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1 Para uma avaliação destas interpretações, veja J.A. Montgomery, “A Commentary on Daniel”, ICC, p.
390-401; e G.F. Hasel, “The Seventy Weeks of Daniel 9:24-27”, Ministry, maio de 1976, p. 1-21.
2 Deste modo, com base na LXX, que usa a palavra hebdomades – entendidas como apontando ao
simbolismo do número 7 e não a uma semana real – e também no uso do plural masculino de šābu‘îm em
vez do feminino šābu‘ôt (a palavra normal para “semanas”).
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1. O Cenário Contextual
6 Para a unidade do livro de Daniel, veja A. Jeffery, “Daniel: Introduction”, IB 6: 346; R. D. Wilson,
“Book of Daniel”, ISBE 2: 784-786; e H. H. Rowley, The Servant of the Lord and Other Essays on the Old
Testament (London, 1952), p. 237-268.
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Daniel 9:24-27 está conectado com o resto do livro mais diretamente por
sua relação com Daniel 8. O capítulo 8 é, na verdade, o único capítulo que
compartilha padrões comuns a todas as visões de Daniel, incluindo aqueles
dos capítulos 9 e 12. (Compare, e.g., 8:3, 20 com 2:32b, 2:39a, 7:5 e 11:2a;
8:5, 21-22 com 2:32c, 2:39b, 7:6, e 11:3-15; 8:23-25 com 2:33, 2:40, 7:7,
7:19, e 11:16-22; 8:25 com 11:22; 8:11 com 11:32 e 12:11; 8:13 com 12:7;
8:24 com 12:8; 8:26 com 12:9; etc.)
É significativo que maioria das palavras e expressões em nossa
passagem que ocorre em outras partes de Daniel são encontradas apenas
nos capítulos 8, 10, 11 e 12; isto é uma indicação de que estes capítulos
constituem uma unidade específica. Além da redação e temas em comum,
também notamos uma significativa ponte interna entre os capítulos 8 e 9.
Uma das expressões mais notáveis nesta parte do livro aparece através do
uso do verbo bîn e sua forma derivada hēḇîn (“entender” e “fazer entender”).
Ele ocorre pela primeira vez no capítulo 1, relacionada à habilidade de Daniel
“entender” a visão.7 Então esperamos até o capítulo 8 para sua próxima
ocorrência. Deste ponto em diante, ela é usada repetidamente até o fim do
livro.
Mas a maneira como essa palavra é usada nos capítulos 8 e 9 é
impressionante: ela aparece primeiro como um particípio em 8:5,
imediatamente antes da menção ao bode, onde ela tem uma conotação
positiva uma vez que Daniel entende o significado. A próxima ocorrência é
como um substantivo no v. 15 como parte de uma pergunta, onde Daniel
pede por entendimento (bînāh). Os próximos dois usos pertencem ao mesmo
evento. Uma voz grita para Gabriel: “Faça este homem entender” (hāḇēn), no
v. 16. Então como um eco Gabriel fala a Daniel com a mesma forma
imperativa (hāḇēn): “Entende, ó filho de homem, que a visão é para o tempo
do fim.” Assim, a resposta do anjo é limitada. Daniel pede para entender a
visão. E o anjo diz: “Entende [apenas] que esta visão é para o tempo do fim.”
Mas a chave para a visão não é dada. A visão é um enigma (ḥîdāh). É
acidental que o próximo uso de hēḇîn (8:23) esteja relacionado com a própria
palavra “enigma”? Aqui essa associação específica parece ser significativa.
7 Vs. 4, 17, 20; nos vs. 4 e 20 Daniel e seus amigos estão inclusos, e a palavra aqui significa a
capacidade genérica de entender. Mas quando o verbo é aplicado apenas Daniel (v. 17), está diretamente
relacionado à “visão” (ḥāzôn). Não é por acaso que esta palavra tenha o mesmo padrão que hēḇîn (ela
ocorre pela primeira vez no capítulo 1 reaparece apenas do capítulo 8 em diante). Nem é por acaso que
estes dois termos são termos-chave do capítulo 8 (sete ocorrências de e seis de neste capítulo). Assim, a
mudança da língua (hebraico para aramaico) não é a principal razão para este fenômeno linguístico. A
mudança súbita da ausência destes dois termos nos capítulos 2-7 para sua grande frequência no capítulo 8
não pode ser interpretada como acidental.
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O Cenário de Daniel 9
8 Este fenômeno de eco entre a introdução e a conclusão de Daniel 9 será abordado abaixo.
9 A pergunta de Daniel aparece imediatamente após a menção deste tempo. A maneira como o diálogo
é articulado prepara para a seguinte questão: “wayyômer” (“e ele disse”); o anjo se volta para Daniel e
fornece a ele o período de tempo, “wayehî”; e “ao Daniel ver isto [vav consecutivo]... ele procurou entender.”
10 8:27 também coloca a menção às 2300 tardes e manhãs no futuro distante. Quanto à expressão do
v. 19, ele se refere a um fim “relativo” – isto é, o fim da mô‘ēḏ (um tempo específico, a saber, o tempo da ira;
cf. 11:27).
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de “amputado” (cf. m. Hul 4:6). Além disso, maioria dos usos rabínicos desta raiz expressa a ideia de
amputação, relacionada ao sacrifício etc. O denominativo ḥaṯiḵāh deste verbo significa apenas porção,
pedaço (cf. b. Hul. 31b, b. Ker. 17b etc.). Veja também as palavras hebraicas cognatas ḥtr (Ez. 8:8) e ḥth (Sl.
52:7), que contêm a mesma conotação de cortar, romper etc.
Nas línguas cognatas a situação não é clara. O acadiano atesta ḥatakum, traduzido como
“entscheiden” no AHW, s.v. “ḥatakum”, 1: 335. O ugarítico atesta a forma ḥtk no sentido de pai e filho (veja
C.H. Gordon, Ugaritic Textbook [Roma, 1965], s.v. “ḥtk”, p. 399, n. 911). No árabe, encontramos o
testemunho mais interessante em conexão com nosso objetivo: ḥatak, “andar rápido, a passos curtos; cortar,
arranhar ou raspar; enfraquecido, magro” (veja W. Lane, ed., Arabic-English Lexicon [Nova Iorque, 1956],
s.v. “ḥatak”, bk. 1, pt. 2, p. 510, col. 3).
12 Cf. Jr. 25:11 e 29:10. O período pode ser contado de 605 a.C. a 536 a.C. inclusivamente. (Veja, e.g.,
SDA Bible Commentary, 3: 90-92, 94-97, para uma discussão deste período de 70 anos).
13 Cf. “Soixante-dix semaines d’années”, Bib 50 (1969): 169. Cf. também J. Steinmann, Daniel,
Témoins de Dieu, 12 (Paris, 1950), p. 133-135; e A.A. Bevan, A Short Commentary on the Book of Daniel
(Londres, 1892), p. 146.
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14 Aqui divergimos de Grelot, que entende a referência às 70 semanas como simbólicas. Para ele este
número expressa a ideia de um certo tempo de desolação seguido pela visitação de Deus. Esta
interpretação, entretanto, dificilmente é apoiada pela Bíblia e pela literatura do Oriente Próximo também. De
fato, as únicas passagens que Grelot aponta, a saber, Zc. 1:12 e Is. 23:15-17, pode realmente se referir ao
mesmo período histórico que é mencionado na profecia de Jeremias. Eles não podem ser, portanto, usados
como indicadores distintivos do uso simbólico genérico do número 70 (veja D. Winton Thomas, “Exegesis of
Isa 23:15-17”, IB 5: 1062; G.W. Wade, The Book of the Prophet Isaiah [Londres, 1911], p. 155; e F. Delitzsch,
Biblical Commentary on the Prophecies of Isaiah, BCOT [Grand Rapids, Mich., 1960], 1: 414).
O argumento de Grelot derivado do único testemunho da inscrição de Esarhaddon não é decisivo
afinal. Este documento alude a um oráculo de Marduk pronunciado contra Babilônia quando Senaqueribe a
destruiu em 689 a.C.: “Tendo escrito (nas tábuas do destino) 70 ( ) anos de desolação [para Babilônia],
subitamente o deus Marduk ficou quieto e inverteu [os números]; logo, 11 ( ) anos” (J. Nougayrol, “Textes
hepatoscopiques d’époque ancienne”, RA 40 [1945]: 65). Agora, se Esarhaddon de fato reconstruiu a cidade
de Babilônia 11 anos após sua destruição por Senaqueribe, como é atestado pela história e como Grelot
reconhece (cf. Nougayrol, p. 70, e Grelot, p. 174), há uma forte razão para pensar que o número 70, que é
obtido pela inversão dos sinais cuneiformes do número 11, é puramente acidental. Dificilmente ele teria sido
escolhido intencionalmente com base no seu simbolismo.
15 Noldeke e Bevan pensam que Jeremias é uma midrash de Lv. 26:34-35; note as “7 vezes” do v. 28
(cf. Montgomery, p. 360; veja também Bevan, Commentary on Daniel, p. 146). Esta referência ao número 7
como chave para as 70 semanas pode também explicar a distribuição em semanas (62 semanas) e 1
semana (= 7 dias). O número 7 é recortado no começo e no final do período. O fato de que o sistema é
aplicável a qualquer número mostra que o número 70 foi escolhido por causa de sua realidade, não
meramente com base no seu conteúdo simbólico.
16 Hasel, “The Seventy Weeks of Daniel 9:24-27”, p. 6. Veja também R. H. Charles, The Book of Daniel
unidade do capítulo 9, incluindo a oração e a profecia das 70 semanas juntas, veja o excelente artigo de B.
W. Jones, “The Prayer in Daniel 9”, VT 18 (1968): 488; veja também O. Plöger, Das Buch Daniel (Gütersloh,
1965), p. 135; A. Jeffery, “Daniel: Exegesis”, IB 6: 484; N.W. Porteous, Daniel: A Commentary (Philadelphia,
1965), p. 136.
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2. A estrutura literária
O Prelúdio
(2) para selar (ḥtm) os pecados (2) para selar (ḥtm) a visão e o profeta
22
ûleḥāṯēm ḥaṭṭā’ōṯ (2 palavras) welaḥtōm ḥāzôn wenāḇî’ (3 palavras)
(3) para expiar a iniquidade (3) para ungir o santo dos santos
ûleḵappēr ‘āwōn (2 palavras) welimšōaḥ qoḏeš qoḏāšîm (3 palavras)
20 Cf. p. 6, acima.
21 A relação “cessar-eterna” deve ser notada.
22 A palavra é aqui colocada na mesma perspectiva cúltica como em Dn. 8:13,14. Lá, esta palavra é
realmente usada em associação com os significativos temas ṣdq (“justiça”), qdš (“santo”), tāmîḏ (“contínuo”),
pš’ (“pecado”), šmm (“desolação”), que indubitavelmente pertencem à terminologia do santuário de
Jerusalém.
23 Nossa observação leva em conta o número de palavras em vez de seus tons (métrica) por duas
razões: (1) devido à natureza do tom e do papel que desempenha na recitação, apenas a palavra é segura.
(2) A consideração do tom como um meio de expressão do ritmo hebraico vem de premissas que estão
enraizadas principalmente na confusão de que em uma expressão “primitiva” da poesia hebraica enfatiza-se
o ritmo; isto é, o ritmo precede o pensamento consciente. Na verdade, na poesia hebraica, palavra e
significado precedem o ritmo, porque a poesia é acima de tudo uma mensagem. Em adição, “deve-se
sempre ter em mente que não há evidência intrínseca de uma métrica no hebraico do Antigo Testamento”
(R.K. Harrison, Introduction to the Old Testament [Grand Rapids, Mich., 1969], p. 971; cf. também para a
mesma opinião R.C. Culley, “Metrical Analysis of Classical Hebrew Poetry”, Essays on the Ancient Semitic
World, ed. J.W. Wevers e D.B. Redford [Toronto, 1970], p. 12-28).
24 Para a associação de ṣdq com o santuário, veja Dn. 8:14 e Sl. 4:6; 51:21; 132:9; 61:3. Esta noção
também é comumente associada à cidade de Jerusalém (cf. Is. 1:26; veja também F.L. Horton, Jr., The
Melchizedek Tradition [Londres, 1976], p. 42-45).
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A Visão
25 De fato, o qerê indica para a primeira linha htm, não ḥtm como está no texto. Como quer que seja, o
significa é ligeiramente matizado (“para trazer a um fim”) e o jogo de palavras e conservado.
26 Cf. Êxodo 29:37; Ezequiel 43:12. A expressão ocorre 39 vezes, sempre com referência a todo o
tabernáculo ou templo.
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a Introdução).
28 Qumran atesta apenas a exegese dos Essênios e não garante a existência da presente pontuação
(veja “Exhortation, Damascus Document”, MS A, 1:4-11; cf. também A. Dupont-Sommer, Les Ecrits essêniens
découverts près de la Mer Morte [Paris, 1968], p. 137).
29 Esse pequeno parágrafo deve ser relacionado ao Messias pelos seguintes motivos: (1) a presença
do tema das semanas, termo-chave relacionado ao Messias; (2) o princípio da composição entrelaçada
(Messias-Jerusalém-Messias-Jerusalém-Messias-Jerusalém); e (3) as noções de aliança e de cessar as
ofertas que tomam emprestado as noções expressas no verbo krt (cortar) do parágrafo messiânico anterior
(A1). Este é mais um sinal de que A2 está no mesmo nível que A1 e o segue. Na verdade, a palavra krt é uma
alusão tanto a uma aliança (krt é o termo técnico que expressa o processo da aliança; cf. Êx. 24:8; 34:2; Js.
9:15; Os. 2:20; Jr. 34:13; etc) como a um cessar. A palavra krt carrega já em A1 os dois significados teológicos
da morte do Messias que encontramos novamente mencionados de modo explícito em A2 – a saber, a aliança
por seu sacrifício, consequentemente o fim dos sacrifícios.
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Primeiro quiasma:
A1 Construção B1 Construção
māšîaḥ nāg̱îḏ
(Messias Príncipe)
A2 Destruição B2 Destruição
‘am nāg̱îḏ
(Povo do Príncipe)
Segundo quiasma
A2 Destruição B2 Destruição
māšîaḥ nāg̱îḏ
A3 Destruição B3 Destruição
‘am nāg̱îḏ
3. Palavras e Expressões
30Schriften zu Bibel, Werke, Bd. 2 (Munchen, 1964), p. 1112. Explorei esta interrelação em particular
entre a língua hebraica em sua expressão e o conteúdo que ela veicula em minha tese de doutorado
(“L’Hébreu em vie: Langue hébraique et civilisation prophétique. Etude structurale” [Hebraico na vida: a
língua hebraica e a civilização profética. Estudo estrutural.][Tese de doutorado, Universidade de Strasbourg,
1973]).
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Min mōṣā’ dāḇār pode se referir a yāṣā’ dāḇār (“saiu a palavra”) de Dn.
9:23, como se houvesse uma relação interna entre elas. Realmente, a
primeira dāḇār (“palavra”) é indubitavelmente de Deus; ela pertence à visão.
No mesmo verso há um paralelismo com visão:31 bîn baddāḇār (“considera a
coisa”) e wehāḇēn bammar’eh (“e entende a visão”).
A primeira dāḇār é a palavra no céu, enquanto a segunda dāḇār destaca-
se, de um ponto de vista objetivo, como a palavra na terra, o evento histórico
correspondente à palavra de Deus. Esse eco expressa a ideia de uma
intervenção direta de Deus quanto à ordem de reconstrução e restauração de
Jerusalém.
A ênfase colocada deste modo aponta diretamente para o decreto de
Artaxerxes, em contraste com os decretos de Ciro e de Dario32; porque o
decreto de Artaxerxes não é meramente o terceiro e último
(consequentemente o único a ser completo, pois tem a ver com a
reconstrução do templo bem como com os aspectos políticos e
administrativos da cidade de Jerusalém), mas é também o único que é
seguido por uma bênção e um louvor a Deus, e realmente o único decreto
que alude à intervenção divina: “bendito seja o SENHOR, Deus de nossos
pais, que colocou tal coisa no coração do rei, para embelezar a casa do
SENHOR que está em Jerusalém” (Esdras 7:27,28).
É significativo, ademais, que após esta bênção e louvor – reação de
Esdras quanto à ação de Deus – o texto muda da língua aramaica para a
língua hebraica. O decreto de Artaxerxes gerou esta mudança, sugerindo que
apenas a partir daqui iniciou-se a restauração nacional.33
31 Com base na sua relação com hāḇēn, min mōṣā’ dāḇār refere-se, portanto, à visão. Esta conexão é
apoiada pelo fato de que a expressão é introduzida por “sabe e entende” (śkl), que pertence à mesma
categoria de pensamento de hāḇēn.
32 Sobre a construção e restauração de Jerusalém, a Bíblia registra apenas estes três decretos (cf.
Esdras 6:14). Veja 2 Cr. 36:22,23 e Ed. 1:1-4 para o decreto de Ciro; Ed. 6:6-12 para o decreto de Dario; e
Ed. 7:12-26 para o decreto de Artaxerxes.
33 Contra a visão dispensacionalista.
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Šāḇu‘îm, “semanas”
associada aqui com água (em Daniel štf = “inundação”). Outros termos em comum são ḥtm, “selar” (28:12);
mimšah, “querudim ungido” (28:14); behar qoḏeš ’elōhîm, “o monte santo de Deus” (28:14,16); ḥt’,
“pecado”(28:16); āwōn, “iniquidade” (28:18); miqdāš, “santuário (28:18); šmm, “desolar” (28:19; cf. 27:35).
37 A tradição judaica (B. Nazir 23b, Yoma 54a; o Midrash Rabbah, Eikah, pg. 23; etc.) e a literatura de
Qumran (veja acima, n. 28) atesta mais ainda a força desta interpretação (veja sobre isto, J. Doukhan, Boire
aux Sources [Dammarie-les-Lys, França, 1977], p. 93).
38 O termo ‘āwōn (“pecado”) ocorre cinco vezes nos vs. 4 a 6.
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mais longa e completa. Deve-se notar que Daniel usa a forma mais completa
apenas uma vez, em 11:45: ’ên ‘ôzēr lô. Há forte razão, então, para pensar
que ’ên lô de Dn. 9 é na verdade a forma contraída de ’ên ‘ôzēr lô em Dn. 11.
Esta conclusão é fortalecida quando consideramos a impressionante
similaridade do assunto das duas passagens. Em Dn. 11:45 alguém (o poder
maligno) chega ao fim quando enfrenta a aparição vitoriosa de Miguel, que
então assume o comando de seu povo. Em Dn. 9:26, o Messias chega ao fim
enquanto enfrenta o assassino vitorioso que destrói a cidade e seu santuário.
Ambos estão ’ên [‘ôzēr] lô sem nenhuma ajuda. O caráter simétrico das
situações é particularmente sugestivo; elas ecoam uma a outra.
É interessante notar que a expressão ’ên ‘ôzēr lô (“sem ajuda para ele”)
ou sua forma abreviada ’ên ‘ôzēr (“sem ajuda”) ocorre seis vezes fora do livro
de Daniel – sempre em um contexto similar de desespero e com uma
perspectiva similar de salvação.41
Uma destas ocorrências chama nossa atenção devido à sua conotação
específica: Sl. 22:12, que atesta a forma abreviada ’ên ‘ôzēr (“sem ajuda”).42
Neste salmo a palavra ‘zr (“ajuda”) é usada duas vezes, nos vs. 12 e 20;
e nas duas vezes ela está em associação com rḥq (“distanciar”). Mas rḥq
ocorre um total de três vezes. Também é usada no v. 1, onde está associada
a ‘zb (“desamparar”)43. Temos, então, o seguinte padrão de associação:
Este recurso estilístico revela que o autor pretendia sugerir uma conexão
entre os três versos, e da mesma forma expressar a afinidade particular entre
os vs. 1 e 12: ’ên ‘zr, “sem ajuda”, que é o equivalente semântico perfeito de
‘zb, “desamparar”. Ambas as expressões estão associadas com rḥq.
Este jogo de palavras pode muito bem ter sido intencional, traçando,
então, uma conexão entre o ’ên ‘ôzēr do v. 12 e ’ēlî ’ēlî lāmāh ‘āzaḇtānî
(“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”) do v. 1. Ademais, não
41 2 Rs. 14:26; Is. 63:5; Lm. 1:7; Sl. 72:12; 107:12; 22:11.
42 v. 11 nas versões em português.
43 É digno de nota que a mesma conexão de ideias é atestada em outros lugares da Bíblia; veja 2 Rs.
14:26, em que ‘zb está diretamente associado em paralelismo com ’ên ‘ôzēr leyiśrā’ēl (“nenhuma ajuda para
Israel”); a expressão é usada aqui em sua forma completa e não-abreviada.
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poderia a expressão do Senhor na cruz, ’ēlî ’ēlî lāmāh šāḇaqtānî 44 (Sl. 22:1)
ser entendida também como se referindo indiretamente à expressão de Dn. 9,
’ên ‘ôzēr lô?45
4. Dimensões Teológicas
Levitismo
44 A mudança de ‘āzaḇtānî para šāḇaqtānî feita pelo Senhor, creio eu, é intencional e tem razões
teológicas. Contudo, uma exposição deste assunto vai além do escopo deste estudo.
45 E isto da seguinte forma: ’ēlî ’ēlî lāmāh šāḇaqtānî (“Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?”) → ’ên ‘ôzēr (“sem ajuda”) → ’ên ‘ôzēr lô (“nenhuma ajuda para ele”) → ’ên lô (“nada para
ele”).
46 Na oração, Daniel se refere explicitamente à Lei de Moisés no v. 11.
47 A palavra hebraica yôḇēl (“jubileu”) sugere esta ideia de trazer de volta.
20
Universalismo
Messias particular, específico e comum. Como em 2 Sm. 1:21, é evidente uma corrupção textual e deve ser
lido de acordo com o contexto, māšûaḥ (“unção”), que é apoiado por um número de manuscritos (veja o
aparato da Biblica Hebraica, ed. R. Kittel [Stuttgart, 1937]).
50 A escassez de artigos sobre o livro de Daniel não mina esta observação. (1) Este caso é notável
Escatologia
53 A palavra ocorre na Bíblia para designar a pena capital (cf. Nm. 15:31; Lv. 20:17).