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06/09/2018 Campanha Contra Genocídio Da Juventude Negra É Lançada Em Belém (PA) | Brasil de Fato

INÍCIO  DIREITOS HUMANOS

MOBILIZAÇÃO

Campanha contra genocídio da juventude negra é


lançada em Belém (PA)
Brasil é o país que apresenta maior número casos de homicídios no mundo, diz
representante da Anistia Internacional

Lilian Campelo COMPARTILHE


Brasil de Fato | Belém (PA), 23 de Maio de 2017 às 12:27

Ouça a matéria:

Do total de números de homicídios no país, 77% das vítimas são jovens / Rede Brasil Atual / Site

Todos os dias, a capital paraense assiste pelos veículos de comunicação de programas


policialescos que expõe a morte de jovens na periferia de Belém, a maioria vítimas de
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06/09/2018 Campanha Contra Genocídio Da Juventude Negra É Lançada Em Belém (PA) | Brasil de Fato

chacinas que ocorrem após a morte de polícias militares. A maioria formada por
negros.

Um dos fatos foi a  chacina de Belém, que aconteceu  em novembro de 2014. Uma das 11
vítimas fatais foi o cunhado do contador David Silva, 41,  Allersonvaldo Mendes. Na
época, ele tinha 37 anos. Os assassinatos ocorreram  em diferentes bairros da periferia
da cidade após a morte do cabo Antônio Marcos da Silva Figueiredo (cabo Pety),
membro da Rota Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam) da Polícia Militar.

Passados dois anos dos 11 inquéritos, apenas dois foram a júri popular, sendo
condenados: Otacílio José Queiroz Gonçalves, cabo reformado da Polícia Militar (PM),
também conhecido como Cilinho, a 29 anos de reclusão por milícia privada e pelo
assassinato o adolescente Eduardo Galúcio Chaves, de 16 anos, e José Augusto da Silva
Costa, o Zé da moto, sentenciado a 15 anos de reclusão por homicídio quali cado pelo
assassinato de Nadson Roberto da Costa Araújo.  Ambos os assassinos  foram são citados
no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Grupos de Extermínio e
Milícias no Estado do Pará. O inquérito de Mendes foi arquivado por insu ciência de
provas.

Contra essa impunidade,  a organização não-governamental (ONG) Anistia Internacional


lança nesta terça (23), em Belém, a campanha Jovem Negro Vivo, que tem como
objetivo  debater e mobilizar a sociedade brasileira sobre genocídio da juventude negra.
Segundo dados da própria ONG, 30 mil jovens, com idade entre 15 a 29 anos,  são
vítimas de homicídio no Brasil por ano. Desse total 77% são negros. 

Renata Neder, assessora de direitos humanos da Anistia Internacional, a rma que a


juventude negra é o principal grupo afetado pelo alto índice de homicídios, e o Brasil é
o país que apresenta maior número casos de assassinatos no mundo.

"Já chegamos a quase 60 mil homicídios por ano, e esse número vem subindo  nos
últimos anos. As autoridades brasileiras, em todos os níveis –estadual e federal–,
falharam drasticamente em implementar qualquer medida para a redução de
homicídios”, argumenta.

Ela destaca que, enquanto o número de homicídios entre homens e mulheres brancas
vêm diminuindo, a violência contra homens e mulheres negras têm aumentado. Por
isso, a rma Nader, o “elemento racial” deve ser analisado pelos governos ao tentar
implementar políticas públicas para a redução de assassinatos.

A violência também afeta a família das vítimas.   Depois da morte do cunhado, Silva
ingressou em um grupo chamado Dhavida  (Direitos Humanos contra Violência e pela
Vida), criado por organizações e entidades que buscam fornecer apoio as famílias das
vítimas. Isso porque a saúde da família se agravou depois da morte do parente:

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“Foi uma mudança muito grande, com o agravamento da saúde dos pais dela [esposa],
o agravamento da [saúde] minha própria esposa e da minha de certa forma".

O lançamento da "Jovem Negro Vivo" ocorrerá na noite desta terça (23)  no auditório da
Universidade Estadual do Pará (UEPA), do campus Djalma, e contará com a parceria de
organizações locais como a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos
(SDDH), Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca/Emaús), Centro de
Estudo e Defesa do Negro (Cedenpa), Dhavida e Universidade Popular (Unipop).

Armas de fogo
Outro dado apresentado pela representante da Anista é que 70% dos homicídios
cometidos no país são por armas de fogo. A partir disso, ela alerta  que, sem um maior
controle de circulação e acesso de armas letais, “certamente vai ter um impacto direto
no número de homicídios”.

Um terceiro ponto destacado por ela são os casos de assassinatos de pessoas cometidos
por policiais estando ou não em serviço. Neder conta que não há no país dados
sistematizados de assassinatos cometidos pela polícia.

“Muitas vezes, as violações de direitos humanos começam ou  estão fortemente


associados à falta de acesso a informação e à falta de transparência. Então, é muito
grave que um país que tenha uma das policias que mais mata não exista dados
nacionais sobre isso”, enfatiza.

A assessora de direitos humanos informa que, nas capitais de São Paulo e Rio de
Janeiro, 25% do total de homicídios são cometidos por polícias que estavam em
serviço, e acentua:

“E a gente não está contabilizando os homicídios provocados por policiais fora do


serviço, que às vezes está organizada em  as milícias e os grupos de extermínio”.

Diante do cenário de violência a campanha Jovem Negro Vivo busca dá visibilidade a


essa parte da população. Segundo Neder, a “violência letal não afeta todas as pessoas
da mesma forma”, os números provam que ela tem cor e classe social e explica.

“Então qualquer política de redução de homicídio tem que atentar para esse fato, tem
que focar na redução dos homicídios na juventude negra”.

Serviço
Lançamento da campanha Jovem Negro Vivo em Belém (PA)

Data: Terça-feira, 23 de Maio

Local: Auditório da Universidade Estadual do Pará - UEPA - Campus Djalma Dutra


Horário: 18h30 às 21h30 Entrada franca

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Programação

18h15: Apresentação Cultural

Layssa Cristine conhecida como “Nega Ysa Mulher Negra”, cresceu no Candomblé, tem
22 anos e atua como atriz, rapper e faz apresentações de dança Afro.

18h45: Mesa de debate “Jovem Negro Vivo” com Anistia Internacional, CEDENPA,
Dhavida, familiar de vítima da chacina de Belém e Unipop.

19h45: Apresentação

David Silva, familiar vítima da violência da chacina de Belém, apresenta sua música
autoral composta em homenagem às vítimas de violência da cidade de Belém.

19h50: Apresentação

Moraes MC - Grupo TQSS

Apresentação de rap da cena periférica de Belém.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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