindo-se na atualidade o meio mais eficaz da informação para atingir um grande
número de pessoas, sendo, inclusive, mais eficiente do que a publicação em jornais impressos.
Veja o que diz o art. 257 do CPC/2015:
Art. 257. São requisitos da citação por edital:
(...)
II - a publicação do edital na rede mundial de computadores, no sítio do respectivo tribunal e na
plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, que deve ser certificada nos autos;
DIREITO ADMINISTRATIVO
A interferência judicial para invalidar a estipulação das tarifas de transporte público urbano
viola a ordem pública, mormente nos casos em que houver, por parte da Fazenda estadual,
esclarecimento de que a metodologia adotada para fixação dos preços era técnica.
Segundo a “doutrina Chenery”, o Poder Judiciário não pode anular um ato político adotado
pela Administração Pública sob o argumento de que ele não se valeu de metodologia técnica.
Isso porque, em temas envolvendo questões técnicas e complexas, os Tribunais não gozam de
expertise para concluir se os critérios adotados pela Administração são corretos ou não.
Assim, as escolhas políticas dos órgãos governamentais, desde que não sejam revestidas de
reconhecida ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo Poder Judiciário.
STJ. Corte Especial. AgInt no AgInt na SLS 2.240-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/6/2017 (Info 605).
Nomenclatura
Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque ele foi
previsto originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou sentenças proferidas em
mandados de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para
praticamente toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em “suspensão de liminar”,
“suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc.
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário).
Competência
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente do
Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a decisão.
Decisão prolatada
Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de suspensão será
por juiz de 1ª
julgado pelo Presidente do TRF1.
instância:
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de suspensão será
julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
Decisão prolatada Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
por membro de TJ ou
TRF: Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de suspensão
será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao Presidente do TJ/AM (art.
25 da Lei nº 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de pedido
Decisão prolatada
de suspensão dirigido ao Presidente do STF.
por membro de
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há possibilidade de pedido
Tribunal Superior:
de suspensão.
Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é preciso, para
que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade na tese da Fazenda Pública,
porque o pedido de suspensão funciona como uma contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus
boni iuris e periculum in mora inverso:
A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de um juízo mínimo de
delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal, quando da análise do pedido de
suspensão de decisão.
STF. Plenário. STA 73 AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 17/03/2008.
Com relação à controvérsia sobre a revisão de preços de transporte coletivo, o STF possui precedentes
dizendo que "o reajuste de tarifas do serviço público é manifestação de uma política tarifária, solução, em
cada caso, de um complexo problema de ponderação entre a exigência de ajustar o preço do serviço às
situações econômicas concretas do seguimento social dos respectivos usuários ao imperativo de manter
a viabilidade econômico-financeiro do empreendimento do concessionário" (RE 191.532-SP, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 29/8/1997).
Assim, a interferência judicial para invalidar a estipulação das tarifas de transporte público urbano não
pode ser admitida como medida liminar por violar gravemente a ordem pública.
Os atos administrativos praticados pelo Poder Público gozam de presunção de legitimidade, sendo
considerados válidos até prova definitiva em sentido contrário.
Vale ressaltar, ainda, que, no caso concreto, a Fazenda Pública esclareceu que a metodologia adotada para
fixação dos preços era técnica.
Desse modo, a cautela impede que seja sustada a recomposição tarifária estipulada pelo Poder Público.
Postura tão drástica deveria ocorrer somente após a constatação, sem dúvidas, de que, de fato, existe
uma ilegalidade. Isso, contudo, somente pode ser atestado após a devida instrução, com o decurso da
tramitação completa do processo judicial originário.
Doutrina Chenery
Neste julgamento, a Min. Laurita Vaz mencionou um importante tema, que é a chamada “doutrina
Chenery”.
A “doutrina Chenery” (Chenery doctrine) surgiu a partir de um julgamento da Suprema Corte norte-
americana (SEC v. Chenery Corp., 318 U.S. 80, 1943).
Segundo essa teoria, o Poder Judiciário não pode anular um ato político adotado pela Administração
Pública sob o argumento de que ele não se valeu de metodologia técnica. Isso porque, em temas
envolvendo questões técnicas e complexas, os Tribunais não gozam de expertise para concluir se os
critérios adotados pela Administração são corretos ou não.
Assim, as escolhas políticas dos órgãos governamentais, desde que não sejam revestidas de reconhecida
ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo Poder Judiciário.
A “doutrina Chenery” é bem explicada por um autor norte-americano chamado Richard Posner, que trata
sobre a análise econômica do Direito, ou seja, sobre os reflexos econômicos das decisões judiciais
(Economic Analysis of Law. Fifth Edition. New York: Aspen Law and Business, 1996).
DIREITO CIVIL
ARBITRAGEM
O STJ não irá homologar a sentença arbitral estrangeira se constatar que
o árbitro que participou do procedimento não gozava de imparcialidade
Regulamentação
A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei nº 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC
versando sobre o tema.
Convenção de arbitragem
As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de
arbitragem (art. 3º).
Convenção de arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:
• a cláusula compromissória e
• o compromisso arbitral.
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste
contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil
brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de
Arbitragem)."
Qual é a exigência para que uma sentença arbitral estrangeira produza efeitos no Brasil?
Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à
homologação do Superior Tribunal de Justiça (art. 35 da Lei nº 9.307/96).
Essa homologação segue o mesmo procedimento adotado para homologação das demais sentenças
estrangeiras.
Nesse cenário, o que decidiu o STJ? O STJ poderá examinar novamente esta alegação da parcialidade do
árbitro mesmo isso já tendo sido rejeitado pela Justiça dos EUA?
SIM. O STJ negou a homologação da sentença arbitral estrangeira sob o argumento de que o árbitro, de
fato, não gozava de imparcialidade. Confira:
A prerrogativa de imparcialidade do julgador aplica-se à arbitragem e sua inobservância resulta em
ofensa direta à ordem pública nacional – o que legitima o exame da matéria pelo Superior Tribunal de
Justiça, independentemente de decisão proferida pela Justiça estrangeira acerca do tema.
STJ. Corte Especial. SEC 9.412-EX, Rel. Min. Felix Fischer, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 19/4/2017 (Info 605).
O STJ, ao examinar se homologa ou não a sentença arbitral estrangeira, não está vinculado ao resultado
da ação anulatória proposta perante a Justiça dos EUA.
Quando o STJ analisa a possibilidade de homologação de sentença estrangeira, ele verifica se foram
observados os requisitos formais previstos no art. 5º da Resolução nº 9/2005-STJ e se a sentença
estrangeira ofende a soberania ou a ordem pública nacional.
A imparcialidade do julgador é uma das garantias do devido processo legal, também aplicável à
arbitragem. A inobservância da imparcialidade ofende, diretamente, a ordem pública nacional.
Assim, a sentença proferida pela Justiça Federal americana à luz de sua própria legislação não tem o
condão de obstar o exame do STJ quanto a possível ofensa à ordem pública nacional decorrente da alegada
imparcialidade do árbitro.
A relação do árbitro com a empresa 1 pode se enquadrar na hipótese de suspeição prevista no art. 145,
III, do CPC:
Art. 145. Há suspeição do juiz:
(...)
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou
de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
Portanto, o recebimento pelo escritório de advocacia do árbitro-presidente de vultosa quantia paga por
uma das partes no curso da arbitragem configura hipótese objetiva passível de comprometer a isenção do
árbitro.
Vale ressaltar que a Lei nº 9.307/96 afirma que “é nula a sentença arbitral se emanou de quem não podia
ser árbitro” (art. 32, II).
CONTRATO DE LOCAÇÃO
É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente o valor que pagou ao locador
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato
de locação pleitear o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários
inadimplentes.
O termo inicial deste prazo é a data em que houve o pagamento do débito pelo fiador,
considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e, via de consequência, inaugura-se
ao fiador a possibilidade de demandar judicialmente a satisfação de seu direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2017 (Info 605).
Qual é o prazo prescricional para que João ingresse com a ação de ressarcimento contra Rui?
3 anos, nos termos do art. 206, § 3º, I, do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
Mas o art. 206, § 3º, I fala em “pretensão relativa a aluguéis”. Isso se aplica também para o pedido de
ressarcimento formulado pelo fiador que pagou?
SIM. O fiador, ao pagar a dívida para o locador, sub-roga-se nos direitos do credor, ou seja, passa a ter os
mesmos direitos que o credor (locador) possuía, conforme preconiza o art. 349 do CC:
Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias
do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.
Dessa forma, ocorrendo a sub-rogação do fiador nos direitos do credor, em razão do pagamento da dívida
objeto de contrato de locação, permanecem todos os elementos da obrigação primitiva, inclusive o prazo
prescricional, modificando-se tão somente o sujeito ativo (credor), e, também, por óbvio, o termo inicial
do lapso prescricional, que, no caso, será a data do pagamento da dívida pelo fiador, e não de seu
vencimento.
Assim, como o art. 206, § 3º, I valia para o locador, agora ele se aplica para o fiador que pagou, em razão
de ele ter se sub-rogado nos direitos do credor originário.
Esse prazo de 3 anos para o fiador pedir o ressarcimento começa a ser contado a partir de quando?
Da data do pagamento pelo fiador. O termo inicial do prazo prescricional não será o vencimento da dívida
decorrente do contrato de locação, mas sim a data em que houve o pagamento do débito pelo fiador,
considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e, via de consequência, inaugura-se ao fiador a
possibilidade de demandar judicialmente a satisfação de seu direito.
Em resumo:
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de locação
pleitear o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes.
O termo inicial deste prazo é a data em que houve o pagamento do débito pelo fiador, considerando
que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e, via de consequência, inaugura-se ao fiador a possibilidade
de demandar judicialmente a satisfação de seu direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2017 (Info 605).
DIREITO DO CONSUMIDOR
Expectativa legítima
Em matéria de proteção da segurança dos consumidores prevalece a regra da expectativa legítima. Isso
significa que os produtos e serviços colocados no mercado devem atender às expectativas de segurança
que deles legitimamente se esperam.
É certo que o acionamento do air bag pode causar alguns ferimentos no usuário do veículo. No entanto,
no caso concreto, as consequências do fato ultrapassaram a expectativa normal e legítima dos possíveis
danos que o air bag poderia causar no consumidor.
Assim, mesmo o air bag sendo um mecanismo de segurança de periculosidade inerente, esse fato, por si
só, não autoriza que a montadora do veículo se exima da responsabilidade de indenizar. Isso porque os
danos sofridos pela vítima estão fora da normalidade do uso e dos riscos que razoavelmente dele se
esperam (art. 12, § 1º, II do CDC).
Resumindo:
A comprovação de graves lesões decorrentes da abertura de air bag em acidente automobilístico em
baixíssima velocidade, que extrapolam as expectativas que razoavelmente se espera do mecanismo de
segurança, ainda que de periculosidade inerente, configura a responsabilidade objetiva da montadora
de veículos pela reparação dos danos ao consumidor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.656.614-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/5/2017 (Info 605).
OFERTAS PUBLICITÁRIAS
A fonte utilizada nas ofertas publicitárias pode ser inferior ao tamanho 12
Importante!!!
O art. 54, § 3º do CDC prevê que, nos contratos de adesão, o tamanho da fonte não pode ser
inferior a 12.
Essa regra do art. 54, § 3º NÃO se aplica para ofertas publicitárias. Assim, as letras que
aparecem no comercial de TV ou em um encarte publicitário não precisam ter, no mínimo,
tamanho 12.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.678-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/5/2017 (Info 605).
Assim, nos contratos de adesão, o tamanho da fonte não pode ser inferior a 12.
Essa regra do art. 54, § 3º também se aplica, por analogia, para peças publicitárias? Na publicidade dos
produtos ou serviços também se deve utilizar fonte de, no mínimo, tamanho 12? Ex: as letras que
aparecem no comercial de TV ou em um encarte publicitário devem ter, no mínimo, tamanho 12?
NÃO.
A previsão de tamanho mínimo de fonte em contratos de adesão estabelecido no art. 54, § 3º, do CDC
não é aplicável ao contexto das ofertas publicitárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.678-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/5/2017 (Info 605).
Situações são distintas, razão pela qual não se pode aplicar a analogia
Num contrato, a relação jurídica contratual se estabelece entre um número determinado de pessoas (os
contratantes), ao passo que, no âmbito da oferta ao público, a relação jurídica se estabelece entre o
anunciante e um número indeterminado de pessoas (toda a coletividade exposta à publicidade).
Outra distinção diz respeito aos custos do suporte material do contrato e do anúncio.
Tratando-se de um contrato, o espaço ocupado pelas letras no papel não é significativo em termos de
custo, pois o custo de uma folha de papel é desprezível em relação ao preço dos produtos e serviços.
Tratando-se, porém, de um anúncio na imprensa, o espaço ocupado pelas letras tem um custo
significativo, sendo, por vezes, superior ao preço do produto anunciado.
CONTRATOS BANCÁRIOS
A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo devedor?
Importante!!!
• Contratos celebrados antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 (antes de 10/12/2007): SIM.
• Contratos firmados depois da Resolução CMN nº 3.516/2007 (de 10/12/2007 para frente): NÃO
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de
10/12/2007, podem ser cobradas tarifas pela liquidação antecipada no momento em que for
efetivada a liquidação, desde que a cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no
extrato de conferência.
É permitida, desde que expressamente pactuada, a cobrança da tarifa de liquidação
antecipada de mútuos e contratos de arrendamento mercantil até a data da entrada em vigor
da Resolução nº 3.501/2007 (10/12/2007).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/2/2017 (Info 597).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.392.449-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 24/5/2017 (Info 605).
Arrendamento mercantil
O arrendamento mercantil (também chamado de leasing) é uma espécie de contrato de locação, no qual
o locatário tem a possibilidade de, ao final do prazo do ajuste, comprar o bem pagando uma quantia
chamada de valor residual garantido (VRG).
O arrendamento mercantil, segundo definição do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 6.099/74, constitui
"negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica,
na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela
arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta."
Opções do arrendatário
Ao final do leasing, o arrendatário terá três opções:
• renovar a locação, prorrogando o contrato;
• não renovar a locação, encerrando o contrato;
• pagar o valor residual e, com isso, comprar o bem alugado.
Exemplo
“A” celebra um contrato de leasing com a empresa “B” para arrendamento de um veículo 0km pelo prazo
de 5 anos. Logo, “A” pagará todos os meses um valor a título de aluguel e poderá utilizar o carro. A principal
diferença em relação a uma locação comum é que “A”, ao final do prazo do contrato, poderá pagar o valor
residual (VRG) e ficar definitivamente com o automóvel.
Liquidação antecipada
Algumas pessoas acham interessante ir pagando não apenas as prestações mensais do leasing, mas
também as prestações futuras com o objetivo de quitar logo a dívida e também reduzir o valor que é pago
a título de juros.
Ex: por força do contrato, João tem que pagar todos os meses cerca de R$ 500, mais juros, pelo leasing de
um carro; isso irá durar 60 meses; estavam faltando 20 parcelas para terminar os pagamentos; foi então
que João recebeu uma indenização trabalhista e decidiu quitar a dívida toda, antecipando as prestações
que faltavam.
Essa prática é chamada de liquidação antecipada e encontra-se prevista no CDC como um direito do
consumidor:
Art. 52 (...)
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente,
mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
Assim, a liquidação antecipada consiste na quitação, total ou parcial, de uma dívida antes do seu
vencimento, acarretando a redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
O tema a ser enfrentado é, portanto, o seguinte: nos contratos de arrendamento mercantil, é permitido
que a instituição cobre do consumidor tarifa bancária pela liquidação antecipada (parcial ou total) do
saldo devedor?
• Contratos firmados antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 (antes de 10/12/2007): SIM.
• Contratos celebrados depois da Resolução CMN nº 3.516/2007 (de 10/12/2007 para frente): NÃO.
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de 10/12/2007,
podem ser cobradas tarifas pela liquidação antecipada no momento em que for efetivada a liquidação,
desde que a cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no extrato de conferência.
É permitida, desde que expressamente pactuada, a cobrança da tarifa de liquidação antecipada de
mútuos e contratos de arrendamento mercantil até a data da entrada em vigor da Resolução nº
3.501/2007 (10/12/2007).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/2/2017 (Info 597).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.392.449-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 24/5/2017 (Info 605).
Tarifas bancárias
“Tarifa bancária” é o nome dado para a remuneração cobrada pelas instituições financeiras como
contraprestação pelos serviços bancários prestados aos clientes. Ex: caso o cliente solicite do banco o
fornecimento de cópia ou de segunda via de algum comprovante ou documento, terá que pagar a tarifa
bancária por este serviço.
Quem autoriza ou proíbe que as instituições financeiras cobrem dos usuários tarifas bancárias?
O Conselho Monetário Nacional (CMN).
O Conselho Monetário Nacional (CMN) é um órgão federal, classificado como "órgão superior do Sistema
Financeiro Nacional". Suas competências estão elencadas no art. 4º da Lei nº 4.595/64, sendo ele
responsável por formular a política da moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social
do País (art. 3º da Lei).
O CMN é composto por três autoridades:
Ministro da Fazenda (que é o Presidente do Conselho);
Ministro do Planejamento;
Presidente do Banco Central.
As reuniões do CMN acontecem, em regra, uma vez por mês. As matérias são aprovadas por meio de
"Resoluções".
Por que o CMN é quem define as tarifas bancárias que podem ser cobradas? Qual é o fundamento legal
para isso?
Essa competência do CMN encontra-se prevista na Lei nº 4.595/64.
A Lei nº 4.595/64 trata sobre as instituições monetárias, bancárias e creditícias, sendo conhecida como
"Lei do Sistema Financeiro nacional".
Vale ressaltar que a Lei nº 4.595/64, apesar de ser formalmente uma lei ordinária, foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988 com status de lei complementar. Isso porque o art. 192 da CF/88 preconiza
que o sistema financeiro nacional "será regulado por leis complementares".
O CMN tem competência para limitar a remuneração que os bancos recebem pelas operações realizadas
e pelos serviços prestados
Veja o que diz o art. 4º, VI, da Lei nº 4.595/64:
Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo
Presidente da República:
Informativo 605-STJ (12/07/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15
Informativo
comentado
(...)
IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra
forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados
pelo Banco Central da República do Brasil (...)
Assim, é o CMN que define se os bancos podem cobrar ou não pelos serviços oferecidos.
A disciplina e os limites impostos pelo CMN são realizados por decisões instrumentalizadas por meio de
"resoluções". Assim, quando o CMN decide proibir que as instituições financeiras cobrem determinada
tarifa, ele o faz por meio de uma "resolução".
DIREITO EMPRESARIAL
CONTRATOS BANCÁRIOS
A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo devedor?
Importante!!!
• Contratos celebrados antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 (antes de 10/12/2007): SIM.
• Contratos firmados depois da Resolução CMN nº 3.516/2007 (de 10/12/2007 para frente): NÃO
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de
10/12/2007, podem ser cobradas tarifas pela liquidação antecipada no momento em que for
efetivada a liquidação, desde que a cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no
extrato de conferência.
É permitida, desde que expressamente pactuada, a cobrança da tarifa de liquidação
antecipada de mútuos e contratos de arrendamento mercantil até a data da entrada em vigor
da Resolução nº 3.501/2007 (10/12/2007).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/2/2017 (Info 597).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.392.449-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 24/5/2017 (Info 605).
FALÊNCIA
A extinção das obrigações do falido não aproveita os codevedores
A extinção das obrigações do falido, em decorrência da aplicação do art. 135, III, do Decreto-
Lei nº 7.661/45 (art. 158, III, da Lei nº 11.101/2005), não extingue nem impede o
prosseguimento de execução ajuizada contra avalista e devedor solidário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.104.632-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/4/2017 (Info 605).
Art. 135. Extingue as obrigações do falido: Art. 158. Extingue as obrigações do falido:
(...) (...)
III - o decurso do prazo de cinco anos, contado a III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado
partir do encerramento da falência, se o falido, ou do encerramento da falência, se o falido não tiver
o sócio gerente da sociedade falida, não tiver sido sido condenado por prática de crime previsto
condenado por crime falimentar; nesta Lei;
O juiz decretou a extinção das obrigações do falido. Isso significa que ele não deve mais nada para os
antigos credores, incluindo o banco.
Assim, em nosso exemplo, a execução proposta pelo banco é extinta apenas com relação à sociedade
empresarial (empresa “ABC”) continuando normalmente contra o avalista.
A causa extintiva da obrigação prevista no art. 135, III, do Decreto-Lei nº 7.661/45 (art. 158, III, da Lei nº
11.101/2005) constitui-se em direito pessoal do falido, tratando-se, deste modo, de exceção (exceção =
meio de defesa) que não pode ser aproveitada pelos demais codevedores, nos termos da parte final do
art. 281 do CC/2002:
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as
comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.
AÇÃO RESCISÓRIA
Se a ação rescisória busca desconstituir também o capítulo dos honorários advocatícios, o
advogado beneficiado na primeira demanda deverá estar no polo passivo da rescisória
A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que fixou honorários
advocatícios sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o titular do crédito
principal formado em juízo, mas também contra o advogado em favor de quem foi fixada a
verba honorária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.651.057-CE, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/5/2017 (Info 605).
Diante disso, indaga-se: Dr. Bruno também deverá ser réu nesta ação rescisória, em litisconsórcio com
João? O advogado que patrocinou a parte vencedora, em favor do qual foram fixados honorários
advocatícios sucumbenciais, deve figurar como litisconsorte passivo na ação rescisória intentada para
desconstituir o título executivo judicial que se formou?
SIM.
A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que fixou honorários advocatícios
sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o titular do crédito principal formado em juízo,
mas também contra o advogado em favor de quem foi fixada a verba honorária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.651.057-CE, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/5/2017 (Info 605).
O CPC não traz nenhuma norma expressa tratando sobre a legitimidade passiva para a ação rescisória.
Diante disso, devem incidir as regras normais da legitimidade passiva extraídas da teoria geral do processo.
Para saber quem deve figurar como réu, é preciso atentar, portanto, para aquele que terá ou poderá ter
seus direitos, concretamente definidos pela sentença rescindenda, afetados pelo julgamento a ser
proferido.
O principal critério a ser considerado é, portanto, o pedido deduzido no juízo rescisório.
Conforme informado pela teoria da asserção, devem estar no polo passivo da demanda todos aqueles e
somente aqueles que possam ser afetados pelo provimento do pedido.
No caso concreto, a ação rescisória busca desconstituir toda a sentença, inclusive na parte que fixou os
honorários advocatícios. Logo, como a decisão da ação rescisória poderá afetar o crédito do advogado, ele
também deverá constar no polo passivo da demanda.
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas é físico no Tribunal, não se aplica
a dispensa de juntada de documentos prevista no art. 1.017, § 5º do CPC/2015
A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das peças
obrigatórias à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo eletrônico,
exige, para sua aplicação, que os autos tramitem por meio digital tanto no primeiro quanto no
segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 (Info 605).
Assim, se o processo for eletrônico, o agravante não precisa juntar os documentos listados no art. 1.017
do CPC/2015. O motivo para essa dispensa reside no fato de que o Tribunal tem acesso e pode consultar,
pelo sistema, quaisquer peças que quiser.
Como explica o Min. Ricardo Villas Bôas Cueva:
“A razão de ser da norma em comento, como visto, está no fato de que, tramitando na forma eletrônica, o
Tribunal ao qual o agravo de instrumento é dirigido poderá consultar o inteiro teor do processo originário,
daí decorrendo a desnecessidade de se juntar peças às quais o órgão ad quem já tem pleno acesso.”
Como Pedro não atendeu a determinação, o Desembargador deixou de conhecer do recurso sob o
fundamento de que o agravante não acostou aos autos os documentos obrigatórios.
Para que o art. 1.017, § 5º, do CPC/2015 seja aplicado, exige-se que os autos tramitem de forma eletrônica
tanto na 1ª quanto na 2ª instância. Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas é físico no Tribunal,
não tem como ser aplicado esse dispositivo.
Assim, esse art. 1.017, 5º, deve ser interpretado tendo em mente a realidade fática nacional, haja vista
que, a despeito dos constantes esforços destinados à informatização da Justiça, ainda remanescem
inúmeros processos físicos em tramitação nos tribunais.
Em tais circunstâncias, a própria Lei nº 11.419/2006, que dispõe sobre a informatização do processo
judicial, prevê, no parágrafo 2º do artigo 12, que "os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser
remetidos a outro juízo ou instância superior que não disponham de sistema compatível deverão ser
impressos em papel".
Feita a regular autuação, o processo seguirá a tramitação legalmente estabelecida para os processos
físicos, conforme o disposto no parágrafo 4º do mesmo preceito legal.
Não dispondo o Tribunal dos meios formais necessários à consulta dos autos eletrônicos na origem, outra
alternativa não lhe restaria senão condicionar o conhecimento do recurso à juntada das peças de caráter
obrigatório, além daquelas que reputasse úteis à solução da controvérsia.
Desse modo, interposto o agravo por meio físico, ainda que o processo tramite por meio eletrônico no
primeiro grau de jurisdição, é necessária a instrução do respectivo instrumento com cópia das peças
obrigatórias
Em suma:
A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das peças obrigatórias
à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo eletrônico, exige, para sua aplicação,
que os autos tramitem por meio digital tanto no primeiro quanto no segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 (Info 605).
RECURSOS
Não cabe recurso adesivo no processo penal
Importante!!!
Em matéria criminal, não deve ser conhecido recurso especial adesivo interposto pelo
Ministério Público veiculando pedido em desfavor do réu.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.595.636-RN, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 2/5/2017 (Info 605).
Qual é o prazo que a parte tem para interpor o recurso de forma adesiva?
A parte deverá interpor o recurso adesivo no mesmo prazo de que dispõe para apresentar as
contrarrazões.
Previsão
O recurso adesivo está previsto no art. 997 do CPC/2015:
Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das
exigências legais.
§ 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro.
§ 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas
regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição
legal diversa, observado, ainda, o seguinte:
I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo de que
a parte dispõe para responder;
II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial;
III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado
inadmissível.
Realmente, o MP está correto quando afirma que, no caso de silêncio da lei processual penal, é admitida
a sua integração por meio de outros diplomas legais, inclusive o Código de Processo Civil. Existem vários
julgados do STJ nesse sentido.
Contudo, essa integração das normas somente pode ser feita se o dispositivo do CPC que se quer aplicar
seja compatível com os preceitos os princípios e regras do processo penal.
Admitir-se a interposição de recurso especial adesivo do Ministério Público, veiculando pedido em
desfavor do réu, conflita com a regra do art. 617 do CPP. Esse dispositivo prevê que o Tribunal não poderá
agravar a pena se apenas o réu houver recorrido.
Segundo as regras do recurso adesivo, o recurso adesivo do Ministério Público somente poderia ser
conhecido caso fosse conhecido também o recurso da defesa. Em outras palavras, a admissão do recurso
defensivo acarretaria ao réu um efeito negativo, qual seja, o de que o recurso acusatório adesivo também
passaria a ser analisado, caracterizando uma reformatio in pejus indireta.
O recurso adesivo do Ministério Público, em sentido amplo, passa a integrar formalmente, de maneira
acessória, o recurso principal defensivo. Portanto, qualquer agravamento da situação do réu, em razão do
provimento do recurso adesivo acusatório, representaria, na verdade, um agravamento à situação do réu
ocorrido dentro do recurso exclusivo da defesa, o que não pode ser admitido.
E poderia haver recurso adesivo da defesa no processo penal? Ex: somente o MP interpõe recurso
especial; a defesa poderia apresentar recurso adesivo?
NÃO. A maioria dos Ministros da 6ª Turma do STJ manifestou-se no sentido de que também não é possível
recurso adesivo, mesmo que seja da defesa.
Vale ressaltar, no entanto, que é possível que a defesa peticione ao Tribunal e que este conceda habeas
corpus de ofício. Conforme explicou o Min. Nefi Cordeiro: “a defesa sempre pode peticionar provocando
a ação do Tribunal, pela admissão da reformatio in melius, não podendo, todavia, admitir-se a ampliação
do limite recursal após ter perdido o prazo”.
Essa é também a opinião de Eugenio Pacelli e Douglas Fischer (Comentários ao Código de Processo Penal
e sua jurisprudência. 9ª ed., São Paulo: Atlas, 2017, p. 1.213/1.214).
O desaforamento de um caso se encerra com o veredito do júri popular. Por isso, a execução
provisória da pena (que ocorre depois de a condenação ser confirmada pelo Tribunal em 2ª
instância) deverá ser determinada pelo juízo originário da causa, e não pelo presidente do
Tribunal do Júri onde se deu o julgamento.
Em outras palavras, em caso de desaforamento, o deslocamento da competência ocorre
apenas para o julgamento no Tribunal do Júri. Uma vez tendo este sido encerrado, esgota-se a
competência da comarca destinatária, devendo a execução provisória ser conduzida pelo juízo
originário da causa.
STJ. 6ª Turma. HC 374.713-RS, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 6/6/2017 (Info 605).
O que é o desaforamento?
Desaforamento é o deslocamento do julgamento do caso para outra comarca, alterando-se a competência
territorial do júri, em virtude de motivos previstos taxativamente na lei.
João deverá aguardar o julgamento dos recursos especial e extraordinário preso ou solto? É possível
executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda o julgamento dos recursos especial e
extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância seja obrigado a iniciar o cumprimento
da pena mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado?
SIM. Conforme entendimento atual do STF, é possível iniciar a execução da pena se o réu condenado
somente está esperando o julgamento de recursos especial e extraordinário. Isso porque tais recursos não
gozam de efeito suspensivo. Nesse sentido:
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a
recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de
inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal.
STF. Plenário virtual. ARE 964246 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/11/2016 (repercussão geral).
A regra no Processo Penal é a de que o réu deverá ser julgado pelo juízo do local onde se consumar a
infração (art. 70 do CPP), pois presume-se que no lugar dos fatos, isto é, no distrito da culpa, o acervo
probatório será construído com maior robustez, adotando-se, nesse campo, a expressão latina do forum
delicti comissi.
O desaforamento, portanto, é uma exceção. Sendo uma norma excepcional, o desaforamento deve ter
interpretação restrita, aplicando-se unicamente para a sessão de julgamento propriamente dita.
Diante de tais elucidações, conclui-se que o art. 427 do CPP (que trata sobre o desaforamento) não
comporta interpretação ampliativa, de modo que o deslocamento de competência vale tão somente para
a realização do Tribunal Popular. Assim, uma vez realizado o Júri, esgota-se a competência da comarca
destinatária.
DIREITO TRIBUTÁRIO
Importante!!!
A revogação de liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário ocasiona a
retomada do lapso prescricional para o Fisco, desde que inexistente qualquer outra medida
constante do art. 151 do CTN ou recurso especial / extraordinário dotado de efeito suspensivo.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 407.940-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/5/2017 (Info 605).
Caso a empresa não pague este crédito tributário constituído, qual é o prazo para que a Fazenda Pública
ajuíze execução fiscal contra o devedor?
5 anos, conforme o art. 174 do CTN:
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data
da sua constituição definitiva.
Obs: prescrição é a perda o direito de a Fazenda Pública ajuizar a execução fiscal contra o contribuinte
cobrando o crédito tributário.
Voltando ao exemplo:
Suponhamos que a empresa não concordou com a autuação do Fisco e ingressou com ação questionando
a incidência do imposto naquele caso concreto.
O juiz concedeu a medida liminar determinando que a exigibilidade do crédito tributário ficasse suspensa
até a decisão final sobre o tema. Existe expressa previsão sobre isso no CTN:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
(...)
Sendo suspensa a exigibilidade do crédito tributário neste caso, o que acontece com a prescrição?
O prazo prescricional fica também suspenso. Constituído o crédito tributário, mas suspensa a exigibilidade
da exação por decisão liminar, o curso do prazo prescricional fica também suspenso. Ora, se a exigibilidade
está suspensa, isso significa que a Fazenda Pública não pode adotar qualquer medida de cobrança. Logo,
não seria correto que o prazo prescricional continuasse correndo.
O que acontece com o prazo prescricional neste caso? 1ª opção: continuará suspenso até que haja o trânsito
em julgado da decisão contrária ao contribuinte (até que sejam julgados os recursos especial e
extraordinário); 2ª opção: voltará a correr imediatamente. Qual das duas alternativas foi acolhida pelo STJ?
O STJ adotou a 2ª opção, ou seja, o prazo prescricional voltará a correr imediatamente.
Em regra, se o TJ ou TRF revoga a decisão liminar que estava suspendendo a exigibilidade do crédito
tributário, o prazo prescricional volta a correr normalmente. Isso porque nada mais impede que a Fazenda
Pública ingresse com execução fiscal cobrando o crédito, já que os recursos especial e extraordinário
gozam de efeito meramente devolutivo.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Importante!!!
O art. 115, II, da Lei nº 8.213/91 não autoriza o INSS a descontar, na via administrativa, valores
concedidos a título de tutela antecipada (tutela provisória de urgência), posteriormente
cassada com a improcedência do pedido.
Em outras palavras, o art. 115, II, da Lei nº 8.213/91 não autoriza o INSS a cobrar,
administrativamente, valores pagos a título de tutela judicial, sob pena de afronta ao princípio
da segurança jurídica.
A autarquia previdenciária deverá se valer dos instrumentos judiciais próprios para ter de
volta essa quantia.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.338.912-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/5/2017 (Info 605).
O inciso II do art. 115 da Lei nº 8.213/1991 autoriza o INSS fazer o desconto de pagamentos além do devido
nos benefícios por ela mantidos. Respeitados a ampla defesa e o contraditório, princípios que também
norteiam o devido processo legal administrativo (art. 5º, LIV e LV, da CF/88 e art. 2º da Lei nº 9.784/99),
este dispositivo é um meio de autotutela estatal que tem por objetivo manter o sistema previdenciário
em condições superavitárias, evitando o enriquecimento sem causa e a judicialização de conflitos.
O argumento do INSS está correto? O INSS pode descontar, na via administrativa, valores recebidos por
força de decisão judicial precária posteriormente cassada em decorrência da improcedência do pedido?
Aplica-se o art. 115, II, neste caso?
NÃO.
O art. 115, II, da Lei nº 8.213/91 não autoriza o INSS a descontar, na via administrativa, valores
concedidos a título de tutela antecipada (tutela provisória de urgência), posteriormente cassada com a
improcedência do pedido.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.338.912-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/5/2017 (Info 605).
O inciso II do art. 115 aplica-se apenas para a recuperação de pagamentos feitos pelo INSS na via
administrativa, não podendo ser utilizado caso o pagamento tenha sido determinado por decisão judicial.
Quando o valor pago ao segurado ou beneficiário ocorreu por força de decisão judicial, o INSS deverá se
valer dos instrumentos judiciais para ter de volta essa quantia.
Assim, o art. 115, II, não autoriza a Administração Previdenciária a cobrar, administrativamente, valores
pagos a título de tutela judicial, sob pena de afronta ao princípio da segurança jurídica.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) A divulgação de elementos cadastrais dos beneficiários de decisão proferida em ação civil pública que
determinou o pagamento dos expurgos inflacionários decorrentes de planos econômicos não configura
quebra de sigilo bancário. ( )
2) A interferência judicial para invalidar a estipulação das tarifas de transporte público urbano viola a ordem
pública, mormente nos casos em que houver, por parte da Fazenda estadual, esclarecimento de que a
metodologia adotada para fixação dos preços era técnica. ( )
3) Explique em que consiste a “doutrina Chenery”.
4) A prerrogativa de imparcialidade do julgador aplica-se à arbitragem e sua inobservância resulta em
ofensa direta à ordem pública nacional – o que legitima o exame da matéria pelo Superior Tribunal de
Justiça, independentemente de decisão proferida pela Justiça estrangeira acerca do tema. ( )
5) É de cinco anos o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto de contrato de
locação pleitear o ressarcimento dos valores despendidos contra os locatários inadimplentes. ( )
6) A comprovação de graves lesões decorrentes da abertura de air bag em acidente automobilístico em
baixíssima velocidade, que extrapolam as expectativas que razoavelmente se espera do mecanismo de
segurança, ainda que de periculosidade inerente, configura a responsabilidade objetiva da montadora
de veículos pela reparação dos danos ao consumidor. ( )
7) (Juiz TJ/SC 2015) Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua
compreensão pelo consumidor. ( )
8) As ofertas publicitárias deverão ser redigidas com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte
não será inferior ao corpo doze. ( )
9) A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que fixou honorários advocatícios
sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o titular do crédito principal formado em juízo, mas
também contra o advogado em favor de quem foi fixada a verba honorária. ( )
10) A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das peças obrigatórias
à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo eletrônico, exige, para sua aplicação,
que os autos tramitem por meio digital tanto no primeiro quanto no segundo grau de jurisdição. ( )
11) É cabível recurso adesivo em matéria criminal. ( )
12) A execução provisória da decisão proferida pelo Tribunal do Júri – oriunda de julgamento desaforado nos
termos do art. 427 do CPP – compete ao Juízo sentenciante. ( )
13) A revogação de liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário ocasiona a retomada do lapso
prescricional para o Fisco, desde que inexistente qualquer outra medida constante do art. 151 do CTN
ou recurso especial / extraordinário dotado de efeito suspensivo. ( )
14) O art. 115, II, da Lei nº 8.213/91 autoriza o INSS a descontar, na via administrativa, valores concedidos a
título de tutela antecipada (tutela provisória de urgência), posteriormente cassada com a improcedência
do pedido. ( )
15) (DPE/RR 2013 CESPE) Não se admite recurso adesivo no recurso extraordinário nem no recurso especial.
( )
Gabarito
1. E 2. C 3. - 4. C 5. E 6. C 7. C 8. E 9. C 10. C
11. E 12. E 13. C 14. E 15. E