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MAT0205 – Cálculo III

MAP0215 – Cálculo vetorial e aplicações

Exercícios resolvidos
Última atualização: 22 de junho de 2017

Calcule ‰
y2 dx + x dy ,
γ

onde γ é a fronteira do quadrado [−1, 1] × [−1, 1].



Solução. Queremos calcular P dx + Q dy, onde P (x, y) = y 2 e Q(x, y) = x.
γ
Pelo teorema de Green, sabemos que:
‰ ¨  
∂Q ∂P
P dx + Q dy = − ,
γ R ∂x ∂y
onde R = [−1, 1] × [−1, 1] é a região delimitada pela curva de Jordan γ, pois P, Q são
de classe C 1 em R2 , com ∂Q/∂x = 1 e ∂P/∂y = 2y.

Em particular, podemos aplicar o teorema de Fubini à integral dupla, obtendo:


¨   ˆ −1 ˆ 1
∂Q ∂P
− = [1 − 2y] dx dy
R ∂x ∂y −1 −1
ˆ 1
1
= (1 − 2y) x −1 dy
−1 |{z}
=2
ˆ 1
=2 (1 − 2y) dy
−1
1
= 2 y − y2

−1
= 2 (1 − 1 − (−1 − 1)) = 4 .

1
Portanto,

y 2 dx + x dy = 4
γ

Calcule a área da porção da superfície cônica x2 + y2 = z2 entre os planos z = 0 e


x + 2z = 3.

Solução. Primeiramente, observamos que x2 + y 2 = z 2 é a representação implícita do


cone de abertura π/4. Já sabemos que uma parametrização para o cone todo é:

σ : [0, 2π] × R → R3
σ(u, v) = (v cos u, v sin u, v) .

Vamos tentar restringir a parametrização σ a um conjunto A conveniente de maneira que


σ (A) descreva a região cuja área queremos calcular. Fazendo um esboço, conjecturamos
que o plano x + 2z = 3 somente intercepta a superfície cônica em sua componente com
z > 0. Podemos confirmar isso algebricamente da seguinte forma:
( (
x2 + y 2 = z 2 x2 + y 2 = z 2 y 2 + 3z 2 + 9
⇒ ⇒ (3 − 2z)2 + y 2 = z 2 ⇒ z = >0.
x + 2z = 3 x = 3 − 2z 12

Logo, estamos interessados em calcular a área da região do cone com 0 ≤ z ≤ (3 − x)/2.


Ou seja, para cada u ∈ [0, 2π] fixado, devemos ter:
3 − v cos u 3
0≤v≤ ⇔ 0≤v≤ .
2 2 + cos u
Portanto, obteremos a região desejada do cone se considerarmos σ : A → R3 , onde
 
3
A = (u, v) u ∈ [0, 2π] e 0 ≤ v ≤
.
2 + cos u

2
¨
∂σ ∂σ
Neste caso, sabemos que sua área Aσ é dada por Aσ = × . Temos:
A ∂u ∂v

∂σ ∂σ
= (−v sin u, v cos u, 0) , = (cos u, sin u, 1) ,
∂u ∂v


∂σ ∂σ ∂σ ∂σ
× = (v cos u, v sin u, −v) e × =v 2.
∂u ∂v ∂u ∂v

Aplicando o teorema de Fubini à região A:


√ ˆ 2π ˆ 3/(2+cos u)
Aσ = 2 v dv du
0 0
√ ˆ 2π
2 9
= du
2 0 (2 + cos u)2
√ ˆ √
9 2 2π du 6π 2
= = √ .
2 0 (2 + cos u)2 3
| {z √ }
=4π/3 3

Concluímos que

Aσ = 2π 6

Encontre o centro de massa de um funil cônico de equação x2 + y2 = z2 com altura


h e densidade superficial de massa uniforme.

Solução. Já vimos que uma parametrização para essa superfície é

σ : [0, 2π] × [0, h] → R3


σ(u, v) = (v cos u, v sin u, v) .

3
Além disso, se f descreve sua densidade superficial, sabemos que as coordenadas (x̄, ȳ, z̄)
do centro de massa são definidas pelas equações
¨
1
x̄ = x f (x, y, z) dS etc,
M σ
¨
onde M = f dS é a massa total da superfície.
σ
Neste caso, estamos supondo f ≡ k constante (densidade uniforme). Assim, M = kAσ
e: ¨ ¨
1 1
x̄ = x k dS = x dS etc.
kAσ σ Aσ σ

Já vimos também que dS = 2v du dv. Assim, pelo teorema de Fubini:
¨ ˆ h ˆ 2π √
x dS = 2v 2 cos u du dv = 0 ,
σ 0 0

pois a função cos u aparece integrada sobre um período e, analogamente, ȳ = 0. Por


outro lado: ¨ ˆ h ˆ 2π √ √
 3
2 h
z dS = 2 v du dv = 2 (2π) .
σ 0 0 3
A área total do cone é dada por:
ˆ h ˆ 2π √ √
Aσ = 2 v du dv = 2 πh2 .
0 0

Logo, √
1 2 2 πh3 2h
z̄ = √ = .
2 πh2 3 3
Portanto, as coordenadas do centro de massa são:
 
2h
(x̄, ȳ, z̄) = 0, 0,
3

Calcule ¨
(rot F) · n dS ,
σ

onde σ é a porção do paraboloide z = 1 − x2 − y2 com z ≥ 0, n é a normal cuja


componente z é não-negativa e F(x, y, z) = (y, z, x).

Solução. Se z = 1 − x2 − y 2 , temos
z ≥ 0 ⇔ x2 + y 2 ≤ 1 .
Vemos que a superfície σ é o gráfico da função f : A → R, onde A = {(x, y) | x2 + y 2 ≤ 1}
é o disco unitário de centro na origem e f (x, y) = 1 − x2 − y 2 é de classe C 1 em A. Esse
tipo de superfície sempre pode ser parametrizada por
σ : A → R3
σ(u, v) = (u, v, f (u, v)) ,

4
que é injetiva, regular e de classe C 1 . Assim, vale o teorema de Stokes:
¨ ˆ
(rot F ) · n dS = F · dγ ,
σ

onde, neste caso, γ é a circunferência unitária no plano xy, percorrida no sentido anti-
horário quando vista de cima, a qual delimita a superfície σ com orientação compatível
com a estipulada para a normal n.

Explicitamente, temos:

γ : [0, 2π] → R3
γ(t) = (cos t, sin t, 0) .

Assim:
( ˆ ˆ 2π ˆ 2π
F (γ(t)) = (sin t, 0, cos t) 0
⇒ F · dγ = F (γ(t))·γ (t) dt = − sin2 t dt = −π .
γ 0 (t) = (− sin t, cos t, 0) 0 0

Portanto,
¨
(rot F ) · n dS = −π
σ

Calcule o trabalho exercido pelo campo de forças

F(x, y, z) = y2 − z2 , z2 − x2 , x2 , −y2


para deslocar uma partícula ao longo da curva determinada sobre as faces do cubo
[0, a] × [0, a] × [0, a], a > 0, pelo plano x + y + z = 3a/2, percorrida no sentido anti-
horário quando vista de cima.

Solução. Como a > 0, o cubo está inteiramente contido no primeiro octante do espaço
euclidiano. As intersecções do plano com os eixos coordenados, por sua vez, ocorrem
nos pontos (3a/2, 0, 0), (0, 3a/2, 0) e (0, 0, 3a/2). Assim, a porção do plano no primeiro

5
octante é um triângulo com vértices nestes pontos. Fazendo um esboço, vemos que há
6 pontos de intersecção entre as faces do cubo e o plano. Algebricamente, encontramos
esses pontos pi fazendo:

z = a e x = 0 ⇒ y = a/2 ⇒ p1 = (0, a/2, a) ,


z = a e y = 0 ⇒ x = a/2 ⇒ p2 = (a/2, 0, a) ,
p3 = (a, 0, a/2) , p4 = (a, a/2, 0)
p5 = (a/2, a, 0) e p6 = (0, a, a/2) .

Agora, pelo teorema de Stokes podemos calcular o trabalho τ como:


˛ ¨
τ= F · dα = (rot F ) · n dS,
C σ

onde σ é o hexágono regular de vértices p1 , . . . , p6 , contido no plano, com a normal n


com orientação compatível com o sentido de percurso prescrito para a curva C. No caso
de um plano de equação ax + by + cz = d, sabemos que as duas normais unitárias são
dadas por
(a, b, c)
n = ±√ .
a2 + b 2 + c 2
Neste caso, sabemos√que n deve ter todas as componentes positivas. Portanto, podemos
tomar n = (1, 1, 1)/ 3. Além disso,

rot F = −2 (y + z, z + x, x + y) .

6
4
Logo, (rot F ) · n = − √ (x + y + z), e:
3
¨ ¨ ¨
4 6a 6a
(rot F ) · n dS = − √ (x + y + z) dS = − √ dS = − √ Aσ ,
σ 3 σ | {z } 3 σ 3
3a/2 sobre o plano

onde Aσ é a área do paralelogramo. Mas, pelo teorema de Pitágoras, o lado ` do


paralelogramo é dado por:
r 
a 2  a 2 a
`= + =√ ,
2 2 2
e, portanto, sua área é √ √
3`2 3 3 3 2
Aσ = = a .
2 4
Substituindo acima, concluímos que

9a3
τ =−
2

Seja σ a superfície {(x, y, z) | x2 + y2 = 1 e 0 ≤ z ≤ 1} e seja F um campo vetorial de


classe C1 em um aberto contendo σ. Justifique a afirmação
¨ ˆ ˆ
(rot F) · n dS = F · dγ1 + F · dγ2 ,
σ

onde n é a normal exterior e as curvas γi : [0, 2π] → R3 são dadas por

γ1 (t) = (cos t, sin t, 0) e γ2 (t) = (− cos t, sin t, 1) .

Solução. A superfície σ é um cilindro de raio e altura unitários. Já sabemos que uma


parametrização é

σ : A → R3
σ(u, v) = (cos u, sin u, v) ,

onde A = [0, 2π] × [0, 1]. Se γ denota a curva fronteira de A percorrida no sentido
anti-horário, a curva Γ = σ ◦ γ não é uma curva fechada fronteira de σ (A). O motivo
é que σ não é injetiva: a perda de injetividade ocorre exatamente sobre os segmentos
u = 0 e u = 2π. Logo, o teorema de Stokes não se aplica diretamente, já que suas
hipóteses não são verificadas.

7
Consideramos então:
A A
z }|1 { z }|2 {
σ1 : [0, π] × [0, 1] → R3 e σ2 : [π, 2π] × [0, 1] → R3
σ1 (u, v) = σ(u, v) σ2 (u, v) = σ(u, v) .
Ou seja, cada σj é a restrição de σ a um subdomínio de A. Agora, o teorema de Stokes
se aplica separadamente a cada σj , que é injetiva em seu domínio e também regular,
pois:
∂σj ∂σj
× = (cos u, sin u, 0) 6= 0 ∀ u .
∂u ∂v
Denotamos por λj a curva fronteira de Aj percorrida no sentido anti-horário e Λj = σ◦λj .
Então:
¨ ˆ
(1) (rot F ) · n dS = F · dΛj .
σj

8
Primeiramente, vemos que λ1 consiste da justaposição dos seguintes caminhos:

t 7→ (t, 0) 0 ≤ t ≤ π , t 7→ (π, t) 0 ≤ t ≤ 1 ,
t 7→ (π − t, 1) 0≤t≤π e t→ 7 (0, 1 − t) 0 ≤ t ≤ 1 .

Consequentemente, Λj = σ ◦ λ1 consiste da justaposição dos seguintes caminhos:

t 7→ (cos t, sin t, 0) 0 ≤ t ≤ π , t 7→ (−1, 0, t) 0 ≤ t ≤ 1 ,


t 7→ (cos (π − t) , sin (π − t) , 1) 0 ≤ t ≤ π e t 7→ (1, 0, 1 − t) 0 ≤ t ≤ 1 .

Usando as relações sin (π − t) = sin t, cos (π − t) = − cos t e a regra da cadeia temos:


ˆ ˆ π ˆ 1
F · dΛ1 = F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0) dt + F (−1, 0, t) · (0, 0, 1) dt
0 0
ˆ π ˆ 1
+ F (− cos t, sin t, 1) · (sin t, cos t, 0) dt + F (1, 0, 1 − t) · (0, 0, −1) dt .
0 0

Em seguida, vemos que λ2 consiste da justaposição dos seguintes caminhos:

t 7→ (t, 0) π ≤ t ≤ 2π , t 7→ (2π, t) 0 ≤ t ≤ 1 ,
t 7→ (3π − t, 1) π ≤ t ≤ 2π e t 7→ (π, 1 − t) 0 ≤ t ≤ 1 .

Consequentemente, Λ2 = σ ◦ λ2 consiste da justaposição dos seguintes caminhos:

t 7→ (cos t, sin t, 0) π ≤ t ≤ 2π , t 7→ (1, 0, t) 0 ≤ t ≤ 1 ,


t 7→ (cos (3π − t) , sin (3π − t) , 1) π ≤ t ≤ 2π e t 7→ (−1, 0, 1 − t) 0 ≤ t ≤ 1 .

Usando as relações sin (3π − t) = sin t, cos (3π − t) = − cos t e a regra da cadeia temos:
ˆ ˆ 2π ˆ 1
F · dΛ2 = F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0) dt + F (1, 0, t) · (0, 0, 1) dt
π 0
ˆ 2π ˆ 1
+ F (− cos t, sin t, 1) · (sin t, cos t, 0) dt + F (−1, 0, 1 − t) · (0, 0, −1) dt .
π 0

Agora, note que:


ˆ 1 ˆ 1
F (−1, 0, t) · (0, 0, 1) dt + F (−1, 0, 1 − t) · (0, 0, −1) dt = 0,
0 0

pois, fazendo a mudança de variáveis s = 1 − t na segunda integral:


ˆ 1 ˆ 0
F (−1, 0, 1 − t) · (0, 0, −1) dt = − F (−1, 0, s) · (0, 0, −1) ds
0 1
ˆ 1
= F (−1, 0, s) · (0, 0, −1) ds
0
ˆ 1
=− F (−1, 0, s) · (0, 0, 1) ds .
0

Analogamente, concluímos que


ˆ 1 ˆ 1
F (1, 0, 1 − t) · (0, 0, −1) dt + F (−1, 0, 1 − t) · (0, 0, −1) dt = 0 .
0 0

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Além disso, podemos consolidar as seguintes integrais:
ˆ π ˆ 2π
F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0) dt + F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0) dt
0 π
ˆ 2π ˆ
= F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0) dt = F · dγ1
0

e, da mesma maneira,
ˆ π ˆ 2π
F (− cos t, sin t, 1) · (sin t, cos t, 0) dt + F (− cos t, sin t, 1) · (sin t, cos t, 0) dt
0 π
ˆ 2π ˆ
= F (− cos t, sin t, 1) · (sin t, cos t, 0) dt = F · dγ2 .
0

Segue, por fim, que


ˆ ˆ ˆ ˆ
(2) F · dΛ1 + F · dΛ2 = F · dγ1 + F · dγ2 .

Recordamos agora que as integrais sobre uma superfície são definidas em termos de
integrais sobre o domínio das parametrizações. Assim:
¨ ¨
(rot F ) · n dS + (rot F ) · n dS
¨ σ1
¨
σ2

= [rot F (σ1 (u, v))] · n1 (u, v) du dv + [rot F (σ2 (u, v))] · n2 (u, v) du dv
¨
A1
¨ A2

= [rot F (σ(u, v))] · n(u, v) du dv + [rot F (σ(u, v))] · n(u, v) du dv


A1
¨ A2
¨
(3) = [rot F (σ(u, v))] · n(u, v) du dv = (rot F ) · n dS ,
A σ

onde denotamos
1 ∂σj ∂σj
nj = ×
k∂σj /∂u × ∂σj /∂vk ∂u ∂v
1 ∂σ ∂σ
= × =n
k∂σ/∂u × ∂σ/∂vk ∂u ∂v

e usamos o fato de que as parametrizações σj coincidem com σ onde estão definidas e


A1 ∩ A2 tem conteúdo nulo (é um segmento de reta) para juntar as integrais. Por fim,
comparando (1), (2) e (3), verificamos a validade da afirmação.

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