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Esperar não é saber: Movimento Estudantil da Psicologia no Rio

IX Salão de
Iniciação Científica Grande do Sul no Período do Golpe Militar de 1964.
PUCRS

Pâmela de Freitas Machado1, Helena B.K.Scarparo 1 (orientadora)

1
Faculdade Psicologia, PUCRS, 2 Pós-Graduação da Psicologia da PUCRS

Resumo
O presente trabalho apresenta resultados preliminares de um estudo que busca
identificar e registrar os processos de ativismo político empregados pelo movimento
estudantil da Psicologia no Rio Grande do Sul, durante o período do golpe militar. Para tanto,
estão sendo utilizados procedimentos qualitativos de análise das narrativas de pessoas que
protagonizaram este movimento na Psicologia, bem como, de documentos e publicações que
se encontram junto aos Diretórios Acadêmicos dos cursos de Psicologia no Estado (Das) e ao
Diretório Central de Estudantes (DCE). Deste modo, evidencia-se a relevância deste trabalho
podendo ser avaliado por dois eixos: o primeiro é a possibilidade de explicitar movimentos
sociais históricos submetidos ao silêncio em função da repressão política no Brasil. Além
disto, o estudo permitirá refletir criticamente sobre a s articulações entre o contexto político, a
construção da Psicologia e o movimento estudantil no Rio Grande do Sul. As análises
efetivadas até o momento permitem vislumbrar algumas perspectivas de estudantes de
Psicologia da época quanto ao Golpe Militar e estratégias para forjar espaços de estudo,
discussão e diálogo sobre a vida política no Brasil, apesar da intensa repressão que assolava o
cotidiano das Universidades brasileiras.

Introdução
A pesquisa tem especial interesse na identificação e compreensão das ações políticas
do movimento estudantil da Psicologia no período da Ditadura Militar no Brasil, de 1964 a
1985. Como se sabe, tratou-se de uma época peculiar e intensa da política estudantil, na qual
jovens estudantes protagonizaram manifestações de repúdio à repressão política que cerceava
sistematicamente qualquer ideologia contraposta ao pensamento do governo ditatorial. Mais

IX Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2008


tarde, especificamente no Rio Grande do Sul, tais personagens foram essenciais na concepção
de reflexões críticas e ações políticas na Psicologia. Segundo Prado (2002) este processo não
é psicológico, mas psico-político, já que assume, desde o início, uma visão de mundo e de
sujeito permeada de relações de poder. Deste modo, é extremamente relevante compreender
estas trajetórias a partir das relações da Psicologia com a esfera política imbricada nas
relações cotidianas que, tanto como disciplina quanto como prática, está fortemente submetida
a silêncios que impediram o conhecimento, a penetração e a participação política explícita
(PRADO, 2002). Neste sentido, cabe, então, perguntar quais são os conteúdos, discursos,
representações e ações coletivas anunciadas pelo movimento estudantil no âmbito da
Psicologia no RGS naquele período e quais as demandas, problematizações e projetos que
caracterizaram esse movimento, a fim de promover processos reflexivos e dialógicos quanto à
dimensão política da Psicologia.

Metodologia
Para conhecer e registrar aspectos da história do movimento estudantil no
âmbito da Psicologia, optamos por uma abordagem qualitativa, tendo como apoio as
perspectivas da História Oral e como foco de análise as narrativas de protagonistas do
movimento no referido período. A entrevista narrativa é um instrumento de coleta de dados
que utiliza colóquios não estruturados para que a estrutura da narração assemelhe-se à
estrutura da orientação para a ação: o contexto é dado, o evento tem uma sucessão e um
desfecho . (Scarparo, 2002) .Ainda compõe a narração uma avaliação dos efeitos do processo
descrito. Essa seqüência gera o fluxo da narrativa e explicita a perspectiva do participante
quanto ao tema estudado. As entrevistas são gravadas e transcritas para posterior análise de
acordo cm as recomendações de Jovchelovitch e Bauer (2002).

Resultados Preliminares
As análises realizadas, até o presente, evidenciam memórias do contexto
estudantil da época que revelam perspectivas dos participantes quanto à experiência de
estudar psicologia, num período caracterizado pela repressão radical da vida civil. Os
narradores descrevem a preponderância de aportes teóricos estruturados numa
perspectiva individualista e adaptacionista de ser humano, o que poderia transformar a
profissão num poderoso instrumento de apoio à lógica ditatorial. Além disso, relatam o

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contexto de ameaça e alienação que marcava a juventude da época. Neste contexto
eram utilizadas estratégias de comunicação de massa que escamoteavam a dura
realidade política do País associada à perseguições políticas e à censura prévia. Dentre
essas ações têm relevo a proibição de leituras que pudessem subsidiar a crítica às ações
do Governo Militar, o controle e vigilância dos docentes universitários e a reforma
universitária, promotora do esvaziamento de ações coletivas no meio estudantil. Ao
mesmo tempo, alguns participantes do estudo relatam as estratégias utilizadas para
forjar espaços de estudo, discussão e diálogo sobre a vida e a política nacional , apesar
da repressão política que pautava o cotidiano dos brasileiros. Cabe ressaltar que a
maioria dos depoentes, mais tarde, como profissionais, assumiu papéis de relevância
social como articuladores e gestores de políticas sociais em nível municipal, estadual e
federal.
Considerações
O conhecimento das especificidades do movimento estudantil da Psicologia no
Rio Grande do Sul poderá subsidiar reflexões críticas sobre os lugares e
responsabilidades sociais da área e das práticas profissionais no contexto histórico e
político. É evidente a importância da compreensão dos processos subjetivos na
conquista de espaços de emancipação social e cidadania. Tais processos foram
conteúdo das experiências vividas nas narrativas coletadas e são ponto fundamental
das práticas psicológicas contemporâneas.

Referências
JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M.; BAUER, M. W. e GASKELL, G. (Orgs.). Pesquisa
Qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. 90-
113p.

SCARPARO, H. (Org). Psicologia e Pesquisa – perspectivas metodológicas. Porto Alegre,


2008. Ed. Sulina.

PRADO, M. A. A Psicologia Comunitária nas Américas: o Individualismo, o


Comunitarismo e a Exclusão do Político na Psicologia. Porto Alegre: Reflexão Crítica,
2002. v 15. n 1.

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